Você está na página 1de 6

CURSO DE FORMAÇÃO DE MONITORES AMBIENTAIS AUTÔNOMOS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UMA INTRODUÇÃO ÀS ATIVIDADES DE MONITORIA AMBIENTAL


NO ESTADO DE SÃO PAULO

Conselhos Gestores de Unidades de Conservação

Olá pessoal! Tudo bem? Sejam bem-vindos e bem-vindas a esta introdução aos Conselhos
Gestores de Unidades de Conservação. Nosso objetivo aqui será o de conhecer um pouco
mais sobre este espaço de participação na gestão pública de forma geral e,
especificamente aqueles Conselhos de Unidades de Conservação. Para buscar esse
objetivo, faremos uma breve trilha.

Meu nome é Rodrigo Machado e vou trazer aqui para vocês algumas informações e reflexões
sobre esses colegiados. Trabalho na Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São
Paulo com Educação Ambiental em diferentes contextos, tendo os Conselhos gestores como
um importante espaço de interação entre diferentes agentes sociais que proporciona
verdadeiros momentos de formação mútua sobre meio ambiente, natureza e sociedade,
conservação, participação social e políticas públicas em geral.

Espero contribuir de alguma forma para uma melhor compreensão sobre estes espaços que
são de todas e de todos e visam a auxiliar e mesmo a gerir junto tudo aquilo que for público.

Como breve aquecimento, vamos pensar em algumas coisas mais próximas da gente, de nosso
cotidiano.

Imagine que você, vivendo em algum coletivo, se depara ou convive com uma situação que
demanda uma conversa com todo mundo envolvido nessa situação.

● Pode ser uma situação qualquer, tipo uma que além de envolver outras
pessoas, expressa alguma questão que precisa ser resolvida.
● Esse coletivo seria algo como sua família em sua casa, seus colegas de
trabalho, de onde você estuda, pratica esportes... enfim, convive em uma
rotina comum.

Feito? Agora acrescente a essa situação vivida por esse coletivo no qual você se imaginou a
pergunta: COMO essa questão deve ser resolvida?

Dessa pergunta surgem outras, né? Tipo: deve ser resolvida por alguém sozinho ou depois de
um combinado entre aquelas pessoas que convivem entre si e com a tal questão a ser
resolvida?

Pois é... a resposta, em coletivos menores como esses sugeridos e imaginados pode depender
de muita coisa, tais como a disposição para o diálogo entre os que convivem, a vontade de
resolver a questão, uma eventual impetuosidade de uma das pessoas em tomar decisões
sozinha, a existência e reconhecimento de alguém com autoridade para decidir e avisar todo
mundo depois e por aí vai.

Rodrigo Machado, educador ambiental

Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/2022


CURSO DE FORMAÇÃO DE MONITORES AMBIENTAIS AUTÔNOMOS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UMA INTRODUÇÃO ÀS ATIVIDADES DE MONITORIA AMBIENTAL


NO ESTADO DE SÃO PAULO

Mas, no caso de questões ambientais mais amplas, públicas e com as quais convivem
diferentes parcelas da sociedade, existem alguns meios previstos na legislação para ajudar a
construir respostas à pergunta inicial. Esses meios já definem COMO as questões
coletivas/públicas devem ser encaradas: com participação social. Os materiais indicados
como complementares a esta aula têm mais informações sobre essa legislação.

Uma das formas de possibilitar a participação previstas na legislação são os colegiados, tais
como os Conselhos gestores, sempre compostos por pessoas que representam essas parcelas
da sociedade que lidam com questões ambientais (problemas, demandas etc.) em várias áreas,
como os recursos hídricos, a Educação Ambiental, o licenciamento e... a conservação.

Nessa área da conservação existem os Conselhos Gestores de Unidades de Conservação


(aqueles espaços territoriais especialmente protegidos, partes de territórios nas quais se busca
conservar espécies, ecossistemas, modos sustentáveis de vida etc.).

É nesses Conselhos gestores que questões relativas à gestão dessas unidades – sobretudo
aquelas que dizem respeito às relações da UC com o território onde estão - devem ser
debatidas e encaminhadas por diferentes pessoas que fazem parte desse tipo de colegiado.

Bora conhecer algo mais sobre esses colegiados?

Nosso caminho passará por 3 estações:

Nosso percurso sobre este tema dos Conselhos Gestores será marcado pela passagem por
três estações. São três grandes pontos que devem nos ajudar a ter maior familiaridade
com o tema e compreender melhor para que existem os Conselhos e por que seriam
importantes. Além disso, será possível vislumbrar suas potencialidades, ainda que a partir
de desafios que estes espaços têm.

O que são os Conselhos gestores?

Mas o que são os Conselhos? Bom, Conselhos gestores de políticas públicas, para começo
de conversa, são espaços de gestão pública!

Então, primeiro é bom a gente alinhar aqui o que seriam as tais “políticas públicas”. De
modo bem rápido, as políticas públicas são como respostas que as sociedades constroem
àqueles problemas percebidos por diferentes segmentos delas. São escolhas, decisões e
ações em resposta a problemas ou demandas. Tanto a compreensão sobre os problemas,
assim como sua priorização e soluções propostas são tomadas de decisão. Por isso são
políticas. Respondem a problemas percebidos coletivamente, questões da sociedade. Por
isso são públicas.

No caso das UC, tanto a criação delas, como seu planejamento e sua gestão são políticas
públicas. Políticas de criação de UC com intenção de responder a problemas de perda de
diversidade sociocultural e biológica; políticas de planejamento para organizar as regras

Rodrigo Machado, educador ambiental

Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/2022


CURSO DE FORMAÇÃO DE MONITORES AMBIENTAIS AUTÔNOMOS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UMA INTRODUÇÃO ÀS ATIVIDADES DE MONITORIA AMBIENTAL


NO ESTADO DE SÃO PAULO

de acesso ou não aos bens ambientais ali protegidos; políticas de gestão, para construir
maneiras pelas quais as UC se relacionarão com territórios onde se inserem.

Essas políticas estão em um quadro de uma política pública mais ampla: a política
ambiental (uma forma estruturada em diferentes instrumentos jurídicos e administrativos
direcionados a diferentes aspectos da questão ambiental). Essa política mais ampla tem
como uma de suas orientações – que é reforçada por nossa Constituição Federal –
propiciar a participação social naquelas políticas públicas mais específicas em matéria de
meio ambiente e de gestão ambiental.

Assim, as políticas de criar UC contam com formas de dar acesso a diferentes grupos
sociais aos processos de tomadas de decisão que culminam na criação de espaços
territorialmente protegidos. O mesmo ocorre com as políticas de planejar como a UC irá
“funcionar”.

Com a gestão da UC não é diferente. Neste caso, a forma de proporcionar a participação


social ocorre principalmente por meio dos Conselhos Gestores. São gestores por conta de
sua capacidade de contribuir à gestão não somente das UC, mas delas como política
pública naqueles territórios onde se localizam.

Para que servem os Conselhos?

Num primeiro momento podemos pensar, portanto, que os Conselhos de UC serviriam


para que diferentes grupos sociais sejam representados em suas reuniões, viabilizando a
participação com vistas a fortalecer a comunicação e o diálogo entre a gestão específica
da UC com diferentes agentes sociais atuantes no seu entorno.

Sem dúvida, os Conselhos facilitam bastante esse trabalho. E podem ser compreendidos
como algo mais que isso. Podem servir para uma espécie de “ajuste fino” daquelas
políticas públicas – decididas de forma mais ampla, socialmente operacionalizadas por
diferentes governos – com especificidades locais dos territórios onde se inserem. Esse é
um diálogo político importante, pois de um lado traz os objetivos de criação de cada UC;
de outro traz as necessidades, expectativas e dinâmicas de funcionamento dos territórios
onde as UC inevitavelmente se inserem. As UC não “pairam” sobre os territórios, nem
são espaços totalmente separados.

Sendo assim, os Conselhos servem tanto para condicionar os territórios de acordo com
objetivos das UC, como também promover adaptações da gestão das UC às dinâmicas
dos territórios. E aqui os Conselhos assumem um papel muito importante: a de agentes
políticos nos territórios mais amplos onde estão as UC, ao tratar de questões como, por
exemplo: quais seriam as funções socioambientais desta UC num território como este?
Quais são os desafios socioambientais deste território? Como que estes desafios causam
pressões à UC? A UC pode contribuir para o enfrentamento destes desafios? Como o
Conselho pode desenvolver uma agenda (de compromissos e de ações) para promover
essas contribuições da UC?

Rodrigo Machado, educador ambiental

Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/2022


CURSO DE FORMAÇÃO DE MONITORES AMBIENTAIS AUTÔNOMOS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UMA INTRODUÇÃO ÀS ATIVIDADES DE MONITORIA AMBIENTAL


NO ESTADO DE SÃO PAULO

Responder essas questões traz um monte de reflexão, de debate e de ações possíveis aos
Conselhos Gestores de UC. Desde a busca por respondê-las coletivamente pelo diálogo
de seus membros e com seus pares ali representados, até a construção de agendas próprias
dos Conselhos, pautando sua atuação política no território junto a prefeituras e outros
Conselhos Gestores das demais políticas públicas, por exemplo.

Os Conselhos são mesmo importantes? Por quê?

Ao reunirmos os elementos das respostas anteriores já temos em mãos algumas pistas que
apontam para a importância dos Conselhos. São importantes por serem um espaço de
participação social na gestão das UC; importantes porque possibilitam pensar e agir
coletiva e politicamente nos territórios onde estão as UC; importantes porque têm
atribuições que ajudam tanto a proteger os bens ambientais que as UC têm, como também
para pensar como a dinâmica desses territórios pode causar pressões a esses bens; são
importantes, ainda, por poder construir compromissos e ações planejadas no âmbito dos
próprios Conselhos para lidar com tais dinâmicas.

Dentro dessa relevância toda que podemos atribuir aos Conselhos, podemos olhar com
uma espécie de lupa pra enxergar mais de perto um dos aspectos das dinâmicas que
envolvem as UC: o turismo de forma mais ampla e a visitação das UC mais
especificamente. Esse é um aspecto que interessa bastante a quem faz monitoria nas UC.
Afinal, o tipo de turismo promovido, desenvolvido e praticado no território muitas vezes
tem na UC um dos principais – senão o principal – chamariz. Com isso, o tipo de turismo
possibilitado pela UC tem relação recíproca – interfere e é interferido – com essa
dinâmica do território mais amplo onde a UC está incluída. A discussão sobre esse aspecto
ocorre, usualmente, em espaços de gestão dessas atividades, como eventuais Conselhos
de turismo locais e, sobretudo, os Conselhos Gestores de UC.

Se nos Conselhos de turismo locais podem ser discutidas características e expectativas –


e regras até – da atividade turística no território mais amplo, é no Conselho Gestor da UC
em que se discutem questões relativas à visitação dentro da unidade.

Disso tudo que trouxemos até aqui, podemos entender que a UC tem grande importância
não somente para proteger bens ambientais e modos de vida sustentáveis, mas também
para provocar mudanças nas dinâmicas territoriais onde se inserem. Uma dessas
dinâmicas é a do turismo, à qual as UC podem contribuir ao promover uma forma de
compreender o fenômeno do turismo, assim como suas práticas e sua gestão, também
como políticas públicas para ajudar a responder àqueles desafios socioambientais do
território como um todo.

Materiais complementares

Caso queira saber mais sobre políticas públicas, um bom começo é por estes vídeos aqui:

Rodrigo Machado, educador ambiental

Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/2022


CURSO DE FORMAÇÃO DE MONITORES AMBIENTAIS AUTÔNOMOS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UMA INTRODUÇÃO ÀS ATIVIDADES DE MONITORIA AMBIENTAL


NO ESTADO DE SÃO PAULO

1. O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS? | ENTREVISTA LEONARDO SECCHI -


PARTE 1
2. CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: O QUE É? | ENTREVISTA LEONARDO
SECCHI - PARTE 2

Esses dois vídeos com o Prof. Leonardo Secchi nos ajudam a compreender melhor o que
seriam políticas públicas, quais suas possíveis origens e como são desenvolvidas.
Sobre os Conselhos de UC, recomendamos:
1. CONSELHOS GESTORES DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
2. QUAL O PAPEL DO CONSELHO GESTOR NAS UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO?
3. CONSELHOS, EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA

Os vídeos acima trazem informações e imagens sobre os Conselhos gestores de


Unidades de Conservação, incluindo depoimentos de pessoas que participam desses
espaços. O terceiro vídeo em específico trata de uma política desenvolvida no âmbito da
então Secretaria do meio Ambiente de SP. O trabalho consistiu em desenvolver
processo de Educação Ambiental nos Conselhos Gestores de UC paulistas, envolvendo
conselheiros, conselheiras e pessoas convidadas. O objetivo foi o de refletir, debater e
analisar diferentes problemas socioambientais que geravam pressões negativas sobre as
unidades, bem como planejar que tipo de ações concretas os Conselhos podiam realizar
para ajudar a enfrentar esses mesmos problemas.
Para ler mais sobre Conselhos Gestores:
Aqui vão algumas sugestões de textos e obras mais extensas sobre Conselhos. Cada uma
delas guarda uma preciosa contribuição para a gente compreender mais e melhor sobre
eles. Sobretudo quanto aos seus desafios e às suas possibilidades. Por exemplo, o artigo
de Abbers e Keck traz uma reflexão bacana sobre representatividade nos Conselhos
brasileiros e suas relações institucionais com o Estado; a publicação sobre gestão
participativa do Sistema nacional de UC, do Ministério do Meio Ambiente, é um
importante marco nos esforços de institucionalização desse sistema e de sua gestão; o
documento de Isabel Castro e Maria Alice Moura apresenta um conjunto de aprendizados
registrados nas experiências de gestão participativa de UC na região amazônica; as obras
de Maria da Glória Gohn configuram importantes aportes para compreendermos os
Conselhos, desde o ponto de vista histórico, até político e cultural em sociedades como a
nossa; Carlos Loureiro e companhia expõem outra experiência devidamente analisada,
refletida e registrada neste documento sobre a gestão participativa em UC cariocas.

ABERS, Rebecca Neaera; KECK, Margareth E. Representando a diversidade: Estado, sociedade


e ‘relações fecundas’ nos conselhos gestores. CADERNO CRH, Salvador, v. 21, n. 52, p. 99-
112, jan./abr. 2008.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Gestão Participativa do SNUC. Brasília: MMA, 2004.
(Áreas Protegidas do Brasil, 2)
CASTRO, Isabel; MOURA, Maria Alice Salles. Aprendizados com conselhos gestores das
unidades de conservação no Programa ARPA. Brasília: MMA, 2009.

Rodrigo Machado, educador ambiental

Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/2022


CURSO DE FORMAÇÃO DE MONITORES AMBIENTAIS AUTÔNOMOS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UMA INTRODUÇÃO ÀS ATIVIDADES DE MONITORIA AMBIENTAL


NO ESTADO DE SÃO PAULO

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselhos Gestores de Unidades de Conservação


Federais. Um guia para gestores e conselheiros. Brasília: ICMBio, sem data.
GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores na política social urbana e participação popular.
Cadernos Metrópole, n. 7, p. 9-31, 1º sem. 2002.
GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores e gestão pública. Ciências Sociais Unisinos, v. 42,
n. 1, p. 5-11, jan./abr. 2006. Disponível em: . Acesso em: fev. 2014.
LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; AZAZIEL, Marcus; FRANCA, Nahyda (orgs.).
Educação ambiental e gestão participativa em unidades de conservação. Rio de Janeiro: IBASE,
IBAMA, 2003.

Boa leitura!

Rodrigo Machado, educador ambiental

Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/2022

Você também pode gostar