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RELATO DE EXPERIÊNCIA DO CURSO DE EXTENSÃO " CIÊNCIA CIDADÃ NAS


ESCOLAS " (PROEC -UFABC)

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Natalia Pirani Ghilardi-Lopes Larissa De Araujo Kawabe


Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal do ABC (UFABC)
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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3

RELATO DE EXPERIÊNCIA DO CURSO DE EXTENSÃO “CIÊNCIA CIDADÃ


NAS ESCOLAS” (PROEC - UFABC)
Natalia Pirani Ghilardi-Lopes (CCNH, Universidade Federal do ABC)
Larissa de Araújo Kawabe (Universidade Federal do ABC - Bolsista PROEC)
Rebeca Venâncio (Universidade Federal do ABC - Bolsista PROEC)

RESUMO
A “Ciência Cidadã” envolve o público no fazer científico, contribuindo para sua formação
científica. O presente trabalho visa relatar e refletir sobre a formação de professores da
educação básica em protocolos de ciência cidadã, no contexto de um curso de extensão na
Universidade Federal do ABC, o qual dividiu-se em 4 momentos: 1º) Encontro presencial
com aplicação de questionário e aula expositiva sobre ciência, ciência cidadã e o projeto
escolhido no momento da inscrição; 2º) Treinamento no protocolo de ciência cidadã; 3º)
Aplicação do protocolo na escola e 4º) Relato das experiências e questionário avaliativo. O
curso foi bem avaliado, tendo atingido o objetivo de trabalhar o conceito de ciência cidadã
junto aos professores e de torná-los multiplicadores da proposta em suas escolas.

Palavras-chave: ciência cidadã, educação básica, formação continuada de professores.

Introdução
Continuar aceitando que grande parte da população não receba formação científica
de qualidade apenas agravará as desigualdades sociais e o atraso dos países em um mundo
globalizado (Unesco, 2005). Ainda hoje, a ciência aparece desconectada do cotidiano das
pessoas, que possuem pouco conhecimento dos processos envolvidos para o
desenvolvimento de pesquisas científicas. No caso das ciências biológicas, a formação
recebida na escola muitas vezes não permite a visualização de como o conhecimento
biológico é gerado e manejado na esfera acadêmica. Além disso, o conteúdo das aulas é
muitas vezes dissociado do cotidiano do aluno, prejudicando uma formação científica
(Krasilchik, 2008) e, posteriormente, a inclusão destes alunos na sociedade e no mercado de
trabalho.
Atualmente, para ser competitivo na economia global, o mercado necessita
empregar pessoas que sejam capazes de “pensar para a vida”. O setor privado procura
empregados que tenham a capacidade de pensamento abstrato e conceitual relacionado aos
problemas que envolvem o uso de conhecimento científico e tecnológico. Mais do que

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ouvir sobre ciência e lembrar fatos, os estudantes devem aprender como pensar
cientificamente(Alberts, 2013).
Dessa forma, o conhecimento científico é uma instância privilegiada de relações de
poder e, portanto, deve ser socializado e não apenas medianamente entendido por todos,
mas, principalmente, usado como meio facilitador do estar fazendo parte do
mundo(Chassot, 2003). Neste contexto se insere a “Ciência Cidadã”, um processo que
envolve o público no fazer científico, contribuindo para a formação científica dos cidadãos
ao mesmo tempo em que contribui para a realização de projetos científicos de ampla escala
espacial e/ou temporal (Bonney et al., 2009). Este processo está de acordo com as
recomendações do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) sobre a
necessidade de envolvimento público no monitoramento e gestão do meio ambiente.
A Ciência Cidadã também pode ser referida como monitoramento biológico voluntário,
cujo foco é na coleta de dados sobre espécies e habitats, ou ainda no monitoramento de
funções ecossistêmicas ou da qualidade ambiental (Conrad e Hilchey, 2011).
São descritas na literatura vantagens de se envolver cidadãos não-especialistas em
atividades científicas, quais sejam: 1) incremento da educação científica, referente aos
problemas ecológicos, atingindo públicos de diferentes faixas etárias; 2) auxílio na
condução de extensas pesquisas, fornecendo simultaneamente cobertura espacial e
colocando a investigação em seu contexto local; 3) economias financeiras significativas
pelo trabalho voluntário; 4) o fornecimento de um programa de levantamento simples e de
baixo custo que pode ser continuado em longo prazo usando experiência e financiamento
locais (Darwall e Dulvy, 1996; Evans et al., 2005; Goffredo et al., 2010).

Para os cientistas cidadãos, o ambiente natural pode servir como um “laboratório ao ar


livre” onde eles podem visualizar exemplos de princípios ecológicos (Salm et al., 2000), o
que pode despertar o interesse e o sentimento pela conservação. Mais do que isso, os
cientistas cidadãos podem colaborar na coleta de dados e no monitoramento, contribuindo
para a conservação de diversos organismos, adicionando informação sobre a estrutura
populacional, distribuição espacial e comportamento (Darwall e Dulvy, 1996; Foster-Smith
e Evans, 2003).
Apesar da maioria dos estudos envolvendo ciência cidadã ocorrer em áreas silvestres,
podemos pensar no seu uso em áreas urbanas (Cooper et al., 2007). Se a população de áreas
urbanas se engajar na conservação da biodiversidade, então a gestão urbana embasada
nestas iniciativas poderia tornar-se uma peça fundamental para a conservação.

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Considerando o contexto das escolas de educação básica, poder-se-ia utilizar a ciência


cidadã para engajar a população no monitoramento participativo de elementos ambientais
urbanos e, assim, contribuir para sua alfabetização científica (Sasseron e Carvalho, 2008).
Alguns dos principais pontos para o sucesso de um projeto de ciência cidadã são: 1)
protocolos específicos, de fácil entendimento, envolventes e previamente testados para que
se atinja uma qualidade na recolha dos dados; 2) material de apoio bem formulado para a
formação de cientistas cidadãos e 3) formulários bem estruturados para submissão de dados
pelos cientistas cidadãos (Bonney et al., 2009; Freitag e Pfeffer, 2013).
Também há enormes ganhos educacionais e sociais do envolvimento de cidadãos
voluntários em projetos científicos. A participação em projetos de ciência cidadã fornece
um fórum no qual os participantes são engajados em processos de pensamento semelhantes
aos que ocorrem em investigações científicas, e aumentam seu conhecimento de ecologia e
questões ambientais (Brossard et al., 2005). A “autoeducação” daqueles coletores de dados,
a criação de uma força de conservação para a mudança e o orgulho que os cientistas
cidadãos apresentam ao ajudar no avanço do conhecimento científico e proteção do meio
ambiente também são benefícios reconhecidos (Goffredo et al., 2010).
Neste sentido, para que a Ciência Cidadã chegue até as escolas e contribua para a
formação científica dos jovens, os professores desempenham um papel chave e precisam
estar inteirados deste processo. Cursos de formação continuada proporcionados por ações
de extensão universitária podem contribuir para esta interação entre professores da
educação básica e pesquisadores(Nóvoa, 1992; Tavares, 1997), possibilitando reflexões
sobre a Ciência Cidadã e outras possibilidades de tornar o ensino de ciências mais
contextualizado.

Objetivo
O presente trabalho visa relatar e refletir sobre a formação de professores da educação
básica como multiplicadores de protocolos de ciência cidadã em suas escolas, dentro do
contexto de um curso de extensão na Universidade Federal do ABC. Como objetivos
específicos, pretende-se avaliar: 1) se os professores compreenderam o conceito de Ciência
Cidadã após a realização do curso; 2) se os professores acharam viável a aplicação em suas
escolas do protocolo de ciência cidadã para o qual foram formados; 3) se o curso de
extensão “Ciência Cidadã nas Escolas” atingiu seus objetivos (autoavaliação do curso).

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Metodologia
O curso de extensão intitulado “Ciência Cidadã nas Escolas” (EDITAL PROEX Nº
035/2015 - PAE 2016) constituiu-se de 100h de atividades e foi destinado a professores em
atuação na educação básica. No momento da inscrição, os professores indicavam a
preferência por uma dentre três possibilidades de projetos de ciência cidadã que seriam
oferecidos no curso, a saber:
1) Avaliação da influência da arborização urbana na biodiversidade de aves com auxílio
de jovens cidadãos cientistas(Responsável pelo projeto: Amanda Porto do Nascimento -
aluna de graduação da UFABC)
Este projetose propõe a avaliar a influência da arborização urbana na biodiversidade
de aves. A partir do protocolo fornecido, realiza-se o levantamento do índice de arborização
do entorno das escolas e, através da instalação de alimentadores como atrativos de aves para
uma melhor visualização das mesmas, são realizadas observações sobre a quantidade de
aves avistadas.
2) Percepção das crianças com relação aos resíduos sólidos em seu entorno(Responsável
pelo projeto: Lillian Silva Assunpção - aluna de graduação da UFABC)
Este projeto pretende auxiliar na educação científica de cidadãos a respeito da
questão do lixo nos centros urbanos e, ainda, fornecer um panorama sobre esta questão no
local onde for implantado. Para isso, alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental são
inicialmente avaliados quanto à sua percepção em relação aos resíduos sólidos por meio de
desenhos. Posteriormente, aplicam o protocolo de coleta de dados sobre resíduos sólidos
descartados inadequadamente no entorno de suas escolas. Finalmente, os alunos discutem
os dados obtidos, juntamente com seus professores e novamente produzem desenhos, os
quais são avaliados para verificar possíveis mudanças em sua percepção.
3) Ciência Cidadã e os serviços ecossistêmicos prestados pelas árvores urbanas – Estudo
dos benefícios das árvores para a população(Responsável pelo projeto: Tainara
Vasconcelos Ramim - aluna de graduação da UFABC)
Este projeto visa trabalhar a questão dos serviços ecossistêmicos prestados pelas
árvores urbanas, em especial, a captação de carbono, a captação de poeira e particulados e a
economia de energia elétrica. No protocolo, são calculados diâmetro médio, DAP
(Diâmetro a Altura do Peito), área e também volume das árvores, utilizando conceitos
básicos de sólidos geométricos. Os cálculos permitem aos estudantes classificar as árvores
de acordo com o porte a partir de um guia de apoio fornecido. Esse guia contém os

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objetivos do projeto, a metodologia para a realização dos cálculos, os parâmetros de


classificação das árvores e a quantidade de benefícios que elas trazem para o meio ambiente
de acordo com seu porte.

O curso foi dividido em 4 momentos:


● 1º momento - Encontro presencial na Universidade Federal do ABC (4h)
No primeiro encontro presencial, foi inicialmente aplicado um questionário
diagnóstico impresso contendo questões sobre ciência, ciência cidadã e quanto ao uso de
metodologias ativas de aprendizagem na escola. A seguir, os participantes assistiram a uma
aula expositiva com momentos de reflexão e discussão sobre ciência e ciência cidadã. O
objetivo desta primeira conversa era promover a reflexão junto aos professores sobre como
é realizado o ensino de ciências em suas escolas e como a Ciência Cidadã poderia auxiliar
no sentido de aproximar o aluno dos processos de produção de conhecimento científico
pelos pesquisadores.
Em seguida, os professores assistiram à aula referente ao projeto escolhido no
momento da inscrição. Ao final da aula, foram indicados dois textos sobre ciência cidadã
para leitura (tempo previsto de 8h para leitura); foram distribuídos os Termos de
Consentimento Livre e Esclarecido para as escolas e para os alunos que participariam das
atividades na escola e também os kits referentes a cada protocolo de ciência cidadã para que
os professores fossem se familiarizando com o material. Os kits continham os questionários
pré e pós atividade a serem aplicados aos alunos, os guias de apoio com informações
referentes a cada protocolo de atividade (Assunpção, 2016; Ramim, 2016; Nascimento, em
preparação) e materiais para aplicação de cada protocolo.
● 2º momento - Simulação da aplicação do protocolo pelos professores (4h)
No segundo encontro presencial, os professores receberam o treinamento no
protocolo específico de ciência cidadã escolhido no momento da inscrição.
● 3º momento - Aplicação dos protocolos pelos professores em suas escolas (80h)
Nas duas semanas seguintes ao treinamento, os professores ficaram responsáveis por
realizar a aplicação dos protocolos junto aos seus alunos, agindo como multiplicadores e
mediadores (Depresbiteris et al., 2004) do processo de formação dos cientistas cidadãos. Os
dados obtidos nas escolas foram recolhidos pelos professores para discussão no último
encontro do curso de extensão.

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● 4º momento - Encontro para relatos das experiências nas escolas e avaliação dos
protocolos e do curso de extensão pelos professores (4h)
Neste encontro presencial, os professores relataram suas experiências de aplicação
do protocolo em suas escolas. Ao final, foi preenchido um questionário de avaliação do
curso, no qual foram repetidas as questões sobre ciência cidadã presentes no questionário
inicial e adicionadas questões sobre aspectos do curso como: instalações físicas para o seu
desenvolvimento, material didático disponibilizado, cronograma e carga horária, equipe,
atividades desenvolvidas e formas de avaliação empregadas. Além da avaliação do curso,
um dos objetivos deste questionário era verificar se os professores vislumbraram a Ciência
Cidadã como uma possibilidade dentro de sua prática pedagógica.

Resultados e discussão
Público do curso
Participaram do curso sete professores, sendo seis do sexo feminino e um do sexo
masculino. Destes, seis lecionavam em escolas públicas e um em escola privada. Todos os
sete lecionavam no ensino fundamental e dois deles também lecionavam no ensino médio.
Questionário inicial
Quando questionados sobre o que entendiam por “Ciência Cidadã”, 85,7% dos
professores nunca tinham ouvido falar sobre ciência cidadã e 14,3% afirmaram conhecer o
termo. A maioria das definições dadas mencionava um tipo de ciência voltada para a
formação de cidadãos conscientes de seu papel na sociedade, diferente da definição de
Bonneyet al. (2009)relacionada com o envolvimento do público no fazer científico.
Em relação ao uso de metodologias ativas de aprendizagem no dia-a-dia, 85,7% dos
professores responderam que utilizavam, e 14,3% que não usavam. Entre as metodologias
utilizadas foram mencionadas aulas práticas de ciências, rodas de conversa sobre temas
variados, práticas investigativas, trabalhos em grupo, intervenções com a comunidade do
entorno da escola e trabalhos de campo.
Todos esperavam obter novas estratégias de ensino para aplicação em sala de aula
durante o curso de formação continuada. Um dos participantes também citou o desejo de
“fortalecer laço entre escola e universidade, [e] desmistificar ciência e cientista”.
Aula teórica
Após o preenchimento do questionário, foi realizada uma aula dialogada sobre o
conceito de ciência e de ciência cidadã. Discutiu-se a ciência como sendo diferente do fazer
ciência (a diferença entre ciência e o método científico). Também foram abordados os

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princípios da ciência, como seu objetivo de compreensão do Universo, o fato da ciência ser
única e ser baseada em fatos naturalmente verificáveis (princípio naturalista da ciência), o
princípio da falseabilidade e o da generalidade e simplicidade (Hazen e Trefil, 1995;
Popper, 2005). Em seguida, definiu-se o termo cidadão como aquele que usufrui de direitos
e desempenha deveres, conforme consta em diversos dicionários. Finalmente, definiu-se
como ciência cidadã o processo por meio do qual os cidadãos colaboram na construção do
conhecimento sobre o Universo ao qual eles pertencem, sobre o qual eles têm direitos e
para com o qual eles têm deveres. Discutiu-se sobre como o conhecimento pode gerar o
senso de responsabilidade, em especial sobre questões ambientais. Em seguida, os
professores se dirigiram para diferentes salas, onde assistiram à aula teórica sobre o projeto
para o qual tinham se inscrito (1 professor para o protocolo de aves, 4 para o protocolo de
resíduos sólidos e 2 para o protocolo de árvores). Ao final da aula, eles receberam os kits
para levarem para suas escolas.
Aula prática de simulação dos protocolos
Os professores realizaram, no segundo encontro do curso, a simulação da aplicação
dos protocolos. A professora relacionada ao protocolo de aves não compareceu neste dia e
uma das professoras do protocolo de resíduos sólidos não conseguiu autorização da escola
para aplicação do protocolo e decidiu parar o curso. A professora havia relatado que já
estava trabalhando o tema de resíduos sólidos com seus alunos e que o protocolo viria de
encontro aos seus objetivos. Ressalta-se a importância do apoio dos gestores das escolas
para que o processo de formação continuada possa ocorrer. De fato, a participação na
gestão do espaço escolar deve ocorrer de maneira democrática (Brasil, 1996)e os
professores, como atores envolvidos no processo de gestão escolar, precisam de apoio para
que o processo educativo objetivado no projeto político pedagógico da escola ocorra da
melhor maneira possível.
Os demais professores executaram os protocolos sem dificuldades e se sentiram
motivados a levar a experiência para suas escolas. Os dois professores que fizeram a
simulação relacionada aos serviços ecossistêmicos prestados pelas árvores urbanas apenas
ficaram em dúvida se os alunos conseguiriam realizar todos os cálculos solicitados no
protocolo.
Nas duas semanas seguintes, os professores aplicaram os protocolos em suas escolas
e mantiveram o contato com a equipe do curso para sanar possíveis dúvidas.

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Relato das atividades nas escolas


No último encontro presencial, os professores relataram como foi a aplicação dos
protocolos em suas escolas e trouxeram fotos do processo. Todos relataram o quanto os
alunos se sentiram motivados ao realizar uma atividade fora da sala de aula, o que vai de
encontro ao relatado por Grabinger e Dunlap(1995)em relação às metodologias ativas de
aprendizagem, uma vez que: 1) promovem estudo e investigação em contextos autênticos;
2) estimulam a responsabilidade, iniciativa, tomada de decisão e aprendizado intencional
dos educandos; 3) promovem a colaboração entre estudantes e professores e 4) utilizam
atividades dinâmicas e interdisciplinares que promovem processos e estruturas de
pensamento complexos.
Um dos professores que aplicou o protocolo dos serviços ecossistêmicos prestados
pelas árvores urbanas não compareceu ao encontro final, mas a professora que compareceu
relatou que decidiu separar alguns alunos da turma para realizar a aplicação do protocolo e
que depois estes alunos a ajudariam na aplicação do protocolo aos demais alunos. Ela
mencionou que estes alunos conseguiram realizar os cálculos solicitados e que se
espantaram com os resultados obtidos, sendo que não imaginavam o quanto as árvores
poderiam fornecer em serviços. A professora que escolheu o protocolo das aves relatou que
teve problemas em sua escola com o furto dos materiais da atividade. Então, ela teve de
adequar o protocolo e realizou apenas parte dele. Ainda, ela deu algumas sugestões para
facilitar a aplicação do protocolo, mas como ela não participou no dia da simulação, não
ficou claro se as dificuldades relatadas por ela se deveram ao não entendimento exato dos
passos a serem seguidos. Finalmente, as professoras que aplicaram o protocolo de resíduos
sólidos relataram que os alunos participaram ativamente da atividade e, apesar da
dificuldade para conseguir a autorização para levar os alunos para fora da escola (o
protocolo prevê que os alunos saiam no quarteirão do entorno da escola para a recolha de
resíduos); uma vez que saíram, os alunos também ficaram admirados com a quantidade de
resíduos que havia em tão pequeno espaço e isso refletiu na percepção dos mesmos (e
também das próprias professoras) sobre esta questão. Esta alteração de percepção foi
expressa nos desenhos produzidos pelos alunos ao final da atividade (que constituíam o
diagnóstico final da atividade e que foram entregues à nossa equipe para validação do
protocolo).
Questionário Final
Em relação à avaliação do curso (Tabela 01), os professores conferiram nota final
média de 4,63 dentro da escala de Likert que ia de um mínimo de 1 (péssimo) a 5

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(excelente). As notas mais baixas foram dadas: 1) à carga horária do curso, sendo que os
professores consideraram o tempo de aplicação do protocolo na escola muito curto; 2) à
divulgação do curso (a qual foi feita principalmente por e-mailpela equipe organizadora do
curso às escolas) e 3) à clareza no formulário de inscrição.

Tabela 01 - Notas conferidas pelos professores a aspectos do curso de extensão “Ciência


Cidadã nas Escolas”, dentro da escala que ia de um mínimo de 1 (péssimo) a 5 (excelente).
Aspecto avaliado Nota média

1) Instalações físicas da UFABC para o desenvolvimento do curso 5,00

2) Materiais didáticos disponibilizados no curso 5,00

3) Programa do curso (conteúdo programático) 5,00

4) Carga horária do curso 4,00

5) Forma de apresentação dos conteúdos no curso pelas professoras 4,60

6) Atenção dada pela professora aos alunos 5,00

7) Atividades práticas do curso (aplicação dos protocolos) 4,80

8) Parte do curso desenvolvida na escola 4,40

9) Formas de avaliação empregadas no curso 4,80

10) Auxílio dos monitores do curso 5,00

11) Forma como ficou sabendo do evento 4,00

12) Acesso ao formulário de inscrição 4,20

13) Clareza do formulário de inscrição 4,00

14) Transparência das informações discutidas 4,80

Nota média dada ao curso 4,63

Quando questionados novamente sobre o que era Ciência Cidadã, todos os


professores definiram o termo conforme Bonneyet al. (2009) e incluíram a palavra
“participação” ou “colaboração” ou mencionaram a questão do protagonismo dos alunos em
suas respostas.
Todos disseram se sentir preparados para aplicar novamente o protocolo em suas
escolas sem a supervisão da equipe da UFABC e todos indicariam o curso para um colega,
o que consideramos muito positivo, pois o curso efetivamente serviu como formador de
multiplicadores da proposta.

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Conclusões
Concluímos que o curso atingiu o objetivo de fazer com que os professores
entrassem em contato com uma nova possibilidade de se ensinar ciências nas escolas.
Mesmo mostrando inicialmente uma insegurança em aplicar os protocolos junto aos seus
alunos (principalmente os professores que trabalharam o protocolo de serviços
ecossistêmicos das árvores urbanas), os professores relataram que foi possível a aplicação
junto aos seus alunos e que estes compreenderam os objetivos e os procedimentos
relacionados aos protocolos. O curso ampliou o perfil conceitual (Mortimer, 1996) dos
professores relacionado ao ensino de ciências por meio da apresentação de uma abordagem
que objetiva a educação científica dos cidadãos, ao mesmo tempo em que contribui para a
conservação do meio ambiente (Ciência Cidadã). O curso permitiu também a formação de
multiplicadores da proposta, já que os professores relataram no questionário final que se
sentiam seguros em aplicar novamente os protocolos sem a supervisão da equipe da
UFABC.
Consideramos que a comunicação através da internet é um processo importante para
divulgarmos ainda mais a proposta da Ciência Cidadã como uma possibilidade de se
trabalhar o ensino de ciências e ampliarmos o alcance dos protocolos trabalhados no
presente curso de formação continuada. Para isso, foi construído um site no qual tanto a
descrição de cada protocolo quanto os materiais relacionados a eles foram disponibilizados
(http://professor.ufabc.edu.br/~natalia.lopes/cienciacidada/).

Agradecimentos
À PROEC-UFABC pelo apoio ao curso de extensão “Ciência Cidadã nas Escolas”. Às
alunas de graduação da UFABC Amanda Porto do Nascimento, Lillian Silva Assunpção e
Tainara Vasconcelos Ramim por terem colaborado ativamente na execução do curso. Aos
alunos Diego de Almeida da Silva, Eloíza Araújo, Gabriel de Almeida e Verônica
PiñeiroBouzas de Espírito Santo por terem participado como voluntários nesta ação de
extensão.

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