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PRÁTICAS DOCENTES
Resumo
Este presente estudo teve o objetivo de identificar, por meio de uma revisão sistemática de
literatura, metodologias de ensino na área de ciências da natureza aplicadas na educação
básica brasileira (com exceção do ensino infantil) e as possíveis dificuldades apresentadas
pelos docentes em executá-las. A metodologia aplicada tem natureza qualitativa, é descritiva,
com abordagem teórica e recorte transversal de dados secundários. Foram selecionados e
analisados os resumos de 355 artigos de periódicos on-line para a identificação das práticas
de ensino da área de ciências da natureza e as dificuldades apresentadas pelos
pesquisadores. A pedagogia de maior ocorrência foi a tradicional, seguida de aulas práticas
e experimentais. Apesar de ser amplamente criticada, a tendência tradicional ainda é a mais
frequente na educação brasileira, mas há a preocupação em diversificar as práticas a fim de
alcançar uma aprendizagem mais significativa.
1 INTRODUÇÃO
1
* Instituto Federal do Espírito Santo, campus Aracruz. jessyodosreis@gmail.com
²** Instituto Federal do Espírito Santo, campus Aracruz. josiana@ifes.edu.br
2
*** Instituto Federal do Espírito Santo, campus Aracruz. odacyr.silva@ifes.edu.br
estratégias de implementação, vislumbrava os quatro pilares para a educação do
futuro: aprender a aprender, aprender a viver junto, aprender a ser, aprender a fazer
(CARVALHO, 2019).
Além dos conteúdos, a fim de sanar essa abstração do ensino de ciências naturais, é
de forte opinião entre professores e pesquisadores apontados por Bassoli (2014) que
as metodologias pedagógicas de caráter prático, ou seja, a aplicação experimental,
ajudam a materializar um conhecimento científico. O ensino na área de ciências
precisa então de metodologias de experimentação, de contextualização, da
problematização com cunho investigativo, sendo as aulas experimentais nos
laboratórios de ciências, as visitas a espaços não-formais de aprendizado e projetos
de iniciação científica, ótimas alternativas de inovação para as aulas expositivas
tradicionais (HERMES, 2019).
Ao se considerar o ensino por nível, o ensino fundamental passou por alterações nas
Diretrizes Curriculares Nacionais através da Resolução nº 7, de 14 de dezembro de
2010 e, propôs um ciclo de 9 anos, classificou a educação de qualidade como sendo
“[...] antes de tudo, relevante, pertinente e equitativa [...]” e associou o termo relevante
com “[...] promoção de aprendizagens significativas do ponto de vista das exigências
sociais e de desenvolvimento pessoal” (BRASIL, 2010).
A a Lei nº 13.415 foi divulgada em 2017, precisou esperar até 2018 para ser
homologada, e previa o início das implantações pelas escolas no ano de 2020. Apesar
da Resolução nº 2 de dezembro de 2017 que foi emitida pelo Conselho Nacional de
Educação, estipular um prazo para 2019 em relação aos currículos, tal mudança não
dependia apenas dos Estados e gestores. Porém, o atraso na adaptação do Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM) repercutiu no avanço do novo currículo, de
finalização prevista para 2022. No fim do ano de 2019, Guimarães (2020) reporta
dados obtidos por entidades governamentais e anuncia pequenas ações realizadas
em escolas-pilotos por boa parte dos estados brasileiros como a ampliação da carga
horária e inclusão de matérias eletivas no currículo já existente. Essas atitudes são
apontadas pela autora como formas de preparar os estudantes para as futuras
mudanças.
Os novos currículos, tanto do ensino fundamental quanto do ensino médio, trouxeram
propostas de aprendizagem por competências e habilidades, ao invés de conteúdos
fragmentados, que muitas vezes, dificultam a associação com o cotidiano. Abriu-se
então, a oportunidade do professor ser flexível no que iria ensinar, podendo abordar
situações mais próximas de cada realidade e assim dar significado ao objeto de
aprendizado. Para o melhor estímulo na formação final, além do ensino básico, o
estudante conclui um curso profissionalizante ao final do ensino médio (BRASIL,
2018).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
No fim do regime militar, entre o fim dos anos de 1970 e início de 1980, a intensa
transformação política, social e econômica no país, fez emergir práticas das
pedagogias libertadoras e crítico-social dos conteúdos. A primeira atua em
transformar a realidade social e política dos estudantes, com atividades de discussão
da realidade imediata. A segunda também intenta transformação social, mas defende
a valorização do conteúdo historicamente acumulado, usando-o para elucidar os
alunos acerca do contexto histórico em que o indivíduo está inserido, capacitando-o a
compreender e lutar por seus interesses de classe (BRASIL,1997).
Tanto a pedagogia libertadora carreada por Paulo Freire, quanto a pedagogia crítico-
social dos conteúdos, são tendências progressistas que influenciaram as práticas no
período pós-ditadura no Brasil. Preparar os estudantes para uma vida profissional e
social levantou preocupações sobre uma aprendizagem significativa que remonta às
ideias de Ausubel quando menciona que, para haver a construção da aprendizagem
pelo aluno, deve-se relacionar o conteúdo programático com o que o aprendiz já sabe
(MOREIRA, 2006). Moreira (2006) aponta dois fatores primordiais para que o material
seja potencialmente significativo na atuação do ensino progressista, “[...] a natureza
do material em si [...]” e a “[...] natureza da estrutura cognitiva do aprendiz [...]”, sendo
que o material não pode ser arbitrário ou aleatório, tendo significado lógico
relacionável às ideias do estudante e quanto à natureza da estrutura cognitiva, nela
devem estar disponíveis os conceitos subsunçores específicos, com os quais o novo
material é relacionável (MOREIRA, 2006, p. 19).
Após a emersão dessas tendências no ensino Brasileiro, foi preciso fazer alterações
nos documentos oficiais da educação, a fim de incorporar práticas diferenciadas da
pedagogia tradicional. Tendo sua aprovação em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) sofreu algumas modificações como em 1997, quando foram
consolidados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), voltados ao ensino
fundamental nos anos iniciais (1º ao 5º ano), no qual padroniza propostas curriculares
que devem ser usadas como base para formular os planos de ensino dos Estados.
Nele é mencionado as quatro grandes tendências pedagógicas presentes no ensino
brasileiro, umas com traços mais persistentes, como a tradicional, renovada e
tecnicista, e outras com apenas algumas características peculiares das progressistas
citadas no parágrafo anterior. Essas propostas, em sua maioria, foram reformuladas
durante a década de 1980, seguindo as tendências educacionais daquele período e
visavam sanar problemas de altos índices de repetência e evasão escolar, apontando
a insatisfação do trabalho desenvolvido nas escolas (BRASIL, 1997).
Porém, o trabalho realizado por Bender e Costa (2018) evidencia a dependência dos
livros didáticos e das sequências dos conteúdos lineares, fragmentados, pelos
professores da área, mesmo sendo conteúdos altamente contextualizados ao
cotidiano. O autor aconselha estratégias de ensino que causam rupturas e operações
de pensamentos através de mapas conceituais, atividades experimentais
interrogativas, aulas dialogadas interrogativas e pesquisas para construções e
sínteses (BENDER; COSTA, 2018).
Manacorda (2007), baseado nas ideias marxianas de Gramsci, assim como Freire
(1996) também defendeu em seu legado que a utopia omnilateral é essencial à prática
docente e por mais que não seja alcançada em sua totalidade, a formação integral do
indivíduo através da aproximação escola-vida, ajuda na construção global do sujeito.
Manacorda (2007) ainda define que formação omnilateral como a junção do
aprendizado intelectual e da prática, originando um sujeito capaz de transitar entre as
diferentes áreas de trabalho da sociedade. Ainda de acordo com o autor, é esse
pensamento utopista que conduzirá o professor a buscar sempre a didática mais
adequada ao seu alunado, tentando introduzir os conteúdos acadêmicos em sua
realidade, tornando-os mais interessantes.
Segundo Lombardi, Saviani e Sanfelice (2005), a partir dos anos 1990 a globalização
rompeu a estagnação da tecnologia industrial, disseminando a ciência e exigindo uma
nova forma de educar a mão-de-obra. Ainda de acordo com os autores, a mudança
da base eletromecânica para a microeletrônica no novo momento histórico da
indústria, e que a nova tendência seria baseada em competências e habilidades:
Krasilchik (2008) trabalho docente anterior às novas mudanças da LDB era baseado
na taxonomia do psicólogo Benjamin Bloom, estruturado em cima de ideias do
comportamentalismo (também conhecido por behaviorismo) (KRASILCHIK, 2008).
Esta tendência admitia que o comportamento dos alunos seria controlado pelo
professor, usando-se de recompensa e punição para obter resultados, não levando
em conta os conhecimentos prévios dos alunos defendido por Ausubel na sua teoria
da aprendizagem significativa (MOREIRA, 2006).
Segundo Krasilchik (2008) esse sistema criado por Bloom dividia os objetos
educacionais em: cognitivos ou intelectuais, afetivos ou emocionais e psicomotores
ou habilidades. Ainda, direcionava o planejamento pedagógico para objetivos e metas
de aprendizagem e, por consequência, norteava as metodologias empregadas para
atingi-las. Metodologias estas que trazem a proposta de considerar a realidade da
escola, exigindo atividades relacionadas com o conteúdo e que muitas vezes,
abstrato, limitando recursos em sala de aula, potencializando apenas o uso dos
tradicionais.
4 PROCEDER METODOLÓGICO
A leitura flutuante consistiu na análise para o conhecimento dos resumos, que permitiu
escolher o universo de artigos suscetíveis de fornecer informações sobre as práticas
docentes (pedagógicas) no ensino de ciências no ensino básico no Brasil.
Foi necessário ter cautela na escolha das palavras-chave, pois havia a preocupação
em englobar tanto o ensino fundamental quanto o ensino médio, porém “ensino de
ciências” é muito mais empregada em pesquisas aplicadas ao ensino fundamental,
uma vez que no ensino médio os trabalhos ainda abordam a área de ciências da
natureza de forma separada por biologia, química e física. O desafio da palavra-chave
“práticas” deparou-se na relação com trabalhos diversos, como por exemplo formação
de docentes do ensino superior, contendo conteúdo limitado ao mencionar estudos de
caso com uma prática docente específica, não vislumbrando a pluralidade. Diante
dessas dificuldades, foi necessário admitir as duas palavras-chave e as variações de
“práticas”, só assim foi possível obter um resultado satisfatório. Mesmo não havendo
delimitado no objetivo do presente estudo, a temporalidade da pesquisa, o material
selecionado para a pesquisa conseguiu englobar práticas docentes de ensino
publicadas desde 2002 até o ano de 2020.
Total 277
Tabela 2 – Artigos selecionados dos periódicos e filtrados pelas palavras-chave “práticas” e “ensino
de ciências” que no título do periódico apresentem a palavra “ensino”.
Total 78
Por se enquadrar como aula prática, a terceira ocorrência mais identificada nos
estudos foram os experimentos de ciências, sendo contabilizados nas 39 ocorrências
e entre as 54 das aulas práticas. Os experimentos de ciências geralmente são
aplicados em paralelo com aulas expositivas, corroborando com Bassoli (2014).
Observando esses resultados surge o questionamento: as atividades práticas devem
ser apenas demonstrações físicas dos conceitos abstratos ou devem aumentar a
interatividade com o objeto de estudo a fim de construir novos significados? Como já
mencionado neste texto, David Ausubel defende ser primordial considerar os
conhecimentos prévios dos estudantes para atingir a aprendizagem significativa, ou
seja, só é possível construir novos significados sobre um objeto se o aluno já possuir
estruturas cognitivas específicas capazes de influenciar e facilitar a aprendizagem
(MOREIRA, 2006).
Essa crescente preocupação em buscar por uma prática docente de ensino atrativa
aos olhos dos alunos, e que ao mesmo tempo tornasse real um conteúdo muitas vezes
abstrato, foi evidenciado em vários relatos que uniram a teoria com a prática. Vale
mencionar que, na maioria dos resumos, as informações apresentadas afirmam que
os professores realizam experiências simples e com a utilização de materiais de fácil
aquisição e de baixo custo, além de garantir a preservação da segurança dos alunos.
Esse comportamento foi justificado em 9 trabalhos dos 355 selecionados, nos quais
houveram relatos da falta de estrutura física e/ou de recursos essenciais para a
realização de experimentos.
Outra categoria muito usada pelos professores de ciências para diversificar suas
aulas, é o uso de instrumentos audiovisuais, correspondendo a 31% das aparições
nos resumos selecionados. Há trabalhos desde o início dos anos 2000 utilizando
filmes e documentários como ferramentas pedagógicas, mas ao avançar os anos,
esses tipos de recursos foram mais explorados e foi incluído também, o uso de vídeos
curtos, além de séries televisivas e desenhos animados.
Abstract
REFERÊNCIAS
CASTELLS, M. A sociedade em rede. 6ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v.1, p.
67-76.