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AS METODOLOGIAS ATIVAS COMO ESTRATÉGIAS

PARA DESENVOLVER A INTERDISCIPLINARIDADE


NO ENSINO MÉDIO
ACTIVE METHODOLOGIES AS STRATEGIES TO DEVELOP
INTERDISCIPLINARITY IN HIGH SCHOOL
Artigo Original
Original Article
METODOLOGÍAS ACTIVAS COMO ESTRATEGIAS PARA DESARROLLAR LA Artículo Original
INTERDISCIPLINARIDAD EN LA ESCUELA SECUNDARIA

Francisco Antônio de Sousa1, Marcelo Nunes Coelho*2


1
Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO-IFRN/UERN/UFERSA)
2
Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO-IFRN/UERN/UFERSA)

* Correspondência: Rua Raimundo Firmino de Oliveira, 400, Conjunto Ulrick Graff, Mossoró-RN, CEP: 59.628-
330

Artigo recebido em 01/08/2019 aprovado em 01/04/2020 publicado em 04/08/2020.

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo refletir acerca das contribuições e implicações das metodologias ativas no
desenvolvimento da interdisciplinaridade no processo de ensino e aprendizagem. Foi realizada uma pesquisa
bibliográfica de 18 produções científicas de quatro periódicos disponibilizados no Portal de Periódicos da CAPES,
os quais foram avaliados com Qualis A1, A2, B1 e B2, e também dos anais do Simpósio Nacional de Ensino de
Ciência e Tecnologia, tendo como recorte temporal o período de 2013 a 2018. Houve também uma categorização
por meio da análise de conteúdo (BARDIN, 2011) na qual os trabalhos foram dissecados para perceber
aproximações das metodologias ativas com a interdisciplinaridade. Como resultados, podemos destacar que as
metodologias ativas contribuem para criar condições que potencializam o desenvolvimento da interdisciplinaridade,
pois proporcionam, aos discentes, situações que permitam a vivência e busca pela construção do conhecimento por
meio do processo de diálogo, intelectualmente estruturado, entre os mesmos e entre as áreas do saber. Contudo,
apesar de sua inegável importância, práticas interdisciplinares ainda são muito incipientes e não acontecem,
efetivamente, como ação pedagógica e essa realidade precisa ser transformada e para isso é necessário a realização
de pesquisas cientificas que coloquem a prática da interdisciplinaridade como foco.
Palavras-chave: Metodologias Ativas. Interdisciplinaridade. Educação Básica.

ABSTRACT
This article aims to reflect on the contributions and implications of active methodologies in the development of
interdisciplinarity in the teaching and learning process. A bibliographic search of 18 scientific Productions was
made from four journals available on the CAPES Journals Portal, which were evaluated with Qualis A1, A2, B1
and B2, and also from the proceedings of the Simpósio Nacional de Ensino de Ciências e Tecnologia, was
conducted, time frame from 2013 to 2018. There was also a categorization through content analysis (BARDIN,
2011) in which the works were dissected to perceive approximations of active methodologies with
interdisciplinarity. As results, we can highlight that the active methodologies contribute to create conditions that
potentiate the development of interdisciplinarity, because they provide the students with situations that allow the
experience and search for the construction of knowledge through the process of dialogue, intellectually structured,
between them. And between areas of knowledge. However, despite their undeniable importance, interdisciplinary
practices are still very incipient and do not happen, effectively, as pedagogical action and this reality needs to be
transformed and for this it is necessary to carry out scientific research that puts the practice of interdisciplinarity
as a focus.

DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uftv7-7343 Revista Desafios – v. 7, n. 3, 2020


Keywords: Active Methodologies. Interdisciplinarity. Basic education.

RESUMEN
Este artículo pretende reflexionar sobre las contribuciones e implicaciones de las metodologías activas en el
desarrollo de la interdisciplinariedad en el proceso de enseñanza y aprendizaje. Se realizó una búsqueda
bibliográfica de 18 producciones científicas de cuatro revistas disponibles en el Portal de Revistas CAPES, que se
evaluaron con Qualis A1, A2, B1 y B2, y también de las actas del Simposio Nacional de Ciencia y Tecnología;
dentro del marco temporal desde 2013 hasta 2018. También hubo una categorización a través del análisis de
contenido (BARDIN, 2011) en la cual se diseccionaron los trabajos para percibir aproximaciones de metodologías
activas con interdisciplinariedad. Como resultados, podemos destacar que las metodologías activas contribuyen a
crear condiciones que mejoran el desarrollo de la interdisciplinariedad, ya que proporcionan a los discentes
situaciones que permiten la experiencia y la búsqueda de la construcción del conocimiento a través del proceso de
diálogo, estructurado intelectualmente, entre ellos, y entre las áreas de conocimiento. Sin embargo, a pesar de su
innegable importancia, las prácticas interdisciplinares son todavía muy incipientes y no ocurren, efectivamente,
como acción pedagógica y esta realidad debe transformarse, por lo que es necesário llevar a cabo investigaciones
científicas que se centren en la práctica de la interdisciplinariedad.
Descriptores: Metodologías activas. Interdisciplinariedad. Educación básica.

INTRODUÇÃO É necessário compreender que a ideia de


O sistema educacional determina que cada tratar os conhecimentos das disciplinas das diversas
disciplina deve ser marcada por uma base comum que áreas do conhecimento de forma integrada não é
visa justificar e lhe dar a devida importância no novidade, pois os gregos já buscavam trabalhar com
43
contexto escolar. No entanto, os tempos atuais exigem essa abordagem. Entretanto, o movimento da
reformulações nessas bases, de forma que a prática interdisciplinaridade no ensino dá início a sua
docente seja inovadora e que o processo de ensino e trajetória na década de 60, principalmente na Europa,
de aprendizagem não seja somente estabelecido de tendo como foco a França e a Itália, onde ocorreram
forma tradicional, centrada no isolamento dos reivindicações estudantis para que houvesse a
conhecimentos de cada disciplina, ou seja, de forma melhoria da qualidade do ensino e para que esse fosse
“bancária” (ALVARENGA et al., 2015). o mais próximo da realidade social, política e
Diante da preocupação com essa educação econômica dos discentes (FAZENDA, 1998).
bancária e com avanços nas discussões no cenário Como resultados dessas reivindicações,
educacional, revelou-se a limitação da muitos estudos foram realizados e muitas obras
disciplinarização do conhecimento (os fenômenos publicadas. Como exemplo, pode-se citar as
complexos do mundo natural, social e cultural são contribuições das obras de Fazenda (1998; 2013),
divididos em ramos chamados de disciplinas, sendo Santos (2007), de Philippi Jr. (2015) e de outras
cada disciplina responsável por uma parcela do publicações na área de interdisciplinaridade no Brasil.
conhecimento naquele ramo e os fenômenos dessa No entanto, os estudiosos que praticam, teorizam e
parcela são analisados sem levar em conta suas tentam definir interdisciplinaridade ainda não
interações com as demais parcelas de conhecimento conseguem proporcionar uma única definição, devido
do mesmo campo) e passa-se, então, a pensar em às suas múltiplas dimensões epistemológicas e das
interdisciplinaridade (ALVARENGA et al., 2015). similitudes e diferenças apresentadas pelos estudiosos.

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Trazendo para o contexto educacional Pensar no cotidiano da escola pública, torna
brasileiro atual e principalmente no Ensino Médio, possível a formação em nossas mentes de uma gama
ainda que a conceituação da interdisciplinaridade não de situações tidas como problemáticas ou impactantes.
seja clara, percebe-se que a gestão escolar e as Destas, podemos destacar o trabalho com a
políticas públicas educacionais sugerem que a prática interdisciplinaridade (ALVARENGA et al., 2015).
docente deve ser guiada por essa abordagem. Como Percebemos que essas situações estão
exemplos, os Parâmetros Curriculares Nacionais relacionadas com o fato da interdisciplinaridade ser
(PCN) para o Ensino Médio de 2000 (BRASIL, 2000) entendida como uma abordagem filosófica, que
e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino apresenta significados tanto de caráter científicos,
Médio (DCNEM) de 2012 (BRASIL, 2012). culturais e também sociais, que visam no contexto
Diante do exposto, o presente artigo tem atual, “socorrer” o processo de ensino e aprendizagem
como objetivo refletir acerca das contribuições e fornecendo-lhe uma nova face, pois visa proporcionar
implicações das metodologias ativas no uma transformação nas práticas pedagógicas
desenvolvimento da interdisciplinaridade no processo (ALVARENGA et al., 2015).
de ensino e aprendizagem. Para essa reflexão foi Com o intuito de abordar a gênese da
realizada uma pesquisa documental de 18 produções interdisciplinaridade, Alvarenga et al. (2015, p. 58)
científicas de quatro periódicos disponibilizados no aduz que
Portal de Periódicos da Coordenação e [...] a interdisciplinaridade emerge nos anos 1960
como precursora não somente na crítica, mas
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior sobretudo na busca de respostas aos limites do 44
(CAPES) com Qualis A1, A2, B1 e B2, e também dos conhecimento disciplinar que sustenta o
paradigma da ciência moderna, considerado por
anais do Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e pensadores da educação e da ciência como
simplificador, fragmentador e redutor do
Tecnologia (SINECT), tendo como recorte temporal o conhecimento. Em função de sua proposta, passa
período de 2013 a 2018. Para análise dos trabalhos, a configurar-se como um modo inovador na
produção do conhecimento que não nega o
houve também uma categorização por meio da análise disciplinar, mas o complementa e amplia –
apresentando-se, nesse caso, como alternativo –,
de conteúdo (BARDIN, 2011) para perceber quando busca focar a questão da complexidade e
aproximações das metodologias ativas com a dos desafios à religação dos saberes.

interdisciplinaridade. Sendo utilizado desde os anos 60 a partir de


A escolha e justificativa desses trabalhos se dá um movimento revolucionário de universitários, o
mediante ter obtido um corpus de análise em um termo interdisciplinaridade apresenta algumas
levantamento realizado para a construção de outra variâncias que são os termos: “transdisciplinaridade”,
pesquisa e pela potencialidade desse corpus acerca das “multidisciplinaridade” dentre outros que vão se
metodologias ativas e de pensar a interdisciplinaridade derivando quando as discussões vão se aprofundando.
no ensino médio. No entanto, é necessário entender que o termo
interdisciplinaridade, mesmo com suas variâncias não
TECENDO SABERES ACERCA DA apresenta uma única definição, mas é compreendido,
INTERDISCIPLINARIDADE independente disto, como uma possibilidade real de
quebrar com a rigidez dos “compartimentos” em que

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se encontram separadas as disciplinas do currículo das refletir se, de fato, será efetivamente trabalhada
escolas (ALVARENGA et al., 2015). enquanto proposta pedagógica (FAZENDA, 1998).
Mesmo não apresentando uma única Mediante essa consideração e realizando
definição, Alvarenga et al. (2015, p. 59) salienta que uma busca para contextualizar este aspecto, observa-
[...] a interdisciplinaridade passa a propor a se que, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
conjunção como proposta de (re)ligação dos
saberes. Nesse sentido, começa a negar o para o Ensino Médio, o trabalho interdisciplinar
pressuposto básico do conhecimento disciplinar consta como uma proposta de acabar com o ensino
de que existe, segundo Khun (1978), um ‘vazio’
de realidade entre as fronteiras disciplinares. fragmentado, compartimentalizado e
descontextualizado, sendo indicado o
Sendo assim, é preciso identificar alguns
[...] desenvolvimento do currículo de forma
fatos que sustentam e apontam para a importância da orgânica, superando a organização por
disciplinas estanques e revigorando a integração
interdisciplinaridade na atualidade e há que considerar e articulação dos conhecimentos, num processo
que, embora a ideia de interdisciplinaridade não seja permanente de interdisciplinaridade (BRASIL,
2000, p. 17).
nova,
Nova é a sua proposta dada as suas relações Partindo-se da análise das Diretrizes
estreitas com o modo de produzir conhecimento
na ciência moderna ou clássica. Assim, ao Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
propor-se a operar nas fronteiras disciplinares e (DCNEM) - Resolução nº. 2, de 30 de janeiro 2012,
na religação de saberes, a interdisciplinaridade
aproxima-se dos desafios colocados a essa percebe-se que o currículo do Ensino Médio está
ciência, notadamente o de dar conta dos
fenômenos complexos (KLEIN,1996 citado por organizado em áreas do conhecimento, sendo
45
ALVARENGA et al. 2015, p. 61). estabelecidas no Art. 8º, a saber: “I - Linguagens; II -
Matemática; III - Ciências da Natureza; IV - Ciências
Sem ter a pretensão de uma longa discussão
Humanas” (BRASIL, 2012). As referidas áreas são
sobre o conceito do termo, a interdisciplinaridade
consideradas, também, no Exame Nacional do Ensino
pode ser entendida aqui como uma perspectiva de
Médio (ENEM).
trabalho pedagógico que visa promover o diálogo
Outro destaque a ser feito nas Diretrizes
constante de saberes, no qual essa conversa entre as
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
diversas áreas do conhecimento e seus respectivos
(DCNEM) é o fato de a interdisciplinaridade ser um
conteúdos, se dariam como o entrelaçamento entre os
dos princípios pedagógicos que deve embasar o
diversos fios que tecem o currículo escolar, de modo
Ensino Médio; ficando claro em seu Art. 5º, que “o
que possa fortalecer, qualificar e contextualizar o
Ensino Médio em todas as suas formas de oferta e
processo de aprendizagem dos discentes em seus
organização, baseia-se em: [...] VI - integração de
respectivos níveis de ensino (FAZENDA, 1998).
conhecimentos gerais e, quando for o caso, técnico-
Em relação aos níveis de ensino, é
profissionais realizada na perspectiva da
perceptível que, apesar de presente nos documentos
interdisciplinaridade e da contextualização” (BRASIL,
oficiais norteadores da educação básica, a
2012).
interdisciplinaridade é ainda considerada como algo
Apesar de se apresentarem um pouco
distante da realidade do cotidiano escolar, fazendo
modestas as considerações nos documentos oficiais da

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educação básica acerca da interdisciplinaridade, é Dessa forma, compreende-se que aprender é
notório que nos documentos referentes ao Ensino um ato voluntário do aprendiz. Pois, quando se
Médio tais propostas são mais recorrentes. No aprende algo o cérebro deve reagir aos estímulos
entanto, na maioria das instituições de ensino esse advindos do ambiente e reconfigurar-se ativando
trabalho interdisciplinar não acontece efetivamente e sinapses, tornando-as mais intensas, levando à
quando ocorre não é significativo, ou seja, o termo é configuração de circuitos mais eficazes para o
mencionado mais que praticado; é escrito mais que processamento da informação recebida (COELHO,
utilizado em ação pedagógica promotora das 2017).
aprendizagens necessárias ao ser humano de hoje. Ainda Coelho (2017, p. 178-179) afirma que
Está previsto e suposto nos documentos legais da “[...] atenção e motivação do aprendiz exige esforço,
educação básica, mas não no cotidiano da escola, no responsabilidade, escolha e disciplina. Sem esses
fazer pedagógico, e assim percebemos que é retórica e elementos, qualquer método, [...], se torna vazio.
não prática (ALVARENGA et al., 2015; FAZENDA, Neste ponto, exige-se que o professor atue, sobretudo,
1998). como um motivador”.
Diante do exposto, compreende-se que o
METODOLOGIAS ATIVAS: EXPERIÊNCIAS método selecionado para conduzir o processo de
NO ENSINO ensino e aprendizagem é fundamental para o processo.
Pensar nos processos de ensino e de É nesse ponto que as metodologias ativas surgem
aprendizagem exige considerar todas as variáveis que como “pontos de partida para avançar para processos 46
estão no seu entorno, para que assim se possa, mais avançados de reflexão, de integração cognitiva,
compreendendo os agentes, as metodologias e tudo de generalização, de reelaboração de novas práticas”
que concorre para construção do conhecimento de (MORAN, 2015, p. 18).
uma determinada área, avaliar e discutir como estão Em relação a compreensão das metodologias
sendo efetivados esses processos. Com essa ativas, Coelho (2017, p. 179) faz a seguinte
preocupação em abordar essas variáveis, Coelho abordagem.
(2017, p. 178) enfatiza que Os métodos ativos surgem como uma proposta
de atitudes e procedimentos que devem ser
Ensinar é um processo por meio do qual o levados a cabo com o intuito de que alunos e
professor (profissional que ensina) executa professores possam ter o máximo controle sobre
práticas que tornam possível a comunicação seus processos de ensino-aprendizagem e um
eficaz entre o objeto da aprendizagem (o que se melhor aproveitamento destes. A prática baseada
quer aprender) e o sujeito aprendiz. Para maior em métodos ativos tem em seus objetivos
efetividade desses processos, o professor deve conduzir o aluno no caminho de construção do
avaliar a melhor forma de fazer a mediação entre seu próprio conhecimento, tornando-o, por
o cérebro do seu aluno e os desafios oriundos da consequência, sujeito autônomo, crítico e
área em estudo. É, pois, um processo que deve se reflexivo.
basear na capacidade plástica do cérebro
humano, buscando a construção e o reforço de
sinapses visando à adequada aquisição, Entendemos assim que as metodologias
memorização, tratamento e processamento dos
conhecimentos aos quais o aluno foi exposto. ativas têm como ponto principal tornar o estudante o
protagonista da construção do seu conhecimento,

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aprendendo no seu próprio ritmo e também com os de ensino e aprendizagem para o desenvolvimento da
outros. interdisciplinaridade.
Percebemos que a nova ênfase dada ao A coleta de dados se deu mediante um
processo de aprender a partir da ação das levantamento prévio realizado para outra pesquisa1, na
metodologias ativas, proporciona uma nova reflexão qual se estrutura o referido corpus de análise que é
nos papeis que os estudantes e professores composto de 18 (dezoito) trabalhos de periódicos
desenvolvem no processo de ensino e de disponibilizados no Portal de Periódicos da
aprendizagem, pois o estudante é direcionado para o Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
centro do processo educativo, aumentando sua Superior (CAPES) e também dos anais do VI
responsabilidade em relação à sua formação. Já o Simpósio Nacional de Ensino de Ciência – SINETC.
professor fica encarregado de apresentar o mundo e, Para compor o corpus de análise foram
ao mesmo tempo, deixá-lo caminhar sozinho selecionados os trabalhos mediante algumas etapas:
(MORAN, 2015). (1) escolha das palavras-chave para busca nas fontes
Entretanto, ainda se percebe a existência de (Metodologias Ativas, Ensino Médio, Ensino de
muitos equívocos quanto à compreensão e eficácia da Ciências Naturais); (2) localização das
aplicação das metodologias ativas, havendo muitas fontes online de pesquisas (CAPES, SINECT); (3)
vezes divergências entre o que as práticas pedagógicas coleta das produções científicas; (4) leitura dos títulos
descrevem e a forma como elas realmente acontecem, e resumos, com elaboração de sínteses dos resultados.
fazendo-se, pois, necessárias, mais discussões e Vale salientar que é importante dar atenção aos títulos, 47
produções científicas acerca da importância das pois os mesmos fazem menção, como aborda Ferreira
metodologias ativas para a construção do (2002, p. 261) “a informação principal do trabalho ou
conhecimento autônomo do aluno no processo de indicam elementos que caracterizam o seu conteúdo”;
ensino e de aprendizagem na educação básica e, em e (5) análise e elaboração das considerações
específico, no Ensino Médio (COELHO, 2018; preliminares.
MORAN, 2015). Dentre os periódicos, analisamos trabalhos
da Revista Brasileira de Ensino de Física (RBEF);
METODOLOGIA Caderno Brasileiro de Ensino de Física (CBEF);
A pesquisa se ampara na abordagem Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar
qualitativa. Segundo Callado e Lucio (2013, p. 376) (RECEI) e; Revista Física na Escola, os quais são,
pesquisas desse tipo têm o intuito de “compreender e atualmente, avaliados com Qualis A1, A2, B1 e B2
aprofundar os fenômenos, que são explorados a partir (classificação 2013-2016 da CAPES),
da perspectiva dos participantes em um ambiente respectivamente. E tendo como recorte temporal o
natural e em relação ao contexto”. Para esse trabalho, período de 2013 a 2018.
essa abordagem tem como intuito compreender, por
meio da análise das produções científicas, quais as 1
Trata-se de um “Estado da Arte” realizado para a
contribuições e implicações das metodologias ativas disciplina de Pesquisa em Ensino do Programa de Pós-
Graduação em Ensino – POSENSINO (associação entre
IFRN, UERN e UFERSA).

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Como método de análise qualitativa, foi figuras e modelos, os quais condensam e põem
em relevo as informações fornecidas pela
realizada uma Análise de Conteúdo. Segundo Bardin análise. (BARDIN, 2011, p. 131).
(2011, p. 42) esse método pode ser entendido como
“[...] uma técnica de investigação que através de Definimos a priori categorias de uma
uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa metodologia de ensino que caracterizassem uma
do conteúdo manifesto das comunicações tem
por finalidade a interpretação destas mesmas proposta interdisciplinar, quais sejam:
comunicações.”.
“contextualização”, “ser baseado nas experiências do
A análise do conteúdo de uma comunicação aluno”, “unidade problematizadora”, “atitude no
(não necessariamente um texto) por meio desse relacionamento com o conhecimento”, “projetos de
método consiste, basicamente, em três fases distintas interação das disciplinas”, “interação dos pontos de
cronologicamente. A primeira dessas fases é a pré- vistas ou os discursos das várias disciplinas e “revisão
análise que: de formas de aprender a realidade”. A definição
“corresponde a um período de intuições, mas que dessas categorias baseou-se nos trabalhos de Fazenda
tem por objetivo tornar operacionais e
sistematizar as ideias iniciais, de maneira a (2008), Castro e Melo (2015) e Japiassu (1994).
conduzir a um esquema preciso do
desenvolvimento das operações sucessivas” A análise consistiu em buscar, dentre as
(BARDIN, 2011, p. 125). publicações analisadas, falas dos autores, que
indicassem características, aspectos, semelhanças que
É nesta etapa que se estabelece quais os
aproximassem suas práticas de propostas
documentos que serão analisados, quais as hipóteses
interdisciplinares aqui representadas pelas categorias 48
para a pesquisa e a formulação dos indicadores que
acima elencadas.
fundamentam a interpretação final.
Em seguida, procede-se com a fase de
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
exploração do material que “[...] não é mais do que a
Após a coleta, foram tabulados os dados e
aplicação sistemática das decisões tomadas na pré-
posteriormente elaborados quadros e gráficos no Excel
análise” (BARDIN, 2011, p. 131).
para uma melhor exposição e discussão dos dados. A
Na última etapa, a de tratamento,
Tabela 1 apresenta o corpus de análise, onde
“Os resultados brutos são tratados de maneira a
serem significativos (“falantes”) e válidos. apresenta-se os títulos dos trabalhos, ano de
Operações estatísticas simples (percentagem), ou
mais complexas (análise fatorial), permitem publicação, fonte e os seus respectivos autores.
estabelecer quadros de resultados, diagramas,

Tabela 1 - Corpus de Análise


ANO DE
Nº TRABALHOS FONTE AUTORES
PUBLICAÇÃO
Gamificação aplicada ao plano
FORTUNATO, I.
01 de aula: elementos para 2017 RECEI
TEICHNER, O. T.
potencializar o ensino
Uma comparação entre Team-
Based Learning e Peer-
02 2018 RECEI COELHO, M. N.
Instruction em turmas de Física
do Ensino Médio
03 A utilização do aplicativo 2018 RECEI SILVA, D. O.

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Plickers como ferramenta na SALES, G. L.
implementação da metodologia CASTRO, J. B.
Peer-Instruction
Instrução pelos Colegas e Ensino
sob Medida: Uma proposta para ARAUJO, I. S.
04 o engajamento dos alunos no 2013 CBEF MAZUR, E.
processo de ensino
aprendizagem de Física
Relato de experiência com os
métodos Ensino sob Medida
(Just -in-Time Teaching) e OLIVEIRA, V.
Instrução pelos Colegas (Peer- 2015 CBEF VEIT, E. A.
05
Instruction) para o Ensino de ARAUJO, I. S.
Tópicos de Eletromagnetismo no
nível médio
Aprendizagem Baseada em
OLIVEIRA, T. E.
06 Equipes (Team-Based Learning):
2016 CBEF ARAUJO, I. S.
um método ativo para o Ensino
VEIT, E. A.
de Física
Sala de aula invertida (Flipped Revista OLIVEIRA, T. E.
07 Classroom): Inovando as aulas 2016 Física na ARAUJO, I. S.
de Física Escola VEIT, E. A.
Abordando os fenômenos de
Revista JARDIM, W. T.
08 difração e interferência de ondas
2015 Física na SILVA, M. A. M.
com o método da instrução pelos
Escola BARROS, M. V.
colegas (Peer-Instruction)
Uma metodologia de
09 aprendizagem ativa para o ensino SANTOS, R. J.
2015 RBEF
de mecânica em educação de SASAKI, D. G. G.
jovens e adultos
Uma associação do método ARAUJO, A. V. R. 49
10 Peer-Instruction com circuitos SILVA, E. S.
2017 RBEF
elétricos em contextos de JESUS, V. L. B.
aprendizagem ativa OLIVEIRA, A. L.
Avaliação de uma metodologia
de aprendizagem ativa em óptica
11 SASAKI, D. G. G.
geométrica através da 2017 RBEF
JESUS, V. L. B.
investigação das reações dos
alunos
Uma revisão da literatura acerca MULLER, M. G.
12 da implementação metodologia ARAUJO, I, S.
2017 RBEF
interativa de ensino Peer- VEIT, E. A.
Instruction (1991 a 2015) SCHELL, J.
A problem regarding buoyancy
13 SANTANDER, J.
of simple figures suitable for 2017 RBEF
L. G.
Problem-Based Learning
Implementação de um aplicativo
KIELT, E. D.
14 para smartphones como sistema
2017 RBEF SILVA, S. C. R.
de votação em aulas de Física
MIQUELIN, A. F.
com Peer-Instruction
ALVAREZ-
ALVARADO, M.
Peer-Instruction to address
15 S.
alternative conceptions in 2017 RBEF
MORA, C.
Einstein´s special relativity
CEVALLOS-
REYES, C. B.
Juntos num só ritmo:
SILVA, J. J.
modificando a dinâmica das
16 FIGUEIREDO, N.
aulas de Física com uso 2014 SINECT
RODRIGUES, P.
articulado do Peer-Instruction e
A. A.
Just In Time

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Unidades de Aprendizagem
17 COELHO, M. N.
Ativa para Física – Motivação 2018 SINECT
VIEIRA, S. M.
Acadêmica
Uma proposta de UEPS BARUMBY, J. C.
18 utilizando o ciclismo para o 2018 SINECT HILGER, T. R.
ensino de tópicos de Mecânica CAMRGO, S.
Fonte: Dados da Pesquisa (2019)

Importante destacar o relativamente elevado no uso das metodologias ativas em salas de aula a
quantitativo de trabalhos publicados na RBEF no partir de 2013. Todos os trabalhos analisados tratam
período considerado (sete). Este periódico destaca-se, de aplicações de metodologias ativas em ambiente
a nível nacional e internacional, como uma formal de ensino. Eles também deixam explícito o
publicação de enorme relevância na área de Ensino. quanto é escassa a preocupação com pesquisas que
Com base no Tabela 1 acima e para que haja uma discutam pressupostos teóricos e/ou filosóficos dessas
visualização do quantitativo de trabalhos por ano, o metodologias.
Gráfico 1 apresenta essa distribuição entre 2013 e É nesse sentido que este trabalho se
2018. apresenta de muita relevância, pois, ao discutir
características interdisciplinares das metodologias
Gráfico 1:Quantitativo de Trabalhos (2013 – 2018) ativas, pretende ser uma semente na direção de novos
8 estudos com esse foco.
7 A análise das publicações revelou falas dos
6
autores (pesquisadores) que guardavam 50
5
4 correspondências com as categorias de análise
3 definidas na seção de Metodologia (contextualização,
2
1 ser baseado nas experiências do aluno, unidade
0 problematizadora, atitude no relacionamento com o
2013 2014 2015 2016 2017 2018
conhecimento, projetos de interação das disciplinas,
Fonte: Dados da Pesquisa (2019) interação dos pontos de vistas ou os discursos das
várias disciplinas e revisão de formas de aprender a
Percebe-se segundo o gráfico que houve um realidade).
expressivo número de trabalhos ano de 2017 38,88 % A seguir, na Tabela 2, apresentamos alguns
que tratam de metodologias ativas. Já em 2013 e trechos das publicações estudadas, selecionados a
2014 houve 5,55% (em cada ano). Em 2015 teve partir da análise, como representativos de cada uma
16,66%, 2016 11,11% e no ano de 2018 teve 22, das categorias já mencionadas.
22%. Esses dados sugerem uma tendência crescente
Tabela 2:Análise das Categorias
CATEGORIAS TRABALHOS FALAS DOS TRABALHOS
Abordando os fenômenos de
difração e interferência de “[...] constituiu uma proposta que pode
ondas com o método da ser reproduzida em outros contextos de
CONTEXTUALIZAÇÃO
instrução pelos colegas sala de aula”.
(Peer-Instruction)
Juntos num só ritmo: “A possibilidade do aluno ter contato

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modificando a dinâmica das com o conteúdo antes das aulas é um
aulas de Física com uso fator que auxilia na articulação mais
articulando do Peer- adequada do conteúdo com o contexto
Instruction e Just In Time do aluno, além de instigá-los na busca
de informações que poderão vir a ser
estruturadas em sala de aula.
“A abordagem aqui apresentada espera
privilegiar uma visão do aluno sobre o
SER BASEADO NAS Gamificação aplicada ao seu passado e o seu futuro de
EXPERIÊNCIAS DO plano de aula: elementos para aprendizado, identificando o quanto
ALUNO potencializar o ensino progrediu e pode progredir, indo muito
além da “diversão” dos jogos e da
preparação da escola”
Uma comparação entre
“[...] é essencial para o bom
Team-Based Learning e
desempenho da turma, que os alunos
Peer-Instruction em turmas
trabalhem em equipe”.
de Física do Ensino Médio
“Notou-se que no decorrer das
A utilização do aplicativo discussões os estudantes defendiam
Plickers como ferramenta na seus pontos de vista, mas se
implementação da mostravam receptivos às idéias dos
metodologia Peer-Instruction colegas, utilizando argumentos e
promovendo um debate saudável”.
“[...] o foco de nosso plano de aula
Gamificação aplicada ao gameficado é reforçar a sensação de
plano de aula: elementos para progresso com o uso dos elementos de
potencializar o ensino jogos, para que os alunos possam
estudar, voluntariamente”.
“[...] Seus pontos fortes estão em
considerar o conhecimento prévio do
Instrução pelos Colegas e 51
aluno, favorecer interações sociais
Ensino sob Medida: Uma
voltadas para a construção do
proposta para o engajamento
conhecimento e estabelecer as bases
dos alunos no processo de
para o desenvolvimento de habilidades
ensino aprendizagem de
metacognitivas, começando pela
Física
criação de hábitos de estudos por parte
dos alunos”.
ATITUDE NO
“[...] tem sua importância no fato de
RELACIONAMENTO
que aponta caminhos para a elaboração
COM O CONHECIMENTO Unidades de Aprendizagem
de Unidades de Aprendizagem Ativas
Ativa para Física –
capazes de promover, além de uma
Motivação Acadêmica
aprendizagem mais significativa, um
nível mais autônomo de motivação”.
Uma proposta de UEPS “É esperado que com esta sequência
utilizando o ciclismo para o didática seja possível mensurar as
ensino de tópicos de relações dos alunos com os tópicos de
Mecânica mecânica apresentados no currículo”.
Uma associação do método
“[...] os alunos fossem capazes de
Peer-Instruction com
analisar, de forma autônoma, o
circuitos elétricos em
comportamento dos circuitos
contextos de aprendizagem
apresentados e de outros análogos”.
ativa
Relato de experiência com os
“Pensar alternativas para saber fazer
métodos Ensino sob Medida
com que os alunos se envolvam no
(Just -in-Time Teaching) e
processo de ensino aprendizagem e
Instrução pelos Colegas
saber criar um ambiente propício no
(Peer-Instruction) para o
qual os estudantes possam alcançar
Ensino de Tópicos de
uma aprendizagem significativa dos
Eletromagnetismo no nível
conteúdos”.
médio.

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“[...] traz uma aprendizagem de alto
Peer-Instruction to address ganho, que abre um caminho para a
alternative conceptions in inclusão do tema da relatividade
Einstein´s special relativity especial de Einstein em currículos
escolares”.
Uma comparação entre “[...] sendo essencial para a eficiência
Team-Based Learning e do método que a etapa de discussão
Peer-Instruction em turmas dos problemas seja encarada com
de Física do Ensino Médio empenho pelos alunos”.
“O professor revisa os problemas de
Sala de aula invertida casa. Em seguida, os alunos são
UNIDADE
(Flipped Classroom): organizados em grupos e recebem
PROBLEMATIZADORA
inovando as aulas de Física novos e mais complexos problemas
para resolverem”.
A problem regarding
“Para resolver o problema, duas
buoyancy of simple figures
afirmações precisam ser
suitable for Problem-Based
consideradas”.
Learning
“[...] têm potencial para utilização em
sala de aula e além dela. A
Implementação de um
possibilidade de estudos fora da sala
aplicativo para smartphones
de aula é um recurso que fortalece a
como sistema de votação em
aprendizagem, a autonomia e conduz a
aulas de Física com Peer-
ter hábitos de estudos. Também é
Instruction
possível manter contato com colegas e
PROJETOS DE
executar trabalhos colaborativos”.
INTERAÇÃO DAS
“O sucesso obtido pelas primeiras
DISCIPLINAS
adoções dessa metodologia, bem como
Uma revisão da literatura
a aspiração dos professores em
acerca da implementação
modificarem suas práticas docentes,
metodologia interativa de 52
motivou muitos pesquisadores a
ensino Peer-Instruction
aplicarem o Peer-Instruction em
(1991 a 2015)
diversas disciplinas e contextos
educacionais”.
Avaliação de uma
INTERAÇÃO DOS metodologia de “Esse conhecimento serviria para
PRONTOS DE VISTAS OU aprendizagem ativa em óptica aperfeiçoar as estratégias de ensino
OS DISCURSOS DAS geométrica através da que fazem uso do conflito cognitivo
VÁRIAS DISCIPLINAS investigação das reações dos em sala de aula’.
alunos
“[...] Se o professor possuir um
A utilização do aplicativo computador que possa utilizar em sala
Plickers como ferramenta na de aula e acesso à internet o Plickers
implementação da torna a atividade ainda mais interativa,
metodologia Peer-Instruction permitindo o feedback imediato às
respostas dos alunos”.
Abordando os fenômenos de
“[...] instigar a criação de novos
difração e interferência de
trabalhos, que podem ser adaptados e
ondas com o método da
REVISÃO DE FORMAS implementados sobre diferentes
instrução pelos colegas
DE APRENDER A conteúdos e em distintas realidades”.
(Peer-Instruction)
REALIDADE
Sala de aula invertida “A partir do contato prévio com o
(Flipped Classroom): conteúdo, ele tem tempo para pensar
inovando as aulas de Física sobre o que está estudando”.
“As estratégias do método, que vão
Aprendizagem Baseada em desde a organização planejada das
Equipes (Team-Based equipes até a avaliação entre os
Learning): um método ativo colegas, estimulam a interação e,
para o Ensino de Física consequentemente, a evolução das
equipes. Essa característica especial do

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TBL possibilita o desenvolvimento de
habilidades ligadas ao trabalho
colaborativo, essenciais na sociedade
contemporânea”.
Juntos num só ritmo:
modificando a dinâmica das “O uso articulado pode fornecer
aulas de Física com uso subsídios para que a dinâmica em sala
articulando do Peer- de aula seja modificada”.
Instruction e Just In Time
“Os efeitos dos aspectos sociais dos
alunos no ganho de aprendizagem são
Uma metodologia de
evidentes quando comparadas turmas
aprendizagem ativa para o
de diferentes perfis, o que sugere a
ensino de mecânica em
necessidade de adaptações na
educação de jovens e adultos
metodologia e no conteúdo de acordo
com a realidade social das escolas”.
Fonte: Elaborado pelo autor

Após a leitura dos artigos (Tabela 1) foi possibilidades de uma nova forma de se relacionar e
possível perceber, na análise, a frequência das aprender a realidade.
categorias nas propostas dos trabalhos. Entre as Nas demais categorias -
categorias, “Atitude no relacionamento com o “Contextualização” , “Ser baseado nas experiências
conhecimento” foi a mais frequente com 50% de do aluno”, “Unidade problematizadora”, “Projetos
presença nos trabalhos, evidenciando que as de interação das disciplinas” e “Interação dos
metodologias ativas aparecem de forma que prontos de vistas ou os discursos das várias 53
despertam, nos estudantes, atitudes positivas no que disciplinas” (distinguíveis em 11,11%, 5,55%,
tange o relacionamento com a construção do 16,66%, 11,11% e 5,55% dos trabalhos analisados,
conhecimento. É importante notar que, dentre as respectivamente) -, figuram trabalhos com as
metodologias ativas que mais se destacaram nesta metodologias Peer-Instruction, Just-in-Time
categoria, figura o Peer-Instruction e/ou outras Teaching, Gamificação, Team-Based Learning,
metodologias que usam seus elementos. De fato, faz Flipped Classroom, Problem-Based Learning,
parte da proposta dessa metodologia, criar um Destaque-se o poder de contextualização
ambiente no qual, a partir da interação com os seus da metodologia Just-in-Time Teaching, tendo em
pares, os alunos desenvolvam a atitude de vista que
questionar, argumentar, refletir e criticar. “a possibilidade do aluno ter contato com o
conteúdo antes das aulas é um fator que auxilia
Outra categoria que se mostrou frequente na articulação mais adequada do conteúdo com
foi “Revisão de formas de aprender a realidade”. Foi o contexto do aluno...” (SILVA, FIGUEIREDO
& RODRIGUES, 2014).
possível encontrar traços dessa categoria em 33.33%
dos trabalhos analisados. Aqui, destacam-se, além do Também é importante destacar o potencial
Peer-Instruction, também as metodologias Team- para criar unidades problematizadoras e projetos de
Based Learning, Just-in-Time Teaching e Flipped interação das disciplinas presente na metodologia
Classroom. De acordo com os trechos destacados, Problem-Based Learning.
todas estas metodologias fornecem, aos discentes,

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Nossos resultados sugerem que todas as É fato que, apesar de sua inegável
metodologias ativas descritas e estudadas nos importância, a interdisciplinaridade ainda é retórica e
trabalhos analisados apresentam, pelo menos, uma não acontece, efetivamente, como ação pedagógica.
das características (aqui descritas pelas categorias) Essa realidade precisa ser transformada e para isso é
que as potencializam como práticas possíveis para necessário que haja no cenário educacional um
uma proposta interdisciplinar de ensino e aumento de produções cientificas que evidenciem o
aprendizagem, pois proporcionam aos estudantes desenvolvimento da interdisciplinaridade na
diversas situações que permitem a vivência e busca educação básica e em específico no ensino médio.
pela construção do conhecimento por meio do
processo de diálogo, intelectualmente estruturado, AGRADECIMENTO
entre os mesmos e entre as áreas do saber. Agradeço a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pelo financiamento dos estudos no
CONSIDERAÇÕES FINAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino
Com a pesquisa, pode-se entender que as (UERN/UFERSA/IFRN) e assim proporciona apoio
metodologias ativas mostram-se como uma a produções acadêmicas.
concepção educacional que visa colocar os
estudantes como principais agentes de seu Todos os autores declararam não haver qualquer
aprendizado, pois percebe-se, que através delas é potencial conflito de interesses referente a este
artigo. 54
despertado o estímulo à crítica e à reflexão,
incentivadas pelo professor que será o responsável a REFERÊNCIAS
conduzir a aula de forma que propicia ao aluno um ALVARENGA, A. T.; ALVAREZ, A. M. S.;
aprendizado de forma significativa, uma vez que, a SOMMERMAN, A.; PHILIPPI JR, A.
Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade nas
participação dos alunos como sujeitos ativos tramas da complexidade e desafios aos processos
ocasiona mudanças positivas no processo de ensino e investigativos. In. Práticas da Interdisciplinaridade
no Ensino e Pesquisa. Barueri, São Paulo: Manole,
aprendizagem. 2015, p. 37 – 89.
Em relação ao desenvolvimento da
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais
interdisciplinaridade, concluímos que as Ensino Médio: bases legais. Brasília: MEC, 2000.
metodologias ativas contribuem de forma Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf
significativa, pois proporciona aos estudantes . Acesso em: 20 abr. 2019.
situações em que desperta a construção do
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.
conhecimento das diversas áreas do saber. No CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO.
entanto, trabalhar a interdisciplinaridade, não é CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Resolução
nº. 2, de 30 de janeiro 2012. Define Diretrizes
apenas o professor ser interdisciplinar, mas sim a Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
instituição assumir esse novo paradigma, permitir-se Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_doc
ao novo, possibilitando o mesmo a todos os sujeitos man&view=download&alias=9917-rceb002-12-
que dela fazem parte (FAZENDA, 2013). 1&Itemid=30192. Acesso em: 20 abr. 2019.

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BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo:
Edições 70, 2011.

COELHO, M. N. Uma comparação entre Team-


Based Learning e Peer-Instruction em turmas de
Física do Ensino Médio. Revista Ensino
Interdisciplinar. Mossoró, v. 4, n. 10, pp. 40-50,
2018.

COELHO, M. N. Metodologias ativas: uma


possibilidade para o Ensino Médio. In. Ensino na
Educação Básica. Natal: IFRN, 2017, p. 169 – 193.

CASTRO, W. A.; MELO, R. A.


Interdisciplinaridade: a trajetória histórica de um
conceito. In: X Encontro Regional Nordeste de
História Oral. Salvador, 2015. Anais...Salvador,
2015. Disponível em:
http://www.nordeste2015.historiaoral.org.br/site/anai
scomplementares. Acesso em: 01 jun. 2019.

FAZENDA, I. C. A. Práticas Interdisciplinares na


Escola. 13. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2013.

FAZENDA, I. C. A. Didática e
Interdisciplinaridade. Campinas, São Paulo:
Papirus, 1998.

FAZENDA, I. C. A. O que é 55
interdisciplinaridade?. São Paulo: Cortez, 2008.

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Seminário Internacional sobre Reestruturação
Curricular, promovido pela Secretaria Municipal de
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Disponível em:
http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/nead/Biblioteca/F
orma%C3%A7%C3%A3o%20Continuada/Artigos%
20Diversos/interdisciplinaridade-japiassu.pdf.
Acesso em: 01 jun. 2019.

MORAN, J. Mudando a educação com


metodologias ativas. In: Coleção Mídias
Contemporâneas. Convergências midiáticas,
educação e cidadania: aproximações jovens. Ponta
Grossa-PR: UEPG/PROEX, 2015, p. 15

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