Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CIENTÍFICA
Resumo
Introdução
Embora haja no país agências de fomento que destinem verbas para a atividade de
Iniciação Científica, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é um dos poucos
programas normatizados que visa à introdução do graduando na atividade de pesquisa.
9392
Os objetivos dos programas de Iniciação Científica sugerem que esse espaço seja
para despertar talentos, preparar e formar o pesquisador especializado, diminuir o tempo da
pós-graduação, porém o que se percebe na literatura específica é que muito mais do que
atingir esses objetivos a Iniciação Científica tem sido pensada como importante espaço de
formação. Como este espaço tem sido entendido em uma instituição como a Unicamp,
referência em ensino, pesquisa e extensão?
Este trabalho faz parte de uma pesquisa de Doutorado defendida na Universidade
Estadual de Campinas em 2010 e tem como objetivo apresentar os aspectos históricos do
PIBIC, a sua finalidade ao longo dos anos e a percepção dos alunos quanto a sua participação
no programa.
A análise foi realizada a partir de documentos e relatórios oficiais além de um
questionário on line aplicado em 2008 na Universidade Estadual de Campinas com todos os
alunos e professores inseridos no Programa Institucional de Iniciação Científica. Obtivemos
um total de 212 respostas de alunos e 188 de professores. A estimativa de erro para cada
amostra foi de aproximadamente de 6%, calculada através da fórmula proposta por Yamane
(1967 p. 886) para cálculos estatísticos simplificados.
Segundo Aragón e Velloso (2000) este programa foi inspirado nos programas de apoio
à graduação dos EUA, em especial no “Research Experience for Undergraduates – REU”, um
programa da National Science Foundation - NSF que, desde 1986, contribui para o
envolvimento dos estudantes de graduação em programas de pesquisa. Segundo os autores:
Este programa possui algumas características comuns ao PIBIC, pois não só visa
contribuir para a formação e treinamento em pesquisa dos estudantes, como também
para a melhor capacitação do corpo docente e o fortalecimento da infra–estrutura de
ensino e pesquisa nas universidades participantes (ARAGÓN; VELLOSO, 2000,
s/p).
privado. Observa-se, dessa forma, que os benefícios proporcionados pelo PIBIC atingem um
número ainda restrito de instituições e de alunos.
Breglia (2001) realizou uma análise dos dois Relatórios de Avaliação Nacional do
PIBIC, na tentativa de buscar compreender o conceito de formação do programa. A autora
demonstra que, apesar de os relatórios confirmarem com dados estatísticos que a Iniciação
Científica contribui para a formação do pesquisador, por despertar vocações para a pós-
graduação, é preciso estudar caminhos para que se ampliem as contribuições do PIBIC.
O primeiro relatório aponta para a necessidade de o PIBIC se integrar aos Projetos
Pedagógicos das instituições beneficiadas sem perder, contudo, o compromisso com a
qualidade. O relatório define a Iniciação Científica como um instrumento de formação que
introduz alunos promissores na pesquisa científica, propiciando a estes habilidades básicas
para uma condução autônoma da investigação. Para Breglia (2001, p. 60), “vista assim, a
Iniciação Científica seria uma oportunidade de aclimatar o aluno às diversas etapas do
trabalho científico ao fazê-lo utilizar esse instrumental também nas demais tarefas de seu
período de formação”. Ou seja, a preparação para atividade de pesquisa proporciona aos
alunos um conjunto de conhecimentos que “torna os alunos mais preparados, mais
independentes, enfim, dotados de uma formação mais abrangente”. Percebe-se que a
integração deste programa aos Projetos Pedagógicos das instituições é um caminho para se
atingir a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Desta forma, o gerenciamento do Programa é feito pela própria instituição beneficiada,
ficando a cargo do CNPq somente a distribuição das bolsas e determinações gerais. Na análise
de Breglia (2001, p. 61),
Além disso, Breglia (2001) entende que é preciso esforço adicional para se incorporar
a pesquisa ao ensino. Para ela, como a Iniciação Científica atinge apenas pequena parcela de
alunos, linhas de ação experimentais, como a proposta por Aragón e Velloso (2000)
necessitam ser implantadas com a finalidade de proporcionar a um maior número de alunos a
possibilidade de vivenciarem a participação em pesquisas científicas. Assim, a Iniciação
Científica assumiria de fato o seu papel pedagógico através da inserção efetiva da atividade de
pesquisa na graduação, contribuindo para a indissociabilidade ensino e pesquisa.
A análise dessa categoria por área de ensino e pesquisa demonstra que professores de
todas as áreas acreditam nos benefícios relacionados a ela, com maior ênfase nas áreas de
Artes e Exatas. Os professores da Área de Ciências Biológicas e Profissões da Saúde foram os
que menos citaram a categoria Formação Técnica do Pesquisador como benefício da Iniciação
Científica.
A tendência da alta porcentagem se repetiu nas respostas dos alunos, principalmente
dos matriculados na área de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra (82% dos alunos). No
entanto, na área de Artes, enquanto 100% dos professores citaram a Formação Técnica do
Pesquisador, apenas 60% dos alunos citaram algum aspecto referente a essa categoria como
benefício da Iniciação Científica:
Tabela 1: Professore e Alunos - Categoria Formação Técnica do Pesquisador como benefício da IC
Área professores% alunos%
Área de Artes 100 60
Área de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra 87 82
Área de Ciências Humanas 81 76
Área de Ciências Biológicas e Profissões da Saúde 70 77
Total 83 77
subcategoria indica que o aluno que realiza atividade de Iniciação Científica adquire
conhecimentos sólidos de metodologia científica. Alunos e professores disseram:
Tabela 2: Professores e Alunos - Subcategorias da categoria Formação Técnica do Pesquisador como benefício da
IC
Professores % Alunos
Subcategoria %
Aquisição de Conhecimento de Metodologia Científica 59 49
Conhecimento de um Tema Específico 18 20
Treinamento Prático 16 11
Preparação para a Pós-Graduação 13 17
Empregabilidade 4 9
Professores Alunos
6% 4%
Pesquisa como
19% 23% atividade de formação
técnica do pesquisador
Pesquisa para a
formação ampla do
universitário
12%
54% Pesquisa como
atividade de formação
técnica do pesquisador
e formação ampla do
universitário
19% outros
63%
Gráfico 1: Distribuição dos professores nas categorias Gráfico 2: Distribuição dos alunos nas categorias
Formação Técnica do Pesquisador e Formação Ampla Formação Técnica do Pesquisador e Formação Ampla
do Universitário do Universitário
A subcategoria Integração entre Pesquisadores foi a segunda mais frequente (28% dos
professores e 21% dos alunos). Humboldt em 1810 já citava os benefícios da colaboração
9402
espontânea entre pesquisadores e alunos. Para ele os mais jovens se beneficiam das
experiências dos mais velhos e os mais velhos da criatividade e espontaneidade dos mais
jovens (HUMBOLDT, 2003). Segundo os respondentes, esse contato é viabilizado nos
encontros com os professores, na convivência nos laboratórios, nas reuniões dos grupos de
pesquisa e na participação em Seminários, Encontros e Congressos:
Outro dado que merece destaque é a percepção dos alunos quanto à contribuição da
Iniciação Científica para o desenvolvimento da autonomia. 14% dos alunos e 17% dos
professores apontaram que através da Iniciação Científica o estudante de graduação se torna
sujeito de sua aprendizagem.
A subcategoria Experiência Acadêmica, citada por 14% dos alunos, indicou que um
dos benefícios da participação em atividade de Iniciação Científica foi a possibilidade de
participar mais ativamente da vida universitária, bem evidenciada por uma aluna da área de
Humanas: “Tive a oportunidade de ter um maior contato com a Universidade, uma maior
vivência nesse ambiente acho que isso foi o melhor que a Iniciação Científica me
proporcionou” (A2HF1).
Considerações Finais
pesquisador preparado para seguir a carreira acadêmica. Para assumir o seu papel pedagógico,
é preciso que ele assuma este papel de formador, não só de pesquisadores, mas de cidadãos,
responsáveis, críticos e autônomos e ativos no processo de conhecimento, criando meios para
que esta atividade não se limite apenas aos alunos mais promissores.
No entanto os resultados desta pesquisa evidenciaram que apesar do PIBIC pretender
apenas alcançar a formação técnica do pesquisador professores e alunos reconhecem que esta
atividade adquire alcances pedagógicos que vão além da formação do pesquisador
especializado, contribuindo assim para a formação intelectual e moral dos alunos, conforme
propôs Humboldt (2003), quando da fundação da Universidade de Berlim.
REFERÊNCIAS
YAMANE, Taro. Statistics: an introductory analysis. 2ª ed. New York: Harper and Row.
1967.