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Olhar de Professor

ISSN: 1518-5648
olhardeprofessor@uepg.br
Departamento de Métodos e Técnicas de
Ensino
Brasil

Ajub Bridi, Jamile Cristina


Atividade de Pesquisa: contribuições da iniciação científica na formação geral do estudante
universitário
Olhar de Professor, vol. 13, núm. 2, 2010, pp. 349-360
Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino
Paraná, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=68420656010

Como citar este artigo


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Doi: 10.5212/OlharProfr.v.13i2.0010

Atividade de Pesquisa: contribuições da iniciação científica na formação


geral do estudante universitário

Research Activity: contributions of scientific initiation in general education


of college student
Jamile Cristina Ajub Bridi*

Resumo: O presente artigo busca responder e especular se a Iniciação Científica pode adquirir alcances
pedagógicos que vão para além da formação do pesquisador, contribuindo para a formação intelectual e
moral dos alunos conforme propôs Humboldt quando da fundação da Universidade de Berlim no séc.
XIX. Por meios de dados quantitativos e qualitativos são analisados, principalmente, quais as contribui-
ções da atividade de pesquisa na graduação, percebidos por alunos e professores inseridos em Progra-
mas de Iniciação Científica de uma Universidade Publica do Estado de São Paulo.

Palvras chave: Universidade, pesquisa, graduação, currículo.

Abstract: This article aims at answering and speculating whether the Introduction to Research
Programme can contribute to the intellectual and moral development of students as proposed by
Humboldt’s at the foundation of Berlin University in the 19th century. The analysis of quantitative and
qualitative data highlighted the contributions of research activities perceived by undergraduate students
and professors who took part of Introduction to Research Programmes of a Public University in the state
of Sao Paulo.

Keywords: University, research, undergraduate courses, curriculum.

Introdução

A ênfase da pesquisa na graduação mento do lugar onde a pesquisa livre acon-


inicia-se com Humboldt, responsável pela tece para a “busca da verdade sem constran-
criação de um modelo emblemático de uni- gimento” e no fortalecimento dos trabalhos
versidade voltada para a pesquisa, ressaltan- científicos e de pesquisa através dos princí-
do aspectos totalmente relevantes nos dias pios básicos da unidade do saber e da uni-
atuais, como a interdisciplinaridade, a au- dade da pesquisa e do ensino. Da mesma
tonomia acadêmica e científica, a formação forma, no início do século XX, pensando na
pela pesquisa e a indissociabilidade do ensi- formação do homem completo, ou seja, na
no e da pesquisa. formação integral, Jaspers defendia que a in-
vestigação é o principal objetivo da universi-
Para Humboldt (2003, p 30), a ideia
dade (DRÉZE; DEBELLE, 1983).
da Universidade está pautada no estabeleci-

*
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa em
Educação Superior (GEPES), também da Unicamp. E-mail: jamile.bridi@ig.com.br

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Atividade de Pesquisa: contribuições da Iniciação Científica na formação geral do estudante universitário

A formação científica no ensino supe- professor e o aluno em pesquisadores espe-


rior nunca deixou de ser uma questão defen- cializados, como se fossem membros de uma
dida por estudiosos da universidade e essa equipe de um instituto de pesquisa, mas de
defesa tem sido retomada por autores brasi- praticar a docência e a aprendizagem me-
leiros como Severino (2009), para quem, na diante uma postura investigativa”.
Universidade, a docência e a aprendizagem Defender a pesquisa como princípio
só serão significativas se forem sustentadas pedagógico e oportunizá-la aos estudantes
por uma atividade permanente de construção de graduação é fazer com que esta adquira a
do conhecimento. função formativa que os universitários têm o
A importância da atividade de pesqui- direito de vivenciar (ADES, 1981).
sa desinteressada e da formação científica A importância da iniciação à pesquisa
para os estudantes de graduação vem sen- dos estudantes de graduação é vista por Ba-
do reassumida pelas boas universidades do zin (1983) e Almeida (1995) como o cami-
mundo todo e também pelas brasileiras, ao nho para a autonomia intelectual. Por meio
contrário das políticas neoliberais que pre- dela o estudante passa a ter a possibilidade
gam a relação da pesquisa com o mercado. real de exercer sua criatividade, de construir
Esse entendimento deixa claro que a um raciocínio crítico, de articular os vários
função da universidade vai além da forma- conhecimentos, de se constituir em um dos
ção profissional técnica e especializada e caminhos para a execução de projetos inter-
tem o compromisso com o desenvolvimen- disciplinares que envolvam também a supe-
to do espírito investigativo, com a produção ração da dicotomia teoria e prática (BARINI,
de novos conhecimentos. Desse modo, já é 1998).
consensual a importância de um projeto pe- Snyders (1995), ao buscar quais se-
dagógico que atribua um papel relevante à riam os momentos da vida acadêmica que
formação científica para a concretização de proporcionam aos estudantes “alegrias” e
uma universidade crítica e criativa (VON “não alegrias”, verificou que pela pesquisa
ZUBEN, 1995). os jovens conhecem a alegria da investiga-
A atividade de iniciação científica (IC) ção, das rupturas, das continuidades e da
é, na estrutura curricular, o aspecto pedagó- elaboração de novos conhecimentos. Para
gico mais forte para que o método científico o autor, a pesquisa se constitui em uma das
seja compreendido como uma formação que experiências vividas na universidade que le-
vai além de um conjunto de técnicas para vam ao amadurecimento, ao desenvolvimen-
organizar, tratar ou analisar dados. Calazans to pessoal, por favorecer sua participação
(1999) também menciona a importância de ativa na construção e produção do conheci-
se juntar esforços para o desenvolvimento mento.
de habilidades e capacidades que, a partir da Este estudo apresenta os resultados de
apreensão de teorias, metodologias, atitudes uma pesquisa realizada nos anos de 2008 e
e compromissos dos aprendizes, contribu- 2009, com professores e estudantes de gra-
am para a formação do pensar científico de duação, de diferentes cursos, da Universida-
alunos de graduação. É nesse sentido que a de Estadual de Campinas – Unicamp, envol-
atividade de pesquisa adquire um papel de vidos com a atividade de iniciação científica.
prática pedagógica, como entende Severino
(2009, p. 6): “não se trata de transformar o

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A iniciação científica e a formação do orientadores e quatro alunos de iniciação


estudante científica, um de cada Área de Ensino e
Pesquisa da Unicamp (Ciências Exatas,
A escolha da Unicamp se deu pelo Tecnológicas e da Terra, Ciências Biológicas
fato de essa instituição ser reconhecida no e Profissões da Saúde, Ciências Humanas e
Brasil como um excelente centro de inves- Artes). Foram escolhidos para as entrevistas
tigação científica, preocupada com uma só- professores com grande representação
lida formação global e por sua tradição em nos programas de iniciação científica,
pesquisa. Os sujeitos foram professores e identificados pelo número de alunos que
alunos das quatro áreas de ensino e pesquisa orientaram no período de agosto de 2008 a
da Unicamp - Área de Artes, Área de Ciên- julho de 2009.
cias Biológicas e Profissões da Saúde, Área As respostas dos questionários foram
de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra, analisadas segundo a metodologia da análi-
Área de Ciências Humanas, perfazendo um se de conteúdo, utilizando-se Bardin (2002)
total de 959 estudantes e 605 professores. como referência principal. Os resultados al-
O instrumento utilizado foi um ques- cançados estão apresentados em três grandes
tionário para ser respondido on line, aplica- blocos. O primeiro busca compreender os
do em setembro de 2009. Elaboramos um motivos que levaram os alunos a se inseri-
questionário para os alunos e outro para rem em programas de Iniciação Científica.
os professores. Obtivemos um total de 212 O segundo apresenta a caracterização das
respostas de alunos e 188 de professores. A orientações prestadas pelos professores e o
estimativa de erro para cada amostra foi de terceiro, os benefícios da atividade de Ini-
aproximadamente 6%, calculada através da ciação Científica na opinião tanto dos alunos
fórmula proposta por Yamane (1967 p. 886) como dos professores.
para cálculos estatísticos simplificados. Classificamos os motivos que leva-
Os dois questionários seguiram uma ram os alunos a se inserirem em programas
mesma estrutura e foram divididos em duas de Iniciação Científica em duas categorias,
partes. A primeira parte buscou conhecer o previamente estabelecidas através da funda-
perfil acadêmico do respondente, e a segunda mentação teórica: Pesquisa como Atividade
levantou os aspectos que, na opinião do res- de Formação Técnica do Pesquisador e Pes-
pondente, caracterizavam a pesquisa desen- quisa para Formação Ampla do Universitá-
volvida por ele no projeto de iniciação cien- rio. As respostas que não se enquadravam
tífica. As questões são tanto abertas como nessas categorias foram classificadas na ca-
fechadas, conforme seja a especificidade do tegoria Outras.
dado a ser coletado. As questões fechadas
foram utilizadas apenas quando os dados
se referiam a aspectos muito determinados, Pesquisa como Atividade de Formação
como sexo, área de atuação na Unicamp etc. Técnica do Pesquisador
As questões abertas foram utilizadas quando
se buscava a expressão da opinião dos sujei- Para 62% dos professores, conforme
tos sobre o item. mostra a tabela 1, a Pesquisa como Ativida-
Além dos questionários foi feita de de Formação Técnica do Pesquisador é a
uma entrevista com quatro professores razão da procura dos estudantes pela inicia-

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ção científica. A mesma alta porcentagem foi se referiram à categoria Pesquisa como Ati-
encontrada nas respostas dos alunos e 63% vidade de Formação Técnica do Pesquisa-
confirmaram que procuram a iniciação cien- dor, contrariando nossas suposições iniciais
tífica como Atividade de Formação Técnica de que essa área tenderia para uma posição
do Pesquisador. menos técnica e mais humanista.
Dentre as áreas da Unicamp, os pro-
fessores da área de Artes foram os que mais

Tabela 1: Categoria Pesquisa como Atividade de Formação Técnica do


Pesquisador

Áreas Professores% Alunos%

Área de Artes 80 60
Área de Ciências Biológicas e Profissões da Saúde 70 62
Área de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra 56 61
Área de Ciências Humanas 52 56
Total 62 63

Trabalhando os dados pela metodo- subcategoria com quase a mesma porcenta-


logia da análise de conteúdo, tivemos cin- gem de respostas entre professores e alunos.
co subcategorias para a categoria Pesquisa Os respondentes que a citaram acreditam que
como Atividade de Formação Técnica do a iniciação científica oferece a possibilidade
Pesquisador. Entender a pesquisa como de aprofundamento teórico em um tema de
atividade de formação técnica engloba en- interesse. Também foram apontados a pre-
tendê-la como “aquisição de conhecimento tensão dos alunos de receberem Treinamento
de metodologia científica”, “conhecimento Prático na questão da pesquisa e o objetivo
de um tema específico”, “preparação para de aprimorarem o Currículum Vitae, visando
a pós-graduação”, “treinamento prático” e a uma Empregabilidade futura.
“empregabilidade”. A busca pela atividade de iniciação
É interessante notar que a subcate- científica influenciada pela possibilidade de
goria Aquisição de Conhecimento de Me- uma empregabilidade sugere uma procura
todologia Científica apareceu com maior por uma formação profissional. É interes-
frequência nas respostas dos alunos (33%), sante que essa subcategoria tenha sido cita-
apontando um interesse pela aquisição de da com maior frequência pelos professores
conhecimento de métodos e técnicas de pes- (15%) do que pelos alunos (5%). Essa ocor-
quisas. A subcategoria Preparação para a rência pode significar que os professores
Pós-Graduação, a qual se refere ao fato de acreditam estar o aluno motivado a realizar
os alunos buscarem a iniciação científica iniciação científica para adquirir uma melhor
para se prepararem para uma futura carreira formação profissional, o que lhe dá também,
acadêmica, foi mais citada por professores uma melhor competitividade.
(17%) do que pelos próprios estudantes. Co-
nhecimento de um Tema Específico foi uma

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Tabela 2: Subcategorias da Categoria Pesquisa como Atividade de Formação do


Pesquisador

Subcategorias professores % alunos %


Aquisição de Conhecimento de Metodologia Científica 25 33
Conhecimento de Tema Específico 16 15
Preparação para a Pós-Graduação 17 10
Empregabilidade 15 5
Treinamento Prático 2 3

Pesquisa para Formação Ampla do


Universitário

Esta segunda grande categoria formu- percebem a busca da iniciação científica para
lada para descrever as razões que levam os uma formação ampla. Isso pode indicar que,
alunos a se inserirem em Programas de ini- para esses professores, a pesquisa tem uma
ciação científica foi citada por 24% dos pro- relação mais forte com técnica do que com
fessores e 28% dos alunos (tabela 3). formação.
Os respondentes da área de Artes Outro aspecto a se considerar é que
foram os que mais a citaram, seguidos, apesar de uma porcentagem alta de alunos
surpreendentemente, pelos alunos da área (60%) e de professores (80%) da área de
de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Artes ressaltarem aspectos relacionados à
Terra. Nossa suposição era a de que esses formação técnica, tal área foi a que apresen-
alunos teriam uma visão mais tecnicista da tou porcentagens mais altas para a categoria
iniciação científica, como os respondentes formação ampla (30% dos alunos; 40% dos
da área de Ciências Biológicas e Profissões professores), o que indica que os sujeitos
da Saúde, que menos a citaram. Outro dado dessa área são os que mais atribuem como
que nos surpreendeu foi que apenas 18% dos motivo para ambos os aspectos ingressarem
professores da área de Ciências Humanas na atividade de iniciação científica (tabela 3).

Tabela 3: Categoria Pesquisa para Formação Ampla do Universitário

Áreas professores% alunos%


Área de Artes 40 30
Área de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra 28 35
Área de Ciências Humanas 18 24
Área de Ciências Biológicas e Profissões da Saúde 19 16
Total 24 28

A categoria Outras foi apontada por nidade da ajuda financeira obtida em forma
um número alto de respondentes (35%), sen- das Bolsas de Pesquisa proporcionadas pe-
do que o aspecto mais abordado foi a oportu- los Programas de Iniciação Científica. Esse

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dado confirma a avaliação do Programa feita iniciação científica, analisamos como foi a
por Aragón e Velloso (2000), que verifica- orientação prestada. Para a análise dessa par-
ram que mais de 25% dos alunos procuram te elaboramos previamente duas categorias:
a iniciação científica motivados pela oportu- Orientação Técnica e Orientação Formati-
nidade de receberem ajuda financeira para va. Classificamos na categoria Orientação
complementação da renda. Técnica todas as respostas que citavam ser a
Um dado extremamente interessante orientação direcionada para o aprimoramen-
foi o baixo percentual de estudantes (9%) da to das técnicas de pesquisa. Na categoria
área de Biologia que apontaram a necessida- Orientação Formativa foram computadas as
de de cumprir créditos do curso como o obje- citações que indicavam uma metodologia de
tivo de ingressar nos programas de Iniciação orientação direcionada para uma formação
Científica. O currículo do curso de Biologia ampla do aluno. As respostas que não se en-
há muito tempo introduziu a atividade de quadraram nessas categorias foram classifi-
iniciação científica como parte dos créditos cadas na categoria Outros.
obrigatórios para os alunos.
O projeto pedagógico do curso de Ci-
ências Biológicas busca garantir que todos Orientação Técnica
os alunos vivenciem a pesquisa científica e
solicita que os alunos de bacharelado cum- A categoria Orientação Técnica foi
pram quatro créditos de Iniciação Científica citada por 53% dos alunos e 57% dos pro-
I e quatro créditos de Iniciação Científica II, fessores, percentual esse que indica que as
atividade que pode ser realizada com víncu- orientações estão em acordo com os objeti-
lo a algum programa de iniciação científica, vos previstos pelos Programas do PIBIC1 e
com ou sem auxílio da bolsa, ou diretamente do SAE2.O objetivo principal dos programas
com o professor. é o de garantir a preparação do futuro pes-
Esse dado demonstra uma proximida- quisador. As orientações estão também em
de com a proposta curricular da Universida- acordo com os propósitos que levam os pró-
de Harvard (HARVARD, 2004), que possi- prios alunos a se inserirem nessa atividade,
bilita aos jovens participarem do processo de como demonstrado pelos dados acima.
pesquisa junto a professores ou assistentes Para essa categoria, foram três as sub-
de pesquisa, contabilizando créditos. categorias apontadas pelos alunos e profes-
Entendidos os motivos que levavam sores, sendo bastante próximas as porcenta-
os alunos a participarem de atividades de gens de alunos e professores que as citaram.

Tabela 4 : Subcategorias da Categoria Orientação Técnica

Subcategorias professores% alunos%


Aquisição do Conhecimento de Metodologia Científica 39 37
Direcionamento para Conhecimentos Específicos 16 15
Treinamento Prático 2 1

1
PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica
2
SAE – Sistema de Apoio ao Estudante

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A alta porcentagem da subcatego- porém são orientados por professores (47%)


ria indica que os professores garantem, nas que apresentam uma preocupação também
orientações, um espaço para a discussão e o com a formação discente ampla. Proporcio-
aprofundamento da metodologia científica. nando-lhes momentos de discussões, leituras
críticas, interação com o grupo de pesquisa e
com outros pesquisadores, esses professores
Orientação Formativa promovem o desenvolvimento autônomo e
responsável dos alunos. Podemos dizer que,
nesse tipo de orientação, o professor assume
A categoria Orientação Formativa
a sua função pedagógica.
foi mencionada por 35% alunos e 47% dos
professores. Comparando esses dados com Surgiram nas respostas de professores
os obtidos no levantamento dos motivos que e alunos seis subcategorias. As subcategorias
levam os alunos a se inserirem em iniciação Direcionamento para Conhecimentos Gerais
científica, podemos concluir que os alunos e Desenvolvimento da Autonomia foram as
procuram para obter uma formação técnica, que apareceram com maior freqüência.

Tabela 5: Subcategorias da Categoria Orientação Formativa

Subcategorias professores% alunos%


Direcionamento para Conhecimentos Gerais 16 19
Desenvolvimento da Autonomia 18 8
Integração entre Pesquisadores 12 3
Desenvolvimento do Senso-crítico 5 1
Desenvolvimento de Comportamento Ético 2 4
Desenvolvimento da Responsabilidade 1 1

A subcategoria mais citada foi a iniciativas eram minhas e ele as coor-


Orientação para Desenvolvimento da Auto- denava, indicando onde e como poderia
nomia do Aluno. O fato de os professores melhorar, sugerindo outras leituras, mas
citarem com maior frequência essa subca- sempre esperando que eu buscasse meus
objetivos, que também foram traçados
tegoria pode indicar que os alunos não re-
por mim. Principalmente que caminhos a
conhecem a intencionalidade dos professo- pesquisa estava tomando e sobre a síntese
res em planejar atividades para que eles se em relatórios, como eu deveria proceder,
tornem autônomos e ativos no processo do o que poderia colocar a mais nos relató-
conhecimento. rios, retirar, em quais partes da pesquisa
Um aluno escreveu da seguinte ma- deveria me aprofundar. Tudo isso fez com
neira a sua percepção da orientação para a que eu me tornasse mais autônoma. (alu-
subcategoria Desenvolvimento da Autono- na da área de Humanas).
mia:
Dos professores, 16% apontaram ter
Foi realmente uma orientação, meu pro- planejado uma orientação visando ao Dire-
fessor orientador não postulou nada cionamento para Conhecimentos Gerais por
em meu projeto, desde o princípio as acreditarem que a iniciação científica tem

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essa possibilidade. Em entrevista um dos por Humboldt (2003) para a inter-relação do


professores relatou: ensino e da pesquisa.
Além disso, podemos inferir que a
Creio que o bom orientador não deve
atividade de iniciação científica na Unicamp
usar o aluno como mão de obra. O es-
pírito deve ser de colaboração e com- tem um caráter de formação e não de pres-
prometimento com a formação do aluno. tação de serviços, a qual poderia ser moti-
Incentivo a leitura de artigos variados, a vada pela Lei de Inovação Tecnológica (nº
participação em Congressos para que o 10.973). Essa lei incentiva a pesquisa cientí-
aluno veja e conheça tudo o que se está fica na universidade através da construção de
produzindo, acho que o aluno deve conhe- parcerias estratégicas entre as universidades,
cer o todo para que tenha sua formação institutos tecnológicos e empresas, com a fi-
ampliada. nalidade explícita de promover o desenvol-
vimento do país.
Para completar nosso entendimento
sobre a orientação na iniciação científica, Por fim, procuramos levantar as res-
perguntamos aos professores quais eram postas dos alunos no que diz respeito ao pa-
as características das pesquisas realiza- pel da iniciação científica na sua formação.
das nas atividades de iniciação científica. Para a classificação das respostas utilizamos
Chamou-nos a atenção o informe da realiza- as mesmas categorias estabelecidas para os
ção de pesquisas interdisciplinares. Tal dado motivos que levavam os alunos a se interes-
é relevante e aponta para um dos princípios sarem pela atividade de iniciação científica.
postulados por Humboldt: o da interdisci- Nossa intenção com isso foi conhecer qual a
plinaridade, atingida principalmente pela relação entre os motivos para a busca da IC
atividade de pesquisa científica. Apenas os e a avaliação dos alunos sobre a real contri-
professores de Artes (25%) não apontaram a buição dessa atividade. Sendo assim, as ca-
realização de pesquisa interdisciplinar. tegorias de análise foram: Formação Ampla
Outra característica apontada por 95% do Universitário, Formação Técnica do Pes-
dos docentes é a de que a pesquisa realiza- quisador e Outras.
da na iniciação científica é desinteressada e A categoria Formação Técnica do
não vinculada a nenhuma instituição externa Pesquisador, seguindo a tendência dos mo-
à universidade. Isso demonstra que a quase tivos que levaram os alunos à atividade, apa-
totalidade das pesquisas de Iniciação Cientí- receu como benefício da iniciação científica
fica na Unicamp no ano de 2008 não adqui- nas respostas de 83% dos professores e 77%
riu a forma pragmática e utilitarista, o que dos alunos.
também se assemelha às proposições feitas

Tabela 6: Categoria Formação Técnica do Pesquisador como benefício da IC

Áreas Professores% Alunos%


Área de Artes 100 60
Área de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra 87 82
Área de Ciências Humanas 81 76
Área de Ciências Biológicas e Profissões da Saúde 70 77
Total 83 77

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A mesma tendência dos dados apre- o aluno que realiza atividade de iniciação
sentados como motivo dos alunos para o científica adquire conhecimentos sólidos de
ingresso na atividade de pesquisa registrou- metodologia científica.
se no que eles entendiam como benefício: Percebemos que o Treinamento Práti-
Aquisição do Conhecimento da Metodologia co apareceu com maior ênfase como contri-
(59% dos professores; 49% dos alunos). O buição do que como objetivo.
aparecimento dessa subcategoria indica que

Tabela 7: Benefício da Iniciação Científica – Categoria Formação Técnica do


Pesquisador

Subcategorias professores % alunos%


Aquisição de Conhecimento de Metodologia Científica 59 49
Conhecimento de um Tema Específico 18 20
Treinamento Prático 16 11
Preparação para a Pós-Graduação 13 17
Empregabilidade 4 9

Apesar de ser expressiva a porcenta- cebem, ao longo do desenvolvimento da IC,


gem do benefício como formação técnica, a que além da Formação do Pesquisador, essa
categoria Formação Ampla também foi bas- atividade também contribuiu para a Forma-
tante citada (75% dos professores; 73% dos ção Ampla do Universitário.
alunos) como benefício da iniciação científi- A remuneração citada como motivo
ca. Esse resultado demonstra que os alunos para buscar a IC foi relativizada em função
não procuram inicialmente a IC para obter dos benefícios acadêmicos e profissionais
formação ampla, mas reconhecem que esse vivenciados, sendo que apenas 6% dos estu-
foi um ganho no final do programa. Tal dado dantes apontaram a bolsa de iniciação cientí-
indica que os alunos ingressam na atividade fica como o aspecto mais importante de sua
de iniciação científica para se formarem pes- participação em tal atividade.
quisadores e ao longo do desenvolvimento
A distribuição da categoria Formação
do projeto percebem que essa atividade su-
Ampla do Universitário por área demonstra
pera suas expectativas iniciais, contribuindo
que ela é muito homogênea, indicando que
também para sua formação geral.
alunos e professores reconhecem a contri-
Podemos constatar que os professores buição da iniciação científica na formação
entendem que a iniciação científica contribui global do aluno.
para os dois aspectos e que os alunos per-
Tabela 8: Categoria Formação Ampla do universitário como benefício da IC

Áreas professores% alunos%


Área de Artes 75 80
Área de Ciências Biológicas e Profissões da Saúde 77 75
Área de Ciências Humanas 78 72
Área de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra 75 74
Total 76 74

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Atividade de Pesquisa: contribuições da Iniciação Científica na formação geral do estudante universitário

As subcategorias da Formação Am- motivos dos alunos para procurarem a ativi-


pla do Universitário foram determinadas a dade.
partir das respostas dos alunos e professores. As frequências dessas subcategorias
Identificamos dez subcategorias diferentes. indicam que Aquisição de Conhecimentos
O aparecimento desse número de subcate- Amplos e Gerais, Integração entre Pesqui-
gorias evidencia que os alunos e professores sadores, Autonomia, Desenvolvimento do
reconhecem, com o desenvolvimento da ati- Pensamento Crítico foram as que mais apa-
vidade, mais aspectos relacionados à Forma- receram nas respostas da tabela a seguir.
ção Ampla do que quando apresentavam os

Tabela 9: Benefício da Iniciação Científica - Subcategorias da


Categoria Formação Ampla do Universitário

Subcategorias professores % alunos %


Aquisição de Conhecimentos Amplos e Gerais 38 51
Integração entre Pesquisadores 28 21
Autonomia 17 14
Desenvolvimento do Pensamento Crítico 16 13
Desenvolvimento da Responsabilidade Pessoal 15 7
Experiência Acadêmica 7 14
Maturidade Intelectual 12 5
Desenvolvimento da Criatividade 6 1
Acesso à Cultura Geral 2 1
Desenvolvimento de um Comportamento Ético 2 0

A subcategoria Integração entre Pes- professores apontaram que através da Inicia-


quisadores chama a atenção pela frequência ção Científica o estudante de graduação se
(28% dos professores e 21% dos alunos). torna sujeito de sua aprendizagem.
Humboldt, em 1810, já citava os benefícios A subcategoria Experiência Acadê-
da colaboração espontânea entre pesquisa- mica, citada por 14% dos alunos, indicou
dores e alunos. Para ele, os mais jovens se
que um dos benefícios da participação em
beneficiam das experiências dos mais velhos
atividade de Iniciação Científica foi a pos-
e os mais velhos, da criatividade e espon-
sibilidade de participar mais ativamente da
taneidade dos mais jovens (HUMBOLDT,
2003). Segundo os respondentes, esse conta- vida universitária, bem evidenciada por uma
to é viabilizado nos encontros com os profes- aluna da área de Humanas:
sores, na convivência nos laboratórios, nas
Tive a oportunidade de ter um maior
reuniões dos grupos de pesquisa e na partici-
contato com a Universidade, uma maior
pação em Seminários, Encontros e Congres- vivência nesse ambiente e acho que isso
sos. foi o melhor que a Iniciação Científica me
Outro dado que merece destaque é a proporcionou (aluna área de Humanas).
percepção dos alunos quanto à contribuição
da iniciação científica para o desenvolvimen-
to da autonomia: 14% dos alunos e 17% dos

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Considerações Finais Para realizar esta análise achamos


interessante compreender as concepções de
Buscando responder aos nossos ques- formação dos professores da Unicamp. Para
tionamentos iniciais, verificamos, à luz dos isso nos apoiamos em uma pesquisa que bus-
resultados alcançados, que a iniciação cien- cou verificar a perspectiva de formação ado-
tífica pode adquirir alcances pedagógicos tada pelos docentes da Unicamp: os resulta-
que vão além da formação do pesquisador dos mostraram que os professores sujeitos
especializado, contribuindo para a formação de sua pesquisa apontaram como importante
intelectual e moral dos alunos, na visão dos para o aluno de graduação um currículo com
professores e alunos. ênfase na formação básica (89%) e na forma-
ção geral (84%). Os professores da Unicamp
Os dados demonstraram que os moti-
valorizam os princípios de uma postura cien-
vos que levam os alunos a se inserirem em
tífica e investigativa que se refere à capaci-
atividade de iniciação científica estão, na
dade de análise, autonomia, criatividade, es-
sua maioria (62% dos professores; 63% dos
pírito de pesquisa e capacidade de relacionar
alunos), relacionados à categoria Pesquisa
teoria e prática.
como Formação Técnica do Pesquisador.
Tais resultados sugerem que os objetivos que Podemos afirmar que por não existir
levam os alunos para programas de iniciação um modelo único de orientação destinado
científica estão em acordo com os propostos aos alunos de iniciação científica, a dire-
pelo maior programa institucional de Bolsas ção que essa orientação adquiriu depende
de iniciação científica do Brasil, o PIBIC. do entendimento do professor a respeito de
Notadamente, o PIBIC pretende contribuir seus próprios objetivos para com a iniciação
para a formação de pesquisadores e para a científica. Como os professores da Unicamp
redução do tempo de titulação de mestres e reconhecem o valor da formação básica e da
doutores. formação geral, é natural que planejem um
trabalho de orientação com essa direção.
Aos analisarmos as respostas relativas
Sendo assim, acreditamos que mais profes-
ao tipo de orientação prestada pelos profes-
sores poderiam vir a utilizar-se da atividade
sores, percebemos que eles desenvolvem,
de Iniciação Científica para propor um tra-
prioritariamente, uma Orientação Técnica,
balho pedagógico que supere a formação
isto é, privilegiam o conhecimento de me-
técnica, reconhecendo esse espaço como um
todologias científicas e técnicas de labora-
espaço de formação que se agrega ao currí-
tórios, conforme relatado por 53% dos alu-
culo formal.
nos e 57% dos professores. No entanto, uma
Orientação Formativa foi mencionada por Os dados apresentados nos permitem
46% dos professores. Para esses professores, considerar que a iniciação científica pode ser
tal orientação privilegia o direcionamento de espaço onde se concretizem novas formas
conhecimentos gerais, desenvolve a capaci- curriculares, sem a rigidez da disciplinariza-
dade argumentativa, o raciocínio crítico, um ção, contribuindo assim para a formação do
comportamento ético e o desenvolvimento aluno.
da autonomia do estudante. Este dado é im- Quanto às contribuições da iniciação
portante, pois revela que quase a metade dos científica para a formação do universitário,
professores da Unicamp que orientam ati- os dados sugerem que a maioria dos alunos
vidade de iniciação científica tem a preocu- (54%) e dos professores (63%) acredita que
pação de não apenas formar para a pesquisa ela contribui tanto para a Formação Especí-
com visão técnica. fica de Pesquisador como para a Formação

Olhar de professor, Ponta Grossa, 13(2): 349-360, 2010.


Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor> 359
Atividade de Pesquisa: contribuições da Iniciação Científica na formação geral do estudante universitário

Ampla e cultural do universitário. Os dados CALAZANS, Julieta (Org.). Iniciação cien-


apontam que os alunos perceberam, ao longo tífica: construindo o pensamento crítico. São
do desenvolvimento do projeto de iniciação Paulo: Cortez, 1999.
científica, que as contribuições dessa ativi-
CASTANHO, Sérgio. Ensino com pesquisa
dade vão além do desenvolvimento do pes-
na graduação. In: VEIGA, Ilma Passos A.
quisador especializado e colaboram para o
NAVES, Marisa Lomônaco de Paula (Org.).
desenvolvimento intelectual, cultural e mo-
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360 Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>

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