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Introdução
O presente trabalho aborda uma prática educativa realizada com jovens do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio(Pibic-
EM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De acordo com o a Pró
Reitoria de Pesquisa (PRP) da Unicamp, o programa tem como objetivo despertar o
interesse acadêmico em estudantes das escolas públicas dos municípios da Região
Metropolitana de Campinas (RMC), a partir da sua aproximação com a universidade,
pautada na execução de pesquisas acadêmicas pelos estudantes (de Ensino Médio)
pesquisadores sob a supervisão dos professores e estudantes (graduação e pós-
graduação) da Universidade.
O projeto em específico, a qual este trabalho se refere, intitula-se “Viver a
cidade: A construção do raciocínio geográfico a partir das experiências urbanas de
jovens do Ensino Médio”, e está vinculado ao laboratório de educação do Instituto de
Geociências (IG) da UNICAMP, Ateliê de Pesquisas e Práticas em Ensino de
Geografia (APEGEO). A proposta do presente projeto visa desenvolver, junto aos
estudantes do Ensino Médio, a prática científica na perspectiva das Ciências
Humanas, com destaque para a ciência geográfica e sua contribuição para a
compreensão da realidade socioespacial cotidiana das juventudes na RMC.
A produção de mundo(s)
A proposta cartográfica dentro das pesquisas de Pibic-EM vinculadas ao
laboratório APEGEO (Ateliê de Pesquisas e Práticas em Ensino de Geografia),
apresenta-se como uma das etapas da condução metodológica do PBL, mais
especificamente no tratamento e análise de dados. Em nossa proposta, sua utilização
é sempre condicionada como um meio de análise, não como um produto final,
auxiliando a visualização das informações e dados brutos de maneira espacializada.
Em outras palavras, os mapas desempenham uma função de ferramenta auxiliadora
na análise do fenômeno (ASCENSÃO E VALADÃO, 2014), possibilitando a
visualização dos elementos de modo sistematizado, ordenado e hierarquizado. Assim
como Harley e Woodward (1987), acreditamos que as representações “facilitam a
compreensão espacial das coisas, conceitos, condições e processos ou eventos do
mundo humano”.
No papel de orientação, direcionando pesquisas desenvolvidas por não
geógrafos (formados ou em formação) ou profissionais de quaisquer outras áreas
ligadas à cartografia, tornou-se primordial a ação de educar cartograficamente antes
mesmo de confeccionar os mapas. Para Katuta (2002), há uma diferença entre um
leitor e um decodificador de mapas. O leitor será capaz de estabelecer um raciocínio
para responder determinados questionamentos, enquanto o decodificador se
assemelha ao analfabeto funcional, somente decodificando os símbolos sem a
capacidade de estabelecer raciocínios e compreender a mensagem.
De maneira a complementar o letramento cartográfico realizado pela educação
básica com alunas, foram planejadas atividades com finalidade de trabalhar a leitura,
pautada nos três níveis de Simielli (1999), e na análise, utilizando a proposta da
“análise do fenômeno” de Ascensão e Valadão (2014). Para tal, houve a segmentação
da etapa cartográfica em dois períodos: 1. Educação Cartográfica e 2. Elaboração de
mapas.
1. Educação Cartográfica
4 A exemplo da escala, utilização de título, rosa dos ventos, orientação do mapa, demonstração da fonte
originária dos dados, entre outros aspectos.
5 O site realiza a comparação das distorções no tamanho dos continentes presentes na projeção
6 No edital 20/21, pesquisando gravidez na adolescência, foi utilizada os dados a plataforma SINASC
(Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos), enquanto no edital 21/22, pesquisando violência
Excel com o objetivo de ajusta-los ao formato compatível ao software QGIS7; 2.
Explicação sobre o funcionamento do software QGIS, bem como a demonstração do
processo a ser executado, para posterior execução das projeções pelas estudantes.
Como produto cartográfico, foram elaborados mapas referentes à Campinas
apresentando seu limite municipal a regionalização adotada pela Secretaria de Saúde
Municipal, renda per capita e IDH. Também foram elaborados mapas sobre as
problemáticas dos projetos, ou seja, no edital 20/21, mapas retratando dados
envolvendo gravidez na adolescência no município de Campinas e, no edital 21/22,
mapas sobre a violência contra mulher no município de Campinas. A seguir alguns
mapas confeccionados pelas alunas pesquisadoras:
contra mulher, recorreu-se aos dados da plataforma SISNOV (Sistema de Notificação de Violência em
Campinas).
7 Os dados trabalhados em formatos de planilha foram salvos em formato CSV (Valores Separados por
Vírgula).
Figura 2 – Mapa elaborado pelas alunas no projeto 21/22.
Considerações Finais
Utilizamos a metodologia ativa PBL para centralizar as alunas pesquisadoras
no processo de aprendizado e investigação, possibilitando a construção e exploração
de problemáticas ligadas à suas próprias vivências, como foi o caso das pesquisas
citadas abordando a questão do ser “mulher” no espaço campineiro, gerando
engajamento e interesse nas atividades realizadas.
O método cartográfico surgiu como uma poderosa ferramenta complementar
de análise, auxiliando a compreensão espacial do fenômeno estudado. Loch (2006,
p.26), apresenta que “a função de um mapa quando disponível ao público é a de
comunicar o conhecimento de poucos para muitos, por conseguinte ele deve ser
elaborado de forma a realmente comunicar". Tal consideração se potencializa ao
tratar-se de pesquisas de PIBIC-EM, onde os executores da pesquisa são estudantes
da educação básica.
Neste sentido, os mapas não são um produto final das pesquisas, mas um meio
de análise para auxiliar na prospecção de possibilidades e (talvez) respostas para
questões levantadas dentro da metodologia principal, o PBL. Além do mais, o
processo de Educação Cartográfica, tramita em comitância a proposta de participação
ativa presente no PBL, colocando seus propositores no centro da ação de aprendizado
e reflexão crítica (SIMIELLI, 1999).
Sobre a realização do projeto, destacamos a vivência do período pandêmico e
seus impactos. Desde o primeiro edital (21/22), as atividades remotas tornaram o
aparato técnico e pessoal das alunas e monitores um dos condicionantes para a plena
execução da pesquisa.
Por fim, como já ressaltado, o presente artigo apresenta-se como uma das
etapas metodológicas do projeto maior8 de PIBIC-EM, abordado em artigo publicado
na revista Geografia, Ensino e Pesquisa9.
Referências Bibliográficas
ANDRADE, S. C.; CORDEIRO, M. S.; FREITAS, C. R.; KOLLING, S. Currículo do
Ensino Médio: uma reflexão sobre as contribuições do Pacto Nacional pelo
Fortalecimento do Ensino Médioe do PIBIC-EM. SEMINÁRIO NACIONAL
INTERDISCIPLINAR EM EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS, v. 5, Paraná. p. 1463-
1472, 2015.
BROTTON, Jerry. Uma história do mundo em doze mapas. Tradução: Pedro Maia.
Editora Zahar. São Paulo, 2014.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 22. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.