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ASPECTOS METODOLÓGICOS DA APLICAÇÃO DE OFICINAS NO

ENSINO BÁSICO: Experiência do Projeto Campus Vivo- Pet Geografia


RAMOS, Victor Gabriel Moura 1; MELO, Aiara Miranda2; MESQUITA, Hellen dos
Prazeres2; ALVARENGA, Odaiza dos Santos; MIRANDA, Samantha Heloisa Muniz;
MATHIAS, Dener Toledo3
gabrielpssk@gmail.com

Grupo PET - Geografia, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT

Eixo Temático: Educação

Resumo

O presente trabalho discorre sobre a metodologia empregada no projeto “Campus Vivo”,


desenvolvido pelo grupo PET Geografia, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com
foco na aplicação de oficinas em quatro instituições de ensino de nível básico. Foi realizada uma
análise dos procedimentos adotados pelo grupo, com base nas observações feitas durante o
transcorrer das mesmas e verificou-se que as modificações adotadas serviram ao melhoramento
dos métodos. Os resultados demonstram que as oficinas ajudaram na evolução dos petianos,
através de constantes revisões na forma de apresentação e desenvolvimento do trabalho,
gerando resultados positivos ao grupo.

Palavras-chave: Campus Vivo; Água e Saúde; PET Geografia;

Introdução

Este trabalho avalia a metodologia empregada para a execução de oficinas com


estudantes do ensino básico, visando identificar aspectos relacionados ao aprimoramento das
técnicas ao longo do ciclo de elaboração e execução do projeto Campus Vivo, com foco no
processo de reflexão crítica nas/das ações e dos materiais didáticos utilizados durante as aulas,
bem como a adaptação progressiva destas ações e matérias didáticos a partir das sucessivas
experiências, por tanto, a partir da reflexão prática.

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1
Petiana/petiano discente do grupo PET _____ da (UFMT) Universidade Federal de Mato Grosso _____ - gabrielpssk@gmail.com
2
Petiana/petiano discente do grupo PET _____ da (UFMT) Universidade Federal de Mato Grosso _____ - petgeoufmt14@gmail.com
3
Petiano tutor do grupo PET _____ e docente do Departamento de Geografia _____ da (UFMT) Universidade Federal de Mato Grosso
_____ - denertm@yahoo.com.br

Partimos assim, da hipótese de que a repetição de uma ação, ou de um conjunto de


ações, permeadas e orientadas por uma reflexão crítica da própria ação e de seus resultados,
fornece condições para o aprimoramento da mesma. Compreende-se que um saber teórico
aplicado em uma experiência empírica, ou seja, a parte da práxis educacional (o saber fazer), se
torna conhecimento teórico e novamente saber aplicado – tal qual a práxis referida na prática
pedagógica por Pimenta (2008).

O projeto Campus Vivo é uma atividade que aproxima os petianos do processo de ensino
e aprendizagem, permite interagir com alunos do ensino médio no espaço escolar sendo,
portanto, expoente de experiência e aprimoramento dos saberes desenvolvidos durante a
formação em geografia, tanto para os discentes do curso de licenciatura quanto do bacharelado.
Este projeto tem como pressuposto instituir uma relação mais orgânica entre a Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT) e sociedade mato-grossense, sendo um canal para que a
universidade participe de forma mais efetiva da vida da cidade, e que a população se familiarize
tanto com o trabalho lá desenvolvido, quanto pelo próprio espaço e sua infraestrutura, disponíveis
ao uso da comunidade.

Por se tratar de um projeto realizado em escolas e que se dá através de aulas onde se


trabalha o cotidiano dos alunos, tendo por aporte os conteúdos e categorias de análise da
Geografia, o projeto caracteriza-se por desenvolver os três pilares fundamentais da universidade
pública e do programa PET: o ensino, a pesquisa e a extensão. No ano de 2019, que compreende
nossa análise, o tema escolhido para o projeto foi “Água e Saúde” sendo voltado ao saneamento
básico e educação ambiental. A escolha do tema foi relacionada à Assembleia Geral das Nações
Unidas de título: “Década Internacional para Ação, Água para o Desenvolvimento Sustentável -
2018-2028".

Metodologia

Para fundamentar as análises presentes neste trabalho lançamos mão da orientação


metodológica proposta por Pimenta (2008) que objetiva a análise das práticas pedagógicas
através de um sistema analítico constituído de três momentos: “Refletir na ação, sobre a ação e
sobre a reflexão na ação”. Tal metodologia tem por princípio a ideia da práxis como método, sendo
esta uma prática que, analisada criticamente, se torna teoria aplicada e retorna ao material em
forma de nova prática, em um ciclo sucessivo que se retroalimenta. Esses três momentos se
encontram engendrados na própria práxis pedagógica, sendo: refletir na ação a tomada de
consciência da própria prática pedagógica, na experiência e na constituição do saber fazer, ou nas
palavras de Pimenta (2008, p.24) é “partir da reflexão naquilo que se faz”; refletir sobre a ação é a
análise crítica da própria prática, por meio da reflexão dialética sobre os paradigmas teóricos e a
experiência empírica, a fim de aproximar o saber teórico do saber prático, bem como entender
seu lugar de protagonista, ou seja, é constituir sua identidade enquanto protagonista do processo
de ensino e aprendizagem; e refletir sobre a reflexão na ação é o momento de síntese onde as
reflexões dos momentos anteriores resultam em novos paradigmas e novas práticas.
O desenvolvimento do projeto campus vivo se deu em três etapas, a primeira de
elaboração, onde foram escolhidos o tema e consonantes conteúdos e categorias de análise da
Geografia necessárias a articulação entre o conhecimento científico e o cotidiano dos alunos, bem
como a elaboração dos materiais didáticos que envolveram a construção dos slides, a produção e
edição do curta metragem intitulado “Nossa Água” e a preparação da atividade "árvore dos
sonhos", bem como a elaboração do diário de bordo, com a finalidade de orientar a visitação dos
alunos ao campus da UFMT Cuiabá.

A segunda etapa foi a ida às escolas para a realização das aulas expositivas, a
apresentação do curta-metragem e o desenvolvimento da atividade árvore dos sonhos. Essa
etapa se deu em quatro escolas públicas: E.E. Liceu Cuiabano, E.E. Rafael Rueda; E.E. André
Luiz (Cuiabá) e E.E. Maria Leite Marcoski (Várzea Grande), entre os dias 08/10/2019 e
21/10/2019. Fato a se destacar é que durante a realização dessa etapa, entre uma visita e outra
as escolas, o material didático, com ênfase aos slides, foi sendo adaptado tanto a necessidade de
nos aproximamos do cotidiano dos alunos, haja a vista que ultilizavamos as categorias de análise
lugar e paisagem, quanto para o refinamento do trato do conteúdo e sua exposição, ou seja, a
partir da análise crítica nas/das nossas ações, compomos novas práticas ao suceder das
experiências conforme a metodologia proposta por Pimenta (2008) já referida.

Resultados e Discussão

O projeto Campus Vivo constitui um conjunto de atividades com caráter de pesquisa,


ensino e extensão promovido pelo grupo, que envolve a interação entre os membros do PET e
alunos de grupos escolares do ensino médio. Para o desenvolvimento do projeto, ocorreu a
preparação do grupo através de atividades incluídas no planejamento anual de 2019, como ciclo
de estudos, produção científica e oficina de audiovisual.

O “ciclo de estudos” constitui um conjunto de encontros entre os membros, com o objetivo


de discutir sobre determinado assunto, através de artigos, textos e/ou documentários, para
construir embasamento teórico acerca dos mesmos. A atividade de produção científica é o
momento destinado para escrita e organização dos materiais que serão utilizados no projeto, e
que posteriormente serão aplicados nas unidades escolares. A oficina de audiovisual, realizada
para o conhecimento de recursos de edição de vídeos e para elaboração do curta-metragem,
serviu para elaboração de materiais imprescindíveis ao desenvolvimento do projeto.

Os materiais desenvolvidos foram utilizados na primeira fase da oficina como recursos


didáticos para mediar o conhecimento dos alunos com o assunto abordado constituindo,
portanto, uma ferramenta de aproximação e melhor compreensão do que seria transmitido a eles.
O curta-metragem teve como enredo a poluição da água em razão de uma fábrica e, durante a
execução da oficina, o vídeo foi reproduzido para ajudar os alunos a debater e assimilar os
conceitos apresentados. Em seguida foi realizada a atividade denominada árvore dos sonhos, que
consistia em uma forma de avaliar o que os alunos assimilaram da oficina apresentada, gerando
informações para posteriormente servir de análise da mesma.

A apresentação de slides, outro material utilizado, era revisada conforme a mudança de


escola, para troca de imagens e aprimoramento, considerando o contexto que cada escola estava
inserida. No decorrer das apresentações, com a repetição e aperfeiçoamento, foi possível
observar a evolução na forma como a oficina se desenrolava. Com auxílio dos slides foram
introduzidos alguns conceitos para que os alunos pudessem discutir e melhor compreender a
atividade, tais como as categorias de “Lugar”, que expressa relações cotidianas, encarna as
experiências e aspirações das pessoas, a partir das concepções de Lana Cavalcanti (2005) e Yi-Fi
Tuan (1983), com seu conceito de Topofilia, que identifica o elo afetivo entre pessoas e o lugar ou
ambiente; acerca do conceito de “cotidiano” expusemos Milton Santos (2006), para o qual a ação
dos indivíduos parte do cotidiano; discutimos também a relação sociedade-natureza com base em
Ruy Moreira (2013) e, por fim, abordamos o ciclo hidrológico e a questão da distribuição desta à
sociedade.

Com base nos relatos dos alunos e no questionário de avaliação aplicado no final da
oficina, foi possível compreender o que eles aprenderam do conteúdo apresentado, e a
necessidade da abordagem dos conceitos de geografia de forma lúdica, para melhor assimilação
dos temas tratados. As oficinas foram muito úteis, valiosas, como atividade extra aos alunos dos
grupos escolares. Por outro lado, foi uma plataforma de aprendizagem para os membros do PET
que possibilitou a identificação e melhorias no decorrer do projeto a respeito da didática,
contribuindo com experiências valiosas a sua prática como educadores.

Considerações Finais

O projeto Campus Vivo proporcionou aos petianos o desenvolvimento de atividades a


partir da tríade universitária, assim como o exercício da prática pedagógica. A metodologia
empregada no projeto demonstra que, a partir da repetição de uma atividade, orientada por um
processo de reflexão crítica, que envolve a dialética entre as representações teóricas e a
experiência, há o aprimoramento das técnicas didáticas, tanto no trato e domínio dos conteúdos e
da temática, quanto no desempenho dos petianos, haja a vista a maior confortabilidade e
familiaridade com o espaço escolar e seu público. Apesar de ser uma metodologia relativamente
simples, se demonstra muito eficaz no desenvolvimento e aprimoramento das práticas
pedagógicas.

Referências Bibliográficas

PIMENTA, Selma Garrido. Saberes pedagógicos e atividade docente. Cortez: São Paulo. 4. Ed.
2012. p. 07-34.

CAVALCANTI, Lana de Souza. Cotidiano, Mediação Pedagógica e Formação de Conceitos: Uma


Contribuição de Vygotsky ao Ensino de Geografia. IN: Cad. Cedes, Campinas, vol. 25,n. 66, p.
185-207, maio/ago. 2005.

MACHADO, P. J de O.; TORRES, Fillipe Tamiozzo Pereira. Introdução à hidrogeografia. São


Paulo: Cengage Learning, 2012.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4. ed.2. reimpr.- São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.

MOREIRA, Ruy. Pensar e Ser em Geografia: ensaios de história, epistemologia e ontologia do


espaço geográfico. 2 ed. 1° reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2013.

__________. Geografia e Práxis: a presença do espaço na teoria e na prática geográfica.– São


Paulo: Contexto, 2012.

TUAN, Yi Fu. Topofilia. Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente.


Tradução Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1983.

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