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1° e do 2° graus
Jacy Pires dos Santos1
Introdução
1
Centro Universitário Univates, e-mail: jacypires@uol.com.br, orientadora: Dra. Marli Teresinha Quartieri.
Considerando a necessidade constante de melhorar a qualidade de ensino, desenvolvi esta
pesquisa com ideias oriundas do campo das atividades experimentais, com o intuito de
problematizar, junto aos alunos, o conceito de função. Compartilharam dessa construção, as
ideias de Lorenzato (2010), quando aponta que, no processo de ensino de Matemática, a
experimentação é um dos modos de se conseguir aprendizagem com significado, permitindo
que os alunos vivenciem aulas dinâmicas, interessantes e motivadoras. Também, Rosito
(2011), destaca que é no ato de experimentar que o aluno testa o conhecimento.
Face ao exposto, a pesquisa teve por objetivo principal construir o conceito de função do 1°
e do 2° graus, por meio de atividades experimentais com os alunos do 1° ano do Ensino
Médio. Mais, especificamente: 1) propor atividades experimentais para o ensino de funções
do 1° e do 2° graus para um grupo de alunos do 1° ano do Ensino Médio; 2) analisar os
resultados decorrentes do uso de atividades experimentais com os alunos do 1° ano do
Ensino Médio.
Para o alcance dos objetivos mencionados, a pesquisa envolveu 30 alunos com faixa etária
entre 15 e 16 anos, de uma turma de 1° ano do Ensino Médio de uma escola estadual em São
Luís – MA, de abril a junho de 2015. A investigação foi de natureza qualitativa, sendo
utilizadas estratégias vinculadas ao estudo de caso, conforme ressalta Yin (2010), em que os
registros de dados ocorrem por meio de gravações (vídeo e áudio), questionários e um diário
de campo do professor/pesquisador.
As atividades ocorreram em 15 encontros, totalizando 30 horas/aula durante as aulas
regulares de Matemática. Na intervenção os alunos participaram de diversas atividades, tais
como: práticas experimentais, elaboração de relatórios, utilização de ferramentas
tecnológicas (Planilha Excel e Software GeoGebra) na construção de tabelas e gráficos,
autoavaliação e realização de tarefas propostas visando a consolidação do conceito de
função.
Desenvolvimento das atividades
Com o objetivo de alcançar possibilidades de aprendizagem do conceito de função por meio
de práticas experimentais, dividi as ações metodológicas em quinze momentos. Nessas
etapas da investigação os educandos teriam que realizar a experimentação, coletar os dados,
explorá-los e dissertar sobre eles. Neste sentido, Rosito (2011, p. 155 – 156), destaca alguns
elementos a serem observados numa investigação científica:
- Fase inicial, preparatória, na qual os problemas são expostos e discutidos; as
hipóteses para a resolução são formuladas e os procedimentos escolhidos.
- Fase de desenvolvimento, em que os experimentos são realizados para a coleta
de dados.
- Fase de busca de referencial teórico e de reflexão, na qual se analisam e
interpretam os dados coletados.
- Fase de elaboração de um relatório, na qual se registram as atividades
desenvolvidas com análise e interpretação dos resultados obtidos.
A partir disso, organizei a prática em encontros, os quais ocorreram duas vezes por semana.
Dessa forma, o tempo concedido para a realização de cada encontro foi de 2 horas/aula,
visando a momentos de interação dos alunos com o ato de experimentar nas aulas de
Matemática. A seguir, apresento as fases desses encontros:
1° encontro: Apresentação do projeto e questionário inicial
Antes de apresentar as diferentes atividades sobre a temática aos alunos 1° ano do Ensino
Médio, socializei com o gestor da escola a proposta de intervenção pedagógica, o qual foi
receptivo às atividades que seriam desenvolvidas com os alunos. O projeto foi então
apresentado aos trinta alunos presentes, por meio de uma conversa informal, relatando o
interesse pelo tema, os objetivos da pesquisa, a metodologia e, por fim, o roteiro das
atividades, respeitando a intervenção dos alunos. Após essa etapa, um termo de
Consentimento Livre e Esclarecido foi encaminhado aos responsáveis dos alunos para que
estes participassem das atividades da proposta.
Foi aplicado um questionário, individualmente, composto por sete perguntas, a fim de saber
um pouco, sobre o perfil dos alunos dessa turma como, idade, sexo, rendimento na disciplina
Matemática e ideias prévias em relação ao estudo de função. Portanto, os dados coletados e
analisados nesta pesquisa serão decorrentes da categorização das respostas apontadas pela
turma. A esse respeito, (MENDES, 2009, p. 176) coloca que:
Para saber o que os alunos pensam e sentem em relação à Matemática e à
aprendizagem da disciplina, o professor deve lhes fazer perguntas adequadas e
analisar as respostas. Por essa razão, o uso de questionários abertos e entrevistas,
individuais ou em pequenos grupos, pode revelar-se uma prática de grande
importância no domínio da avaliação.
O momento seguinte tratou da organização das equipes. Por livre escolha, constituíram os
grupos para desenvolverem a prática, que teve por objetivos: vivenciar as etapas da
experimentação, coletar dados, apurar os resultados, construir o modelo matemático da
função do 1° grau e demonstrar graficamente os resultados coletados na experiência. Além
disso, receberam os procedimentos impressos: 1) Um aluno abandona a esfera de aço do
topo do tubo de plástico. 2) Com o ímã cilíndrico de neodímio, um aluno conduz a esfera da
base até uma altura de 100 centímetros. 3) Um aluno fará a cronometragem do tempo de
deslocamento da esfera ao longo do tubo plástico, comunicando com o outro colega o
momento em que o objeto passará pelos marcadores indicados na régua do equipamento. 4)
Cada aluno deverá realizar o experimento uma vez, podendo ser repetido, caso haja
necessidade. 5) De posse dos tempos t (segundos) e posições x (centímetros),
correspondentes, um quadro com todos os dados do experimento será elaborado. 6)
Construção do modelo matemático e do gráfico da função. 7) Elaboração do relatório (título,
objetivos, procedimentos, tratamento de dados e conclusão).
Uma vez familiarizados com as instruções da prática, os grupos iniciaram a dinâmica de
atividades em que um aluno abandonava a esfera num tubo de plástico contendo álcool em
gel. Outro estudante realizou a ação de conduzir a mesma esfera até uma altura de 100
centímetros utilizando para tanto um ímã cilíndrico de neodímio. A esfera ao ser abandonada
por outro colega no tubo de plástico, era auxiliado por mais dois integrantes do grupo, um
cronometrista e um redator. Assim, coube ao cronometrista ditar os tempos em que o objeto
passava pelas posições indicadas na régua para quem fazia os registros nas marcações: 0 cm,
20 cm, 40 cm, 60 cm, 80 cm e 100 cm.
Durante a coleta de dados, os alunos perceberam que o fenômeno físico refletia as
características do Movimento Retilíneo Uniforme (MRU), o qual Gaspar (2011, p. 57 – 58)
faz referência:
É o movimento mais simples que pode existir, não há diferença entre velocidade
média e instantânea, não existe aceleração e a única grandeza que varia com o
tempo é a posição. Na função x x0 vt a posição x (variável dependente) do
ponto material para cada instante t (variável independente). Os termos v, x0 e t
como constantes em que x0 é a posição inicial de medida no instante t 0 a partir
da origem 0, sendo o módulo da velocidade (v) do ponto material é igual ao
módulo de sua velocidade média (vm) em qualquer intervalo do tempo, como
x x0
expressa pelo modelo vm .
t t0
Para referendar a atividade, quando indagados como proceder para unificar os instantes em
que a esfera passou pelos marcos indicados, os alunos tiveram dificuldades em apontar a
utilização da média aritmética. Para auxiliá-los, evidenciei, de forma clara e precisa, os
procedimentos para a obtenção dos valores esperados. Durante as operações aritméticas, foi
também, percebidas dificuldades dos educandos em realizar operações com números
decimais, bem como o diálogo com as variáveis envolvidas na modelagem do fenômeno
físico.
Saliento que, em cada encontro, ocorreu o recolhimento de todos os materiais, inclusive
impressos, para posterior diagnóstico dos resultados.
5°, 6° e 7° encontros – Prática 2: Alongamento de uma mola em um equipamento projetado;
elaboração de relatório, utilização da Planilha Excel e Software GeoGebra e avaliação do
trabalho.
Para que a segunda atividade experimental ocorresse, a sala de aula foi organizada com a
mesma estrutura da primeira atividade prática realizada. Os materiais (gancho metálico, uma
mola de tração, três pesos, um gancho metálico, uma balança de precisão, uma régua, trena,
papel milimetrado, papel A4, lápis e borracha), juntamente com o equipamento (Figura 2),
foram concedidos a cada grupo.
Fonte: DOCA, 2011, sem paginação (Adaptado do material Complementar (Interativo Digital) ao
livro Conecte Física – Mecânica).
Depois da leitura das instruções supracitadas, o experimento foi realizado com o intuito dos
alunos vivenciarem as seguintes etapas: identificar o modelo matemático representado na
prática desenvolvida e construir o gráfico da função do 2° grau. Uma vez cumprido esse
protocolo, a atividade foi conduzida por três cronometristas, um aluno que soltou o skate na
rampa e outro aluno que fez as anotações dos instantes que o objeto passou pelas marcações
assinaladas na régua. Em seguida, as ações dos grupos foram, as apurações dos dados e
explicitação do modelo matemático e do gráfico do fenômeno observado que representou o
MRUV.
O desenvolvimento da última atividade experimental ocorreu com mais desenvoltura. O
caminho que os alunos percorreram para modelar o fenômeno físico foi similar à terceira
atividade prática. Realizaram operações matemáticas, como por exemplo, a média
aritmética, além dos cálculos de velocidade média e aceleração. Estabeleceram diálogos em
pares, sendo algumas vezes auxiliados pela pesquisadora. Alguns alunos chegaram a declarar
que “compreender o conceito de função a partir de uma situação prática, foi uma maneira
interessante, pois nos livros didáticos a fórmula de função do 2° grau já está pronta”. Pontuo
que o uso da tecnologia na aprendizagem matemática foi valorizado como aliado do processo
educativo para a efetivação da aprendizagem.
15° encontro: Questões propostas e avaliação da intervenção pedagógica
Esse encontro foi dividido em dois momentos: o primeiro foi reservado a proposta de
resolução de duas questões abordando o conteúdo de função do segundo grau, as quais foram
discutidas, em conjunto. Já o segundo momento, também em grupo, destinou-se a uma
avaliação geral da intervenção pedagógica. Houve, pois, destaques para pontos positivos,
negativos e sugestões para melhorar futuras atividades pedagógicas envolvendo o uso de
atividades experimentas nas aulas de Matemática. A pesquisa, que segue em fase de análise
de dados, tem o propósito de contribuir para o aprendizado de funções do 1° e do 2° graus
no Ensino Médio.
À guisa da conclusão
O que foi apresentado ao longo do trabalho foram possibilidades de construção do conceito
de função do primeiro e do segundo graus por meio de atividades experimentais. As
experimentações de situações, os debates, as trocas de ideias e a oportunidade de estarem
juntos – alunos e alunas – discutindo as possibilidades de construção de um conceito
matemático, pode se constituir uma contribuição importante para a Educação Matemática.
De fato o que se buscou foi que, por meio de conhecimentos empíricos extraídos dos
experimentos, o aluno fosse capaz de relacionar o que está estudando na formalização do
conceito matemático de função. E como resultados preliminares deste estudo, a aplicação
das atividades oportunizou uma prática pedagógica diferenciada, em que os alunos
vivenciaram aulas de Matemática com um novo olhar e novas perspectivas quanto à
capacidade de expressar conhecimentos.
Enfim, percebi, ao longo da proposta pedagógica, que as aulas, embora trabalhosas, foram
atrativas, promovendo o envolvimento e o engajamento de toda a turma nas atividades. Isso
vem ao encontro do que o referencial Curricular do Estado do Maranhão (2006, p. 145) diz:
É necessário que o professor adote uma prática de ensino que aproxime o aluno
dos conhecimentos da Matemática, com o uso de metodologias práticas, vivas,
laboratoriais, que trabalhe casos concretos. O ensino da Matemática deve ser,
portanto, interdisciplinar, contextualizado e deve estar ligado ao desenvolvimento
de habilidades previstas para a produção desse conhecimento.
Embora o presente trabalho se encontre em fase de análise, a mesma, até aqui realizada, já
possibilita a promoção do entendimento do conceito de função do 1° e do 2° graus.
REFERÊNCIAS
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman,
2010.