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Categoria D
“não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino..., (...) o que há de pesquisador
no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente
à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a
pesquisa. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino,
continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque
indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo
educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou
anunciar a novidade”.
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educacionais, quer seja na forma de projetos aplicados, quer seja na forma de
publicações impressas ou eletrônicas.
Através deste projeto, a proposta do Curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas foi dar um destino social aos Objetos de Aprendizagem e outros materiais
pedagógicos reais e virtuais produzidos no Curso, utilizando-os na capacitação e
atualização de professores e alunos da Rede Pública de Ensino de Campo Grande,
Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Ao socializar estes materiais didáticos e
preparar os professores para a sua utilização em sala de aula, estamos contribuindo
para um ensino de Ciências de melhor qualidade, difundindo os conhecimentos,
métodos e técnicas produzidos na Universidade.
A característica fundamental do projeto é o uso das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) voltadas ao ensino de ciências (ensino fundamental) e de biologia
(ensino médio). Estas técnicas permitem o melhor aproveitamento das ferramentas de
informática na produção de conteúdos (textos, imagens, esquemas) e instrumentos de
apoio ao ensino de ciências/biologia, com ênfase na exploração dos programas Word,
Corel Draw, Pagemaker e Photoshop.
Um dos mais significativos instrumentos utilizados pelas TIC são os objetos de
aprendizagem (OA). Segundo Sette (2000), objetos de aprendizagem são definidos
como construções virtuais, programadas, além de permitirem designs, cores,
movimentos e efeitos; são um novo tipo de instrução utilizando outras linguagens de
computação. Configuram-se em imagens virtuais que formam um constructo de
informações e saberes que têm por objetivo facilitar o processo de ensino e
aprendizagem, exatamente pela mediação técnica das tecnologias, aqui denominadas
pela pesquisadora como tecnologias da inteligência. Dentre os conceitos acadêmicos
para OA, destacamos o de Beck, apud Wiley (2000): “Qualquer recurso digital que
possa ser reutilizado para o suporte ao ensino. A principal ideia dos OAs é quebrar o
conteúdo educacional em pequenos pedaços que possam ser reutilizados em
diferentes ambientes de aprendizagem, em um espírito de programação orientada a
objetos”.
Os OAs, desenvolvidos em PHP e Flash, são baseados na proposta
metodológica do projeto RIVED - Rede Interativa Virtual de Educação, a qual possui
as seguintes características: i) elaboração do design; ii) roteiro; iii) produção do próprio
objeto de aprendizagem; iv) e guia do professor. Após a elaboração, os OAs podem
ser disponibilizados em repositórios nacionais ou internacionais, como o Banco
Internacional de Objetos Educacionais, que possui objetos educacionais de acesso
público, em vários formatos e para todos os níveis de ensino
(http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/).
Foram desenvolvidas três atividades, em forma de oficinas de 40 horas/aulas,
oferecidas a professores da Rede Municipal e Estadual de Ensino de Campo Grande,
Mato Grosso do Sul, Brasil. As Atividades 1 e 2 foram realizadas no Laboratório de
Informática do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS)/UFMS e na Sala de
Informática da Casa da Ciência de Campo Grande, tendo como característica
fundamental o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) voltadas ao
ensino de ciências e de biologia. Segundo Sette (2000), o uso das TICs na escola tem
evidenciado a necessidade de repensar questões relacionadas com a
aprendizagem, com a prática do professor e como integrar as diferentes tecnologias
numa perspectiva didática. O desenvolvimento de OAs não é tarefa simples. A
literatura nos mostra que, para a criação desses objetos, necessita-se de uma equipe
multidisciplinar, que reconheça a importância de combinar conhecimentos na área
específica de um conteúdo disciplinar com conhecimentos sobre princípios de
processo de aprendizagem. Quanto mais se conhece sobre o processo de
aprendizagem, mais convincentes se tornam as simulações e atividades interativas,
facilitando a aprendizagem. Desta forma, a Atividade 1 propôs oficinas de
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instrumentalização para os programas utilizados durante a elaboração dos OAs e a
Atividade 2 propôs o desenvolvimento de OAs utilizados no ensino de ciências e
biologia.
A Atividade 1, “Oficinas de instrumentalização para a elaboração de materiais
didáticos virtuais”, abordou de forma prática quatro programas usualmente utilizados
durante a elaboração de OAs: Flash, Movie Maker, WebQuest e Blog. Os professores
participantes tiveram a oportunidade de explorar programas que podem ser utilizados
como ferramentas didático-pedagógicas no ambiente escolar, modernizando as aulas
e aproximando o aluno da escola. A Oficina de Flash teve como objetivo explorar o
aplicativo Flash como ferramenta pedagógica para o ensino, oferecendo os passos
iniciais para o professor criar animações dinâmicas e hospedá-las em uma página na
internet. A oficina de WebQuest discutiu o conceito de WebQuest, apresentando
fundamentação teórica e prática sobre o uso docente e discente das WebQuests,
visando ao seu uso no ambiente escolar. Examinando os fundamentos do modelo
proposto pelo autor Bernie Dodge, foram observados aspectos relacionados à
aprendizagem cooperativa, construtivismo e desenvolvimento de habilidades
cognitivas, mostrando a possibilidade de construção de ambientes de aprendizagem
que aproveitem de modo eficiente e sistemático os recursos existentes na Internet. A
Oficina Movie Maker teve como finalidade a instrumentalização do professor para a
utilização de recursos do Movie Maker (WMM) como ferramenta pedagógica. Este
software de edição de vídeo permite diversas situações pedagógicas, proporcionando
aos alunos a criação de filmes, argumentos, dramatização de textos e histórias, tendo
ao dispor vários cenários que podem ser utilizados a partir de diferentes perspectivas.
Já a oficina de Blog instrumentalizou a criação de vários tipos de blogs, que podem
servir como complemento ao ensino presencial, uma vez que estes sistemas digitais
configuram-se em veículos privilegiados de comunicação.
A Atividade 2, “Objetos de Aprendizagem de Ciências: Como desenvolver e
utilizar?”, apresentou alguns materiais didáticos virtuais produzidos nas aulas de TICs-
Biologia, capacitando os professores para, a partir da sua utilização, desenvolverem
em sala de aula dinâmicas de aprendizagem sobre o conteúdo.
Os materiais virtuais produzidos (animações, jogos, histórias em quadrinhos
etc.) podem ser publicados em meio digital, ampliando seu alcance. Alguns OAs são
acompanhados de materiais utilizados em atividades práticas em laboratório, aliando
teoria e prática. Como exemplos, “De olho no piolho” é uma história em quadrinhos
virtual sobre a pediculose, acompanhada por jogos de aprendizagem; “Genética dos
Grupos Sanguíneos/Sistema ABO” é uma animação sobre a transfusão de sangue e
suas consequências; “Frevo da Capivara” é um vídeo que introduz conceitos de
ecologia e manejo de animais do Pantanal brasileiro. Além de incentivar os
professores a prosseguirem seu aprendizado de modo continuado, a oficina contribuiu
para uma formação associada às demandas da sociedade moderna, notadamente em
direção à inclusão digital.
Na Atividade 3, “Coleção de Lâminas e Modelos Didáticos para o Ensino de
Ciências e Biologia”, foram oferecidas oficinas teórico-práticas utilizando os
laboratórios de Botânica, Biologia Geral, Microbiologia e Parasitologia do
CCBS/UFMS, com o auxílio de professores, técnicos e licenciandos da Universidade.
As atividades foram realizadas inicialmente através de uma abordagem teórica sobre
os respectivos temas e reflexões sobre os conteúdos trabalhados. Em outro momento,
os saberes adquiridos foram vivenciados através da prática, de forma interdisciplinar.
Nas aulas práticas, os professores participantes aprenderam e confeccionar diferentes
materiais didáticos e produziram uma coleção de lâminas contendo itens de Botânica
(Anatomia Vegetal de Criptógamas e Fanerógamas), Microbiologia (diferenciação
morfotintorial de bactérias e fungos - Figura 1), Parasitologia (Trypanosoma cruzi,
Leishmania sp., piolhos e tênias - Figura 2) e Entomologia (montagem de coleção
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entomológica contendo triatomíneos ou barbeiros, flebotomíneos, culicíneos e
anofelinos - Figura 3). Na oficina de Biologia Celular, os professores montaram
diferentes modelos de células e suas organelas, bem como desenvolveram modelos
de divisão celular (Figura 4).
A B
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A B
D E
d
Figura 3. Oficina de Entomologia. Ciclo biológico dos triatomíneos vetores da doença
de Chagas (A, B e C). Coleta de insetos no Campus da UFMS para confecção da
coleção entomológica (D e E)). (Atividade 3. Coleção de Lâminas e Modelos Didáticos
para o Ensino de Ciências e Biologia. Projeto Interciências/Biologia 2011). Foto: Grupo
Biolocus.
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Figura 4. Oficina de Biologia Celular. Montagem de modelos de células, organização e
divisão celular. (Atividade 3. Coleção de Lâminas e Modelos Didáticos para o Ensino
de Ciências e Biologia. Projeto Interciências/Biologia 2011). Foto: Grupo Biolocus.
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educação científica deve ajudar o aluno a construir seus próprios modelos, interrogá-
los e descrevê-los metacognitivamente a partir de modelos elaborados por outros.
Através da exposição de diversos modelos alternativos, os alunos tornam-se capazes
de relacioná-los e integrá-los, compreendendo as diferenças conceituais e
reconstruindo o conhecimento científico.
Através do Projeto Interciências, a Universidade cumpre seu papel de
atualização e disseminação de conhecimentos produzidos, e por outro lado recebe o
retorno da comunidade escolar sobre como anda a vida e o meio escolar; pode-se
discutir e chegar a conclusões de como melhor traduzir os conhecimentos gerados
para a linguagem escolar, uma vez que é a Universidade que forma os profissionais de
ensino.
“Só podemos ensinar até onde conseguimos aprender; só vale a pena ser
educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial.”
(Moran, 2009).
Referências Bibliográficas