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Classe Chondrichthyes: os peixes cartilaginosos.

Chondrichthyes (do grego chondros, cartilagem e ichthys, peixe).


A história evolutiva dos peixes teve origem no período ordoviciano, há 500 milhões de anos, com os
Agnatha e posteriormente com os Gnathostomata dos quais originaram-se duas linhas evolutivas: os peixes
cartilaginosos (Chondrichthyes), e os peixes ósseos (Ostheichthyes).

Os tubarões, as raias e as quimeras são peixes de esqueletos cartilaginosos, incluídos neste mesmo grupo
denominado Classe Chondrichthyes, com cerca de 960 espécies atuais. Quando comparado com os peixes
ósseos, os Chondrichthyes somam um número pequeno de espécies. Entretanto o grupo tem grande
notoriedade, visto que algumas espécies podem atacar aos seres humanos. No Brasil temos 150 espécies,
sendo 137 marinhas e 13 de água doce.

Características dos Chondrichthyes:


Um esqueleto cartilaginoso, mandíbulas bastante desenvolvidas, nadadeiras pares e ímpares; as nadadeiras
dorsal, ventral e caudal são ímpares, enquanto as laterais, peitorais e pélvicas são pares. As nadadeiras
pélvicas dos machos possuem clásperes que facilitam a fertilização interna. As nadadeiras são constituídas
de pequenas peças cartilaginosas e sustentadas por "cinturas esqueléticas". Narinas pares. Não possuem
uma bexiga natatória característica dos Ostheichthyes. O esqueleto dos tubarões e das raias é cartilaginoso.
Uma caixa craniana protege o encéfalo, e o esqueleto visceral compreende as mandíbulas e os arcos
branquiais que protegem as brânquias. A cauda é heterocerca (com lobos assimétricos, pois a coluna
vertebral penetra no lobo dorsal maior). Nas raias e afins a cauda é longa e fina, podendo terminar num
espinho farpado com glândulas de peçonha, como forma de defesa. O sistema nervoso é constituído por um
encéfalo distinto e órgãos sensoriais muito desenvolvidos, que lhes permitem localizar presas mesmo
quando muito distantes ou enterradas no lodo do fundo. Estes órgãos incluem:
• Narinas localizadas ventralmente na extremidade arredondada da cabeça, capazes de detectar moléculas
dissolvidas na água em concentrações mínimas; as narinas não comunicam com a cavidade bucal mas com
a faringe.
• Ouvidos com três canais semicirculares dispostos perpendicularmente uns aos outros (funcionando como
um órgão de equilíbrio, portanto, tal como em todos os vertebrados superiores).
• Olhos laterais e sem pálpebras, cuja retina geralmente apenas contém bastonetes (fornecendo uma visão
a preto-e-branco mas bem adaptada á baixa luminosidade).
• Linha lateral, um fino sulco ao longo dos flancos contendo muitas pequenas aberturas, contém células
nervosas sensíveis á pressão (algo como um sentido do tacto á distância).
• Ampolas de Lorenzini, localizadas na zona ventral da cabeça, são outros canais sensitivos ligados a
pequenas ampolas que contém eletrorreceptores capazes de detectar as correntes elétricas dos músculos de
outros organismos.
• No sistema digestivo a boca é ventral com fileiras de dentes revestidos de esmalte (desenvolvidos a
partir de escamas placóides).
• Os dentes estão implantados na carne e não na mandíbula, sendo substituídos continuamente a partir da
parte traseira da boca, à medida que são perdidos. A forma dos dentes revela os hábitos alimentares dos
animais, dentes pontiagudos e serrilhados nos tubarões, que os usam para agarrar e cortar, e pequenos e
em forma de ladrilho nas raias, que os usam para partir as carapaças e conchas dos moluscos e crustáceos
de que se alimentam no fundo.
• O intestino apresenta válvula em espiral (para aumentar a área de absorção) e fígado, grande e muito
rico em óleo o que confere grande flutuabilidade, chegando por vezes a compor 20% do peso do corpo. No
entanto, em algumas espécies tal não é suficiente, pois se pararem de nadar, afundam. O ânus abre para a
cloaca.

• Sistema respiratório é constituido por brânquias; de 5 a 7 pares de sacos branquiais, cada um com uma
abertura individual em forma de fenda, abrindo á frente da barbatana peitoral nos tubarões ou na superfície
ventral das raias. Nas quimeras apenas existe uma fenda branquial. A água é constantemente aspirada pela
boca, e sua saída é forçada através das fendas branquiais situadas entre a boca e as nadadeiras peitorais,
nas laterais do corpo. As trocas gasosas se processam nas brânquias. Os sacos branquiais podem contrair-
se para expelir a água ou, como acontece na maioria dos tubarões, o animal usa uma espécie de respiração
a jato, nadando ativamente com a boca e as fendas branquiais abertas, mantendo um fluxo constante de
água. Por esse motivo, é freqüente os tubarões afogarem-se quando presos em redes de pesca perdidas.
• Geralmente existe um par de espiráculos atrás dos olhos, em ligação á faringe, que, nas espécies
bentônicas (rastejam no fundo), permitem a entrada de água sem detritos para as brânquias.
• O aparelho circulatório é constituído por um coração, abaixo das brânquias, por artérias e veias. No
coração, com 2 câmaras (aurícula e ventrículo), só passa sangue venoso (circulação simples e
completa), não havendo, portanto, mistura de sangue venoso com arterial na cavidade cardíaca.

• A excreção é realizada por intermédio de rins situados na parte posterior do corpo, abaixo da aorta
dorsal. Os excretas são eliminados por uma paila urogenital.
• Não existe bexiga natatória.

Peixes cartilaginosos apresentam escamas placóides, diferenciadas das observadas em peixes ósseos.
Estas escamas são idênticas aos dentes em sua estrutura, sendo formadas por uma placa óssea posicionada
na derme, apresentando uma porção distal projetada através da epiderme. As escamas placóides
apresentam uma polpa vascularizada e um ou mais espinhos externamente, recobertos de dentina e
dirigidos para a porção posterior do peixe. Assim como os dentes, as escamas também podem apresentar
perda e substituição.

Os Chondrichthyes dividem-se em duas subclasses: Holocephali e Elasmobranchii.

• A subclasse Holochephali inclui as quimeras. Caracterizam-se pela fusão da mandíbula superior com o
crânio (a parte do esqueleto superior que cobre o cérebro), possuem um par de aberturas nasais externas,
e não têm escamas. A quimera (Callorhynchus callorhyncus), do Atlântico, de corpo alongado
(aproximadamente 0,60m), boca prolongada em apêndice cartilaginoso pendente, com função tátil,
nadadeiras peitorais muito desenvolvidas; as dorsais (duas) têm a primeira armada de forte espinho na
parte anterior. Alimenta-se de moluscos e crustáceos, e freqüenta águas profundas. Também conhecida
como peixe-coelho, peixe-elefante ou quimera-antártica. O tamanho varia de 20 cm a 16 m (maioria entre
0,5 e 2 m).
• A subclasse Elasmobranchii inclui tubarões e raias. Elasmobrânquios caracterizam-se pelo seu corpo
cilíndrico e achatado, pelos 5 a 7 pares de fendas branquiais, pelo fato do crânio não estar fundido com a
mandíbula superior e por possuírem escamas placóides.

Os Elasmobrânquios estão agrupados em duas super ordens: Batoidea (raias e seus familiares) e Selachii
(tubarões).
• Batoidea inclui raias, raias elétricas, raias-guitarra, “sawfishes”, “skates”, mantas, etc. Caracterizam-se
pelo seu corpo achatado dorso ventralmente com barbatanas peitorais fundidas com a cabeça. Todos os
Batoidea têm 5 pares de fendas branquiais. Existem 4 ordens e cerca de 470 espécies de batóides.
• Selachii inclui todos os tubarões. Caracterizam-se pelo seu corpo fusiforme e pelos 5 a 7 pares de fendas
branquiais laterais. Existem 8 ordens e cerca de 350 espécies de seláceos. (Sharks and their relatives – A
Sea world education department publication).

* As grandes diferenças entre tubarões e raias encontram-se observando a posição das fendas branquiais e
também observando as barbatanas peitorais. Nos tubarões as fendas branquiais estão localizadas
lateralmente, enquanto que nas raias as fendas branquiais localizam-se ventralmente. As barbatanas
peitorais das raias estão fundidas com a cabeça, nos tubarões tal não se verifica. (National Audubon Society
Field Guide to North American Fishes, Whales and Dolphins).

Os TUBARÕES são diferentes dos outros peixes em vários aspectos. São carnívoros, com maxilas articuladas
com o crânio, têm nadadeiras pares, esqueleto cartilaginoso, corpo coberto por escamas placóides,
fecundação interna e os machos têm clásperes. Por ocasião da cópula, o clásper é introduzido na abertura
genital da fêmea, permitindo a transferência do esperma e a fecundação.

O seu esqueleto é ainda fortificado com fosfato de cálcio e outros minerais. É um esqueleto muito reduzido:
possuem um crânio, coluna vertebral que suporta a barbatana caudal e as outras barbatanas, e os arcos
branquiais. O que sustenta todo o peso do tubarão é essencialmente tecido muscular e a pele. Se não
estivessem dentro de água seriam esmagados pelo seu peso. Para evitar que isso aconteça possuem um
fígado constituído por células de gordura que ajudam na flutuação, uma vez que não possuem bexiga
natatória. Os tubarões atuais assemelham-se muito aos seus antepassados. Estudos comparativos só foram
possíveis através da observação de fósseis destes animais: essencialmente escamas e dentes, pois o seu
esqueleto é de cartilagem, material de fácil degradação. São considerados fósseis vivos. Acredita-se que
surgiram há cerca de 400 milhões de anos atrás (200 milhões de anos antes do aparecimento dos
dinossauros) (Fonte: Sharks and Rays of the Pacific coast – Monterey Bay Aquarium). O tubarão-tigre,
espécie que costuma aparecer na costa brasileira, principalmente em Pernambuco, é o segundo mais
perigoso. Existem cerca de 400 espécies. Têm uma pele espessa, geralmente cinzenta e coberta por
dentículos (pequenas escamas em forma de dentes). O corpo hidrodinâmico do tubarão apresenta
barbatanas peitorais, uma barbatana dorsal alta e uma caudal bifurcada, com o lobo superior de maior
tamanho. De cada lado da cabeça, geralmente alongada, são visíveis cinco fendas branquiais descobertas
(sem opérculo). A maior parte dos tubarões alimentam-se de peixes, sendo poucos os que atacam seres
humanos. O seu tamanho varia entre vários centímetros e vários metros.
Entre as espécies de maior tamanho destacam-se o tubarão-branco, Carcharodon carcharias, o mais
perigoso, que atinge 9 m de comprimento e o tubarão-baleia, Rhincodon typus, que se alimenta de
plâncton e que pode ultrapassar os 15 m. Além de tudo o que nos ensina a sua fascinante estratégia de
vida, fruto de 400 milhões de anos de evolução nos mares da Terra, os tubarões desempenham um
importante papel ecológico: são os predadores de topo das cadeias alimentares marinhas. Ao regularem os
níveis das suas populações-presa e ao eliminarem os indivíduos menos favorecidos - tais como peixes
doentes ou feridos -, os tubarões contribuem decisivamente para o equilíbrio do ambiente marinho (são
fator de seleção e de higiene).

Os BATÓIDES vivem em todos os oceanos, mas são mais comuns em águas tropicais ou temperadas.
Alimentam-se principalmente de invertebrados; as mantas alimentam-se de peixes e plâncton presente na
coluna de água.
Não se parecem muito com os tubarões embora sejam familiares próximos. Ambos são peixes e tal como os
tubarões possuem um esqueleto de cartilagem. Este grupo inclui: sawfishes, stingrays, guitarfishes, electric
rays, eagle rays e mantas. No total perfazem mais de 400 espécies diferentes. Ao contrário dos tubarões
possuem um corpo achatado. As suas nadadeiras estão fundidas com a cabeça, enquanto que nos tubarões
as nadadeiras extendem-se para fora do corpo. Os tubarões utilizam as nadadeiras caudais para se
deslocarem (propulsão), os batóides “batem” as nadadeiras peitorais como se voassem. As peitorais dos
tubarões são utilizadas no equilibrio e também para manterem a direção. Nos batóides é o espigão que
desempenha esta função. (Sharks and Rays of the Pacific coast – Monterey Bay Aquarium). As MANTAS
(Família Mobulidae ), em contraste com as eagle rays, não têm grandes placas de dentes. Também possuem
as subdivisões anteriores das barbatanas peitorais modificadas em 2 barbatanas separadas designadas por
barbatanas cefálicas, localizadas na cabeça. As extremidades posteriores das barbatanas peitorais também
são falcadas. Possuem uma “peneira” branquial e uma pequena barbatana dorsal na cauda.
Vivem em zonas temperadas e também tropicais alimentando-se de crustáceos planctônicos que filtram com
a “peneira” branquial. (National Audubon Society Field Guide to North American Fishes, Whales and
Dolphins)

As raias de água doce se destacam pela variedade de suas cores, que se expressam nos mais diferentes
desenhos. São consideradas peixes ornamentais, e num mercado internacional de 50 mil unidades ao ano, o
Brasil colabora com cerca de 35 mil exemplares. São cerca de seis espécies de rara beleza, vindas não só do
Amazonas, mas também do Pará, Tocantins e Mato Grosso, que ajudam a economia do país e
principalmente a aumentar a renda dos pescadores ribeirinhos.

Fontes e Bibliografia:
http://www.nupec.com.br/
http://www.ucmp.berkeley.edu/vertebrates/Doug/shark.html
http://curlygirl.no.sapo.pt/condrites
http://animaldiversity.ummz.umich.edu/chordata/chondrichthyes.html
http://tubaroes.com.sapo.pt/tub.html
http://www.horta.uac.pt/projectos/Saber/200303/Artigo.htm
http://www.bionline.net/bio_indicep_peixe_cart.htm
Zoomarine 2001 [Mundo Aquático]
Compagno, L.J.V. 1984. FAO species catalogue. Vol. 4. Sharks of the world. An annotated and illustrated
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Ellis, R. 1989. The Book of Sharks. Alfred A. Knopf. New York. 224pp.
Gruber, S.H. 1991. Discovering Sharks. American Littoral Society. Highlands, New Jersey 07732. 121pp.
Perrine, D. 1995. Sharks. Colin Baxter. Worldlife library. 72pp.
Springer, V.G. & J.P. Gold. 1989. Sharks in Question. Smithsonian Institution Press. Washington D.C.,
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Steel, R. 1992. Sharks of the World. Blandford Press. UK. 192pp.
Cunha, M.R.; Gomes, U.L. 1994. Estudo comparativo da morfologia dos órgãos copuladores de
Rhizoprionodon lalandii (Valenciennes, 1839) e Rhizoprionodon porosus (Poey, 1861) (Elasmobranchii,
Carcharhinidae. Rev. Brasil. Biol., 54(4): 575-586.
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