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XXIII Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2019 1

PROCESSOS FORMATIVOS: INVESTIGAÇÃO ONLINE COM A


COCRIAÇÃO DE PERGUNTAS

Valmir Heckler1, Berenice Vahl Vaniel2, Anderson Castro de Oliveira3


1
Universidade Federal do Rio Grande - FURG/Instituto de Matemática, Estatística e Física -
IMEF/valmirheckler@gmail.com
2
Universidade Federal do Rio Grande – FURG/Instituto de Matemática, Estatística e Física - IMEF/
bvaniel@gmail.com
3
Mestrado Nacional Profissional de Ensino de Física/andersoncdeo@gmail.com

Resumo

Apresentamos neste artigo a análise de um processo formativo ocorrido no


Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física - MNPEF1, no Polo 21 do
Instituto de Matemática, Estatística e Física - IMEF da FURG, na disciplina
"Atividades experimentais para o Ensino Médio e Experimental". Esta disciplina teve
a participação de dois professores responsáveis, e oito professores atuantes na
educação básica e uma professora atuante em Instituto Federal – IF, sendo ao total
onze (11) professores em formação, oriundos de diferentes municípios do RS,
alguns distantes 500 km da sede, e com a obrigatoriedade de realizar a sua
formação no MNPEF 100% presencial. Nessa investigação, as questões presentes
foram: i. Como podemos construir coletivamente atividades práticas com
envolvimento ativo dos professores no processo formativo, mesmo que
geograficamente distantes?; ii. Como construir coletivamente atividades que
contribuam no processo de construção de práticas reflexivas no contexto do
Ensino de Física na Educação Básica?. Nesta pesquisa-ação, consideramos que
nós, responsáveis pela disciplina, estávamos inclusos neste processo formativo, o
qual possui um caráter de propiciar a reflexão sobre/na formação de professores.
Para tanto, apostamos em uma experiência na investigação online com a cocriação
de perguntas que pudessem ser desenvolvidas com auxílio das interfaces da Web
2.0, de forma semi-presencial. A fim de compreender como o processo formativo
nesses espaçostempos foi construído conjuntamente com os
professores/estudantes, analisamos os registros e olhamos atentamente para as
perguntas e respostas, buscando interligá-las a diálogos teóricos ao longo de toda a
escrita.
Palavras-chave: Ensino de Física, Atividades Experimentais, Web 2.0

Espaços tempos formativos na cibercultura: investigação


potencializada por diferentes recursos digitais

Os espaçostempos formativos aconteciam através de encontros oficiais


presenciais da disciplina no Campus Carreiros da FURG. Para além desse espaço
de sala de aula, delimitado pelas quatro paredes, apostamos na criação de um
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) em um grupo fechado do Facebook,

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Informações no link: http://www.mnpefprg.furg.br/

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articulado com espaço de webconferência via Skype, e Messenger, além da


ferramenta Google Drive.
Assumimos que o AVA Facebook constitui um espaçotempo formativo na
cibercultura, pautada na interatividade entre os sujeitos, com a linguagem cocriada a
partir dos artefatos iniciais disponibilizados e acessíveis na internet. Entre esses
artefatos disponíveis no ambiente, constituído coletivamente por todos os
participantes, estão imagens, vídeos, textos, perguntas e modelos. Visualizamos
assim que esse grupo no Facebook também constitui o que situamos teoricamente
como "[...] ambientes multirreferenciais de aprendizagem que contemplam e
articulam diversos espaços, tempos, linguagens, tecnologias para além dos espaços
legitimados pela tradição da ciência moderna” (SANTOS, 2011, p.77).
O ambiente multirreferencial de aprendizagem torna-se visível ao
analisarmos os registros do grupo de professores no Facebook, onde encontramos o
planejamento, referente a uma atividadecom auxílio de um simulador2, que aposta
em um processo investigativo em torno do tema efeito estufa. O propósito central da
atividade está em "indagar sobre o desenvolvimento de atividades práticas que
envolvam os fenômenos do Efeito Estufa via/na Web”, conforme a descrição da
atividade, a seguir.
Iremos explorar o ambiente da sala de aula, estruturada com
webconferência, incluir os estudantes geograficamente distantes via Skype
no link: https://join.skype.com/xxx. Além disso, iremos utilizar o chat no
ambiente do facebook e escrita semanal na ferramenta do Google drive,
disponível no link https://docs.google.com/document/d/1tX0cBed-5xxxx.
(Descrição da atividade com auxilio do simulador)
A referida aula foi estruturada com o propósito de incluir os
estudantes/professores geograficamente distantes, contribuindo assim para a
qualificação do seu processo de aprendizagem, pelo fato de ampliar as
possibilidades de interação, cocriação e coautoria, “em uma vivência com pertença
ativa e propositiva” (MARASCHIN, 2000, p. 03). Além disso, foi utilizado o item
comentários do grupo do Facebook como um chat, em que todos faziam os registros
escritos de suas perguntas e interagiam com as postagens dos colegas, buscando
estabelecer um olhar investigativo. Tal procedimento vai ao encontro do que Franco
(2016, p. 520) certifica em seu estudo, “ao iniciarem-se no olhar investigativo e
começarem a se articular como pesquisadores em ação, passam a problematizar a
realidade e a buscar alternativas de pensamento e reflexão.” Também foi anunciada
a escrita semanal na ferramenta do Google Drive, um instrumento de escrita
coletiva, a qual torna-se importante nesta sociedade complexa, com seus problemas
igualmente complexos que necessitam ser pensados coletivamente, em grupo.
Nesse espaço, foi disponibilizado a interface principal do simulador Efeito Estufa.
Assumimos que o referido simulador virtual constitui um artefato
contemporâneo da experimentação em Ciências, que também possibilita a atividade
coletiva dos professores com informações empíricas em torno de temas sobre o
efeito estufa. A partir de Giordan (2008), entendemos a simulação virtual como um
meio complementar na construção de relações com os fenômenos macroscópicos e
submicroscópicos do tema central da aula. Ademais, há a possibilidade de interligar
fenômenos aos conceitos de luz, calor, temperatura, radiação, influência da

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Simulador Efeito Estufa. Disponível em: https://phet.colorado.edu/pt_BR/

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composição da atmosfera, ou de uma estrutura de vidro que simule uma estufa.


Assim, reconhecemos o simulador como um artefato, constituído pela linguagem de
modelos explicativos das Ciências, com os quais os professores podem interagir,
alterar parâmetros, medir e, consequentemente, confrontar previsões em um cenário
simulado de fenômenos relacionados ao efeito estufa. Nesse sentido, é que os
professores responsáveis pela disciplina pré-planejaram possíveis ações que seriam
desenvolvidas no coletivo. O fragmento abaixo apresenta a descrição da atividade,
com a proposição de se desenvolver perguntas no chat do Facebook e de interagir
com as perguntas dos colegas. Constitui uma atividade mediada por escritas via
recursos computacionais, com a participação de sujeitos distantes geograficamente
e não apenas com ações de um indivíduo isolado. Nesse contexto, chat, Skype e
Google Drive são as interfaces nesta aula da disciplina que propiciam a interação
entre os diferentes participantes (WINER et al., 2002).
Encaminhamentos da atividade: a) Cada participante, terá 10 a 15 min
para interagir com o simulador, elaborar e postar uma pergunta emergente
no fórum do Facebook. b) Vamos interagir com os colegas a partir da(s)
pergunta(s). c) Quais dos aspectos observados e apontados podem ser
desenvolvidos em sala de aula de uma turma do Ensino Médio? d)
Desenvolvimento de um debate sobre os aspectos emergentes nessa
atividade. 2 0 Momento - Escrita sobre o que me aconteceu nesta atividade
via/na Web Os participantes registram, em forma de relato breve, o que lhe
aconteceu em termos de pensamentos, ações e sentimentos ao ser
envolvido na atividade. Disponível em:
https://docs.google.com/document/d/1tX0cBed-5-
xr1FXoKQjlf14bgoRQii6gevDrcY4qUqc/edit?usp=sharing(Registro com a
descrição do encaminhamento da atividade)
Pensar em desenvolver essa aula, com enfoque na experimentação com
temas do Ensino de Física, desafia-nos a pensar que esse processo abrange
aspectos centrais de nossa experiência com a pesquisa-formação de professores no
contexto da Indagação Online (HECKLER, 2014). A partir de Silva e Santos (2006) e
Silva (2006; 2012), assumimos que as atividades na perspectiva online acontecem
com o uso de interfaces e ferramentas da Web 2.0, justamente ao envolver os
diferentes professores em um processo formativo, através da cocriação da
comunicação e do conhecimento. Além disso, o coletivo de professores foi
convidado para atuar e pensar nas respectivas atividades com relações de
comunicações horizontais abertas à colaboração e à coautoria.Um processo que se
constitui colaborativo na proposição dos questionamentos, das escolhas da forma
como interagir com as perguntas dos colegas e dos registros dos pensamentos
emergentes ao ler os relatos do colegas antes de sua própria escrita.
Mesmo experientes em propor e desenvolver atividades em conjunto com
grupos de colegas professores na perspectiva online, comunicamos que essas
também nos desafiam. Geralmente, emergem nesse espaçotempo: um conjunto
complexo de cocriações de linguagens sistematizá-las torna-se desafiador e
instigante. Então, dependendo do interesse de cada participante, o debate pode
desencadear outros propósitos que não os da proposta inicial. Também é necessário
registrar os frequentes problemas de ordem tecnológica, como por exemplo: o
colega que não consegue fazer download do simulador, a internet que não funciona
para realizar de forma adequada a webconferência com todos, o plugin do Skype
não atualizado no dispositivo que o colega vai utilizar. Registramos no relato esses
fatores para serem formas de instigar nós, professores, a pensar sobre esses fatores

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e não os apontar como empecilhos definitivos para avançarmos em aspectos


teórico-práticos do espaçotempo da aula na cibercultura.
Nesse sentido, fez-se oportuna a sistematização e descrição sobre o que
nos aconteceu naquele encontro, pois os registros deixados no AVA Facebook
foram as marcas coletivas dos professores nas interfaces da web. Nesse momento
de escrita, eles mergulham as perguntas e interações construídas pelos
participantes da aula.

Marcas no AVA Facebook mostram uma complexidade com as


perguntas construídas coletivamente

Avançamos nas comunicações construídas e presentes no AVA da disciplina


e, assim, comunicamos o que nos aconteceu no espaçotempo do encontro desta
aula: os professores responsáveis pela disciplina abrem a postagem no AVA do
grupo com a frase: "Registros das falas, escritas da aula que está iniciando em
02/06. O que será que tem nestes registros?". O ambiente apresenta o movimento
dos professores responsáveis pela disciplina, da professora que participa via Skype
do Campus da FURG de São Lourenço do Sul e do professor que está na sala de
aula presencial no Campus Carreiros da FURG.
Nessa sala de aula presencial, lócus tradicional dos encontros das aulas da
disciplina, estão dois professores/estudantes também conectados via computador.
Outros sete professores estão em suas casas conectados via Skype, com acesso ao
planejamento prévio das atividades e dialogando também via chat - no item
comentário do Facebook. Todos os participantes da disciplina deixaram suas
marcas, seus registros escritos, de forma síncrona nesse ambiente, ou seja,
estavam presentes na data e horários do encontro. Destacamos que essa foi a única
aula ao longo do semestre em que todos os professores/estudantes estiveram
presentes, mesmo que geograficamente distantes, diferente das demais aulas
presenciais em que sempre registramos ausências. Importante ressaltar que nem
todas as ações, relacionadas a essa atividade, foram realizadas com sincronia, em
tempo real. Ao analisar a vídeoaula gerada com a gravação da webconferência
desenvolvida e disponibilizada no AVA da disciplina, verificamos que o encontro
síncrono teve duração de 1h 10min. Nessa primeira atividade, devido a nem todos
os colegas conseguirem falar via webconferência, a ação de construir perguntas foi
efetuada no item comentários do Facebook. Nesse período, foram cocriadas 40
(quarenta) escritas via chat, totalizando a construção conjunta de 39 (trinta e nove)
perguntas. O total de perguntas desenvolvidas no coletivo já é um indicativo da
complexidade envolvida nesse constituir a aula no espaçotempo da cibercultura, de
forma cocriada e colaborativa.
Ao trabalhar a experimentação a partir do simulador, com a construção de
questionamentos via chat no AVA, emergiram questões relacionadas diretamente
com a linguagem do simulador e outras indagações associadas à experiência de
cada participante. Também foram surgindo questionamentos cocriados a partir da
leitura das perguntas comunicadas pelos colegas. A seguir, um recorte das
perguntas constituídas no grupo do Facebook.
E no caso das teorias que consideram a inexistência do aquecimento
global? No simulador, se ajustarmos o nº de moléculas a zero, o que ocorre
com o termômetro? Porque a Terra absorve fótons de luz visível e emite
infravermelho? Como podemos explicar a interação de algumas moléculas

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com a radiação enquanto N2 e O2 não apresentam essa interação?Quais as


taxas de absorção e emissão de energia de nosso planeta? O que acontece
com a radiação infravermelha liberada pela Terra ao aumentar o número de
camadas de Vidro? (Recorte das perguntas registradas no chat da aula)
Ao ler as perguntas expressas acima, visualizamos o potencial investigativo
que emerge nessa prática de fazer uso do simulador, como ponto de partida para a
criação de perguntas. Significamos que essa aula construída pelas ações coletivas
desse grupo de professores se aproxima da experimentação investigativa aberta
(SÁ, 2009). A mediação acontece pela escrita, leitura, escuta e análise dos registros
nessas interfaces, em que se tem o desafio de formular perguntas, com o registro da
cocriação dos questionamentos com a linguagem do próprio simulador, bem como
interlocuções com a linguagem comunicada pelos colegas.
Para nós, existe um cenário complexo emergente quando atuamos de forma
conjunta com a escuta, escrita, fala, leitura, simulador e formulação de questões,
enquanto usados como artefatos mediadores. Visualizamos a imersão coletiva na
linguagem dos artefatos disponibilizados e os cocriados em multidiálogos.
Compreendemos que é nessa imersão que todos os participantes vivenciam a
interatividade via linguagem no operar dos artefatos, considerando sua componente
social e interativa como ação participativa no Ensino de Física, estudada a partir do
outro.
Enquanto integrantes responsáveis pela disciplina, inclusos em um processo
formativo, ou seja, em um processo de pesquisa-formação, questionamo-nos sobre
o que fazer com o conjunto de questões desenvolvidas nesta primeira etapa. Essa
foi uma indagação que nos fizemos ao final do encontro síncrono. Desde então,
decidimos que todo esse material gerado poderia ser ponto de partida para
cocriação de outras aulas. Assim, propomos uma aula presencial posterior ao
encontro, conforme recorte expresso a seguir. Com esse intuito, propomos:
Elaborar uma proposta de aula sobre o tema Efeito Estufa, a partir dos
questionamentos/indagações realizados/as na aula online que ocorreu no
dia 02/06 e que estão disponíveis no Facebook. Leia todas as questões
realizadas e postadas no Facebook, se necessário, leia mais de mais de
uma vez, a seguir agrupe os questionamentos pela proximidade das ideias,
formando categorias. Após ter suas categorias, identifique quais Modelos
Científicos contribuem para responder os questionamentos das referidas
categorias. A partir da identificação desses Modelos, como o simulador
virtual utilizado na aula, auxilia a evidenciar e construir esse modelo com os
alunos. Quais são as limitações desse simulador? Frente a essas
limitações, que outros materiais você indicaria para auxiliar esse processo
de compreender os fenômenos do efeito estufa? (Orientações para a
elaboração da aula)
O planejamento apresentado tinha como propósito oportunizar o processo
investigativo dos fenômenos e os possíveis modelos que emergiram nas perguntas
registradas pelo coletivo de professores. Nesse sentido, dispomos a instigar o grupo
de professores a proporem formas de sistematizar essas questões geradas.
Também observamos que cada um de nós poderia, a partir dessas perguntas
organizadas, suscitar possíveis atividades no Ensino de Física, dentro do contexto
escolar.
Durante o primeiro encontro presencial ocorrido após a referida aula descrita
no relato, os professores trouxeram suas sistematizações e comunicaram ao grupo.
Essa atividade oportunizou o debate e a recursividade sobre as questões

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desenvolvidas durante o encontro síncrono. Apresentamos a seguir, a interligação


criada por um dos professores, como forma de exemplificar os resultados obtidos
com essa proposta.
Os modelos que podem contribuir para responder as questões associadas
aos fenômenos físicos estão listados a seguir: Categoria 1: formação das
nuvens, ciclo da água, densidade. [questões: O volume de nuvens podem
influenciar no feito estufa? As nuvens são compostas de quê? A mudança
na composição das nuvens poderá ter um efeito sobre o clima da terra?]
Categoria 2: efeito estufa, gases de efeito estufa, clima, interpretação
de gráficos (evolução da temperatura global). [questões: Quais são os
gases do efeito estufa? Qual a relação entre efeito estufa e o buraco na
camada de ozônio? Quais os pontos mais afetados pelo efeito estufa na
terra?Quais são as causas que fazem esse aumento no efeito nestes
locais?] Categoria 3: luz, radiação, absorção de fótons. [Como se dá a
interação dos fótons de infravermelho com as diferentes moléculas
presentes na atmosfera? Quais as condições para uma molécula absorver
fótons? Que tipo de interação ocorre entre a radiação e a matéria?]
Categoria 4: Controvérsias do aquecimento global, revolução industrial,
relação socioambiental, formas de urbanização e industrialização,
energias renováveis e não renováveis. [Quais as principais diferenças
entre os períodos de 1750 aos dias atuais em relação ao efeito estufa?
Como explicar essas diferenças?] (Recorte do planejamento do
Professor/estudante YY)
O recorte acima apresenta a perspectiva investigativa assumida pelo
professor/estudante ao organizar as perguntas em quatro categorias distintas, com
possíveis modelos a serem utilizado para se trabalhar com o tema efeito estufa. A
partir de Specht (2017), visualizamos que as perguntas e a sua sistematização
revelam que os questionamentos realizados pelo grupo de professores podem ser
associados ao conhecimento inicial manifestado através da dúvida de cada
participante. Nesse sentido, o autor destaca que essas dúvidas "podem representar
perspectivas diferentes sobre o objeto de estudo, pois a realidade se apresenta de
diferentes formas para cada espírito humano" (EPECHT, 2017, p. 23). Desse modo,
percebemos que os referidos questionamentos cocriados possibilitam a cada sujeito
buscar distintas compreensões em torno dos temas em estudo.
Compreendemos que esses temas, a partir da sistematização das
perguntas, também são formas investigativas de operar os fenômenos do efeito
estufa. Essa possibilidade acontece ao se pensar em um plano de ensino para o
contexto escolar em que estamos envolvidos, debatendo-o no grupo de professores
em formação. Assim, há um processo planejado que inclui ativamente as ações
conjuntas de todos os envolvidos, as conversas escritas no chat e as indagações
promovidas a partir do que se sabe. Ao mesmo tempo, isso produz e provoca
inferências, conexões e interconexões que levam ao raciocínio e à aprendizagem de
conceitos em um processo de aperfeiçoamento das compreensões mais complexas
do que as iniciais.
A partir de Specht (2017), existem outras perspectivas para uso dos
questionamentos em sala de aula, como por exemplo, as perguntas que podem
auxiliar os professores no desenvolvimento de diagnósticos avaliativos. Nesse
sentido, o autor afirma que "quando o estudante avança no conhecimento, surgem
novas perguntas e se pode perceber, por meio das perguntas formuladas um nível
de complexificação maior desse conhecimento” (EPECHT, 2017, p. 27). Assim,
visualizamos que o processo investigativo pode ser desencadeado com as

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perguntas do coletivo, ao se oportunizar que cada participante explore o tema de


estudo, em suas diferentes perspectivas e formas de comunicação.
A fim de compreender o que tinha acontecido nessa aula de formular
perguntas, foi proposto ao grupo desenvolver um relato escrito que expressasse os
seus pensamentos, ações e sentimentos envolvidos nas referidas atividades.
Fizemos um recorte das escritas de dois professores, identificados como professor
XX e YY, como citado abaixo.
Professor XX - A aula foi de grande aprendizagem utilizando a simulação,
facebook e google drive. Onde percebi que a interação não é apenas
possível em uma aula presencial, aula a distância abre possibilidades às
vezes de muito mais interação e participação, pois, na aula presencial era
difícil registrar todas as perguntas dos colegas e escrever textos
colaborativos. Em relação a simulação foi importante cada um de nós poder
manusear a simulação de jeito que bem entender, e não apenas esperar
que o professor demonstre no data show, assim nós deu a oportunidade de
formular e testar hipóteses. Foi o que gerou um volume de questionamentos
e reflexões maior do que uma aula presencial. Adoraria mais aulas assim.
Até pela distância, estando em casa estou mais disposto. Professor YY -
Primeiramente, vem a sensação de surpresa por nunca ter participado de
uma aula dessa forma. Em seguida, imprimi as orientações e baixei o
simulador para conhecer melhor. O simulador eu já conhecia, mas não tinha
utilizado com mais detalhes. A atividade foi bastante interessante, eu aqui
na cidade xx consegui sistematizar muitas dúvidas lendo as perguntas dos
colegas via Facebook. A forma mostra que mesmo a distância conseguimos
interagir e problematizar várias questões em relação ao tema, efeito estufa.
Penso que a interação a partir da problematização do fenômeno não ficou
aquém de uma aula presencial
Entre os itens destacados nestes dois diálogos acima, apontamos: a
importância do professor ter um tempo para manusear e compreender o próprio
funcionamento do simulador; a admiração pela quantidade de questionamentos e
reflexões emergentes nessa aula online; a surpresa quando utilizamos a tecnologia
digital em atividades de formação de professores, mesmo quando essa ferramenta
já faz parte de nosso cotidiano; o desafio de cocriar atividades geograficamente
distantes.

Considerações Finais

Significamos com a construção desse artigo que foram as ações de cada


professor, que ao construir questões, expuseram os seus modelos explicativos. A
comunicação desses modelos constituiu a forma de colaborar com os demais
colegas na construção da experimentação com o uso do simulador do efeito estufa,
nesse contexto online. Dessa forma, cada um de nós, professores, assume-se como
um sujeito ativo interconexo com a aprendizagem colaborativa. Portanto,
consideramos importante ressaltar que todos os envolvidos no processo “não só
trazem o seu conhecimento existente como crenças, habilidades, mas também
trazem sua própria forma de construir novos conhecimentos” (WINER et al. 2000, p.
50). Além disso, visualizamos que as construções das comunicações aconteceram
associadas à experiência de cada participante.
Sendo assim, emergem como desafio de futuras interlocuções, o registro e a
análise do ocorrido com os colegas professores frente a possível implementação de
seus planejamentos em seus contextos escolares, a partir das atividades
vivenciadas nessa aula relatada. Outra questão instigante, que pode suscitar

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diferentes compreensões é a complexidade dos questionamentos, que nos inquieta


a sistematizar e desenvolver uma análise mais aprofundada sobre a interpretação
das perguntas elaboradas pelo coletivo de professores.
Referências
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HECKLER, Valmir. Experimentação em Ciências na EaD: indagação online com
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