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O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: COMO AJUDAR NO DESENVOLVIMENTO

DE CRIANÇAS AUTISTAS

Joice Kelly de Andrade Galvão

INTRODUÇÃO

Em 2013, com o lançamento do DSM-5 o TEA passou a ser classificado como um


transtorno do neurodesenvolvimento, e se caracteriza por déficits persistentes na
comunicação e interação social, bem como pela presença de padrões restritos e repetitivos
de comportamentos e interesses. Dentre os prejuízos na comunicação estão, déficits na
reciprocidade socioemocional, dificuldade para estabelecer uma conversa normal, déficits
nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, como gestos
e expressão facial, dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas e em fazer
amigos. Já nos sinais dos padrões repetitivos de comportamento estão, movimentos
motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos e adesão inflexível a rotinas
ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal. Os sintomas devem se
apresentar precocemente no período de desenvolvimento, e causam prejuízos clinicamente
significativos nas interações sociais do indivíduo, que não são explicados por atraso global
do desenvolvimento ou por prejuízos na inteligência [1].

O autismo, em um dado momento, já foi considerado uma condição rara. Entretanto,


atualmente, sabe-se que as crianças autistas podem apresentar diferentes graus do
espectro, o que acaba tornando o transtorno mais comum. Como se trata de um espectro, o
DSM-5 determinou-se três níveis de gravidade do TEA:

- O Nível 1 necessita de suporte, apresenta dificuldade em iniciar interações sociais, pode


apresentar respostas atípicas para abertura social, dificuldade para trocar de atividades
gerando dificuldade de independência por problemas com a organização e o planejamento.

- O Nível 2 necessita de suporte substancial, possui déficits na conversação, aflição para


mudar o foco ou a ação, e os prejuízos são aparentes apesar do suporte.

- O Nível 3 necessita de suporte muito substancial, apresenta graves prejuízos no


funcionamento, abertura social muito limitada, com repostas mínimas a interação,
dificuldade extrema de lidar com mudanças e grande aflição para mudar o foco ou a ação
[1].

Em relação ao aumento de diagnósticos existem algumas teorias na literatura, sendo


a mais controversa a que relaciona esse aumento à vacina tríplice viral. Já as propostas
menos controversas incluem como causas as mudanças nos critérios de diagnóstico do
autismo, o aumento dos serviços de autismo e a crescente conscientização da doença [2].

No entanto, o diagnóstico precoce, o diagnostico diferencial, as mudanças nos


critérios diagnósticos e a inclusão de casos mais leves não explicam completamente o
aumento observado. Talvez haja aspectos que ainda não foram quantificados e que estão
causando um aumento real na incidência do autismo [3].

Dentre as noções mais aceitas é que o aumento da prevalência se deve a múltiplos


fatores. São necessárias portanto, mais pesquisas que utilize critérios diagnósticos comuns
e instrumentos de avaliação padronizados. Pois a menos que os pesquisadores consigam
controlar os critérios de diagnóstico usados anteriormente, as comparações dos dados
atuais com os anteriores não são confiáveis ao confirmar um aumento na prevalência [2].
Portanto, para resolver esse debate, os pesquisadores são incentivados a padronizar os
critérios de diagnóstico e tentar determinar estimativas de prevalência no passado usando
os atuais sistemas de diagnóstico. No entanto, ainda há outros fatores envolvidos que são
mais difíceis de controlar nos estudos de prevalência, como conscientização sobre o
autismo por exemplo [4].

Independentemente das causas, a crescente prevalência de autismo pressionou o


campo da pesquisa, contribuindo para gerar muitas teorias preditivas e produtivas sobre o
autismo [2]. E como pode-se observar, os mitos e discussões a respeito do TEA são muitos.
Por isso, neste e-book apresentaremos dados, fatos e informações sobre o transtorno, além
de mostrar maneiras como psicoterapeutas, profissionais da saúde ou até mesmo os pais
de autistas podem atuar auxiliando no desenvolvimento dessas crianças.

FATOS SOBRE O TEA

O TEA não se apresenta numa linearidade, ou seja, os sintomas não surgem de


modo igualitário em todas as pessoas com o transtorno. Frente a isso, ainda não há como
utilizar-se de uma fórmula para ratificar e evidenciar sintomas pertinentes ao autismo.
Portanto, quando se trata de autismo sabemos que as características e comportamentos
emitidos por cada indivíduo, serão peculiares pois irá variar de acordo com a gravidade e o
nível de comprometimento [5]

Epidemiologia

A estimativa é que em todo mundo, há a proporção de uma em cada 160 crianças


com TEA. No entanto, essa estimativa representa um valor médio, havendo grande variação
dentre os estudos, onde algumas pesquisas com alto grau de controle relatam números
significativamente mais elevados. Contudo a prevalência do autismo em países de rendas
baixa e média são até o momento desconhecidas, o que pode elevar ainda mais essa
proporção [6]

Causas

Evidências científicas disponíveis sugerem que há muitos fatores que tornam uma
criança mais propensa a ter um TEA, incluindo fatores ambientais e genéticos. Além disso,
os dados epidemiológicos concluem que não há evidência de uma relação causal entre a
vacina contra caxumba, sarampo, rubéola e o TEA. Apesar de existirem estudos que
sugerem essa ligação causal, as pesquisas que levavam a essa ligação possuem erros
metodológicos, que acabam por invalidar os dados e conclusões alcançados [6]

Direitos

No Brasil, os direitos da pessoa autista são garantidos pela Lei 12.764/12, conhecida
como Lei Berenice Piana. Trata-se de uma lei que prevê desde as diretrizes da Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista até os
direitos conferidos propriamente ditos.

Em relação as diretrizes previstas, podemos ressaltar a atenção integral às


necessidades de saúde, objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional
e o acesso a medicamentos e nutrientes; o estímulo à inserção da pessoa com transtorno
do espectro autista no mercado de trabalho; e o estímulo à pesquisa científica, com
prioridade para estudos epidemiológicos tendentes a dimensionar a magnitude e as
características do problema relativo ao transtorno do espectro autista no país. Já em
relação aos direitos conferidos à pessoa com TEA está previsto por exemplo o acesso a
ações e serviços de saúde, incluindo o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo, o
atendimento multiprofissional, a nutrição adequada e a terapia nutricional, os medicamentos
e as informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento [7].

INCLUSÃO ESCOLAR

Quando a idade escolar se aproxima, os cuidadores iniciam uma busca por


uma instituição de ensino que acolha e forneça condições na qualidade de ensino para que
a criança possa desenvolver seus potenciais. Em cuidadores de crianças com TEA essa
busca não se difere, no entanto, ainda há muitas escolas que não estão preparadas, tanto
estruturalmente quando pedagogicamente para recebê-las [8].

Sabe-se que pessoas com TEA são frequentemente sujeitas à estigmatização, seja
com discriminação ou violações de direitos humanos, onde globalmente, o acesso aos
serviços e apoio para essas pessoas é inadequado [6] No entanto, em 1988, com a
promulgação da Constituição Federal do Brasil (CFB), a educação passou a ser um direito
de todos, independente de raça, etnia, deficiência, religião. Ter acesso a ela é, portanto,
exercer sua cidadania [9]. Já em 1996, houve a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN), que assegura a educação infantil, tida como a primeira
etapa da educação básica, sendo dividida em creches e pré-escolas, para idades de zero a
três anos e quatro a cinco anos, respectivamente [10]. E é justamente nesse contexto onde
as crianças com TEA necessitam de uma atenção diferenciada, tendo em vista observar
comportamentos que auxilie no diagnóstico precoce, como também na intervenção caso o
diagnóstico esteja concluído.

Porém cabe ressaltar que a matrícula de uma criança com TEA em uma escola de
ensino regular e a frequência escolar não podem ser consideradas como práticas inclusivas
[8]. Pois inserir um aluno com deficiência em uma sala de aula de ensino regular sem a
oferta de recursos que possibilitem o enfrentamento de situações de forma funcionalmente
competente não é suficiente [11].

Sabendo-se que cada criança, seja típica ou atípica, apresenta características


únicas, a prática de ensino deve ser voltada para atender tais singularidades, possibilitando
que todos os alunos alcancem êxito em sua vida escolar [8]. Ou seja, é de extrema
importância que o professor atue verdadeiramente como um facilitador do processo de
aprendizagem, com um olhar atento para com seu aluno, tanto nas características
cognitivas quanto em aspectos afetivos-emocionais [12].

No âmbito escolar, portanto, é dever das instituições de ensino capacitar seu corpo
docente, no intuito de ofertar um ensino de qualidade, visando o desenvolvimento cognitivo
e intelectual de igual para igual, numa perspectiva inclusiva e não de isolamento [8].
Espera-se então que a escola esteja preparada para receber alunos com transtornos do
desenvolvimento, como o autismo. Além disso, espera-se também que a inserção dessas
crianças ocorra sem preconceitos, levando em consideração nesse processo o histórico
familiar e os valores que toda criança traz consigo desde o nascimento [13]. Sendo assim,
torna-se dever do professor da educação infantil inseri-lo e mediar o desenvolvimento
cognitivo, intelectual e social dessa criança, além de promover interação em sua sala de
aula para que a criança sinta-se envolvida e adequar a sala de maneira organizada para
recebe-lo da melhor forma, pois um ambiente adequado fornece maior conforto e
comodidade ao professor para acompanhar seu aluno [8].
A criança com TEA no contexto escolar, deve ser, portanto, reconhecida e
respeitada como um ser em constante desenvolvimento, que necessita de mediação e
promoção de atividades que o envolvam de forma lúdica e com respeito [14].

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS

No âmbito da educação escolar o uso das intervenções pedagógicas utilizando a


tecnologia tem a finalidade de possibilitar as pessoas com deficiência o acesso e auxiliar no
processo de inclusão [8]. Sendo assim, softwares educacionais podem ser entendidos como
programas elaborados para atender as necessidades do processo de aprendizagem, sendo
assim devem possuir objetivos pedagógicos. [15]. Portanto, no âmbito da educação escolar
o uso das intervenções pedagógicas utilizando a tecnologia tem a finalidade de possibilitar o
acesso as pessoas com deficiência e auxiliar no processo de inclusão [8]. Podem ainda,
servir como mediadores no processo de aprendizagem, entre o conteúdo e o professor, pois
contribuem para o desenvolvimento de habilidades e competências como atenção e
raciocínio lógico através da interação, da motivação e da descoberta [16].

No entanto, vale ressaltar que não são todos os jogos que podem ser utilizados com
fins educacionais ou cognitivos, pois existem necessidades especificas que nem sempre
são atendidas. Essas lacunas nos jogos podem causar um efeito contrário ao desejado, e
acabar causando efeitos indesejados na criança, como incômodos ou distrações sonoras e
visuais [17]. Neste sentido, os jogos eletrônicos adaptáveis ou planejados para crianças
com necessidades especiais são grandes aliados na ampliação das habilidades cognitivas,
pois possibilitam a interação de acordo com as condições de cada um, mediado por um
professor, psicólogo ou responsável [18].

Para a criança, o jogo é como um novo mundo, onde realiza descobertas, toma
decisões e utiliza sua criatividade, curiosidade e autoconfiança enquanto desenvolve a
capacidade intelectual e motora de forma prazerosa, divertida e dinâmica [18]. No entanto,
para que um jogo eletrônico possa ser utilizado para fins terapêuticos e/ou cognitivos, ele
deve ser capaz de capturar informações além dos escores normalmente disponíveis nos
jogos, pois informações adicionais como as dificuldades, o mapeamento dos passos e
decisões tomadas pelo jogador são de extrema importância para uma posterior análise do
profissional e direcionamento da intervenção[19].

Percebe-se até aqui a importância que um jogo digital pode ter para o
desenvolvimento, proporcionando a aprendizagem de forma didática e criativa. Em relação
às crianças autistas, jogos eletrônicos como o JADE proporcionam o estímulo de
habilidades necessárias para uma vida com qualidade na qual apresentem autonomia e
independência, dentro de um contexto de inclusão social [20]. Além disso, estudos mostram
que a tela sensível ao toque de um computador possui características que possibilitam a
autonomia e interconexões, viabilizando a potencialização da cognição da criança autista
[21].

O JADE Autism

O JADE é um jogo em formato de aplicativo gratuito que pode ser utilizado em tablet
ou smartphone. Foi desenvolvido com intuito de estimular funções cognitivas em crianças
com TEA, para isso utiliza como técnica a Aprendizagem por Tentativas Discretas, onde
realiza a associação de figuras que são divididas em cinco categorias, sendo elas animais,
alimentos, cores, letras e formas. O jogo está disponível para celulares e tablets com
sistema Android e iOS nos idiomas português, inglês e espanhol. Além disso, o jogo é
ligado a uma plataforma online, que coleta dados de forma automática enquanto a criança
joga. O acesso a essa plataforma é vendido a pais e terapeutas através do site do jogo e
fornece dados através de relatórios gráficos acerca do desempenho da criança. Cada
gráfico disponível nos fornece informações valiosas para o tratamento dessas crianças, que
podem se utilizados por profissionais de diversas áreas.

Tela Inicial

A tela inicial fornece as opções de jogar, resultados, informações sobre o app e


contato com os desenvolvedores. Ao clicar em jogar a criança é apresentada a tela das seis
categorias do jogo como pode ser observado abaixo na Figura 1.

Figura 1. Tela inicial e tela com as seis categorias do app JADE Autism.

Dentro de cada categoria, as atividades são divididas em levels, iniciando no mais


fácil e seguindo uma ordem crescente de dificuldade. Os levels só são desbloqueados de
acordo com o desempenho da criança, como pode ser observado na Figura 2.
Figura 2. Tela ao entrar em uma categoria, contendo os levels e as atividades da categoria
alimentos do app JADE Autism.

Dicas e Reforços

O jogo conta com uma tela de aviso quando a criança não toca primeiro no item da
fileira superior, como pode ser observado abaixo na Figura 4., além disso conta com um
som de ficha caindo como reforço positivo a cada acerto e com uma música de fundo
durante todo o jogo. No entanto, pensando que algumas crianças com TEA poderiam se
incomodar com os sons, na parte superior da tela há a opção de desativar ambos os sons,
tornando o jogo totalmente visual.

Figura 4. Tela de aviso e opções de idioma e efeitos sonoros do app JADE Autism.

Atividades de associações simples - Aprendizagem sem erro

Inicialmente o jogo utiliza do método de aprendizagem sem erro, que se refere a um


conjunto de procedimentos de ensino que resultam em desempenhos precisos ou com
pouco erro. Ou seja, são contingências programadas que resultam na maioria das vezes em
sucesso, como pode ser observado na Figura 5.
Figura 5. Tarefas de associações simples da categoria de alimentos do app JADE Autism.

A aprendizagem sem ou com poucos erros é uma metodologia significativa para


indivíduos com baixa tolerância à frustração ou com atraso no desenvolvimento, pois os
erros, mesmo que ocasionais, podem interferir na aprendizagem de novas tarefas, gerando
comportamentos de esquiva da tarefa como por exemplo, recusa em responder e respostas
emocionais, como agitação motora, expressões faciais de aflição e desagrado [22].

Atividades de associações duplas, triplas e quadruplas – Atenção dividida e alternada

Já nas tarefas de associações duplas, triplas e quadruplas, inicia-se o treino de


atenção, onde a criança deve combinar as figuras da fileira superior com a fileira inferior,
como pode ser observado na Figura 6. Assim como no jogo da memória a criança combina
pares, no entanto as figuras estão todas visíveis pois a atenção é uma habilidade pré-
requisito para memória. A atenção enquanto processo cognitivo envolve mecanismos
responsáveis pela seleção, inibição, alternância e sustentação de estímulos. A atenção
dividida indica a capacidade de um indivíduo para procurar dois ou mais estímulos
simultaneamente, já a atenção alternada, se refere a capacidade de uma pessoa em focar
sua atenção e selecionar ora um estímulo, ora outro [23].

Figura 6. Tarefas de associações duplas e triplas da categoria de alimentos do app


JADE Autism.

Atividade de habilidades visuoperceptivas

Estas tarefas, exigem que a criança reconheça detalhes essenciais da figura da


fileira superior, como a sombra ou elementos que faltam, para realizar a combinação com a
figura da fileira superior. Dessa forma, treina a inteligência não-verbal, ou seja, a
capacidade de realizar tarefas que dependem de funções não-verbais, como o raciocinio
analógico, a organização perceptual, concentração e compreensão de padrões [24] [25].
Figura 7. Tarefas de habilidades visuoperceptivas da categoria de alimentos do app JADE
Autism.

Atividades de Abstração – Essas tarefas requerem que a criança abstraia as


informações visuais dos objetos e identifique a forma geométrica das figuras. A abstração
se expressa possivelmente no momento da construção das regras que relacionam os
elementos ou atributos. Em itens com figuras geométricas, um elemento é caracterizado por
vários atributos, por exemplo, forma, cor, inclinação, tamanho. Geralmente, essa relação
deve ser feita considerando-se um atributo e ignorando outros, por exemplo, quando se têm
figuras com formas diferentes, mas cores iguais. Isso corresponde à abstração, uma vez
que a semelhança se baseia apenas em uma parcela da percepção (cor) e não na
configuração global (forma + cor). Ela é importante, pois permite considerar semelhanças e
diferenças entre os estímulos por meio de conceitos abstratos, e não por meio de aspectos
perceptuais concretos [26].

Figura 8. Tarefas de percepção visual da categoria de Formas do app JADE Autism.


Atividades de Flexibilidade mental – Exige que a criança realize a leitura e a
contagem de unidades. Alternando a regra entre essas tarefas, treinando assim a
capacidade flexibilidade mental, geralmente uma função em déficit nas crianças com TEA. A
capacidade de flexibilidade mental é fundamental para gerar soluções alternativas, pois
permite reconhecer que há mais de uma solução ou abordagem para uma mesma tarefa.
Um prejuízo nesta habilidade pode resultar na incapacidade de compreender informações
que se tornam cada vez mais complexas e que envolvem conceitos que se baseiam uns
nos outros, como por exemplo a matemática [27].

Figura 9. Tarefas de flexibilidade mental da categoria de Números do app JADE Autism.

Tela de resultados

Na tela de resultados é apresentado o total de erros acertos agrupados e separados


nas seis categorias, além do tempo gasto em cada categoria. Ao clicar na categoria, é
apresentada uma segunda tela contendo o número de erros e acertos por level e o tempo
gasto, possibilitando uma análise mais detalhada.

Figura 10. Tela de resultado geral e específico por categoria do app JADE Autism.

Como dito anteriormente, o jogo é conectado a uma plataforma online que fornece
os dados coletados de forma automática enquanto a criança joga. O acesso a essa
plataforma é vendido a terapeutas através do site do jogo e fornece dados através de
relatórios gráficos acerca do desempenho da criança, que são analisados por meio de Data
Science. Ou seja, os dados são coletados de forma automática enquanto a criança joga e a
partir destes relatórios torna-se possível comparar o desempenho da criança desde o início
do uso do aplicativo, desde o último mês e última semana. Os relatórios fornecidos são:
média de tempo de primeiro toque, média de toques até a conclusão, média de acerto por
erros, média de erros repetidos, média de tempo por fase, toques fora de contexto, acertos
seguidos e desistências. Todos os relatórios possuem a opção de demonstração detalhada
por categoria da fase, como cores, alimentos ou números e letras.

GRÁFICOS

Média de acerto por erros – Esse gráfico indica o desempenho da criança de forma
geral através da quantidade de acertos e a quantidade de tentativas. No gráfico detalhado é
possível visualizar o número exato de tentativas, erros e o percentil de acertos em cada
categoria. Com estes dados, o profissional pode realizar uma primeira análise, onde
identificará a categoria que a criança apresenta maiores dificuldades e suas
potencialidades, podendo direcionar os próximos passos de análise mais especifica, como
atividade ou habilidade necessária dentro de determinada categoria e/ou outras
intervenções que se façam necessárias para além do JADE. Na Figura 11 temos um
exemplo de gráfico com uma breve análise.
Figura 11. Gráfico Média de Acerto por Erros da plataforma JADE Autism.

Nesse gráfico podemos notar que essa criança mantém um ritmo que varia entre 2 e
6 acertos por erro, no entanto há dois picos de 17 acertos por erro. Esse dado deve ser
analisado com maior atenção, pois podem ser dados de outra pessoa que jogou, como um
irmão ou responsável, ou podem ser acertos em atividades das categorias de Letras e
Números, ou da categoria de Cores, que são as categorias que a criança apresenta maior
índice de acertos como pode ser observado no gráfico detalhado. Além disso, um melhor
desempenho nessas categorias – Letras e números e Cores – nos indica que essa criança
tenha maior facilidade em realizar tarefas visuais simples, ou seja, que não contém muitos
detalhes distratores.

Média de tempo de primeiro toque – O gráfico de média de tempo de primeiro


toque nos possibilita avaliar a impulsividade da criança frente a atividade proposta. A
impulsividade diz respeito a propensão a reações rápidas e não planejadas a partir de
estímulos, sejam eles externos ou internos, sem que sejam consideradas as consequências
negativas que podem decorrer dessa ação [28]. No exemplo a seguir na Figura 12 podemos
observar que apesar da oscilação de tempo, a criança não apresenta sinais de
impulsividade, onde tende a manter um tempo médio de resposta de 5 segundos. Já no
gráfico detalhado observamos que o tempo de resposta mais rápido ocorre na categoria de
formas.
Figura 12. Gráfico Média de Tempo de Primeiro Toque da plataforma JADE Autism.

Média de tempo por fase – Velocidade de processamento é a capacidade de


realizar rapidamente tarefas simples que necessitam manter a atenção. Sendo assim, pode
ser definida como a velocidade de conclusão de uma tarefa com precisão considerável [29].
Como no JADE a criança só passa de fase quando obtém sucesso em todas as tarefas,
esse gráfico avalia a velocidade de processamento de forma fidedigna. Geralmente as
avaliações de velocidade de processamento incluem tarefas diversificadas, como associar
rapidamente os números com símbolos, como por exemplo nas atividades da categoria de
números. No exemplo ilustrado na Figura 13 pode-se observar que à medida que a criança
joga e evolui no jogo a média de tempo por fase aumenta. Isso se deve ao aumento de
dificuldade das fases, portanto o terapeuta deve ficar atento as possíveis dificuldades que a
criança possa apresentar para possivelmente intervir, oferecendo dicas ou reforço.
*O gráfico detalhado não está abrindo desde novembro.

Figura 13. Gráfico Média de Tempo por Fase da plataforma JADE Autism.

Desistências – O comportamento de sair do jogo no meio de uma tarefa contabiliza


esse gráfico, caracterizando o comportamento de fuga, que ocorre quando um estímulo
considerado aversivo está presente e a pessoa se retira do ambiente [30]. No JADE, o
comportamento de fuga ocorre quando a criança quando se depara com uma tarefa díficil
sai do jogo. Recomenda-se que esse gráfico seja analisado em conjunto com os gráficos
média de acerto por erro e média de erros repetidos, pois permite uma análise mais ampla,
podendo verificar se a criança tende a desistir em tarefas que comete mais erros, por
exemplo.
Figura 14. Gráfico Desistências da plataforma JADE Autism.

Na Figura 14 podemos verificar que o maior indice de desistência ocorre na


categoria de letras e números, seguido da categoria de cores. Ao fazermos uma análise
com os graficos sugeridos acima nota-se que essa criança desiste das fases que tem o
melhor desempenho, ou seja, o comportamento de fuga nesse caso, ocorre possivelmente
nas tarefas que não são atrativas por serem realizadas com facilidade.

Toques fora de contexto – Segundo o DSM-5 crianças com TEA apresentam sinais
e padrões repetitivos de comportamento como movimentos motores, uso de objetos ou fala
estereotipados ou repetitivos [1]. Esse gráfico além de fornecer informações sobre possíveis
movimentos motores repetitivos das crianças, pode também se referir a comportamento
disruptivo, como tocar fora das figuras para fugir da tarefa que está tendo dificuldade. O
gráfico da Figura 15. assim como o anterior tem um alto índice de desistência e toque fora
de contexto nas tarefas de letras e números e cores. Ou seja, indica que esses toques são
uma tentativa de fuga-esquiva da tarefa proposta. Esse dado pode servir de alerta para
esse tipo de comportamento em outras atividades do dia a dia da criança que não sejam
atrativas, como algumas tarefas escolares.
Figura 15. Gráfico Toques Fora de Contexto da plataforma JADE Autism.

Média de toques até a conclusão – Permite avaliar a evolução da criança,


considerando os toques fora de contexto, esse dado permite corroborar ou não com a
suspeita de comportamentos motores repetitivos, ou o uso deste comportamento como
tentativa de fuga da atividade proposta.
Figura 16. Gráfico Média de Toques Até a Conclusão da plataforma JADE Autism.

*O gráfico detalhado não está abrindo.

Média de acertos seguidos – Esse gráfico informa se a criança está


compreendendo e avançando de acordo com a crescente dificuldade das atividades.
Acertos seguidos em uma atividade que aumenta o nível de dificuldade e complexidade é
um importante dado, pois indica que o número de informações aumenta e a criança
consegue organizá-las mentalmente e obter sucesso na atividade. Na Figura 19
apresentada abaixo nota-se que o menor índice de acertos seguidos ocorre na categoria de
animais, esse fato se deve principalmente por ser uma categoria que há muitas alterações
nas tarefas, onde há opções além de combinações simples, com atividades de associações
de pegadas dos animais, sons, habitat e alimentos.
Figura 17. Gráfico Acertos Seguidos da plataforma JADE Autism.

Média de erros repetidos – Esse gráfico funciona como um sinal de alerta,


poiscaso a criança tenha um alto índice de erros repetidos, indica que ela não conseguiu
passar de uma determinada atividade, por exemplo passar do nível de associação de pares
para o nível de tarefas de completar figuras. Sendo assim, deve-se observar qual a
atividade em que o erro se repete e qual habilidade cognitiva ela exige para intervir ou voltar
algumas fases como treino.
.

Figura 18. Gráfico Média de Erros Repetidos da plataforma JADE Autism.

*O gráfico detalhado não está abrindo.


REFERÊNCIAS

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