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DE CRIANÇAS AUTISTAS
INTRODUÇÃO
Epidemiologia
Causas
Evidências científicas disponíveis sugerem que há muitos fatores que tornam uma
criança mais propensa a ter um TEA, incluindo fatores ambientais e genéticos. Além disso,
os dados epidemiológicos concluem que não há evidência de uma relação causal entre a
vacina contra caxumba, sarampo, rubéola e o TEA. Apesar de existirem estudos que
sugerem essa ligação causal, as pesquisas que levavam a essa ligação possuem erros
metodológicos, que acabam por invalidar os dados e conclusões alcançados [6]
Direitos
No Brasil, os direitos da pessoa autista são garantidos pela Lei 12.764/12, conhecida
como Lei Berenice Piana. Trata-se de uma lei que prevê desde as diretrizes da Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista até os
direitos conferidos propriamente ditos.
INCLUSÃO ESCOLAR
Sabe-se que pessoas com TEA são frequentemente sujeitas à estigmatização, seja
com discriminação ou violações de direitos humanos, onde globalmente, o acesso aos
serviços e apoio para essas pessoas é inadequado [6] No entanto, em 1988, com a
promulgação da Constituição Federal do Brasil (CFB), a educação passou a ser um direito
de todos, independente de raça, etnia, deficiência, religião. Ter acesso a ela é, portanto,
exercer sua cidadania [9]. Já em 1996, houve a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN), que assegura a educação infantil, tida como a primeira
etapa da educação básica, sendo dividida em creches e pré-escolas, para idades de zero a
três anos e quatro a cinco anos, respectivamente [10]. E é justamente nesse contexto onde
as crianças com TEA necessitam de uma atenção diferenciada, tendo em vista observar
comportamentos que auxilie no diagnóstico precoce, como também na intervenção caso o
diagnóstico esteja concluído.
Porém cabe ressaltar que a matrícula de uma criança com TEA em uma escola de
ensino regular e a frequência escolar não podem ser consideradas como práticas inclusivas
[8]. Pois inserir um aluno com deficiência em uma sala de aula de ensino regular sem a
oferta de recursos que possibilitem o enfrentamento de situações de forma funcionalmente
competente não é suficiente [11].
No âmbito escolar, portanto, é dever das instituições de ensino capacitar seu corpo
docente, no intuito de ofertar um ensino de qualidade, visando o desenvolvimento cognitivo
e intelectual de igual para igual, numa perspectiva inclusiva e não de isolamento [8].
Espera-se então que a escola esteja preparada para receber alunos com transtornos do
desenvolvimento, como o autismo. Além disso, espera-se também que a inserção dessas
crianças ocorra sem preconceitos, levando em consideração nesse processo o histórico
familiar e os valores que toda criança traz consigo desde o nascimento [13]. Sendo assim,
torna-se dever do professor da educação infantil inseri-lo e mediar o desenvolvimento
cognitivo, intelectual e social dessa criança, além de promover interação em sua sala de
aula para que a criança sinta-se envolvida e adequar a sala de maneira organizada para
recebe-lo da melhor forma, pois um ambiente adequado fornece maior conforto e
comodidade ao professor para acompanhar seu aluno [8].
A criança com TEA no contexto escolar, deve ser, portanto, reconhecida e
respeitada como um ser em constante desenvolvimento, que necessita de mediação e
promoção de atividades que o envolvam de forma lúdica e com respeito [14].
No entanto, vale ressaltar que não são todos os jogos que podem ser utilizados com
fins educacionais ou cognitivos, pois existem necessidades especificas que nem sempre
são atendidas. Essas lacunas nos jogos podem causar um efeito contrário ao desejado, e
acabar causando efeitos indesejados na criança, como incômodos ou distrações sonoras e
visuais [17]. Neste sentido, os jogos eletrônicos adaptáveis ou planejados para crianças
com necessidades especiais são grandes aliados na ampliação das habilidades cognitivas,
pois possibilitam a interação de acordo com as condições de cada um, mediado por um
professor, psicólogo ou responsável [18].
Para a criança, o jogo é como um novo mundo, onde realiza descobertas, toma
decisões e utiliza sua criatividade, curiosidade e autoconfiança enquanto desenvolve a
capacidade intelectual e motora de forma prazerosa, divertida e dinâmica [18]. No entanto,
para que um jogo eletrônico possa ser utilizado para fins terapêuticos e/ou cognitivos, ele
deve ser capaz de capturar informações além dos escores normalmente disponíveis nos
jogos, pois informações adicionais como as dificuldades, o mapeamento dos passos e
decisões tomadas pelo jogador são de extrema importância para uma posterior análise do
profissional e direcionamento da intervenção[19].
Percebe-se até aqui a importância que um jogo digital pode ter para o
desenvolvimento, proporcionando a aprendizagem de forma didática e criativa. Em relação
às crianças autistas, jogos eletrônicos como o JADE proporcionam o estímulo de
habilidades necessárias para uma vida com qualidade na qual apresentem autonomia e
independência, dentro de um contexto de inclusão social [20]. Além disso, estudos mostram
que a tela sensível ao toque de um computador possui características que possibilitam a
autonomia e interconexões, viabilizando a potencialização da cognição da criança autista
[21].
O JADE Autism
O JADE é um jogo em formato de aplicativo gratuito que pode ser utilizado em tablet
ou smartphone. Foi desenvolvido com intuito de estimular funções cognitivas em crianças
com TEA, para isso utiliza como técnica a Aprendizagem por Tentativas Discretas, onde
realiza a associação de figuras que são divididas em cinco categorias, sendo elas animais,
alimentos, cores, letras e formas. O jogo está disponível para celulares e tablets com
sistema Android e iOS nos idiomas português, inglês e espanhol. Além disso, o jogo é
ligado a uma plataforma online, que coleta dados de forma automática enquanto a criança
joga. O acesso a essa plataforma é vendido a pais e terapeutas através do site do jogo e
fornece dados através de relatórios gráficos acerca do desempenho da criança. Cada
gráfico disponível nos fornece informações valiosas para o tratamento dessas crianças, que
podem se utilizados por profissionais de diversas áreas.
Tela Inicial
Figura 1. Tela inicial e tela com as seis categorias do app JADE Autism.
Dicas e Reforços
O jogo conta com uma tela de aviso quando a criança não toca primeiro no item da
fileira superior, como pode ser observado abaixo na Figura 4., além disso conta com um
som de ficha caindo como reforço positivo a cada acerto e com uma música de fundo
durante todo o jogo. No entanto, pensando que algumas crianças com TEA poderiam se
incomodar com os sons, na parte superior da tela há a opção de desativar ambos os sons,
tornando o jogo totalmente visual.
Figura 4. Tela de aviso e opções de idioma e efeitos sonoros do app JADE Autism.
Tela de resultados
Figura 10. Tela de resultado geral e específico por categoria do app JADE Autism.
Como dito anteriormente, o jogo é conectado a uma plataforma online que fornece
os dados coletados de forma automática enquanto a criança joga. O acesso a essa
plataforma é vendido a terapeutas através do site do jogo e fornece dados através de
relatórios gráficos acerca do desempenho da criança, que são analisados por meio de Data
Science. Ou seja, os dados são coletados de forma automática enquanto a criança joga e a
partir destes relatórios torna-se possível comparar o desempenho da criança desde o início
do uso do aplicativo, desde o último mês e última semana. Os relatórios fornecidos são:
média de tempo de primeiro toque, média de toques até a conclusão, média de acerto por
erros, média de erros repetidos, média de tempo por fase, toques fora de contexto, acertos
seguidos e desistências. Todos os relatórios possuem a opção de demonstração detalhada
por categoria da fase, como cores, alimentos ou números e letras.
GRÁFICOS
Média de acerto por erros – Esse gráfico indica o desempenho da criança de forma
geral através da quantidade de acertos e a quantidade de tentativas. No gráfico detalhado é
possível visualizar o número exato de tentativas, erros e o percentil de acertos em cada
categoria. Com estes dados, o profissional pode realizar uma primeira análise, onde
identificará a categoria que a criança apresenta maiores dificuldades e suas
potencialidades, podendo direcionar os próximos passos de análise mais especifica, como
atividade ou habilidade necessária dentro de determinada categoria e/ou outras
intervenções que se façam necessárias para além do JADE. Na Figura 11 temos um
exemplo de gráfico com uma breve análise.
Figura 11. Gráfico Média de Acerto por Erros da plataforma JADE Autism.
Nesse gráfico podemos notar que essa criança mantém um ritmo que varia entre 2 e
6 acertos por erro, no entanto há dois picos de 17 acertos por erro. Esse dado deve ser
analisado com maior atenção, pois podem ser dados de outra pessoa que jogou, como um
irmão ou responsável, ou podem ser acertos em atividades das categorias de Letras e
Números, ou da categoria de Cores, que são as categorias que a criança apresenta maior
índice de acertos como pode ser observado no gráfico detalhado. Além disso, um melhor
desempenho nessas categorias – Letras e números e Cores – nos indica que essa criança
tenha maior facilidade em realizar tarefas visuais simples, ou seja, que não contém muitos
detalhes distratores.
Figura 13. Gráfico Média de Tempo por Fase da plataforma JADE Autism.
Toques fora de contexto – Segundo o DSM-5 crianças com TEA apresentam sinais
e padrões repetitivos de comportamento como movimentos motores, uso de objetos ou fala
estereotipados ou repetitivos [1]. Esse gráfico além de fornecer informações sobre possíveis
movimentos motores repetitivos das crianças, pode também se referir a comportamento
disruptivo, como tocar fora das figuras para fugir da tarefa que está tendo dificuldade. O
gráfico da Figura 15. assim como o anterior tem um alto índice de desistência e toque fora
de contexto nas tarefas de letras e números e cores. Ou seja, indica que esses toques são
uma tentativa de fuga-esquiva da tarefa proposta. Esse dado pode servir de alerta para
esse tipo de comportamento em outras atividades do dia a dia da criança que não sejam
atrativas, como algumas tarefas escolares.
Figura 15. Gráfico Toques Fora de Contexto da plataforma JADE Autism.