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Simulador PhET e Kahoot no estudo de

proporcionalidade: uma proposta de sequência didática


com utilização do modelo de Sala de Aula Invertida
Romario de Azeredo Gomes
Instituto Federal Fluminense – Campos dos Goytacazes
romariodeazeredo@hotmail.com

Resumo. Considerando as dificuldades observadas com a disciplina de


Matemática, especialmente diante da aplicação de regras desprovidas de
significação, bem como o perfil do aluno inserido na sociedade tecnológica, foi
elaborada uma proposta de pesquisa de caráter qualitativo, do tipo intervenção
pedagógica, com o objetivo de analisar as contribuições da utilização do
modelo de Sala de Aula Invertida no processo de ensino e aprendizagem de
proporcionalidade entre grandezas, explorando o simulador PhET e a
plataforma Kahoot. Espera-se que a proposta coloque os alunos como
protagonistas no processo educacional, em um ambiente de aprendizagem
envolvente que proporcione a construção do conhecimento.

Abstract. Considering the difficulties observed with the subject of Mathematics,


especially in view of the application of meaningless rules, as well as the profile
of the student inserted in the technological society, a qualitative research
proposal, of the pedagogical intervention type, was elaborated with the
objective of to analyze the contributions of using the Inverted Classroom model
in the teaching and learning process of proportionality between quantities,
exploring the PhET simulator and the Kahoot platform. It is expected that the
proposal places students as protagonists in the educational process, in an
engaging learning environment that provides the construction of knowledge.

1. Introdução

Muitos alunos apresentam aversão à Matemática diante da não compreensão dos


conteúdos ao longo da trajetória escolar, entretanto, é possível que essa disciplina se torne
instigante, divertida, e assim o pior dos mundos seja transformado em um lugar diferente
(SULEIMAN, 2015).
Diante das demandas da atual sociedade tecnológica e o perfil do aluno nela
inserido, percebe-se que os processos de ensino e aprendizagem tradicionais já não têm
oportunizado o envolvimento dos estudantes em sala de aula e, nesse cenário, o Ensino
Híbrido surge como alternativa (ANDRADE; SOUZA, 2016).
Entre os modelos de Ensino Híbrido está a Sala de Aula Invertida que, segundo
Valente (2018) é um tipo de metodologia ativa que coloca o aluno no papel ativo de busca
do conhecimento, exercendo sua liberdade de construtor dos próprios saberes, sendo uma
possibilidade pedagógica que contrasta com o ensino tradicional.
Considerando o exposto, bem como a necessidade de uma abordagem para que o
ensino de proporcionalidade entre grandezas que vá além da utilização de regras e
representações desprovidas de significação para os alunos (SILVESTRE, 2012), decidiu-
se desenvolver uma pesquisa com o objetivo de analisar as contribuições da utilização do
modelo de Sala de Aula Invertida no processo de ensino e aprendizagem do conteúdo
supracitado, explorando o Simulador PhET e a plataforma Kahoot. A proposta foi
estruturada com base na linha de pesquisa Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs), uma vez que está relacionada a analisar os impactos da utilização de TICs nos
processos educacionais.

2. Sala de Aula Invertida no processo educacional


O que os alunos faziam em sala de aula, como estudar uma determinada teoria,
agora passam a fazer em casa, enquanto o que costumavam fazer em casa, como tarefas
após estudo do conteúdo, agora fazem dentro da sala de aula, por meio de atividades
desafiadoras e colaborativas, com práticas diversificadas, como utilização de jogos,
projetos, atividades laboratoriais, entre outras. O conceito de Sala de Aula Invertida (SAI)
está atrelado a essa mudança descrita (BERGMANN; SAMS, 2016).
Dois aspectos são fundamentais para a implementação da SAI: a produção do
material para o trabalho online e o planejamento das atividades para realização na sala de
aula presencial. Apesar de vídeos serem bastante utilizados, é preciso verificar qual é a
tecnologia digital mais adequada de acordo com o os objetivos estipulados. Desta forma,
é importante integrar as tecnologias digitais de maneira pedagógica, entre as possíveis
utilizações estão animações, simulações, laboratórios virtuais, que podem ser
complementados com leitura (VALENTE, 2018).
Piaget e Vygotsky apoiaram o modelo construtivista e a SAI está relacionada à
criação de um espaço de aprendizagem mais ativo durante a aula. Neste modelo,

O aluno estuda o material antes da aula, anota suas dúvidas, reflexões e


conclusões. Os estudantes, entre si, podem trocar e esclarecer seus
apontamentos; a SAI oportuniza a comunicação entre os alunos. Ao
chegar na aula presencial o aluno já teve contato com o conteúdo
estudado. O professor, no início da aula presencial, responde a dúvidas
provenientes do material e de pesquisas. Logo após, o professor
aprofunda os conhecimentos que estão sendo trabalhados da forma em
que julgar mais relevante e significativa. Ele pode, por exemplo, utilizar
softwares educacionais, realizar experimentos práticos ou listas de
exercícios individuais ou em grupos. Alunos e professores dispõem de
mais tempo para preencherem as lacunas de aprendizagem de forma
individual ou coletiva. O professor pode caminhar pela sala, ouvir seus
alunos e orientá-los de forma individualizada respeitando o ritmo de
cada aluno tornando, assim, o aprendizado prazeroso e eficaz.
(CONFORTIN; IGNÁCIO; COSTA, 2018, p. 04).

Valente (2018) aponta algumas regras importantes para o sucesso da SAI, como
envolver questionamentos durante a aula, resolver problemas e outras atividades ativas
de forma a permitir que os alunos relembrem os conhecimentos aprendidos bem como
ampliem as capacidades, dar feedbacks nas tarefas executadas e estruturar o material de
forma clara e organizada a fim de minimizar dúvidas e oportunizar autonomia individ ua l
ou em grupo.
A utilização de tecnologias digitais é imprescindível para dinamizar as práticas de
da Sala de Aula Invertida, funcionando como pontes entre os professores e os conteúdos
a serem trabalhados, neste aspecto, é pertinente avaliar o uso de um Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) ao explorar tal modelo de Ensino Híbrido (BOTTENTUIT
JUNIOR, 2019).

2.1. Trabalhos Relacionados


Realizou-se uma busca de trabalhos relacionados à proposta de pesquisa entre os
dias de 26 e 27 de setembro de 2021, no Google Acadêmico, sendo selecionados três
artigos, os quais são descritos a seguir.
Bottentuit Júnior (2019) apresenta o modelo de sala de aula invertida e aplicativos
para dinamização de práticas pedagógicas. Destaca que combinar tecnologias e
metodologias ativas possibilita desenvolvimento de habilidades cognitivas aos alunos,
como também um maior conhecimento sobre as possibilidades da cultura digital no
processo de ensino e aprendizagem. Este trabalho se assemelha à proposta de pesquisa
por tratar da Sala de Aula Invertida enquanto metodologia ativa e do Kahoot como
potencial para incrementar tal prática. O que diferencia para pesquisa a ser feita é que se
pretende elaborar uma sequência didática explorando tal modelo, o que não ocorreu no
trabalho de Bottentuit Júnior (2019).
O artigo de Felcher et al. (2021) relata a utilização da Sala de Aula Invertida no
estudo do conteúdo polígono. Foi feita uma intervenção pedagógica com alunos do
Ensino Fundamental de uma escola pública que assistiram a vídeo-aulas, resolveram
exercícios e trabalharam com GeoGebra, material manipulativo, além de construíre m
planta baixa e cartazes virtuais. Os resultados indicaram que atividades diferenciadas
foram intermediadas pelo uso do celular e o uso de tecnologias digitais viabilizou a
metodologia de Sala de Aula Invertida, que permitiu o ensino em espaços além da sala de
aula. O trabalho de Felcher et al (2021) apresenta como pontos semelhantes a utilização
da Sala de Aula Invertida numa proposta didática como também o público alvo para
aplicação do material, alunos do Ensino Fundamental, enquanto as diferenças estão
relacionadas ao conteúdo estudado, sendo um, polígonos e outro proporcionalidade entre
grandezas, além do fato que se pretende explorar o Kahoot e Simulador PhET, o que não
aconteceu no trabalho relatado.
Confortin, Ignácio e Costa (2018) comentam sobre a aplicação de Sala de Aula
Invertida no estudo de ondas, com utilização de redes sociais como ferramenta para que
os alunos acessassem o conteúdo enviado previamente, antecedendo o momento de
presencial de aula. Os resultados obtidos mostraram que a aplicação do modelo escolhido
oportunizou a participação dos alunos no processo de aprendizagem, uma maior
autonomia desses sujeitos e maior interação dos alunos com a professora, bem como
benefícios no estudo do conteúdo de Física. Esse trabalho apresenta como ponto
semelhante à proposta de pesquisa o fato de utilizar a Sala de Aula Invertida em uma
sequência didática e os pontos que diferenciam são: a disciplina de aplicação e o público
alvo e os recursos utilizados na Sala de Aula Invertida.
3. Estratégia Tecnológica (Metodologia)

A pretensão é realizar uma pesquisa de caráter qualitativo, do tipo interve nção


pedagógica, com o intuito de analisar as contribuições da utilização do modelo de Sala de
Aula Invertida no processo de ensino e aprendizagem de proporcionalidade entre
grandezas, explorando o Simulador PhET e a plataforma Kahoot, sendo o público alvo
alunos do sétimo ano do Ensino Fundamental. A pesquisa qualitativa tem preocupação
com aprofundar a compreensão de um certo grupo social, em que um fenômeno está sendo
estudado, não sendo sua característica a preocupação com a representatividade numérica
(GERHARDT; SILVEIRA, 2009). A pesquisa do tipo intervenção pedagógica envolve o
planejamento e implementação de interferências no processo de ensino e aprendiza ge m
visando promover avanços, melhorias, nas práticas educacionais (DAMIANI, 2012).
Espera-se disponibilizar o material previamente na plataforma Schoology ou no
Google sites, contendo apresentação do conteúdo via canva, alguns vídeos, atividade de
verdadeiro ou falso com comentários das repostas de forma a fornecer feedback ao aluno
e, por fim, um jogo no Kahoot com o intuito de se verificar a aprendizagem da turma,
bem como para nortear a aula presencial com base no que foi observado nas respostas
atribuídas. No momento presencial, além do esclarecimento de dúvidas dos materiais
disponibilizados, pretende-se utilizar o simulador PhET (Figura 1), que como já foi
pesquisado, contém uma proposta bem interessante no que tange ao conteúdo de
proporcionalidade.

Figura 1. Uma das simulações de proporção no PhET.

Posteriormente, um questionário será aplicado aos alunos, via Google Forms, a


fim de se verificar alguns aspectos da sequência didática e os dados serão analisados com
base na fundamentação teórica explorada na pesquisa.

4. Resultados esperados
Com o trabalho a ser desenvolvido, espera-se proporcionar um ambiente de
aprendizagem envolvente, que contribua para a autonomia dos alunos e os coloque como
protagonistas do processo de ensino e aprendizagem. Espera-se também que o trabalho
possa ser utilizado por outros professores no que se refere ao conteúdo de
proporcionalidade entre grandezas, bem como inspirar outras propostas para abordagem
de conteúdos matemáticos.

5. Conclusão
Como apontado por Andrade e Souza (2016), é um grande desafio envolver os
alunos em sala de aula, considerando o perfil desses sujeitos na atual sociedade
tecnológica. Com a proposta de pesquisa, almeja-se alcançar resultados positivos diante
da utilização de tecnologias no processo educacional, explorando o modelo de Ensino
Híbrido de Sala de Aula Invertida.
Para trabalhos futuros, a pretensão é aplicar a sequência didática descrita e
continuar estudando outros modelos do Ensino Híbrido, buscando mais estratégias para
melhorias nos processos de ensino e aprendizagem.

Referências

ANDRADE, M. C. F.; SOUZA, P. R. Modelos de rotação do ensino híbrido: estações de


trabalho e sala de aula invertida. Revista E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial-
ISSN-1983-1838, Santa Catarina, v. 9, p. 3-16, 2016.
BERGMANN, Jonathan; SAMS, Aaron. Sala de aula invertida: uma metodologia ativa de
aprendizagem. Rio de Janeiro: LTC, v. 114, 2016.
BOTTENTUIT JUNIOR, João Batista. Sala de aula invertida: recomendações e tecnologias
digitais para sua implementação na educação. RENOTE, v. 17, n. 2, p. 11-21, 2019. Disponível
em: https://www.seer.ufrgs.br/renote/article/view/96583/54183. Acesso em: 27 set. 2021
CONFORTIN, Carolina Krupp Consul; IGNÁCIO, Patrícia; COSTA, Rosângela Menegotto.
Uma aplicação da sala de aula invertida no ensino de física para a Educação Básica. Revista
Educar Mais, v. 2, n. 1, 2018.
DAMIANI, M. F. Sobre Pesquisas do Tipo Intervenção. In: ENCONTRO NACIONAL DE
DIDÁTICA E PRÁTICAS DE ENSINO, 16., 2012, Campinas. Anais [...]. UNICAMP, 2012.
FELCHER, Carla Denize Ott et al. O uso da sala de aula invertida para ensinar
polígonos. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, v. 12, n. 1, p. 1-18, 2021. Disponível
em: https://www.researchgate.net/profile/Renata-Soares. Acesso em: 27 set. 2020.
GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. Editora da UFRGS, Porto alegre
v. 2, n. 0, p. 2, 2009. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf. Acesso em: 03 out. 2021.
SILVESTRE, Ana Isabel. O desenvolvimento do raciocínio proporcional: percursos de
aprendizagem de alunos do 6º ano de escolaridade . Tese (Doutorado em Educação) –
Universidade de Lisboa, Lisboa, 2012.
SULEIMAN, Amal Rahif. As concepções de alunos da 2ª série do ensino médio sobre as
dificuldades em matemática. Educação em Revista, v. 16, n. 2, 2015.

VALENTE, José Armando. A sala de aula invertida e a possibilidade do ensino personalizado:


uma experiência com a graduação em midialogia. Metodologias ativas para uma educação
inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, p. 26-44, 2018.

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