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A METODOLOGIA DE PROJETOS EM SALA DE AULA:

Uma experiência com educadores do Colégio Estadual Tancredo


Neves - EFM

Autora: Ivonete Barp Dias de Castro1


Orientadora: Profª. M.ª Solange Aparecida de O. Collares2

RESUMO

Este estudo teve por meta discutir a metodologia por projetos e contribuir para a construção de
atividades interdisciplinares de forma coletiva, bem como planejamento, execução e avaliação de
projetos na prática escolar. Consta do curso de formação presencial “A práxis da metodologia de
projetos na escola” que foi desenvolvido com docentes do Ensino Fundamental e Médio de várias
Escolas Estaduais do município de São João e do curso online “Grupo de Trabalho em Rede” (GTR)
e, também de entrevistas realizadas com docentes que participaram dessa formação, para
levantamento da percepção desses docentes sobre a metodologia de projetos. O objetivo foi
investigar as dificuldades sobre metodologia de projetos por alguns docentes nesta ação pedagógica
educativa e proporcionar discussões a respeito da metodologia, assim como despertar o interesse
dos docentes. A metodologia define-se como qualitativa. A teoria sustenta a prática docente de acordo
com ALMEIDA (2000), BARBOSA (2008), BEHRENS; ZEM (2007), FREIRE (2002), MELLO (2008),
MORIN (2003), NOGUEIRA (1998), PRADO (2004), que discutem a educação e o ensino
desenvolvido com projetos pedagógicos, cuja metodologia inclui interdisciplinaridade, consideração
com o contexto dos alunos, integração da equipe pedagógica da escola, entre outros aspectos. Como
resultados encontramos a percepção de professores que reconhecem a efetividade da metodologia
por projetos, mas também apontam obstáculos, tais como empenho redobrado de um número
significativo de educadores; maior interesse de todos os envolvidos, integração da equipe
pedagógica, escassez de recursos materiais, necessidade de engajamento da direção da escola.

Palavras Chave: Metodologia de projeto. Interdisciplinaridade. Aprendizagem.


Planejamento.

1. INTRODUÇÃO

O estudo sobre a metodologia de projetos tem como objetivo auxiliar e


conduzir os educadores na construção de projeto interdisciplinar no âmbito
educacional.
Assim, este artigo resulta da intenção de subsidiar os professores com
conhecimentos sobre a metodologia de projetos, de forma que os educadores

1
Professora PDE da área de Matemática do município de São João, Paraná. E-mail:
ivonetebarp@seed.pr.gov.br
2
Professora do Dep. de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Paraná, Mestre em
Educação. E- mail: solcollares@yahoo.com.br
tenham mais esse instrumento como opção de trabalho para fazerem frente às
diferentes demandas da escola.
No decorrer das atividades desenvolvidas que serão, a seguir, mencionadas,
foram elencadas as dúvidas encontradas pelos professores, bem como os passos
da metodologia de projetos na busca de contribuir para uma aprendizagem
significativa3 dos alunos.
Para elaboração desta pesquisa, foram realizadas atividades relacionadas ao
curso de intervenção pedagógica e Grupo de Trabalho em Rede (GTR), os quais
foram trabalhados junto a educadores da rede pública de ensino do estado do
Paraná, de modo a oportunizar reflexões acerca da prática docente, didática,
aprendizagem e as metodologias utilizadas, concomitante aos projetos
interdisciplinares e seus benefícios no processo contínuo de aperfeiçoamento
educativo.
Posto assim estes desafios, foi elaborado um projeto de implementação
integrando um conjunto de atividades, o qual resultou na oferta do curso para
educadores nas dependências do Colégio Estadual Tancredo Neves - EFM,
localizado no município de São João, jurisdição do Núcleo Regional de Educação de
Pato Branco/PR.
O curso, realizado de forma presencial, proporcionou oito encontros
totalizando uma carga horária de trinta e duas horas, do quais participaram dezoito
docentes do Ensino Fundamental e Médio de várias Escolas Estaduais do município
de São João. O curso de formação online “Grupo de Trabalho em Rede” (GTR),
ofertou vinte vagas para professores do quadro próprio do Estado do Paraná. Em
Ambos os cursos foram proporcionados momentos de leituras, participação nos
fóruns, dinâmicas e atividades visando conduzir os educadores à reflexão sobre a
pedagogia de projetos.
Registra-se ainda que, o conhecimento da pedagogia de projetos preconiza a
possibilidade de trabalhar conteúdos além do currículo escolar tradicional, de modo
a estabelecer a conexão com a realidade do aluno. Essa sistematização de novos

3
Aprendizagem Significativa é o processo pelo qual um novo conhecimento se relaciona de maneira
não arbitrária e não literal à estrutura cognitiva do estudante, de modo que o conhecimento prévio do
educando interage, de forma significativa, com o novo conhecimento que lhe é apresentado,
provocando mudanças em sua estrutura cognitiva (AUSBEL, 1973 apud SILVA; SCHIRLO, 2014, p.
38).
saberes, além de fortalecer o cenário educacional, também visa auxiliar os
profissionais da educação e instituições de ensino, capacitando-os a interagirem
com a família e com a sociedade na qual o educando se insere.

2. GESTÃO DE PROJETOS

A gestão de projetos em si, pode ser elencada como ferramenta para auxiliar
o processo de ensino-aprendizagem. Tal ponderação pode ser evidenciada devido
ao constante emprego dessa metodologia no trabalho com interdisciplinaridade.
Correlacionar os saberes pressupõe a união de conteúdos e disciplinas, de
modo a promover a construção de novos conhecimentos. Desse modo, trabalhar de
forma segregada pode representar um obstáculo ao desenvolvimento da
metodologia de projetos. Tal individualidade entre as disciplinas é discutida, por
Morin (2003):

Em vez de corrigir esses desenvolvimentos, nosso sistema de ensino


obedece a eles. Na escola primária nos ensinam a isolar os objetos (de seu
meio ambiente), a separar as disciplinas (em vez de reconhecer suas
correlações), a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar.
Obrigam-nos a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está
ligado; a decompor, e não a recompor; e a eliminar tudo que causa
desordens ou contradições em nosso entendimento (MORIN, 2003, p. 15).

Mas como trabalhar o projeto sem desvincular os conteúdos curriculares da


prática docente? Nessa perspectiva, a gestão de projetos se insere justamente para
nortear essa prática, a fim de ressignificar os conteúdos incorporados à realidade do
aluno e da comunidade escolar. Concomitante a esse processo, o educador deve
estar atento quanto à introdução de práticas pedagógicas que integrem as
disciplinas propostas e, investigar o interesse dos educandos e a viabilidade da
temática proposta.
Correlacionar conteúdos às próprias indagações dos educandos pode ser
uma das bases para elaboração de temas passíveis da execução de projetos. Unir
matemática a ciências para ensinar sobre a água, seu percentil na distribuição nos
biomas, seres vivos e sua importância para a vida, pode ser trabalhado junto à
unidade de captação local de água do município, onde podem ser feitas pesquisas
da qualidade dela, construção de gráficos, ou seja, abrir portas para uma infinidade
de correlações, conectando o aluno a sua realidade, eis a relevância da prática dos
projetos quando adequadamente aplicada.
Embora os recursos sejam limitados, o curso referente à metodologia de
projetos resgatou o desejo de retomar essa prática junto aos educandos. Nogueira
(1998, p. 94), descreve o trabalho dos projetos junto aos educandos:

Um projeto temático não precisa ser desconectado da programação


acadêmica. Ele pode e até deve ser programado e proposto juntamente
com os alunos, de tal forma a intensificar o processo de aprendizagem dos
conteúdos e, principalmente, possibilitar diversificação de ações, formas e
vivencias que venham ainda propiciar uma amplitude de desenvolvimento
das diferentes competências [...] Na realidade, os projetos temáticos são
ferramentas que possibilitam uma melhor forma de trabalhar os velhos
conteúdos de maneira mais atraente e interessante [...].

Diante da observação do resgate da prática dos projetos, algumas


considerações acerca do papel da escola e da situação da comunidade devem ser
levadas em conta, como explicita a educadora a seguir.
Com efeito, Moura et. al (2009, p. 49), descreve algumas modalidades de
projetos, elencando o ensino e a aprendizagem. Independente da sua classificação,
os projetos devem coexistir de acordo com algumas diretrizes, ou seja, suas
dimensões fundamentais: “o planejamento e a execução”. Essas condicionantes são
essências, pois projetos podem não ser bem sucedidos devido à falta de um
planejamento eficaz em relação às possíveis adversidades encontradas no seu
desenvolvimento.
Barbosa e Horn (2008, p. 31), explicitam acerca da execução dos projetos
educacionais:

A proposta de trabalho com projetos possibilita momentos de autonomia e


de dependência do grupo; momentos de cooperação do grupo sob uma
autoridade mais experiente e também de liberdade; momentos de
individualidade e de sociabilidade, momentos de interesse e de esforço;
momentos de jogo e de trabalho como fatores que expressam a
complexidade do fato educativo.

As etapas estabelecidas em cada projeto presumem a interação entre os


partícipes, sendo essencial analisar as dimensões de cada um. Convém ponderar
que é difícil “medir” ou avaliar todas as etapas a serem vencidas. Nesse sentido,
Moura et al. (2009, p.51) propõem que coexistem “dimensões do tipo:
aprendizagem, conhecimento, habilidade, nível de satisfação desempenho
intelectual, valores éticos, morais, etc”.
Para se estabelecer um projeto escolar, é preciso que o educador tenha em
mente a correlação deste com os conteúdos, além de adequá-lo ao contexto
sociocultural da instituição educacional ao qual será implementado. Nesse sentido,
observa-se que,
Sem conteúdo não há ensino, qualquer projeto educativo acaba se
concretizando na aspiração de conseguir alguns efeitos nos sujeitos que se
educam. Referindo-se estas afirmações ao tratamento científico do ensino,
pode-se dizer que sem formalizar os problemas relativos aos conteúdos não
existe discurso rigoroso nem científico sobre o ensino, porque estaríamos
falando de uma atividade vazia ou com significado à margem do para que
serve (SACRISTÁN, 2000 apud PARANÁ, 2008, p. 24).

Por tais razões, destaca-se a necessidade de entender como os resultados


serão avaliados, pois infindas sistematizações podem ser obtidas por meio das
atividades realizadas, pesquisas, apresentações, dentre outras atividades
desenvolvidas.

2.1. Planejamento na prática educacional

Um dos elementos preponderantes para o planejamento é que o professor


conheça os conteúdos e identifique as competências a serem desenvolvidas com
seus alunos.
Por esse motivo, a formação do docente deve ser contínua, isto é,
permanente. Ela “deveria contemplar valores, padrões de comunicação, relações,
modos de condutas, hábitos” (RIBAS, 2001, p. 46). Em alguns casos, o professor,
por ter uma formação em investigação científica, pensa que esse conhecimento é o
único elemento necessário a sua práxis, esquecendo-se de que o aluno já possui um
conhecimento prévio, o qual foi construído ao longo de suas vivências. Agrupam-se
nessa condicionante, dezenas de alunos com diferentes experiências, estratos
sociais e condições de vida também distintas, ou seja, as turmas, especialmente da
escola pública, são heterogêneas. Essa heterogeneidade pode se constituir um fator
que dificulta a relação professor-aluno, levando o docente, em determinada situação,
a agir com postura autoritária, obstaculizando, assim, o ensino-aprendizagem.
Por outro lado, sabe-se que o conhecimento científico é importante para a
formação do profissional da educação, porém, por si só, não é suficiente para
garantir o professor como um profissional com qualidade. Há necessidade de
estratégias diferenciadas, a fim de que ocorra o ensino e a aprendizagem nas
instituições de ensino público. Nos cursos de formação, a teoria e a prática são
descontextualizadas do ambiente escolar, pois não levam a uma reflexão pelo fato
de a escola possuir diferentes realidades.
O professor que utiliza uma única estratégia de ensino-aprendizagem corre o
risco de não obter sucesso em seu trabalho, pois são múltiplas as opções que ele
pode utilizar para que viabilizar o diálogo entre as distintas formas de apreensão do
conhecimento por parte do aluno. Assim, a formação continuada possibilita a
construção do conhecimento, a apropriação dos saberes bem como uma reflexão
sobre sua prática coletivamente. Ela também vai enfatizar que o educador deve
sempre considerar a realidade social do aluno, conhecê-lo para melhorar o diálogo;
abrir-se para a afetividade e para a emoção no ato de ensinar e aprender, virtudes
que estão se perdendo nos cursos de formação e no trabalho do professor.
A ele também cabe organizar um trabalho envolvendo múltiplos “fatores”, para
pôr em prática o que foi planejado em cada aula, a fim de desenvolver
responsabilidade na utilização de ferramentas pedagógicas.
Para tanto, o professor deve se apropriar da criatividade com intuito de
potencializar as informações dos conteúdos por meio da metodologia de projetos,
aliando estes aos demais materiais utilizados, com o propósito de respaldar um
conjunto de condições necessárias para que o ensino e a aprendizagem se efetivem
“em processo”.
Estabelecer um roteiro com planejamento que designe os materiais, os
recursos humanos e físicos, além da infraestrutura adequada da entidade escolar,
bem como a disponibilidade de bibliografia e demais referências, representa uma
etapa fundamental para se estabelecerem estratégias na aplicação da metodologia
de projetos.
Dessa maneira, percebe-se a necessidade de o educador refletir sobre o
planejamento e a aprendizagem, procurando investigar sobre o conhecimento prévio
dos educandos relacionados à rotina escolar e, partir para a formulação de novos
desafios, tendo em vista a ampliação dos saberes e construção de novos conceitos
junto aos educandos.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 87), os quais
definem algumas das diretrizes para os projetos, “[...] o projeto educativo precisa ter
a dimensão de futuro, inerente ao ato de projetar, fazendo antecipações sobre as
formas de inserção dos alunos no mundo das relações sociais, das culturas e do
trabalho”.
O mesmo documento reitera que todos os envolvidos devem estar atentos
para rejeitar uma postura conformista e optar por mudanças necessárias para uma
educação que contemple os sujeitos com saberes que façam sentido a sua vivência.
Para tanto, a equipe escolar deve ter uma postura política e pedagógica a fim de que
ações educativas constituam não apenas o Projeto Político Pedagógico da Escola
no papel, mas se efetivem por meio de ações concretas na busca pelo
conhecimento alicerçado pela realidade da comunidade escolar.
Nesse contexto, existem vários encaminhamentos sobre os passos para
elaboração de projetos. Estes servirão para realizar as atividades ou planejamento.

Em educação, o planejamento implica para além do desejo, uma


sistemática do que se pretende. E a realidade é o primeiro aspecto a ser
considerado quando se planeja. O entendimento do contexto real em que se
encontra a disciplina, o curso, a escola é fundamental para o
desenvolvimento do trabalho pedagógico. (MELLO, 2008, p.75)

No encaminhamento do trabalho com projetos, o planejamento poderá ser


alterado no decorrer de sua realização, considerando que mudanças podem ser
imprescindíveis para uma boa direção da metodologia.
De acordo com Nogueira (1998, p. 153), um planejamento de um projeto
interdisciplinar “possui etapas clássicas, por meio de indagações, tais como: O quê?
Por quê? Para quê? Quando? Quem? Como?”.
Ao fazer tais indagações, os integrantes responsáveis pelo planejamento
devem ter nítido o conhecimento sobre a temática abordada, para que os
questionamentos apontem o público a ser contemplado, quais objetivos devem ser
traçados, como e quando operacionalizar as metas estabelecidas. Além disso,
devem ser distribuídas as competências a cada componente do projeto intentado, a
fim de que não ocorra sobrecarga nas atribuições e a participação seja satisfatória.
Além de reconhecer a temática a ser trabalhado, o espaço da escola, bem
como seus sujeitos devem ser analisados para que o projeto contemple também sua
realidade:

Um projeto educativo, nessa direção, precisa atender igualmente aos


sujeitos, seja qual for sua condição social e econômica, seu pertencimento
étnico e cultural e às possíveis necessidades especiais para aprendizagem.
Essas características devem ser tomadas como potencialidades para
promover a aprendizagem dos conhecimentos que cabe à escola ensinar,
para todos (PARANÁ, 2008, p. 15).
Como já citado anteriormente, conhecer a realidade do aluno e da
comunidade escolar é elemento fundamental e, passo inicial para a organização dos
projetos, a fim de que a proposta tenha significado diante do universo do educando.
Na construção dos itens do projeto, o tema representa um dos passos iniciais,
o qual de deve ser coletivamente definido. Exemplificando essa assertiva, uma
escola do campo deve trabalhar com temas correlatos à sua realidade e não com “a
mortandade de golfinhos na praia y”, pois não condiz com o ambiente do aluno que
vive no campo. Seria plausível contemplar os problemas oriundos dos agrotóxicos,
ou a qualidade da água, por exemplo. Porém, a investigação sobre temas que
interessem o aluno, precisa ser levada em consideração para que este se dedique e
agregue conhecimento acerca da proposição intentada.

3. O QUE É O PROJETO?

De acordo com o Mini Aurélio (FERREIRA, 2001, p. 561), a palavra projeto


denota um “plano, intento, empreendimento, redação preliminar de lei, de relatório,
etc, plano geral de edificação”. A designação de projetos é empregada nas mais
diversas áreas do conhecimento, sendo frequentemente associado ao
empreendedorismo, ligado a instituições financeiras.
Alguns aspectos devem ser levados em consideração, na elaboração de um
projeto, segundo Hernández (1998, p.61):

Os projetos constituem um “lugar”, entendido em sua dimensão simbólica,


que pode permitir:
a) Aproximar-se da identidade dos alunos e favorecer a construção da
subjetividade, longe de um prisma paternalista, gerencial ou psicologista, o
que implica considerar que a função da Escola NÃO É apenas ensinar
conteúdos, nem vincular a instrução com a aprendizagem.
b) Revisar a organização do currículo por disciplinas e a maneira de situá-lo
no tempo e no espaço escolares. O que torna necessária a proposta de um
currículo que não seja uma representação do conhecimento fragmentada,
distanciada dos problemas que os alunos vivem e necessitam responder em
suas vidas, mas sim, solução de continuidade.
c) Levar em conta o que acontece fora da Escola, nas transformações
sociais e nos saberes, a enorme produção de informação que caracteriza a
sociedade atual, e aprender a dialogar de uma maneira crítica com todos
esses fenômenos.

Assim, reitera-se que, independente da terminologia utilizada no ambiente


escolar, o projeto precisa ser estruturado por meio de planejamento, delimitando
prioridades para que os resultados sejam satisfatórios e o processo de ensino-
aprendizagem seja significativo. A escola, ao assumir a metodologia de projetos,
contempla uma gama de possibilidades de se trabalhar o currículo de forma
diferenciada.
Segundo Silva (2008, p.32), devemos pensar que,

[...] o currículo como portador, ao mesmo tempo, de uma razão que tem
privilegiado a adaptação, mas que, contraditoriamente, anuncia a
possibilidade de emancipação, permite tomar a escola como depositária das
contradições que permeiam a sociedade. Possibilita localizar, nela, as
relações entre indivíduos e sociedade como relações historicamente
construídas e conceber, ainda, que as escolas não são simplesmente alvos
das proposições externas, presentes, por exemplo, nas reformas
educacionais. Desse modo, na análise das políticas educacionais em geral,
e das políticas curriculares, em particular, é preciso considerar que a escola
não está, tão-somente, à mercê dos interesses da economia ou do Estado,
o que exige que as inter-relações entre diferentes instâncias (Estado,
economia, escola) sejam consideradas a partir das inúmeras mediações
que se interpõem entre elas.

Para tanto, o currículo possui atribuições que permitem a inserção de novas


metodologias, além de apresentar a realidade daquela comunidade escolar na qual
a instituição de ensino está inserida. Nessa linha de análise, ressalta-se que a
escola deve possuir um currículo que não se resuma ao acúmulo de disciplinas
fragmentadas.
Posta assim a questão, define-se que o currículo deve apresentar uma
conotação sociocultural que retrate a realidade onde o aluno está inserido. Almeida e
Fonseca Júnior (2000, p. 23) comungam do exposto, reiterando a abrangência dos
aspectos que estão envolvidas nessa modalidade de construção do conhecimento:

[...] Além da coerência própria de cada área do saber, necessita-se muito


mais: são as dimensões além dessas lógicas que dão significado profundo
do nosso trabalho. É preciso atribuir perspectivas políticas, estéticas,
afetivas, e tecnológicas ao saber para que tenha significado de valores
humanos.

Além dessas atribuições, os saberes escolares também necessitam imprimir um


caráter político junto ao currículo, sem que este se apresente resumido a apenas
uma lista de conteúdos, objetivos ou um mero documento impresso com fins
burocráticos. As Diretrizes Curriculares do Ensino Básico do Paraná, também
designam condicionantes ao currículo, “[...] Faz-se necessária, então, uma análise
mais ampla e crítica, ancorada na ideia de que, nesse documento, está impresso o
resultado de embates políticos que produzem um projeto pedagógico vinculado a um
projeto social” (PARANÁ, 2008, p. 16).
Vincular o currículo à proposta de metodologia de projetos ambos
contextualizados realidade do aluno, quando são utilizadas práticas em que o
educando seja protagonista de sua aprendizagem, viabiliza a ressignificação dos
conteúdos. Correspondente ao exposto, Prado (2014), elucida:

Evidencia-se assim que o trabalho com projetos inverte a lógica do currículo


definido em grades de conteúdos temáticos estanques, induzindo o
professor a colocar em jogo as problemáticas que permeiam o cotidiano. As
questões e os conceitos do senso comum que emergem no diálogo com o
aluno são então transformados em questões e temas a serem investigados
por meio de projetos. Porém, no trabalho com projetos há de se ir além da
superação de desafios, buscando desvelar e formalizar os conceitos
implícitos no desenvolvimento do trabalho para que se estabeleça o ciclo da
produção do conhecimento científico que vai tecendo o currículo na ação
(PRADO, 2014, p. 10).

Como se observa, em muitas áreas do conhecimento, já se desenvolvia a


metodologia de projetos, embora não se tenha uma compreensão clara de suas
atribuições e, muitas vezes, de seu significado. Dessa forma, considera-se
necessário o entendimento sobre projetos para que estes não sejam confundidos
com trabalhos realizados em ambientes fora da escola, como por exemplo, as
“Feiras de Ciências”, sem desmerecer a singularidade desta prática que também
agrega conhecimento e interação do aluno com os conteúdos.
Nesse sentido, os projetos podem ser designados com diferentes
nomenclaturas:

Com o passar dos tempos, o sentido de projeto foi tomando outros


significados. No campo educacional, há uma série de termos que foram e
estão sendo usados para designar o trabalho com projetos: projeto
educativo, projeto pedagógico, pedagogia de projeto, metodologia de
projetos, entre outros. Embora com uso diversificado, a focalização da
metodologia é no projeto (BERHRENS; ZEM, 2007, p. 41).

Como parte da pesquisa, aplicamos um questionário a professores


participantes do Projeto de Intervenção realizado no Colégio Estadual Tancredo
Neves, município de São João, para coletar o entendimento deles sobre o trabalho
com projetos, uma sondagem, a fim de identificar e quantificar os resultados sobre a
seguinte questão: Enquanto educador, você trabalha com projetos? Qual o
significado desta metodologia?
Dessa forma, obtivemos as seguintes respostas fornecidas pelos cursistas4:

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Para melhor compreensão das discussões acerca das atividades desenvolvidas junto aos
educadores, os respondentes serão designados por ordem alfabética.
Professora (A): Para mim é um assunto totalmente novo, pois trabalhei pouco com
projetos e tudo que puder aprender será de grande importância.
Professora (B): Trabalhar de forma diferenciada evidenciando um tema.
Professora (C): Um trabalho significativo para o aluno se interessar e querer buscar
se aprofundar mais no conteúdo.
Professora (D): Trabalhar com projetos é algo interessante, pois construiremos junto
com os alunos algo novo. O trabalho com projetos é uma das metodologias estimulantes e
desperta nos alunos a vontade de aprender.
Professora (E): Maneira de aprender e desenvolver projetos.
Professora (F): Uma forma alternativa e eficaz de trabalhar um assunto/tema,
facilitando o aprendizado dos alunos.
Professora (G): Aprofundar os conteúdos, aprender melhor, ver como os alunos
estão aprendendo o conceito estudado.
De modo geral, as falas das educadoras designam os projetos como uma
ferramenta que estimula a construção do conhecimento. Reafirmando a ideia dos
cursistas, Almeida e Fonseca Júnior (2000, p. 22), salientam que

[...] Trabalhar com projetos é uma forma de facilitar a atividade, a ação, a


participação do aluno no seu processo de produzir fatos sociais, de trocar
informações, enfim, de construir conhecimento. O fundamental para a
constituição de um projeto é a coragem de romper com as limitações do
cotidiano, muitas delas auto-impostas, convidando os alunos à reflexão
sobre questões importantes da vida real e a sociedade em que vivem;
instigando-os a alcançarem vôo rumo aos seus desejos e às suas
apreensões verdadeiras.

Para ampliar essa discussão sobre projetos, utilizamos as contribuições do


Grupo de Trabalho em Rede (GTR), que compõe as atividades do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), no qual o professor participa de cursos
concernentes a sua linha de pesquisa junto aos demais educadores da rede pública,
por meio da plataforma de curso online.
Nessa modalidade de capacitação, os cursistas contribuíram respondendo o
seguinte questionamento no “Fórum: Relacionando teoria e prática”, na qual o
cursista relata sua experiência com projetos, ressaltando as dificuldades que
encontrou em desenvolver essa metodologia. Para destacar as respostas, utilizou-se
novamente as letras do alfabeto com a inicial dos nomes para preservar a identidade
do respondente.
Cursista A: Já trabalhei e coordenei a realização de projetos. No ano da copa do
mundo no Brasil, coordenei o desenvolvimento sobre esta temática no colégio onde atuo. Os
professores de Língua Portuguesa, Geografia, Arte, Educação Física e História
desenvolveram o tema em conjunto. A disciplina de Português e Educação Física ficaram
com o resgate da história das copas e das seleções; Geografia coordenou em suas aulas as
seleções que viriam ao Brasil e, juntamente com Artes fizeram a localização no mapa e o
estudo da cultura de cada país. Após estes levantamentos dividiram as atividades por
turmas: 1ª levantar e produzir as comidas típicas, 2ª apresentar danças de algum país, 3ª
apresentaram o mapa e o histórico de cada país. Foram dois meses de estudo e culminou
na última semana de jogos da copa do mundo. Os alunos estavam muito animados. Os pais
também participaram das apresentações. O trabalho foi muito proveitoso em termos de
envolvimento nas atividades e de produções nas várias disciplinas. A avaliação ocorreu
durante os dois momentos: primeiro dia nas apresentações das danças e costumes e no
segundo dia na amostra da gastronomia e da releitura de arte de alguns países, bem como
dos mapas dos países apresentados pelos participantes. No trabalho de integração das
áreas do conhecimento, houve a interdisciplinaridade, e o papel da coordenação pedagógica
foi de suma ajuda na definição de ações, na organização e fornecimento de material, na
ajuda e disponibilização dos locais para as apresentações. Nestes dois dias de
apresentação, os professores se envolveram na organização dos espaços e depois
conforme organizados iam passando nas equipes e fazendo anotações que correspondiam
a um item da avaliação, nota comum em todas as disciplinas. Alunos que não gostavam de
participar na realização de atividades em sala de aula, se envolveram em pesquisas,
atividade que deixou surpresos muitos professores. Os projetos trazem vida nova às
metodologias e enriquecem o processo de ensinar e de aprender.
Os apontamentos da cursista expressam a forma como ela trabalha com
projeto, ou seja, os educadores por meio da interdisciplinaridade conseguiram
desenvolver um trabalho colaborativo que possibilitou o envolvimento das diferentes
áreas do conhecimento. Almeida e Fonseca Júnior (2000, p. 41), designam a
relevância da interdisciplinaridade:

[...] A vida e o viver transcendem as disciplinas. É necessário ver a ciência


como um constructo humano que, para construir conhecimento válido,
precisa olhar a natureza como um todo. Portanto, nada mais razoável do
que a busca de uma visão de conjunto, capaz de integrar as diversas
5
dimensões disciplinares e transdisciplinares . Todo modo de agir

5
No que concerne à transdisciplinaridade, trata-se frequentemente de esquemas cognitivos que
podem atravessar as disciplinas, às vezes com tal virulência, que as deixam em transe. De fato, são
os complexos de inter-multi-trans-disciplinaridade que realizaram e desempenharam um fecundo
papel na história das ciências; é preciso conservar as noções chave que estão implicadas nisso, ou
seja, cooperação; melhor, objeto comum; e, melhor ainda, projeto comum (MORIN, 2003, p. 115).
responsável procura essa integração interdisciplinar, com a colaboração dos
professores e dos alunos.

Nessa linha de análise, verifica-se a importância de um trabalho integrado que


rompa a fragmentação dos saberes. A metodologia de projetos educativos
interdisciplinar auxilia na mudança de paradigmas das disciplinas isoladas e, por
conseguinte, proporciona, ao aluno e ao docente, a ressignificação do
conhecimento.
De fato, a estruturação interdisciplinar dos projetos agrega novos
conhecimentos, conforme é proposta:

A metodologia de projetos pode auxiliar na ampliação da visão inter e


transdisciplinar, pois representa um processo metodológico de
aprendizagem que envolve níveis de integração, interconexão, inter-
relacionamento de informações, agregação de informações, conteúdos,
conhecimentos e saberes na busca de uma abordagem mais complexa.
(BEHRENS, 2015, p. 102).

Embora verificada a relevância da metodologia dos projetos, algumas escolas


deixaram de desenvolvê-los, ou por desinteresse do grupo, ou “falta de tempo” na
atualização das temáticas abordadas. Verifica-se que a realização do curso
despertou o interesse por essa proposta de trabalho, como afirma a educadora
abaixo.
Cursista B: Quando falamos em desenvolver projetos na escola, a maior dificuldade
é mobilizar os professores, visto que estes têm muitos conteúdos para trabalhar.
Especialmente no Ensino Médio no qual a pressão pela preparação para os concursos e
vestibulares é grande. Além disso, desenvolver um projeto requer tempo, diálogo e
disponibilidade, recursos, fontes para pesquisa, coisas que nem sempre encontramos dentro
das escolas. No fim o que se têm, são pequenos projetos de curto prazo, envolvendo alguns
professores e que resultam em ações pouco significativas. O interesse por essa temática,
nesse curso, vem do anseio de resgatar práticas perdidas e de tentar, mesmo nos limites
impostos agora, aplicar uma metodologia de projetos nas turmas em que atuo .
É notória a angústia, no relato, quando a educadora ressalta a dificuldade de
pôr em prática a metodologia de projetos, ou pela falta de integração entre as
disciplinas, ou pela preocupação “conteudista” especialmente encontrada no ensino
médio, devido à preparação para o vestibular, seguida da etapa acadêmica.
Cursista C: A opção por trabalhar com o método de projeto, a meu ver, deve passar
por algumas considerações, como o papel da escola pública; que direcionamento são
colocados aos professores; que estruturas são fornecidas; que recursos estão disponíveis;
em que contexto a comunidade está inserida; que resultados são cobrados nas avaliações
internas e externas. Pensar em desenvolver um aluno autônomo, crítico e reflexivo exige
que o seu mestre tenha também este desenvolvimento incentivado pelas instituições e
políticas no âmbito da educação.
Sobre a participação dos projetos para o desenvolvimento de autonomia e
criticidade, pode-se destacar que

6
O trabalho com projetos permite uma aprendizagem colaborativa tornando
a relação ensino-aprendizagem um processo mais dinâmico, possibilitando
a formação de sujeitos participativos e autônomos, criando a possibilidade
de desfazer a forma de aula tradicional em que só o professor fala e
apresenta os conteúdos e os alunos ficam restritos a escutar, copiar,
memorizar e repetir os conteúdos (BEHRENS; ZEM, 2007, p, 47).

Da mesma forma, os projetos representam um desafio aos educadores, aos


educandos e à comunidade escolar. Desafios esses que podem ser elencados na
organização das diferentes disciplinas, materiais disponíveis, despertamento do
interesse do educando e, ainda, o tempo disponível do educador, bem como encaixe
do projeto junto aos conteúdos curriculares básicos. Além dos elementos citados, a
motivação também perpassa as condicionantes para o sucesso do projeto
elaborado, como designa a cursista a seguir.
Cursista G: A metodologia de projeto com certeza é um instrumento para a
construção do conhecimento de forma crítica, coletiva e socializadora. No entanto, vale
lembrar as dificuldades que os professores apresentam na própria compreensão de como
efetivar esse trabalho. O primeiro texto sugerido para leitura nos lembra o quanto, muitas
vezes, qualquer atividade que se distancia da prática costumeira das aulas em sala de aula
é vista como projeto. A dificuldade ao se trabalhar com projetos é grande porque requer todo
um planejamento e condições estruturais externas e internas, objetivas e subjetivas para
encaminhá-lo com a finalidade de alcançar o propósito desejado.
Frequentemente à distância referida pela educadora, está justamente na
disponibilidade de materiais ou no entrosamento entre os profissionais da educação
para a execução dos projetos.
Cursista F: O trabalho com projetos exige dos docentes a capacidade de
observação, ao mesmo tempo em que sua função é a de direcionar as atividades e
descobertas dos estudantes. Articulam-se os conhecimentos para atingir a todos da melhor
forma possível. A escola deve organizar-se em torno das atividades e do centro do tema

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“Parte da ideia que o conhecimento é resultante de um consenso entre membros de uma
comunidade de conhecimento, algo que as pessoas constroem dialogando, trabalhando juntas direta
ou indiretamente e chegando a um acordo” (BEHRENS; ZEM, 2007, p, 47).
para atuar de forma interdisciplinar. Admiro a forma de trabalho através de projetos porque
percebo a intensidade das descobertas nos estudantes além do fato da aprendizagem
acontecer de forma mais significativa. Na escola em que atuo desenvolvemos anualmente
um projeto com tema específico que será trabalhado de forma sistemática, aproveitando
todas as oportunidades de aprendizado. De início, esta proposta exige um esforço maior dos
docentes, mas assim que se inicia sua prática, tudo se desenrola de forma mais tranquila.
Parece que há uma visualização dos passos até a sua conclusão. Acontece estímulo à
criatividade e facilita-se através da interdisciplinaridade o domínio dos conteúdos de maneira
integrada com um conhecimento mais eficaz. Acredito também que o trabalho em equipe
colabora para o sucesso do projeto, pois favorece que a forma com que um professor
aborda o tema seja aproveitada por outro e assim acontecem trocas importantes e bem
produtivas.
O papel da escola em relação aos projetos, também é elencado pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),

A escola pode proporcionar aos adolescentes e jovens, momentos de


reflexão de qualidade distinta daquela exercida no âmbito da família, da
igreja, do clube, dos meios de comunicação. Todos, inclusive a escola,
buscam reafirmar projetos e valores para o futuro dos jovens. Mas a escola
pode diferenciar-se das outras instituições organizando-se para colaborar
na vivência e clarificação dos momentos em que se encontram seus alunos,
contribuindo para que percebam e reflitam sobre os diferentes projetos que
se apresentam como possíveis naquele momento e, assim,
instrumentalizem-se para estabelecer o seu próprio projeto (BRASIL, 1998,
p. 128).

Assim posto, a escola possui inúmeras atribuições, especialmente quando


nos referimos à escola do campo que, por sua vez, possui um número menor de
alunos em relação às escolas urbanas, fator que contribui para o desenvolvimento
da metodologia de projetos, pois a integração professora-aluno-comunidade é mais
próxima. O relato a seguir, descreve justamente a definição de projetos a partir da
realidade de uma escola do campo.
Cursista M1: Sou Pedagoga de Escola do Campo. Nossa escola já desenvolveu
vários projetos e sempre bem-sucedidos. Minha experiência é de acompanhamento,
interação e integração. Na realização de qualquer projeto exige muita dedicação e
persistência, pois muitas vezes vamos com expectativas além das nossas possibilidades e
até desejamos desistir. Por isso a importância da nossa intervenção para que o idealizador
do projeto continue firme e forte. Uma atitude de algum pessimista faz com que a gente se
intimide em realizar. Mas precisamos sempre estar atentos à importância de ideias novas
para o aprendizado novo do nosso aluno. Encontramos dificuldades principalmente no que
diz respeito à interdisciplinaridade para que possamos chegar num denominador comum,
mas mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, sempre chegamos a uma integração
dos saberes incorporando a aprendizagem, tornando um trabalho dinâmico interligado com
as pessoas e os conteúdos, experiência e promovendo uma dinâmica na construção do
conhecimento favorecendo o ato de aprender.
Cursista M2: O Trabalho com projetos sempre me fascinou. Em nosso colégio
desenvolvemos vários projetos há alguns anos atrás. Os projetos eram realizados com
grupo de professores, após receber orientações da pedagoga da escola. A
maioria dos projetos teve grande êxito. Professores entusiasmados e alunos motivados no
desenvolvimento dos mesmos. Percebeu-se com esses alunos interessados no trabalho
e resultado positivo na aprendizagem. Porém no decorrer dos anos essa prática, em
nosso colégio, foi deixada de lado. Novos rumos foram tomados por falta de tempo, e quem
sabe por falta de interesse de nossa parte essa prática foi completamente
abandonada. Inscrevi-me justamente nesse curso para aperfeiçoar e
continuidade nessa prática. Acredito que esse possa melhorar o ensino e a aprendizagem
de nossos educandos.
Tornar o aluno protagonista no processo de ensino e aprendizagem é um dos
elementos preponderantes da metodologia de projetos, o qual incentiva a
criatividade, autonomia, senso crítico, partindo do pressuposto da integração de
disciplinas, trabalhos colaborativos por meio de práticas diferenciadas que instiguem
a pesquisa e o conhecimento do seu espaço e do novo.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,

[...] para que os alunos possam desenvolver capacidades de diferentes


naturezas, e desse modo, poder construir suas identidades e seus projetos
de vida, de forma refletida e consciente, é importante levar em conta seus
momentos de vida, suas características sociais, culturais e suas
individualidades. Nesse processo, serão compartilhados saberes
diferenciados, de professores e alunos, de adultos e crianças, adolescentes
e jovens, ou seja, de indivíduos com histórias diversas, o que propicia a
construção de conhecimentos diferenciados. Ao considerar essas diferenças
e semelhanças, em seu projeto educativo, a escola colabora para aproximar
expectativas, necessidades e desejos de professores e de alunos (BRASIL,
1998, p. 86).

A diversidade presente na escola não deve ser vista como um empecilho, mas
sim, como um estímulo à superação de dificuldades, bem como à proposição de
uma abordagem mais ampla dentro da pluralidade de culturas existentes nas
instituições de ensino.
Cursista S: [...] O trabalho com projetos em sala de aula amplia nossas
possibilidades de construção de conhecimento de forma mais abrangente, tendo como eixo
a aprendizagem significativa. Possibilita ainda, o diálogo com a realidade dos alunos
ampliando seus conhecimentos com as diversas áreas de conhecimento e fomenta a
perspectiva de trabalho coletivo entre professores, alunos e comunidade escolar. Permite
ainda, uma avaliação processual do desenvolvimento escolar dos alunos envolvidos e da
reflexão permanente sobre a prática pedagógica, pois esta estratégia não se apoia em
regras rígidas. O grupo constrói seu processo de aprendizagem a partir do momento em que
sana dificuldades e busca aprofundamentos. Sendo assim, o aluno torna-se sujeito agente e
construtor de sua aprendizagem e não um mero e passivo expectador de conteúdos
passados pelo professor.
Por meio das respostas de alguns cursistas, os projetos podem ser vistos
como ferramentas que permitem melhorar a maneira de trabalhar o conteúdo de
forma interessante focado no aluno.
Com a metodologia de projetos, é possível fazer a interação professor, aluno
e comunidade visando a uma aprendizagem significativa, bem como a superação
das dificuldades. Nesse sentido, pode-se afirmar que projeto é a constatação,
constituída em torno de hipóteses e de práticas.
Assim sendo, a pedagogia de projetos oportuniza um trabalho interdisciplinar,
articulando diferentes áreas do conhecimento, por meio da investigação da
problemática e situações da realidade. Isso não significa que as disciplinas não
serão trabalhadas, mas sim, agregadas no desenvolvimento da pesquisa
aprofundando-as e estabelecendo articulações de reciprocidade entre ambas.

4. CRITÉRIOS AO PLANEJAR PROJETOS: PASSO A PASSO

O planejar em si envolve uma gama de elementos; na educação, essa ação


envolve, além da equipe escolar, os sujeitos com os quais a educação deve
acontecer - os alunos. Para tanto, o professor deve fazer uma escuta pedagógica
para verificar qual o assunto sobre o qual a turma tem interesse em pesquisar ou
aprofundar questões pertinentes à temática proposta. O diálogo e a percepção do
educador diante da necessidade dos seus alunos representa fator preponderante
na construção e significação do projeto, tendo por meta o aprendizado dos
discentes.
Corroborando com o exposto, Freire (2002, p.12-13) relata sobre os caminhos
da aprendizagem,

[...] trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. Aprender precedeu


ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente
fundante de aprender. Não temo dizer que inexiste validade no ensino de
que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de
recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido
não pode ser realmente aprendido pelo aprendiz. Quando vivemos a
autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma
experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica,
estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a
decência e com a seriedade.

A compreensão de como ensinar remete à complexa experiência que envolve


a educação e os sujeitos que dela participam, por meio da apreensão, troca e
moldagem do conhecimento. Dessa forma, também os projetos devem ser
aplicados, na construção dos saberes, sem que o conhecimento prévio dos alunos
seja descartado, considerando estes no planejamento de todas as etapas do
estudo programado.
Na fase do planejamento e elaboração de projetos educativos, pode ser
utilizado o passo a passo para a organização das fases, o que ajuda no registro
das atividades propostas para serem desenvolvidas no transcorrer da sua
aplicação. Para tanto, “A forma mais eficaz de elaboração e desenvolvimento de
projetos educacionais envolve o debate em grupo e no local de trabalho” (PCN,
1997, p. 9).
Após a seleção do tema, a problematização será proposta a partir de
pergunta chave, que deverá ser respondida no desenvolvimento do projeto.
Segundo Mello (2008, p.59), “A problemática pode ser colocada aos alunos como
um desafio a ser superado, desde que ele seja fruto da prática social, e não
desvinculado dela”.
Outra etapa do projeto contempla o resumo; este deve conter objetivos gerais
e específicos, encaminhamentos metodológicos, justificativa da escolha do assunto
e problematização.
A introdução tem por intuito comunicar o que será descrito no trabalho e
conterá resultados, bem como exposição dos assuntos de forma ordenada. Além
disso, esta etapa deve ser construída após a conclusão do projeto, para que a visão
de um todo do trabalho seja ali descrita.
O objetivo geral concebe uma visão abrangente do assunto retratado, delimita
a finalidade do trabalho para que o objeto seja passível de execução. Para Mello
(2008, p. 80), “O objetivo geral, como o próprio nome já indica, é sempre mais
amplo, abrangendo o curso ou a disciplina na sua totalidade [...]” Exemplificado:
“Compreender as tarefas docentes e função do professor”.
Delimitando o objetivo geral, serão elencados os demais, ou seja, os objetivos
específicos, os quais representam as etapas para atingir o objetivo principal. Para
melhor compreender o seu significado, os objetivos específicos,

[...] dizem respeito às várias facetas ou especificidades do curso ou da


disciplina que compõe a sua totalidade. [...] Analisar os diferentes momentos
da organização do ensino: planejamento, execução e avaliação, e as
implicações na sistematização do ensino; descrever, compreender e avaliar
os procedimentos didáticos visando a interferência no cotidiano da sala de
aula; sistematizar alternativas de práticas pedagógicas a serem
implementadas no exercício da docência (MELLO, 2008, p. 80).

Tendo definido os objetivos, a justificativa contempla o próximo passo. Essa


parte deve responder a questionamentos sobre a problemática do trabalho, bem
como a relevância deste para a realidade do educando, além da construção do
conhecimento.
Todos os passos de um projeto devem estar contemplados no cronograma, no
qual serão descritas as atividades e o tempo despendido para a execução do
projeto. Segundo o Mini Aurélio (2001, p. 195), o cronograma pode ser definido
como “Representação gráfica da previsão da execução de um trabalho, com os
prazos em que se deverão executar as diversas fases”.
Também, no projeto, serão elencados os recursos humanos e materiais, bem
como a área e a especificidade das ações em que os diferentes profissionais
contribuirão para o desenvolvimento da proposta. Todos os materiais, ou seja,
computadores, multimídias, materiais de expediente e espaços físicos devem ser
descritos no escopo do trabalho, a fim de que imprevistos não onerem o esquema
inicial.
Finalmente, a avaliação deve analisar o desempenho que envolve “o aluno, o
professor e o contexto” (MELLO, 2008, p. 83), por meio das condições concretas
resultantes do trabalho. Lembrando que uma avaliação deve ser processual e
contínua, ou seja, não se deve levar em conta apenas o resultado final, mas sim
todo o processo de construção do projeto.
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do estado do
Paraná, “[...] a avaliação assume uma dimensão formadora, uma vez que, o fim
desse processo é a aprendizagem, ou a verificação dela, mas também permitir que
haja uma reflexão sobre a ação da prática pedagógica” (PARANÁ, 2008, p. 31).
Todas as atividades descritas devem ser referenciadas, haja vista a utilização
de autores que auxiliam na construção do projeto. Para tanto, é necessário observar
as regras estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT).
As etapas supracitadas são essenciais para descrever e organizar o projeto
educativo. Quando devidamente estabelecidos os itens, o projeto possui um
direcionamento e estrutura passível de execução.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia de projetos almeja construir um trabalho interdisciplinar,


fazendo com que o educando busque através da pesquisa, trabalhos colaborativos,
integração com os demais colegas, bem como a construção de novos
conhecimentos. Para tanto, ele deixa de ser um sujeito passivo que simplesmente
recebe informações prontas, para se tornar dinâmico diante da abertura possibilitada
por meio do projeto.
Considerando essa metodologia, que é à base da presente pesquisa em
curso do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), foram pospostos cursos
presencial e online, para professores efetivos da rede estadual de ensino do Paraná,
nos quais foi trabalhado o conhecimento sobre a metodologia de projetos. A partir
dessa experiência, foram observadas as relações dos educadores com os projetos,
suas angústias, frustrações, expectativas e dúvidas frente a essa temática,
momentos que oportunizaram a reflexão sobre a prática pedagógica.
De modo geral, observa-se que os professores possuem uma visão positiva
quanto à execução de projetos, pois julgam favorecer o processo de ensino-
aprendizagem de uma maneira prazerosa e instigante. Porém, foram citados alguns
obstáculos desde a integração entre os docentes das diferentes áreas do
conhecimento na modalidade interdisciplinar, até a limitação de recursos materiais
disponíveis nas instituições de ensino.
Por meio do contato com os professores cursistas, percebe-se também, que a
relação entre projeto e escola é uma metodologia valiosa para trabalhar conteúdos
aliados a temáticas que agreguem conhecimento e interesse por parte dos
profissionais da educação e educandos. Os relatos descritos neste trabalho e
conversas informais no decorrer dos cursos aplicados, revelaram que a metodologia
de projetos exige maior esforço do professor e equipe pedagógica; a
interdisciplinaridade em teoria é uma excelente ferramenta, porém, demanda o
empenho de um número significativo de educadores; quando o grupo demonstra
interesse, os resultados positivos são mais viáveis. Esses foram os empecilhos,
levantados pelos educadores. A disposição de recursos e materiais também é uma
condicionante que varia muito de uma escola para outra, denotando, mais uma vez,
a relevância de a direção escolar estar também engajada nesse processo.
Em suma, todo o engajamento da equipe deve também prever o essencial:
trabalhar com assuntos condizentes com a realidade do aluno. Por isso, a
investigação junto aos estudantes e a sensibilidade do professor em delimitar e
selecionar uma temática viável também são fatores essenciais, bem como o diálogo
que deve ser técnica sempre presente em todas as fases de planejamento e
desenvolvimento do projeto.
Em meio a discussões de autores/teóricos citados e educadores
entrevistados, constatamos que a metodologia de projetos é uma valiosa ferramenta
disponível aos educadores. Embora sejam encontrados percalços, as vantagens
devem ser evidenciadas, pois essa metodologia promove aulas dinâmicas,
motivadoras que provocam e desafiam o educando a buscar novos elementos para
seu cotidiano, fato que agrega mais vida à escola, não a restringindo a um ambiente
conteudista.

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