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INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

Capítulo 6
Microaula como ferramenta no
processo de formação docente
Rebeka Moreira Monteiro do Nascimento
Samara Caroline de Oliveira Braiane
João Maik de Medeiros Batista
Daniel de Lima Ribeiro
Jamylle Rebouças Ouverney

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INTRODUÇÃO

As microaulas são instrumentos de ensino e aprendizagem


utilizados na formação docente, que permitem interações didáticas e
proporcionam a familiarização dos estudantes de licenciatura com
uma boa prática pedagógica. Assim, por meio delas ocorre o
aperfeiçoamento das habilidades instrumentais necessárias para a
regência. Além disso, elas estimulam a postura reflexiva para repensar
a própria prática, tanto durante as observações das microaulas como
nas regências. Dessa forma, elas servem como um treinamento no
aspecto prático daquilo que é teorizado durante todo o curso de
licenciatura (Pimenta e Lima, 2004; Ortale e Martins, 2006).
No cenário educacional contemporâneo, as formas
tradicionais de ensino estão sendo substituídas pelas Metodologias
Ativas da Aprendizagem (MAAs), que são recursos didáticos para a
atualização da prática docente (Borges e Alencar, 2014). O que
denominamos de tradicional centraliza a transmissão do
conhecimento no professor, que expõe a teoria e demanda dos alunos
a resolução de exercícios (Konopka, Adaime e Mosele, 2015),
frequentemente sem participação do aluno. O que é importante
ressaltar jaz no fato de que o professor ainda pode ter o momento de
exposição teórica, contudo a resolução de problemas pode ser guiada
de forma colaborativa ou propositiva com soluções criadas em grupo,
o que aí sim configura uma aprendizagem ativa.
De acordo com Valente (2014), ao contrário do que acontece
na aprendizagem tradicional e passiva, baseada apenas na transmissão

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de informações, com a MAA o aluno assume uma postura autônoma,


resolvendo problemas, desenvolvendo projetos e criando
oportunidades para a construção do conhecimento, seja no plano
individual ou no coletivo. Neste cenário, o professor assume o papel
de orientador, de motivador e de facilitador da ação educativa,
permitindo assim que o aluno torne-se participante de sua própria
aprendizagem e não um mero espectador. Com isso, as MAAs podem
ser aplicadas de várias maneiras, sendo alguns exemplos: a
Aprendizagem Baseada em Problemas ou Projetos (ABP), os estudos
de caso, as dinâmicas, a sala de aula invertida, a gamificação (Cruz,
2018) e o uso de ferramentas digitais.
Merije (2012) afirma que com a união entre a tecnologia e a
educação podem surgir grandes oportunidades de ensino, tanto para o
educador quanto para o educando, mais precisamente com a
utilização do smartphone, visto que sua proporção no Brasil é de três
para cada computador. A utilização desse dispositivo móvel no meio
educacional torna mais eficaz o processo de ensino-aprendizagem,
proporcionando inúmeras vantagens, como o efeito motivador, o
desenvolvimento de habilidades cognitivas e a coordenação motora.
Sendo assim, o smartphone dentro do contexto escolar torna-se um
facilitador do processo educativo, principalmente em atividades
lúdicas (Ouverney-King, Oliveira e Castro, 2016).
Desse mesmo modo, as tecnologias auxiliam no
desenvolvimento da ciência, impactando a sociedade e o meio
ambiente através da abordagem de ensino denominada Ciência,
Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA). Com ela é possível

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despertar o interesse do aluno por meio de experimentações que irão


aumentar sua capacidade de compreensão dos fenômenos da natureza
(Teixeira e Andrade, 2017) em uma abordagem educativa que
possibilita aos alunos a ressignificação dos saberes adquiridos
conforme suas experiências, resultando em um conhecimento obtido
através da união entre a teoria e a prática (Teixiera et al., 2017), além
de proporcionar o que é configurado como lifelong learning, a
aprendizagem profunda ou significativa.
Nesse sentido, é profícuo desenvolver novas ferramentas
digitais, como programas e aplicativos educacionais, expandindo o
vínculo entre os sistemas e o processo de ensino-aprendizagem.
Assim, os aplicativos devem ser vistos como um recurso didático que
aumenta as relações educacionais e não como um substituto do
professor (Fotouhi-Ghazvini et. al., 2011). É importante que essas
ferramentas digitais dialoguem com o plano de aula, que por sua vez
estará estruturado dentro de uma sequência didática, que promova a
interação entre o objeto de estudo e as estratégias de aprendizagem.
Além da criação e desenvolvimento de softwares educacionais
e aplicativos é relevante, do mesmo modo, a preparação de aulas que
lancem mão das MAAs, com estímulos visuais e criativos que
provoquem o desejo de conhecimento do discente.
Diante disso, nos planos da disciplina de Prática de Ensino
em Biologia (PEB) III e IV do curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologias
da Paraíba (IFPB), são abordadas MAAs, a utilização de ferramentas
digitais e a inserção da interdisciplinaridade. A fim de colocar essas

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ações em prática, foram elaboradas e aplicadas microaulas por parte


dos discentes, de modo que, as aulas fossem realizadas no ensino
técnico integrado ao médio na própria instituição de ensino. Com
isso, este capítulo mostra o resultado das experiências de quatro
microaulas, ressaltando a importância das mesmas no processo de
formação docente.

MATERIAL E MÉTODOS

As microaulas foram realizadas no Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, campus Cabedelo, nas
seguintes turmas do ensino técnico integrado ao médio: 2° ano de
Recursos Pesqueiros (2RP), 2° ano de Meio Ambiente (2MA), 4º ano
de Meio Ambiente (4MA) e 3º ano de Multimídia (3MM).
Para o seu desenvolvimento foram seguidos duas etapas, a de
elaboração e a de aplicação (Figura 1), sendo a elaboração de cada
microaula ocorrido em um período de dois meses, com
acompanhamento da evolução semanal durante o andamento das
disciplinas de PEB III e IV, e a aplicação ocorreu em horários da
disciplina de Biologia de acordo com cada turma do ensino médio.
Desse modo, a elaboração iniciou-se com a disponibilização
dos temas, em que os professores da disciplina de Biologia do ensino
médio selecionaram de acordo com os conteúdos da ementa e do
período bimestral em que a microaula aconteceria. A partir disso, os
licenciandos foram divididos em duplas ou trios para selecionar seus
respectivos temas. A proposta é que as microaulas aconteçam sempre

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em equipe para promover o ensino colaborativo (team teaching), porém


alunos optando por trabalhar de modo individual também tinham
oportunidade. Com isso, foram realizadas dinâmicas em grupo, de
modo a explorar a potencialidade criativa como o uso da técnica de
Brainstorming para auxiliar na escolha dos conteúdos a serem
abordados dentro da temática escolhida.

Figura 6.1 Infográfico das etapas das microaulas

Logo em seguida, foram realizadas entrevistas com os alunos


das turmas em que seriam ministradas as microaulas, elas foram
realizadas de dois modos, uma delas foi a abordagem aos alunos
durante o intervalo de aula a fim de responder questões acerca do que

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eles pensavam, sentiam, ouviam e viam, como também os seus


sentimentos, medos e desejos, já a outra abordagem foi feita de modo
online através do google forms, contendo as mesmas perguntas
citadas anteriormente a fim de elaborar um mapa da empatia (Figura
2), um recurso que permite a descoberta dos anseios dos
entrevistados, possibilitando a exposição das principais motivações
dos mesmos, assim, permitindo uma visão sistêmica do grupo e
desenhando o perfil com base nos seus sentimentos, anseios (tanto no
âmbito pessoal quanto profissional) e demandas (Valdrich e Cândido,
2018).

Figura 6.2 Mapa da empatia com as respostas dos alunos da


turma do 3MM

Após definir o perfil da turma, foi iniciado o momento de


interdisciplinaridade dentro do curso de Licenciatura em Ciências

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Biológicas para que com isso fosse iniciado o desenho do plano de


aula, já que as microaulas seriam ministradas para os alunos das
turmas já mencionadas e avaliadas por uma banca interdisciplinar de
professores: de PEB III, de Didática, de Educação Ambiental e
Sustentável, para o 4o período do curso e PEB IV, Metodologia e
Instrumentação para o Ensino e Estágio Supervisionado para o 5o
período, e sempre com o professor da disciplina de Biologia da turma
em que a aula estivesse sendo ministrada.
No 4o período a disciplina PEB III foi a responsável por
desenvolver todo o procedimento de elaboração, metodologia e
acompanhamento das microaulas, já a Didática auxiliou na
estruturação do plano de aula e a de Educação Ambiental e
Desenvolvimento Sustentável pelos conteúdos a serem abordados, de
forma que fosse incluída a interdisciplinaridade também entre as
disciplinas do ensino médio com a Biologia. No 5o período a
disciplina PEB IV manteve o mesmo direcionamento de PEB III
porém com maior ênfase na abordagem interdisciplinar, enfatizando a
correlação entre temáticas de outras disciplinas que seriam relevantes
para a abordagem da microaula, a de Metodologia e Instrumentação
para o Ensino abordou as metodologias que poderiam ser utilizadas
durante o desenvolvimento das microaulas, sendo elas as: aulas de
campo, aulas práticas, modelos didáticos, experimentos, músicas e
paródias, jogos didáticos e teatro, e muitas das metodologias testadas
foram aplicadas nas microaulas. A disciplina de Estágio
Supervisionado I auxiliou na construção dos planos de aula, na
verificação do adequado planejamento e em consonância com a

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realidade dos atores da aprendizagem, análise dos objetivos a serem


alcançados, da condução da metodologia e dos critérios avaliativos
adotados para a verificação da aprendizagem.
A partir disso, foram elaborados rascunhos do plano de aula,
sendo apresentados para os discentes, que analisavam e construíam
colaborativamente com sugestões e, a posteriori, para os docentes que
integravam o grupo interdisciplinar que também sugeriam ajustes. Por
fim, foi realizada a revisão por pares, onde os licenciandos discutiram
entre si sobre os planos de aula, a fim de agregar ideias, em seguida,
em um momento de reunião os docentes também colaboraram, para
que assim os planos fossem finalizados para a realização da microaula.
Desse modo, todas as microaulas foram planejadas levando em conta
as metodologias ativas, a utilização de ferramentas digitais, a
colaboratividade, a criticidade, a comunicação e a
interdisciplinaridade, elementos essenciais na Educação do Século
XXI.
A aplicação das microaulas ocorreram entre os anos de 2018 e
2019, tendo duração de 20 minutos cada. Ao fim das microaulas,
foram realizados momentos de discussões com a realização de
feedbacks, sendo estes realizados pelos licenciandos a respeito de sua
microaula e da microaula dos colegas de turma, como também pelos
docentes do grupo interdisciplinar que avaliaram o desenvolvimento
das aulas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Durante o desenvolvimento das disciplinas do 4º e 5º período


do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas foram abordadas
várias ferramentas digitais que auxiliam a prática docente, dentre elas:
Renderforest, uma plataforma multifuncional que permite criar vídeos
animados; PlayPosit, um site que permite a criação de vídeos com
interações variadas, como perguntas de múltipla escolha e
preenchimento de espaços em branco; e Plickers, um software
educativo de avaliação formativa em que são utilizados cartões com
QR Codes. Diante disso, em algumas microaulas apenas uma das
ferramentas foram aplicadas nas microaulas ao passo que em outras
microaulas múltiplas ferramentas foram aplicadas.

MICROAULAS

Os planos de aula para cada turma do ensino técnico


integrado ao médio do IFPB foram elaborados de acordo com o
Documento Base sobre o ensino integrado (Brasil, 2007), com os
princípios e concepções para uma integração entre a formação geral e
a educação profissional visando o desenvolvimento humano integral,
envolvendo dimensões do trabalho, da ciência e da cultura. Com base
nisso, foi desenvolvido um trabalho interdisciplinar entre ciência e
sociedade ao abordar os seguintes conteúdos nas microaulas: Animais
Marinhos Perigosos, Desertificação, Unidades de Conservação (UCs)
em Cabedelo e Alimentos Transgênicos.

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ANIMAIS MARINHOS PERIGOSOS

O conteúdo de Animais Marinhos Perigosos foi ministrado na


turma do 2RP, no formato de aula expositiva dialogada com o auxílio
da ferramenta retroprojetor. Assim, a aula foi iniciada com uma
pergunta: quem sãos os animais marinhos perigosos, a fim de
promover uma abordagem inicial de sondagem do conhecimento da
turma acerca do assunto a ser ministrado levando em consideração a
abordagem necessária na formação de alunos no ensino técnico
integrado ao médio.
Durante a microaula foram discutidos os termos
classificatórios destes animais, assim como suas especificidades,
informando porque eles eram considerados perigosos aos humanos,
os principais acidentes que ocorrem nas regiões litorâneas, medidas
paliativas de cuidado e auto preservação em relação a eventuais
acidentes e também curiosidades, a fim de desmistificar as fake news,
sendo estas as informações incorretas que são transmitidas geralmente
nos meios de comunicação como páginas da internet, blogs e redes
sociais sem qualquer amparo jornalístico, geralmente produzido
apenas com senso comum e pouco ou nenhum respaldo científico em
muitos casos. (Imagem 1).

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Imagem 6.3. Slide da microaula de Animais Marinhos Perigosos

O método avaliativo utilizado nesta aula foi o aplicativo


Plickers, um software educacional gratuito para dispositivos móveis,
tanto Android como iOS (Apple), podendo também ser utilizado na
web. Ele permite a elaboração de questionários de múltipla escolha,
os quais são respondidos pelos alunos através de QR Codes
referentes à alternativa escolhida por cada um, de modo que, o
feedback individual dos estudantes pode ser visualizado pelos
professores na mesma hora em que as respostas são coletadas (Paula e
Soares, 2016).
Dessa forma, foram disponibilizados aos alunos cartões
contendo os QR Codes com quatro opções de resposta. Para
responder a uma pergunta, bastava levantá-lo na posição referente à
alternativa escolhida, e com um telefone era possível escanear as
respostas dos alunos, que ficavam registradas em um gráfico montado
pelo próprio software em tempo real. Nele, apareciam colunas com a
quantidade de alternativas escolhidas, computando também quais
alunos acertaram ou erraram a questão de forma individual,

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registrando esses dados no perfil do professor, porém sem expor os


alunos e suas respostas.
Portanto, foi possível perceber visualmente um bom
engajamento da turma com a atividade, pois demonstraram interesse e
entusiasmo em responder as questões abordadas, para mensurar a
compreensão deles sobre o assunto abordado.

DESERTIFICAÇÃO
O conteúdo de Desertificação foi ministrado na turma do
2MA, o formato de aula foi expositiva dialogada com o auxílio da
ferramenta retroprojetor. Assim, a aula foi iniciada com uma pergunta
norteadora: o que é desertificação? Buscou-se fazer uma sondagem
inicial com a turma visando melhor compreensão de seu
conhecimento prévio sobre o assunto, e por meio de uma breve
discussão inicial sobre o tema foi possível esclarecer certas confusões
e dúvidas dos alunos (Imagem 6.4).

Figura 6.4 Apresentação de slide na microaula de Desertificaçã

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Após o questionamento inicial sobre o que era desertificação


e, posteriormente, sua explicação, foi discutido com a turma a
diferenciação dos termos desertificação e arenização, ambos os
termos são bastante confundidos no senso comum por possuírem
características bastante parecidas visualmente.
De acordo com o Plano de Ação para Combater a
Desertificação, resultante da mesma Conferência, a desertificação
pode ser compreendida como a “degradação progressiva dos
ecossistemas naturais de uma área, resultante de fatores naturais ou da
ação do homem, e geralmente de ambos conjuntamente”
(VASCONCELOS SOBRINHO, 1983 p. 20).
Segundo Suertegaray 1987 p 130. o conceito de arenização
pode ser compreendido como:
[...] o retrabalhamento de depósitos, no caso de
formações superficiais, provavelmente quaternárias,
resultou de uma dinâmica morfogenética onde os
processos hídricos superficiais, particularmente o
escoamento concentrado do tipo ravina ou voçoroca,
associados às chuvas torrenciais, expõe, transporta e
deposita areia, dando origem à formação de areais que,
em contato com o vento, tendem a uma constante
remoção.
Desse modo, buscou-se contextualizar e relacionar a forma em que o
espaço geográfico e os problemas ambientais de ação antrópica estão
interligados causando sérios danos ambientais. A contextualização do
tema enfatizou o desmatamento de áreas de preservação ambiental
assim como a remoção de toda da cobertura vegetal nativa, essa por
sua vez acaba empobrecendo o solo. O agronegócio, por sua vez, é

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um dos principais vetores da desertificação em áreas de plantio, pois


raramente promove a rotação do plantio de cereais, legumes e
verduras em suas fazendas assim causando maior exposição destes
solos a agrotóxicos e pesticidas e a diminuição de minerais essenciais
para o solo se manter fértil.
Diante disso e buscando assim conhecimento do valor ético e
moral destes futuros profissionais foi discutido também ações que
favorecem a possibilidade de recuperação de áreas degradadas assim
como formas de rotatividade no plantio que diminuem o
empobrecimento das áreas de plantio.
Para dinamizar a aula foi utilizado o recurso lúdico de
quadrinhos, feito de papel emborrachado, doravante EVA, construído
pelos próprios discentes de Licenciatura em Ciências Biológicas.
Vergueiro (2010) destaca a importância dos quadrinhos no ensino:
i.) Os estudantes querem ler os quadrinhos;
ii.) Palavras e imagens, juntos, ensinam de forma mais
eficiente;
iii.) Existe um alto nível de informação nos
quadrinhos;
iv.) As possibilidades de comunicação são enriquecidas
pela familiaridade com as histórias em quadrinhos;
v.) Os quadrinhos auxiliam no desenvolvimento do
hábito de leitura;
vi.) Os quadrinhos enriquecem o vocabulário dos
estudantes;
vii.) O caráter elíptico da linguagem quadrinística
obriga o leitor a pensar e imaginar;
viii.) Os quadrinhos têm um caráter globalizador;
ix.) Os quadrinhos podem ser utilizados em qualquer
nível escolar e com qualquer tema.

Diante disso, os quadrinhos favorecem diversas leituras


significativas, aguçando a curiosidade e desafiando o senso crítico dos

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alunos, assim auxiliando positivamente na construção da ambientação


do conteúdo em sala de aula.
Como instrumento de avaliação da microaula foi utilizado um
vídeo (Figura 3) criado na plataforma Renderforest, compilado ao site
PlayPosit, algo que permitiu uma maior interação com os alunos, sendo
possível adicionar perguntas de múltipla escolha e questões abertas,
assim como momentos de reflexão, onde foram trabalhadas diferentes
abordagens.

Figura 3. Vídeo criado pela plataforma Renderforest compilado ao


PlayPosit

Em resumo, os alunos atuaram participativamente durante


toda a microaula, fazendo perguntas e dialogando sobre o assunto
abordado, assim como durante a atividade de avaliação do conteúdo
abordado.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (UCS) EM CABEDELO

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O conteúdo de UCs em Cabedelo foi ministrado na turma do


4MA, por meio de uma aula expositiva dialogada utilizando slides,
desse modo, a aula foi iniciada com a demonstração das UCs
presentes no município de Cabedelo. Em seguida, questionamentos
foram levantados acerca dos conhecimentos prévios dos alunos sobre
áreas do curso que se relacionavam ao conteúdo em questão, como o
conhecimento deles sobre o que era um plano de manejo, o que eram
as UCs, qual sua finalidade e quais as situadas em Cabedelo, buscando
relacionar o tema de uma forma interdisciplinar ao curso deles.
As formas de apropriação do espaço geográfico e os
problemas ambientais causados pelas ações antrópicas foram
relacionadas, contextualizando temas como a água e os diversos tipos
de poluições, abrangendo o conhecimento do valor ético, de modo a
incluir o trabalho na perspectiva de transformação da natureza e do
homem. Bem como no âmbito da Ecologia foram relacionados os
processos existentes entre os elementos bióticos e abióticos, além da
análise feita entre ambiente natural e o ecossistema, abrangendo seus
fatores e formas de preservação.
Além disso, foi levantada a temática de recuperação de áreas
degradadas e seus elementos necessários para o planejamento,
implementação e gerenciamento de atividades voltadas à identificação,
avaliação e recuperação das mesmas. Foram também incluídas as
legislações ambientais que auxiliam na gestão, no licenciamento e na
fiscalização dos ambientes, visando impedir a degradação
promovendo a restauração do equilíbrio em conjunto com a
Legislação Ambiental Brasileira.

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A seguir, foi utilizada uma ferramenta digital criada pelas


alunas ministrantes da microaula, o aplicativo didático, na época, em
fase beta chamado Suporte Avaliativo Multidisciplinar de Biologia e
Educação em Conservação Ambiental (SAMBECA). Ele foi criado no
intuito de reunir informações, curiosidades sobre temas ambientais,
além de conter questionários para a aplicação de gincanas em sala de
aula. Dessa forma, ele foi utilizado pelos alunos como o método
avaliativo da aula (Imagem 3).

Imagem 3. Alunos utilizando o aplicativo SAMBECA durante a


microaula.

A seção de questões do SAMBECA foi utilizada para gerar


uma gincana competitiva, contendo três desafios, o primeiro sobre o
plano de manejo, o segundo sobre conservação ambiental e o terceiro
sobre o desenvolvimento sustentável nas UCs. Dessa maneira, os
alunos formaram duplas em sala de aula para respondê-las, as
pontuações foram contabilizadas na lousa e no fim os vencedores
foram anunciados. Com isso, os alunos tornaram-se ativos e

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totalmente autônomos no processo de ensino-aprendizagem, assim, a


microaula foi encerrada com a explicação das respostas abordadas na
gincana.

ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

O conteúdo de Alimentos Transgênicos foi ministrado na


turma do 3MM. No desenvolvimento dessa microaula foi utilizado o
método Kanban que consiste na composição de uma simbologia
visual que controla os fluxos de produção de uma tarefa, sendo cada
etapa sinalizada com post-its: a fazer, fazendo e feito. Este método foi
utilizado, visando aumentar a produtividade no desenvolvimento da
elaboração da microaula, a fim de otimizar a realização das tarefas.
A microaula foi iniciada com a aplicação de um questionário
prévio a respeito do que eles sabiam sobre os organismos
transgênicos, qual era o posicionamento deles sobre esses alimentos
modificados, se consideravam importante a rotulagem desses
produtos de forma detalhada, se sabiam identificá-los e se os
consumiam, para com isso, triar os conhecimentos dos alunos sobre o
conteúdo. Em seguida, iniciou-se uma aula expositiva dialogada, em
que os alunos foram questionados sobre a sua visão em relação aos
alimentos transgênicos, a partir disso foi feita uma breve explicação
do conteúdo. Logo após, foi passado um vídeo, criado no Renderforest,
mostrando o contexto histórico do surgimento desses organismos. E
a partir disso, foi abordada uma dinâmica utilizando alimentos, sendo
biscoitos salgados feitos a base de soja, sendo um transgênico e outro

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não e também amido de milho transgênico, para analisar a capacidade


dos alunos de diferenciar através da observação dos rótulos, os
alimentos transgênicos dos orgânicos, permitindo a participação ativa
dos alunos e também a experiência tátil, já que um dos alunos possuía
necessidades especiais e essa prática seria facilitadora da promoção de
motivação extrínseca para o aluno.
Com isso, eles foram questionados sobre os pontos positivos
e negativos do uso desses alimentos, iniciando assim um momento de
debate. Durante sua abordagem, as discussões foram centralizadas
nos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) classificados
como transgênicos, que foram abordados de forma interdisciplinar
com os conteúdos de química, já que esses organismos têm seus
DNAs modificados e passam por um processo de fermentação
utilizando técnicas proporcionadas pela biotecnologia, a fim de gerar
um progresso industrial. E com a sociologia, levantando
questionamentos sobre o posicionamento de grandes empresas que
produzem os OGMs na intenção de serem alimentos mais resistentes
a pragas, que no entanto produzem agrotóxicos para combater essas
pragas.
Por fim, foi aplicado um outro questionário, com perguntas
iguais ao do início da aula para comparar as respostas dos alunos e
constatar se havia ou não uma mudança de concepção a respeito dos
transgênicos. De acordo com as respostas, foi observado que no
início da aula poucos alunos sabiam o que eram os transgênicos e
como identificá-los, enquanto que no fim, praticamente todos os

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alunos conseguiram produzir respostas adequadas para o segundo


questionário.
Pedrancini et al. (2007) afirma que nem sempre o ensino de
Genética promovido nas escolas permite que o estudante se aproprie
dos conhecimentos científicos de modo a compreendê-los, questioná-
los e utilizá-los. Sendo assim, os transgênicos precisam ser integrados
ao ensino de biologia, mostrando que a ciência está intimamente
ligada a esse tipo de conteúdo e como eles podem ser aplicados na
sociedade.

FEEDBACKS

Ao final de todas as microaulas ocorria uma reunião com os


docentes que compunham o grupo interdisciplinar e os licenciandos
para um momento de feedback, em três etapas: autoavaliação em
grupo - cada aluno do grupo faria a sua avaliação -, avaliação por
pares - os outros grupos também promoviam uma avaliação de quem
ministrou a aula; e a avaliação pela banca de professores. Os alunos
eram encorajados a promover feedback em variados âmbitos a saber:
pessoal (postura, segurança, etc.), profissional (atuação como regente)
e do ponto de vista do conhecimento. Para isso, todos posicionavam-
se em uma roda de conversa para debater as microaulas ministradas
naquele dia, desde os procedimentos utilizados até como eles tinham
sido abordados no plano de aula.
No primeiro momento os licenciandos envolvidos nas
microaulas opinaram sobre o seu momento de atuação, sobre o

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INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

cumprimento ou não do que havia sido proposto durante o processo


de planejamento e que constava no Plano de Aula. Posteriormente, os
demais discentes da turma, que haviam assistido a microaula,
opinaram sobre a postura dos colegas, relatando o que consideravam
ter sidos acertos e/ou erros de cada um durante a regência. Por fim,
os docentes do grupo interdisciplinar comentavam sobre os pontos
positivos e aos possíveis ajustes durante a abordagem da aula.
Com isso, as microaulas se mostraram como uma atividade
eficiente, pelo fato de, permitir o planejamento de sua abordagem e a
elaboração e confecção de recursos didáticos, além de estimular
reflexões a respeito da prática docente, fazendo com que o
licenciando colocasse em prática o que estava em processo de
aquisição de conhecimento aprendido na teoria e sobre os saberes
docentes. Por este motivo, este tipo de atividade é de suma
importância no contexto da formação inicial.

CONCLUSÕES

É fundamental inserir os estudantes do curso de licenciatura


na experimentação por meio das microaulas, pois torna possível a
contextualização na prática do que foi aprendido na teoria. Através da
aplicação das microaulas foi possível perceber a importância de
práticas e experimentações na formação docente, uma vez que elas
auxiliam efetivamente na consolidação do conhecimento necessário
na profissão. Além disso, o processo de preparação da microaula e o
seu cumprimento em sala de aula são considerados tanto um desafio

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quanto uma conquista. Se por um lado, possibilitam aos discentes a


inserção na prática das orientações recebidas durante a formação
inicial do curso e, de modo geral, a primeira experiência real de
regência, as microaulas representam a aquisição de características
como segurança na transmissão do conhecimento, capacidade
colaborativa de criação e promoção de feedback, além de preparação
para o futuro do licenciando.
Apesar da interdisciplinaridade está prevista nos documentos
educacionais nacionais, a sua inserção é desafiadora, no entanto, ao
aplicá-la aliada ao ensino de biologia, foi possível perceber sua eficácia
na produção de conhecimento integrado, isso porque ela permitiu
gerar um elo com outras disciplinas, fazendo com que os alunos
conseguissem ter uma visão de mundo de maneira geral e não
centralizada em apenas uma disciplina.
A experiência rendeu frutos na formação docente por
transcender os modelos tradicionais da educação brasileira. Ademais,
a utilização da interdisciplinaridade entre as disciplinas do curso de
licenciatura foi essencial para obter o êxito na elaboração e aplicação
da microaula por parte dos licenciandos.
A utilização de recursos digitais educacionais aliados às
práticas pedagógicas que tem ênfase em Metodologias Ativas da
Aprendizagem nas microaulas foi necessário para o desenvolvimento
da potencialidade ativa dos alunos, uma vez que, se tornaram mais
participativos no desenvolvimento das aulas e vislumbram significado
no que aprendem, tornando a aprendizagem profunda. Vale ressaltar
a importância do uso da tecnologia como ferramenta pedagógica na

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INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

inclusão de pessoas com deficiência e dificuldades na aprendizagem,


pois possibilita uma ampla autonomia, além de desenvolver as
capacidades cognitivas. Além disso, é indispensável o uso de MAAs e
interdisciplinaridade por licenciandos, já que como futuros
profissionais, serão replicadores das práticas exitosas aprendidas
durante sua formação e criadores de novas soluções educacionais para
potenciais problemas futuros.
Portanto, utilizar as microaulas como instrumento na
formação de licenciandos, traz subsídios para a reflexão sobre a
prática docente, assim como, propicia a familiarização dos discentes
com procedimentos de pesquisa-ação desde a graduação, permitindo
adotar uma postura reflexiva sobre a práxis, não somente com a
observação das microaulas como também no futuro do regente.

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INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

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