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Oito exemplos de que é possível despoluir os rios urbanos

Os projetos socioambientais como destino e esperança


Nosso modelo de produção e de consumo está em xeque
Cetáceos da Costa Azul: em prol da conservação marinha

A importância de áreas
81 protegidas para preservar o

ciclo da água
revistadomeioambiente.org.br
ano X • maio 2015
ISSN 2236-1014

9772236101004
3

editorial / expediente
A importância estratégica
da transparência para a
sustentabilidade Sede e Redação
Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - Jurujuba (Cascarejo, Ponta da Ilha) - Niterói, RJ - 24370-
290 • Telfax: (21) 2610-2272• vilmar@rebia.org.br • CNPJ 05.291.019/0001-58
A instituição
Não temos – ainda – a Política e os políticos que A Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) é uma organização da
sociedade civil, sem fins lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e
queremos – com as raras exceções que felizmente o fortalecimento da Cidadania Sociambiental Planetária, ofertando informações,
opiniões, denúncias, críticas, com ênfase na busca da sustentabilidade, editando
e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio
ainda existem –, mas, ao apontar o dedo para eles, Ambiente, entre outros produtos e ações. Para isso, a Rebia está aberta à parcerias e
participações que reforcem as sinergias com demais parceiros, redes, organizações
apontamos três para nós da sociedade civil e governos, e também com empresas privadas, que estejam
comprometidas com os mesmos propósitos.
Fundador da Rebia
A Rebia foi fundada em 01/01/1996, pelo escritor e jornalista Vilmar Sidnei Demamam
por vilmar sidnei demamam berna* Berna, que em 2003 recebeu no Japão o Prêmio Global 500 das Organizações das
Nações Unidas de Meio Ambiente. • escritorvilmarberna.com.br • (21) 9994-7634
Conselho Editorial

Q
uebramos a cara solenemente quando nos damos conta que erramos A missão da Rebia só se torna possível graças a uma enorme rede de parceiros e
colaboradores, incluindo jornalistas ambientais e comunicadores comunitários,
de novo, e elegemos – ou pior, reelegemos – pessoas e partidos basea- e de seus mais de 4.000 membros voluntários que participam dos Fóruns Rebia,
democratizando informações, opiniões, imagens, críticas, sugestões e análises da
dos muito mais em suas promessas e discurso que em suas práticas, conjuntura, um rico conteúdo informativo que é aproveitado para a atualização
diária do Portal e para a produção da Revista. São estes colaboradores que
e quando não entregam o prometido, nos sentimos traídos. Então, mesmo representam o Conselho Editorial e Gestor da Rebia, participando ativamente no
aperfeiçoamento e na divulgação do Projeto.
frustrados, tentamos não errar de novo nas próximas eleições, mas a Política A Rebia na web
• Facebook: facebook.com/rebia.org.br
é muito mais um território dos sonhos que das práticas e até que aperfeiço- • Twitter: twitter.com/pmeioambiente

emos nossa capacidade de não nos deixar enganar novamente, ainda come- • Linkedin: www.linkedin.com/company/
rebia---rede-brasileira-de-informacoes-ambientais?trk=hb_tab_compy_id_2605630
terem novos erros políticos. Entre estes erros está o de imaginar a perfeição. • RSS: www.portaldomeioambiente.org.br/component/
injarsssyndicator/?feed_id=1&format=raw
Na prática, não existem pessoas perfeitas, e muito menos políticos e parti- Coordenadas GPS da Rebia: -22.929432, -43.111917
dos, e por isso é fundamental a existência de mecanismos democráticos de
A REBIA mantém TERMO DE PARCERIA na forma da Lei com as seguintes
tomada de consciência das informações de interesse público, e de participa- OSCIPs (Organização sem fins lucrativos de interesse público), estando através
delas ISENTA DE IMPOSTOS, DISPENSADA DE LICITAÇÃO, e poderá conceder
ção popular nas decisões políticas, como audiências públicas por exemplo, às empresas de Lucro Real que investirem nos Projetos e Veículos de Comunicação

orçamento participativo, comitês de bacias, referendos e plebiscitos, etc.


da REBIA, Declaração de Renúncia Fiscal que permitirá o abatimento de
até 2% do imposto declarado devido:

Entretanto, para que estes mecanismos funcionem é fundamental a trans- PRIMA – MATA ATLÂNTICA E SUSTENTABILIDADE
parência, pois só se o público tem acesso à informação, poderá opinar, fisca- CPNJ: 06.034.803/0001-43 / Insc. Estadual: ISENTA / Insc. Municipal: 131974-0 /

lizar, se defender. Político que não deve não tem o que temer com a trans-
Dados bancários para pagamento: CEF Ag. 3092 OP 003 C/C 627-5 /
Sede: Rua Fagundes Varela, nº 305/1320 – Ingá, Niterói – RJ - 24210.520

parência. Por contraposição, político que teme a transparência, pode estar ASSOCIAÇÃO ECOLÓGICA PIRATINGAÚNA
querendo esconder alguma coisa. CNPJ: 03.744.280/0001-30 / Insc. Estadual: ISENTA / Utilidade Pública Municipal (

Pode ser que não, pode ser apenas falta de organização, de prioridade na di-
LEI 3.283 de 04/03/ Rua Maria Luiza Gonzaga, nº 217 - no bairro Ano Bom -
Barra Mansa, RJ CEP: 23.323.300 / Presidente: EDUARDO AUGUSTO SILVA WERNECH

vulgação ou incompetência mesmo, mas até por uma questão de ética pes- (24) 9 9264 - 2353 (Rural/Fixo/sede) - 9 8857-0224 - Nextel: 7811-6082 /
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soal, de deixar claro para o público que não faz parte do joio de corruptos e eduardo.piratingauna@gmail.com / eduardo.wernech@piratingauna.org
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de maus políticos, a transparência nos atos públicos é uma forma do bom
político se destacar dos maus, além, claro, de ser um dever constitucional
inerente ao administrador público.
Assim, não tem cabimento negociações a portas fechadas, como as que con- Projeto gráfico e diagramação Webmaster
vertem multas ambientais em termos de ajustes de conduta, por exemplo. Estúdio Mutum • (11) 3852-5489
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Por outro lado, falar muito, informar muito, não significa necessariamente contato@estudiomutum.com.br
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do contexto ou manipuladas, também são informações. estudiomutum.com.br São Gonçalo, RJ • 24732-725

Queremos um país melhor, mais democrático, justo, fraterno, ecológico, Impressão


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mas não existe um país assim, pronto, em lugar nenhum no mundo. Teremos (21) 9655-4860 / 24*6443 •
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de construir sozinhos. E, quando digo construir, não imagino um processo com.br (Josy Torres / Comercial)
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‘Neutra em
rápido e muito menos que não retroceda. Quantas vezes, por erro de cálcu- Rua José Mendes de Souza, 7
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Carbono’
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lo, numa obra, uma parede fica torta e precisa ser derrubada e reconstruída. gruposmartprinter.com.br

A construção de uma nação é obra coletiva e dura várias gerações, na ver- Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas veiculados através
dos veículos de comunicação da Rebia expressam a opinião de seus
dade, uma civilização inteira. O tempo da democracia é o tempo da história autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das
e não da vida dos indivíduos. organizações parceiras e da Rebia.

Enquanto se constrói uma nação, se vive a vida, numa escala bem menor, de Para acessar a Revista do Meio Ambiente online
cerca de 80 anos, dos quais a metade praticamente se perde para compreen- ao vivo com o código QR é só escanear o código e ter
acesso imediato. Se não tiver o leitor de QR basta
der o mundo e a nós próprios, e quando nos damos conta, o tempo é curto. abaixar o aplicativo gratuito para celulares com
* Escritor e jornalista, fundou a Rebia - Rede Brasileira de Informação Ambiental (rebia.org.br), android em http://bit.ly/16apez1 e para Iphone
e Ipads em http://bit.ly/17Jzhu0
e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente),
e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org.br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio foto desta capa: dollar photo club
Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas

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água

nelson lourenço/Flickr CC 2.0

Misko/Flickr CC 2.0
Rio Tejo, em Lisboa Rio Sena, em Paris

Oito exemplos de que é possível


O
crescimento urbano desenfreado – e frequentemente desordenado – Bons exemplos servem para nos
somado à falta de investimentos do poder público e à ausência
inspirar. Que em breve nossos
de campanhas de conscientização da população – ou mais profun-
damente, ausência de educação pública de qualidade – faz com que uma rios também possam receber
parcela considerável dos rios brasileiros não receba o tratamento que o mesmo tratamento
mereceria. Ausência de sistemas de saneamento e descarte de resíduos
industriais são vilões de peso neste panorama. tância abaixo da cidade. Apenas entre 1964 e 1984
Atualmente, os 500 maiores rios do planeta enfrentam problemas com novas ações de revitalização surtiram efeito. Foram
a poluição, segundo dados da Comissão Mundial de Águas. Contudo, criadas duas estações de tratamento de esgoto com
diversas cidades conseguiram transformar seus rios outrora decadentes investimentos de 200 milhões de libras esterlinas.
em belos cartões-postais, como Paris e Londres, integrando-os à sua vida Quinze anos depois, um incinerador passou a dar
econômica, social e urbana. A revista Exame listou alguns exemplos que destino aos sedimentos vindos do tratamento das
podem vir a inspirar as autoridades brasileiras; uma esperança em que, águas, gerando energia para as duas estações. Fora
futuramente, nossos rios recebam o mesmo tratamento que estes recebe- isso, hoje dois barcos percorrem o Tâmisa de segun-
ram. A seguir, oito exemplos de que é possível despoluir os rios urbanos. da a sexta e retiram 30 toneladas de lixo por dia.

Rio Sena, Paris (França) Rio Tejo, Lisboa (Portugal)


O Sena, em Paris, foi degradado por conta da poluição industrial, situação Para despoluir o famoso rio de Lisboa foram in-
comum a outros rios europeus. Neste caso, porém houve um agravante: vestidos 800 milhões de euros. A revitalização,
o recebimento de esgoto doméstico. que se encerrou em 2012, incluiu obras de sane-
Por conta de seu estado lastimável, desde a década de 1920 o Sena é alvo amento e renovação da rede de distribuição de
de preocupações ambientais. Mas foi apenas em 1960 que os franceses águas e esgotos, visto que os dejetos eram deposi-
passaram a investir na revitalização do local construindo estações de tra- tados diretamente nas águas do rio. Foram bene-
tamento de esgoto. Hoje já existem cerca de 30 espécies de peixes no rio, ficiados com o projeto 3,6 milhões de habitantes.
mas o processo para que isso acontecesse foi lento. O Tejo é o maior rio da Europa ocidental e pas-
No começo, havia apenas 11 estações em funcionamento. Em 2008 já sou a ser despoluído com a criação da Reserva
eram duas mil, mas a meta é que em 2015 o rio já esteja 100% despoluído. Natural do Estuário do Tejo, em 2000. O plano
Como parte do processo de tratamento de esgoto, o governo criou leis que envolveu a construção de infraestrutura de sa-
multam fábricas e empresas que despejarem substâncias nas águas. Além neamento de águas residuais e renovação de
disso, há um incentivo entre 100 e 150 euros por hectare para que agricul- condutas de abastecimento de água.
tores que vivem às margens do rio não o poluam.
Rio Cheonggyecheon, Seul
Rio Tâmisa, Londres (Reino Unido) (Coreia do Sul)
O Tâmisa tem quase 350 km de extensão e um longo histórico de polui- Pode parecer mentira, mas os 5,8 km do rio que
ção. As águas deixaram de ser consideradas potáveis ainda em 1610, por corta a grande metrópole de Seul foram total-
conta da falta de saneamento básico da Inglaterra. Ocorriam até mesmo mente revitalizados em apenas quatro anos. Hoje
mortes por cólera. Em 1858, no entanto, reuniões parlamentares preci- ele conta com cascatas, fontes, peixes e é ponto
saram ser suspensas por conta do mau cheiro das águas, o que levou os de encontro para todas as faixas etárias.
governantes a resgatar a vida do rio. Seu renascimento começou em julho de 2003,
Na época foi colocada em prática uma alternativa sem êxito, já que o siste- quando o governo da cidade implodiu um enorme
ma que coletava o esgoto despejava os dejetos recolhidos no rio a certa dis- viaduto (de cerca de 620 mil toneladas de concreto)

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Carlos Felipe Pardo/Flickr CC 2.0


Eugene Regis/Flickr CC 2.0

Canal de Copenhague Rio Cheonggyecheon, em Seul

despoluir os rios urbanos


que ficava sobre o rio e começou, paralelamente, um cias altamente tóxicas foram despejadas no rio por uma empresa suíça. Com
grande projeto de nova política de transporte públi- o ocorrido, o governos das cidades banhadas pelo Reno se reuniram e cria-
co, além de construir diversos parques lineares e au- ram o Programa de Ação para o Reno em 1987, investindo mais de 15 bilhões
mentando a quantidade de áreas verdes nas ruas. de dólares em sua recuperação, que contou com a construção de estações
Com as melhorias ambientais, a temperatura de tratamento de água monitorado. O resultado são 95% dos esgotos das
em Seul diminuiu 3,6°C, além de haver melhorias empresas tratados e a existência de 63 espécies de peixes vivendo ali hoje.
econômicas para a cidade. O rio sul-coreano era
responsável pela drenagem das águas da metró- Rio Cuyahoga, Cleveland (EUA)
pole com mais de 10 milhões de habitantes quan- Localizado no estado de Ohio, tem 160 km de extensão, passando pelo
do seu leito se tornou poluído. Hoje, as águas que Parque Nacional do Vale Cuyahoga e desaguando no Lago Eire. Hoje ele
correm por lá são bombeadas do Rio Han, outro é parte fundamental do ecossistema da região, sendo lar e fonte de sus-
que passou pelo processo de despoluição. tento de diversos animais. No entanto, a história era bem diferente num
passado não muito distante.
Rio Han, Seul (Coreia do Sul) Devido à atividade industrial maciça e o esgoto residencial da região
Formado pela confluência dos rios Namhan e entre Akron e Cleveland, o rio era bastante poluído. Para piorar a situa-
Bukhan, ele passa por Seul e se junta ao rio Imjin, ção, em junho de 1969, uma mancha de óleo e outros produtos químicos
que em seguida deságua no Mar Amarelo. Com 514 incendiaram o rio. Por conta desses fatores, em 1970 foi assinado o Ato
km de extensão, sendo 320 navegáveis, o rio sempre Nacional de Proteção Ambiental, que viabilizou a criação do Ato Água
teve papel fundamental para o desenvolvimento Limpa, em 1972, estipulando que todos os rios do país deveriam ser apro-
da região, visto que proporcionava transporte para priados para a vida aquática e para o lazer humano.
a agricultura e o comércio, além de ajudar na ativi- Assim, Cleveland investiu mais de 3,5 bilhões de dólares para a purificação
dade industrial e na geração de energia elétrica. da água do Cuyahoga e dos seus sistemas de esgoto. E a previsão é de investir
No entanto, o Rio Han sofreu grande degradação mais 5 bilhões nos próximos 30 anos para manter o bom estado de suas águas.
durante a Segunda Gerra Mundial e Guerra da Co-
reia, quando começou a receber o despejo de esgoto. Canais de Copenhague (Dinamarca)
Porém, em 1998, com o plano de Desenvolvi- Provavelmente você conhece a capital dinamarquesa por ser referência no as-
mento e Implementação de Gestão da Qualidade sunto meio ambiente. Hoje ela possui uma meta muito clara: quer chegar em
da Água, o local mudou o seu destino. Com a revi- 2025 como a primeira capital mundial a neutralizar suas emissões de carbono.
talização do rio Cheonggyecheon, o Han também Mas nem sempre foi assim. Antes os canos que levavam a água da chuva
passou por mudanças e hoje é considerado limpo para os rios e canais muitas vezes se misturavam com a rede de esgoto, trans-
e já tem algumas espécies de peixe. portando os dejetos para as águas. Além disso, o entorno do rio era industrial,
o que fazia com que boa parte do lixo da região fosse parar nos canais e rios.
Rio Reno, várias cidades da Europa Em 1991, no entanto, surgiu o plano de despoluição das águas e a remo-
Com cerca de 1,3 mil km de extensão, o rio nasce ção da área industrial ao redor do rio. Assim, as galerias pluviais foram
nos Alpes Suíços e banha seis países europeus até reconstruídas, os reservatórios de água foram estabelecidos em pontos
desaguar no Mar do Norte, na Holanda. Durante estratégicos da cidade para que a água da chuva se armazenasse em caso
muitos anos recebeu dejetos de zonas industrias, de tempestade e o encanamento dos esgotos foi aperfeiçoado. O lixo, por
o que o levou a ser conhecido, em 1970, como a sua vez, passou a ser reciclado e incinerado.
cloaca a céu aberto da Europa. Hoje os habitantes e turistas podem, inclusive, tomar banho nas pisci-
Um dos principais casos de contaminação acon- nas públicas artificiais criadas pelo governo.
teceu em 1986, quando 20 toneladas de substân- Fonte: archdaily.com.br

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Gente que faz o bem socioambiental

Brasileira cria app


que poupa água e ganha bolsa
em universidade na Nasa
Queremos
Divulgação/Agrosmart

Mineira de
23 anos criou
aplicativo
para tornar projetos
plantações
‘inteligentes’.
Tecnologia
inspiradores
reduz em até

Q
uem disse que a sustentabilidade,
60% consumo apesar dos complexos desafios as-
de água sociados, não pode ser alegre e ins-
na irrigação piradora? Procuramos pessoas e projetos
Mariana foi selecionada entre mais de 500 pessoas para sociais, culturais e essencialmente susten-
representar o Brasil como bolsista na Singularity University táveis alinhados com essa visão. Queremos
contribuir efetivamente para a construção

U
m aplicativo que conecta o agricultor à sua plantação, reduzindo o de um mundo melhor e mobilizar pessoas
consumo de água na irrigação, rendeu a uma brasileira de 23 anos para esta guinada, porém sem ameaças,
uma bolsa para estudar em uma universidade na Califórnia ligada imposições ou regras de conduta. Quere-
à Nasa (a agência espacial americana). mos promover uma abordagem positiva,
A administradora Mariana Vasconcelos, que mora em Itajubá (MG), foi propositiva, que não aponte somente pro-
selecionada entre mais de 500 pessoas para representar o Brasil como bol- blemas, mas também caminhos e soluções
sista na Singularity University. A instituição, que funciona em um centro possíveis para a sociedade que queremos.
de pesquisa da Nasa no Vale do Silício, na Califórnia, selecionou empreen- Em linha com o compromisso de ampliar
dedores de 19 países para seu programa de imersão “Call to Innovation”. a rede de colaboradores e realizadores de
Criada na fazenda do pai, Mariana desenvolveu em 2014 o Agrosmart, projetos alinhados com essa visão, a Vira-
um aplicativo que promete tornar as plantações “mais inteligentes”. da Sustentável abre seu Edital de atrações
A tecnologia utiliza sensores espalhados pelo campo, que avaliam a umi- e atividades para a quinta edição do even-
dade do solo e a presença de pragas, entre outros parâmetros. Esses dados to, que neste ano acontecerá entre 27 e 30
são interpretados pelo aplicativo, que indica ao agricultor os intervalos de de agosto.
irrigação e outras variáveis em tempo real. Segundo Mariana, a tecnologia Atenção: o período de inscrições para a
proporciona uma economia de água de até 60%. “A gente entende exata- Virada Sustentável 2015 vai até o dia 31
mente a necessidade hídrica da planta e calcula todo dia quanto deve irrigar. de maio. Após o encerramento, não se-
Às vezes, por desconhecimento, o agricultor utiliza uma quantidade de água rão aceitas mais propostas para integrar
muito acima do necessário”, explica. No Brasil, cerca de 70% da água é utili- a programação do evento.
zada na agricultura, segunda a Agência Nacional de Águas (ANA). Para tirar dúvidas sobre o Edital, conhe-
cer nossa equipe e cocriar com outros gru-
Economia de energia pos interessados em participar da Virada
Mariana afirma que, além da economia de água, o app também gera eco- Sustentável, também faremos, durante o
nomia de energia elétrica e aumento da produtividade. Diz ainda que seu período de abertura do Edital (até 31 de
uso é simples. “Queria algo que falasse a linguagem do agricultor. Tenho maio de 2015), algumas reuniões de co-
contato constante com eles, sei de suas dificuldades diárias”, afirma ela, que criação presenciais.
tem mais três sócios no empreendimento e outros cinco funcionários. Seja bem vindo!!
Por enquanto, o Agrosmart está sendo usado em duas fazendas de Minas
Gerais, como teste. Em maio deve começar sua comercialização, afirma Ma-
riana. Sua meta é atingir outras dez fazendas até julho e 35 até o fim do ano. Acompanhem nossa página no
Mariana vai para os EUA em junho. A bolsa custeia suas despesas com Facebook para mais informações
passagem, hospedagem e alimentação. Na volta, ela terá direito a fazer a respeito: facebook.com/
um MBA na faculdade de tecnologia Fiap, que representa o programa da
viradasustentavel?fref=ts
Singularity no Brasil.
Fonte: G1, Menos é Mais

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transgênicos
Cerveja: as grandes marcas brasileiras
omitem que o que você bebe é
Sem informar consumidores, Ambev, Itaipava, Kaiser

milho
e outras marcas trocam cevada pelo milho e podem
estar levando à ingestão inconsciente de transgênicos

por Flavio Siqueira Júnior e Ana Paula Bortoletto


(Outras Palavras)

V
amos falar sobre cerveja. Vamos falar sobre o Brasil, que é o 3º maior
produtor de cerveja do mundo, com 86,7 bilhões de litros vendidos
ao ano e que transformou um simples ato de consumo num ritual
presente nos corações e mentes de quem quer deixar os problemas de lado
ou, simplesmente, socializar.
Não se sabe muito bem onde a cerveja surgiu, mas sua cultura remete a
povos antigos. Até mesmo Platão já criou uma máxima, enquanto degus-
tava uma cerveja nos arredores do Partenon quando disse: “era um homem
sábio aquele que inventou a cerveja”.

Ale Paiva/Freeimages
E o que mudou de lá pra cá? Jesus Cristo, grandes navegações, revolução
industrial, segunda guerra mundial, expansão do capitalismo… Muita coisa
aconteceu e as mudanças foram vistas em todo lugar, inclusive dentro do
copo. Hoje a cerveja é muito diferente daquela imaginada pelo duque Gui-
lherme VI, que em 1516, antecipando uma calamidade pública, decretou na
Bavieira que cerveja era somente, e tão somente, água, malte e lúpulo.
Acontece que em 2012, pesquisadores brasileiros ganharam o mundo
com a publicação de um artigo científico no Journal of Food Composition
and Analysis, indicando que as cervejas mais vendidas por aqui, ao invés de
malte de cevada, são feitas de milho.
Antarctica, Bohemia, Brahma, Itaipava, Kaiser, Skol e todas aquelas em produtor de transgênicos do mundo, mais da me-
que consta como ingrediente “cereais não maltados”, não são tão puras tade do território brasileiro destinado à agricultu-
como as da Baviera, mas estão de acordo com a legislação brasileira, que ra é ocupada por essa controversa tecnologia. Na
permite a substituição de até 45% do malte de cevada por outra fonte de safra de 2013 do total de milho produzido no país,
carboidratos mais barata. 89,9% era transgênico. (Todos esses dados são di-
Agora pense na quantidade de cerveja que você já tomou e na quantidade vulgados pelas próprias empresas para mostrar
de milho que ela continha, principalmente a partir de 16 de maio de 2007. como o seu negócio está crescendo).
Foi nessa data que a CNTBio inaugurou a liberação da comercialização do mi- Enquanto isso as cervejarias vão “adequando
lho transgênico no Brasil. Hoje já temos 18 espécies desses milhos mutantes pro- seu produto ao paladar do brasileiro” pedindo
duzidos por Monsanto, Syngenta, Basf, Bayer, Dow Agrosciences e Dupont, cujo para bebermos a cerveja somente quando um de-
faturamento somado é maior que o PIB de países como Chile, Portugal e Irlanda. senho impresso na latinha estiver colorido, disfar-
çando a baixa qualidade que, segundo elas, nós
Tudo bem, mas e daí? exigimos. O que seria isso se não adaptar o nosso
E daí que ainda não há estudos que assegurem que esse milho criado em labo- paladar à presença crescente do milho?
ratório seja saudável para o consumo humano e para o equilíbrio do meio am- Da próxima vez que você tomar uma cervejinha
biente. Aliás, no ano passado um grupo de cientistas independentes liderados e passar o dia seguinte reinando no banheiro,
pelo professor de biologia molecular da Universidade de Caen, Gilles-Éric Sérali- já tem mais uma justificativa: “foi o milho”.
ni, balançou os lobistas dessas multinacionais com o teste do milho transgênico Dá um frio na barriga, não? Pois então ten-
NK603 em ratos: se fossem alimentados com esse milho em um período maior te questionar a Ambev, quem sabe eles não es-
que três meses, tumores cancerígenos horrendos surgiam rapidamente nas po- tão usando os 10,1% de milho não transgênico? O
bres cobaias. O pior é que o poder dessas multinacionais é tão grande, que o es- atendimento do SAC pode ser mais atencioso do
tudo foi desclassificado pela editora da revista por pressões de um novo diretor que a informação do rótulo, que se resume a dizer:
editorial, que tinha a Monsanto como seu empregador anterior. “ingredientes: água, cereais não maltados, lúpulo
Além disso, há um movimento mundial contra os transgênicos e o Brasil e antioxidante INS 316”. Vai uma, bem gelada?
é um de seus maiores alvos. Não é para menos, nós somos o segundo maior Fonte: pragmatismo político

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entrevista

“A água é um bem finito e


para preservá-la, precisamos
da ajuda de todos”
Entrevista exclusiva com André Corrêa, Secretário Estado do Meio Ambiente do Rio de Janeiro

A
ndré Corrêa tem 51 anos, é formado em frentamos agora. Nesse momento, continuamos
Administração de Empresas e Adminis- em situação de crise hídrica e é importante a cola-
tração Financeira pela PUC-RJ, com mes- boração de todos. Vamos continuar adotando o uso
trado em Administração Pública pela Fundação consciente desse nosso recurso tão fundamental.
Getúlio Vargas. Em 2015, assumiu seu quinto Também foi importante a conversa com os pre-
mandato de deputado estadual e, agora, retorna sidentes das empresas que compõe a zona indus-
ao comando da Secretaria de Estado do Ambien- trial de Santa Cruz e estão envolvidas diretamente
te, com o compromisso de conciliar a preservação com a captação de água no rio Guandu. As quatro
ambiental com o desenvolvimento econômico companhias juntas captam o equivalente a 1m³/s
em bases sustentáveis. Exerceu os cargos de Ge- do canal do São Francisco, que deságua na Baía de
rente de Políticas Públicas do Sebrae/RJ e mem- Sepetiba. Só para evitar a entrada de água salga-
bro do Conselho Empresarial do Meio Ambien- da neste curso, a Cedae tem que enviar 11m³/s de
te da Associação Comercial do Rio de Janeiro. A água limpa. É essa “movimentação” que quere-
sua primeira passagem pela SEA foi entre 1999 e mos evitar, pois causa grande desperdício e é in-
2002. É autor do livro Em Defesa da Vida, publica- concebível no momento atual e no futuro. Entre as
do pela Charis Editora, em 2004. iniciativas atuais estão a construção de um enro-
camento, ou seja, um dique de pedra, que evitaria
O senhor praticamente assumiu o cargo no o avanço em excesso das águas da Baía para o ca-
Em dez anos, o Rio
meio de uma crise hídrica, poderia no falar um nal. Também está em pauta a construção de uma
de Janeiro passou de
pouco sobre algumas de suas ações nessa área? adutora que captaria água de reuso diretamente
maior desmatador
André Corrêa: Tenho defendido que a água é um na estação de tratamento do Guandu. Aproveito
para o estado que
bem finito e para preservá-la, precisamos da aju- para dizer que estudo mudanças na captação da
menos desmata.
da de todos. Nesses três meses que estou à frente Refinaria de Duque de Caxias, a Reduc. Quero es-
Recebemos um
da Secretaria tenho aprendido e me surpreendido timulá-los a comprar água de reúso da Estação de
com muitas questões relacionadas ao nosso abas- elogio da Ministra Tratamento de Alegria, na Zona Norte do Rio.
tecimento. Estive em Brasília, na companhia do go- do Meio Ambiente, Temos um grande desafio pela frente, que é am-
vernador Pezão, conversamos com a Presidente Dil- Izabella, o que pliar a oferta de Saneamento Básico no nosso
ma sobre a grave crise hídrica do Sudeste e também muito nos honra estado. Esta é a maior dívida ambiental e social
com a ministra Izabella e conseguimos estabelecer que temos. Estive com os membros da Secretaria
uma ótima parceria entre Governo Federal e Esta- e do Banco Interamericano de Desenvolvimento,
dual que tornará possível uma série de obras estru- o BID, que conta com expertise em tocar projetos
turantes que melhorarão a capacidade de reservar deste porte, além do conhecimento em gerir Par-
água no Rio de Janeiro no curto e médio prazo. cerias Público Privadas, teremos muito a ganhar.
Importante dar transparência para sociedade so- Vamos em frente!
bre todas estas ações, especialmente sobre os avan- Também orientei a Coordenadoria Integrada de
ços que conseguimos nas reuniões da Agência Na- Combate aos Crimes Ambientais para intensificar
cional de Águas e com as empresas do polo de Santa as operações de combate à captação ilegal, ações
Cruz. Por exemplo, conseguimos um acordo histó- imediatas, de curto prazo. Por exemplo, estive re-
rico com Minas Gerais e São Paulo, em reunião na centemente com a Equipe na zona de amorteci-
Agência Nacional de Águas (ANA), onde definimos mento do Parque Estadual da Pedra Branca, em
novas regras de operação para os reservatórios da Vargem Grande, Zona Oeste onde apreendemos
bacia do Paraíba do Sul. Com essas medidas, quando quatro caminhões pipas e lacramos oito poços de
o nível das águas do rio voltar ao normal, teremos captação de água irregulares. Aproveito este es-
mais condição de superar estiagens como a que en- paço para alertar todos aqueles que fazem extra-

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11
Fotos: aidar aguiar/deputado andré corrêa

ção ilegal de água subterrânea – podem colocar a


barba de molho! Não iremos aceitar esse crime.
E começamos levantamento para identificar ou-
tras possíveis fontes de abastecimento público,
porque qualquer alívio ao sistema Guandu, é de
grande ajuda. Já fomos à Caixa da Mãe D’água,
onde nasce o Rio Carioca, no Parque da Tijuca, e es-
tamos estudando uma possível revitalização. Foi
bom ver que o local é um celeiro de água e tem vá-
rias minas que já atendem algumas comunidades.

Como está o Programa Minha Casa Minha Vida


aqui no Rio de Janeiro?
Esse ano, serão entregues mais de 1000 moradias
no nosso estado, através desse programa. Conversei
com o secretário de Habitação Bernardo Rossi para
falar sobre a integração de programas. Este mês, foi
um grande prazer entregar as primeiras 300 mora-
dias do Residencial Trio de Ouro, em São João de Me-
riti. As famílias contempladas com os novos aparta-
mentos moravam, antes, às margens do Rio Sarapuí,
sem condições e sempre ameaçadas por enchentes
e doenças. Com a conclusão dessa primeira fase do
projeto, demonstramos que essa realidade está mu-
dando. Em breve, mais 660 moradias completarão
o conjunto, e nós, da Secretaria do Ambiente e do
Inea, vamos continuar trabalhando para garantir a
segurança e trazer dignidade a essa população.

E a Mata Atlântica, Secretário?


Em dez anos, o Rio de Janeiro passou de maior
desmatador para o estado que menos desmata.
Recebemos um elogio da Ministra do Meio Am-
biente, Izabella, o que muito nos honra. E recen-
temente tive uma reunião super produtiva com
meus amigos Márcia e Mário Montalvani, da SOS
Mata Atlântica e vamos trabalhar juntos para
que o Rio não só pare de perder, mas sobretudo
ganhe cobertura de Mata Atlântica. Também foi
muito importante a conversa com os secretários
Julio Bueno e Christino Áureo, além das equipes
da Firjan, da Emater, da Secretaria e do Inea, onde
colocamos em pauta assuntos como o Estudo e
Relatório de Impacto Ambiental, o Eia-Rima, Dis-
tritos Florestais, Zoneamento Ecológico e princi-
palmente o Cadastro Ambiental Rural - CAR, que
é um instrumento fundamental para auxiliar no
processo de regularização ambiental de proprie-
dades e posses rurais. Quero trabalhar junto com
a Secretaria de Desenvolvimento e com a Secre-
taria de Agricultura para ampliarmos a cobertura
de Mata Atlântica do nosso estado e ao mesmo
tempo gerar oportunidade e renda.

veja mais fotos da entrega do minha casa


minha vida em são joão do meriti, RJ:
www.flickr.com/photos/depandrecorrea/
sets/72157651133430970/

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14
ecologia humana

Aldeia indiana planta


111 árvores a cada
vez que nasce uma

menina
E
m uma terra onde os homens são mais
valorizados do que as mulheres, esta
aldeia única comemora a chegada de

dollar photo club


suas filhas visando a criação de um mundo
mais verde, mais saudável.
Esse lugar encantador está localizado na
Índia. Em um país em que crianças do sexo
masculino ainda são bem mais favorecidas

A humanidade será
segundo as taxas globais, a conhecida Vila
Piplantri em Rajasthan oferece uma perspec-
tiva totalmente diferente. A aldeia celebra o

extinta em um futuro
sagrado feminino, abraçando as mais novas
tradições que de certa forma favorece a popu-

próximo?
lação local e também a população mundial.
Na intenção de criar um mundo muito me-
lhor para suas filhas, a comunidade de Pi-
plantri planta cerca de 111 árvores cada vez
que uma garota vem ao mundo. As mulheres
locais acreditam na expansão desse projeto
batizado de eco-feminino, onde a ideia prin-
cipal é que futuramente o projeto se espalhe

É
praticamente consenso científico que o destino da humanidade é pela Índia e também por todo o mundo.
igual ao de qualquer outra espécie de ser vivo que conhecemos: a ine- Em Piplantri os pais são legalmente obriga-
xorável extinção. As grandes perguntas, então, seriam como e quan- dos por uma declaração assinada afirman-
do? De acordo com uma equipe internacional de cientistas, matemáticos e do que a sua filha vai receber uma educação
filósofos do Instituto do Futuro da Humanidade, da Universidade de Oxford, adequada. O documento também exige que a
o fim dos homo sapiens sapiens pode chegar ainda no final desse século. menina deve se casar só depois que ela atin-
No relatório recém-divulgado Riscos Existenciais como Prioridade Glo- ge a maioridade, e as árvores plantadas rece-
bal, o grupo alerta que há uma possibilidade de que este seja o último sé- bem um carinho especial e muitos cuidados.
culo da humanidade. No entanto, o fim da nossa espécie não estaria vin- A comunidade trabalha em conjunto para ga-
culado a pandemias ou desastres naturais, uma vez que a maior ascen- rantir que as árvores sobrevivam, crescendo
são populacional veio justamente em um século marcado por grandes enquanto a menina floresce em feminilidade.
guerras e catástrofes. Essas árvores não são apenas ”plantadas”, os
Fome, doenças, enchentes, terremotos, mudanças ambientais e até mesmo cuidados com as mesmas vão bem além: re-
uma guerra nuclear teriam impacto significativo em grande escala, mas um cebem um controle contra pragas e adubos
número suficiente de indivíduos poderia sobreviver e continuar a espécie. para que possam crescer da melhor maneira
possível. Além das árvores os moradores lo-
Risco cais também plantam Aloe vera (Babosa) que
As grandes ameaças, então, são exatamente as inovações tecnológicas que serve de fonte de sustento para a comunidade.
tanto facilitam a vida humana. Para os pesquisadores experimentos em áre- Shyam Sundar Paliwal, ex-líder da aldeia,
as como biologia sintética, nanotecnologia e inteligência artificial são im- sugeriu pela primeira vez esta tradição em
previsíveis e podem gerar efeitos acima do nosso controle. É o caso da nano- homenagem a sua filha, que faleceu ainda jo-
tecnologia, que se realizada a nível atômico ou molecular, poderia também vem. Nos últimos 6 anos, mais 250 mil árvo-
ser altamente destrutiva ao ser usada para fins bélicos. res foram plantadas. Esta história comovente
“Existe um gargalo na história da humanidade. A condição humana irá e inspiradora merece ser compartilhada com
mudar. Pode ser que terminemos em uma catástrofe ou que sejamos trans- aqueles que você conhece. Espalhe um pou-
formados ao assumir mais controle sobre a nossa biologia. Não é ficção co de luz pelo mundo – vamos tomar como
científica, doutrina religiosa ou conversa de bar”, declarou à BBC o diretor exemplo o que essa aldeia incrível está fazen-
do instituto, Nick Bostrom. do para criar um mundo mais verde!
Fonte: portal eco D – Ecodesenvolvimento.org Fonte: viacosmos.com.br

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Startup vai usar drones para semear


1 bilhão de árvores por ano e PNUMA: Relatório
do Panorama da
reflorestar o planeta Biodiversidade Global
por Suzana Camargo está disponível em

português

divulgação BioCarbon Engineering


O
Programa das Na-
ções Unidas para
o Meio Ambiente
(PNUMA) lançou no dia 14
de abril, em Brasília, o re-
latório do Panorama da
Biodiversidade Global 4
(GBO4) em português. A
publicação reúne as úl-
timas informações sobre
Assista ao vídeo em que Lauren Fletcher explica como funcionará o replantio indicadores, compromissos e tendências da
de árvores com drones: https://vimeo.com/118457337 biodiversidade e expõe as principais conclu-
sões relevantes para a implementação da

C
orte de madeira, mineração, agropecuária e a cada vez maior expan- Convenção da Diversidade Biológica (CBD).
são dos centros urbanos em direção às florestas são responsáveis por A representante do PNUMA no Brasil, De-
levar ao chão aproximadamente 26 bilhões de árvores por ano. nise Hamú, afirmou que progressos estão
Para reverter este cenário de destruição, o americano Lauren Fletcher sendo realizados para promover a conser-
sonha em fazer um replantio em escala industrial: semear 1 bilhão de vação da fauna e flora mundial, mas alertou
árvores por ano usando drones. “Há anos eu e meu time estudamos as que é preciso redobrar os esforços para al-
mudanças climáticas. Com esta tecnologia, acreditamos que poderemos cançar as metas estabelecidas até 2020.
mudar o mundo”, afirma o visionário. “Felizmente, o GBO4 também conclui que
Fletcher, engenheiro que trabalhou durante 20 anos na Agência Aeroes- o cumprimento do Plano está ao nosso al-
pacial Americana (Nasa), é o CEO da BioCarbon Engineering, sediada em cance se ações estratégicas que atendem
Oxford, na Inglaterra. A startup desenvolveu um projeto que utiliza a tecno- simultaneamente as múltiplas causas das
logia dos drones para mapear, plantar e monitorar o crescimento das mudas. leis de biodiversidade forem tomadas de
No ar, os drones farão o mapeamento preciso das áreas que precisam ser forma consistente e coerente. Um exemplo
replantadas, gerando imagens em alta resolução e mapas em 3D. Em segui- desse tipo de abordagem é a luta do Brasil
da, o equipamento será usado para o plantio de sementes germinadas, que para reduzir dramaticamente o desmata-
tem índice de absorção na terra muito mais alto quando comparado a técni- mento da floresta amazônica”, afirmou.
cas que fazem dispersão aérea de sementes secas. Através de mensagem em vídeo, o secre-
O sistema é bastante sofisticado. Os drones descem a dois ou três metros tário executivo da Convenção da Diversi-
acima do solo e lançam uma espécie de casulo, que contem sementes pré- dade Biológica (CDB), o brasileiro Bráulio
germinadas, cobertas por um hidrogel com nutrientes. O veículo aéreo tem Ferreira Dias, destacou a importância da
capacidade para plantar dez sementes por minuto. Fletcher acredita que publicação do Relatório no idioma portu-
será possível plantar 36 mil mudas de árvores por dia. guês. A tradução amplia o acesso da aná-
A técnica de agricultura de precisão garantirá o replantio em larga escala. Se- lise à comunidade lusófona e facilita a sua
gundo a BioCarbon Engineering, o plantio manual é caro e lento e o que espalha disseminação e compreensão.
sementes secas apresenta baixo índice de germinação. Numa última etapa, os O GBO4 foi lançado oficialmente em outu-
drones servirão para monitorar as áreas que foram replantadas. Esta informa- bro nos sites idiomas oficiais da ONU e em
ção ajudará a fornecer avaliações da saúde do ecossistema ao longo do tempo. coreano e japonês durante a reunião das
No ano passado, o projeto da BioCarbon Engineering recebeu um prêmio partes da CDB realizado na Coreia do Sul.
da Skoll Foundation, fundação americana que investe na inovação e em- Fonte: onu brasil
preendedorismo social. Mais recentemente, ficou com o terceiro lugar na
competição Drones for Good, nos Emirados Árabes Unidos. A intenção do
A versão em português está disponível
engenheiro americano é que até o meio do ano os drones já estejam no ar,
em: http://bit.ly/GBO4portugues
semeando novas florestas pelo planeta. Que bons ventos os levem!
Fonte: PLANETA SUSTENTÁVEL/ABRIL

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ecologia humana

Em busca de lanterna
para novos caminhos onde a renda continua a concentrar-se em poucos
países e poucas pessoas; ou que as nações ricas con-
tinuam a consumir 80% dos recursos atuais, embo-
ra tenham pouco mais de 20% da população total,
Não faria sentido ser pessimista, otimista, visionário – – e controlam os preços para mais se beneficiarem.
a gravidade do momento não comporta. Também seria Como trataremos esse panorama nas novas ca-
insensato não sentir profunda inquietação com os minhadas, lembrando ainda que são cada vez
rumos do País, diante do inconformismo manifestado mais insistentes as análises de cientistas políti-
cos segundo os quais a “crise global” está em forte
nas ruas. Mas como transformar o desejo social em aceleração – nem a economia chinesa tem esca-
realidade, por que caminhos? pado a certos recuos? Pretendemos continuar re-
tornando à condição de exportadores de produtos
por washington novaes primários, com preços declinantes – ainda uma
vez para benefício dos “grandes” do mundo –,

N
ão há dúvida quanto aos desejos de “reforma política” e de proi- e por isso nos tornando deficitários no comércio
bição de financiamentos de empresas a campanhas eleitorais, de exterior, com graves implicações internas?
“combate à corrupção”, de maior proteção às camadas sociais de Já passou há muito da hora de uma estratégia
menor renda – todos eles evidenciados com clareza nas ruas de todo o País. que coloque no centro e no início os fatores que
Mas desse ponto em diante estamos ante enormes interrogações. mais poderiam beneficiar-nos: a nossa rica bio-
Pode-se começar pela reforma política: qual será? Que se propõe, fora a de- diversidade, a possibilidade de matriz energética
fesa – por cientistas da área e por uns poucos políticos – do voto distrital, “limpa” e renovável, a relativa abundância de re-
para aproximar o candidato dos eleitores em cada município, cada bairro? cursos hídricos (que vai sendo atingida por ques-
Será esse o desejo da sociedade, que até aqui não se evidencia com clareza? tões como as do desmatamento, do mau uso, do
Ainda que seja, quem proporá a “reforma política”? Os atuais partidos? As desperdício, etc.). Continuamos aferrados ao so-
bancadas no Congresso, todos sob ataques? Quem quer mudar a realidade nho de fazermos do petróleo um componente
política brasileira, caracterizada na maior parte pela troca de favores entre decisivo na balança comercial – deslembrando
candidatos e votantes, pelo progresso material de eleitos e eleitores? que a “crise do clima” questiona radicalmente as
No terreno do combate à corrupção – em que tem havido alguns avanços, emissões de poluentes derivadas de combustíveis
graças principalmente ao Ministério Público – também será muito difícil da- fósseis; esquecendo que isso já levou a uma que-
qui por diante, dada a evidência de um sistema consolidado de troca de favo- da brutal no preço do petróleo – e coloca também
res, principalmente entre grandes empreiteiras, administradores públicos, um ponto de interrogação na questão do pré-sal.
governantes, legisladores. Que se propõe? Com que instrumentos legislati- Em lugar dessas prioridades, o governo desman-
vos e operacionais? E que acontecerá – com que consequências – no mundo tela, na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Pre-
empresarial, já atolado nas evidências apuradas e divulgadas? sidência da República, o quadro técnico que coor-
Também na área do trabalho e da renda a equação é complicadíssima. Vai- denava “o maior estudo já feito sobre adaptação às
se esbarrar na distribuição da renda no País e na legislação que a circunda, mudanças climáticas” (amazonia.org.br, 15/3). Mes-
na resistência dos que se hoje se beneficiam do “sistema”, no intrincado que mo sabendo (16/3) que mudanças climáticas pode-
é a legislação trabalhista (e os vários fóruns que a cercam). Sem falar que o rão deixar mais de 400 mil pessoas no País expos-
chamado “equilíbrio fiscal” poderá ser chamuscado no embate entre bene- tas a enchentes fluviais até 2030, segundo estudo
ficiários e pagadores com as eventuais mudanças – e tudo com fortes reper- do World Resources Institute. E na hora em que o
cussões políticas e eleitorais. E sem falar que eventuais propostas terão de Acre se encontrava debaixo da maior enchente da
envolver os partidos, inclusive os que hoje têm maiores fatias no bolo. História e regiões pouco mais a norte enfrentavam
Na verdade, tudo teria de partir de uma nova estratégia nacional que definis- seca terrível, da mesma forma que o Semiárido. O
se linhas mestras capazes de indicar rumos para o que se deseja mudar. Mas Brasil é o 11.º país mais ameaçado pelo clima.
como fazer se hoje, em termos de “estratégia”, só se considera fundamental o Tudo isso tem de ser posto na mesa. Mas quem
chamado “crescimento do produto interno bruto”, o PIB, sem considerar que o fará, se hoje a mobilização é feita por redes so-
nesse conceito não se discutem, além do crescimento econômico, muitas das ciais, sem conexão, sem integração? Grandes ins-
mais importantes variáveis sociais, principalmente as questões relacionadas tituições nacionais – CNBB e demais igrejas, or-
com a renda e sua concentração, o desemprego, a falta de equidade com as ganizações de advogados, cientistas e outras ca-
mulheres, questões fundamentais como educação, saúde, saneamento, etc.? tegorias – precisam trabalhar em conjunto. Para
Convém lembrar que o Brasil continua a ser apontado pela ONU e outras or- que se chegue pelo menos a uma primeira pau-
ganizações como um dos países com maior concentração da renda; que ainda ta que, em discussões posteriores, nos aproxime
temos, incluídos os beneficiários do Bolsa Família e os que nem renda têm, cer- dos grandes temas mobilizadores e de propostas
ca de 50 milhões de pessoas no limite da pobreza ou abaixo dele. Não se consi- abrangentes – enquanto isso ainda é possível.
dera que para mudar esse panorama será decisiva nossa relação com o mundo, Fonte: o estado de s.paulo

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Meio ambiente
17

em São Gonçalo
encarte
São gonçalo
Nº 1 mai/15
revista do meio
ambiente, ed. 8i

Alto do Gaia, ponto culminante do município,


prefeitura de são gonçalo

com 534 metros de altitude, no bairro de


Santa Izabel, onde a onde a Secretaria
Municipal do Meio Ambiente apoia a criação
de uma das primeiras Reservas Particulares de
Patrimônio Natural (RPPN) do município. Uma
outra RPPN será criada em Guaxindiba

O meio ambiente vive em


são gonçalo
A mudança no rumo da sustentabilidade requer esperanças. Que o meio
ambiente de São Gonçalo está bastante degradado isso já é bastante
conhecido e bem divulgado, mas existe um outro lado dessa história! O meio
ambiente ainda vive em São Gonçalo! Valorizar isso é resgatar a autoestima
de viver aqui, de contemplar sua exuberante mata atlântica, grutas,
paisagens notáveis, manguezais, que abrigam uma rica biodiversidade.

NESTA edição
>> Entrevista com prefeito Neilton Mulim: “Estamos resgatando
a esperança e a autoestima de viver em São Gonçalo”
>> Boas notícias para o Meio Ambiente no município
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18 encarte São gonçalo

artigo >> Ricardo Harduim, Secretário Municipal de Meio Ambiente

Praia de pedrinhas
marcos santana

A cidade pode revelar os seus


moradores
E
m muitas regiões a natureza tornou-se desafeto do ho- ‘não considerada’ aos olhos do homem é um tiro no pé da sua
mem. Não é muito difícil diagnosticar um povo que vive própria espécie. O agravante é que quem não considera tam-
numa cidade em que os rios estão poluídos com lixo bém não respeita. Consideração significa “estrelas juntas” e
e esgoto. Nesse caso a população está intoxicada, doente do respeito é a qualidade de registrar no peito o contentamento
corpo e da mente. No corpo surgem alergias, doenças da presença. A Natureza é sempre presente no homem,
respiratórias, insônia, envelhecimento precoce. Na um local mesmo que ele não a ‘considere’ e não a ‘respeite’.
mente, ansiedade, depressão, irritação, estresse. com rios de águas Ele necessita da água dos rios, do ar das árvores
Outro agravante é que as relações interpes- e do alimento do chão. Pode viver sem ipod mas
limpas, ar puro e
soais também ficam comprometidas e ma- não pode viver sem biodiversidade.
áreas arborizadas
nifestam-se enfermidades sociais, tais como Ela, a Natureza, por sua vez, assim como o
revela moradores com
preconceito, desamor, agressividade e outras planeta, não necessita da presença do homem.
saúde, que necessitam
formas de violência. Não é uma relação simbiótica, de interdepen-
menos dos hospitais,
Ou seja, uma cidade com rios poluídos, ar dência (vital). Há sim, uma relação e até mesmo
contaminado e que não possui áreas verdes, que ingerem menos uma cooperação. Há ainda uma conexão clara
ciclovias, parques e praças adoece os moradores. narcóticos onde o homem não ocupa o topo da pirâmide, ele
Por outro lado, um local com rios de águas limpas, ar simplesmente é um todo nessa pirâmide. Igualmente
puro e áreas arborizadas revela moradores com saúde, que a todos os outros seres vivos. Vem daí, portanto, a interdepen-
necessitam menos dos hospitais, que ingerem menos narcó- dência. A natureza dos seres vivos é a representação do ‘todo’.
ticos. Pessoas que vivem em locais com atributos ecológicos O mecanismo biológico é inteiro, holístico e onipresente.
se respeitam mais, pois viver em um meio ambiente saudá- Essa forma de olhar e entender pode nos levar a outra forma
vel é viver em harmonia. A relação é direta entre a qualidade de vida, a um novo modelo de relação. A partir daí podemos
ambiental e o bem-estar dos moradores. alcançar a sustentabilidade e assim reconsiderar o ‘desenvol-
Um problema hoje é que o homem vive cercado de concreto, vimento sustentável’ que talvez seja um dos caminhos que,
asfalto e aparelhos eletrônicos. Respira fumaça e ingere fast- paradoxalmente, nos levam à degradação social com perda
foods com gorduras hidrogenadas, hormônios, aspartames e da nossa identidade patrimonial ambiental.
agroquímicos. Cada vez mais o homem se afasta da Natureza.
E o distanciamento promove a desconsideração. A Natureza Linha direta: meioambiente@pmsg.rj.gov.br >>2199-6549

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encarte São gonçalo 19

notícias

Boas Notícias

prefeitura de são gonçalo


para o Meio
Ambiente no
município
O secretário municipal de Meio
Ambiente, Ricardo Harduim, es-
teve com Altineu Cortes, proprie-
tário da área vistoriando o local
da futura RPPN do Alto do Gaia.
Além desta RPPN, o Secretário
estuda com a Superintendência
de Florestas e Biodiversidade da Sr. Altineu Cortes (à esquerda),
Secretaria de Estado do Ambien- proprietário da área onde
se localiza a futura RPPN,
te a criação de outras três. mostra a região ao secretário

Banco de dados Centro de Tratamento de Resíduos


mundial sobre A equipe de meio ambiente da Secretaria de Meio Ambiente visitou o
meio ambiente Centro de Tratamento de Resíduos (CTR), no bairro do Anaia Pequeno, onde
acompanhou o funcionamento do aterro e conheceu a Câmara Fria (para
O município de São Gonçalo ins-
disposição provisória de resíduo hospitalar). Durante a visita ao local, apro-
creveu-se no CDP Cities (Driving
veitaram para conhecer o equipamento importado para o tratamento de
Sustanable Economies), organiza-
chorume, o sistema de canalização e drenagem de águas pluviais, e tam-
ção internacional sem fins lucra-
bém o viveiro de produção de mudas nativas da Mata Atlântica, espaço des-
tivos, que fornece o maior e mais
tinado às ações de educação ambiental.
completo sistema global de di-
“Conheço quase todos os CTRs do estado e alguns no país. Porém, fiquei
vulgação ambiental. O objetivo é
surpreso com o que vi aqui. Este é sem dúvida um dos melhores aterros em
compartilhar experiências e proje-
funcionamento no Brasil. O compromisso com o meio ambiente é revelado
tos ambientais com municípios e
em todas as etapas do funcionamento, desde o gás metano que é queima-
organizações do Brasil e do mun-
do para não agravar o problema do aquecimento global até a disposição
do, o que poderá facilitar a execu-
em incrementar o plano de Educação Ambiental com alunos das escolas
ção de parcerias público-privadas.
municipais”, declarou o secretário.
A entidade vai enviar relatório em
O coordenador de Fiscalização e Licenciamento, João Arthur Carvalho, e
setembro com a inscrição do mu-
o assessor Luiz Mário Fonseca, ambos formados em Ciências Biológicas,
nicípio entre os signatários.
também participaram do encontro.
O CDP detém o maior banco de
dados corporativos sobre mudan-
ças climáticas, água e florestas. Es-
sas informações geram insights
que permitem aos investidores, em- Retorno
presas e governos mitigar riscos do
uso de energia e recursos naturais, O Município voltou a fazer parte do Subcomitê Leste Fluminense do Co-
assim como identificar oportunida- mitê da Bacia Hidrográfica da Baía da Guanabara. O Secretário Harduim
des de uma abordagem mais res- já participou de reunião em São Gonçalo com representantes da Schin-
ponsável em relação ao meio am- cariol, Coca-Cola, Águas de Niterói, Prefeitura de Niterói, Cedae, Grupo de
biente. Mais de 4.500 organizações Escoteiros Gaviões do Mar e outras instituições.
de todo mundo reportam seus da- “A cidade será inserida no planejamento de programas que viabilizem
dos climáticos ao CDP. projetos com recursos”, contou o secretário.

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20 encarte São gonçalo

entrevista >> Prefeito Neilton Mulim

Estamos resgatando a esperança

viver em
Fotos: prefeitura de são gonçalo

A cidade pode revelar os seus


moradores
o prefeito Neilton Mulim é professor de matemática

REBIA >> Quais serão os benefícios socioambientais das obras


Lançamento da Linha 3 do metrô, com a presença da Presidente Dilma, em São
Gonçalo, com liberação de verbas, para o projeto de transporte via BRT e ciclovia

anunciadas pela presidente Dilma para a Linha 3 do Metrô? além de aliviar o trânsito, a chegada
do brt vai reduzir engarrafamentos
Neilton Mulim >> A cidade de São Gonçalo vai ganhar nova que tanto perturbam a vida dos
paisagem, muito melhor. Estas obras resolverão cerca de gonçalenses, contribuir para a economia
80% da questão da mobilidade urbana, compreendendo um
da população que não terá de gastar
corredor viário exclusivo de ônibus de alta capacidade (BRT-
com combustível e estacionamento,
Bus Rapid Transport), que interligará os bairros do Gradim
até Santa Izabel, passando por Vila Lage, uma ciclovia e a fai- melhorando também o ar de nossa
xa seletiva, paralelas ao percurso da Linha 3 do Metrô, de Ne- cidade, amenizando os danos causados
ves até a divisa com Itaboraí, pelo domínio da antiga linha pela emissão dos gases de efeito estufa
férrea. Com as obras, o gonçalense diminuirá em cerca de
uma hora seu tempo de percurso, que atualmente dura cer-
ca de 1h40. Além disso, muito mais gente poderá ser trans- REBIA >> Como a Prefeitura vem cuidando do meio ambiente
portada de cada vez. São cerca de 270 passageiros por cada urbano da cidade?
BRT. O que além de aliviar o trânsito, reduzindo engarrafa-
mentos que tanto perturbam a vida dos gonçalenses, contri- Neilton Mulim >> São Gonçalo está virando, aos poucos, um
buir para a economia da população que não terá de gastar grande canteiro de obras e o resultado é que a população con-
com combustível e estacionamento, melhorando também tará com ruas melhores para transitar e morar. Iniciamos as
o ar de nossa cidade, amenizando os danos causados pela obras com a recuperação da usina de asfalto do município e
emissão dos gases de efeito estufa. agora recebemos o sinal verde do Ministério das Cidades que
Destaco ainda que estas obras irão revitalizar e recuperar a irá levar mais obras até outras 172 vias do município e bene-
paisagem urbana, pois ocorrerão nos trechos da antiga linha ficiará ruas dos bairros Bom Retiro, Guaxindiba, Lagoinha, La-
férrea que corta a cidade. Um detalhe: no futuro o BRT pode- ranjal, Jardim Miriambi, Pacheco, Santa Luzia, Vila Três e Vista
rá dar lugar a um outro tipo de transporte público de massa, Alegre. Outros convênios estão sendo viabilizados para que
pois o percurso poderá ser facilmente adaptado. outros bairros da cidade recebam as mesmas obras.

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encarte São gonçalo 21

notícias

e a autoestima de

são gonçalo

Teve início os estudos para a implantação da nova unidade A Prefeitura de São Gonçalo tem apoiado os pequenos produtores
fabril da DeMillus em São Gonçalo. Acompanhado dos diretores rurais do município garantindo a compra de frutas, verduras e
da empresa, Abdalla Haddad e Nelson Cuptchik, além do legumes orgânicos para merenda escolar municipal.
deputado estadual, André Corrêa, e do secretário municipal de
Desenvolvimento Econômico, Carlos Ney, o Prefeito Neilton Mulim
sobrevoou várias localidades onde a nova fábrica pode ser
instalada, gerando novas oportunidades de emprego e levando Trouxemos uma nova equipe que assumiu
desenvolvimento à região, com respeito ao meio ambientE recentemente a Secretaria de Meio
Ambiente e já está produzindo diversos
REBIA >> Que outras conquistas socioambientais o senhor resultados positivos para a nossa cidade.
destacaria, entre as ações mais recentes?

Neilton Mulim >> Trouxemos uma nova equipe que assu- florestadas e nas vias adjacentes serão instalados parques
miu recentemente a Secretaria de Meio Ambiente e já está pluviais, jardins e ciclovias. As obras irão beneficiar cerca de
produzindo diversos resultados positivos para a nossa cida- 250 mil pessoas. Estamos ampliando o sistema de abaste-
de. Vem reforçar nosso trabalho pelo meio ambiente, onde cimento de água de Monjolos, numa parceria da Prefeitura
temos incentivado a mobilização e a organização da socie- com a Cedae, beneficiando uma população estimada em 67
dade em torno das questões socioambientais, como por mil habitantes. O conjunto de obras inclui dois reservató-
exemplo, a eleição e posse do Conselho Municipal de Meio rios, construídos junto a outro já existente, em Amendoeira
Ambiente, assim como a eleição do Conselho Gestor da APA – com capacidade para armazenar 10 milhões de litros –, e
do Engenho Pequeno e o acompanhamento dos avanços da uma terceira unidade para R$ 5 milhões de litros no próprio
Agenda 21. bairro Monjolos; assentamento de cerca de 5 mil metros de
A Operação Cidade Limpa está fazendo uma faxina na cida- tubos com 500 milímetros de diâmetro, interligando o re-
de sob a coordenação do meu secretário de Governo Sandro servatório de Amendoeira ao de Monjolos e outros 10.270
Barbosa em parceria com o meio ambiente e outros setores metros de redes com diâmetro de 300 e 500 milímetros.
da prefeitura. Determinei que passe a priorizar o plantio de
árvores no anel viário do município para amenizar o calor e Linha direta:
recuperar a paisagem urbana. gabinete@pmsg.rj.gov.br >>21 2199-6373/2199-6322
Em parceria com o governo federal (PAC), estamos em
processo de desassoreamento do Rio Imbuaçu e recompon- Página no Facebook:
do as canalizações de esgoto. As margens do rio serão re- https://www.facebook.com/neiltonmulim.nm

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22 encarte São gonçalo

educação ambiental >> Vilmar Berna*, autor de Como Fazer Educação Ambiental

dez dicas
para os Amigos de São Gonçalo
“A educação deve ajudar o homem brasileiro a inserir-se criticamente
no processo histórico e a libertar-se, pela conscientização, da síndrome
do ter e da escravidão do consumismo.” - Paulo Freire

1 >> Amigos de São Gonçalo fazem a diferença pelo bem


prefeitura de são gonçalo

socioambiental
Estão constantemente revendo suas escolhas e atitudes em
casa, no trabalho, na comunidade para mudar o que estiver
provocando ou agravando a poluição ou degradação ambien-
tal, e isso tudo, sem ter de esperar que alguém venha exigir
isso deles. Agem por eles próprios, por consciência e vontade
de viver num lugar melhor, mais bonito, menos poluído, pois
a diferença que esperam dos outros começa primeiro neles
próprios, por exemplo, usam o automóvel o menos possível,
praticam a carona solidária, preferem usar a bicicleta, trem,
barcas, metrô, ônibus, e até mesmo andar a pé, ou trabalhar
na própria casa, reduzindo ao máximo os deslocamentos no
trânsito. Evitam barulhos, como música alta.

2 >> Amigos de São Gonçalo não desperdiçam água nem


energia!
A água não sai da parede, muito menos a energia nasce
na tomada. Ela vem de rios e mananciais que estão sendo
agredidos pela poluição e pelo desmatamento, o que tor-
na a água potável cada vez menos disponível, e eleva seu 4 >> Amigos de São Gonçalo cuidam dos animais e das plantas
custo de tratamento. A energia, para ser gerada, afoga rios Agem de maneira responsável com os animais e as plan-
e terras férteis, desloca populações, ou usa recursos não re- tas sob sua responsabilidade. Não deixam que sofram des-
nováveis como petróleo e carvão ou criar riscos e lixo peri- necessariamente, cuidam para que tenham água, alimento,
goso como o nuclear. conforto. Recusam se divertir em rodeios e circos que exi-
bem animais, não frequentam zoológicos. Recusam produ-
3 >> Amigos de São Gonçalo não desperdiçam recursos! tos e alimentos que não respeitam a dor e o sofrimentos dos
Escolhem consumir o necessário. Resistem ao modismo de animais. Emprestam suas vozes às plantas e animais que so-
trocar de carro, roupa, bens. Se recusam a gastar dinheiro frem por que eles não tem como se defender.
desnecessariamente para desperdiçar recursos naturais, ou
poluir o Planeta. Dizem não a produtos supérfluos ou feitos 5 >> Amigos de São Gonçalo plantam e cuidam das árvores
para durar pouco; ou que gastem muita energia ou água; ou Ajudam a defender as árvores e florestas existentes. Denun-
que contaminem o meio ambiente; ou descartáveis cujas ciam as agressões. Plantam novas árvores e cuidam delas com
embalagens não retornam aos fabricantes. Escolhem usar carinho e respeito. Recusam comprar madeiras e móveis de fa-
sacolas de pano e caixas para suas compras. Evitam as saco- bricantes que não comprovem a origem ecologicamente corre-
las plásticas. Escolhem alimentos e produtos naturais e evi- ta e legal. Utilizam os dois lados da folha de papel. Fazem coleta
tam os industrializados. seletiva em sua casa e encaminham o papel para reciclagem.

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encarte São gonçalo 23

7 >> Amigos de São Gonçalo não perdem o contato com

fotos: rodrigo polycarpo


a natureza
Procuram reservar um tempo para contemplar as belas paisa-
gens, caminham descalço na areia da praia, fazem caminhadas
na mata atlântica e em parques e reservas, tomar banho de rio,
cachoeiras, lagoas, mar, etc. Sempre que podem, cultivam flores,
horta, plantas, inclusive utilizando os materiais úmidos da reci-
clagem para fazer a compostagem para adubar suas plantas.
Estudam e procuram se manter informados sobre a natureza,
mesmo que não seja tarefa da escola. Quanto mais sabem, me-
lhor podem ajudar a defender o meio ambiente.

8 >> Amigos de São Gonçalo só votam em que comprova


se importar com o meio ambiente, e mantém olho vivo no
seu representante!
Nas campanhas eleitorais, agem proativamente procuran-
do saber e participar de reuniões onde seus candidatos tra-
tam das questões ambientais. E, mesmo depois de eleitos,
mantém olho vivo nas suas ações, nos projetos que aprovam
e que votam, tendo sempre à mão e-mails e outros canais de
comunicação que permita o contato com eles, para cobrar,
reclamar, encaminhar denúncias e sugestões.

9 >> Amigos de São Gonçalo lutam por direitos constitucionais


Sabem que a cidade melhor, mais ecológica, justa, democrá-
tica que desejam, não começa nos outros, mas neles próprios,
então, não ficam esperando que alguém venha convidar, fisca-
lizar, oferecer direitos. Existem muitas organizações na cidade
dedicadas à causa socioambiental que precisam da ajuda de vo-
luntários, ou os amigos do meio ambiente podem se organizar
e criar eles mesmos uma associação socioambiental no bairro,
na escola, etc., e assim passar a atuar de forma organizada na
reivindicação dos direitos da sociedade a viver num meio
ambiente ecologicamente equilibrado, conforme asse-
Os Amigos gura o artigo 225 da Constituição Federal do Brasil.
do Meio Ambiente
nunca jogam lixo 10 >> Bons exemplos valem mais que mil palavras
fora dos seus locais Os amigos do meio ambiente devem começar
6 >> Amigos de São Gonçalo separam os mate- apropriados. Enquanto logo, e, para saber onde querem chegar e preciso
riais recicláveis e só jogam o lixo no lugar certo! não acham a vasilha saber onde estão: fazer um diagnóstico da reali-
O que se costuma chamar de lixo nada mais é adequada, guardam dade é o primeiro passo para identificar os aspec-
que matéria prima e recursos naturais mistura- no bolso tos e os impactos socioambientais que precisam ser
dos e fora do lugar, então, os amigos do meio am- enfrentados, identificando quem pode ajudar e quem
biente praticam a coleta seletiva em casa, no trabalho, não pode, onde estão os parceiros e aliados e os adversá-
etc. separando o que é material seco (papel, plástico, vidro, rios, e como enfrentá-los; definir que ações deverão ser adotadas
metais) do que é material úmido (restos de alimentos) e se primeiro e quais deverão vir em seguida, passo a passo, sabendo
preocupam em dar destinação adequada aos resíduos perigo- que no início não é a velocidade que importa, mas o rumo certo
sos e que não tem reciclagem ou que requerem tratamento da mudança, e que a mudança se dá na direção do mais simples
especial (pilhas, resíduos de saúde infectantes, papéis sujos, par ao mais complexo; definir como serão avaliados os fracassos
etc.). Os Amigos do Meio Ambiente nunca jogam lixo fora dos e os sucessos e em que reuniões ou de que forma os amigos do
seus locais apropriados. Enquanto não acham a vasilha ade- meio ambiente poderão se encontrar, refletir, definir estratégias.
quada, guardam no bolso. E são vigilantes para denunciarem * Vilmar Berna é ambientalista e começou sua militância e cidadania so-
sempre que constatam agressões ambientais, fotografando cioambiental em São Gonçalo, quando fundou a UNIVERDE, e foi o criador
com seus celulares e enviando para os órgãos responsáveis da estrutura que deu origem à atual Secretaria Municipal do Meio Ambiente,
pelo controle ambiental e para a imprensa. antes uma Diretoria de Meio Ambiente ligada à Secretaria de Planejamento.

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24 encarte São gonçalo

AGENDA 21 São Gonçalo >> Redação REBIA (Rede Brasileira de Informação Ambiental)

O meio ambiente vive em


prefeitura de são gonçalo

são gonçalo

Em São Gonçalo, o clima é tropical, apresentando verão


quente e úmido, e inverno frio e relativamente seco. Com base
nos dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Metrologia
(Inmet, 2006), a temperatura média anual é de 25 °C e a
precipitação média anual é de 1.200 mm, aproximadamente
vista da apa engenho pequeno

Florestas de São Gonçalo Rios de São Gonçalo


São Gonçalo tem uma diversidade de relevos que favore- O município de São Gonçalo está inserido na região hidrográfi-
ce a existência de áreas ainda florestadas. Segundo dados ca da Baía de Guanabara, compreendendo as bacias hidrográfi-
do Atlas dos Remanescentes da Mata Atlântica, ainda há cas do Guaxindiba/Alcântara e Caceribú. Além disso, sofre influ-
manchas de áreas verdes a serem preservadas. O município ência da bacia dos rios Guapi-Macacu. A Bacia do Guaxindiba/Al-
tem cerca de 15% de seu território cobertos por remanes- cântara, com uma área de aproximadamente 144,6 km², situa-se
centes florestais, encontrados em topos de maciços cos- na porção leste da Baía de Guanabara, ocupada pelos municípios
teiros na divisa com Niterói, em pequenas áreas na porção de Niterói, São Gonçalo e uma pequena parte de Itaboraí.
norte do município e nas escarpas das serras. Em localida- O Rio Guaxindiba nasce no bairro do Anaia, em São Gonça-
des que sofrem com as inundações durante os meses mais lo, e percorre cerca de 30 km antes de desaguar na Baía de
chuvosos, a vegetação é rasteira, e os manguezais são co- Guanabara, passando pela APA de Guapimirim, a maior área
muns. As áreas de mangue são um importante patrimônio preservada de manguezal da Baía.
ambiental de São Gonçalo. Sua biodiversidade e potencial A Bacia do Rio Caceribú é um dos principais contribuintes
econômico já foram temas de projetos de pesquisa desen- da Baía de Guanabara. Com quase 846 km2 e 60 quilômetros
volvidos por universidades. de extensão, é a segunda maior área de drenagem de toda
a região hidrográfica. Compreendendo os municípios de Ca-
Unidades de Conservação choeiras de Macacu, Itaboraí e Guapimirim, a bacia hidrográ-
As Unidades de Conservação (UCs) de Uso Sustentável fica dos rios Guapi-Macacu é responsável pelo abastecimen-
e as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) do Engenho Pe- to dos municípios de São Gonçalo e Niterói. O município faz
queno e de Guapimirim, que contam com plano de mane- parte do Comitê da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara,
jo especificado em lei, abrangem 5% do território de São que promove a gestão integrada dos recursos hídricos.
Gonçalo. Uma pequena parte (0,2%) do município está in-
serida na Estação Ecológica da Guanabara, que é uma UC Fonte: agenda21comperj.com.br/sites/localhost/files/Agenda
de Proteção Integral. %2021_SG.pdf

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dollar photo club
26
projeto especial rebia

Os projetos socioambientais como destino

e esperança
O
s projetos socioambientais, os bons exem- medidas compensatórias de licenças ambientais
existe um
plos, as boas práticas, carregam em si a se- ou por termos de ajustes; projetos privados, como
intenso esforço
mente da mudança. Além dos benefícios as RPPNs, ou realizados por artistas que neutrali-
e trabalho de
diretos que produzem, tem o beneficio indireto de zam seus shows e DVDs plantado árvores nativas;
motivar, de dar esperanças de que vale a pena lutar, pessoas, empresas, inúmeros projetos de ONGs e OSCIPs, como a SOS
de mostrar o caminho e a direção dessa mudança. governos, Mata Atlântica, IUCN, WWF, etc.
Por isso, tão importante quanto patrocinar e organizações que
executar bons projetos socioambientais é tam- realizam belíssimos Aplicativo gratuito
bém divulga-los, pois o público não é obrigado a projetos A Rebia busca apoio e patrocínio para o desen-
saber. E a menos que as informações sejam divul- socioambientais volvimento de um aplicativo gratuito que facilite
gadas, não produzirão resultados diferentes. no Brasil que a vida dos interessados em conhecer os projetos
Para contribuir na divulgação dos projetos so- infelizmente, não socioambientais brasileiros. Que não só forne-
cioambientais, a Rebia se dispõe a reunir infor- ganham tanto ça as informações sobre estes projetos, mas que
mações existentes e produzir novas, indo até cada destaque quanto informe automaticamente no celular do usuário
projeto para conhecer e divulgar. as más notícias. interessado sempre que ele passar por perto de
As informações darão origem a matérias jorna- Graças a esses onde exista um desses projeto.
listicas para divulgação permanente e na íntegra projetos a situação Entre outras informações, o aplicativo dirá que
no www.portaldomeioambiente.org.br e numa ambiental não está projetos são estes, que benefícios realizam, quem
forma editada na www.revistadomeioambiente. pior, e podemos ter patrocina e quem executa, onde ficam, se aceitam
org.br e cada projeto visitado ganhará exempla- esperanças de que visitantes e voluntários, como e quando chegar,
res da revista para distribuição gratuita aos seus é possível mudar
onde se hospedar, acampar, estacionar, comer,
públicos de interesse, incluindo nas bibliotecas que atrativos culturais, históricos, ambientais as
públicas e as escolas da região. cidades do entorno oferecem, etc.
Ao contrário do que se possa pensar – em fun-
ção do bombardeio de más noticiais ambientais Parceiros
e dos péssimos indicadores socioambientais –, Além dos patrocinadores dos projetos a serem di-
existe um intenso esforço e trabalho de pessoas, vulgados, a Rebia buscará o apoio e parceria com
empresas, governos, organizações que realizam empresas de drones para oferecer imagens aéreas
belíssimos projetos socioambientais no Brasil em video com uma visão panorâmica bem próxi-
que infelizmente, não ganham tanto destaque ma da realidade que o visitante poderá conhecer.
quanto as más notícias. Graças a esses projetos a A Rebia buscará ainda parceria com o Google
situação ambiental não está pior, e podemos ter para oferecer imagens em 360 graus de cada lo-
esperanças de que é possível mudar. cal onde está o projeto, bem como mapas com
Entre eles, a Rebia destaca os projetos socioam- GPS para facilitar o acesso.
bientais patrocinados por empresas e fundações Câmeras instaladas no motorhome do projeto
tais como Petrobras Ambiental, Boticário, Natura estarão ligadas 24 hs mostrando o clima, o trân-
Para contatos e
Toyota, Ford, etc; projetos executados com fundos sito, as condições das estradas. A Rebia busca
mais informações:
públicos como FNMA, FunBio, Fecam, etc; proje- parcerias com empresas de telefonia por satélite
vilmar@rebia.org.br
tos de interesse público como os realizados por para oferecer estas imagens on line.

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Gente e lugares que fazem
o bem socioambiental
Na palma da sua mão, grátis,
entos
á com equipam
informações e programação sobre O projeto contar fotos
veiculação de
os projetos socioambientais e as para produção e itada.
Projeto e área vis
Unidades de Conservação. em 360º de cada

Você saberá como chegar, qual a


programação, quando e como visitar
ou atuar como voluntário e muito mais!

A realidade não é feita só de más notícias mas


também das boas notícias, de bons exemplos.
Além de produzirem e inspirarem boas
práticas, transmitem esperança na mudança.

> A REBIA busca apoio e patrocínios para


reunir e divulgar as informações sobre os
projetos socioambientais e as unidades O motorhome do
Projeto conduz
de conservação no BRASIL que estão para produção irá equipamento
de textos e imag s
contribuindo para o bem socioambiental para áreas de di en s, motocicleta
fícil acesso, etc.
do Planeta e dos outros através de matérias
jornalísticas veiculadas no PORTAL DO MEIO
AMBIENTE, na REVISTA DO MEIO AMBIENTE,
nas mídias parceiras, na mídia local, nas
Redes Sociais, etc.

> As informações serão disponibilizadas


ainda num APLICATIVO gratuito para divulgar
programações, incentivar o ecoturismo
e a participação em ações voluntárias, etc.

> No LIVRO DE VISITAS os visitantes


poderão postar fotos, fazer comentários,
sobre os projetos e áreas que conheceram.

PROPONENTE CONTATO OSCIPS PARCEIRAS

vilmar@rebia.org.br

(21) 9.9994.7634
28
pesquisa ambiental

‘Estado do Mundo 2015’


põe em xeque nosso modelo de produção e de consumo

por Amelia Gonzalez

“C
omo diz a ativista Naomi Klein, sal-

Dollarphotoclub
var o clima requer revisitar os cen-
tros de mecanismo do sistema eco-
nômico mundial, o capitalismo. Mas as agên-
cias internacionais e os governos preferem es-
capar deste desafio e se engajam no conceito
‘crescimento verde’, que reafirma a centralida-
de do crescimento econômico e evita qualquer
crítica à dinâmica que trouxe a civilização para
a beira do abismo.
De acordo com a Organização para Coorde-
nação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
o crescimento verde significa fomentar o pro-
gresso econômico e o desenvolvimento, en-
quanto assegura que bens naturais continuem
a prover os recursos e os serviços ambientais
dos quais depende nosso bem estar”.

E eu me pergunto: isso é possível?


A provocação acima tirei da publicação “Esta-
do do Mundo 2015”, que foi lançada ontem, em
Washington, nos Estados Unidos, num evento A questão é saber quem são e onde estão os que poderiam se beneficiar.
que pude acompanhar online. Trata-se de uma Numa das mesas de debate que aconteceu durante o lançamento online
coletânea de artigos que todos os anos é lançada – o evento todo durou mais de três horas – o palestrante Nathan Hagens,
pela Worldwatch Institute (WWI), uma organi- conhecido ex-funcionário de Wall Street que, em 1999, já tinha ganhado
zação sem fins lucrativos especializada em fazer muito dinheiro, teve uma crise de consciência, abandonou tudo e decidiu
pesquisas sobre energia e recursos ambientais. estudar sobre os limites da energia. Ele lembrou aqueles que foram total-
O texto que copiei está na apresentação do tra- mente excluídos do sistema, pessoas que não estão em nenhuma ponta da
balho e foi escrito por Michael Renner, pesquisa- cadeia, ou seja, nem produzem nem consomem.
dor sênior do WWI. Como exigir delas que respondam a uma conscientização coletiva em
Acompanho as publicações dessa organização prol de um mundo melhor? Quanto a ele, hoje vive com menos dinheiro,
desde 2012, quando, na esteira da Rio+20 (Con- mas é feliz com seus três cães, seis gatos, quatro cavalos, uma namorada, e
ferência da ONU que aconteceu aqui no Rio), o estudando um meio de ajudar a humanidade a conviver com “o mesmo ou
“Estado do Mundo 2012” foi lançado também menos a cada ano, em vez de mais”. Só assim, acredita, é que conseguire-
em português. Mas há “Estados do Mundo” des- mos fazer aquilo que a OCDE chama de “assegurar os bens naturais”.
de 1984. E é interessante observar a evolução “Crescimento econômico traz muitos problemas ambientais e produz um
do tema sob a ótica sempre crítica da equipe mundo no qual as atividades humanas têm crescido tanto que o planeta
da WWI, percebendo que, nos textos, o tom de não consegue se acomodar a elas. Poucos são aqueles que reconhecem que
desesperança, na maioria das vezes, é maior do o crescimento a todo custo precisa ser abandonado como meta”, escreve
que o de otimismo. Nathan no seu texto para o “Estado do Mundo 2015”.
As publicações, que podem ser lidas online no Talvez em resposta a uma provocação dos editores, a maioria dos au-
site da instituição, são, sobretudo, espaços bem tores dos textos da publicação, de uma forma ou de outra, apontam o
utilizados e que dão bastante informação, ferra- dedo para uma ferida que não é nova mas que, aos poucos, vai se tor-
menta essencial para governos e agências inter- nando mais aberta e pronta para receber medicamentos. Acredito que te-
nacionais. Se eles não preferissem os eufemis- nha sido pensada uma espécie de hierarquia das cobranças da WWI des-
mos, como afirma Renner em seu artigo, certa- de 2012. Naquele ano, o título do “Estado do Mundo” foi um esperançoso
mente teriam nesses livros chances de saber o “Rumo à prosperidade Sustentável”. No ano seguinte, a organização se
que e como fazer para melhorar a vida de muitos, perguntava: “Sustentabilidade ainda é possível?” para, em 2014, concla-
numa nova ordem mundial que há de existir. mar os governantes: “Governando para sustentabilidade”. O título deste

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29

crise da água
ano é pouco afável, sugere um pé fincado na re-
alidade sem máscaras: “Confrontando as amea-
Oito indústrias de SP têm
ças ocultas para a sustentabilidade”.
Na lista das “ameaças ocultas” certamente
o dobro da água de toda a
cidade de Campinas
está o crescimento econômico no velho estilo
“business as usual” que Michael Renner traduz
em números, resultado de extensa pesquisa fei-
ta por ele:
“Os humanos usaram dez vezes mais energia Empresas captam de rios da bacia do Cantareira;
durante o século XX do que eles tinham usado cidades no entorno sofrem com crise hídrica.
nos últimos mil anos. A extração de carvão sal- Governo do Estado estuda mudar modelo de
tou de dez milhões de toneladas em 1800 para
licenças para evitar que atendimento ao setor
762 milhões de toneladas em 1900. Alcançou 4,7
milhões somente em 2000 e pulou para quase afete moradores
7,9 milhões em 2013. A produção de petróleo co-
meçou somente no século XIX, mas cresceu ra- por ARTUR RODRIGUES e FABRÍCIO LOBEL
pidamente de 20 milhões de toneladas em 1900

U
para 3,2 milhões em 2000 e 4,1 milhões em 2013 m grupo de apenas oito indústrias do interior paulista tem
– um aumento de 207 vezes desde 1900. autorização para captar dos rios uma quantidade de água
Em 1940, o mundo usou cerca de 4 milhões de duas vezes maior que a da cidade de Campinas (a 93 km de
toneladas de fertilizantes. Este número chegou a SP), com 1,1 milhão de habitantes.
137 milhões no ano 2000 e deu um salto até 2013, As empresas lideram a lista das maiores licenças de captação de
quando foram utilizados cerca de 179 milhões de água na bacia do sistema Cantareira, a mais afetada pela atual crise
toneladas de fertilizantes. Em 1900 a frota auto- hídrica no interior São Paulo.
mobilística mundial era de cerca de 25 mil carros Em alguns casos, o uso da água por essas companhias, combinado com
e esse número já passava de um milhão em 1910 chuvas abaixo da média, causa impacto no abastecimento da população.
mas, em 1960, havia cem milhões de carros cir- A região tem pequenos municípios em rodízio de água há um ano.
culando pelas estradas, número que chegou a 1 Diante da atual crise, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) estuda
bilhão em 2013”, relata Renner. mudar as regras de concessão da água para evitar que o atendimen-
Está certo que os fertilizantes ajudaram a ali- to à indústria afete moradores.
mentar mais gente, que o carvão aqueceu mui- Atualmente, a legislação prevê que o abastecimento humano deve
tas casas e que os automóveis foram uma ajuda ter prioridade sobre outros setores, como o industrial, a agricultura
e tanto para a mobilidade do homem. Mas todos e a produção de energia, mas, para especialistas e integrantes do
esses dispositivos que a humanidade foi crian- governo, a regra não é suficiente em condições climáticas extremas.
do para se manter no planeta obedecendo a uma “O abastecimento público é prioritário, mas e entre todos os outros
ordem de mais e mais conforto é que agora es- usos? Quem sai da fila entre a indústria, a agricultura e o setor elétri-
tão apresentando a conta, segundo Renner. São co? Nosso sistema de outorga não responde a isso”, disse em evento pú-
as ameaças ocultas do nosso modus vivendi. O blico em março Mônica Porto, secretária-adjunta de Recursos Hídricos.
pesquisador toma como certo, indiscutível, o es- Um dos primeiros avanços na discussão ocorreu em janeiro, quan-
tudo dos cientistas do Intergovernmental Panel do a ANA e o DAEE (agências reguladoras federal e estadual, respec-
on Climate Change (IPCC), que imputa à huma- tivamente) determinaram que as licenças de captação para cidades,
nidade o aquecimento global e consequentes re- indústrias e agricultura seriam reduzidas caso os rios estivessem
viravoltas do clima. abaixo de determinado nível.
Como sempre acontece com artigos sobre sus- Para o professor Antônio Carlos Zuffo, da Unicamp, uma alternati-
tentabilidade que trazem mensagens pouco oti- va com menor impacto na economia seria a criação de um “mercado
mistas, este também apresenta no final uma de água”, em que indústrias de diferentes setores pudessem nego-
possibilidade de esperança. Renner lembra que ciar entre si o direito de uso do recurso.
o desafio para a humanidade hoje não é o mes-
mo que enfrentamos nas décadas de 60 e 70, PARALISAÇÃO
no desenvolvimento de tecnologias de redução Entre as líderes de captação de água na região estão a multinacio-
da poluição e diminuição do nível de desperdí- nal do setor químico Rhodia, a Petrobras e a Suzano Papel e Celulose.
cio dos recursos. Isso foi feito, de uma forma ou Elas fazem parte de uma lista de 580 indústrias autorizadas a cap-
de outra. O que se precisa agora, afirma o autor, tar água diretamente da bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
é “adotar soluções que mudem todo o sistema – onde está inserido também o sistema Cantareira, que abastece
de produção e consumo de maneira fundamen- a Grande São Paulo.
tal e ter clarividência para reconhecer as amea- Algumas, como a Rhodia, tiveram unidades paralisadas no ano
ças ocultas à sustentabilidade”. Ele acredita que passado em razão da crise da água.
esta etapa também será superada. Fonte: folha de São Paulo
Fonte: Blog da autora no G1

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30
política ambiental

Parlamentar apresenta projeto de reuso de


água tratada não potável
Deputada Marcia Jeovani realizou

andré barbosa
audiência pública para tratar da
mortandade de peixes na lagoa
de Araruama

por Arlindo Junior

A
deputada estadual Marcia Jeovani (PR)
anunciou, no dia 14 de abril, durante a au-
diência pública da Comissão de Assuntos
Municipais e Desenvolvimento Regional da Alerj,
a criação de dois projetos de lei que visam sanar
uma das principais causas da mortandade de pei-
xes recentemente constatadas na Lagoa de Ara-
ruama e os prejuízos enfrentados pelos pescado-
res com Presidente da Comissão, a parlamentar Audiência pública
da Comissão de
reuniu diversas autoridades no auditório Nelson para esse fenômeno na região: “Foram feitas
Assuntos Municipais
Carneiro para discutir as causas e consequências e Desenvolvimento análises em diversas praias e a constatação da
da mortandade dos peixes e sugeriu uma visita Regional da Alerj presença de um fitoflagelado com dois filamen-
técnica nos municípios para ver de perto as ações tos que entopem as guelras dos peixes, sem
das concessionárias e os pontos de estrangula- falar no aporte de nutrientes da água tratada e
mento da lagoa que necessitam de assoreamento. no aumento da salinidade que provocam a falta
“Vamos ouvir gestores e sociedade civil. É um de oxigenação da lagoa. Por isso, é importante a
problema muito sério, já que a nossa lagoa não renovação das águas”, destacou.
é apenas atração turística, mas também fonte de Nesta ocasião, a deputada Marcia Jeovani falou
renda para muitas famílias da região e os nossos sobre o projeto de lei que trata da criação do fri-
pescadores sobrevivem dali. A falta de oxigena- gorífico em áreas pesqueiras para dar suporte aos
ção da Lagoa é um dos principais problemas e a pescadores locais na conservação de toda a pro-
dragagem do Canal de Itajuru é fundamental, já dução durante a entressafra do pescado. A pes-
que a última realização foi em 2008”, afirmou a ca comercial e de subsistência são fundamentais
deputada Marcia Jeovani. para a economia na regiões litorâneas do estado.
De acordo com Leonardo Daemon, gerente de O outro projeto viabiliza o reuso da água trata-
Qualidade das Águas do Inea, os casos da mor- da não potável despejada na lagoa para as áreas
tandade de peixes nas Lagoas do Estado do Rio, rurais, a fim de beneficiar principalmente os pe-
a exemplo de Araruama e Rodrigo de Freitas, são Vamos ouvir quenos produtores que sofrem com a estiagem
esperados em determinadas estações do ano: “As gestores e em diversos períodos do ano.
lagoas do nosso estado em todo o verão sofrem sociedade civil. “Já apresentei o projeto de lei nº 198 autorizan-
esse episódio da mortandade de peixes porque É um problema do o governo estadual a criar os frigoríficos pes-
tem a maior incidência de chuvas, carreamento muito sério, já que queiros nessas áreas e temos certeza que o go-
de matéria orgânica, aumento da temperatura e a nossa lagoa não vernador será sensível a essa causa pela grande
a baixa do oxigênio dissolvido”. é apenas atração necessidade de armazenamento. Encaminhei
Sobre a avaliação técnica feita pela INEA na La- turística, mas também o projeto de reutilização dessa água
goa de Araruama, Leonardo Daemon ressaltou: também fonte tratada nas áreas rurais para o avanço da agri-
“Tem um processo no Inea que já foi aprovado de renda para cultura familiar”, disse a deputada.
pela diretoria de recuperação ambiental, que é o muitas famílias da Representantes das Secretarias Estaduais de Pes-
desassoreamento do trecho de Iguaba a São Pedro região e os nossos ca e Ambiente, Inea, Fiperj (Fundação Instituto de
da Aldeia, e vai melhorar um pouco a circulação pescadores Pesca do Rio), Consórcio Intermunicipal Lagos São
da água. Em relação ao Canal de Itajuru, eu vou sobrevivem dali
João, concessionárias, secretários municipais, vere-
levar urgente esse necessidade para o secretário”. adores, biólogos e colônias de pescadores partici-
deputada marcia
A bióloga Maria Helena Baeta destacou a exis- param do debate sobre a situação lagunar.
jeovani (PR)
tência de microalgas na Lagoa que contribuem Fonte: alerj

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mudanças climáticas
“A encíclica do Papa sobre o clima
vai exercer um papel importante”. Entrevista com Jeffrey Sachs
Nunca antes um documento oficial
de um papa atraiu tanta atenção no
campo político e econômico antes
mesmo de sua publicação como

Christoph Wagener/
está ocorrendo agora nos Estados

Wikimedia commons
Unidos com a encíclica sobre o meio
ambiente de Francisco

por elisabetta piqué


tradução andré langer Quais são os maiores obstáculos para um acordo?
O obstáculo mais importante é o que o Papa chama de “globalização da indi-

P
ara a ONU e os principais grupos ambien- ferença”. Fracassamos em nos conscientizar suficientemente sobre tudo o que
talistas, trata-se de um documento mais está em jogo, porque somos bombardeados por muitas imagens, muita confu-
que importante. Por quê? Porque, como in- são e muita propaganda da indústria do petróleo e outras grandes empresas.
dica majoritariamente a ciência, para Francisco a
mudança climática, que afeta sobretudo os mais Em muitas partes do mundo é evidente que é o homem – com suas indús-
pobres, foi causada principalmente pelo homem. trias que poluem, desmatamento, etc. – a principal causa da mudança cli-
E existe o dever moral de enfrentá-la através de mática, mas nos Estados Unidos há uma enorme tensão entre quem acre-
uma ação global conjunta. Mas, nos Estados Uni- dita nisso e quem pensa que não seja assim e que a mudança climática se
dos, há um pequeno grupo de direita, muito po- deve a causas naturais... Você, por exemplo, acredita que se deve ao homem?
deroso e vinculado à indústria do petróleo e do Evidentemente, a imensa maioria dos cientistas aponta nessa direção,
carvão, que se opõe. Foi o que explicou, em uma não há dúvida.
entrevista ao La Nación, o prestigioso economis-
ta norte-americano Jeffrey Sachs, diretor do Earth Mas por que nos Estados Unidos segue havendo gente que pensa que não
Institute da Universidade de Columbia, que no é assim? É pelos grandes lobbies da indústria do petróleo?
dia 28 de abril foi um dos principais oradores em Dois terços dos norte-americanos entendem o tema de forma apropria-
uma reunião sobre o tema no Vaticano. A entre- da. Mas isto não significa que a nossa política seja apropriada, porque há
vista foi publicada por La Nación em 29 de abril. um pequeno grupo que tem muito poder político: os muito ricos, o poder
de parte da indústria do petróleo, da indústria do carvão, e eles pagam os
Muitos concordam com a urgência de fazer algo nossos políticos. O sistema político norte-americano está muito corrom-
para enfrentar a mudança climática e espe- pido pelo dinheiro. Evidentemente, algo disso foi legalizado, mas segue
ram que a reunião de Paris de dezembro próxi- corrompendo, com um impacto imoral.
mo marque um giro crucial para o seu controle.
O que você espera da encíclica “verde” do Papa? Qual é a posição de Obama?
A encíclica do Papa será um chamado claro a um Obama é a favor de uma forte ação para enfrentar a mudança climática.
propósito moral e à ação, para que a economia mun- Está do lado certo. Mas está sofrendo fortes ataques do setor do carvão e se-
dial seja segura. Segura para os marginalizados, se- tores privados com interesses no petróleo, como os irmãos Koch, que fomen-
gura para a Terra e segura para as gerações futu- tam muitíssima desinformação. A verdade é que para um norte-americano
ras. Creio que terá um papel importante para que comum o clima está mudando: há seca na Califórnia, há grandes temporais...
as pessoas em todo o mundo sejam mais conscien- Mas a propaganda é forte nos meios de comunicação de Rupert Murdoch,
tes sobre tudo o que está em jogo ao enfrentar com na indústria dos irmãos Koch, nos lobbies do carvão.
atraso a mudança climática, assim como o combate
da pobreza extrema. A encíclica chegará logo e de- É por isso que os grupos conservadores criticam o Papa? Por se meter, com
pois haverá uma série de importantes negociações: sua encíclica, em um tema que supostamente não lhe compete?
em julho, sobre o financiamento para o desenvol- Exato! Depois há uma segunda parte, que é a ideologia: alguns norte-ame-
vimento; em setembro, para a adoção de metas de ricanos que são ideologicamente libertários. Querem ser deixados sozinhos,
desenvolvimento sustentável; e, em dezembro, para não querem que o governo faça nada nem que lhes diga algo sobre suas
o controle da mudança climática induzido pelo ho- emissões de carbono ou coisas do gênero. É um grupo muito pequeno, mas
mem. Creio que a encíclica do Papa terá um papel muito barulhento, com voz forte no Partido Republicano. Eles não querem
importante para ajudar o mundo a encontrar um ouvir o que diz a ciência, porque diz algo que vai contra a sua ideologia.
acordo justo nestas três negociações de alto nível. Fonte: instituto humanitas unisinos

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animais

Acorrentar animais é cruel


e pode torná-los mais agressivos
Bem-estar animal

xweapon/freeimages
Mordidas e ataques de cães que vivem presos
Imagine-se amarrado, são uma realidade que poderia ser evitada se nós
365 dias por ano respeitássemos o bem-estar do animal. Você sabe
acorrentado a um poste o que é bem-estar animal? Pois bem, para que
ou parede de sua casa. exista bem-estar, os animais devem gozar de saú-
de física e mental e devem ser capazes de com-
Como você se sentiria? portar-se de acordo com sua natureza. Uma ma-
Você acha que você neira fácil de medir o bem-estar é através das cin-
estaria confortável? co liberdades básicas.
Você acha que se sentiria Os animais devem viver:
1. Livres de fome e sede.
frustrado? Ou triste? 2. Livres de dor, ferimentos e doenças.
3. Livres de medo e estresse.
4. Livres de desconforto.
5. Livres para expressar o comportamento normal
da sua espécie.
Com base nessas liberdades, para que o seu cão
esteja bem, você precisa:
• Oferecer água potável e boa alimentação.
• Prover assistência médica veterinária preventi-
va e em caso de doença ou acidente.
• Oferecer um espaço confortável para dormir,
com proteção contra sol e chuva.
• Exercitar e brincar com eles todos os dias (por
exemplo, passear e brincar com a bola).
• Ajudá-los a socializar com outros cães e com

U
m animal de estimação que não conhece outra vida do que àquela humanos.
acorrentado sofre permanentemente. Ele pode apresentar lesões de • Oferecer um espaço apropriado e separado para
pele no pescoço e pelo corpo, que fica constantemente em contato urinar e defecar.
com o solo; pode ficar doente por permanecer exposto à chuva, ao sol, ao
frio e ao calor, a parasitas e a doenças. Eles são forçados a comer, dormir, Se você considerar absolutamente necessá-
urinar e defecar no mesmo lugar. A eles também é negada a oportunidade rio acorrentar seu cão, por qualquer motivo (por
de conviver com outros de sua espécie, o que é importante para animais exemplo, para evitar que ele escape quando al-
como cães e gatos, que são sociais por natureza. guém abre a porta), priorize deixá-lo em algum
As correntes podem facilmente se enrolar em árvores, postes, na casa recinto fechado, mas se realmente tiver que
do cão ou em outros objetos, levando por vezes a ferimentos graves e até amarrá-lo, use materiais seguros e apropriados
mesmo morte por enforcamento. Cães presos invariavelmente ficam en- para a pele do seu animal de estimação e o faça
tediados, sentem-se solitários, ansiosos, medrosos e podem se tornar cães só por um curtíssimo período de tempo.
instáveis ou até fortemente agressivos.
Denuncie maus-tratos
Medo e agressividade Caso você presencie maus-tratos a animais de
Algumas pessoas acreditam que os cães acorrentados se tornam bons cães quaisquer espécies, sejam eles domésticos ou sil-
de guarda. No entanto, em vez de proteger a casa e seu dono, podem ficar com vestres, você pode denunciar às autoridades com-
medo mais facilmente ao se deparar com um estímulo novo, pois sabem que petentes. Inclusive situações em que pets são
estão presos e não podem escapar. Esta sensação de medo e estresse constan- mantidos acorrentados ou em más condições.
te pode levar o cão a desenvolver vários problemas físicos e psicológicos. Fonte: worldanimalprotection.org.br
Ele pode se tornar um cão agressivo como resultado da constante frus-
tração que vivencia, por não poder explorar o ambiente e não ser capaz de
Veja o passo a passo para fazer uma
assegurar se os estímulos que ocorrem ao seu redor (como sons) são ou não
denúncia em: www.worldanimalprotection.
são uma ameaça real. São muitos os casos de cães acorrentados que ata-
org.br/whoarewe/contact/denuncie.aspx
cam e mordem seus tutores sem motivo.

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PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA
RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)
com Átila Nunes e átila alexandre nunes

Jaime Quitério, Átila Alexandre Nunes, Renata Maia e Átila Nunes Ao lado do deputado está o filho dele, Átila Alexandre Nunes

O programa Reclamar Adianta PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA


RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)
é transmitido durante a
De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia.
semana das 10 horas ao Com Átila Nunes e Átila Alexandre Nunes
meio dia através da Rádio Ouça também pela internet:
www.reclamaradianta.com.br
Bandeirantes AM 1360 (RJ),
podendo também ser Central telefônica 24h: (021) 3282-5588
twitter: @defesaconsumo
acessado pela internet: www.emdefesadoconsumidor.com.br
www.reclamaradianta.com.br (serviço 100% gratuito)
atilanunes@reclamaradianta.com.br
atilanunes@emdefesadoconsumidor.com.br
Se desejar, envie a sugestão
de um tema para ser abordado.
Aqui os ouvintes participam PROGRAMA PAPO MADURO
RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)
de verdade.
De 2ª à 6ª feira, ao meio dia.
Ouça pela internet:
Abraços, www.papomaduro.com.br
Equipe do programa Central telefônica 24h: (021) 3282-5144
Reclamar Adianta E-mail: ouvinte@papomaduro.com.br
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animais

O Projeto Cetáceos da Costa Azul em prol da

conservação marinha

O golfinho-flíper, Tursiops truncatus, é uma espécie


por Rodrigo H. Tardin, Israel Sá Maciel, Thamires Mello- curiosa. Por esse motivo, muitas vezes eles
interagem diretamente com embarcações e podem
Neto, Sheila M. Simão e Maria Alice S. Alves sofrer as consequências negativas dessa atividade
fotos Rodrigo H. Tardin

A
costa brasileira possui cerca de 10.800km de extensão. A ocupação Dentre as principais consequências diretas das
humana em áreas costeiras tem aumentado exponencialmente e interações entre embarcações e cetáceos estão os
como consequência diversos produtos resultantes das atividades hu- atropelamentos (comumente reportados entre
manas acabam tendo o mar como destino final. barcos de grande porte) e as mutilações. As con-
Tal interação pode mexer com todo ecossistema marinho, alterando níveis sequências indiretas são mais difíceis de serem
de salinidade, oxigênio, temperatura da água, dentre outros. Por modificar as mensuradas, mas, em geral, envolvem a perda
propriedades físicas da água, ocorre uma alteração também em toda a fauna do hábitat adequado para a vida dessas espécies.
marinha, desde invertebrados como as estrelas-do-mar aos vertebrados de Essa perda do habitat pode ocorrer devido ao ex-
grande porte como as baleias. As baleias e os golfinhos, mamíferos aquáticos cesso de poluição sonora no ambiente aquático,
da classe Cetacea, são animais carismáticos que têm enfrentado cada vez má qualidade da água ou estresse causado pelas
mais os impactos gerados pelas atividades humanas. embarcações, ocasionando, por exemplo, o deslo-
A maioria das espécies de cetáceos é considerada chave para o ecossiste- camento desses animais no ambiente.
ma marinho, porque o seu desaparecimento pode levar a um desequilíbrio Em lugares de águas cristalinas e belas praias,
ambiental e consequente ao desaparecimento de outras espécies desse am- que também servem de moradia para baleias e
biente. Além disso, por serem carismáticas, são consideradas espécies guar- golfinhos, a interação com embarcações pode
da-chuva, já que a sua conservação pode beneficiar outras espécies e muitas ocorrer mais intensamente, devido ao grande
vezes o ecossistema onde ocorrem. Entretanto, o número de casos de baleias número de visitantes e à fácil visualização des-
e golfinhos encontrados mortos por redes de pesca ou atingidos por embar- ses animais. Esse é o caso da costa de Cabo Frio,
cações têm aumentado ao redor do mundo. Arraial do Cabo e Búzios, localizados na porção
A crescente busca por recursos marinhos tem colocado em perigo diversas leste do estado do Rio de Janeiro. Essa região é
espécies de cetáceos que se são capturados acidentalmente nos artefatos de considerada de elevada importância biológica,
pesca, como a toninha (Pontoporia blainvillei) na costa brasileira e os golfi- de acordo com o Ministério do Meio Ambiente,
nhos pintados pan-tropicais, Stenella attenuatta, no Peru. principalmente por ser uma região de alta pro-
A pesca intensiva de décadas tem levado à redução dos recursos pesquei- dutividade, resultante do fenômeno conhecido
ros e,consequentemente, muitos pescadores estão migrando para o turismo como ressurgência.
náutico como atividade principal. Como resultado, há um crescente número De modo a monitorar a sobreposição das áreas
de embarcações no mar, o que resulta em aumento na interação desta com usadas pelos cetáceos na região com as áreas uti-
os cetáceos, o que muitas vezes ocorre de forma não-regulada e afeta direta lizadas pelas embarcações de turismo e mergu-
e indiretamente baleias e golfinhos. lho, o Laboratório de Bioacústica e Ecologia de Ce-

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A região de Cabo Frio e Arraial do Cabo faz


parte da rota migratória das baleias-jubartes,
Megaptera novaeangliae, para ás águas do
nordeste do Brasil durante o inverno. Muitas
vezes, é possível avistar filhotes acompanhando
suas mães nesse comportamento

táceos (UFRuralRJ) em parceria com o Laborató-


rio de Ecologia de Aves (Depto. de Ecologia, UERJ),
Instituto Biomas e a Duke University (EUA), pa-
trocinados pela Fundação Grupo Boticário de Pro-
teção à Natureza, têm monitorado as interações
entre cetáceos e seres humanos.
Os resultados do projeto, batizado de CETÁCE- Durante o verão, principalmente, há um aumento nos números de embarcações
na água, que se não manejado corretamente pode impactar negativamente as
OS DA COSTA AZUL, têm mostrado que as áre-
baleias e os golfinhos
as utilizadas para turismo e mergulho são tam-
bém as usadas principalmente pelos golfinhos,
mas em baixa proporção. As baleias tendem a Essas regiões possuem águas rasas, claras e calmas, ideais para o cuida-
ocorrer mais afastadas da costa e, portanto, são do com os filhotes, que nessa idade são pouco desenvolvidos em termos de
potencialmente menos suscetíveis que os golfi- musculatura e fisiologia. Entretanto, estas mesmas águas são de grande be-
nhos às interações com embarcações. Entretan- leza e alvo principal das embarcações de turismo e mergulho. Logo, as mães
to, apesar da interação direta com os barcos não e filhotes das diferentes espécies de golfinhos da região, que poderiam estar
ser muito evidente, dados dos nossos estudos usando estes locais como um berçário natural, podem estar evitando a área.
sugerem que as populações de golfinhos da re- As interações entre o homem e as demais espécies devem ser feitas de
gião podem estar evitando algumas áreas, teori- modo responsável e sustentável. Entretanto, as pressões atuais têm diminu-
camente adequadas para sua ocorrência, devido ído cada vez a harmonia dessas interações.
à massiva presença de embarcações. É nossa responsabilidade, enquanto seres humanos, garantir que os
ecossistemas possam existir de forma saudável e cobrar das instituições
As interações entre o homem e as demais
competentes que essas interações entre seres humanos e demais espé-
cies, sejam reguladas e fiscalizadas.
espécies devem ser feitas de modo
O Projeto Cetáceos da Costa Azul continuará a trabalhar em prol da con-
responsável e sustentável. Entretanto,
servação das baleias e golfinhos, assim como do ecossistema aquático como
as pressões atuais têm diminuído cada
um todo, subsidiando os órgãos ambientais com informações científicas
vez a harmonia dessas interações
para a tomada de decisões em prol da conservação desses cetáceos.

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animais

Por que os ocidentais têm tanto “nojo” dos


pratos típicos de países asiáticos?

Harvey Barrison / flickr cc 2.0

jim / flickr cc 2.0


No Vietnã, dizem que a carne de cobra pode até curar a malária O venenosíssimo Fugu, ou Baiacu, é apreciado no Japão

por PRISCILA NAYADE Já no Japão, muita gente gasta uma fortuna


para comer uma iguaria que pode matar uma

N
a cultura ocidental, todo o alimento ingerido reflete na saúde e em pessoa em minutos caso não seja preparado
como o corpo absorve carboidratos, proteínas, açúcares e gorduras. adequadamente. Fugu é um peixe venenoso, co-
Já na cultura oriental, essa ideia possui significados mais abran- nhecido no Brasil por Baiacu, e só pode ser pre-
gentes, pois, quando uma pessoa ingere um alimento, além do valor nutri- parado por mestres especializados treinados no
cional, ela pensa em alimentar seu corpo com propriedades energéticas. Japão em um curso de 3 anos. Nesse curso, a pes-
Esse pensamento explica por que os países asiáticos possuem tantos pra- soa aprende algo importantíssimo para o prepa-
tos exóticos e visto como “nojentos” pelas pessoas ocidentais. ro que é a retirada do veneno do peixe sem que a
Na dieta de japoneses, chineses, vietnamitas, cambojanos, tailandeses, é carne seja contaminada, afinal, estima-se que o
muito comum encontrar ingredientes como escorpiões, besouros, aranhas, veneno do Fugu é dez vezes mais letal que o cia-
morcegos, peixes venenosos, etc. Entretanto, nada disso é ingerido sem um neto, matando a vítima por asfixia.
propósito nutricional e energético para o corpo. A China, campeã de comidas exóticas, possui
O espetinho de escorpiões ou o coração ainda pulsante de uma cobra, para uns, um prato muito comum que é o pênis de touro,
é apenas uma forma de variar a dieta, mas para alguns locais da Ásia, a maioria um afrodisíaco com as mesmas propriedades do
desses pratos – além de ser uma fonte rica em proteína – funciona como um Viagra. Segundo a medicina chinesa tradicional,
remédio: eles podem, supostamente, aumentar a vitalidade, a virilidade, a resis- se cozido com as ervas certas, ele adquire a pro-
tência e a libido, tal como curam dores no corpo, resolvem problemas circulató- priedade de deixar as pessoas com um desejo se-
rios e aliviam a tosse e a asma. No Vietnã, por exemplo, a cobra é um alimento xual incontrolável. Esse prato, mesmo para os chi-
muito apreciado por suas propriedades medicinais, tendo inclusive restauran- neses, é um tabu culinário. É preciso experiência
tes especializados no seu preparo. Dizem que a carne do réptil é boa para a vida para preparar a carne dura para que a carne não
sexual tanto de homens como de mulheres e pode até curar a malária. fique com gosto de urina e não endureça mais
Nas Filipinas, o que faz sucesso é o Balut, que é um ovo de uma pata com ainda. Em Pequim, há um restaurante especiali-
um embrião desenvolvido de 17 dias, fazendo com que ele já tenha penas e zado em órgãos genitais de animais e, em seu car-
bico. Ele é cozido e depois comido na casca, mergulhado em molho de soja e dápio, aparecem vários tipos de pênis e de testí-
vinagre ou temperado com sal, suco de limão, pimenta-do-reino e coentro. culos dos mais variados animais.
Ao descascar o ovo é possível ver o feto do pato com sua pele translúcida, Na Coreia, um prato apreciado também é o cha-
os olhos e todas as estruturas. Dizem que o balut tem propriedades afrodi- mado “Sannakji”, que nada mais é do que um
síacas e, nas Filipinas, é servido como entrada em restaurantes, seja cozido, polvo vivo cortado em pequenos pedaços, servido
frito, em omeletes ou como recheio de tortas. ainda vivo, se contorcendo, sugando, agarrando e

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Pastelaria chinesa no
Rio servia pastel com
carne de cachorro
O
dono da lanchonete disse que não sabia que o abate de cachorro
era proibido no Brasil. Mais tarde, porém, ele admitiu que sabia
da ilegalidade e que recolhia os animais nas ruas da zona norte.
Segundo a procuradora Guadalupe Louro Couto, a descoberta foi em 2013
e causou angústia em toda equipe de fiscalização.
“Já vi muita coisa ruim, principalmente em trabalho que realizei em fazen-
das do Mato Grosso. Mas o que eu encontrei naquela pastelaria foi o pior de
tudo. Para começar, havia uma cela, como se fosse uma cadeia, com grades
e cadeado, montada dentro da lanchonete, onde o trabalhador ficava encar-
cerado. Além disso, ele convivia com o cheiro dos cachorros mortos, que fica-
michael davis-burchat / flickr cc 2.0

vam ao lado dele. Eu não aguentei. Quando senti o cheiro, comecei a passar
mal e pedi para sair do estabelecimento. Ao abrirmos as caixas de isopor,
vimos os cachorros congelados. Ficamos perplexos. Foram vários crimes
cometidos ali”, disse a procuradora a jornal.
A pastelaria foi descoberta durante uma operação contra o trabalho escravo
envolvendo chineses no Rio de Janeiro. A quadrilha investigada é acusada de
aliciar pessoas na província de Guagdong e trazê-las para o Brasil, onde são
exploradas em regime de trabalho escravo. Ao todo, três inquéritos que inves-
tigam a prática foram abertos em 2013 e encaminhados à Justiça Federal. Se-
Na China encontramos espetinhos os mais variados gundo o jornal, os chineses são convencidos a vir com propostas de salários
de R$ 2 mil, moradia e alimentação de graça. Ao chegar, porém, eles recebem
se contorcendo no prato. Apreciadores de San- a notícia de que vão trabalhar por três anos sem receber pagamentos em pas-
nakji desfrutam mais do que apenas o gosto da telarias da cidade para cobrir as despesas das passagens aéreas. Os chineses
carne fresca: eles gostam da sensação das ven- que foram libertados devem receber indenizações dos ex-patrões após acordo
tosas ainda ativas grudando na boca. Novatos feito com o Ministério Público do Trabalho. Algumas vítimas, porém, foram in-
são aconselhados a mastigarem antes de engo- cluídas em programas de proteção à testemunha por causa de ameaças.
lir, pois os tentáculos do polvo podem grudar na Segundo a denúncia, a quadrilha tem acesso a áreas privativas do Aero-
garganta fazendo com que a pessoa sofra asfixia. porto Internacional Tom Jobim, o Galeão. A Polícia Federal, responsável pelo
O rato é um dos alimentos que vão à mesa setor de imigração, disse que não comenta investigações em andamento. Se-
dos tailandeses de várias maneiras. No nor- gundo uma das vítimas, um intérprete do consulado chinês seria um dos
te do país, os locais costumam assar o bicho comerciantes do esquema. Questionado, o consulado disse que não disponi-
inteiro em uma churrasqueira improvisada biliza tradutores para depoimentos à polícia ou à Justiça.
e dividi-lo com os familiares e os convidados O caso da pastelaria em Parada de Lucas foi o que deu início às investiga-
como uma iguaria muito especial. Já no Viet- ções em 2013, quando o MPT denunciou o chinês Van Ruilonc, de 32 anos,
nã, a procura é, principalmente, pelas rataza- dono do estabelecimento. Segundo a vítima de Ruilonc, ao chegar ao Rio,
nas grávidas. Em vez de comer a rata, os viet- um homem pegou seus documentos e “superando as restrições de imigra-
namitas alegam preferir os fetos, pois, dizem ção, promoveu-lhe a entrada em território nacional”. Além de ficar presa, a
que a carne é muito mais saborosa, aumenta a vítima recebia pauladas e chibatadas, além de queimaduras com cigarros.
virilidade e pode ser comida crua. Atualmente, o trabalhador está no programa especial de proteção à teste-
Quase sempre, o que repele as pessoas de munha e seu algoz foi condenado a oito anos e seis meses de prisão.
inovar no cardápio não é o gosto, mas o pen- O segundo inquérito foi aberto em 2014, quando o MPT foi informado de
samento em comer determinada coisa. É esse que um adolescente chinês havia fugido de uma pastelaria em Itaguaí.
pensamento que faz a maioria das pessoas re- O dono do estabelecimento investigado possuiu mais dez lojas no estado.
pelir a ideia de comer carne de cachorro, uma Já a terceira investigação, iniciada em abril deste ano, apura suposto caso
prática muito comum na China, onde há até de trabalho escravo em uma pastelaria de Copacabana. “O estabelecimen-
criadouros para abate culinário. to tinha 12 funcionários, dos quais três eram chineses. Eles recebiam trata-
A alimentação tem de estar vinculada à so- mento diferente. Ao contrário dos brasileiros, não tinham salário e traba-
brevivência, e o que causa nojo para uns, pode lhavam todos os dias”, disse a procuradora Juliana Mobelli.
ser uma iguaria para outros ou sua única fonte Os donos dos estabelecimentos devolveram os passaportes dos emprega-
de alimento. dos e se comprometeram a regularizar a situação trabalhista.
Fonte: jornalciencia.com Fonte: o dia

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unidades de conservação

Eduardo Giacomazzi /flickr cc 2.0


Xingu: estudo demonstra importância de áreas
protegidas para preservar o

ciclo da água
Rio Koluene, afluente caudaloso do Rio Xingu

por Vandré Fonseca da pela vegetação, corre direto para o rio. Um estudo publicado em 2013 já
havia demonstrado que o desmatamento pode estender a estação seca na

A
s áreas protegidas ao longo da Bacia do região, causando problemas na geração de energia da Usina de Belo Monte.
Xingu têm contribuído com o ciclo hi- Outro estudo, sobre o Rio Araguaia, publicado em 2011 no periódico Biogeoche-
drológico da região. Elas ajudam a man- mistry, indicou uma elevação de 25% na vazão do Araguaia nos anos de 1990,
ter a vazão de água do rio estável e compensam em comparação com a década de 1970. A causa apontada para esta elevação é o
os efeitos das variações climáticas. A conclusão é desmatamento, que, na época, já atingia mais da metade da bacia hidrográfica.
de um estudo publicado em março no Journal of
Hydrology, por pesquisadores do instituto ameri- Efeitos inversos: clima e desmatamento
cano Wood Hole Research Center (WHRC). Para separar os efeitos do desmatamento dos efeitos da variação climá-
“Nossos resultados mostram que onde houve tica natural, a equipe de cientistas utilizou observações de campo, dados
desmatamento o ciclo hidrológico foi alterado de satélite e modelos de vegetação dinâmica para simular o balanço hí-
de forma considerável, mas as áreas protegidas drico da Bacia do Xingu. Os pesquisadores descobriram que até agora o
tiveram um papel essencial, porque restringi- desmatamento provocou mudanças relativamente pequenas, com uma
ram os impactos negativos da parte sul da ba- diminuição sutil na evapotranspiração e um aumento no escoamento de
cia”, diz Prajjwal Pandayo, líder do estudo. água através do solo para o rio. O resultado foi um crescimento da vazão
O Xingu nasce no cerrado, no Estado do Mato de 6%, relacionado diretamente ao desmatamento.
Grosso. Embora as cabeceiras tenham sofrido As variações climáticas ao longo deste mesmo período tiveram o efeito
desmatamento, cerca de 55% dos 770 mil quilô- inverso sobre o ciclo de água: houve uma redução de 14% na vazão, devido
metros quadrados da bacia hidrográfica estão à diminuição das chuvas.
protegidos por um mosaico de Terras Indígenas “A gente vê só uma pequena variação (da vazão do rio), porque desma-
e Unidades de Conservação. tamento e variação climática tiveram efeitos opostos”, afirma Márcia
A pesquisa faz parte de um esforço dos cientis- Macedo. “Mas quando a gente vê só as cabeceiras, o efeito é mais dramá-
tas para entender quais os efeitos das mudanças tico, porque houve mais desmatamento”.
que vêm ocorrendo na Bacia Amazônica, em di- Para outro pesquisador que participou dos estudos, Michael Coe, a conclusão
ferentes escalas. “Até certo ponto, você desmata é que as áreas protegidas funcionam. “Ao limitar a agricultura para uma fra-
e tem produção agrícola, mas você pode chegar ção relativamente pequena da bacia, elas evitam grandes mudanças no ciclo
a um ponto em que a produtividade é afetada”, hidrológico”, destaca Coe. “Outras bacias hidrográficas que não foram tão bem
afirma a brasileira Márcia Macedo, que faz parte protegidas já estão sofrendo as consequências. Isto é extremamente impor-
do grupo de pesquisadores. De acordo com ela, o tante para os povos indígenas do Xingu, para a biodiversidade, e para a even-
desmatamento acelera o ciclo hidrológico. A água tual geração de energia pela hidrelétrica do Belo Monte em Altamira”.
que cai em forma de chuva, em vez de ser recicla- fonte: o eco

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da Rede Rebia de Colaboradores e Jornalistas Ambientais Voluntários (RebiaJA – rebia.org.br/
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1) versão impressa – distribuída em locais estratégicos e durante eventos ambientais importantes
que reúnam formadores e multiplicadores de opinião em meio ambiente e demais públicos
DEVOLUÇÃO

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interessados na área socioambiental (stakeholders) diretamente em stands, durante palestras, ou


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através de nossas organizações parceiras, empresas patrocinadoras, etc.;
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