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Revisão de Hidrografia – conceitos e ilustrações1

Prof. Luis Antonio Bittar Venturi


luisgeo@usp.br (semestre da covid-19)

Cursos ou Canais Fluviais em ordem crescente de grandeza:

Córrego/ Riacho Ribeirão Rio

O termo “riacho” tem variações regionais: arroio no Sul, corixo no Centro-oeste,


igarapé (caminho da canoa) no Norte... embora um igarapé do Amazonas seja
muito mais caudaloso do que um arroio no Sul.

Canal existem dois tipos de canais:


1) Os artificiais, cavados pelo Homem e que, normalmente são mais
retilíneos.

Figura 1 – Canal Pereira Barreto (SP), que permite o acesso das represas de
Três Irmãos com Ilha Solteira.

2) Os canais naturais são costeiros; podem contornar uma ilha, adentrar no


continente por um lado e sair pelo outro. São de água salgada ou
misturada com água doce.

1
Esta revisão não substitui a leitura do capítulo 3 do livrão azul, em que a Profa. Cleide e o Adami
trazem ricas definições e explicações. Este material é apenas um “quebra-galho”.
2

Canal de Bertioga
Ilha de São Vicente
(Santos e S. Vicente)

Ilha de Sto. Amaro


(Guarujá)

Figura 2 – Canal de Bertioga, que liga a Ilha de Santo amaro (onde fica o Guarujá) com o continente.

Hierarquização de canais fluviais:

Quando um rio de primeira ordem (mais a montante, próximo à nascente)


encontra com outro rio de primeira ordem, formam juntos um rio de segunda
ordem. Quando dois rios de segunda ordem se encontram, formam um rio de
terceira ordem. Mas atenção! Se um rio se encontra com um rio de ordem
menor, nada se altera, nem para um nem para o outro.

Figura 3 – Hierarquização de rios em rede hidrográfica. Notem que as bacias também podem ser
hierarquizadas, como veremos adiante.
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Em clima tropical úmido, quanto maior a ordem de um rio, mais caudaloso ele
tenderá a ser. Porém, em ambientes desérticos esta regra não funciona;
alguns rios até desaparecem, como o rio Okavando, cujo delta está no deserto
de Kalahari, em Botswana. Este tipo de bacia hidrográfica denomina-se
“endorreica”.

Se um rio percorre climas e ambientes diferentes, esta regra também pode não
funcionar. O rio Eufrates, por exemplo, nasce nas montanhas nevadas da
Anatólia (Turquia), atravessa um ambiente semi-árido na Síria e entra em um
deserto, no Iraque, desaguando no Golfo Pérsico. Assim, pode haver uma
gradativa diminuição da vazão.

Perfil longitudinal: um curso fluvial nasce em áreas mais elevadas e flui em


direção a terras mais baixas. O traçado de todo o percurso chama-se perfil
longitudinal e pode ser dividido em três seções:

Curso superior, onde o gradiente fluvial é maior (calma, já explico),


predominando o processo de escavação, dada a maior velocidade das águas.
Por isso, neste trecho, o leito é pedregoso.

Curso médio, em que o gradiente fluvial já é menor, predominando o processo


de transporte de sedimentos. Aqui, como no curso superior, os rios têm maior
potencial hidrelétrico, caso o relevo seja adequado para represamento.

Curso inferior,quando as águas se tornam mais calmas (menor gradiente


fluvial), predominando o processo de deposição, sedimentação. Aqui os rios
são mais navegáveis. No final de seu percurso, um rio tende a se tornar mais
largo, tanto pelo fato de haver mais água (ambiente tropical) como mais
sedimentos.
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Figura (esboço) 4 – Perfil hidrográfico com as três seções.

Esta dinâmica é mais ou menos a mesma que ocorre em vertentes. Os


materiais são desagregados (intemperismo), transportados (erosão) e
depositados (sedimentação), nesta sequência.

Nota: montante e jusante são referências de direção (como norte, sul). Não há
um ponto exato e fixo em que termina a montante e começa a jusante, pois
isso depende de onde o observador está. Amenos que se esteja falando de um
ponto específico: “a montante da barragem”, “a jusante da cachoeira” (note que
o a não tem acento indicador de crase). Mas se quiserem uma definição
simples, lá vai: montante: direção de onde o rio flui; jusante: direção para onde
o rio flui.
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Já deu para perceber que o gradiente fluvial tem relação com a topografia? É
a perda de altitude em direção a jusante de um rio. Normalmente, mede-se em
m/km, ou seja, quantos metros a menos de altitude para cada quilômetro de rio.
Quanto maior é o gradiente fluvial, mais velozes são suas águas (bom para
esportes radicais...). Uma curiosidade: enquanto no curso superior do rio
Amazonas, nas encostas dos Andes (embora tenha outros nomes regionais,
internacionalmente é sempre o Amazonas) o gradiente fluvial é de muitos
metros por km, no seu curso inferior, em plena planície fluvial, o gradiente é de
apenas poucos cm por km.
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Sempre que se defrontar com o termo gradiente, pense em algo que ocorre ou
se manifesta gradativamente e que pode ser medido. Outro exemplo é o
gradiente geotérmico (ou grau geotérmico), que é o aumento gradativo da
temperatura na medida em que aumenta a profundidade.
Débito fluvial: equivale à vazão de um rio, ou seja, a quantidade de água que
passa por um determinado ponto do rio, medido em metros cúbicos por
segundo (m3/s) ou litros por segundo (l/s). Em ambiente tropical, o débito tende
a ser maior no curso inferior, ou seja, quando o rio, após receber muitos
afluentes, assume uma ordem maior. Atenção! Não confundam vazão com
velocidade da água, a qual tende as ser maior no curso superior. Para saber
como se mede a vazão, consultem o capítulo 3 do livrão azul. Atualmente,
porém, as vazões têm sido medidas mais com medidores acústicos e mesmo
satélites, do que com molinetes, especialmente nos grandes rios2.

Regime fluvial (ou hidrográfico): a variação do débito fluvial ao longo do ano


define o regime fluvial. Aliás, toda vez que se falar em regime, pense em
variação anual. Outro exemplo de uso deste termo está em “regime
pluviométrico” que expressa a variação das chuvas durante o ano.

Amplitude fluvial (ou hidrográfica): refere-se à diferença entre a maior e a


menor vazão de um rio, normalmente medida em um período de um ano. Mais
uma vez, sempre em que se falar em amplitude, pensem na diferença entre
um valor máximo e um mínimo (amplitude de marés, amplitude térmica,
amplitude latitudinal...). Fenômenos mais ‘variantes’ podem ser medidos
diariamente, a exemplo da amplitude térmica diária (diferença entre a
temperatura máxima e mínima de um determinado lugar no período de um dia).

Nota:
A importância de saber disso reside no fato de que estas informações são
essenciais para o uso e gestão dos recursos hídricos, fornecendo subsídios ao

2
De acordo com Vinícius Siqueira Braga Ramos, técnico em Geociências e Hidrologia do CPRM,
orientando meu. Veja este link que ele indicou:
https://www.cprm.gov.br/publique/Noticias/Pesquisadores-da-CPRM-e-IRD-iniciam-estudo-inedito-no-
Estuario-Amazonico-para-monitorar-inundacoes-via-satelites-6153.html. Veja também uma sequência
explicativa de imagens em: https://youtu.be/mDtu9rRpxko
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planejamento de usos mais apropriados. Em determinadas épocas do ano há


mais água disponível (maior vazão) do que em outras, já que existe uma
estreita relação entre o regime fluvial e o regime pluviométrico, de modo que o
uso do recurso hídrico deve ser planejado com base no conhecimento desses
regimes. O potencial de geração de energia, por exemplo, é maior nos cursos
superior e médio, enquanto a navegabilidade é mais facilitada no curso inferior,
de águas mais calmas. Represamentos com eclusas podem tornar rios
planálticos mais navegáveis (como o rio Tietê, cujos represamentos com
eclusas o tornaram a mais importante hidrovia do país).

Recarga dos rios: basicamente, os rios recebem recarga de águas


provenientes da atmosfera (meteóricas) e do subsolo. Da atmosfera, podem
ser alimentados diretamente pela chuva (regime pluvial), pelo derretimento de
neve (regime nival) ou ambos. Indiretamente, as águas meteóricas escoam
pelas vertentes até chegarem aos rios, quando trazem também sedimentos.
As águas subsuperficiais têm ligação direta com o rio. Se o nível do lençol
freático3 estiver superior ao do rio, aquele o alimentará. Se o nível do lençol
estiver abaixo do leito do rio, este passará a depender apenas das chuvas, o
que, se não ocorrer em certo intervalo de tempo, o rio poderá secar
temporariamente (rios intermitentes).
A intermitência pode ocorrer local ou regionalmente, mas nunca em termos
planetários, pois a descarga de água nos continentes por precipitação é 8%
superior à evaporação (por isso que a grande maioria dos rios é perene). Isso é
fácil de compreender, já que vivemos em um planeta 71% coberto de água.

Descarga dos rios: o rio pode terminar em outro rio (ex: Foz do Iguaçu, onde
o rio Iguaçu termina no rio Paraná), em um lago, no oceano ou em um mar
fechado, como os rios Volga e Ural que deságuam no mar Cáspio (que na
verdade é um lago, o maior do mundo). Em casos extremos, o rio “deságua” no
continente (ex: rio Okavango). De qualquer forma, este trecho final pode ser de
dois tipos: delta ou estuário (ou misto, como o rio amazonas, que poderia ser
considerado um terceiro tipo).

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Se você não se lembra bem da diferença entre lençol e nível do lençol e como isso funciona, a próxima
revisão vai tratar de solos e águas subterrâneas.
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Delta: quando o rio, no ser curso inferior, abre-se em leque aluvial, com intensa
deposição de sedimentos. Há muitos deltas importantes, como o delta do rio
Parnaíba (PI-MA), delta do rio Ganges (Bangladeh e parte da Índia), que é o
maior do mundo. Mas o mais didático, ou seja, que tem mesmo a forma da letra
delta ( ), é o delta do rio Nilo.

Figura 5 – Delta do rio Nilo abrindo-se para o mar Mediterrâneo.

Estuário: quando o rio termina mantendo seu canal principal, sem se abrir em
leque aluvial com sistema deposicional.

Figura 6 – Estuário do rio São Francisco.


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Padrões fluviais:

Os rios fluem segundo quatro padrões principais, como mostra a figura


seguinte:

Figura 7 – Padrão retilíneo, meandrante, entrelaçado e anastomosado, respectivamente.

De modo geral, o padrão retilíneo ocorre naturalmente em áreas de vertentes


mais íngremes (curso superior) ou encaixando-se em falhas geológicas. Caso
contrário, um rio só será retilíneo se tiver sido retificado (ex: Rio Pinheiros e Rio
Tietê, na RMSP). Os padrões meândrico, entrelaçado e anastomosado
ocorrem em áreas de relevo mais aplanado ou autênticas planícies, com
intensa sedimentação (curso inferior).

Padrões de drenagem:

Refere-se ao arranjo espacial dos canais fluviais (GUERRA, 1997, p.458). Os


principais são:
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Figura 8 – Padrões de drenagem mais comuns (existem outros).


A figura já explica bem, não preciso falar mais nada.

O termo dentrítico vem de dendro (= árvore), ou seja, um padrão de drenagem


arborescente. Outros termos são: dendroclasta, dendrômetro etc.
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Rede e Bacia Hidrográfica:

Considerando-se a rede hidrográfica (conjunto de rios interligados) e a área por


ela banhada define-se uma bacia hidrográfica, que pode ser delimitada e
medida em km2, embora seja um sistema tridimensional que envolve, além da
rede hidrográfica, o relevo, o clima, o solo e a vegetação que influenciam na
infiltração da água (RODRIGUES E ADAMI, 2011). Este sistema recebe inputs
(entradas) de matéria (água atmosférica e subterrânea, além de sedimentos) e
energia 4 (principalmente térmica do Sol e cinética das chuvas e ventos);
dinamiza-se em fluxos (os próprios rios) que atingem pontos de saída (outputs)
representados pelos deságues ou exutórios (além da evaporação).

Figura 9 – Rede e bacia hidrográfica. Fonte: Teixeira, W. e outros.


Decifrando da Terra. S. Paulo: Of.de Textos, 2000 (p.117)

Outra medida possível refere-se à densidade de drenagem, que indica a


quantidade total de cursos fluviais em uma área, o que é obtido pela relação
entre extensão total dos rios e a área ocupada por eles. No caso da figura 9,
podemos considerar a bacia representada como de densidade de drenagem
média. Atualmente, considera-se a bacia hidrográfica, em todos os níveis
escalares, como uma das mais adequadas unidades territoriais para o
planejamento do uso e ocupação do solo. Por terem uma dinâmica integrada
as bacias devem ser geridas enquanto um conjunto sistêmico,

4 Essencialmente, energia de radiação solar (na forma de calor e luz), e cinética das chuvas, ventos e da própria

topografia que aumenta a velocidade das águas (gradiente fluvial).


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independentemente das fronteiras de estados e países, caso contrário o


sistema entra em desequilíbrio. Por isso, as mais de 260 bacias hidrográficas
internacionais existentes são (quase todas) administradas segundo acordos e
protocolos5 que asseguram seu uso compartilhado. Da mesma forma, bacias
nacionais compartilhadas por dois ou mais estados devem ser geridas como
um sistema integrado, a exemplo da bacia do rio Parnaíba do Sul (SP-MG-RJ).

Outros conceitos e informações variadas

Batimetria:

É a medida de profundidade de um rio, lago ou oceano. Enquanto a altimetria


mede as altitudes, a batimetria mede as profundidades. Podem-se construir
cartas batimétricas, assim como se faz com cartas hipsométricas. Enquanto a
hipsometria é representada em cores e seus tons que vão do verde, amarelo,
chegando ao marrom escuro (áreas mais altas), a batimetria é representada
por tons de azul, sendo que quanto mais profundo, mais escuro é o tom.

Figura 10 – Batimetria (em tonas de azul) e altimetria.

5Sobre este assunto, consultar VENTURI, L. A. B. Água no Oriente Médio: o fluxo da paz. São Paulo: Ed.
Sarandi, 2015.
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Aproveitando este mapa mundi físico, reparem que as maiores profundidades


do oceano estão adjacentes às costas onde ocorrem contatos convergentes
(choques) de placas, como na costa ocidental da América do Sul. As faixas em
azul escuro correspondem às fossas oceânicas. Ao mesmo tempo, reparem
que os tons mais claros (menores profundidades) estão, em grande parte, no
meio dos oceanos, correspondendo às dorsais mesoceânicas.

Nível de base:

Este é um conceito interessante e meio complicado. É um ponto limite abaixo


do qual a erosão é nula. Assim, o mar é o nível de base geral de todos os rios
(nível zero). Mas pode haver níveis de base locais, a montante da foz.
Imaginem que no perfil longitudinal de um rio há pequenos represamentos de
água pelas rochas, ou uma represa construída, ou um lago, enfim, trechos em
que a água não corre, representando níveis de base local, de erosão nula onde
se acumulam sedimentos. Tentei adaptar do Guerra (1997), mas mesmo assim
ficou meio complicado...

Falando em lago como nível de base, vamos ver a diferença entre lago, lagoa,
laguna e represa?

Lago:

Os lagos estão conectados com rios em uma bacia hidrográfica. Um lago é


sempre alimentado por um ou mais rios afluentes. Da mesma forma, eles
também sempre têm um ou mais rios emissários, o que evita seu
transbordamento. Como em um lago predomina a deposição de sedimentos
trazidos pelos rios que o alimenta, ele pode sofrer completa colmatagem
(“entulhamento”) e se transformar em uma planície lacustre.

Lagoa:

As lagoas são comumente menores que os lagos por não estarem conectadas
com a rede hidrográfica, não apresentado rios afluentes e emissários. São
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alimentadas pela chuva (e pelo lençol freático), podendo secar em períodos de


estiagem. Observem que vocês já ouviram falar de “lagoa seca”. Mas alguém já
ouviu falar em “lago seco”?

Figura 11 – Lagoas do Pantanal.

Laguna:

Laguna é uma lagoa costeira que tem conexão com o mar, portanto, com
águas salgadas ou salobras. Ocorre que o termo lagoa também é utilizado para
denominar as lagunas, como a Lagoa Rodrigo de Freitas (RJ) e a Lagoa dos
Patos (RS). Muitas vezes elas se formam pela evolução das restingas que
(quase) aprisionam a água. Vejam este exemplo.

Figura 12 – Lagoa (laguna) dos Patos (RS).


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Represa:

Represa é um reservatório de água que se acumulou por causa da construção


de uma barragem. Vocês reconhecerão uma represa pelo fato de ela
apresentar um trecho retilíneo de seu perímetro, que é justamente a barragem.
Podemos considerar também alguns represamentos naturais, por exemplo,
como resultado de entulhamento decorrente de deslizamento de encosta etc.

Figura 13 - Represamento natural por castores. Observe que se criou um nível de base local.
No detalhe, o engenheiro.

Muitos conceitos são hidrográficos e geomorfológicos ao mesmo tempo. Por


exemplo:

Barra:

Sedimentos que se acumulam normalmente na foz dos rios, estreitando-o. Um


belo (e gigante) exemplo é a Barra do Rio Negro em seu encontro com o rio
Solimões, ponto em que o rio Amazonas, que ali se forma, é bastante estreito
(“barrado”). A cidade de Manaus se desenvolveu sobre esta enorma barra e,
até o século XIX, chamava-se Barra do Rio Negro.
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Rio Negro

Barra do Rio Negro e


cidade de Manaus

Rio Amazonas

Rio Solimões

Figura 14 – Barra do Rio Negro no seu encontro com o Rio Solimões (AM).
(AM)

Banhado:

Um banhado é um terreno rebaixado e quase sempre úmido, no qual o lençol


aflora. Assemelha-se
se a uma várzea. Ambiente propício para o cultivo de arroz,
motivo pelo qual o Estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do
país. Porém, os banhados devem
devem ser protegidos, pois muitas vezes abrigam
nascentes de rios, como o Banhado Grande (RS) que abriga nascentes da
bacia do rio Gravataí.

Figura 15 – Banhado
anhado Grande (RS), uma Área de Proteção Ambiental.
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Pântano:

Um pântano é uma planície quase permanentemente inundada. Seria o


equivalente a um mangue interior.

Figura 16 – Pântano.

Pantanal:

Grande planície inundável.

Figura 17 – Leque do rio Taquari, que abrange mais da metade do Pantanal.


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Geopolítica dos rios (e bacias)

Rios fronteiriços e transfronteiriços:

Rios fronteiriços são aqueles que servem de fronteira (ou parte dela) entre
dois países, como o rio Paraná, que constitui a fronteira entre Brasil e
Paraguai. Já, os rios transfronteiriços são aqueles que atravessam mais de
um país, como o rio Eufrates que nasce na Turquia, atravessa a Síria e adentra
no Iraque, desaguando no golfo Pérsico. Alguns rios são fronteiriços e
transfronteiros ao mesmo tempo, como o próprio rio Paraná e o rio Mekong, no
sudeste asiático.
O rio Danúbio é o rio mais internacional de todos (tanto fronteiriço quanto
transfronteiriço), banhando diversos países desde a Alemanha (onde nasce, na
Floresta Negra) até seu delta, na Romênia com a Ucrânia, desaguando no mar
Negro.

Figura 18 – A viagem do rio Danúbio pela Europa.


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Bacias internacionais:

Segundo Rebouças (2004), existem cerca de 260 bacias internacionais no


mundo, quase todas elas gerenciadas por acordos internacionais que
asseguram o compartilhamento das águas.

Mar e oceano:

Mar:

Um grande corpo de água salgada cercado parcial ou quase totalmente por


terras (ex: Mediterrâneo, daí seu nome). Outro fator que pode ajudar a
caracterizar um mar é o fato de ele estar sobre a crosta continental (plataforma
continental; ver revisão de Geomorfologia). O que existe entre o Japão e o
continente asiático é crosta continental, sendo que o arquipélago japonês
delimita o Mar do Japão.

Figura 19 – Mar do Japão. Para entender como este arquipélago e mar se formaram, ver em Geografia
do Brasil (ROSS, 2019) a margem continental do tipo Pacífico.

Águas territoriais e derivações:

Vejam estas definições legais:


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O Artigo 1º da Lei 8.617/93 define o Mar Territorial Brasileiro (MT)


como “[...] uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da
linha de baixa-mar do litoral continental e insular [...]”, sobre a qual o Brasil
exerce soberania, inclusive, sobre o espaço aéreo, leito marinho e subsolo
(Artigos 2º e 3º).

A Zona Contígua Brasileira (ZC), por sua vez, “[...] compreende uma
faixa que se estende das doze às vinte e quatro milhas marítimas, contadas a
partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial”
(Artigo 4º), sobre a qual o Brasil pode exercer medidas de fiscalização (Artigo
5º).
A Zona Econômica Exclusiva Brasileira (ZEE) “compreende uma faixa
que se estende das doze às duzentas milhas marítimas [200MM], contadas a
partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial”
(Artigo 6º). Nesta faixa, a navegação e aviação internacionais são livres e os
direitos do Brasil referem-se, sobretudo à gestão e exploração dos recursos
naturais, além da exclusividade na pesquisa científica (Artigos 7º, 8º, 9º e 10º).

Até aqui podemos observar que, na medida em que estas faixas se


alargam, há uma soberania decrescente, inicialmente total (Mar Territorial) até
àquela mais restrita aos recursos naturais e à pesquisa científica.
Esquematicamente, temos:

MT ZC

12MM 24MM 200MM

ZEE
Figura 20 – Esquema relacional entre MT, ZC e ZEE.
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Águas internacionais:

Resumidamente (pois há definições controversas), são as águas em que


navios de qualquer bandeira podem navegar sem sofrer interferência de
nenhum país.

Figura 21 – Mapa mundi das águas internacionais.

Oceano:

Figura 22 – Podem navegar livremente pela imensidão do oceano.


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Nota:

A hidrografia é um tema importantíssimo, completamente relacionado com a


geomorfologia, climatologia, pedologia, biogeografia (matas ciliares etc).
Portanto, é um tema integrador. Além disso, lembrem-se que estamos no país
mais rico em recursos hídricos (superficiais e subterrâneos). Assim, conhecer
hidrografia, seu funcionamento, seus conceitos, saber delimitar bacias etc... os
tornam mais geógrafos.

Alerta final:

A água vai acabar... ohhhh... como assim? Alguém poderia me explicar isso?
Enquanto o Sol brilhar, a Terra girar e a força da gravidade funcionar... o ciclo
hidrológico vai nos assegurar uma recarga constante de água doce (superávit
de 8%, como vimos). Os oceanos são a nossa grande e infindável reserva de
água doce. Para mais informações sobre estas questões, veja o capítulo 8 do
livro Recursos Naturais do Brasil.

Até a próxima!

Apoio bibliográfico

GUERRA, A.T. (o pai) e GUERRA, A.J.T. (o filho). Dicionário geológico-


geomorfológico. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 1997.
GUERRA, Antonio José Teixeira e CUNHA, Sandra. Geomorfologia: Uma
Atualizagão de Bases e Conceitos. (organizadores). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1994.
GUERRA, Antonio José Teixeira e CUNHA, Sandra. Geomorfologia e meio
ambiente. (12 ed.) (organizadores). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2016.
REBOUÇAS, Aldo. Uso inteligente da água. São Paulo: Escritura, 2004.
RODRIGUES, Cleide e ADAMI, Samuel F. Técnicas de Hidrografia. In: VENTURI,
L.A.B. Geografia – técnicas de campo, laboratório e sala de aula. São Paulo: Sarandi,
2011. Usem também a bibliografia indicada pelos autores no final do capítulo.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2019.

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