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LOB 1255

Hidrologia Aplicada
2o semestre /2023

Profa. Dra. Danúbia Caporusso Bargos


Prof. Dr.
Dr Robson da Silva Rocha
Departamento de Ciências Básicas e Ambientais
COMO DEFINIR UM RIO?

Os rios são classificados em função da constância do escoamento em


efêmeros, intermitentes ou temporários ou perenes:

 Efêmeros – não são


alimentados pelo
lençol subterrâneo
e possuem água
somente durante e
após as chuvas,
permanecendo
secos a maior parte
do ano.
 Intermitentes ou temporários – contêm água em certa época do ano
e apresentam-se secos em outra. Recebem fluxo d’água a partir do
nível freático quando este encontra-se suficiente alto. Em geral
correspondem a rios que perdem água para a zona de saturação
porque o seu leito situa-se acima do nível freático, sendo comum em
regiões semiáridas e áridas.
 Perenes – drenam água no decorrer de todo o ano e a vazão aumenta
para jusante. Geralmente correspondem aos rios que são alimentados
pela água subterrânea, situação típica de regiões úmidas.
Os rios podem ser classificados também em função do regime hídrico em:

 Efluentes: Recebem a contribuição contínua de água do subsolo


(regiões úmidas);

 Influentes: Perdem água para o subsolo (regiões secas).


NÍVEL DE BASE- (Baselevel)

 Linha imaginária horizontal abaixo da qual ocorre sedimentação e acima


erosão. No interior dos continentes existem vários níveis de base locais.

 Varia de acordo com:


-Eustasia (variação do nível do mar conforme os tempos geológicos);
-Epirogênese (variação vertical dos continentes; soerguimento ou subsidência)
Regressão:
Diminuição do nível do mar (eustasia
negativa) ou soerguimento dos
continentes (Epirogênese positiva);
Regressão da linha de costa em
direção ao antigo mar; erosão
remontante.

Quando ocorre uma


alteração no nível de Transgressão:
base, os canais Aumento no nível do mar (eustasia positiva) ou
fluviais vão em abaixamento dos continentes (Epirogênese negativa)
busca de um novo
perfil de equilíbrio. Baixos cursos são “afogados”; inicia-se um ciclo de
sedimentação.
PERFIL DE EQUILÍBRIO DE UM RIO

• Modelo teórico: Toda vertente possui uma inclinação de equilíbrio, e


quando um rio o atingir, diz-se que este atingiu o perfil de equilíbrio.

“Rios modificam seu leito por erosão e deposição, para estabelecer o


equilíbrio entre a energia e a resistência” (PENTEADO, 1978).

Regularização de um perfil de equilibrio por erosão regressiva e aluvionamento.


P1 – posição original / P2 – posição em vias de regularização (PENTEADO, 1978)
Os perfis de equilíbrio são
provisórios e não ocorrem ao longo
de todo o rio (são setoriais)

Regulação do Perfil de Equilíbrio

•Erosão regressiva;
• Movimentação tectônica;
• Mudança Climática;
• Alterações antrópicas (barragens).
O Trabalho dos Rios

 Erosão;
 Transporte;
 Deposição.
Juventude Maturidade Senilidade
EROSÃO

A erosão fluvial é realizada através dos processos de :

 CORROSÃO: engloba todo e qualquer processo químico que se realiza


como reação entre a água e as rochas superficiais que com ela estão
em contato; resulta em uma lenta decomposição;

 ABRASÃO: é o desgaste pelo atrito mecânico, geralmente através do


impacto de partículas carregadas pela água;
Evorsão – gera depressões circulares (conhecidas também como marmitas de
gigantes) devido à pressão exercida pelo movimento turbilhonar sobre as rochas
do fundo do leito.

 CAVITAÇÃO: erosão fluvial que ocorre somente sob condições de


grande velocidade da água, quando as variações de pressão, que
incidem nas paredes do canal fluvial, facilitam a fragmentação das
rochas (rios acidentados).
Desgaste provocado por fluxo fluvial em Portugal. Correia, N.; (2008).
Desgaste provocado por fluxo fluvial no granito. - Tamanrasset, Argelia.
Cavitação
(fragmentação das rochas sob condições
de velocidades elevadas de água)

Cachoeira no rio Tietê/SP

Cachoeira do Caracol/RS -
TRANSPORTE
 Solução (carga dissolvidas)
 Suspensão (fluxo turbulento)
 Saltação (correntes ascendentes)
 Rolamento ou arrastamento (fundo do leito)
DEPOSIÇÃO

Ocorre quando há diminuição da competência ou da capacidade fluvial. A


deposição da carga detrítica carregada pelos rios pode ocorrer quando
há:

 Diminuição da declividade;
 Redução do volume;
 Aumento da carga detrítica.

Formas geradas pela deposição:

 Planícies de inundação;
 Deltas;
A planície de inundação pode ser definida e delimitada por critérios
diversos, conforme a perspectiva e os objetivos dos pesquisadores.

- Geólogo: área fluvial recoberta por materiais depositados pelas


cheias;
- Hidrólogo: área fluvial periodicamente inundada por cheias de
determinadas magnitudes e frequências;
- Legislador: delimitada e definida pelo estatuto da terra;
- Geomorfólogo : apresenta configuração topográfica específica, com
formas de relevo e depósitos sedimentares relacionados com as
águas fluviais, na fase do canal e na de transbordamento

É a faixa do vale fluvial composta de sedimentos aluviais no entorno do curso de


um rio, periodicamente inundada pelas águas de transbordamento
provenientes do rio (CHRISTOFOLETTI, 1980).

Elementos característicos da composição de uma planície de inundação:


diques marginais, os sulcos e os depósitos de recobrimento e as bacias de
inundação.
Figura 1 – Diferentes etapas da inundação sobre a planície: (a) Escoamento restrito à calha principal do rio, com
água armazenada em lagoas da planície decorrentes de cheia anterior, chuva local ou água subterrânea; (b) Início
do extravasamento da calha; (c), (d) Extravasamento da calha inunda a planície, alcançando lagoas e seguindo fluxos
independentes do escoamento principal na calha; (e) Inundação ocorrendo sobre toda a planície e interagindo com
a calha do rio ao longo de toda sua extensão; (f) Após passagem da cheia, acréscimo do volume armazenado na
planície em relação à situação inicial.

Fonte: https://core.ac.uk/download/pdf/45491039.pdf
Diques marginais
marginais:: são saliências alongadas compostas por sedimentos,
bordejando os canais fluviais . A deposição no dique ocorre quando o fluxo
ultrapassa as margens do canal. A corrente fluvial, quando ultrapassa, é
freada e abandona parte de sua carga permitindo a edificação do dique
marginal. Os detritos mais grosseiros são depositados na proximidade do
canal e os mais finos são carregados para locais mais distantes.
Bacias de inundação:
inundação são as partes mais baixas da planície. São áreas
pobremente drenadas, planas, sem movimentação topográfica, localizadas
nas adjacências das faixas aluviais . Atuam como áreas de decantação, nas
quais os sedimentos finos em suspensão se depositam, depois dos mais
grossos se depositarem nos diques.

Terraços fluviais:
fluviais Situam-se a uma determinada altura acima do curso de
água atual, que mesmo em época de cheias não são atingidos/inundados
(mas já foram em períodos anteriores – dentro da escala de tempo
geológica). Representam antigas planícies de inundação abandonadas
- Morfologia: patamares aplainados, largura variada, limitado por escarpas em direção ao talvegue.
Quando um rio escoa para um lago ou para o mar, depositando uma carga
detrítica maior que a carreada pela erosão, ocorre a formação de deltas
(sistema deposicional em forma de leque)
Várias são as formas espaciais assumidas pelos deltas . A morfologia deposicional de uma
planície deltaica geralmente é caracterizada pelo desenvolvimento de diques naturais nas
bordas dos canais.

Delta do Rio de La Plata- entre Uruguai e Argentina


O delta do rio Ganges, em Bangladesh e no Leste da Índia, é um dos
mais populosos do mundo. Foto: SPL / Barcroft Media

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120509_galeria_deltas_is.shtml
Rio Colorado / México
Populações que
vivem perto dos
deltas dos rios
estão mais
expostas a
inundações. Rio
Yangtze, próximo
de Xangai, na China

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120509_galeria_deltas_is.shtml
Delta do arquipélago
de Bijagos, no Oeste
da África.
Delta do Rio Amazonas

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120509_galeria_deltas_is.shtml
Rio Paraíba do Sul

O principal fenômeno na evolução deltaica é o deslocamento dos cursos fluviais em distributários sucessivos
sucessivos.
Como um delta progride cada vez mais em direção ao mar, a declividade e a capacidade de carregar sedimentos
vão diminuindo gradualmente, e caminhos mais curtos para o mar podem ser encontrados em áreas adjacentes.
Alguns exemplos no Brasil (Rio Paraíba do Sul e Rio São Francisco).
Rios que desaguam no continente (em outro rio ou lagos) podem ter
a foz em forma de delta?

 Os deltas podem ser marítimos, continentais ou oceânicos (GUERRA,


1993);

 Delta continental: denominação usada para os depósitos aluviais na


forma de leque que aparecem nas foz de rios que desembocam num
lago. (GUERRA, 1993)

 Os deltas também podem ser formados na desembocadura em


outros cursos fluviais. Os deltas do rio Branco no Rio Negro e do
Madeira no Amazonas constituem bons exemplos. (CRISTOFOLETTI,
1981)
TIPOS DE CANAIS FLUVIAIS

Os tipos de canais correspondem ao modo de se padronizar o arranjo


espacial que o leito apresenta ao longo do rio.

a) meandrante;
b) anastomosado;
c) retilíneo.

Alguns autores ainda consideram: deltaico, ramificado, reticulado e


irregular. Essa geometria resulta do ajuste do canal a sua seção transversal
e reflete o interrelacionamento entre as variáveis descargas líquida, carga
sedimentar, declive, largura e profundidade do canal, velocidade do fluxo e
rugosidade do leito.
A grande maioria dos pesquisadores admite 3 padrões fundamentais:
Anastomosados

Retilíneos

Meandrantes
Canais Anastomosados
Canal fluvial possui grande quantidade de sedimentos em suspensão e
não possui potência para conduzi-lo ao nível de base final, depositando-
os em seu próprio leito, formando ilhas e barras.

Ponto de início e ponto terminal deverá ser um único canal e isto o difere dos Canais
Reticulados (escoamento efêmero e várias desembocaduras).
Canais Anastomosados

Fonte imagem: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/35/Waimakariri01_gobeirne.jpg


As variações do fluxo fluvial, que podem levar ao estabelecimento do padrão
anastomosado, espelham as condições climáticas locais, a natureza do
substrato, a cobertura vegetal (ausente ou rarefeita).

As precipitações concentradas e os longos períodos de estiagem (clima árido ou semi-


árido) e as pesadas nevadas e os degelos rápidos oferecem as melhores condições de
clima local para o assentamento da drenagem anastomosada.
Canais retilíneos
Trajeto retilíneo do canal fluvial – pouco freqüente se comparado aos
outros padrões; Exige embasamento rochoso homogêneo (que oferece
igualdade de resistência à atuação das águas); Desenvolvimento de barras
laterais dispostas alternadamente em cada margem

Barra de sedimentos
laterais

Rio Paraíba do Sul - RJ


Canais Meândricos

Descrevem curvas sinuosas, possuem um único canal que transborda suas


águas na época das cheias. Encontrados com freqüência em áreas planas,
úmidas e cobertas por vegetação ciliar; Formas meandrantes
representam um estado de estabilidade do canal.

O estado de equilíbrio
poderá ser alterado pela
ocorrência de um distúrbio
na região, como a atuação
do homem (plantio em
áreas próximas aos
meandros)
Evolução dos Meandros

A corrente principal é levada em direção a Acentuando-se a curvatura dos meandros, pode


margem côncava (zona de erosão) com ocorrer o encontro das margens erosivas e o corte
significativa velocidade. Na margem convexa do pedúnculo, originando meandros
(zona de deposição), a corrente, muito lenta para abandonados. O rio volta a adquirir maior
transportar, abandona a carga constituindo velocidade, necessitando aumentar novamente
bancos de areia e cascalhos (barras de meandro). sua sinuosidade para perder energia excedente.
Reinicia-se o meandramento.
https://docplayer.com.br/112515789-Universidade-federal-de-ouro-preto-escola-de-minas-departamento-de-geologia-trabalho-de-conclusao-de-curso-felipe-rocha-gomes.html
Índice de Sinuosidade

IS= L/dv, Onde:


L = comprimento do canal principal;
dv= distância vetorial entre os pontos
extremos do canal principal.

Relaciona o comprimento verdadeiro


do canal (projeção ortogonal) com a
distância vetorial (comprimento em
linha reta) entre os dois pontos
extremos do canal principal
(SCHUMM, 1963). Valores próximos
a 1,0 indicam que o canal tende a ser
retilíneo. Já os valores superiores a
2,0 sugerem canais tortuosos e os
valores intermediários indicam
formas transicionais, regulares e
irregulares.
http://farm4.static.flickr.com/3148/3084922500_b0a1d5861f.jpg
Rio Juruá – Afluente do rio Amazonas
(Imagem Envisat)

http://g1.globo.com/natureza/noticia/2012/04/satelite-europeu-produz-imagem-de-curvas-de-rio-na-amazonia.html
Meandros Encaixados

Ocorrem quando o vale meandra junto com o rio na


mesma escala.
Meandros Divagantes
A sinuosidade do rio é independente do traçado do vale. Este tipo de meandro se forma em
amplas planícies aluviais e o comprimento do rio é maior que o comprimento do vale.

Margem convexa de deposição

Corte de pedúnculo
Margem côncava de erosão
Canais Ramificados
Ocorre quando um canal fluvial é dividido em dois, gerando um banco de
sedimentos depositados ao centro, e que volta a se unir ao seu leito
principal à jusante da ilha.

Rio Mogi-Guaçu. Fonte: Paschoal, L. G. (2005)


Bloco diagrama ilustrando a distribuição dos diversos elementos topográficos e estruturas
deposicionais, em planicies de inundação (CRHISTOFOLETTI, 1980)
Influência do homem sobre a Geomorfologia Fluvial

Nos últimos séculos, as atividades humanas têm aumentado a sua


influência sobre as bacias de drenagem e, consequentemente, sobre os
canais constituintes;

Homem = agente geomorfológico ;

a) Modificações ocorridas diretamente no canal fluvial para controlar


vazões (reservatórios) ou para alterar a forma do canal visando
estabilização de margens, atenuar efeitos de enchentes, inundações,
erosão ou deposição de material, retificar canal e extrair cascalhos.

b) Mudanças fluviais indiretas , resultantes da ação humana, realizadas


fora da área dos canais, mas que modificam o comportamento da
descarga e da carga sólida. São atividades ligadas ao uso da terra:
remoção da vegetação, emprego de práticas agrícolas indevidas,
construção de prédios e urbanização.
Canalização

Obra de engenharia realizada no sistema fluvial que envolve a direta


modificação da calha do rio e desencadeia consideráveis impactos, no canal
e na planície;
A utilização desse tipo de
obra é considerada
imprópria, com efeitos
prejudiciais ao ambiente. A
passagem da draga,
aprofundando o canal,
provoca o abaixamento do
nível de base, favorecendo a
retomada erosiva dos
afluentes, aumentando a
erosão/aumento
deposicional.

Fonte: https://www.sinageo.org.br/2018/trabalhos/8/8-284-1541.html
Construção de Barragens

A construção de barragens em vales fluviais rompe a


sequência natural dos rios em três áreas distintas:

a) na montante da barragem; o nível de base é


levantado, alterando a forma do canal e a
capacidade de transporte, causa aumento no
fornecimento de sedimentos para o reservatório
(vida útil);

b) No reservatório: em virtude da mudança da


situação lótica (água corrente) para lêntica (água
parada) gera a formação de feições deposicionais,
podendo provocar o assoreamento do reservatório;

c) Na jusante do reservatório: as mudanças ocorridas


no regime das águas (neste setor) acarretam
significativos efeitos nos processos do canal (entalhe
do leito, erosão nas margens e deposição a jusante.
Billings

Salto Grande

Furnas Guarapiranga
Urbanização

Aumenta a área de impermeabilização,


causando um aumento no fluxo de água que
flui em direção ao canal principal.

Promove a ocupação de margens, áreas que


sofrem no período de cheia do rio.
LEITURA SUGERIDA:

CRHISTOFOLETTI, A. Geomorfologia Fluvial. Volume I – O canal fluvial.


São Paulo, Edgar Blücher, 1981.

Press, F.; Grotzinger, J.; Siever, R.; Jordan, T, H.; Para entender a Terra.
Porto Alegre, Bookman, 2008.

BINDA, A.L. ALTERAÇÕES NO CICLO HIDROLÓGICO EM ÁREAS URBANAS:


cidade, hidrologia e impactos no ambiente. Ateliê Geográfico, Goiânia-
GO v. 5, n. 3 dez/2011 p.239-254.

Bibliografia:

POLETO, C. Bacias Hidrográficas e Recursos Hídricos. Rio de Janeiro,


Interciência, 2014.
SILVA, L.P. Hidrologia Engenharia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro, Elsevier,
2015.

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