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PARTE B - PROCESSOS ENVOLVENDO RISCOS


1. INUNDAÇÕES
1.1. INTRODUÇÃO

A água é o agente geológico mais importante no modelamento da superfície terrestre.


As montanhas, que são formadas pela tectônica de placas, têm suas formas modeladas pela
água. Os rios são, por sua vez, os responsáveis pela formação de vales e pelo transporte de
enormes quantidades de sedimentos.

1.2. CICLO HIDROLÓGICO

Mudanças cíclicas diárias ou de longo prazo que podemos observar na hidrosfera


terrestre - como a chuva, a neve e o escoamento dos rios- são coletivamente conhecidas como
ciclo hidrológico (Fig. M6.1 /1.25). O ciclo é ativado pela radiação solar, que evapora a água
dos oceanos e da superfície terrestre. O vapor d'água, desta forma produzido, entra na
atmosfera e move-se com as correntes de ar. Uma parte desse vapor de água condensa-se e
precipita como chuva ou neve voltando para o oceano ou para os continentes. A chuva que cai
sobre a superfície segue principalmente três caminhos: a) é em parte drenada para o interior
dos rios, b) em parte infiltra no solo e c) é em parte evaporada novamente reiniciando o ciclo. A
neve poderá continuar sobre o solo por uma ou mais estações até ser fundida e fluir para os
rios e oceanos. A neve que alimenta as geleiras, pode se manter aprisionada por muito mais
tempo (de dezenas a centenas de anos), mas eventualmente também pode fundir-se em
seguida evaporar e portanto retornar para os oceanos ou atmosfera. Parte da água presente
nos solos é absorvida pelas plantas, retornando à atmosfera através de suas folhas por um
processo conhecido como transpiração

A quantidade total de água que se move no ciclo hidrológico é enorme, mais de 378
trilhões de litros por ano. Somente uma pequena porção desta água é temporariamente
desviada para uso humano, retornando ao ciclo hidrológico através de esgotos municipais,
evaporação de campos irrigados, efluentes industriais etc. Os maiores reservatórios de água
são os oceanos, que contém 97,5% da água da hidrosfera. Os rios e lagos juntos perfazem
somente 0,016% da água do planeta, este dado é importante porquê são os lagos e os rios
que fornecem a maior parte da água consumida pelos seres humanos.

1.3. CARACTERÍSTICAS DOS RIOS

1.3.1. Generalidades

Um rio, riacho ou córrego é um corpo de água confinado, que flui ao longo de um canal,
montanha abaixo através de baixos topográficos, incorporando a água das superfícies por
onde passa. A região drenada por um sistema de rios recebe o nome de bacia de drenagem
(Fig. M6.2 / figura 9.29/9.2 S&P). O tamanho do rio, em qualquer ponto, está relacionado em
parte com a área da bacia de drenagem a montante deste ponto. A bacia de drenagem, por
sua vez, determina o quanto de água a partir das chuvas pode fluir para dentro do córrego.
Seu tamanho também é influenciado por vários outros fatores, incluindo o clima (índice
pluviométrico e taxa de evaporação), a vegetação ou a falta desta, e rochas subjacentes. O
tamanho do rio pode ser descrito pela sua descarga, ou seja, o volume de água que flui
através de um ponto em um determinado período de tempo. A descarga é o produto da seção
através do canal (dada em m2) vezes a velocidade da corrente (m/s). Dessa forma a descarga
é dada em m3/s
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Q (m3/s) = A (área da seção transversal do rio, m2) x V (média da velocidade, m/s)


Pela equação percebe-se que para manter o equilíbrio em uma drenagem, se a
descarga aumentar tem que aumentar a velocidade e eventualmente a área transversal do
canal. Um exemplo interessante pode ser visto na Fig. 9.4 (S&P), que mostra o que ocorreu
com a seção transversal do canal do rio Colorado, durante a cheia de 1956.

1.3.2. Transporte de sedimentos

A água é um agente poderoso para transportar materiais. Os rios podem mover


materiais de várias maneiras (Figuras 8.4 e 8.6 Earth 180-1). Os detritos pesados, podem ser
rolados ou arrastados sobre o fundo e a eles dá-se o nome de carga de fundo. O material em
suspensão é formado por um material mais leve ou suficientemente fino para mover-se em
suspensão. O material de tamanho intermediário pode ser transportado por saltação.
Finalmente, algumas substâncias podem ser completamente dissolvidas na água e formar com
isso a chamada carga dissolvida.

A quantidade total de material que é transportado por um rio através de todos os meios
acima citados, é chamada simplesmente de carga. A capacidade de um rio é uma medida do
total de carga que ele pode mover. A capacidade está intimamente relacionada à descarga.
Quanto mais rápido a água flui e quanto mais água está presente, mais material pode ser
transportado. O quanto é transportado também depende da disponibilidade de sedimentos ou
material solúvel. Uma corrente que flui sobre uma rocha dura não irá transportar muito
material, enquanto que, uma corrente similar que se move através de areias ou solos moverá
consideravelmente mais material (Figura 8.5, Earth).

1.3.3. Velocidade, gradiente e nível de base.

A velocidade da corrente está relacionada parcialmente a descarga e a declividade da


encosta por onde o córrego flui. A declividade do canal é chamada de gradiente. Quanto mais
íngreme for o terreno maior será o gradiente e mais rápida será a corrente. O gradiente e a
velocidade comumente variam ao longo do rio, especialmente se o rio for muito largo. Próximo
à cabeceira dos rios o gradiente é alto e tende a decrescer de montante à jusante. A
velocidade pode ou não decrescer da mesma forma. O efeito do decréscimo no gradiente pode
ser neutralizado por outros fatores, como aumento no volume de água e mudanças na largura
e profundidade dos canais. (Figura 9.5 S&P 255)

Quando um rio atinge o seu final ou sua desembocadura, o que geralmente acontece
dentro de um outro corpo de água, o gradiente é tipicamente baixo. Próximo a sua
desembocadura os rios se aproximam do seu nível de base, que é a elevação mais baixa que
o rio pode erodir. Para muitos rios, o nível de base é o nível de água do corpo aquoso para
dentro do qual ele flui. Para os rios que fluem para o oceano, o nível de base é o nível do mar.
Quanto mais próximo um rio estiver de seu nível de base, menor será o gradiente. (Figuras
9.10 S&P 259; 8.16, 8.17 Earth 189, 191)

1.3.4. Velocidade e seleção dos sedimentos

As variações na velocidade dos rios ao longo de seu comprimento, são refletidas nos
sedimentos depositados em diferentes pontos ao longo do mesmo. Quanto mais rapidamente
um rio flui, mais densas e maiores serão as partículas transportadas. O termo competência é
usado para descrever as maiores partículas que podem ser transportadas sob um determinado
grupo de condições (velocidade e dinâmica do fluido) (Figura 8.5 Earth 181). Os sedimentos
encontrados sem movimento no leito de um rio são aqueles que são ou muito pesados ou
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muito grandes para serem transportados (Figura 9.18 S&P 265). Onde o fluxo for mais rápido,
ele carrega seixos ou mesmo matacões, juntamente com sedimentos mais finos. Na medida
que a corrente se torna mais lenta, começam a ser depositados os sedimentos mais pesados e
as maiores partículas, no caso, os seixos e matacões, continuando no fluxo os sedimentos
mais finos. Se a velocidade da corrente continuar a decrescer, sucessivamente partículas cada
vez menores irão ser depositadas. Numa corrente que flui lentamente, somente os sedimentos
mais finos e os materiais dissolvidos serão transportados. Se o rio fluir para dentro de um
corpo de água parada, como um lago ou mesmo um oceano, a velocidade do fluxo cai a zero,
e todos os sedimentos que ainda estavam em suspensão se depositam.

A interrelação entre a velocidade da água e o tamanho das partículas transportadas é


responsável pelas características dos sedimentos depositados. Eles são comumente bem
selecionados em tamanho ou densidade, com materiais depositados em um ponto, tendendo a
serem similares em tamanho ou peso. Se um rio, quando chega a sua desembocadura, ainda
transporta uma carga substancial, uma grande quantidade de sedimentos será depositada em
forma de um leque, chamado de delta pela semelhança com a letra grega (Fig. 6.5a/Figura
9.27 S&P 273). Uma feição de forma similar, um leque aluvial, é formado quando um corrente
distributária flui para dentro de uma corrente mais lenta e larga ou quando uma corrente
deságua na planície de um deserto.(Fig. 6.5b Figuras 9.26 S&P 273; 8.18 e 8.19 Earth 192 ).

Um fator adicional que controla o tamanho das partículas sedimentares nas correntes é
a desagregação física e/ou dissolução destes sedimentos durante o transporte, isto é, quanto
mais longe o sedimento for transportado, mais ele será sujeito à colisões e à dissolução.
Consequentemente, mais fino ele será. Há uma tendência geral dos sedimentos de se
tornarem cada vez mais finos em direção à desembocadura dos rios Figura 9.21 S&P 267

1.3.5. Evolução das planícies de inundação

Os rios não fluem em linhas retas por muito tempo. Pequenas irregularidades nos
canais causam flutuações locais na velocidade, que, por sua vez, resultam em um pouco de
erosão onde a água flui mais fortemente contra um dos lados do canal, e alguma deposição de
sedimentos no lado oposto (Figura 9.13 S&P 261). Meandros se formam desta maneira que,
uma vez formados, tendem a se alargarem e também a migrarem corrente abaixo (Fig. 6.6,
Figuras 8.25 8.26 Earth 195 196/ Figuras 9.11 9.12 S&P 260 261). A taxa de movimento
lateral dos meandros pode atingir dezenas ou centenas de metros por ano. Taxas inferiores a
10 m/ano são, entretanto, as mais comuns em rios pequenos.

A partir de um determinado período de tempo, os efeitos combinados de erosão na


parte mais externa e deposição no lado interno dos bancos dos meandros, além da migração
corrente abaixo, produzem uma área larga e plana coberta por sedimentos ao redor do canal
principal. Esta área é chamada de planície de inundação (Figura 8.21 Earth 193), que é a
área dentro da qual o rio fluirá durante as inundações. A deposição de sedimentos durante as
inundações pode de fato ser um importante fator adicional, contribuindo para a formação desta
área extensa as proximidades do canal. A planície de inundação é, portanto, o produto da
evolução do rio em função do tempo. (Fig. 6.6 Keller 85!).

Os meandros não podem se alargar indefinidamente. Meandros muito largos


representam obstáculos ao fluxo dos rios. Em tempos de descarga elevada, especialmente
durante as inundações, os rios podem tomar um caminho mais curto, escavando um novo
canal, abandonando o antigo meandro. Os meandros abortados são chamados de meandros
abandonados (Figuras 9.12 .14 S&P 261 2). Estes meandros abandonados podem secar ou
serem preenchidos por águas formando lagos.

1.4. INUNDAÇÕES
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O tamanho de um canal de um rio, é diretamente relacionado a quantidade de água


que geralmente passa através dele. Isto é, o volume do canal é aproximadamente suficiente
para acomodar a média de descarga máxima alcançada cada ano. Na maior parte do ano, a
superfície das águas é bem abaixo do nível dos bancos de areia formados pelas correntes.
Nos tempos de descargas elevadas, o nível das águas dos rios pode ultrapassar os bancos ou
inundar. Isto pode acontecer de forma limitada, duas ou três vezes ao ano nas regiões úmidas.
Inundações mais severas ocorrem menos freqüentemente (Figura 9.25 S&P 272). A grande
maioria das inundações em rios está relacionada à precipitação. Quando chove, uma parte da
água infiltra, outra evapora e o resto escoa para os rios. Caso haja alterações nas bacias de
drenagem, como por exemplo desmatamento, as árvores que retêm certa quantidade das
águas precipitadas não mais desempenharão este papel, de forma que mais água fluirá
superficialmente e consequentemente uma área maior será inundada.

1.4.1. Fatores que governam a severidade de uma inundação.

Muitos fatores determinam conjuntamente se uma inundação irá ocorrer. A quantidade


de água envolvida e a sua taxa de entrada no sistema dos rios são os fatores principais.
Quando o input de água excede a capacidade do rio de escoar esta água através de seu canal,
a água transborda além dos diques e bancos marginais. Em escala mundial, sabe-se que as
regiões onde ocorrem as precipitações mais intensas são nos países do sudeste da Ásia. Lá
as tempestades produzem índices pluviométricos de mais 200 mm em menos de três dias.
Estas áreas apresentam, portanto, um enorme potencial para inundações.

1) A taxa de runoff superficial é influenciada pela extensão da infiltração, que por sua
vez é controlada pelo tipo de solo, e o quanto ele está exposto. Os solos, da mesma forma que
as rochas, variam em porosidade e permeabilidade. Dessa forma, um solo muito poroso e
permeável permite que uma grande quantidade de água se infiltre relativamente rápido. Por
outro lado, se o solo é menos permeável ou coberto por estruturas artificiais, a proporção de
água que escorre sobre a superfície aumenta.

2) A topografia também influencia a extensão e a taxa de runoff. Quanto mais íngreme


é o terreno, mais rapidamente a água escorrerá sobre a superfície e menor será sua infiltração
no terreno. A água que se infiltra no solo, da mesma forma que o runoff, tende a fluir montanha
abaixo e com o tempo atinge os rios. Contudo, a água em subsuperfície flui através dos solos
e rochas muito mais lentamente. Quanto mais gradativamente a água alcança os rios,
melhores são as chances da descarga dos rios se adequarem, evitando, com isso, as
inundações. Portanto, a quantidade relativa de runoff superficial e subsuperficial (que são
fortemente influenciados pela geologia das bacias de drenagem), são fatores fundamentais
que afetam a severidade das inundações.

3) A vegetação pode reduzir os riscos de inundações de várias maneiras. As plantas


podem simplesmente prover uma barreira física para o runoff superficial, diminuindo sua
velocidade e tornando mais lento a taxa com que a água atinge os riachos e rios. As raízes das
plantas também trabalham no interior dos solos para manter ou aumentar a permeabilidade e
portanto aumentar a infiltração reduzindo, com isso, a proporção de runoff superficial. As
plantas também absorvem água, usando parte dela para o crescimento.

1.4.2. Características das inundações

Durante uma inundação, o nível da água de um rio é maior do que o usual, aumentando
também sua velocidade e descarga, na medida em que a massa de água se desloca por
gravidade em direção às porções mais baixas da bacia hidrográfica. A elevação das águas
superficiais em qualquer ponto é chamada de estágio do rio. Um rio está em estágio de
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inundação quando o nível de água ultrapassa os bancos marginais. A magnitude de uma


inundação pode ser descrita, ou pela descarga máxima, ou quando o estágio máximo é
alcançado. O rio é dito que atingiu a crista ou o ápice, quando o estágio máximo é alcançado.
Entretanto, em lugares distantes do input de água, ou mesmo onde o runoff superficial é lento,
o rio pode não atingir o estágio de crista, mesmo vários dias após o início do episódio de cheia.
Em outras palavras, o fato da chuva ter parado não significa necessariamente que o perigo
tenha passado.

1.4.3. Inundações a jusante e a montante

Uma inundação pode ficar restrita a uma pequena região num rio estreito ou mesmo
atingir uma extensa região como as observadas na região amazônica ou no vale do Mississipi,
dependendo de como o excesso de água é distribuído. As inundações que afetam áreas
pequenas e localizadas, são por vezes chamadas de inundações de montante (upstream
floods - Fig. 6.9a, K. p. 88). Estas são mais freqüentemente causadas por chuvas
inesperadas, e, localmente intensas e por eventos do tipo “sangria” de represas. Se o volume
de água envolvido é moderado, a rapidez com que ele entra nos rios pode causar,
temporariamente um excesso de água, que faz com que o rio extravase os limites dos canais.
A inundação resultante é tipicamente breve, entretanto, ela pode ser também severa. Devido a
natureza localizada do excesso de água, durante uma inundação à montante, o canal não
preenchido a jusante mostra uma capacidade extra para armazenar a água excedente. Desta
forma a água pode escorrer rapidamente a partir da área à montante reduzindo o estágio de
cheia.

As inundações que afetam grandes sistemas de drenagem são chamadas de


inundações à jusante (downstream floods - Fig. 6.9b K. p. 88). Estas resultam mais
comumente a partir de pesadas chuvas prolongadas aplicadas através de uma extensa área.
As inundações à jusante permanecem mais tempo do que as inundações à montante porque
todo o sistema de drenagem foi colapsado com o excesso de água.

1.4.4. Hidrógrafos

A flutuação do estágio de cheia ou descarga com o tempo, pode ser registrado em um


hidrógrafo. Os hidrógrafos registram longos períodos de tempo e são muito úteis na
construção de um quadro sobre o comportamento de um rio e de como este responde a um
evento causador de cheia. As cheias são indicadas por um pico no hidrógrafo, sendo a altura,
a largura do pico e sua posição no tempo relativa ao evento de input da chuva, dependendo de
onde o excesso de água entrou no sistema. A montante, onde a bacia de drenagem é mais
estreita e a água não precisa se mover muito para alcançar os rios, o pico é relativamente mais
agudo, com uma crista mais alta e volta mais rapidamente aos níveis normais. No caso de uma
bacia de drenagem larga, onde a água precisa viajar distâncias consideravelmente maiores, a
chegada da água precisa de um tempo maior (Figura 9.7 S&P 256). O pico será mais aberto,
de forma que o hidrógrafo mostra dois picos, um anterior fraco e bem aberto e outro posterior
mais largo (Fig. 6.10a). De maneira similar, no caso de cheias a montante, as medidas feitas
próximas ao ponto onde o excesso de água está entrando no sistema, irão mostrar um pico
anterior mais agudo. Na medida em que o pulso de água se move para as porções mais baixas
na bacia de drenagem o pico torna-se mais largo, mais baixo e de longa duração (Fig. 6.11 K.
p. 89).

1.4.5. Curvas de Freqüência de Inundações.

Uma outra maneira de se observar o comportamento das cheias é, por exemplo,


relacionar a freqüência de eventos de diferentes graus de severidade com o tempo. Tal relação
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fornece os intervalos de recorrência. Registros de longos períodos tornam possível construir


uma curva mostrando a descarga em função dos intervalos de recorrência para um rio em
particular ou mesmo para uma parte dele. A Figura 9.8 (9.8 S&P 257) mostra um exemplo de
uma destas curvas, indicando que neste rio, um evento produzindo uma descarga de 350
3 3
pés /seg ocorre, em média, a cada 2 anos., e que um evento com descarga de 675 pés /seg
ocorre a cada 10 anos e assim por diante. Um evento de cheia pode então ser descrito pelo
seu intervalo de recorrência.

Alternativamente, nós podemos tratar da probabilidade de uma cheia de um


determinado porte ocorrer em um ano específico. Esta probabilidade é o inverso do intervalo
de recorrência. Por exemplo, para o rio da Fig. 6.11, uma cheia com descarga de 675
3
pés /seg. é chamada de "cheia dos dez anos", o que significa que uma cheia de proporções
semelhantes poderá ocorrer em intervalos de dez anos, ou tem 10 % de probabilidade de
3
ocorrer a cada ano. Uma descarga de 900 pés /seg. é chamada de "cheia dos quarenta
anos" e, consequentemente, tem 2,5 % de probabilidade de ocorrer a cada ano.

Curvas de freqüência ou de probabilidade podem ser extremamente úteis na avaliação


de riscos de catástrofes regionais. Se uma cheia de severidade de 100 anos ou 200 anos pode
ser prevista ou estimada em termos de descarga, então cientistas e planejadores podem, com
a ajuda de cartas topográficas, projetar o quanto a região será inundada em tais eventos. Eles
podem inferir, por exemplo., a área a ser atingida por uma cheia de 100 anos. Estas
informações são importantes para a preparação de mapas de riscos, úteis para a locação de
novos projetos, além de minimizar o risco de cheias e prejuízos advindos desta.

Infelizmente, a parte mais precisa da curva é, por definição, a parte de descargas


baixas, as mais freqüentes e com maior probabilidade de ocorrer, e, portanto, menos
perigosas. Infelizmente os registros confiáveis de rios se estendem somente a algumas
décadas, além do que muitas áreas nunca foram tratadas.

1.5. URBANIZAÇÃO E CHEIAS

A urbanização aumenta, de sobremaneira, dois fatores importantes que influenciam


diretamente os efeitos das inundações, sendo eles a magnitude e a freqüência das cheias;
principalmente nas bacias hidrográficas de pequeno porte, com apenas alguns quilômetros
quadrados de extensão. A taxa de crescimento de efeitos desastrosos das cheias é função
tanto da área do terreno impermeabilizado, através de construções, por exemplo, quanto da
área de canais de escoamento (esgotos) construídos. Os canais de esgoto são importantes,
porque eles drenam as águas superficiais e as transportam sob a forma de correntes de alta
velocidade. Por outro lado, a cobertura impermeável e os canais de esgoto, são,
coletivamente, uma medida de grau de urbanização. A Fig. 6.13 (K. p. 90 mostra que áreas
urbanas com 40 % de áreas impermeáveis e com 40 % de canais, podem apresentar cerca de
3 vezes mais fluxos (overbank flows). Isto é válido para bacias de drenagem pequenas, nas
bacias maiores o efeito não é significativo).

As cheias são função das relações entre a precipitação e o runoff. A urbanização por
sua vez, causa enormes mudanças nesta relação. Alguns estudos mostram que o runoff
urbano é 1,1 à 4,6 vezes o valor do runoff pré-urbano (Fig. 6.15, K. p. 91). Estimativas de
descargas para diferentes intervalos de recorrência em diferentes graus de urbanização são
mostrados na Fig. 6.16. As estimativas mostram um crescimento enorme do runoff com o
crescimento das áreas impermeabilizadas e coberturas com canais de esgoto.

O aumento do runoff com a urbanização ocorre porque menos água infiltra no solo,
como é sugerido pela redução significativa do tempo entre o ápice de precipitação e o ápice de
inundação para as áreas urbanas (Fig. 6.17). Intervalos pequenos (lag times) são
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normalmente causados por descargas rápidas, que provocam pouca infiltração nos solos e
facilitam o movimento superficial das águas.

1.6. NATUREZA E EXTENSÃO DOS DANOS CAUSADOS PELAS CHEIAS

Por centenas de anos o homem vem vivendo e trabalhando nas planícies de inundação
dos rios. Não é por acaso que importantes achados arqueológicos sejam encontrados em
antigos terraços fluviais. As vantagens e a atração por estas regiões parecem bem claras,
sendo principalmente: a) fertilidade dos solos; b) conveniência da abundância de água; c)
fácil processo de eliminação de rejeitos (lixo) e; d) facilidade de transporte e
comunicação através dos rios. É óbvio que a construção de casas, indústrias, escolas,
prédios públicos e fazendas nas planícies de inundação é um convite fantástico à catástrofes,
entretanto, o uso contínuo deste tipo de ambiente, mostra que o homem se recusa
terminantemente a aceita-lo como parte do sistema fluvial sendo, dessa forma, uma área
dinâmica sujeita a cheias naturais. Como resultado, o controle das cheias e drenagens nas
áreas mais baixas, devem receber prioridade. A história tem mostrado que os colonizadores
em geral, quando tomam posse da terra, inicialmente cortam as árvores, as queimam em parte
e posteriormente, em conseqüência, modificam a drenagem natural. Devido a este processo
de desenvolvimento, duas preocupações se impõem com o tempo: 1)O crescente aumento nos
danos causados pelas inundações e, 2) Um programa acelerado de controle de cheias

Historicamente as obras de contenção de cheias tem-se voltado principalmente para o


controle do volume de água, através da construção de represas, modificação dos rios com a
construção de diques marginais, ou mesmo a construção de novos canais mais eficientes na
remoção do excesso de água. Cada novo projeto tem o (d) efeito de incentivar mais as
pessoas a morarem nestas áreas de risco.

Os principais fatores que controlam os danos causados por uma inundação incluem:

a) uso das áreas dentro das planícies de inundação


b) magnitude (profundidade e velocidade da água e a freqüência das inundações)
c) taxa de crescimento e duração da cheia
d) estação (p.ex. produção na planície de inundação)
e) ineficiência dos sistemas de previsão, alarme e emergência
f) carga de sedimentos depositada

Os efeitos da cheias podem ser primários, isto é, causados pela inundação, ou


secundários, originados pela quebra ou mau funcionamento dos serviços de sistemas
associados com a cheia. Os efeitos primários incluem prejuízos, perda de vidas e ainda danos
causados por correntes rápidas, detritos e sedimentos depositados sobre as plantações,
casas, construções, estradas, entre outros (Fig. 6.20 e 6.21). A erosão e deposição de
sedimentos nas áreas urbanas e agricultáveis podem também envolver perda considerável de
solos e vegetação (Fig. 6.22). Os efeitos secundários podem incluir poluição em curto prazo de
rios, fome, doenças e deslocamento de pessoas que perderam suas casas.

1.7. MEDIDAS PREVENTIVAS E DE AJUSTE

Medidas preventivas e de ajuste para as cheias envolvem diferentes considerações,


onde medidas de prevenção incluem estruturas e projetos de engenharia tais como: a) diques
e muros de contenção que servem como barreiras físicas contra a elevação do nível da água;
b) reservatórios para armazenar água, que é posteriormente liberada a taxas seguras; c)
sistemas de detenção da água torrente in situ ou bacias de detenção (Fig. 6.23); d)
canalização para aumentar o tamanho dos canais e mover a água mais rapidamente; e e)
canais de desvio para drenar as águas para longe das áreas de proteção. O maior problema
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com as obras de engenharia é que reservatórios, diques e paredes de contenção a montante


tendem a produzir uma falsa impressão de segurança que induz cada vez mais a expansão
urbana sobre as áreas de planícies de inundação. Por outro lado, as medidas de ajuste
incluem o monitoramento das planícies de inundação e inundações com segurança.

Do ponto de vista ambiental, as melhores medidas para minimizar os danos causados


pelas cheias em áreas urbanas é através da regularização da planície de inundação, não que
as obras de engenharia sejam indesejáveis. Em áreas desenvolvidas sobre planícies de
inundações, estas obras são necessárias para proteger vidas e propriedades (Fig. 6.24). Nós
precisamos reconhecer, entretanto, que a planície de inundação pertence ao sistema fluvial e
qualquer usurpação que reduza a área da seção transversal de uma planície de inundação
aumentarão as cheias (Fig. 6.25). Uma solução ideal seria o desenvolvimento descontínuo em
áreas sujeitas a cheias que necessitem novas barreiras físicas. Em outras palavras, nós
precisamos planejar com a natureza. Em muitos casos, na realidade, a solução mais efetiva e
prática é a combinação de barreiras físicas e a regularização das planícies de inundação que
irão resultar em menos modificações físicas do sistema fluvial. Por exemplo, um zoneamento
razoável de uma planície de inundação em conjunção com o desvio de canais ou mesmo um
projeto de construção de reservatórios a montante, pode resultar num pequeno desvio do
canal ou reservatório que seria necessário se a regularização da planície de inundação fosse
usada.

O propósito da regularização de planícies de inundação é obter o máximo do uso desta


enquanto minimiza-se danos e custos de proteção das cheias, sendo um compromisso entre o
uso indiscriminado da planície de inundação que resulta na perda de vidas e em tremendos
danos a propriedade e um completo abandono da planície de inundação, desperdiçando este
valioso recurso natural. Um passo preliminar para a regularização das planícies de inundação é
o mapeamento das áreas de cheia, o que significa prover informações para o planejamento do
uso da terra. Tais mapas podem delinear cheias passadas ou cheias de freqüência particular,
ou mesmo as cheias de 100 anos, sendo portanto úteis na elaboração de leis para o
desenvolvimento privado, na compra de terras para uso público como por exemplo para
construção de áreas recreativas, e para prover linhas gerais para o uso da terra no futuro.

Os mapas de risco de inundações para uma bacia de drenagem em particular podem


ser difíceis e caros. Os mapas são geralmente preparados para analisar os fluxos das
drenagens obtidos em estações de medidas por períodos de vários anos. Entretanto, os dados
sobre o fluxo em muitos casos não estão disponíveis, o que comumente acontece no Brasil.
Desta forma métodos alternativos devem ser utilizados para avaliar os riscos de inundações.
Os métodos de avaliação de cheias a montante envolvem estimativas do pico de descarga
baseadas em propriedades físicas da bacia de drenagem. Em algumas situações é possível
verificar uma relação entre o pico medido da cheia e dois parâmetros físicos, tais como
magnitude do córrego e densidade de drenagem, que podem ser utilizados para prever
inundações em bacias onde as informações hidrológicas não estejam disponíveis ou sejam
insuficientes.

A avaliação de risco de cheias, para áreas a jusante, podem também ser


acompanhadas, de uma maneira geral, pela observação direta e medidas de parâmetros
físicos. Um exemplo disso é o caso do rio Mississipi. As fortes cheias da primavera de 1973
são mostradas claramente em imagens produzidas por satélites (Fig. 6.26). As cheias podem
ser também mapeadas a partir de fotografias aéreas tomadas a partir de vôos durante o
evento ou podem ser estimadas a partir das linhas d’água mais elevada, dos depósitos
formados durante a cheia, dos detritos aprisionados nas planícies de inundação, e das
medidas no campo após a água retornar ao leito normal do rio. A Fig. 6.27 mostra os
depósitos formados durante uma cheia e os detritos aprisionados nas planícies de inundação..

Um mapeamento cuidadoso dos solos e da vegetação pode também ajudar a avaliar os


riscos de cheias à jusante. Os solos nas planícies de inundação são freqüentemente diferentes
dos solos das terras altas. Certos solos podem ser correlacionados com inundações de
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freqüência conhecida. A Fig. 6.28 mostra uma fraca correlação entre os solos e as inundações
de 100 anos. Os tipos de vegetação podem facilitar a análise de riscos de cheia, porque existe
geralmente um zoneamento de vegetação no vale dos rios que podem ser correlacionados
com zonas de inundação. Alguns tipos de árvores com raízes rasas requerem um suprimento
de água abundante e se beneficiam com a submergência freqüente. Estas árvores são
freqüentemente encontradas próximo aos bancos de córregos perenes que freqüentemente
inundam. Enquanto o zoneamento da vegetação ajuda a avaliação de áreas sujeitas a cheias,
a sua causa é complexa e não está diretamente relacionada.

As vantagens principais da avaliação de ambas as cheias, no caso, à montante e à


jusante a partir da observação direta ou através de propriedades da bacia de drenagem e dos
vales dos rios, são convenientes e caras. Um estudo recente no rio Colorado, mostrou que
estes estudos podem facilmente distinguir áreas com um risco freqüente de cheias ( intervalo
de recorrência de 1 a 4 anos) de áreas com intervalos intermediário (10 a 30 anos) e raros
(maior que 100 anos). A única desvantagem é a exatidão relativa. As avaliações de riscos de
cheias baseadas em dados hidrológicos mais acurados fornecem previsões mais exatas dos
eventos de cheia.

Em áreas urbanizadas, a exatidão de um mapa de risco de cheia baseado inteiramente


em dados sobre o fluxo da corrente é questionável. O melhor mapa pode ser produzido
assumindo-se as condições urbanas projetadas com a porcentagem estimada de áreas
impermeabilizadas. Um mapa teórico das cheias de 100 anos pode então ser produzido. Pode-
se citar o exemplo do U.S. Geological Survey em Carolina do Norte, que produziu um mapa
para o Município de Mecklenburg (Fig 6.29 Keller 99), onde dois distritos foram mapeados na
área de risco de cheia, o distrito interno e o distrito externo (Fig. 6.30).

O distrito interno (floodway district) é a porção do canal e da planície de inundação


designada para prover a cheia de 100 anos sem elevar o nível da água para mais de 30
centímetros. Nesta área os usos permitidos são: fazendas, pastagens, viveiros para animais,
reservas naturais para animais silvestres; áreas de cargas, como parques de estacionamento,
aeroportos para ultraleves, etc... Formas de utilização que devam se situar a pelo menos 8
metros de distância do canal principal são campos de golf, quadras de tênis, trilhas para
corrida, estradas, pontes, e obras de contenção de cheias; construções temporárias para
certas atividades tais como, circos, carnaval, jogos; docas para barcos, rampas e piers; e ainda
represas, se elas forem construídas de acordo com especificações aprovadas. Outros usos
deste distrito, como por exemplo, áreas abertas de armazenamento, conjuntos habitacionais e
postos de combustível requerem permissão especial.

O segundo tipo de distrito, o distrito externo (floodway fringe district), consiste de área
localizada entre o distrito interno e a elevação máxima atingida pela cheia de 100 anos. Os
usos permitidos desta área incluem qualquer uso permitido no distrito interno; construções
acessórios a residências, de forma que sejam bem ancoradas para prevenir flutuações; e
construções de proteção se firmemente ancoradas. Armazenagem subterrânea de qualquer
material que seja inflamável ou explosivo ou que cause algum tipo de prejuízo a saúde de
seres humanos animais e plantas no tempo de cheia são proibidos nesta área. A Fig. 6.31 (K.
p. 101) mostra um mapa típico com zoneamento antes e depois do estabelecimento da
normatização da planície de inundação.

1.8. PERCEPÇÃO DAS CHEIAS

A nível institucional, a percepção de cheias parece ser adequada e realística,


entretanto, a nível individual, a situação não é tão clara assim. Várias conclusões tem sido
elaboradas para os estudos de percepção.
25

a) Conhecimento preciso dos riscos de cheia não evita que as pessoas se mudem para
dentro de planícies de inundação;

b) Os mapas de riscos de cheia não são efetivos como forma de comunicação;

c) O desenvolvimento a montante dos rios é freqüentemente usado como o bode


expiatório dos moradores com medo de inundações a jusante;
d) As pessoas são muito variáveis no seu conhecimento sobre cheias, na antecipação de
cheias futuras e na falta de boa vontade em aceitar os ajustes causados pela
prevenção ao risco.

Para tentar monitorar esses problemas seria aconselhável, à nível institucional,


estabelecer políticas que incluam o mapeamento de áreas propensas a cheias, áreas com
potencial para cheias rápidas a jusante de reservatórios e áreas onde a urbanização é a causa
provável dos problemas.

1.9. AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA CANALIZAÇÃO.

A canalização de rios consiste normalmente de uma retificação, aprofundamento,


alargamento e limpeza de canais ou rios. Isto é basicamente uma obra de engenharia, com a
finalidade de controlar as inundações, drenar as áreas alagadas, controlar a erosão e melhorar
a navegação. Dos quatro objetivos, o controle das inundações e melhoramento das drenagens
são os dois mais freqüentemente citados.

Nos EUA milhares de quilômetros de rios já foram modificados e milhares ainda estão
sendo projetados ou construídos. A canalização não é necessariamente uma prática ruim,
entretanto, muitas considerações inadequadas tem sido feitas sobre o seu efeito maléfico para
o meio ambiente.

Efeitos adversos da canalização

Os oponentes da canalização de córregos e rios (naturais) enfatizam que esta prática é


completamente anti-ética, em particular em relação à produção de peixes e à vida selvagem
das terras alagadas, além de que o canal sofre uma enorme degradação estética. Os
argumentos apresentados são os seguintes:

1) A drenagem das terras alagadas afeta de forma adversa as plantas e animais, por eliminar o
habitat necessário para a sobrevivência de determinadas espécies;

2) O corte de árvores ao longo dos canais elimina o sombreamento para os peixes e ao


mesmo tempo expõe o canal ao sol, o que resulta em danos à plantas e organismos aquáticos
sensíveis a variações de temperatura;

3) As escavações realizadas nas planícies de inundação e o corte de suas árvores elimina o


habitat de muitos animais , também facilitando a erosão.

4) As retificações e modificações do leito do canal destrói a diversidade dos padrões de fluxo,


muda os picos dos fluxos e destrói áreas de alimentação e criadouro do organismos aquáticos;

5) Finalmente, a conversão de áreas alagadas, de uma região rica em meandros, numa área
com canais retilíneos afeta significativamente a estética da região.

A Fig. 6.35 (K. p. 105) resume algumas das diferenças entre canais naturais e aqueles
modificados pelo homem, mostrando os impactos advindos destas modificações.
26

É comumente pensado que a canalização aumenta o risco de inundações a jusante dos


canais modificados. Embora em muitos casos esta afirmação seja verdadeira, isto nem sempre
é real. Um estudo concluiu que, pelo contrário, o aumento nos fluxos normal e de pico, devido
a canalização, não é significativo e, em alguns casos, os picos das cheias são, na verdade,
reduzidos. Isso acontece, em parte, por que a contribuição do runoff a partir dos canais
modificados tendem a ser a fração menor do runoff total da bacia. O pico do runoff dos rios
canalizados, pode não coincidir com o pico do runoff da bacia de drenagem e, dessa forma, os
fluxos mais rápidos dos rios modificados passam antes da cheia natural reduzindo, portanto, o
pico de fluxo agregado normal; e muitos rios que foram modificados possuem gradientes tão
baixos que nem a retificação total pode, significativamente, aumentar o fluxo a jusante.
Contudo, deve ser enfatizado, que as modificações nos canais, especialmente retificações,
podem causar um aumento na cheias diretamente a jusante dos projetos, e, que o problema
pode ser cumulativo se houverem vários projetos numa mesma bacia de drenagem

Existem vários exemplos de projetos que afetaram negativamente o meio ambiente.


Nos EUA o caso do rio Willow em Iowa e Blackwater no Missouri ilustram alguns dos possíveis
problemas causados pela canalização.

A canalização do rio Willow em Iowa foi extensivamente estudada, nos meados de


1851, o rio era conhecido pelas cheias freqüentes, que causavam grandes prejuízos às
plantações. Como resultado o vale passou a ser considerado uma área de risco para a
agricultura. Naquele tempo, o rio estava confinado a canais meandrantes de fluxo lento a cerca
de 1 metro abaixo da planície de inundação, onde foi realizada uma canalização em três
estágios, de 1906 a 1920, para evitar as cheias, transformando cerca de 45 quilômetros do rio
Willow em canais retilíneos. Isto teve o efeito de produzir um canal mais estreito, com um
gradiente maior que o anterior. As mudanças no tamanho e na forma da drenagem no vale do
rio Willow a partir do final da obra em 1920, mostrou um progressivo alargamento e
aprofundamento do canal. Em 1958, o canal apresentava a forma de "U" com paredes quase
verticais (Fig. 6.36 K. p. 106). Em 1920 o fosso nas suas redondezas tinha cerca de apenas 5
metros de profundidade por 15 metros de largura. Em 1958, isto foi transformado em 11
metros de profundidade e 30 metros de largura. Esta taxa de erosão expressiva, não ocorreu
somente através do fosso. A canalização para o rio Willow foi inadequada e resultou numa
erosão significativa do canal. O fosso de drenagem é um clássico exemplo de mudanças
negativas causadas por modificações nos canais naturais.

A canalização do rio Blackwater no Missouri também resultou em degradação


ambiental, incluindo alargamento do canal, redução da produtividade biológica e aumento nas
cheias à montante. Os canais meandrantes naturais foram dragados e encurtados em 1910
aumentando em duas vezes o seu gradiente natural. Esta mudança iniciou evidentemente um
ciclo de erosão do canal, que até hoje está em progresso e o canal não tem mostrado
nenhuma tendência em reduzir os meandros. O que houve foi um aumento na seção do canal
de mais de 1000 % e como resultado uma série de pontes colapsaram e tiveram que ser
substituídas. Uma ponte em particular colapsou por causa da erosão de um banco de areia em
1930. Ela foi substituída por uma nova 27 metros mais larga. Esta por sua vez teve que ser
substituída em 1942 e novamente em 1947. A ponte de 1947 era 70 metros mais larga, porém
também colapsou por erosão do banco de areia.

A produtividade biológica no rio Blackwater foi reduzida porque o canal foi escavado em
folhelhos, arenitos e calcários facilmente erodíveis produzindo um leito plano que não suporta
facilmente uma fauna de fundo de rio. Como resultado, as partes do rio canalizadas contêm
muito menos peixe do que as porções naturais.

A extremidade à jusante do projeto de canalização termina onde o tipo de rocha muda


para um calcário mais resistente, o que torna a dragagem financeiramente impossível. Uma
vez que a porção canalizada possui um canal mais largo, ela pode mover mais água sem
cheias além do normal. Como resultado, quando chuvas pesadas caem, o runoff carregado
pela seção canalizada a montante é descarregado dentro da porção não canalizada a jusante.
27

Como o canal da porção natural é mais estreito, consequentemente neste ponto é comum a
ocorrência de cheias.

Benefícios da Canalização

Nem todos os projetos de canalização causam sérios problemas ambientais. Em muitos


casos, os projetos de drenagem são benéficos. Os benefícios são provavelmente melhor
observados em áreas urbanas, sujeitas a cheias e em áreas rurais onde o uso anterior da terra
causou problemas na drenagem. Existem na verdade, vários outros exemplos, nos quais as
modificações nos canais tornaram a navegação mais fácil ou reduziram as cheias e que não
causaram degradação ao meio ambiente.

Muitos rios em áreas urbanas dificilmente se parecem com drenagens naturais. O


processo de construção de estradas, casas e fábricas, com a produção associada de
sedimentos, é suficiente para interromper muitos canais pequenos. A restauração de canais é
freqüentemente necessária por vários motivos: a) para limpeza do lixo urbano, permitindo que
a corrente flua mais livremente; b) para a remoção de árvores e; c) onde é necessária a
plantação de árvores ou outros tipos de vegetação. O canal deve ser feito o mais atrativo
possível para permitir que a corrente "meandreie", e, onde possível, para produzir condições
variáveis de fluxo de água - raso e rápido alternando com profundo e lento. Onde a erosão dos
bancos laterais precise ser absolutamente controlada, as partes mais externas das curvas
devem ser defendidas com grandes blocos de rochas (riprap) (Fig. 6.37).

O futuro da canalização

Embora haja muita controvérsia e ansiedade justificadas sobre a canalização, espera-se que
as modificações de canais permaneçam como uma necessidade, até que o uso da terra mude,
tal como urbanização ou conversão de terras alagadas em fazendas. Contudo, nós devemos
ser capazes de construir canais que reduzam os efeitos adversos. A canalização quando
objetiva o controle de cheias ou a drenagem de determinadas áreas, pode ser acompanhada
por uma série de medidas que evitem danos futuros.

Se o objetivo principal é a drenagem de áreas alagadas onde as cheias naturais não


são um risco, então não existe a necessidade de converter um canal meandrante em um
retilíneo. Ao invés disso, o projeto deve envolver a limpeza do canal e a manutenção da
sinuosidade. Para rios com leitos pedregosos, com baixo gradiente, uma série de áreas
relativamente profundas e área rasas precisam ser construídas para mais se assemelhar ao
processo natural. Onde isto é possível, o canal resultante tenderá a imitar a natureza. Por outro
lado, o corte de árvores ao longo do canal deve ser minimizado e o crescimento de novas
árvores deve ser encorajado. Tal plano tende a minimizar os efeitos adversos criados pela
produção de um canal, sendo biologicamente produtivo e esteticamente mais aceitável.

Projetos de canais para controle de cheias são mais complexos, porque os canais
naturais são mantidos por fluxos com um intervalo de recorrência de um ou dois anos,
enquanto que projetos de controle de cheias podem precisar levar em conta cheias de 25 ou
mesmo de 100 aos. Um canal relacionado com um cheia de 100 anos, não se mantém numa
cheia de 2 anos. Tal canal deve ser provavelmente entrelaçado e entupido com a migração das
barras de areia. Portanto, sugere-se que um canal piloto deva ser construído onde for possível.
Um canal meandrante projetado para ser mantido por uma cheia de 2 anos é superposto a um
canal mais largo de controle de cheias maiores. A adição de tanques e "riffles" no canal piloto,
quando possível, ajudaria na proliferação de peixes e em melhores condições de fluxo lento.
Um canal largo deve ser coberto por vegetação. Obviamente este plano não é adequado para
áreas urbanas, onde a produção de sedimento é alta e as propriedades não estão a disposição
para a construção de uma canal largo.
28
29

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BIGARELLA, J.J.; SUGUIO, K., BECKER, R.D. (1979) - Ambiente Fluvial: Ambientes de
Sedimentação, sua interpretação e importância. Ed. da Universidade Federal do Paraná.
Associação de Defesa e Educação Ambiental, 183 p.

SUGUIO, K. (1980) - Rochas Sedimentares, Ed. Blucher, S. Paulo, 250 p.

COATES, D.R. (1981) - Environmental Geology. Ney York, John Wiley & Sons, 692 p.

MENDES, J.C. (1984) - Elementos de Estratigrafia. T.A. Queiroz, SP. (Cap. 10.2)

PRESS, F; SIEVER, R. (1986) - Earth, 4th ed. - W.H. Freeman & Co., USA, 656 p.

MONTGOMERY, C.W. (1991) -Environmental Geology, 3th ed. Wm. C. Brown Pub., Dubique,
465 p.

KELLER, Edward A(1992) - Environmental Geology, 6th ed - Macmillan Publishing Co - New


York - EUA - 521 p

MOREIRA, V.D. (1992) - Vocabulário Básico de Meio Ambiente - Petrobras, Rio de Janeiro,
246 p.

FOLEY, d.; McKENZIE, G.D.; UTGARD, R.O. (1993) - Investigations in Environmental Geology
-. Prentice Hall, New Jersey, 304 p.

GUERRA, A.J.T & CUNHA, S.B. (1994) - Geomorfologia - Uma Atualização de bases e
conceitos. Ed. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 458 p.

SKINNER, J.B. & PORTER, S.C. (1995) -The Dynamic Earth - An Introduction to Physical
Geology T, 3rd, Ed. John WILEY & Sons, USA, 565p.
30

EXERCÍCIOS

1. INTRODUÇÃO

Dezenas de bilhões de dólares vem sendo gastos pelo governo dos EUA, desde 1930,
num projeto de controle de inundações. Todavia, os danos causados pelas inundações
persistem e tendem a aumentar neste país, excedendo a quantia de US$ 2,5 bilhões
anualmente, com cerca de 130 mortes de pessoas por ano (1977-86) (CARR. et al. 1990). O
conselho de Recursos Hídricos dos EUA, prevê que os gastos com as perdas causadas pelas
inundações pode alcançar US$ 3,5 bilhões no ano 2.000, a menos que um esforço seja feito.
Na Europa e na Ásia o impacto é bem maior, com mais do que 164.000 mortes constatadas
nas inundações de 1947 a 1967. Mundialmente, mais de 15 milhões de pessoas foram
afetadas pelas inundações nas últimas duas décadas.

Uma inundação é geralmente causada por um rio que transborda durante períodos de
excesso de precipitação. As cheias dos rios ocorrem quando a altura das águas ultrapassa um
determinado limite, que geralmente corresponde aos seus diques marginais.

Este exercício é planejado para que você se familiarize com a natureza das inundações
fluviais, com os problemas que são criados e com as possíveis medidas de contenção. A parte
A analisa as perdas nos EUA, introduz alguns conceitos importantes como: freqüência da
inundação, magnitude, variação da descarga dependendo da bacia de drenagem aqui
chamada de intensidade.

As partes B e C são casos específicos de inundações. Você aprenderá a aplicar os


conceitos, e, utilizando informações de outras fontes, explore as várias soluções para as
inundações, incluindo: a) regulamentação do uso da terra e b) projetos envolvendo os rios e os
divisores d’água.

PARTE A - FREQÜÊNCIA DAS INUNDAÇÕES E INUNDAÇÕES PRINCIPAIS

Descarga da Cheia

A descarga de um rio é o volume de água que flui através de um local específico


durante um determinado período de tempo. As taxas de descarga são geralmente expressas
3
em metro cúbico por segundo (m /s) ou pés cúbicos por segundo (cfs). Se a área da seção
transversal do canal e a velocidade da corrente são conhecidas, então a descarga pode ser
determinada pela seguinte fórmula:

Q=AxV onde,
3
Q = descarga em cfs ou m /s
2
A = área da seção transversal do canal em pés quadrados ou m
V = velocidade e, f/s ou m/s

Freqüência da Cheia

Procedimentos sistemáticos para se avaliar a freqüência de ocorrências de cheias tem


sido desenvolvido por vários anos. Onde os registros estão disponíveis, os cálculos das curvas
de freqüência são baseados nas cheias anuais (a descarga máxima para o ano em uma
determinada estação). A freqüência de cheias é expressa como intervalo de recorrência,
que é uma média entre a ocorrência de dois eventos hidrológicos de uma dada magnitude. O
intervalo de recorrência (T) para cheias com uma dada descarga é determinado pela fórmula:
31

n1
T= onde,
m

n = número de anos de registro


m = ordem de descargas de cheias anuais da maior a menor para o período registrado

Para melhor entender o impacto e a freqüência das cheias e para aprender como se faz
uma previsão de cheia, os dados devem ser plotados num gráfico de freqüência de cheias
(papel semilogarítimico, logarítmico ou Gumbel) com a descarga plotada no eixo vertical e a
recorrência no eixo horizontal. Os pontos são ligados por uma curva tipo "smooth" (suavizada).
A partir desta curva você poderá determinar a média de tempo que irá decorrer entre um
evento anual máximo de uma dada magnitude. Resumindo, dentro de um intervalo de tempo
fixo, existe uma certa probabilidade de que um evento de uma dada magnitude possa ser
esperado de ocorrer n vezes. Por exemplo, se o intervalo de recorrência para uma descarga
anual máxima de 500 cfs é 4 anos, então deve-se esperar uma descarga de 500 cfs ou maior
cinco vezes durante um período de 20 anos.

Quanto maior for o registro das cheias, maior a probabilidade de que as cheias muito
grandes tenham ocorrido e, consequentemente, registradas.

QUESTIONÁRIO

1. Relacione as cheias listadas na Tabela II-9 em ordens de magnitude, usando 1 para a


maior.

2. Determine o intervalo de recorrência para cada uma das 11 cheias

3. Plote a descarga e o intervalo de recorrência no papel de Gubel (Fig. II-9.1).

4. Trace uma linha reta através dos pontos.

5. Qual é a descarga para uma cheia de 100 anos?_________ e 20 anos ? _________

6. Qual é o intervalo de recorrência para uma cheia com descarga de 2.500 cfs?_________

7. Qual é a média anual de cheias (média aritmética da descarga anual máxima para o
registro)?_________
32

GRANDES CHEIAS NOS EUA

As questões 8 a 11 se referem a Tabela II-9.2.

8. Utilizando a Fig. II-9.2, desenhe um histograma mostrando as perdas por cheias (em
dólares) por décadas nos EUA. Coloque as décadas no eixo horizontal. Qual é a tendência
observada entre 1900 e 1979 ?

9. Qual é a tendência em perda de vidas, por causa das cheias ?

10. Explique as tendências, considerando as mudanças nas populações e as técnicas de


redução de catástrofes.

11. Considere a tendência que você plotou e discuta a seguinte frase. "A construção de
represas para o controle de inundações tem sido efetivas na redução dos danos causados
pelas cheias".

A Razão Descarga/área

As questões 12 e 13 se referem as Fig. II-9.3 e 9.4 e Tab. II-9.3.

12. Se refere a Fig. II-9.3. Calcule a razão pico de descarga/área para cada rio listado.

A. Bald Eagle

B. Juniata

C. Susquehama

13. Qual é a relação entre o tamanho da bacia e a vazão ?

14. Explique a tendência em função do tempo da ocorrência dos picos de descarga.

15. Use os registros de cheias na Tab. II-9.3 para calcular a razão descarga/área de cada rio.
Plote esta razão contra a área da bacia de drenagem na Fig. II-9.4. Identifique cada um dos
rios que você seja capaz de plotar.

16. Por que as bacias pequenas possuem maiores razões descarga/área do que as bacias
mais largas ?
33

PARTE B. CHEIA DE ZANESVILLE, OHIO.

A cheia de Zanesville entre 21 e 24 de janeiro de 1959 foi uma das mais devastadoras,
desde 1913 no estado de Ohio. Dezesseis vidas foram perdidas, os danos excederam a US$
100 milhões e 17.000 prédios foram inundados. Uma tempestade entre 14 e 17 saturou o solo
que foi posteriormente congelado e coberto com neve. Na porção norte da cidade de
Cincinnati, 6 polegadas de chuva caíram entre 20 e 21 de janeiro; e mais da metade do estado
recebeu pelo menos 3 polegadas de chuva.

Os reservatórios de controle de cheias em algumas bacias reduziram o fluxo do pico de


alguns rios e impediu danos. O rio Licking, que descarrega no rio Muskingum em Zanesville
(ver Fig. II-9.5) exibiu o mais elevado nível de cheia em 1959, maior do que durante a cheia de
1913.

A estação de monitoramento situa-se num terraço do rio Licking, a 3,65 milhas a


jusante de sua desembocadura e numa cota de 683,7 pés (Fig. II-9.6 seção de mapas). O
estágio máximo da cheia de 1959 nesta estação foi de 32,46 pés, que significa que a elevação
da cheia neste ponto foi 716,16 pés. Nenhuma estrutura nas imediações da estação e abaixo
de sua cota pode ser salva de danos ocasionados pela cheia.

Neste exercício nos examinaremos a extensão, freqüência e causas de algumas cheias


em rios e as maneiras de reduzir a perda de vidas e danos materiais.

QUESTÕES (II-9, Parte B)

1. Usando os dados da Tabela II-9.4 e o papel apropriado (Fig. II-9.7), plote a curva de
freqüência das cheias na Cachoeira de Dillon (Dilon Falls), Ohio. Use hachuras na sua curva
projetada para intervalo de recorrência de 40 anos.

2. Que elevações são esperadas para as seguintes cheias na estação Dillon, com base na Fig.
II-9.7 ?

a. 30 anos
b. 50 anos
c. 100 anos

3. Usando os dados da Tabela II-9.4 construa um gráfico de elevação versus descarga a partir
da Fig. II-9.8

4. A descarga pode ser obtida para uma dada cheia com uma dada freqüência utilizando-se as
informações da curva de freqüência de Cheias x Elevação (Fig. II-9.7) e a curva elevação x
descarga (Fig. II-9.8). Que descarga é esperada para Dillon:

a. para uma cheia de 30 anos ?


b. para uma cheia de 50 anos ?

5. Se você visita um área inundada após a água voltar ao seu nível normal, quais observações
lhe indicariam o nível máximo atingido ?

6. Descreva os vários métodos que podem ser aplicados para reduzir os danos causados por
cheias (Consulte suas notas de aula, livros e artigos se necessário).

PARTE C – CHEIA DE 100 ANOS DO RIO BIG THOMPSON, COLORADO.


34

Inundações rápidas e associadas a erosão, deposição e movimento de massa


devastaram a região centro-norte do Colorado em Front Range na noite de 31 de agosto de
1976. Esse evento causou a morte de 139 pessoas e danos na ordem de US$ 35 milhões,
particularmente no rio Big Thompson entre Estes Park e a foz, 9 milhas a oeste de Loveland
(Fig. II-9.10).
O pico de descarga excedeu a descarga da cheia de 100 anos em vários locais. O
maior prejuízo foi causado pelos danos a rodovia U>S> Highway 34, embora outros possam
também ser computados como: perdas de poços de água, tanque sépticos, desvalorização de
propriedades etc.
Mudanças geomórficas significativas ocorridas em terrenos mais íngremes com relevo
de mais de 3000 pés e canyons com paredes com declividade de 80%. Essas mudanças
incluem erosão da maior parte do rio, onde o gradiente da corrente era > que 2 % na porção
externa dos meandros em porções mais estreitas. Nas porções estreitas onde o gradiente era
menor do que 2 % e onde o canal foi alargado, matacões (alguns de mais de 7 pés em
diâmetro) e sedimentos finos foram depositados nas barras em pontal e barras de canais além
é claro da planície de inundação. A sedimentação foi o principal impacto a jusante do rio Big
Thompson.
Nos rios tributários, a inundação transportou matacões para dentro de encostas mais
suaves de leques de detritos e aluviais, erodindo encostas desprotegidas. As avalanches de
detritos, escorregamentos e fluxos de lama foram gerados pelos solos saturados e destruíram
algumas residências.
As evidências geológicas e históricas sugerem que outras bacias na região de Front
Range são também vulneráveis a eventos de cheias de magnitude similar a que atingiu o rio
Big Thompson.
O objetivo principal de parte desse exercício é entender a natureza e as causas de uma
cheia rápida em terrenos montanhosos. O segundo objetivo é investigar o impacto geológico
da cheia e movimento de massa associado, além de eventos de erosão e deposição.

QUESTÕES (II-9, Parte C)

1. Examine a tabela II-9.5. Plote na Fig. II-9.10 a precipitação acumulativa para as áreas
dessa tabela. Em seguida trace linhas de isoprecipitação (isohyets) para 6, 8 e 10 in.
(polegadas)

2. Onde estavam os centros de precipitação ?

3. A partir desse mapa onde você esperaria uma inundação mais forte e danos por
movimentos de massa provocados pela tempestade ?

4. Com referência a descarga nos hidrogramas (Fig. II-9.11) para áreas selecionadas do
rio Big Thompson e rio North Fork Big Thompson. Compare as áreas 1, 21 e 23. Você
acha que a inundação em Estes Park (área 1) será muito séria ? Explique.

5. Os hidrogramas suportam os dados de precipitação nas áreas indicadas de maior


runoff e danos potenciais ? Explique.

6. O primeiro pico de descarga em Drake, no canyon North Fork Big Thompson (área 21)
ocorreu a 2110 MDT. Ao mesmo tempo a descarga na área 22, cerca de 0,2 milhas a
leste de Drake no rio Big Thompson atingia 30.000 cfs. Uma interpretação do primeiro
pico na área 21 é o efeito da água de refluxo que afeta os tributários. Isso é uma
interpretação razoável ? Porque ?

7. Se o pico principal na área 21 ocorreu 30 a 35 minutos mais cedo do que o mostrado


na figura UU-9.11, que impacto isso teria tido no tamanho da inundação na ares 23
(Figura II-9.10) ?
35

8. A crista da cheia alcançou a área 23 na foz do canyon Big Thompson, 7,7 milhas a
leste da área 22, 30 minutos após a crista na área 22. Qual a velocidade média da
crista em milhas por hora e em pés por segundo ?

9. Em relação a tabela II-9.6:


a) Quais são as três áreas onde as descargas ou as descargas /páreas são
maiores ?
b) Quais dessas áreas estão na área de precipitação máxima ?

10. Plote a descarga atual e a área de drenagem para cada uma das estações na Fig. II-
9.12. Considerando todos os dados plotados da cheia de 1976, você acha que poderá
haver ainda uma cheia mais intensa no rio Big Thompson ? ou será que essa foi a
maoir que poderia ser esperada ?

11. Explique porque a descarga na área 23 não poderia ser plotada nesse gráfico (VEJA O
MAPA DA FIGURA ii-9.10)

12. A partir da tabela II-9.6, que área teve a maior velocidade média de fluxo da corrente ?

13. Sabendo-se que o pico de descarga na área 21 foi 1230 cfs na cheia de 1965, quantas
vezes maior foi o pico durante a cheia de 1976 nessa mesma área ?

14. Na área 6, o intervalo de recorrência para a tempestade foi calculado em 75 anos. Você
esperaria que o intervalo de recorrência fosse maior ou menor para descargas
imediatamente a jusante dessa área ? Por que ?

15. A razão entre o pico da descarga e a descarga da cheia de 100 anos foi calculado para
algumas estações selecionadas. Para as sub-bacias a montante de Drake a cheia será
maior no rio Big Thompson ou no rio North Fork Big Thompson ?

16. Usando as informações da questão anterior que descarga é esperada para a cheia de
100 anos nas áreas 12 e 23 ?

17. Estude a Fig. II-9.13 que mostra a área de Waltonia antes e após a cheia. Descreve as
mudanças que você puder observa nas duas fotografias em termos de construções,
estradas, vegetação e leito do rio.

18. Em outras áreas ao longo do rio, ocorreram mudanças significativas (erosão e


deposição) principalmente na planície de inundação e nos aluviões. Grandes
acumulações de matacões e detritos tiveram lugar em alguns leques aluviais. Estude a
Fig. II-9.14. O que acontecerá na parte interna e externa do meandro durante a cheia
de 1976 ? Explique.

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