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PARTE C - INTERAÇÃO HOMEM E MEIO AMBIENTE

1. ÁGUA
1.1. Introdução

Em escala global, a água não é um problema em termos de abundância, entretanto, o


problema é a disponibilidade de água no lugar certo, no tempo certo, e na forma certa, já que a
água é um recurso natural heterogêneo, que pode ser encontrado na forma líquida, sólida ou
gasosa em vários locais na superfície ou próximo a superfície do planeta, onde, dependendo da
sua localização específica, o tempo de residência pode variar de poucos dias a muitos milhares
de anos (Tabela 11.1). Cerca de 99 % da água na Terra não está disponível ou não é apropriada
para o consumo humano, devido a sua salinidade (água do mar), a sua forma ou a sua
localização. Desta forma, a quantidade de água pela qual toda a população do planeta competem
é menos do que 1% do total.

Como a população mundial e a produção industrial aumentam, o consumo da água irá


também aumentar. Hoje em dia, o consumo mundial de água, per capita, é de 710 litros por ano e
o consumo total por ano gira em torno de 2.600 quilômetros cúbicos. Estima-se que no ano 2.000
o uso de água irá mais que duplicar, sendo assim uma fração significante da água potável
naturalmente disponível.

A produção média anual de água produzida pelo "runoff" para os rios da Terra é
aproximadamente 48.000 km3 (Tabela 11.2), porém sua distribuição não é nada uniforme. Na
Antártica, por exemplo, há uma produção de 2.300 Km3 de água, o que representa 5 % de toda a
produção terrestre. Na América do sul, a qual inclui a relativamente inabitada bacia Amazônica, a
produção alcança 16.660 km3, cerca de 1/3 do "runoff" mundial. Na América do Norte, a produção
de água é a metade da América do Sul, cerca de 8.100 Km3 por ano.

Comparada com outros recursos, a água é utilizada em enormes quantidades. Nos últimos
anos a quantidade total de água utilizada anualmente tem sido aproximadamente 1.000 vezes a
produção mundial de minérios, incluindo petróleo, carvão, metais e não metais. Por causa de sua
grande abundância, a água é geralmente um recurso muito barato, entretanto, devido a
quantidade e qualidade de água disponível ser altamente variável, as declarações estatísticas
sobre o custo da água em escala global não são particularmente úteis. Deficiências de água tem
ocorrido e irão continuar a ocorrer com uma frequência cada vez maior. Tais deficiências levam à
sérias desordens econômicas e ao sofrimento humano.

Nos EUA há uma estimativa de que o uso da água nos meados do ano 2020 poderá
exceder os recursos hídricos superficiais em 13%. Desde 1965, cerca de 100 milhões de pessoas
nos EUA usam água que já foi utilizada anteriormente e no final deste século muito mais pessoas
estarão utilizando água reciclada.

1.2. Água como único líquido

Para entender a água em termos de suprimento, uso, poluição e manejo, nós precisamos
inicialmente entender algumas características da água. A água é o único líquido e sem ela a vida
como nós conhecemos não é possível. Toda molécula de água contêm dois átomos de hidrogênio
e um de oxigênio. As ligações químicas que unem os átomos são do tipo covalente, de forma que
cada átomo de hidrogênio divide seu único elétron com os elétrons no átomo de oxigênio. Embora
a molécula seja eletricamente neutra (Não possuindo carga nem positiva nem negativa), a
terminação da molécula para o lado do hidrogênio é mais positiva e o lado do oxigênio é mais
negativo. Como resultado, a água é bipolar. Esta característica é responsável por muitas
importantes propriedades da água, e também influencia na forma como ela reage com o meio
ambiente. Por exemplo, moléculas de água são atraídas umas às outras (terminações mais
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negativas atraindo terminações mais positivas), de tal forma que produzem finos filmes ou
camadas de moléculas de água, entre e ao redor de partículas no movimento delas na zona não
saturada (vadosa), localizada acima do nível freático. Este processo é chamado de coesão. As
moléculas de água também podem estar ligadas à superfícies sólidas (adesão); em particular o
lado mais negativo (oxigênio) da molécula ficam ligados a íons tais como Na+, Ca2+, Mg2+, K+.
Devido ao fato das partículas de argilas tenderem a ter uma carga negativa, elas atraem a
terminação mais positiva da molécula da água (hidrogênio) tornando-se, então, hidratadas.
Finalmente, a natureza bipolar das moléculas da água é responsável pela produção de uma
superfície de tensão devido ao fato das moléculas estarem mais ligadas entre si do que com as
moléculas de ar. Esta superfície de tensão é extremamente importante em muitos processos
físicos e biológicos, que envolvem o movimento de água através de pequenas aberturas e
espaços porosos.

A água é frequentemente citada como solvente universal. Devido ao fato das águas
naturais serem levemente ácidas, elas dissolvem uma grande variedade de compostos desde
simples sais a minerais e rochas. A água é particularmente importante no intemperismo químico
de rochas e minerais que, juntamente com processos físicos e biofísicos, iniciam a formação dos
solos.

A água possui um efeito moderador no ambiente, que resulta do fato dela possuir um alto
calor específico, definido como a quantidade de calor medido em calorias necessária para elevar
a temperatura de uma grama de uma substância qualquer em um grau centígrado. O calor
específico da água é 1.0 caloria/grama, quando comparado com o calor específico da maioria de
outros solventes orgânicos, os quais são entre 0,5 caloria/grama. Dessa forma, comparado com
outros líquidos comuns, a água possui a grande capacidade de absorver e estocar calor,
moderando, assim, o ambiente

1.3. Ciclo da água

O ciclo global da água envolve o fluxo da água entre as diversas esferas que compõe o
planeta (litosfera, hidrosfera, atmosfera e biosfera). De uma forma simplista, o ciclo da água pode
ser visto como a água fluindo dos oceanos para atmosfera, caindo da atmosfera como chuva
dentro dos oceanos e sobre os continentes como "runoff" superficial ou fluxo subsuperficial e
então retornando para a atmosfera por evaporação.

Os problemas relacionados à poluição da água são muito variáveis. De particular


importância são aqueles ligados a: a) tempos de residência e b) tamanho dos reservatórios nas
várias partes do ciclo, porque estes fatores estão relacionados ao potencial de poluição (Tab.
11.1). Por exemplo, a água dos rios possui um tempo de residência médio relativamente curto, de
cerca de duas semanas. Assim, um evento de poluição que ocorra somente uma vez (não
envolvendo poluentes que possam ser adsorvidos nos sedimentos, o que resultaria num período
de residência muito maior), irá ter um período de vida relativamente curto, porque a água irá
abandonar em breve o ambiente do rio (o poluente poderá entrar em lagos e oceanos, onde o
tempo de residência é mais longo). Muitas circunstancias, tal como trasbordamento de esgotos ou
poluentes oriundos de acidentes com caminhões ou trens, podem produzir eventos pontuais de
poluição. Entretanto, é mais provável que resulte de processos crônicos, que despejam poluentes
diretamente nos rios. As águas subterrâneas, diferentemente dos rios, tem período de residência
longo (de centenas a milhares de anos). Consequentemente, o processo de remoção natural dos
poluentes em águas subterrâneas é muito lenta, e sua correção é muito cara e difícil.

- Águas Superficiais e produção de sedimentos


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As águas superficiais possuem um importante papel na erosão e no transporte de


materiais. A água movimenta os materiais tanto em estado dissolvido como em partículas em
suspensão (Fig. 11.1). O tamanho das partículas e a quantidade delas em suspensão, dependem
em parte do volume, da profundidade da água e da velocidade do fluxo. Ou seja, quanto mais
rápida é a corrente maiores são as partículas e em maiores quantidades podem ser movidas.
Consequentemente, o fator que afeta o runoff também afeta a erosão de sedimentos, transporte e
deposição.

O fluxo da água sobre o continente é dividido pelas chamadas bacias de drenagem. Uma
bacia de drenagem (Fig. 11.2) é uma área na qual qualquer pingo de água que lá cair terá um
mesmo destino, ou seja, fluirá para um rio principal que o levará até o oceano. Dois pingos de
chuva separados por apenas alguns centímetros ao longo do limite entre duas bacias de
drenagem podem terminar em oceanos diferentes.

A quantidade de runoff em uma bacia de drenagem, e a quantidade de sedimentos


carregados por ele variam significativamente. A variação resulta de fatores como: geologia,
fisiografia, clima, biologia e uso da terra, que são distintos em cada bacia de drenagem.

a) Fatores Geológicos

Os principais fatores geológicos que afetam as águas superficiais e a sedimentação


incluem: o tipo de rocha e de solo, mineralogia, grau de intemperismo e características
estruturais. Rochas finamente granuladas, densas, com poucas fraturas e solos argilosos
geralmente permitem pouca infiltração. O runoff a partir da precipitação sobre tais materiais é
comparativamente rápido. Ao contrário, solos arenosos, rochas muito fraturadas e rochas solúveis
absorvem uma grande quantidade da água precipitada e consequentemente possuem um runoff
menor. Estes princípios estão ilustrados na Figura 11.2. As partes superiores da Bacia A e B são
formadas por folhelhos e as partes inferiores são formadas por arenitos. A área com folhelho tem
um potencial maior para produzir runoff do que os arenitos que são mais porosos. Além do mais, a
densidade de drenagem (comprimento do canal por unidade de área) é maior nas áreas de
folhelhos, do que nas áreas dos arenitos.

b) Fatores Fisiográficos e Climáticos

Os fatores fisiográficos que afetam o runoff e o transporte de sedimentos incluem clima,


forma da bacia de drenagem, orientação preferencial das bacias em relação as tempestades, o
padrão de drenagem (arranjo espacial das drenagens), relevo e características das encostas.

Os fatores Climáticos que influenciam o runoff e a sedimentação de um rio


incluem a intensidade, a duração e o tipo de precipitação, com respeito a variação climática
total anual e os tipos de tempestades. Em geral, a descarga de grandes volumes de água e
sedimentos, está associada com tempestades de alta magnitude (raras), e com a topografia
instável, recoberta por solos e/ou por rochas com grande potencial de erosão.

A forma da bacia de drenagem é afetada fortemente por condições geológicas. O


principal efeito da forma das bacias sobre o runoff e a sedimentação é o seu papel no controle da
taxa com que a água é fornecida para a drenagem principal. As bacias longas e estreitas,
possuem destributários curtos e recebem o fluxo muito mais rapidamente do que as bacias largas
que possuem destributários longos e sinuosos.

A orientação da bacia de drenagem influencia na taxa e no pico do fluxo; na


duração do runoff superficial - em relação à influência das tempestades, e na quantidade de
perdas através da transpiração e evaporação, esse último fator estando relacionado à quantidade
de calor recebido e à exposição aos ventos prevalecentes em função da orientação da bacia de
drenagem.
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A rede de drenagem (conjunto de drenagens que formam um sistema de


drenagem) é importante nos seus efeitos sobre a eficiência do sistema de drenagem. Ela é
controlada pelas feições inerentes aos solos, rochas e topografia. A forma característica de um
hidrograma, a partir de uma bacia de drenagem, varia com o tipo de rede de drenagem. Por
exemplo, numa bacia bem drenada e eficiente, o runoff a partir de uma forte chuva se concentra
rapidamente para formar uma inundação (forma um pico agudo no hidrograma). Ao contrário, em
drenagens que possuem pouca variação entre fluxos altos e baixos, as águas tendem a escorrer
mais lentamente e os rios são considerados lentos e ineficientes. A Figura 11.3 ilustra as
diferenças na forma dos hidrogramas de tempestades similares para diferentes bacias de
drenagem.

Os fatores relevo e encostas estão interrelacionados: Quanto maior o relevo,


maior será a probabilidade dos rios e canais apresentarem gradientes maiores e encostas
escarpadas. O relevo e as encostas são importantes porque eles afetam não somente a
velocidade da água, mas também afetam a taxa com a qual a água infiltra nos solos e rochas e na
superfície, e, consequentemente, na razão na qual o "runoff" superficial e subsuperficial.

c) Fatores biológicos

A biosfera é capaz de afetar o fluxo de um rio de várias maneiras. Primeiramente, a


vegetação pode diminuir o runoff aumentando a quantidade de água de chuva interceptada e
removida por evaporação. As chuvas que são interceptadas pela vegetação também caem na
superfície mais suavemente e consequentemente infiltram-se mais facilmente nos solos.
Experimentos em florestas tem mostrado que há um aumento no fluxo dos rios e riachos devido
ao decréscimo na evapotranspiração (água usada pelas árvores e liberada para a atmosfera)
causada pela extração de madeira. Por outro lado, a vegetação aumenta o tempo de residência
da água, retardando a velocidade do fluxo. Além de que a vegetação, através de suas raízes,
retarda a erosão das encostas ou margens dos rios e riachos. Finalmente, grandes troncos de
árvores quando tombam sobre os rios modificam profundamente a forma dos canais e os
processos que nele operam.

Os animais podem afetar as drenagens através da remoção da vegetação ou escavação.


Grande animais herbívoros podem danificar as margens dos riachos, causando problemas de
erosão dos bancos de areia. Animais que escavam atrás de comida podem destruir os diques de
controle de inundações e podem provocar problemas de erosão que podem culminar com o
colapso dos diques.

Os organismos que vivem no solo podem alterar a estrutura física e, algumas vezes,
provocar grandes percolações de água dentro dos solos, reduzindo o runoff e a erosão. As raízes
de algumas plantas e animais escavadores podem produzir macroporos nos solos, que podem
aumentar fortemente a taxa de infiltração da água. Solos com elevado conteúdo em matéria
orgânica tendem a ser relativamente coesos - eles reduzem a superfície de erosão e tendem a
reter a água, comparativamente à solos arenosos, que possuem pouca coesão, alta porosidade e
alta permeabilidade.

Os princípios e processos acima sugerem que o runoff pode ser variável, dependendo das
condições geológicas, fisiográficas, climáticas e biológicas. Por exemplo, sob condições naturais,
com vasta cobertura vegetal, o runoff superficial direto como mostrado na Fig. 11.4, é incomum,
porque as árvores e a vegetação rasteira interceptam a água das chuvas e o potencial para as
águas infiltrarem é alto. Em tais casos, o runoff é subsuperficial, estando confinado ao solo acima
do nível freático (Fig. 11.4a). Uma exceção pode ocorrer, próximo a drenagens e em depressões
nas encostas de montanhas se o nível freático se eleva até a superfície. Tais áreas saturadas
podem sempre produzir runoff superficial em regiões de climas úmidos com boa cobertura vegetal
(Ponto 3a, Fig. 11.4a). Em áreas perturbadas, regiões de vegetação esparsa em climas semi-
áridos, e em áreas onde se pratique a agricultura ou urbanização, o fluxo sobre a superfície do
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terreno é produzido porque a intensidade da precipitação é sempre maior que a capacidade de


infiltração nos solos (Fig. 11.4b).

Assim, podem-se identificar 3 caminhos maiores para a água nas encostas: a) fluxo
superficial, b) fluxo em subsuperfície acima do nível freático e c) fluxo através do sistema
de águas subterrâneas (Fig. 11.4). O entendimento destes caminhos potenciais de runoff para
uma área em particular é crítico na avaliação dos impactos hidrológicos nos projetos que
envolvam mudanças no uso da terra. A perda de vegetação e da compactação do solo durante a
urbanização, por exemplo, produzirá mais fluxo superficial (Ponto 3b, Fig. 11.4b).

- Água subterrânea

A fonte principal da água subterrânea é a precipitação que se infiltra na superfície do solo


e se move através do topo da zona vadosa (Fig. 11.6). Até recentemente a zona vadosa era
chamada de zona não saturada, mas atualmente sabe-se que algumas áreas saturadas podem
existir lá, durante o período em que a água se move. A zona vadosa possui uma importância
especial porque poluentes aplicados na superfície precisam percolar através dela, antes de
atingirem a zona saturada abaixo do nível freático. Assim, em monitoramentos de ambientes
subsuperficiais, a zona vadosa é a área onde há o primeiro alarme sobre a potencialidade de
contaminação das águas subterrâneas. A água que percola através da zona vadosa pode entrar
no sistema de águas subterrâneas, onde a superfície superior da zona saturada é o nível freático
(water table) e a franja capilar (capillary fringe) é aquela que se localiza logo acima do nível
freático formando um cinturão de espessura variável onde a água ascende por capilaridade.

Além da precipitação, outras fontes de água subterrânea podem ser citadas, entre elas:
água infiltrada a partir de águas superficiais, incluindo lagos e rios; recargas artificiais (águas
superficiais deliberadamente injetadas dentro do sistema de águas subterrâneas); lagos de
retenção; sistemas de irrigação e sistemas de tratamento de águas servidas (esgotos), tais como
fossas e tanques sépticos.

O movimento da água dentro da zona de saturação e através das rochas e dos solos é
uma parte integrante tanto do ciclo das rochas quanto do ciclo hidrológico. Por exemplo, a água
pode dissolver minerais em locais que passa, posteriormente precipitando novos minerais, sob a
forma de cimento (minerais autigênicos) em outros lugares. A água subterrânea pode transportar
sedimentos, calor, gases e microrganismos.

A taxa de movimento da água subterrânea depende da natureza e extensão da porosidade


primária e secundária nos solos ou rochas e também do gradiente hidráulico, que para casos mais
simples é aproximadamente a declividade do nível freático. A porosidade é justamente a
quantidade em volume de poros vazios ou cheios (líquidos) nos solos e nas rochas. A habilidade
da água mover-se através de um material em particular é chamada de condutividade hidráulica,
que é expressa em unidades tais como metro por dia (m/dia). Alguns materiais muito porosos, tal
como argilas, possuem condutividade hidráulica muito baixa (Tab.11.6), porque as pequenas
plaquetas de argila podem ter um grande número de poros, que são individualmente muito
pequenos e que retêm a água.

A condutividade hidráulica de um dado material é uma função das propriedades do fluído


(tal como viscosidade e densidade) e das propriedades dos materiais (tal como diâmetro das
partículas, tamanho dos poros e a forma como estão interconectados). Em alguns trabalhos mais
antigos a condutividade hidráulica era chamada de coeficiente de permeabilidade, o que pode
levar a confusão. O termo permeabilidade é também usado como medida da habilidade de uma
dado material em transmitir fluidos, mas somente em termos das propriedades do material, sem
levar em conta as propriedades dos fluidos. Quando discutimos o movimento da água
subterrânea, nós frequentemente nos referiremos ao material como tendo alta ou baixa
permeabilidade. Cascalho e areia possuem permeabilidade altas comparativamente a silte e
argila. Rochas como granitos, com poucas fraturas e muitos dos folhelhos são considerados como
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rochas pouco permeáveis. Neste texto, nos iremos utilizar ou dois termos, condutividade
hidráulica e permeabilidade para descrever as propriedades dos materiais. Contudo, o termo
condutividade hidráulica será usado preferencialmente porque ele é expresso em unidades que
são fáceis de entender e comumente utilizadas na hidrogeologia.

Uma zona de material terrestre capaz de produzir água subterrâne a partir de um poço, a
uma taxa proveitosa é chamada de aqüífero. A zona de material terrestre que irá reter a água e
não a transmite com rapidez suficiente para ser bombeada a partir de um poço é chamada de
aquitarde. Os aquitardes formam-se frequentemente a partir de camadas confinantes, através
das quais pouca água é capaz de se mover. Solos argilosos, folhelhos, rochas ígneas ou
metamórficas com pouca interconecção entre os poros e/ou fraturas são caracteristicamente
aquitardes. Em contraste, cascalho, areia, solos e arenitos fraturados, granitos e rochas
metamórficas muito fraturados, com alta porosidade, podem ser bons aqüíferos.

Os aqüíferos são chamados de não confinados, se não houverem camadas confinantes


restringindo a superfície superior da zona de saturação. Se um aquitard está presente, então a
água abaixo pode estar sob pressão, formando condições artesianas. A água em sistemas
artesianos tende a elevar-se até a altura da zona de recarga (zona onde a precipitação infiltra).
Esta condição é análoga a função de uma caixa d’água que produz pressão para a água
abastecer as casas (Fig. 11.7). Os aqüíferos sobrepostos por camadas são designados de
aqüíferos confinados. A Fig. 11.8 mostra os dois tipos de aqüíferos

Em 1856 um engenheiro chamado Heny Darcy trabalhava com o suprimento de água na


cidade de Dijon, França. Ele realizou uma série de importantes experimentos que demonstraram
que a descarga (Q) da água subterrânea pode ser definida como o produto da área da seção
transversal ao fluxo (A), o gradiente hidráulico (I) e a condutividade hidráulica (K), Desta forma
Q=K.I.A. A unidade é uma taxa de fluxo volumétrica (p.ex. m3/dia) e esta relação chamou-se de
Lei de Darcy.

Do ponto de vista teórico, as forças de movimento dos fluxos ou força hidráulica (hidraulic
head), é a soma da elevação da água e a razão entre a pressão do fluido pelo peso da coluna de
água. Para um exemplo simples, tem-se na Fig. 11.6 a pressão (pressure head) em dois pontos A
e B como sendo a pressão atmosférica (definida como 0); então, a força hidráulica no ponto A e B
é correspondente a suas elevações. A diferença nas forças hidráulicas entre os pontos A e B (h)
dividida pelo cumprimento do fluxo (L) é o gradiente hidráulico. As condições mostradas na Fig.
11.6 são de um aqüífero não confinado. Se uma camada confinante está presente, então a
pressão do fluido precisa ser considerada nos cálculos do gradiente hidráulico. Entretanto, a Lei
de Darcy ainda se aplica. Devido ao fato de que a água subterrânea sempre se mover de uma
área de maior força hidráulica para uma área de força menor, ela pode se mover para baixo,
lateralmente ou para cima dependendo das condições locais. A razão da água fluir para cima
(poço artesiano, Fig. 11.7), é que a força hidráulica observada abaixo de uma camada confinante
é maior do que a força hidráulica observada acima da camada confinante.

1.7. Poluição da água

A poluição da água significa que houve uma degradação da qualidade da água, que é
medida através de parâmetros biológicos, químicos ou físico-químicos. A degradação da água é
geralmente avaliada em termos do uso pretendido, efeitos sobre a saúde pública e impactos
ecológicos. Do ponto de vista da saúde pública ou do ponto de vista ecológico, um poluente é
qualquer substância química, partícula física ou organismo que se concentre em valores acima
daqueles considerados inofensivos aos seres vivos. Portanto, quantidades excessivas de metais
pesados, de certos isótopos radioativos, de fósforo, de nitrogênio, de sódio enfim de qualquer
elemento, bem como certas bactérias patogênicas e viroses, são todos considerados poluentes.
Em algumas situações, um material pode ser considerado um poluente para um segmento
particular de uma população, e ser inofensivo para outro segmento da mesma população. Por
exemplo, o excesso de sódio na forma de sal de cozinha, não é inteiramente inofensivo, mas para
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algumas pessoas, que para viver só podem ingerir quantidades limitadas de sal (hipertensos), o
sal pode ser fatal.

Existem muitos materiais diferentes que podem poluir a água superficial ou subterrânea.
Neste capítulo nos trataremos apenas alguns:
a) demanda bioquímica de oxigênio,
b) bactéria tipo coliformes fecais,
c) nutrientes,
d) óleo,
e) metais pesados,
f) poluição térmica,
g) substâncias químicas perigosas,
h) Materiais Radioativos e,
i) sedimentos.

1.8. Poluentes mais comuns

a) Demanda Bioquímica do Oxigênio (DBO)

A matéria orgânica morta num corpo d’água naturalmente se deteriora. A bactéria


responsável por esta deterioração necessita de oxigênio para realizar este fenômeno. Se houver
muita atividade bacteriana, o oxigênio dissolvido na água pode ser reduzido a níveis tão baixos,
que os peixes e outros organismos que também precisam de oxigênio para viver, morrem. Um rio
sem oxigênio é um rio morto, pois não há possibilidade nenhuma de existirem seres tais como
peixes e muitos outros organismos. A quantidade de oxigênio necessária para a decomposição
bioquímica da matéria orgânica é chamada de demanda bioquímica de oxigênio (DBO). Este
parâmetro é comumente utilizado para aferir a qualidade da água. DBO é medido em mg/l de
oxigênio dissolvido durante 5 dias a 20°C. A matéria orgânica morta que é encontrada
naturalmente nas águas dos rios e lagos, tem a sua origem ligada a dois processos. Um natural,
como por exemplo organismos e plantas mortos e outro artificial, induzido pelo homem, como
agricultura, esgotos urbanos. Aproximadamente 33 % de todo o DBO nos rios resultam de
atividades ligadas a agricultura mas em áreas urbanas, particularmente aquelas com sistemas de
esgoto onde não há o tratamento da água. A combinação entre o esgoto doméstico com águas
pluviais, faz com que os valores de DBO sejam fortemente aumentados.

O Conselho de Qualidade Ambiental dos EUA, definiu um limite para a concentração de


oxigênio dissolvido em águas poluídas de menos que 5 mg/l. O diagrama da Fig. 11.20 ilustra o
efeito do DBO no conteúdo de oxigênio dissolvido num rio, quando os efluentes de uma estação
de tratamento de esgoto são lançados, devido a um vazamento. Três zonas são facilmente
identificáveis: a) zona poluída, com um DBO elevado e uma reduzida quantidade de oxigênio
dissolvido devido a decomposição da matéria orgânica; b) zona de decomposição ativa, onde o
conteúdo em oxigênio dissolvido é mínimo devido a decomposição biológica; c) zona de
recuperação na qual o oxigênio dissolvido volta a crescer e o DBO é reduzido porque uma boa
parte da matéria orgânica já foi decomposta. Todos os rios tem alguma capacidade de degradar
matéria orgânica. Os problemas ocorrem quando é ultrapassada a capacidade de absorção do rio.

b) Bactérias tipo Coliformes Fecais

Microrganismos causadores de doenças são considerados importantes poluentes


biológicos. Entre as principais doenças transmitidas pela água, estão a febre tifóide, a cólera, a
hepatite, entre outros. Devido as dificuldades em monitorar-se diretamente os organismos
transmissores destas doenças, utiliza-se a contagem de bactérias do tipo coliformes fecais como
uma medida comum da poluição biológica e microbiológica da água. Estas bactérias, são formas
inofensivas, constituintes comuns dos intestinos humanos, sendo encontrados em todos os
resíduos humanos. O limite aceito pelo Conselho de Qualidade Ambiental dos EUA, é de 200
células de coliformes fecais por 100 ml de água. No Brasil, utiliza-se os guias da Organização
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Mundial de Saúde (OMS), que recomendam para a água potável valores nulos de coliformes
fecais em amostras de 100 ml de água.

c) Nutrientes

Os nutrientes liberados pela atividade humana podem levar a poluição de sistemas


aquáticos. Dois importantes nutrientes que podem causar tais problemas são o fósforo e o
nitrogênio. Ambos são liberados a partir de uma variedade de fontes relacionadas ao uso do
solo(Fig. 11.21). Nas áreas de florestas, tem-se normalmente os valores mais baixos na
concentração do fósforo e nitrogênio na água dos rios, enquanto que o aumento na concentração
destes elementos é observado normalmente em rios que atravessam áreas urbanas. A introdução
destes elementos deve-se em parte a fertilizantes, detergentes e produtos utilizados nas estações
de tratamento de efluentes. As concentrações mais elevadas de Nitrogênio e fósforo são
encontradas em áreas intensamente agriculturadas (fazendas ou pastagens).

d) Óleos

Vazamentos de óleo na água (geralmente nos oceanos) tem causado uma série de
problemas, onde vários vazamentos de óleo a partir de plataformas submarinas de exploração de
petróleo tem acontecido nos últimos anos. Tais vazamentos são normalmente causados quando
ocorre um “blow out” (explosão) no poço que está sendo explorado. O óleo vazado causa
normalmente problemas para os organismos marinhos e para as regiões costeiras (praias e
manguezais).

O óleo pode ser também liberado para os oceanos através de acidentes com navios
tanques (petroleiros). Um dos mais sérios problemas ocorreu em março de 1989, quando o super-
petroleiro Exxon Valdez colidiu com o recife de Bligh, 40 quilômetros ao sul de Valdez no canal
Prince Willian. O óleo cru liberado através do tanque atingiu uma vazão de 20.000 barris/h. O
Exxon Valdez estava carregado com 1,2 milhões de barris de óleo e destes mais de 250.000
barris vazaram.

O óleo vazou para uma região rica em peixes e animais marinhos. O impacto a longo prazo
é difícil de determinar. O vazamento atingiu uma grande área. A Fig. 11.22 mostra a extensão da
catástrofe. A Fig. 11.22b compara a área de vazamento com a costa leste dos EUA.

Logo após o acidente, o governador do Alasca declarou o Canal Pince William como área
de desastre e solicitou forças federais. O trabalho de limpeza na área costeira apresentou
enormes problemas, observando-se que fotografias e video-tapes do trabalho sugerem uma
tentativa quase inútil de limpar seixos individuais nas praias . O vazamento atrapalhou a vida das
pessoas que trabalham nas vizinhanças e somente com o tempo é que se poderá avaliar
verdadeiramente os danos causados, o que se pode observar é que, certamente, os impactos a
curto prazo foram bastante significativos, já que incluem os problemas gerados para a industria
pesqueira e turismo, bem como perdas de aves e mamíferos marinhos. A interrupção no
fornecimento de óleo causou uma quase imediata ascensão no preço do óleo. Espera-se que as
lições aprendidas com o vazamento do super-petroleiro Exxon Valdez sejam usadas para
desenvolver melhores estratégias de gerenciamento, tanto para o transporte do óleo cru, como
também para planos de emergência para minimizar impactos ambientais.

Em Junho de 1990, à aproximadamente 80 km da Galveston, Texas, explosões e fogo


aconteceram a bordo do super-pretoleiro Mega Borg. O acidente liberou aproximadamente 16,27
milhões de litros de óleo no Golfo do México. Logo após o vazamento, vários barcos menores
foram utilizados para recuperar o óleo derramado. O óleo, que era um tipo leve vindo da África,
evaporou ou queimou e, uma semana depois, menos que aproximadamente 53.000 litros
permaneceram na água.

Um sistema experimental de recuperação de óleo foi utilizado no vazamento do Mega


Borg. A Guarda Costeira misturou bactérias consumidoras de óleo com água do mar enriquecida
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em nutrientes e borrifou sobre a mancha de óleo, tal processo, que hoje em dia se chama de
biorremediação, nunca tinha sido anteriormente utilizado. Assim, o acidente como o Mega Borg
será lembrado na história como o primeiro vazamento de óleo tratado por biorremediação.

e) Metais Pesados

Metais pesados, tal como Mercúrio, Zinco e Cádmio são perigosos poluentes e são
freqüentemente depositados junto aos sedimentos naturais no fundo dos rios. Se estes metais são
depositados em planícies de inundação, eles podem ser incorporados às plantas, aos animais, à
produção de alimentos e, eventualmente, entrar na cadeia alimentar humana. Se estão
dissolvidos e a água é retirada para a agricultura ou para o uso humano, pode ocorrer
envenenamentos. Os metais pesados serão discutidos com mais detalhe no capítulo sobre
Geologia x Saúde x Meio Ambiente.

f) Poluição Térmica

As águas aquecidas, a partir de atividades industriais ou plantas de usinas atômicas,


causam a chamada poluição térmica, que ocasionam vários problemas. Por exemplo, se
elevarmos a temperatura da água alguns graus haverá um impacto imediato nos seres vivos que
habitam o ecossistema onde estas águas são despejadas, havendo ,certamente, uma mortandade
de peixes que não sobrevivem em águas quentes, além é claro de inúmeros outros organismos e
plantas.

g) Produtos Químicos Perigosos

Muitos compostos sintéticos orgânicos e inorgânicos são tóxicos para as pessoas e outros
seres vivos. Quando estes materiais são acidentalmente introduzidos num sistema aquoso
superficial ou subsuperficial, uma poluição extremamente séria acontece. Este tipo de problema
será abordado no capítulo sobre rejeitos perigosos.

h) Materiais Radioativos

Materiais radioativos em água podem ser perigosos poluentes, sendo de particular


interesse seus possíveis efeitos às pessoas, outros animais e às plantas em longas exposições à
pequenas quantidades de radioatividade. Também será abordado no capítulo sobre rejeitos
perigosos

h) Sedimentos

Consistem de fragmentos de rochas ou minerais, variando em tamanho desde partículas


arenosas a silte, argilas e partículas coloidais mais finas. Por volume, são os maiores poluentes
das águas e, com certeza, são um recurso fora do lugar, já que empobrecem o solo em seu local
de origem, reduzem a qualidade da água, quando da sua entrada, além de poderem depositar
materiais estéreis em áreas produtivas.

1.9. Poluição da água superficial

A poluição de águas superficiais ocorre quando uma quantidade indesejável de matéria


perigosa ou não flui para o interior de um corpo de água, excedendo a capacidade natural de
regeneração do ecossistema afetado.

A poluição aquática pode acontecer através de fontes pontuais ou não, onde as fontes
pontuais são discretas e confinadas, podendo citar como exemplo tubulações que lançam
80

resíduos industriais ou domésticos em rios ou lagos. Em geral as fontes pontuais a partir de


indústrias são controladas através de tratamentos in-situ ("on-site") ou disposição em áreas
previamente estipuladas e regulamentadas pelo orgão público responsável. Em cidades antigas
da Europa e dos EUA muitas destas fontes pontuais de poluição são pontos de lançamentos de
sistemas de esgotos.

As Fontes não pontuais são difusas e intermitentes e influenciadas por fatores como uso
da terra, clima, hidrologia, topografia, vegetação nativa e geologia. As fontes urbanas mais
comuns são: runoff urbano a partir de ruas (contém vários tipos de poluentes, como metais
pesados, produtos químicos e sedimentos). Em áreas rurais, as fontes são geralmente associadas
com agricultura, mineração, ou reflorestamento. Fontes não pontuais são extremamente difíceis
de controlar.

Considere o lago Washington próximo a Seatle (EUA) como um caso histórico. Quando
Seatle era uma cidade pequena, a poluição dos rios que fluem para dentro do lago não produziam
nenhum efeito notável. A degradação biológica natural e os processo inorgânicos eram suficientes
para dar conta dos efluentes. Na década de 50, entretanto, a cidade tornou-se grande e a
quantidade de efluentes foi tamanha que o lago não deu conta de degradar os efluentes lançados.

Tais situações como a do lago Washington acontece por exemplo no Rio de janeiro onde
tanto a baía de Guanabara quanto a lagoa Rodrigo de Freitas encontram-se completamente
poluídas. Existem três maneiras de se combater a poluição das águas: a) reduzir as fontes;
b) transportar os poluentes para outro lugar onde ele não provoquem dano; ou c) converter o
poluente numa forma inofensiva. No lago Washington, a segunda opção foi adotada por ser a
mais fácil e a mais prática, onde foi utilizado um rio de correntes rápidas e que desaguava no
Oceano Pacífico. Este método foi o menos caro. Entretanto, os efluentes, antes de serem
lançados, passam por estações de tratamento da água onde elimina-se o fósforo em excesso e
90% do DBO é removida.

Existem vários outros casos de sucesso no tratamento da poluição aquática. Um dos mais
notáveis foi a limpeza do rio Tâmisa na Inglaterra. Por séculos, os esgotos de Londres foram
lançados no rio Tâmisa, de forma que poucos peixes foram encontrados a jusante no estuário.
Nas décadas mais recentes, várias medidas de tratamento de águas foram implementadas, o que
ocasionou a volta de algumas espécies outrora desaparecidas.

Desde 1960 um atenção maior vem sendo dada, nos EUA, no que diz respeito a redução
da poluição aquática e, consequentemente, na melhoria da qualidade da água. A premissa básica
é que a população tem um desejo real por água pura para beber, nadar e usar na agricultura e
indústria. Em algum momento, a qualidade da água próxima aos centros urbanos foi
consideravelmente pior do que ela é hoje em algumas partes dos EUA. Nos últimos anos anos
uma série de casos tem sido encorajadores, e um dos mais conhecidos é o do rio Detroit. Em
meados de 1950 e no início da década de 60, o rio Detroit foi considerado um rio morto. Ele era o
receptáculo de esgoto doméstico, industrial químico e de lixo urbano. Toneladas de fósforo foram
descarregadas diariamente dentro do rio, e um filme de óleo de 0,5 cm de espessura estava
sempre presente. A vida aquática foi consideravelmente impactada e milhares de patos e peixes
foram mortos. Embora hoje em dia o rio Detroit não seja um rio como outrora, uma série de
melhorias podem ser observadas, resultantes do controle da poluição urbana e industrial. As
emissões de óleo e graxa foram reduzidas em 82 % entre 1963 e 1975. A concentração em
fósforo e as descargas de esgoto foram também fortemente reduzidas. Os peixes podem ser
novamente encontrados no rio Detroit.

O caso do rio Hudson, contaminado com PCB (bifenil policlorados com estruturas químicas
semelhantes a DDT e dioxina) é um outro bom exemplo. Os PCB's foram utilizados em muitos
transformadores e capacitores elétricos. A descarga destes produtos químicos no rio Hudson
começou em 1950 e terminou em 1977 onde aproximadamente 295 toneladas de PCB's foram
liberadas aproximadamente para o rio. As concentrações medidas em sedimentos são superiores
a 1.000 ppm próximo aos locais de lançamento ficando inferiores a 10 ppm a muitas centenas de
81

quilômetros a jusante da cidade de Nova York. O sistema americano “Food and Drug
Administration” permite menos de 2,5 ppm de PCB em produtos de laticínios, enquanto que o
limite estabelecido pela cidade de Nova York é de 0,1 ppb em águas potáveis. Os PCB's são
cancerígenos e conhecidos como causadores de perturbações no fígado, sistema nervoso,
sangue e no sistema imunológico das pessoas. Além do mais, eles são praticamente
indestrutíveis no ambiente natural e concentram-se nas partes mais superiores da cadeia
alimentar - nosso interesse!. As amostras de água em 240 quilômetros ao longo do rio Hudson
mostraram uma média de concentração de 0,1 a 0,4 ppb. mas os PCBs estão concentrados em
níveis muito mais elevados em alguns peixes. Como resultado, a industria pesqueira do rio
Hudson sofreu um forte impacto e grande perda econômica.

O plano de limpeza do rio Hudson custará aproximadamente US$30 milhões e envolve a


remoção e tratamento dos sedimentos contaminados do rio; a dragagem será feita em pontos
estratégicos, onde a concentração dos PCBs é maior que 50 ppm. Tal processo irá reduzir o
tempo necessário para o rio se auto-regenerar por processos naturais.

1.10. Poluição da água subterrânea

Aproximadamente a metade de toda a população dos EUA depende hoje de água


subterrânea como fonte de água potável. Devido ao fato de muitos de nós termos acreditado, por
muito tempo, que a água subterrânea é sempre pura e ideal para beber, a informação que a água
subterrânea poder ser facilmente poluída por vários agentes (ver tabela 11.8) é alarmante para
muitos. Além disso, os poluentes, sempre os mais tóxicos, podem ser difíceis de se reconhecer.
Um dos exemplos mais bem conhecido de poluição de água subterrânea é o canal "Love" próximo
de Cachoeiras do Niágara , em Nova York, onde o aterramento de resíduos de produtos químicos
causaram um sério problema de poluição de aqüíferos e de saúde pública.

Infelizmente, o canal "Love" não é um caso isolado. Perigosos rejeitos químicos tem sido
encontrados ou são suspeitos em regiões de suprimento de água subterrânea em vários outros
países. Os países industrializados produzem milhares de produtos químicos; muitos deles,
particularmente pesticidas, exportados para países em desenvolvimento, onde são utilizados em
plantações. Os produtos finais dessas plantações são muitas vezes importados pelos países
industrializados, completando o ciclo. Um exemplo disso foi verificado na Costa Rica, que importa
vários tipos de pesticidas incluindo DDT, aldrin, edrin e “chlordane” que por sua vez foram banidos
ou fortemente restritos nos EUA e na Europa. A maioria desses pesticidas são utilizados em
plantações destinadas aos países ricos.
Atualmente nos EUA, apenas uma pequena porção da água subterrânea é reconhecida
como sendo contaminada. Contudo, alguns milhões de pessoas usaram essa água, e o problema
está aumentando embora os exames da água subterrânea tornam-se mais comuns. Um exemplo
são as cidade de Atlantic City (NJ) e Miami (FL), que foram ameaçadas por águas subterrâneas
poluídas, que migraram lentamente através de seus poços, sendo estimado que 75% dos 175.000
sítios de disposição de resíduos conhecidos na região podem produzir plumas de produtos
químicos perigosos. Devido ao fato de que muitos destes produtos químicos são tóxicos ou
suspeitos de serem cancerígenos, parece que estamos conduzindo um experimento em larga
escala sobre os efeitos nocivos dos produtos químicos sobre pessoas expostas a um baixo nível
de concentração. Infelizmente, o resultado desse experimento não foi reconhecido por muitos
anos. Preliminarmente, os resultados sugerem ser melhor atuar agora, antes que a bomba relógio
da saúde pública exploda.

O perigo representado por um poluente em particular, na água subterrânea, depende de


vários fatores, tais como: volume de poluente descarregado, concentração ou toxidade do
poluente no ambiente e o grau de exposição das pessoas ou outros organismos.

Diferenças significativas no ambiente físico, geológico e biológico estão associadas com a


poluição das águas subterrâneas, da mesma forma que estes estão associados com a poluição
em águas superficiais. Na superfície, a hidráulica do fluxo, a disponibilidade de oxigênio e luz
82

solar (os quais podem tender a degradar poluentes), juntamente com a rapidez com que ocorrem
os processos de diluição e dispersão dos poluentes, são bastante diferentes dos processos
inerentes às águas subterrâneas onde a oportunidade para a degradação bacteriológica é
geralmente confinada ao solo ou a metro ou então sob a superfície. Além disso, os canais através
dos quais a água subterrânea se move são, muitas vezes, demasiados menores e variáveis. Por
estas razões, a taxa de movimento é muito reduzida (exceto, talvez, em grandes canais de
dissolução dentro de rochas carbonáticas) e a oportunidade de dispersão e diluição é limitada. Em
adição, a falta de oxigênio nas águas subterrâneas mata os microrganismos aeróbicos (que
necessitam de oxigênio livre para sobreviver e crescer), mas fomenta o desenvolvimento de
espécies anaeróbicas (que prosperam em ambientes deficientes em oxigênio).

A capacidade de muitos solos e rochas de filtrar fisicamente os sólidos, incluindo sólidos


poluentes, é muito bem reconhecida. Embora esta capacidade varia com as diferentes formas,
tamanhos e arranjos das partículas filtrantes, como comprova o uso de areias selecionadas e
outros minerais nas usinas de filtração de água. Também reconhecido, mas nem tanto, é a
habilidade dos argilo-minerais e outros minerais selecionados (p.ex zeólitas) em capturar e trocar
alguns elementos e compostos quando eles estão dissociados em solução carregados tanto
positiva quanto negativamente. Este processo, entretanto, possui uma capacidade de troca
definida e é reversível.

Muitas conjecturas, debates e pesquisas tem sido feitos sobre a poluição de águas
subterrâneas. O principal responsável pela poluição das águas subterrâneas é, sem dúvida, a
introdução de elementos químicos, produtos e microorganismos que não ocorrem naturalmente
nos aqüíferos. A degradação do aqüífero é de difícil detecção e a sua regeneração e cara e
complexa. Devido a isto, recomenda-se que a disposição de rejeitos, potencialmente poluidores,
deve ser realizada em locais onde seja assegurada a não contaminação dos aqüíferos. Este
sonho é quase impossível. A melhor solução estaria no tratamento adequado dos resíduos,
através do melhor entendimento dos processos naturais.

Estudos e casos históricos de poluição de águas subterrâneas mostram que os


microrganismos raramente sobrevivem por distâncias maiores que 30 metros porque eles ou são
filtrados ou são mortos pelo ambiente hostil. Taxas mais elevadas de sobrevivência parecem
ocorrer em ambientes geológicos onde a porosidade e permeabilidade possuem altos valores, tal
como em cascalho, areia grossa, sistemas de fraturas e cavernas em sistemas cársticos. O
espectro dos possíveis problemas inclui a contaminação por microrganismos a partir da
disposição de esgoto; poluição de cromo a partir de processos industriais; contaminação de óleo-
campos de salmouras e resíduos industriais relacionados; poluição causada ou por disposição de
resíduos farmacêuticos, ou por áreas de disposição de resíduos, ou devido ao uso intensivo de
inseticidas e pesticidas.

A poluição de um aqüífero não é somente o resultado da disposição de resíduos sobre a


superfície ou em subsuperfície. O bombeamento excessivo ou mineração de águas subterrâneas
pode gerar problemas através da migração a partir de aqüíferos adjacentes ou mesmo da água do
mar. Portanto, o uso humano de águas públicas ou privadas pode acidentalmente resultar em
poluição de aqüíferos.

A Fig. 11.23 mostra o princípio geral de uma intrusão salina. O nível de água subterrânea
é geralmente inclinado em direção ao oceano, enquanto que uma cunha de água salgada é
inclinada em direção ao continente. Desta forma, em áreas com camadas não confinantes, a água
salgada próximo a costa pode ser encontrada em profundidade maior que a água doce. Devido ao
fato de que a água doce é um pouco menos densa do que a água do mar (1,000 comparada com
1,025 g/cm3), uma coluna de água doce de 41 cm de altura é necessária para balancear 40
centímetros de água salgada. Uma relação mais geral diz que a profundidade da água salgada
abaixo do nível do mar é 40 vezes a altura ("H" na Fig. 11.23) do nível freático acima do nível do
mar. Quando poços são feitos, um cone de depressão pode se desenvolver no nível de água
doce, que pode permitir a intrusão de água salgada, se a interface entre elas é atingida em
resposta a perda de massa da água doce.
83

Um bom exemplo é observado em Long Island, Nova York. Dois municípios na ilha,
Nassau e Suffolk, com uma população de vários milhões de pessoas, são inteiramente
dependentes da água subterrânea. Os dois maiores problemas associados com a água
subterrânea são a intrusão de água salgada e a contaminação de aqüíferos rasos. A Figura 11.24
mostra o movimento geral da água subterrânea sob condições normais para o município de
Nassau. A água subterrânea salgada está restrita, devido a migração de uma larga cunha de água
doce que se move abaixo da ilha.

Os recursos hídricos do município de Nassau estão em dois aqüíferos principais. O


aqüífero superior é composto de depósitos glaciais recentes, que produzem grande quantidades
de água a profundidades inferiores a 30 metros. Abaixo dos depósitos glaciais existem rochas
sedimentares mais antigas, de origem marinha, que consistem de intercalações de arenitos,
argilitos e siltitos. A maior parte da água subterrânea no município de Nassau é bombeada a partir
deste aqüífero inferior, que se localiza numa camada de arenito com profundidade abaixo de 30
metros. Uma boa parte dos arenitos contendo água estão confinados por camadas de argilitos e
siltitos de baixa permeabilidade. Assim, a água está sob pressão artesiana, que faz com que a
água se eleve a 15 metros da superfície. Em termos do volume total de água e o número de
pessoas que a usam, os recursos hídricos subterrâneos de Long Island são um dos maiores do
mundo.

Apesar da enorme quantidade de água do sistema subterrâneo de Nassau, o


bombeamento intenso dos últimos anos causou um declínio no nível de água doce em mais de 15
metros em alguma áreas, e como a água doce subterrânea foi retirada próximo da costa, o fluxo
de água doce em direção ao oceano diminuiu, permitindo que a água salgada migrasse em
direção a ilha, ocorrendo a intrusão de água salgada no aqüífero mais profundo. Os mecanismos
de intrusão salina são mais complexos do que idealmente mostrado na Figura 11.23. Na medida
em que a água doce das camadas de arenito no aqüífero mais profundo foram intensamente
bombeadas, a água salgada penetrou em direção a ilha como uma série de cunhas estreitas.
Embora o problema da intrusão de água salgada não seja generalizado, o fronte da intrusão de
água salgada esta sendo cuidadosamente monitorado como parte do programa de manejo deste
recurso hídrico.

Um dos problemas mais sérios em Long Island é a poluição dos aqüíferos mais rasos
associando-se, principalmente, com a urbanização. As fontes de poluição em Nassau incluem:
"runoff" urbano, esgoto doméstico a partir de fossas e reservatórios sépticos, sal usado nas ruas
durante o inverno, e resíduos sólidos industriais e domésticos. Estes poluentes entram nas águas
superficiais e migram para baixo, especialmente em áreas de intenso bombeamento e de declínio
do lençol freático. A Figura 11.25 mostra a extensão do nitrato dissolvido, com altas
concentrações, na água subterrânea de zonas profundas. As maiores concentrações estão
localizadas sob zonas urbanas intensamente populosas, onde o nitrato, oriundo de fontes tais
como fossas sépticas, poços, fertilizantes, é rotineiramente introduzido no ambiente
hidrogeológico.

1.11. Tratamento da água subterrânea

A correção de contaminações de um aqüífero e da zona vadosa não é impossível,


contudo, pode ser complexo e caro, requerendo avaliação e tratamento cuidadoso. As etapas
mais importantes envolvidas na correção da poluição de águas subterrâneas são:

1. Caracterização Geológica. Isto é particularmente importante por causa da existência de canais


soterrados mais permeáveis, macroporos em solos, e estruturas geológicas tais como fraturas,
dobras, falhas que podem ser o fator dominante no controle da direção do fluxo da água
subterrânea.
84

2. Caracterização Hidrológica: Fatores tais como a profundidade da água subterrânea, sua


direção e taxa do fluxo devem ser determinadas. A caracterização hidrológica também envolve a
observação das interrelações entre as águas superficiais e os processos subterrâneos que afetam
o local.

3. Identificação dos contaminantes presentes e dos processos de transporte: Os contaminantes


são identificados através de uma avaliação cuidadosa da área e da coleta de amostras. Alguns
contaminantes, tais como gasolina, flutuam no topo do lençol freático devido à diferença das
densidades. Entretanto, alguns componentes na gasolina são solúveis em água, de tal maneira,
que eles estarão também presentes como uma fase dissolvida abaixo do nível freático. Por outro
lado, contaminantes tais como os tricloroetilenos (TCE) que é um solvente utilizado em produtos
de limpeza à seco, são mais pesados que a água e irão “afundar” em vez de “flutuar”. Outros
poluentes, tais como sais, são muito solúveis em água e irão se mover em geral junto com o fluxo
natural.

4. Início do processo de tratamento. A tabela 11.9 descreve brevemente alguns métodos de


tratamento de águas subterrâneas e da zona vadosa. O tratamento específico a ser selecionado
depende de variáveis como o tipo de contaminante, método de transporte, e características do
ambiente local, tais como profundidade do nível freático e características geológicas.

Um exemplo que considera um tratamento de água subterrânea é mostrado na Figura


11.26. A Figura 11.26a mostra uma área de um posto de gasolina que apresenta um vazamento
no tanque de armazenamento de gasolina. Uma parte do contaminante flutua no topo do nível
freático mas algum está também dissolvido e move-se juntamente com a água subterrânea. A
direção de migração dos vapores é para fora da pluma. A Figura 11.26b mostra a mesma área
após ter sido instalado um sistema de poços para extração do vapor e do combustível, este último
locado abaixo do nível freático e o poço extrator de vapores, que utiliza um sistema de bombas de
vácuo, coleta os contaminantes na fase gasosa onde poderão ser tratados. O vazamento de
tanques de combustível subterrâneos, tal como o mostrado na Figura 11.26 são fenômenos muito
comuns em áreas urbanas.
85

EXERCÍCIOS
1. QUALIDADE DA ÁGUA E FONTES DE POLUIÇÃO

1.1. Introdução.

A qualidade da água de um rio, lago, poço ou fonte é produto da qualidade das chuvas e de
qualquer mudança que ocorra na água ou sob a superfície. Na medida em que a água se move
através do ciclo hidrológico, ela muda química, física e/ou biologicamente. Algumas mudanças
causam deterioração na sua qualidade, e, se o input induzido pela atividade humana for
significativo, a água estará fatalmente contaminada.

As principais fontes de contaminantes incluem atividades industriais, municipais, agrícolas


e mineiras. Os contaminantes podem ser físicos, químicos e/ou biológicos, dos quais alguns
constituintes afetam o sabor, outros podem ser corrosivos e poucos são perigosos para a saúde.
Pode-se dizer que toda água natural contém algumas impurezas. Estas ocorrem naturalmente em
concentrações consideradas dentro do "background" e refletem os produtos solúveis nos solos e
nas rochas através dos quais a água se moveu.

A qualidade da água é um termo relativo. A água do mar é de boa qualidade para muitos
peixes, mas não serve como bebida para os seres humanos. A intenção de uso precisa ser
conhecida antes de se falar sobre a qualidade da água.

Tendo em vista os efeitos indesejáveis dos contaminantes, a Organização Mundial de


Saúde estabeleceu alguns limites nas concentrações de certos elemento na água potável. Ver
exemplos na Tabela II-1.1 e 1.2, onde cada país tem as suas próprias leis. Entretanto, muitos
seguem a orientação das Nações Unidas. onde são normalmente indicados dois níveis, o MCLGs
e o MCLs. O primeiro (Maximum Contaminant Level Goals) são uma meta de concentração
máxima recomendada nas águas potáveis, não obrigatórias, já o último (Maximum Contaminat
Level) é o limite máximo permitido. Eles são estabelecidos o mais próximo possível dos MCGLs
utilizando a melhor tecnologia e técnicas disponíveis de análise.

Por outro lado, no que diz respeito a saúde, existem várias legislações que tratam do
assunto. Nos EUA a agência EPA (Environmental Protection Agency) desenvolveu uma
legislação secundária para a água potável que cobre vários aspectos, entre eles aqueles
envolvendo a qualidade estética (sabor e odor).

Um exame dos vários constituintes da água sempre revela a história hidrogeológica de


uma amostra. Para interpretar corretamente a significância dos dados sobre a qualidade, é
necessário entender alguma coisa sobre a sua origem e as reações de certos compostos.

A concentração de substâncias dissolvidas na água são normalmente registradas em


miligramas por litro (mg/l), partes por milhão (ppm) ou partes por bilhão (ppb).

1 ppm = 1 mg/kg; 1 ppb = 1 µg/kg

Um mg/l significa que uma amostra de 1 litro de água contém 1 mg da substância


dissolvida.
Neste exercício nós investigaremos a importância de alguns compostos químicos na água
e sua fonte potencial. Uma estimativa da quantidade dos compostos químicos inorgânicos na
água é fornecido pelo grau de ionização específica destes compostos na água. Esta capacidade é
conhecida como condutância específica e a partir de sua medição determina-se rapidamente a
quantidade de sólidos dissolvidos na água. A concentração dos sólidos dissolvidos (em ppm), é
geralmente estimada pela multiplicação da condutância específica que é dada em µnhos/cm ou
µS/cm por 0,67. Um mho é a unidade de condutividade e significa o inverso de ohm que é a
86

unidade para a resistividade. S significa Siemens, que foi quem desenvolveu uma parte desta
teoria.

PARTE A

- Dureza

A dureza da água geralmente é expressa com base nas concentrações de Cálcio e


Magnésio. A dureza de uma maneira simplificada tem uma ligação com o uso de sabão. Águas
duras requerem o uso de grandes quantidades de sabão e permite que resíduos insolúveis
causem incrustações em canos, pias e aquecedores, entre outros.

A dureza como já dito anteriormente, depende principalmente das concentrações de Cálcio


(Ca) e Magnésio (Mg), mas outras substâncias tais como Sulfato (SO4) também formam resíduos
insolúveis. Uma água que possui uma dureza menor do que 60 ppm é considerada mole, de 61 a
120 ppm é considerada moderadamente dura, de 121 a 180 ppm é considerada dura e com mais
de 180 ppm é considerada muito dura.

Cálcio (Ca) - O cálcio pode ser lixiviado a partir de muitas rochas, mas os calcários e
dolomitos são os que fornecem as maiores quantidades. O Cálcio é a principal causa da dureza e
forma incrustações em vários utensílios domésticos. O Cálcio não é considerado nocivo à saúde.

Sódio (Na) - O sódio é rapidamente lixiviado das rochas e tende a permanecer em


solução. Qualquer depósito de argila ou silte pode fornecer altas concentrações de sódio para a
água circulante. O sódio pode também entrar em solução se a água estiver em contato com
efluentes industriais ou domésticos (águas de esgoto). A concentração de sódio não é
especialmente importante na água de uso doméstico. Por outro lado, as pessoas que apresentam
um metabolismo anormal do sódio, deveriam consultar os seus médicos para estabelecer uma
dieta especial considerando a concentração de sódio na água. A concentração do sódio é dita em
excesso, quando ultrapassa 500 mg/l. Combinado com o cloro, ele resulta no sabor salgado.
Concentrações acima de 1000 mg/l são inadequadas para vários usos. Entretanto algumas
comunidades utilizam águas com concentrações de sólidos dissolvidos superiores a 4.000 mg/l
porque não tem outra alternativa. Geralmente quanto mais mineralizada é a água mais distinto é o
seu sabor.

- Potencial Hidrogeniônico (pH)

O pH da água é uma medida da alcalinidade ou acidez. Um pH igual a 7 significa que a


solução é neutra; um pH maior que 7 significa que a solução é alcalina; e um pH menor que 7
indica que a solução é ácida. O pH está relacionado às propriedades corrosivas da água. Quanto
mais baixo (mais ácido), mais corrosiva será a água, que podem ter um gosto amargo, rançoso. A
maioria das águas apresentam um pH entre 5,5 e 8,0. A faixa recomendada pela agência
americana USEP (1991) é entre 6,5 e 8,5. Um pH muito baixo pode estar relacionado com a
descarga de águas ácidas a partir de regiões mineiras (carvão, sulfetos) ou a resíduos líquidos de
determinadas industrias.

- Outros produtos químicos Inorgânicos.

Vários outros produtos químicos inorgânicos estão também presentes na composição das
águas, normalmente em quantidades chamadas de traços ( < 1 ppm). Eles são também
importantes na avaliação da qualidade da água e tem algumas implicações quanto a saúde das
populações. Os limites de vários destes composto químicos podem ser observados na Tabela III-
1.1a.

Sulfato (SO4) - O sulfato é oriundo da dissolução de rochas que contem enxofre, tais como
gipso (CaSO4) e sulfetos em geral como a pirita (Fe2S). O sulfato, quando combinado com outros
87

elementos, pode produzir um sabor amargo que, em grandes quantidades podem produzir uma
efeito laxativo em algumas pessoas, dessa forma, a agencia americana de proteção a saúde
pública recomenda que as concentrações na água não devam exceder a 250 mg/l. Embora altas
concentrações de sulfato possam refletir condições naturais, várias atividades industriais podem
ocasionar fortes contaminações. Normalmente em regiões de mineração de carvão são
encontradas grandes concentrações de sulfato nas águas superficiais. Isto resulta do
intemperismo de sulfetos de ferro que são abundantes nestes ambientes. Várias indústrias,
particularmente as siderúrgicas utilizam grandes quantidades de ácido sulfúrico, que muitas vezes
são drenados para os rios ou não são tratados adequadamente. Além disso, elevadas
concentrações de sulfato podem indicar também contaminação a partir de fossas ou redes de
esgoto.

Cloro (Cl) - Embora o cloro possa ser dissolvido de rocha e solos, sua presença pode
indicar contaminação através de redes de esgoto humana ou de animais, bem como efluentes
industriais. O cloro pode combinar com o sódio para produzir um sabor salgado; o conteúdo em
cloro em sistemas de abastecimento de águas públicas não deve exceder a 250 mg/l (Tab.III-
1.1b). Isto limite é baseado apenas no sabor da água. Entretanto em regiões costeiras águas
doces sobrepõem-se a água salgada. A profundidade da interface água-doce água salgada pode
variar de poucos centímetros a dezenas de metros.

Flúor (F) - A maioria dos compostos de flúor possuem baixa solubilidade; portanto, o flúor
ocorre somente em pequenas quantidades nas águas naturais. O flúor na água potável tem
mostrado ser bastante eficiente na redução da formação de cáries dentárias, se a água é
consumida durante o período de calcificação do esmalte dos dentes. Se consumido em excesso,
pode causar manchas nos dentes. A concentração máxima recomendada para águas públicas
utilizada varia de acordo com a temperatura do ar (Tabela III-1.3). Um excesso de flúor está
normalmente associado com a formação excessiva de ossos e com a calcificação de ligamentos.

Nitrato (NO3) - O nitrato pode ser lixiviado a partir de rochas, ou pela água da chuva, mas
certas plantas, excrementos animais, resíduos de esgoto, e fertilizantes inorgânicos são
provavelmente as maiores fontes de nitrato para o sistema aquático. As concentrações de nitrato
(medidas como N) na água não devem ultrapassar a 10 mg/l.

Ferro (Fe) - Os compostos do ferro são muito comuns nas rochas e eles podem ser
facilmente lixiviados pela água, particularmente águas com pH baixo. As concentrações de Ferro
superiores a 0,3 mg/l podem causar manchas na louça sanitária e em utensílios em geral.
Geralmente é inadequado para uso na preparação de comida, bebidas, sorvete e muitos outras
atividades. Ele pode causar uma sabor de metal. Rios que drenam áreas com minas de carvão
entre outras, comumente contem Ferro em excesso. Além disso, vários processos industriais, tal
como a siderurgia, podem também contribuir para concentrações excessivas de ferro nas águas
superficiais.

QUESTÕES

1. Quais são as principais substâncias químicas que podem indicar a contaminação da água por
efluentes domésticos (esgoto)?

2. Quais são as principais substâncias químicas que podem ser prejudiciais a saúde humana?

3. Quais são as principais substâncias químicas que afetam adversamente a água potável mas
não são perigosas para a saúde ?

4. Por que a concentração recomendada para o flúor leva em consideração a temperatura ? Por
que o flúor é listado nas Tabelas III-1.1a e 1.1b ?
88

5. Explique a diferença nos níveis máximos permitidos para o chumbo entre as agências WHO e
USPHS (Tabela III-1.2).

6. Como o limite do chumbo mudou nos EUA entre 1962 e 1991 ? E por que mudou ?

Use as informações contidas nas Tabelas III-1.4 e 1.5 para responder as perguntas abaixo.

7. Que fatores de qualidade da água indicam que no poço da fazenda de Dakota do Norte está
contaminado ? Qual é a fonte mais provável dessa contaminação ?

8. Qual é a fonte mais provável de contaminação dos poços em Ohio ? Esta água poderia ser
utilizada para cozinhar ? Explique.

9. Qual é a fonte mais provável de contaminação para o riacho Big Four Hollow ? Esta água
poderia ser perigosa para a saúde se consumida ? Explique. Que sabor ela deveria ter ?

10. Por que a água do poço em Wichita é mais mineralizada do que a água do poço em
Sheverport ? (Considere o clima bem como as diferenças na geologia)

11. O lago Erie foi considerado, certa vez, extremamente contaminado e foi mesmo dado como
“morto” por alguns ambientalistas. Tome os dados da Tabela III-1.4 e veja se eles suportam tal
afirmativa ? Explique.

12. Por que o sistema público de abastecimento de água de Seatle contem menos sólidos
dissolvidos do que em Buffalo ? (considere a geologia, o clima e a topografia).

13. Quais foram as prováveis condutâncias específicas lidas para as águas do rio Mahoning e
para o riacho Big Four Hollow ?

14. A partir dos dados das tabelas, você esperaria que a maioria do suprimento de água fosse
ácido ou alcalino ?

15. Qual é a fonte de água onde você vive ? Se possível determine seus sólidos dissolvidos e
registre.

PARTE B - FONTES E QUANTIDADE DE CONTAMINANTES

A contaminação de fontes de águas naturais, tais como lagos e cursos d’água, comumente
resultam de: 1) descargas pontuais de efluentes diretamente dentro do corpo d’água; 2) fontes
não pontuais de descarga, tal como runoff e 3) influxo de águas subterrâneas contaminadas. No
caso de uma fonte pontual, é relativamente fácil determinar a localização da desembocadura e
medir a taxa de descarga de efluente e a sua composição. Entretanto, é muito mais difícil se
avaliar quando as fontes de poluição não são pontuais.

O principio de que a solução para a poluição é a diluição tem sido utilizado a séculos. Nos
anos 70, num esforço para limpar os rios nos EUA, foi implementado a redução e/ou pré-
tratamento de efluentes industriais, contudo a diluição ainda é um importante conceito.

O raciocínio atrás deste conceito é que geralmente a descarga dos efluentes é muitas
vezes menor do que a descarga do rio receptor. Consequentemente, os resíduos serão diluídos a
concentrações aceitáveis. Por exemplo, uma água subterrânea contaminada é constantemente
diluída na medida em que ela se move através da subsuperfície. A quantidade de água
subterrânea que se infiltra num rio é geralmente muito pequena em relação ao fluxo deste rio.
Desta forma o contaminante pode ser diluído de tal forma que ele pode ser indetectável, mesmo
nas áreas de descarga. A concentração de um contaminante em um rio está também diretamente
89

relacionada às características físicas do rio, onde muitos contaminantes ficam presos aos
sedimentos ou acumulam-se no fundo dos rios, sendo portanto, removidos do sistema aquático.

Como foi mostrado na introdução, as principais fontes de poluição aquática se originam em


atividades industriais, municipais (fontes domésticas e industriais) e agriculturais (Tab. III-1.6). Os
contaminantes que afetam adversamente a qualidade da água podem ser físicos, químicos e/ou
biológicos, onde alguns constituintes afetam o sabor (cloro, sulfato, fenóis, ferro), outros podem
ser corrosivos (alto conteúdo em sólidos dissolvidos, baixo pH), e uns poucos podem causar
problemas de saúde (metais pesados, nitrato, bactérias patogênicas e viroses). Um aumento na
temperatura pode afetar o equilíbrio químico de um rio, causando a redução na quantidade de
oxigênio dissolvido além de outros estresses ecológicos.

A carga de poluição que um rio carrega pode ser calculado se a descarga do rio e a
concentração específica dos contaminantes forem conhecidos:

Carga (Toneladas/dia) = Q x C x 0,0027 onde,

Onde:
Q = descarga do rio (pés cúbicos por segundo, cfs)
C = concentração específica do contaminante (mg/l)
0,0027 = constante para converter segundos e mg/l em dias e toneladas.

Para determinar se um rio está sendo contaminado, é necessário adquirir dados que são
coletados antes da contaminação aparente ou determinar as concentrações de constituintes
selecionados em partes não contaminadas do rio. Comumente, os dados de qualidade da água
refletem as condições naturais anteriores à contaminação, algumas vezes chamada dados
relativos ao background. Informações sobre o background podem ser obtidas, entretanto, pela
amostragem de água ao longo do rio e de seus distributários.

QUESTÕES (III-1, PARTE B)

1) Determine a carga diária de ferro (toneladas/dia) que entra na queda de Niágara (descarga
aproximada = 200.000 cfs), se a concentração do ferro é 0,1 mg/l.

2) Matéria orgânica biodegradada promove uma demanda em oxigênio nos rios. Que parâmetro
de qualidade de água você esperaria que mudasse com o aumento da demanda de oxigênio ?

3. Por que as partículas do solo e o silte são considerados contaminantes ?

4. A partir da Tabela III-1.6. Você esperaria diferenças na qualidade da água do rio, acima e
abaixo da estação de tratamento de esgoto ? Explique.
90

2. CONTAMINAÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS A PARTIR DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS

2.1. Introdução

Durante os anos 60 e 70 as pessoas observaram a poluição e seus efeitos nos rios dos
EUA. Espumas de detergentes cobriam os rios e peixes flutuavam mortos, intoxicados com
toxinas e por falta de oxigênio. Muitas praias foram fechadas; algumas fontes de água potável
foram perdidas; pelo menos um rio foi incendiado; e a industria pesqueira foi fortemente afetada
por efeito da poluição química de compostos orgânicos e mercúrio. Neste exercício vocês
explorarão duas áreas onde os resíduos industriais resultaram num decréscimo na qualidade da
água. Embora a prática de dumping de resíduos industriais diretamente no interior de águas
superficiais tenha decrescido marcadamente nos EUA desde 1970, existem muitos lugares no
mundo onde tais poluições pontuais são comuns. Este exercício mostra o impacto de práticas
inadequadas de disposição de resíduos em um dos Grandes lagos.

PARTE A - POLUIÇÃO POR ELEMENTOS TRAÇOS (MERCÚRIO E CROMO) NO LAGO ERIE.

Os lagos Erie e St. Clair e os rios Detroit e St. Clair estão entre as várias áreas impactadas
pelo Mercúrio nos anos 60 e 70. De fato, a poluição por mercúrio praticamente arrasou com a
indústria pesqueira em muitas áreas e as explosões de crescimento de algas resultantes, reduziu
o nível de oxigênio dissolvido em várias áreas. Estes e outros fatores induziram alguns
ambientalistas a considerar o Lago Erie como “morto”. Embora o lago não esteja morto, os
produtos químicos inorgânicos e orgânicos, alguns oriundos de fazendas, e elementos traços são
ainda um problema para o lago. A qualidade da água e a saúde da população de peixes já
mostraram melhorias significativas desde 1970, mas o consumo excessivo de peixes a partir do
lago é ainda perigoso. Um novo problema, para os seres humanos e o ecossistema dos Grandes
Lagos, é um molusco de origem europeia, que foi inadvertidamente introduzido no lago. Elas
crescem rapidamente e alastram-se pelas cidades, hidroelétricas e barcos. Embora uma ação de
filtragem possa atualmente melhorar a qualidade da água, ela pode eventualmente causar outros
problemas porque concentra poluentes que retira da água.

Nesta parte, nós investigaremos a contaminação por elementos traços. Embora este
exercício seja construído sobre qualidade de água superficial, o foco é sobre os sedimentos
contaminados pelos elementos traços. Os elementos traços são definidos como aqueles que
ocorrem naturalmente em concentrações menores do que 1 mg/l. Alguns elementos traços e sua
concentração máxima recomendada na água potável estão listados na tabela III-2.1 (veja também
a tabela III-1.1). Pouco é conhecido do potencial de adversidade ou benefício que estes
elementos possuem sobre a saúde dos seres humanos ou outros animais e plantas. Muitos
elementos traços são necessários para os seres humanos, mas em alguns casos há uma variação
mínima entre quantidade necessária e quantidade tóxica. Por exemplo, a falta de quantidades
mínimas de cobre na dieta humana, causa anemia nutricional em crianças, mas grandes
quantidades podem causar danos no fígado. Uma outra complicação é a forma química do
elemento. Num estado químico, um elemento traço pode passar através do corpo com pouco ou
nenhum mal, mas em outros ele pode ser absorvido até o ponto da toxidade. Um exemplo deste
fenômeno é o mercúrio; mercúrio metálico é geralmente inofensivo mas metil mercúrio é
altamente tóxico.

Nos últimos anos tem sido feito numerosos estudos sobre elementos traços que, em geral,
mostram que muitos ocorrem em concentrações somente detectáveis na água, eles podem em
depósitos de sedimentos dos sistema fluvial em concentrações com duas ou três ordens de
magnitude superiores (100 a 1.000 vezes). As plantas retiram os seus nutrientes dos sedimentos
e podem conter também varias centenas ou mesmo vários milhares de mg/kg de muitos destes
elementos traços. Aparentemente, muitos elementos traços são somente detectados em águas
porque eles se ligam a sedimentos muito finos, que são subseqüentemente depositados. Estes
elementos podem ser removidos e concentrados por plantas e organismos que habitam as
planícies fluviais.
91

Concentrações anômalas de elementos traços podem ser devido a muitas causas -


algumas naturais, outras artificiais. Sedimentos contaminados podem originar-se de fontes
industriais e municipais, runoff a partir de áreas de disposição de resíduos, e atmosfera. O
envenenamento por arsênio na Nova Zelândia que matou vários animais, foi atribuído a águas
ricas em arsênico de origem natural. O rio Kansas apresentava concentrações locais em arsênio
que se aproximavam do limite recomendado pelo USPHS. A fonte de arsênio neste caso, foi a
estação de tratamento de efluentes domésticos e industriais, que continha arsênio originado como
impureza em detergentes e sabão.

Próximo as principais auto-estradas em British Columbia, Inglaterra, Finlândia e EUA,


cereais e vegetais foram contaminados com quantidades de chumbo 4 a 20 vezes superiores a
quantidade normal. Estas altas concentrações foram principalmente o resultado de poluição aérea
e do solo, pela emissão de Chumbo através da combustão de gasolina nos carros. O chumbo era
adicionado a gasolina para aumentar a octanagem.

As atividade de mineração e produção de metais são também importantes causas de


contaminação por elementos traços. Na bacia de rio Jintsu no Japão, restos de moinho de uma
mina de produção de zinco, chumbo e cádmio foram lanças sem tratamento nos rios. A jusante a
água contaminada foi utilizada por fazendeiros para cozinhar, beber e irrigar seus campos de
arroz. Eventualmente, muitas pessoas nesta bacia começaram a sofre de um mal desconhecido,
porém muito doloroso, muitas vezes fatal. Alguns anos mais tarde, as amostras da água do rio,
solo e arroz foram examinadas. A água geralmente continha menos que 1 ppm de Cd e < 50 ppm
de Zn. As amostras do solo irrigado continham concentrações de 620 ppm de Cd e 62.000 ppm de
Zn. Estes metais acumularam-se em concentrações ainda maiores no arroz. Aparentemente, a
ingestão de arroz contaminado com Cd pelos fazendeiros locais causou osteomalacia, e doenças
nos ossos.

A contaminação por elementos traços nos Grandes lagos não foi tão severa, entretanto, a
distribuição e a concentração de vários elementos no lago Erie ilustra o impacto da atividade
industrial no lago.

A descoberta de mercúrio no lago Str. Clair, rio Detroit e lago Erie no final da década de 60
levou ao banimento do esporte e da industria pesqueira destes lugares, porque a experiência na
baía de Minamata, Japão, onde dezenas de indivíduos foram envenenados após o consumo de
frutos do mar contaminados por mercúrio. A baia foi contaminada através da disposição de
compostos de mercúrio originados como resíduos numa fábrica de plásticos.

A maior fonte de mercúrio no lago Erie foi identificado como sendo uma fábrica de
produtos químicos em Wyandotte, Michigan, e Sarnia, Ontario. Estas fábricas produziam gás
clorídrico e soda caustica usando células de mercúrio em processos eletrolíticos. A taxa de perda
acidental de mercúrio destas duas fábricas foi estimada em cerca de 50 lbs/dia de 1950 a 1970. A
concentração normal de mercúrio no lago Erie é menos que 0,0002 ppm, mas em sedimentos do
fundo ele variava entre 0,026 e mais de 3 ppm e o background médio é menos que 0,07 ppm.

O principal uso do Cromo é na industria de galvanização. Estes elemento também em


pequenas concentrações na água. O background das concentrações do cromo na água e nos
sedimentos no fundo do lago Erie era menor que 0,004 e 32 ppm respectivamente.

QUESTÕES (III-2, PARTE A)

1. Usando os dados da Tabela III-2.2 e os mapas da Fig. III-2.1 e 2.2, construa isolinhas
(contorno) mostrando a concentração do mercúrio e do cromo nos sedimentos do fundo do lago
Erie. Para o mercúrio, utilize isolinhas representando concentrações de 0,25, 0,5 1 e 2 ppm. Para
o cromo, utilize isolinhas representando concentrações de 20, 60, 80 e 140 ppm. Rotule os
valores de todas as isolinhas. lembre-se que algumas isolinhas podem terminar na costa do lago.
92

2. Quais são as três áreas que mostram as maiores concentrações de mercúrio e de cromo ?

3. Com base na Fig. III-2.1 desenhe várias setas indicando de onde vem os principais fluxos de
água do rio Detroit para o Buffalo. Explique.

4. Cite duas razões que justifiquem a sua expectativa de encontrar concentrações de ambos
mercúrio e cromo próximo ao background no ponto A.

5. Onde você esperaria que os moluscos que vivem no fundo do lago apresentassem a maior
concentração de mercúrio ?

6. Onde a industria pesqueira seria mais seriamente afetada, na costa sul ou somente na parte
oeste do lago ? Explique.

7. A contaminação por cromo no lago Erie é refletida no suprimento municipal de água em


qualquer parte do lago? Explique.

PARTE B - RESÍDUOS INDUSTRIAIS NO RIO MAHONING, NORDESTE DE OHIO.

O rio Mahoning drena uma área densamente populada e industrializada no nordeste de


Ohio. Nos riachos acima de Princepton (Fig. III-2.3) drenagens com características ácidas de
algumas minas de carvão entram no rio, resultando em altas concentrações de Sulfato, Ferro, e
sólidos dissolvidos e um aumento na dureza e um pH baixo.

A jusante de Leavittsburg e particularmente em Warren e Yongstown tem-se um complexo


industrial com várias indústria siderúgicas. Os efluentes destas industrias, são lançados dentro do
rio, contem elevadas concetrações de Cloro e Sulfato (formados a partir de Ácido Clorídrico e
Sulfúrico), e ainda Ferro e outros metais, baixo pH (ácido) e foram aquecidas.

QUESTÕES (III-2, PARTE B)

1. Usando os quatro mapas a seguir, a Tabela III-2.3 e o código de cores para distinguir os quatro
tipos de água dados na Tabela III-2.3 (tipo 1 - azul; tipo 2 - amarelo; tipo 3 - verde; tipo 4 -
vermelho), pinte as áreas delineadas ao longo do rio Mahoning e indique a faixa de variação do
Sulfato, Cloro, pH e temperatura na área representativa de cada estação de amostragem. Os
dados de cada estação na Tabela III-2.3 referem-se a parte do rio a montante.

Tabela III-2.3 - Variação dos fatores de qualidade de água para o rio Mahoning

Estação Sulfato (mg/l) Cloro (mg/l) pH Temperatura (oF)


1 151-250 36-50 6.6-7.0 73-79
2 50-150 20-35 7.1-7.5 73-79
3 351-450 36-50 6.6-7.0 80-86
4 351-450 36-50 6.1-6.5 80-86
5 251-350 51-65 5.5-6.0 80-86
6 251-350 51-65 6.1-6.5 87-93
7 351-450 66-80 6.1-6.5 94-100

2. Qual é a mais provável fonte de sulfato na estação 1 ?

3. Porque a concentração de sulfato diminui entre as estações 1 e 2


93

4. Por que o pH diminui significativamente entre as estações 2 e 5 ?

5. Os dados sugerem que a maior quantidade de ácido clorídrico é usada nas vizinhanças de
Warren e Youngstown ? Por que ?

6. Você esperaria que o conteúdo em oxigênio dissolvido fosse maior nas proximidades de
Warren e Youngstown? Por que ?

Tabela III-2.4 Classificação numérica da água

Fatores de Tipo 1 (azul) Tipo 2 (amarelo) Tipo 3 (verde) Tipo 4 (vermelho)


qualidade da
água
Sulfato 50-150 mg/l 151-250 mg/l 251-350 mg/l 351-450 mg/l
Cloro 20-35 mg/l 36-50 mg/l 51-65 mg/l 66-80 mg/l
pH 7.1-7.5 6.6-7.0 6.1-6.5 5.5-6.0
Temperatura (oF) 73o-79o 80o -86o 87o -93o 94°-100°

7. A descarga média nas estações 1, 5 e 7 era de 408, 673 e 809 pés cúbicos por segundo (cfs)
respectivamente. Coma base nos dados característicos para o fluxo médio, a concentração de
sulfato nestas estações era 175, 280 2 420 mg/l.

a) Qual foi o aumento da concentração de sulfato em toneladas por dia entre as estações 1 - 5 e 5
-7?

b) Qual a principal fonte deste sulfato ?

8. O que você esperaria em termos de concentração de cloro nos rios Eagle Creek e West Branch
Mahoning ? Explique.

9. Os constituintes do rio Mahoning na área de Youngstown excederam qualquer limite para água
potável ? Se afirmativo, quais ?
94

PRINCIPAIS ELEMENTOS TRAÇOS ENCONTRADOS NAS ÁGUAS (Manaham, 1993)

Elemento Fonte Efeito/Significado


As Mineração, pesticidas, efluentes tóxico, possivelmente cancerígeno
químicos
Be Carvão, plantas nucleares e industria toxidade aguda e crônica, possivelmente
espacial, mineração cancerígeno
B Carvão, detergentes, efluentes tóxico para algumas plantas
industriais
Cd resíduos industriais, efluentes de Substitui o Zn bioquimicamente, causa
mineração, galvanoplastia, tubos de hipertensão, problemas renais, destroi o
água, lonas de freio, cigarro. tecido testicular e células vermelhas
Cr galvanoplastia, torres de resfriamento possivelmente cancerígeno
(aditivo), curtume, normalmente é
encontrado como Cr (VI)
Cu galvanoplastia, efluentes industriais e elemento traço essencial, não muito tóxico
domésticos, mineração, controle de para animais, tóxico em níveis moderados
algas para as plantas.
F(F-) rochas, efluente industrial, tratamento de previne a cárie dentária (1 mg/l), em
água excesso (5 mg/l) causa manchas nos
dentes e danos nos ossos
I (I-) efluentes industriais, salmouras naturais previne contra o bócio
e intrusões de águas salgadas
Fe corrosão de metais, efluentes nutriente essencial (hemoglobina) não é
industriais, drenagem de minas de tóxico
sulfetos
Pb indústria, mineração de sulfetos e tóxico, provoca anemia, problemas renais e
carvão, gasolina anomalias genéticas
Mn mineração, efluentes industriais relativamente tóxico para animais, tóxico
para as plantas quando em excesso
Hg efluentes industriais, mineração, toxidez aguda e crônica
pesticidas, carvão, baterias elétricas
Mo efluentes industriais, fontes naturais, possivelmente tóxico para animais,
aditivo para água de torres de essencial para as plantas
resfriamento
Se rochas, enxofre, carvão e petróleo essencial em baixas concentrações, tóxico
em concentrações elevadas, possivelmente
cancerígeno
Ag rochas, mineração causa descoloramento da pele, mucosas e
olhos
Zn efluentes industriais, plumbagem, elemento essencial em muitas
galvanoplastia, carvão, mineração metaloenzimas, cicatrizante, tóxico para
plantas em altas concentrações

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