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APOSTILA

ASSOREAMENTO E
DESASSOREMAMENTO

APOIO: REALIZAÇÃO:
Capacitação para difundir a temática do assoreamento e desassoreamento para os
membros do Comitê da bacia hidrográfica do Rio Itapocu, bem como para aqueles que
tenham interesse de conhecimento nesta área.

Ministrantes:
- Profa. Dra. Virgínia Grace Barros:
Laboratório de Hidráulica e Hidrologia – UDESC;
Laboratório de Ciências das águas – LaCia – UDESC.

- Prof. Dr. Leonardo Romero Monteiro:


Laboratório de Hidráulica e Hidrologia – UDESC;
Laboratório de Ciências das águas – LaCia – UDESC.

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Preâmbulo

Este material tem como propósito capacitar representantes de assembleias de comitês


de bacias hidrográficas. Procura, usando linguagem simples, explicar processos naturais
complexos. Desta forma, não há a pretensão de se aprofundar na temática, mas trazer à
realidade de diferentes públicos definições e explicações que auxiliem o entendimento
de processos que ocorrem em recursos hídricos e, consequentemente, na sua gestão.

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SUMÁRIO

1. Introdução.......................................................................................................... 05

2. O que é sedimento?.......................................................................................... 05

3. O que é transporte de sedimentos em rios?.................................................. 07

4. Causas do Assoreamento/Sedimentação....................................................... 10

5. Fatores que influenciam o transporte de sedimentos................................... 11


5.1 Fluxo de água.......................................................................................... 12
5.2 Eventos climáticos e nível da água...................................................... 12
5.3 Influência Humana.................................................................................. 13

6. Problemas causados pelo excesso ou falta de sedimentos......................... 13


6.1 Muito sedimento..................................................................................... 14
6.2 Pouco sedimento.................................................................................... 15
6.3 Sedimentos contaminados.................................................................... 16
6.4 Erosão próximo a estruturas – Fossas de erosão ............................. 17

7. Técnicas de desassoreamento........................................................................ 19

Referências...........…………………………………………………….………………... 21
1. Introdução

Assoreamento e Desassoreamento são fenômenos naturais em que sedimentos são


agregados ou desagregados, respectivamente, de certo leito fluvial. Estes são
fenômenos relevantes pois modificam o balanço de solo e podem prejudicar atividades
humanas importantes, como a agricultura.

O estudo da dinâmica dos sedimentos em corpos hídricos é muito importante sob


diversas perspectivas. Entre elas podem ser destacadas: dimensionamento de obras
hidráulicas; análise de impacto ambiental de empreendimentos e atividades; balanço
de solo na agricultura; análise de erosão; estimativa de assoreamento; pesquisas
diversas entre outros.

O presente documento apresenta o conceito de sedimento, como ocorre o seu transporte,


quais são as principais causas do assoreamento/desassoreamento e quais são os
problemas causados por estes fenômenos.

2. O que é sedimento?

A palavra sedimento refere-se ao conglomerado particulado de materiais orgânicos e


inorgânicos que podem ser transportados pela água, vento ou ainda gelo (1). Embora o
termo seja frequentemente usado para indicar matéria mineral do solo (por exemplo,
argila, silte e areia), ele também se refere à decomposição orgânica das substâncias e
ao material biogênico inorgânico. A maioria dos sedimentos minerais são formados pela
erosão e pelo clima, enquanto os sedimentos orgânicos são tipicamente provenientes de
detritos e materiais em decomposição, como as algas (1), Figura 1.

Figura 1: Tipos de sedimentos.


Fonte: Modificado de https://www.fondriest.com/environmental-easurements/parameters/hydrology/
sediment-transport-deposition/

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Quanto maior for a partícula, maior peso esta possui, então maior é a força necessária
para tirá-la da inércia. Partículas muito pequenas possuem maior capacidade de se
suspender na água, sendo muito baixa a força necessária para sua locomoção. A Tabela
1 representa o tamanho médio das partículas do sedimento para cada tipo de solo. No
entanto, durante uma enchente ou outro evento de alto fluxo, até rochas grandes podem
ser classificadas como sedimentos quando transportadas a jusante. O sedimento é um
elemento que está presente naturalmente em muitos corpos d'água, embora possa ser
influenciado por fatores humanos.

Tabela 1: Classificação do Tamanho das Partículas

Fonte: Adaptado de (5).

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3. O que é transporte de sedimentos em rios?

Transporte de sedimentos em rios é o movimento de partículas orgânicas e inorgânicas


pela água em direção a outro rio, reservatório ou mar (Figura 2). Em geral, quanto maior
o fluxo, mais sedimentos serão transportados. O fluxo de água pode ser forte o suficiente
para suspender as partículas na coluna de água à medida que elas se movem a jusante,
ou simplesmente arrastá-las ao longo do fundo do rio. Os sedimentos transportados
podem incluir matéria mineral, produtos químicos, poluentes e material orgânico. Outro
nome para o transporte de sedimentos é carga de sedimentos (1).

Figura 2: Sedimentos sendo transportados rio abaixo.


Fonte: https://www.fondriest.com/environmental-measurements/parameters/hydrology/sediment-
transport-deposition/

O transporte de sedimentos, a erosão das margens e a mobilidade de canais


representam processos físicos chave dos rios, e seu entendimento é importante para
definir estratégias de restauração e gerenciamento de bacias hidrográficas. Esse
processo muda com o tempo e com a intervenção humana na bacia hidrográfica ou no
próprio rio. A rápida urbanização nas planícies de inundação, a invasão dos leitos dos
rios, as mudanças devido à atividade humana como a agricultura, a pecuária e o
desmatamento na bacia hidrográfica estão causando assoreamento nos rios (ou
sedimentação quando ocorre em reservatórios). O problema do assoreamento em rios é
reduzido pelo aprisionamento de sedimentos em reservatórios e represas. De qualquer
maneira, resulta em perda de volume de armazenamento do reservatório, reduzindo seus
benefícios e vida útil.

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Para fazer a gestão correta dos sedimentos, é desejável uma abordagem diferente para
o gerenciamento de sedimentos, incorporando: (i) conhecimento e gerenciamento de
sedimentos na escala da bacia; (ii) aplicação mais ampla do conhecimento científico
disponível.

Os rios são canais naturais que drenam a água das partes mais altas para as mais baixas
das bacias e para os oceanos. A erosão e o assoreamento são processos geológicos
importantes que levaram grandes quantidades de sedimentos das partes mais altas às
planícies das bacias e formaram grandes planícies férteis, que foram adotadas pelas
civilizações para seu desenvolvimento, atendendo necessidades de água, navegação e
terra fértil.

Com o tempo, os planaltos se desgastam. O material assim erodido se deposita a jusante


e forma bancos e planícies de inundação. À medida que o rio flui da nascente para a foz,
com a redução da declividade do rio a velocidade das águas também é reduzida e,
consequentemente, sua capacidade de transportar os sedimentos, induzindo assim a
deposição do material que está sendo transportando ao longo da rota. Em geral, há
erosão no planalto e deposição e erosão na planície, em função das características
morfológicas que se manifestam nas partes alta, média e inferior de um rio (Figura 3). O
processo de assoreamento está sujeito a vários fatores, incluindo fisiografia, geologia,
meteorologia, hidrologia, características de fluxo e uso e ocupação do solo.

Quando as inclinações do leito são altas e, consequentemente, o fluxo do rio (seu


escoamento) tem muita energia, o rio tem uma tendência a desgastar o leito. Quando as
velocidades do fluxo são reduzidas, parte do material, até então em suspensão, tende a
sedimentar. Para encontrar a declividade mais estável dos taludes do rio, a largura do rio
aumenta serpenteando (fazendo os meandros – as curvas), depositando o sedimento
próximo às extremidades do canal central. Assim, quando se planeja alguma intervenção
no rio, é necessário prever deste fenômeno para manter o equilíbrio do transporte de
sedimentos. Atividades que sejam feitas no rio como: remoção de lodo, mineração,
dragagem, manutenção de profundidade de canal para navegação etc., não devem afetar
o regime do rio além de uma área controlada a montante ou a jusante.

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Figura 3 – Características morfológicas das bacias e relação com a geração e deposição de sedimentos.
Fonte: Modificado de https://www.nps.gov/subjects/geology/fluvial-landforms.htm

A população cada vez maior continua a ocupar as planícies de inundação, por um lado,
e pressiona a mineração de areia, rochas e britas para construção, por outro. O
assoreamento dos rios assume proporções sérias devido à ocupação das planícies de
inundação. Atualmente, também existe a noção de que os problemas de inundação estão
aumentando. A tendência crescente de inundação pode estar atribuída à capacidade de
transporte reduzida dos rios devido à deposição de lodo nos leitos dos rios.

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4. Causas do Assoreamento/Sedimentação

Os rios e córregos que fluem nas planícies aluviais tendem para uma condição de fluxo
estável, mantendo um equilíbrio entre a carga de sedimentos transportada e o volume e
as velocidades alcançadas. Isso é conhecido como regime estável de sedimentos.
Quando os parâmetros de volume e velocidades são modificados, quer devido a uma
menor declividade (entrada na planície), alargamento do canal, partículas de sedimento
em suspensão podem sedimentar. Isso é chamado de assoreamento. Portanto, a erosão
do solo e das partículas de rocha pela água proveniente de uma bacia malcuidada
durante a fase erosiva do regime fluvial e a adição de sedimentos e carga de sedimento
extra pela atividade humana em planícies aluviais modificam o regime natural de
sedimentos do rio e causam deposição inesperada e erosão.

O assoreamento nos rios pode ou não ser cumulativo; enquanto a sedimentação nos
reservatórios é geralmente cumulativa. A taxa de entrada de sedimentos em um
reservatório específico é, em geral, uma função das características da bacia, como área
de drenagem, inclinação média do terreno e do canal, tipo de solo, gerenciamento e uso
da terra e hidrologia, além da saúde da bacia hidrográfica.

Mesmo com uma grande taxa de transporte de sedimentos, pode ser que a localidade
não sofra com problemas de assoreamento, pois depende da capacidade que o rio tem
de carregar estes sedimentos. Desta maneira, os principais fatores responsáveis pelo
assoreamento / sedimentação são:

(i) características físicas e hidrológicas da bacia hidrográfica, como declividade, uso da


terra, cobertura do solo, urbanização, práticas agrícolas, desmatamento e degradação
florestal etc.,

(ii) Intensidade de erosão a bacia hidrográfica (erosão das margens, ravinas, voçorocas
e canais), incluindo a exploração excessiva de minerais;

(iii) qualidade, quantidade e concentração do sedimento trazido pelo rio;

(iv) tamanho, forma e comprimento do reservatório e operação de estratégias que


afetam a eficiência do reservatório.

A erosão do solo é considerada um dos principais impactos ambientais na natureza. O


revolvimento do solo antes do cultivo desagrega-o, facilitando o carreamento dos
minerais pela água das chuvas. A perda de milhares de toneladas de solo agricultável
todos os anos, em consequência da erosão, é um dos mais graves problemas
enfrentados pela economia agrícola. O processo de formação de novos solos, como

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resultado do intemperismo das rochas, é extremamente lento, justificando a gravidade
do problema.

Toda atividade agrícola favorece o processo erosivo, mas algumas culturas facilitam-no
mais que outras (3), (Figura 4).

Figura 4: Perdas de solo pela erosão de acordo com o uso da terra.


Fonte: https://pt.slideshare.net/CarlosGermanoFerreir/apresentao-1-manejo-solos-uems

5. Fatores que influenciam o transporte de sedimentos

O transporte de sedimentos não é constante. De fato, está constantemente sujeito a


alterações. O transporte de sedimento vai depender de uma fonte geradora de
sedimentos e da capacidade que o rio tem em carregar estes sedimentos.

Além das mudanças na carga de sedimentos devido à geologia, geomorfologia e


elementos orgânicos, a fonte de sedimentos pode ser alterada por outros fatores
externos. A alteração no transporte de sedimentos pode resultar de mudanças no fluxo
da água, nível da água, eventos climáticos e influência humana.

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5.1. Fluxo de água

A erosão, transporte ou deposição de sedimento depende do tamanho das partículas e


da taxa de fluxo da água (Figura 5). Outros fatores importantes para o desencadeamento
destes fenômenos é o formato do sedimento e a sua densidade.

Figura 5: Relação entre diâmetro de sedimentos, velocidade de transporte e fenômeno que o sedimento
sofre.
Fonte:https://www.fondriest.com/environmental-measurements/parameters/hydrology/sediment-transport-
deposition/

O fluxo de água, também chamado de descarga de água, ou vazão, é o elemento mais


importante do transporte de sedimentos. O fluxo da água é responsável por captar, mover
e depositar sedimentos. Sem fluxo, o sedimento pode permanecer suspenso ou se
depositar - mas não se move a jusante. O fluxo é necessário para iniciar o transporte.

Dependendo da velocidade deste fluxo, o rio terá uma capacidade maior ou menor de
carregar sedimentos. Como regra geral, quanto maior a velocidade de escoamento maior
será a capacidade de carregar sedimentos.

5.2. Eventos climáticos e nível da água

O transporte de sedimentos depende do fluxo de água para mover uma carga a jusante.
O fluxo de água é variável, afetado não apenas pelo terreno local (por exemplo, declive),
mas pelo nível da água que, por sua vez, é influenciado pela chuva (ou falta dela).

A chuva faz com que os níveis da água subam inicialmente e depois, depois da chuva
cessada, retornem aos níveis anteriores (fluxo de base) ao longo de horas ou dias. As
chuvas, leves ou pesadas, podem afetar o fluxo da água e o transporte de sedimentos.

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A extensão em que um evento climático influenciará o transporte de sedimentos depende
da quantidade de sedimentos disponível. As fortes chuvas em uma área de solo solto e
exposto criarão escoamento, transportando partículas do terreno para o rio. Da mesma
forma, as inundações também transportarão sedimentos da área inundada. De fato, a
maior parte da carga de sedimentos em um rio ocorre durante eventos de inundação (1).

5.3. Influência Humana

Fatores antropogênicos, como barragens e alteração do uso do solo, afetarão a carga e


a taxa de transporte de sedimentos. As barragens afetam o fluxo de água através de
detenção completa ou restrição no fluxo. A restrição no fluxo pode fazer com que o canal
a jusante da barragem se torne “faminto de sedimento", enquanto a carga de sedimentos
atrás da parede da barragem se acumula. Um rio sem sedimentos não será capaz de
fornecer habitats para organismos bentônicos ou peixes que fazem desova. O
reservatório altamente assoreado no reservatório da barragem pode enfrentar problemas
de sedimentos em excesso, incluindo mudanças na vida aquática e o potencial de
proliferação de algas. Por outro lado, quando ocorre a liberação de água de uma
barragem, a vazão a jusante pode aumentar drasticamente. Se a liberação de água for
controlada, ela poderá repor o material do leito, construir barras e outras áreas de habitat.

O uso do solo, como áreas urbanas, fazendas agrícolas e canteiros de obras, afetará a
carga de sedimentos, mas não a taxa de transporte diretamente. Esses efeitos são
indiretos, pois exigem fortes chuvas ou inundações para transportar seus sedimentos
para o rio. No entanto, o uso antropogênico da terra é um dos principais contribuintes
para a sedimentação excessiva devido à erosão e escoamento. Esse aumento ocorre
porque determinadas atividades (exploração madeireira, mineração, construção e
propriedades agrícolas) geralmente expõem ou desagregam a camada superior do solo
removendo a vegetação nativa. Este solo solto é então facilmente transportado para um
rio ou córrego próximo pelo escoamento provocado pela chuva.

6. Problemas causados pelo excesso ou falta de sedimentos

Embora seja necessário sedimento para construir habitats aquáticos e reintroduzir


nutrientes para vegetação submersa, excesso ou escassez de sedimento pode
facilmente causar problemas aos ecossistemas e à segurança. Se as preocupações são
causadas por erosão, acúmulo de sedimentos ou turbidez excessiva da água, a taxa de
transporte de sedimentos é um fator ambiental importante. Além dos problemas

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causados pela quantidade de carga, os sedimentos podem facilmente introduzir poluição
e outros contaminantes nas vias navegáveis, espalhando os poluentes a jusante (1).

6.1. Muito sedimento

Grandes cargas de sedimentos são o problema mais comum observado nas taxas de
transporte de sedimentos. Excesso de sedimentos pode causar má qualidade da água,
proliferação de algas e deposição. Para a vida aquática, o sedimento em suspensão
excessivo pode interromper as migrações aquáticas naturais, além de danificar brânquias
e outros órgãos (1).

A qualidade da água diminui com taxas de transporte de sedimentos altas. A turbidez


pode causar o aumento da temperatura da água (o sedimento absorve mais calor solar
do que a água). O aumento da temperatura da água fará com que os níveis de oxigênio
dissolvido caiam, pois, a água mais aquecida não pode conter tanto oxigênio quanto a
água fria. Sedimentos em suspensão podem impedir que a luz solar atinja plantas
submersas e fitoplanctons, diminuindo ainda mais as taxas de fotossíntese e diminuindo
ainda mais os níveis de oxigênio dissolvido. Se o aumento da carga de sedimentos for
decorrente do escoamento agrícola e urbano, a proliferação de algas pode ocorrer a
partir do aumento da carga de nutrientes transportada para o corpo de água causando o
fenômeno de eutrofização (1).

A deposição regular de sedimentos pode construir barras para habitats aquáticos, mas o
aumento da sedimentação pode destruir mais habitats do que criar. O assoreamento
ocorre quando as taxas de fluxo de água diminuem drasticamente. Esse sedimento fino
pode sufocar larvas de insetos, ovas de peixes e outros organismos bentônicos quando
ele se deposita na coluna de água.

A deposição também pode alterar as margens de rios à medida que uma carga de
sedimentos alta se deposita. A deposição de sedimentos é responsável por criar
estuários, deltas e leques aluviais, mas o acúmulo excessivo de sedimentos pode
acumular obstruções e diques. Esses depósitos impedem o rio de alcançar outros rios,
várzeas ou zonas estuarinas. O aumento da sedimentação é considerado uma das
principais causas da degradação do habitat. Dependendo da geologia e do terreno locais,
o acúmulo de sedimentos pode danificar os ecossistemas aquáticos, não apenas nos
locais a jusante, mas nas cabeceiras a montante, à medida que os depósitos crescem
(1).

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O assoreamento de rios faz com que ele tenha capacidade de transportar menos água,
e parte da água que antes escoava no rio passar a escoar pelas planícies provocando
inundações. Eventos extremos costumam aumentar a deposição de sedimentos,
principalmente em bacias em que também ocorrem escorregamentos de encostas. Parte
do movimento de terra pode ter destino o rio, que receberá uma carga de sedimentos
excessiva. Assim, um evento extremo facilita que outras inundações surjam futuramente,
havendo a necessidade de intervenções de dragagem para que isso seja evitado.

6.2. Pouco sedimento

Embora o excesso de sedimentos seja a preocupação mais comum, a falta de transporte


de sedimentos também causa problemas ambientais. A falta de sedimentos é
frequentemente provocada por estruturas artificiais, como barragens, embora barreiras
naturais também possam limitar o transporte de sedimentos. Sem transporte e deposição
de sedimentos, novos habitats não podem ser formados e sem algum enriquecimento de
nutrientes (transportados com sedimentos para a água), a vegetação submersa não pode
crescer. Assim, muito pouco sedimento pode alterar um ecossistema a ponto de espécies
nativas não sobreviverem alterando severamente o ecossistema.

Além do efeito sobre a vida aquática, a perda de transporte e deposição de sedimentos


pode causar alterações físicas no terreno. A jusante dos rios represados, é comum
observar zonas ripárias (ciliares) e zonas úmidas em retrocesso devido à perda de
sedimentos transportados. A erosão a jusante de uma barra de rio é comum, assim como
a erosão da costa quando não há uma carga de sedimentos suficientemente grande
atualmente transportada pela água.

A erosão costeira pode estar ligada à falta de sedimentos - quando os rios não trazem
sedimentos suficientes para serem depositados na praia, (Figura 6). Em muitos casos é
necessária a reconstrução destes ambientes para que eles não percam as suas
características usuais.

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Figura 6: Erosão costeira.
Fonte:https://www.fondriest.com/environmental-measurements/parameters/hydrology/sediment-
transport-deposition/).

6.3. Sedimentos contaminados

Sedimentos contaminados são os materiais acumulados no leito do rio que contêm


substâncias tóxicas ou perigosas que são prejudiciais à saúde aquática, humana ou
ambiental. Esses contaminantes geralmente vêm de poluição pontual (como águas
residuais industriais ou outras fontes de efluentes), embora também possam entrar a
água através do escoamento superficial de solos contaminados (resíduos de minas,
aterros e áreas urbanas), derramamentos de produtos químicos ou depósitos da poluição
do ar.

Existem contaminantes que se degradam muito lentamente e eles podem ser uma fonte
de problemas ambientais por longos períodos, mesmo que não sejam ressuspendidos
com frequência. Os contaminantes mais problemáticos nos sedimentos suspensos e no
leito são metais e bioacumuláveis persistentes tóxicos (PBTs), como pesticidas e metil-
mercúrio.

Estaleiros e outras fontes pontuais podem poluir um corpo de água. Esses contaminantes
podem se depositar no fundo e serem liberados lentamente ao longo do tempo ou serem
levados com outros sedimentos. A remediação de sedimentos pode envolver dragagem
para remover o sedimento contaminado, Figura 7.

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Figura 7: Estaleiros e outras fontes pontuais podem poluir um corpo de água. Esses contaminantes podem
se depositar no fundo e serem liberados lentamente ao longo do tempo ou serem levados com outros
sedimentos.
Fonte:https://www.fondriest.com/environmental-measurements/parameters/hydrology/sediment-transport-
deposition/

6.4. Erosão próximo a estruturas – Fossas de erosão:

A erosão pode ocorrer em qualquer lugar onde haja fluxo de água e material erodível.
Erosão local é o termo de engenharia para a remoção isolada de sedimentos em um
local, como a base de estruturas subaquáticas, incluindo cais e pilares de pontes. Essa
erosão localizada pode causar falhas estruturais, pois estas construções sobre a água
dependem do sedimento do leito para apoiá-los.

Embora a erosão possa ocorrer em qualquer lugar, é mais provável que ocorra nas vias
navegáveis aluviais (leito erodível e margens. Condições críticas de erosão geralmente
ocorrem durante períodos de alto fluxo, como durante um evento de inundação. A taxa
de fluxo mais alta pode captar mais sedimentos e a turbulência ocorre frequentemente
na base de um píer, uma vez que interrompe e acelera o fluxo. Essa turbulência, por sua
vez, aumentará as forças que atuam no leito de um rio, suspendendo partículas
adicionais e iniciando um maior transporte de sedimentos. Se for removido muito
sedimento, a estrutura poderá entrar em colapso pela a ausência do apoio onde foi
construída.

Nas pontes acontecem geralmente três tipos de erosões, inclusive simultaneamente: a)


Erosão generalizada no leito do rio no longo tempo, a montante, a jusante ou sob a ponte.

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b) Erosão de contração causada pelo estreitamento da seção transversal de
escoamento, aumentando a velocidade e a capacidade erosiva da água. c) Erosão
localizada (fossa de erosão) que se desenvolve em torno dos pilares e encontros, Figura
8, e 9 (4).

Figura 8: Tipos de erosões em pontes.


Fonte: PATRÍCIO, 2012, apud 4.

Figura 9: Erosão na fundação do encontro.


Fonte: PATRÍCIO, 2007, apud 4.

Além das pontes, observa-se, com certa frequência, a ruptura parcial ou total dos aterros
nas cabeceiras das pontes. Isso ocorre devido às perturbações do equilíbrio das terras

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junto a essas descontinuidades do maciço estradal e à infiltração de água entre o
terrapleno e a estrutura, situação típica das cheias (4), (Figura 10).

Figura 10: Destruição causada pela erosão nas saias do aterro de acesso de uma ponte. Fonte: 4.

7. Técnicas de desassoreamento

A intervenção humana para desassorear corpos hídricos é muito comum e necessária


para o gerenciamento dos recursos hídricos. Em lagos e reservatórios o
desassoreamento pode melhorar a qualidade da água reduzindo o efeito de eutrofização.
Em rios, a retirada de sedimentos faz com que ele tenha uma capacidade maior de
conduzir fluxo, reduzindo a possibilidade de inundações, além de manter sua
navegabilidade.

A principal técnica utilizada é a de dragagem, um processo que retira sedimento do fundo


de rios através de dragas. A draga é um tipo especial de embarcação ou construção
projetada para retirar material sedimentar do fundo de cursos de água não muito
profundos. O processo pode ser através de pás, quando existem muitos materiais
sólidos, ou por bombas de sucção (Figura 11), quando o leito não possui sedimentos
graúdos, como rochas.

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Figura 11: Método de dragagem por sucção.
Fonte: https://www.damsafety.in/ecm-includes/PDFs/TS5_3.pdf

Quando se tem acesso fácil a este rio, como no caso de rios urbanos como o Rio Tietê
em São Paulo, ou o Arroio Dilúvio em Porto Alegre, simples escavadeiras podem ser
utilizadas para a remoção do sedimentos, devendo-se ter cuidado com o
desmoronamento do leito do rio, devido ao grande peso da escavadeira. Entretanto,
quando se tem difícil acesso e os métodos de dragagens não forem adequados (por
serem muito caros ou de difícil implementação) pode-se utilizar escavadeiras anfíbias
que funcionam dentro da água (Figura 12).

Figura 12: Escavadeira anfíbia retirando lodo de um lago.


Fonte: https://www.cleantecinfra.com/desilting

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O desenvolvimento da civilização se deu às margens dos rios, para utilizar os serviços e
suas águas. Barragens são construídas ao longo dos cursos dos rios para permitir que
as sociedades, um pouco afastadas dos rios, utilizem os recursos hídricos para seu
sustento e compartilhe a carga de sedimentos comum. Portanto, questões de sedimentos
em barragens e rios não podem ser tratadas separadamente. Para um manejo sensato
e sustentável de sedimentos em rios e reservatórios, é necessário adotar uma política de
manejo de sedimentos. Para tanto é necessário fazer um plano de monitoramento de
concentração de sedimentos, localização de pontos de erosão ou acúmulo além de
caracterização. Assim, pretende-se manter os rios em bom estado para uso de suas
águas, que é um dos objetivos dos comitês de Bacia Hidrográfica.

REFERÊNCIAS

1 - Fondriest Environmental, Inc. “Sediment Transport and Deposition.”


Fundamentals of Environmental Measurements. 5 Dec. 2014. Disponível em: <
https://www.fondriest.com/environmental-
measurements/parameters/hydrology/sediment-transport-deposition/ >. Acesso em:
22/04/2020.

2 – River Systems and Fluvial Landforms. Disponível em: <


https://www.nps.gov/subjects/geology/fluvial-landforms.htm >. Acesso em: 22/04/2020.

3 – Costa, C. G. F. Recuperação de rios assoreados e identificação de poluentes e


métodos de controle de despoluição. Disponível em: <
https://pt.slideshare.net/CarlosGermanoFerreir/apresentao-1-manejo-solos-
uems0572015 >. Acesso em 23/04/2020.

4 - Vitório, J. A. P. 2106. Danos e Acidentes Estruturais Causados pela Erosão e


pelas Cheias nas Fundações e nos Aterros de Acesso de Pontes Rodoviárias.
Disponível em < http://www.abpe.org.br/trabalhos2016/6.pdf >. Acesso em 23/04/2020.

5 - LICK, Wilbert J. 2009. Sediment and contaminant transport in surface waters.


Danvers: Taylor & Francis Group, 2009, 387p.

6 – SediCon. Sediment Removal Technology - Presentation. Disponível em <


https://www.damsafety.in/ecm-includes/PDFs/TS5_3.pdf >. Acesso em 23/04/2020.

7- Cleantecinfra. Disponível em < https://www.cleantecinfra.com/desilting >. Acesso


em 23/04/2020.

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