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Geomorfologia

Prof. Arildo João de Souza


Prof.ª Rosimar Bizello Müller

2010
Copyright © UNIASSELVI 2010

Elaboração:
Prof. Arildo João de Souza
Prof.ª Rosimar Bizello Müller

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

551.4
S7293g Souza, Arildo João de.
Geomorfologia/ Arildo João de Souza [e] Rosimar
Bizello Müller. Centro Universitário Leonardo da
Vinci – Indaial:Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 265. p.: il

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-304-4

1. Geomorfologia 2. Geologia – Ciências da Terra


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título

Impresso por:
Apresentação
A Geografia é uma ciência tão fascinante quanto dinâmica ao nos
proporcionar o conhecimento, desde a estrutura do núcleo da Terra e seu
funcionamento, até o topo da atmosfera, passando pelos vários ecossistemas
e naturalmente a origem das variadas formas da superfície rochosa do
planeta, objeto de estudo desta disciplina.

Originado das palavras gregas geo (Terra), morfo (forma) e logia (estudo),
a Geomorfologia é, portanto, o estudo das formas da Terra ou do relevo terrestre.

Todo conhecimento científico necessita de uma base conceitual,


construída pelos primeiros desbravadores do conhecimento, sobre o
funcionamento de nosso planeta, e, porque não dizer, de nossa única casa.

Abordaremos os fundamentos conceituais, ou seja, origem e evolução


do conhecimento das formas do relevo terrestre, ressaltando os principais
ícones mundiais e nacionais deste importante conhecimento. Afinal, vivemos
na superfície da Terra e dependemos do equilíbrio entre as forças naturais
envolvidas para continuar sustentando a vida.

Sabemos que a crosta terrestre é formada por grandes blocos


rochosos que flutuam sobre o manto, chocando-se uns com os outros,
criando cordilheiras na costa oeste de um continente e fossas abissais na
costa leste, por exemplo, alterando constantemente a superfície do planeta.
Estudaremos, portanto, as forças internas ou endógenas e as forças externas
que atuaram e atuam para criar as mais belas formas de relevo, sejam elas
continentais, costeiras ou submarinas, muitas musas de grandes poetas, mas
que também escondem riquezas e os segredos da história geológica da Terra.

Estudaremos também a degradação ambiental provocada pela


civilização que mudou a face do planeta e ameaça o futuro da espécie humana.

Por último, estudaremos as diferentes técnicas de recuperação ambiental,


empregadas para restaurar a vitalidade de áreas que se tornaram estéreis.

É importante salientar que as informações apresentadas neste caderno


são abordadas de forma sintética e resumida, portanto, não significam um fim
em si mesmas, mas a abertura de muitas portas, através das quais você deve
entrar e se aprofundar, procurando realizar a leitura e estudo de outros autores.

Bom estudo.

Arildo João de Souza e Rosimar Bizello Müller

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os
seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que
possuem o código QR Code, que é um código que
permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA.................................. 1

TÓPICO 1 – GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO......... 3


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 3
2 DEFINIÇÃO E NATUREZA DA GEOMORFOLOGIA ............................................................. 3
3 A EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO.............................................. 4
4 SISTEMAS EM GEOMORFOLOGIA ........................................................................................... 7
4.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A COMPOSIÇÃO DOS SISTEMAS..... 8
4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS EM GEOMORFOLOGIA................................. 9
4.3 O SISTEMA GEOMORFOLÓGICO.................................................................................... 9
5 TEORIAS E MODELOS GEOMORFOLÓGICOS....................................................................... 10
6 O MODELO DE WILLIAM MORRIS DAVIS: CICLO GEOGRÁFICO E PENEPLANO.... 11
6.1 MODELO DE WALTHER PENCK...................................................................................... 14
6.2 O MODELO DE LESTER CHARLES KING: PEDIPLANAÇÃO.............................. 16
6.3 O MODELO DE JOHN T. HACK: A TEORIA DO EQUILÍBRIO DINÂMICO... 19
6.4 SÍNTESE DOS MODELOS DE REFERÊNCIA EM GEOMORFOLOGIA............. 20
7 CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS GEOMORFOLÓGICAS..................................................... 21
8 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA E SUA APLICABILIDADE... 23
9 A GEOMORFOLOGIA NO CONTEXTO DA GEOGRAFIA.................................................... 26
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 27
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 29
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 31

TÓPICO 2 – PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E


DESGASTE DO RELEVO............................................................................................. 33
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 33
2 O PAPEL DOS PROCESSOS ENDÓGENOS NA FORMAÇÃO DO RELEVO..................... 34
2.1 A ATUAÇÃO DOS FENÔMENOS MAGMÁTICOS...................................................... 35
2.2 A ATUAÇÃO DOS FENÔMENOS METAMÓRFICOS................................................. 36
2.3 A ATUAÇÃO DO TECTONISMO........................................................................................ 36
2.3.1 A atuação da orogênese e epirogênese.............................................................................. 37
2.3.2 A atuação dos falhamentos e dobramentos...................................................................... 38
2.3.3 A tectônica de placas e a evolução do relevo.................................................................... 40
3 PROCESSOS EXÓGENOS E SEUS EFEITOS NO RELEVO..................................................... 40
3.1 EROSÃO E DENUDAÇÃO..................................................................................................... 41
3.2 TIPOS E FORMAS DE EROSÃO.......................................................................................... 42
3.2.1 O trabalho erosivo das águas.............................................................................................. 43
3.2.1.1 Erosão pluvial..................................................................................................................... 43
3.2.1.2 Erosão fluvial...................................................................................................................... 45
3.2.1.3 Erosão marinha.................................................................................................................. 46
3.2.2 Erosão glacial......................................................................................................................... 47
3.2.3 A erosão eólica...................................................................................................................... 48
3.2.3.1 Registros erosivos.............................................................................................................. 49
3.2.3.2 Registros deposicionais..................................................................................................... 50

VII
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 52
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 53

TÓPICO 3 – ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA.......................... 55


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 55
2 VERTENTES........................................................................................................................................ 55
2.1 MORFOGÊNESE DAS VERTENTES................................................................................. 56
2.2 EVOLUÇÃO DAS VERTENTES........................................................................................... 61
2.3 A FORMA DAS VERTENTES............................................................................................... 62
2.4 DINÂMICA DAS VERTENTES........................................................................................... 68
2.5 A IMPORTÂNCIA GEOLÓGICA DO ESTUDO DAS VERTENTES...................... 70
3 MOVIMENTO DE MASSA.............................................................................................................. 70
3.1 FATORES CONDICIONANTES.......................................................................................... 72
3.2 TIPOS DE MOVIMENTO DE MASSA.............................................................................. 72
3.3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE ESCORREGAMENTOS E
DESLIZAMENTOS................................................................................................................... 77
3.4 EXEMPLOS DE MOVIMENTOS DE MASSA OCORRIDOS NO BRASIL.......... 77
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 82
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 84

UNIDADE 2 – A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA


E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO E A
GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA........................................................................ 87

TÓPICO 1 – A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL............................................................................... 89


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 89
2 A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL................................................................................................... 89
2.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RIOS......................................................... 90
2.2 OS PADRÕES DE DRENAGEM DOS RIOS..................................................................... 91
2.3 OS TIPOS DE LEITOS FLUVIAIS....................................................................................... 94
2.4 OS TIPOS DE CANAIS FLUVIAIS..................................................................................... 95
2.4.1 Canais retilíneos.................................................................................................................... 95
2.4.2 Canais meandrantes............................................................................................................. 96
2.4.3 Canais anastomosados......................................................................................................... 98
2.4.4 Canais entrelaçados ou ramificados.................................................................................. 98
2.5 LEQUES ALUVIAIS E DELTAICOS.................................................................................. 98
2.6 OS DEPÓSITOS ALUVIAIS................................................................................................... 100
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 103
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 105
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 106

TÓPICO 2 – GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA.................................................. 109


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 109
2 A GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA.................................................................................... 109
2.1 DESCRIÇÃO DO PERFIL LITORÂNEO........................................................................... 110
2.2 OS PROCESSOS MORFOGENÉTICOS RESPONSÁVEIS PELA MORFOGÊNESE
LITORÂNEA............................................................................................................................... 111
2.2.1 As forças marinhas atuantes na morfogênes litorânea .................................................. 113
2.3 ALGUMAS FEIÇÕES LITORÂNEAS ................................................................................ 115
2.3.1 As planícies costeiras............................................................................................................ 115
2.3.2 As escarpas e as falésias....................................................................................................... 116
2.3.3 Restinga.................................................................................................................................. 117

VIII
2.3.4 Tômbolo.................................................................................................................................. 118
2.3.5 Pontal...................................................................................................................................... 118
2.3.6 Baía.......................................................................................................................................... 119
2.3.7 Golfo....................................................................................................................................... 120
2.3.8 Enseada.................................................................................................................................. 120
2.3.9 Recifes..................................................................................................................................... 121
2.3.10 Laguna.................................................................................................................................. 122
2.3.11 Atol........................................................................................................................................ 122
2.3.12 Praia...................................................................................................................................... 123
2.3.13 Dunas costeiras................................................................................................................... 124
3 A GEOMORFOLOGIA CÁRSTICA............................................................................................... 124
3.1 OS SISTEMAS CÁRSTICOS.................................................................................................. 125
3.2 DISSOLUÇÃO DE ROCHAS CARBONÁTICAS........................................................... 126
3.3 DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS CÁRSTICOS.................................................. 127
3.4 AS CAVERNAS E OS CONDUTOS.................................................................................... 128
3.4.1 Sistemas de cavernas............................................................................................................ 128
3.5 AS FORMAS DE RELEVO CÁRSTICO............................................................................. 129
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 133
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 136
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 137

TÓPICO 3 – COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO.................................................................... 141


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 141
2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A................................................................................... 141
COMPARTIMENTAÇÃO TOPOGRÁFICA DO RELEVO......................................................... 141
3 CARACTERÍSTICAS MORFOESTRUTURAIS DAS BACIAS SEDIMENTARES............... 142
3.1 RELEVO TABULAR OU TABULIFORME....................................................................... 143
3.2 RELEVO DO TIPO CUESTA................................................................................................. 146
4 CARACTERÍSTICAS MORFOESTRUTURAIS NAS ÁREAS DE DEFORMAÇÃO
TECTÔNICA........................................................................................................................................ 147
4.1 RELEVO DO TIPO HOG-BACK........................................................................................... 147
4.2 DOMO............................................................................................................................................ 148
4.3 ESTRUTURA APALACHIANA........................................................................................... 149
4.4 RELEVO JURÁSSICO.............................................................................................................. 150
4.5 ESCARPAMENTO DE FALHA............................................................................................ 151
4.6 GRABEN OU FOSSA TECTÔNICA.................................................................................... 152
4.7 HORST OU MURALHA.......................................................................................................... 152
5 ESCUDOS ANTIGOS OU MACIÇOS CRISTALINOS.............................................................. 152
6 AS PRINCIPAIS FORMAS DE RELEVO TERRESTRE.............................................................. 152
6.1 CADEIAS DE MONTANHAS.............................................................................................. 153
6.2 PLANALTOS............................................................................................................................... 157
6.3 PLANÍCIES.................................................................................................................................. 158
6.4 DEPRESSÕES.............................................................................................................................. 160
7 A COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO SUBMARINO......................................................... 163
7.1 PLATAFORMA CONTINENTAL....................................................................................... 163
7.2 TALUDE CONTINENTAL.................................................................................................... 164
7.3 REGIÃO E/OU PLANÍCIE ABISSAL................................................................................ 164
7.4 OUTRAS FORMAS DO RELEVO BATIMÉTRICO....................................................... 164
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 166
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 168

TÓPICO 4 – A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA........................................................................ 171

IX
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 171
2 A ESTRUTURAÇÃO DA GEOMORFOLOGIA NO BRASIL................................................... 172
2.1 AS BASES CONCEITUAIS DA GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA..................... 172
2.2 GEOMORFOLOGIA NO CONTEXTO DA GEOGRAFIA BRASILEIRA............. 174
3 ESTRUTURA GEOLÓGICA DO RELEVO BRASILEIRO......................................................... 180
3.1 ESCUDOS CRISTALINOS OU NÚCLEOS CRATÔNICOS....................................... 181
3.2 BACIAS SEDIMENTARES.................................................................................................... 182
3.3 TERRENOS VULCÂNICOS.................................................................................................. 183
4 AS CLASSIFICAÇÕES DO RELEVO BRASILEIRO................................................................... 184
4.1 CLASSIFICAÇÃO DE AROLDO DE AZEVEDO........................................................... 184
4.2 CLASSIFICAÇÃO DE AZIZ AB’SABER........................................................................... 186
4.3 CLASSIFICAÇÃO DE JURANDYR ROSS........................................................................ 187
5 HIPSOMETRIA DO BRASIL.................................................................................................... 190
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 193
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 195
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 197

UNIDADE 3 – INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE................................... 199

TÓPICO 1 – O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE................................................................... 201


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 201
2 INTEMPERISMO............................................................................................................................... 202
2.1 TIPOS DE INTEMPERISMO................................................................................................. 202
2.2 FATORES QUE INFLUENCIAM NO INTEMPERISMO DOS MINERAIS......... 205
3 A PEDOGÊNESE................................................................................................................................. 206
3.1 COMPOSIÇÃO E FORMAÇÃO DOS SOLOS.................................................................. 206
3.2 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM DOS SOLOS.............................................. 209
3.3 LIXIVIAÇÃO DO SOLO.......................................................................................................... 210
3.4 TIPOS DE SOLOS NO BRASIL............................................................................................ 212
3.5 DEPÓSITOS LATERÍTICOS.................................................................................................. 214
4 COBERTURA VEGETAL - SUA IMPORTÂNCIA NA PRESERVAÇÃO DO SOLO,
DA VIDA E DOS MANANCIAIS AQUÍFEROS.......................................................................... 215
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 217
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 219

TÓPICO 2 – DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E ANTRÓPICAS.......... 221


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 221
2 ORIGEM E CONCEITOS DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL................................................. 221
3 A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NOS ESPAÇOS RURAIS E URBANOS........................... 224
4 DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DE ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS............. 227
5 DESERTIFICAÇÃO............................................................................................................................ 231
5.1 CAUSAS DA DESERTIFICAÇÃO....................................................................................... 232
5.2 CONSEQUÊNCIAS DA DESERTIFICAÇÃO.................................................................. 232
5.3 DESERTIFICAÇÃO NO BRASIL......................................................................................... 233
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 236
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 238

TÓPICO 3 – RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE


RECUPERAÇÃO............................................................................................................. 239
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 239
2 CONCEITO E LEGISLAÇÃO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA................... 239
3 ATIVIDADES DE RECUPERAÇÃO............................................................................................... 243

X
3.1 MÉTODOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO............................................................. 243
3.1.1 Técnica de revegetação........................................................................................................ 244
3.1.2 Técnicas da geotecnia........................................................................................................... 245
3.1.3 Técnica de remediação......................................................................................................... 245
4 EXEMPLOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS.............................................. 245
4.1 RECUPERAÇÃO DE MATAS CILIARES......................................................................... 246
4.2 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS PELA MINERAÇÃO.................... 248
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 252
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 256
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 257
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 259

XI
XII
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
GEOMORFOLOGIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• conhecer os fundamentos teóricos e metodológicos da Geomorfologia;

• compreender o contexto histórico e evolução da Geomorfologia;

• identificar a importância do conhecimento do relevo para a humanidade;

• entender de que forma as forças tectônicas como vulcões, terremotos, mo-


vimento de placas tectônicas etc. atuaram ao longo de bilhões de anos,
para dar a atual conformação do planeta Terra;

• saber como as forças externas ou exógenas atuaram ao longo do tempo


para esculpir as diferentes formas de relevo;

• descobrir o que é uma vertente, sua dinâmica, tipos, importância, equilíbrio;

• saber analisar um movimento de massa identificar a causa do mesmo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em três tópicos, sendo que em cada um deles
você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações
apresentadas.

TÓPICO 1 – GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMOR-


FOLÓGICO

TÓPICO 2 – PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMA-


ÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

TÓPICO 3 – ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO


GEOMORFOLÓGICO

1 INTRODUÇÃO
Ao analisarmos a origem da palavra geomorfologia e a dividirmos em três
radicais gregos: geo-morfo-logia, ou seja, geo = Terra + morfo = forma + logia =
estudo, chegamos à conclusão de que, literalmente falando, é o estudo das formas
da Terra.

Você poderia estar se perguntando: qual a necessidade de se criar


uma ciência para estudar exclusivamente as formas da Terra? Pois bem, basta
observar a variedade de formas de relevo existentes em nosso planeta, para
perceber a complexidade que é estudar este assunto. Ao final deste tópico
você entenderá a importância desta ciência, bem como sua aplicabilidade.
Contudo, primeiramente, procuramos fazer um resgate da gênese e evolução do
conhecimento geomorfológico.

Convidamos você a conhecer e a compreender esta “fantástica” ciência.

2 DEFINIÇÃO E NATUREZA DA GEOMORFOLOGIA


Segundo um dos geógrafos brasileiros mais respeitados no campo da
Geomorfologia, Antonio Christofoletti (1980, p. 1):
A Geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo. As formas re­
presentam a expressão espacial de uma superfície, compondo as
diferentes configurações da paisagem morfológica. É o seu aspecto
visível, a sua confi­guração, que caracteriza o modelo topográfico de
uma área. As formas de relevo constituem o objeto da Geomorfologia.
Mas se as formas existem é porque elas foram esculpidas pela ação
de determinado processo ou grupo de processos. Podemos definir
processo como sendo uma sequência de ações regulares e contínuas
que se desenvolvem de maneira relativamente bem especificada
e levando a um resultado determinado. Dessa maneira, há um
relacionamento muito grande entre as formas e processo.

Para Christofoletti (1980), essa interação entre formas e os processos


constitui o sistema geomorfológico. Este sistema é “aberto”, pois recebe
influência e também atua sobre outros sistemas componentes de seu universo.

3
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

É importante ressaltar que o estudo das formas e dos processos fornece


subsídios teóricos sobre a dinâmica topográfica atual, sob diversas condições
climáticas, contribuindo na compreensão das formas esculpidas pelas forças
endógenas e exógenas. Se analisarmos a escala do tempo geológico, vamos
perceber que muitas topografias foram formadas, transformadas e destruídas
pela erosão ou pelo recobrimento sedimentar. Segundo Christofoletti (1980), as
camadas sedimentares, por exemplo, são importantes fontes de informação e
registros preciosos na interpretação de processos atuantes no passado, bem como
as condições ambientais reinantes naquela época.

3 A EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO


Durante a Idade Média, período em que a Igreja dominava a cultura e o
ensino, o dogma da origem da vida e criação do universo era atribuído como obra
de Deus. Desse modo, a ciência permanecia estática.

No Renascimento (difundido por toda a Europa nos séculos XV e XVI),


muitas explicações e ideias discutidas durante a Idade Média foram refutadas
e outras criadas, com ilustres pensadores como Leonardo da Vinci (1452 - 1519) e
Bernard Palissy (1510-1590). Estes, segundo Christofoletti (1980, p.14), “chegaram
a compreender a influência dos processos subaéreos, mormente o fluvial, na
esculturação das paisagens”. Para Leonardo da Vinci, cada vale foi escavado pelo seu
respectivo rio, e a relação entre os vales é a mesma que entre os rios, além de observar
que os cursos fluviais carregavam materiais de uma parte de terra e os depositavam
em outra parte (CHRISTOFOLETTI, 1980). Pode se dizer que Da Vinci e Palissy foram
os primeiros a questionar e compreender os mecanismos da erosão fluvial.

Apesar de surgirem observações isoladas entre os séculos XVI e XVII, foi


no século XVIII que as observações tornaram-se mais numerosas e importantes,
a exemplo do engenheiro hidráulico frânces L. G. de Buat, autor do Principes d’
hydraulique (1779); Jean Baptiste de Lamarck (1744-1829); Targioni-Tozetti (1712-
1784); Desmarest (1725-1815) e do suíço Bénédict de Sausurre (1740-1799), dentre
outros. (CHRISTOFOLETTI, 1980).

No entanto, o reconhecimento como o primeiro grande fluvialista, bem


como um dos fundadores da moderna Geomorfologia, foi atribuído a James
Hutton (1726-1797). As concepções de Hutton baseavam-se nas observações dos
fenômenos naturais. Para Hutton, “seriam as ações observáveis na superfície do
globo que reduziriam o relevo e permitiriam o arrasamento das montanhas”
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 14). A partir das causas atuais, fundamentou a
teoria do atualismo (o presente é a chave do passado). As concepções de Hutton
foram divulgadas por John Playfair (1748-1819) e principalmente e amplamente
por Charles Leyll (1797-1875) (MARQUES, 2009).

4
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

No decorrer do século XIX, o conhecimento geomorfológico passa por


uma grande transformação. Isso porque nos Estados Unidos e na Europa emergem
vários autores com significativos trabalhos que contribuem no desenvolvimento
da Geomorfologia, tais como: Abraham Werner (1750-1817); Albert Penck (1853-
1945); Andrew Ramsay (1814-1891); Clarence Eduardo Dutton (1841-1912);
Ferdinand von Richthoffen (1833-1905); Grove Karl Gilbert (1843-1918); Jean
Louis Agassiz (1807-1873); John Wesley Powell (1834-1902); Walter Penck (1888-
1923) e William Morris Davis (1850-1934) (MARQUES, 2009).

Segundo Casseti (2005), as diferenças histórico-culturais europeias levaram


à individualização de quadros nacionais contrastantes no que tange ao contexto
político continental, contribuindo assim para que se desenvolvessem correntes
filosóficas e relações escolásticas diferenciadas, levando ao discernimento duas
correntes epistemológicas em geomorfologia. Uma delas, identificada como de
natureza anglo-americana, na qual se evidenciou a aproximação da Inglaterra
e França com os Estados Unidos. Nesta corrente temos as concepções de William
Morris Davis, com sua teoria do ciclo geográfico. A outra corrente tinha raízes
propriamente germânicas e, posteriormente, incorporou a produção publicada
pelos russos e poloneses (CASSETI, 2005). Na geomorfologia alemã, ao contrário da
geomorfologia anglo-americana, os componentes da climatologia ou da biogeografia
eram amplamente integrados. Assim, no século XX, final da década de 1930, os norte-
americanos passaram a se interessar pelas críticas de Penck em relação à teoria de
Davis (teoria davisiana), ocasionando a criação de novos paradigmas.

A influência da corrente alemã se alastrou nos Estados Unidos durante a


Segunda Guerra Mundial. E Lester C. King (1953) foi um dos autores da corrente anglo-
americana a utilizar os princípios de Penck, cujas pesquisas sobre o aplainamento
caracterizavam o centro das atenções geomorfológicas da época (CASSETI, 2005).
Autores que até então estavam vinculados à corrente anglo-americana, como Kirk
Bryan, Jean Dresch e André Cholley, distanciam-se da teoria davisiana. Cholley
(1950), por exemplo, introduz novos conceitos, como a dialética das forças em
sistema aberto. Gradativamente, os autores americanos assumem uma postura mais
crítica em relação à teoria davisiana, criando novos paradigmas, como o do espaço.

De acordo com Casseti (2005), a partir da década de 1940 até a década


de 1960 a quantificação, a teoria dos sistemas e fluxos, bem como o uso da
cibernética assumem a vanguarda nos estudos geomorfológicos. Assim, passa a
ser valorizada a análise espacial e o estudo das bacias de drenagem (STRAHLER,
1954; GREGORY e WALLING, 1973), ao mesmo tempo em que novas posturas
começam a surgir, como a teoria do equilíbrio dinâmico de Gilbert (1880) e
posteriormente Hack (1960) (CASSETI, 2005). Ainda conforme o mesmo autor, os
estudos de Horton (1932, 1945), que já havia estabelecido leis básicas no estudo de
bacias de drenagem utilizando propriedades matemáticas, assumem relevância
no que tange ao estudo da hidrologia. É evidente que outros autores merecem
ser destacados, como H. Baulig (1952), que admite a frequência dos movimentos
crustais e as variações relativas ao nível dos mares, bem como P. Birot (1955), com
sua conclusão de que a evolução geral do relevo encontra-se relacionada a uma
modalidade de ciclo morfológico que ocorre em função do clima e da vegetação.
5
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

Neste contexto, logo após a Segunda Guerra Mundial, devido às


contribuições desenvolvidas na Polônia, Tchecoslováquia e a antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas - Klimaszewski (1983); Demek (1976); Basenina
e Trescov (1972) - emerge a cartografia geomorfológica como instrumento
fundamental na analise do relevo (CASSETI, 2005). Pode-se dizer que o avanço
do mapeamento geomorfológico e seu crescente emprego no que concerne ao
planejamento regional conservam o caráter geográfico da ciência geomorfológica.

Conforme Casseti (2005), apesar da convergência internacional do


conhecimento geomorfológico, as duas vertentes e/ou tendências (anglo-americana
e alemã) apresentam-se razoavelmente diferenciadas, mesmo com a incorporação
gradativa da postura alemã à americana, evidenciada gradativamente a partir do
Simpósio de Chicago (1939).

Estudos integrados da paisagem, sob a ótica dos geossistemas, valorizando


a perspectiva geomorfológica alemã, têm sido desenvolvidos por autores
soviéticos e franceses, como Bertrand (1968); Tricart (1977) e Sochava (1972).

A figura a seguir procura ilustrar esquematicamente a tendência anglo-


americana e a tendência germânica, bem como seus precursores e seguidores.
Observe-a.

E
IMPORTANT

Prezado (a) acadêmico (a)


No link material de apoio (AVA) desta disciplina, você poderá visualizar todas as figuras coloridas.

6
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

FIGURA 1 – FILOGÊNESE DA TEORIA GEOMORFOLÓGICA

Tendência Anglo - Americana Tendência Germânica

W. M. Davis (1899) F. V. Richthofen (1886)


C.A. Cotton (1942) A. Penck (1894)

Ruptura Epistemológica W. Penck (1924) S. Passarge


(1913)

A.N. Strahler L.C. King Klimaszewski


(1954) (1953) (1963)
J. Budel C. Troll
(1948) (1932)
Basenina e
J. T. Hack (1960) Trescov (1972)
R. J. Cholley (1962)
N. J. Shrove (1975)
Cartografia
Geomorfológica

Análise Teoria da Cartografia


Morfométrica Pediplanação Climatogenètica
ca
Teoria Geoecologia
Probalística e Ordenação
Teoria do Ambiental
Equilíbrio
Dinâmico
Kügler
(1976)
Schumm e Licht (1965)
Morley e Zunafer (1976)
Thomas e Brunsden (1977)

FONTE: Casseti, 2005 (adaptada de ABREU, 1983)

As críticas fundamentadas ao modelo davisiano respondem por


uma verdadeira ruptura epistemológica na perspectiva anglo-americana,
aproximando-se cada vez mais das bases que subsidiam a tendência germânica.

4 SISTEMAS EM GEOMORFOLOGIA
Para facilitar seu entendimento é importante que fique clara a definição
de um sistema. Este pode ser definido como “o conjunto dos elementos e das
relações entre si e entre os seus atributos”. (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 2).

7
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

A aplicação da teoria dos sistemas na geomorfologia tem auxiliado para


melhor focalizar as pesquisas e também para delinear com maior exatidão o
ramo de estudo desta ciência. Na geomorfologia, a teoria dos sistemas gerais foi
introduzida com os trabalhos de Arthur N. Strahler (1950; 1952) e posteriormente
utilizada, aprimorada e discutida por outros autores. Contudo, não podemos
deixar de destacar as contribuições de John T. Hack (1960), Richard J. Chorley
(1962) e Alan D. Howard (1965), com seus trabalhos básicos e essenciais.
(CHRISTOFOLETTI, 1980).

4.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A COMPOSIÇÃO


DOS SISTEMAS
Para Christofoletti (1980), no estudo da composição dos sistemas, vários
aspectos importantes precisam ser considerados, tais como: a matéria, a energia
e a estrutura.

Matéria → corresponde ao material que vai ser mobilizado através do


sistema. Ex.: no sistema hidrográfico, a matéria corresponde à água e aos detritos.

Energia → corresponde às forças que fazem o sistema funcionar, gerando


a capacidade de realizar o trabalho. Ex.: o escoamento das águas ao longo dos rios,
a movimentação dos fragmentos detríticos ao longo das vertentes, o movimento
das ondas.

Estrutura → é constituída pelos elementos e suas relações, expressando-


se através do arranjo de seus componentes. Ex.: um rio é o elemento no sistema
hidrográfico, mas pode ser concebido como sistema em si mesmo. Você ficou
confuso? Vejamos outro exemplo: um carro é elemento no sistema de trânsito,
mas pode representar um sistema completo em sua unidade. De acordo com
Chistofoletti (1980), na estrutura do sistema, três características principais
precisam ser analisadas:

• Tamanho → determinado pelo número de variáveis que o compõem.

• Correlação → a correlação entre as variáveis em um sistema expressa o modo


pelo qual elas se relacionam.

• Causalidade → a direção da causalidade mostra qual é a variável independente,


a variável que controla, e a dependente, aquela que é controlada, de modo que
a última sofre modificação se a primeira se alterar.

8
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS EM GEOMORFOLOGIA


Os sistemas podem ser classificados de acordo com o critério funcional ou
conforme a sua complexidade estrutural. No que concerne ao critério funcional,
Forster, Rapoport e Trucco distinguem alguns tipos de sistemas. Vejamos quais
são eles, conforme Christofoletti (1980, p. 3-6).

• Sistemas isolados → são aqueles que, dadas as condições iniciais, não sofrem
mais nenhuma perda nem recebem energia ou matéria do ambiente que os
circundam.

• Sistemas não isolados → mantêm relações com os demais sistemas do


universo no qual funcionam, podendo ser subdivididos em: Fechados (quando
há troca de energia, mas não de matéria) e Abertos (ocorrem constantes trocas
de energia e matéria, tanto recebendo como perdendo).

• Sistemas morfológicos → são compostos somente pela associação das


propriedades físicas do fenômeno, constituindo os sistemas menos complexos
das estruturas naturais.

• Sistemas em sequência → são compostos por uma cadeia de subsistemas,


possuindo tanto magnitude espacial quanto localização geográfica, que são
dinamicamente relacionados por uma cascata de matéria ou energia.

• Sistemas de processos-respostas → são formados pela combinação de sistemas


morfológicos e sistemas em sequência.

• Sistemas controlados → são aqueles que apresentam a atuação do homem


sobre os sistemas de processos-respostas.

4.3 O SISTEMA GEOMORFOLÓGICO


Vimos anteriormente que a geomorfologia estuda as formas de relevo.
Assim, segundo Christofoletti (1980), podemos distinguir dentro do “universo”
geomorfológico os seguintes sistemas antecedentes considerados os mais importantes
para a compreensão das formas de relevo: sistema geológico, climático, biogeográfico
e antrópico. Vejamos algumas características de cada um desses sistemas.

 Sistema geológico: é a base sobre a qual se desenvolvem todos os sistemas


e atuam todos os processos, já que é o tipo de rocha, através da disposição e
variação litológica, origem e formação geológica, que determinará o tipo de
solo existente, e sua resistência ou não ao intemperismo.

9
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

 Sistema climático: exerce forte influência sobre os demais, sendo um dos


sistemas com maior poder de transformação sobre o relevo. É o clima
que alimenta e mantém o dinamismo do processo, através da variação de
temperatura, umidade e movimentos atmosféricos, elementos aos quais todos
os sistemas vivos necessitam se adaptar ou migrar, sob pena de serem extintos.

 Sistema biogeográfico: é formado pela cobertura vegetal e pela vida animal,


que atuam como fornecedores e consumidores de matéria, no qual vale a
máxima de Lavoisier: “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”
O sistema exerce também forte influência na alteração das formas do relevo.

 Sistema antrópico: é o elemento responsável por alterar o equilíbrio entre todos


os sistemas e por alterar a distribuição de energia e matéria dentro dos sistemas.

Para Christofoletti (1980), estes sistemas são os controladores mais


importantes do sistema geomorfológico. Contudo, o sistema geomorfológico
também atua sobre estes sistemas, por meio do mecanismo de retroalimentação.
Observe o esquema a seguir:

FIGURA 2 – OS SISTEMAS ANTECEDENTES CONTROLADORES DO SISTEMA


GEOMORFOLÓGICO

CLIMA

PROCESSOS E
ANTRÓPICO BIOGEOGRAFIA
FORMAS

GEOLOGIA

FONTE: Christofoletti (1980)

5 TEORIAS E MODELOS GEOMORFOLÓGICOS


Para explicar a evolução do modelado terrestre foram criadas algumas
teorias geomorfológicas. Cada teoria proposta procura elucidar os fatos, bem
como, emprega uma linguagem composta de um vocabulário específico.
(CHRISTOFOLETTI, 1980). É importante destacar que em virtude das muitas
teorias, o mesmo termo pode, algumas vezes, designar um conceito diferenciado.

10
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

Desse modo, torna-se importante conhecer as teorias e terminologias geomorfológicas.

Segundo Christofoletti (1980), na geomorfologia existem diferentes teorias


evolutivas, associadas a bases teóricas que, por sua vez, expressam o conhecimento
filosófico de uma determinada época. No caso das teorias geomorfológicas, uma
mesma teoria pode possibilitar a construção de vários modelos, que possuem
uma função lógica dentro delas, isso porque são elaborados dedutivamente e
permitem que as mesmas sejam testadas. (CHRISTOFOLETTI, 1980).

Neste contexto, cada pesquisador deve adotar uma concepção filosófica clara,
ou seja, adotar um modelo e/ou teoria que permita ao pesquisador estruturar seu
trabalho e nortear seu modelo explicativo sobre a dinâmica evolutiva da paisagem.

Vejamos as principais teorias e modelos que procuram explicar a evolução


do modelado terrestre. Atente para o que difere um modelo do outro.

6 O MODELO DE WILLIAM MORRIS DAVIS: CICLO


GEOGRÁFICO E PENEPLANO
Segundo Marques (2009), para William Morris Davis (1899), o ciclo geográfico
constitui o primeiro conjunto de concepções que poderia descrever e explicar, de
modo coerente, a gênese e a sequência evolutiva das formas de relevo existentes na
superfície terrestre. O ciclo iniciava-se com rápido soerguimento, oriundo pelas forças
endógenas (internas), de superfícies aplainadas (peneplano) que se elevariam criando
desnivelamento em relação ao nível do mar. A atuação da água corrente, bem como
a da erosão normal sob o relevo, ocasionaria sua dissecação e, consequentemente,
o desgaste de sua topografia, criando assim uma nova superfície aplainada. A
ocorrência de um novo soerguimento daria lugar a um novo ciclo erosivo.

Neste processo cíclico, gradativamente formas típicas foram sendo


modeladas, caracterizando sucessivos momentos evolutivos. Assim, para Davis,
os processos de denudação compreendem três estágios fundamentais: juventude,
maturidade e senilidade. (BIGARELLA, 2003). A fase de juventude inicia-se quando
uma região aplainada é uniformemente soerguida em relação ao nível de base
(nível do mar) no qual desembocam os cursos fluviais. Nesta fase inicial há poucos
tributários e amplos interflúvios. Na fase de maturidade os progressos de erosão já
estão bem desenvolvidos para que a drenagem esteja perfeitamente organizada e o
trabalho das forças harmoniosamente combinado. (CHRISTOFOLLETI, 1980). Nesta
fase, ocorre o desenvolvimento completo das redes de drenagem. No que tange
ao estágio de senilidade, na visão de Davis, a superfície do terreno seria reduzida
quase que a um plano (peneplano) pelo processo de peneplanização. Para você
ter uma ideia, nesse último estágio os vales seriam largos, com rios meandrantes,
podendo ocasionar relevos residuais como monadnocks (BIGARELLA, 2003). Para
Davis, a meandração significava a senilidade do sistema fluvial.

11
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

E
IMPORTANT

“Peneplanização é o conjunto de processos ou sistema de erosão que degrada,


ou melhor, regulariza, as asperezas de uma superfície” (GUERRA; GUERRA, 1997, p. 471).
Segundo Guerra e Guerra (1997), Monadnock são consideradas elevações residuais que
resistem mais à erosão, em áreas peneplanizadas. Este termo também é usado como
sinônimo de testemunho (butte temoin).

As figuras a seguir procuram ilustrar os três estágios responsáveis pelos


processos de denudação do relevo segundo Davis. Observe-as.

FIGURA 3 – OS TRÊS ESTÁGIOS RESPONSÁVEIS PELA DENUDAÇÃO DO


RELEVO SEGUNDO DAVIS

FONTE: Christofoletti (1980)

A próxima figura procura sintetizar os três estágios (juventude, maturidade e senilidade).

12
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

FIGURA 4 – CICLO IDEAL COM UM RELEVO REAL MODERADO

Juventude Maturidade

Senilidade

FONTE: Casseti (apud RICE, 1982)

O relevo, ao atingir o estágio de senilidade segundo Davis, seria submetido


a um novo e rápido soerguimento que implica­ria em uma nova fase, denominada
rejuvenescimento, dando sequência ao ciclo evolutivo da morfologia. (CASSETI, 2005).

De acordo com as concepções de Davis, no decorrer da história do


tempo geológico, os continentes seriam reduzidos a um peneplano, “se não
fossem os levantamentos crustais diferenciais do terreno ocorridos, seja pelos
movimentos orogênicos, arqueamento, falhamento ou pela epirogênese, além do
vulcanismo responsável pelos derrames de lavas e pelos depósitos piroclásticos”.
(BIGARELLA, 2003, p. 1125). Ainda conforme este mesmo autor, nessas condições
os processos erosivos atuam sobre os diferentes tipos de rochas, originando
distintas paisagens com montanhas de cristas agudas, destacando-se também as
estruturas dobradas das sinclinais e anticiclinais, além de planaltos e chapadões
com escarpas, bem como, colinas.

Por várias décadas essa concepção de Davis permeou o conhecimento


dos geólogos e geomorfólogos. Contudo, segundo Marques (2009), o modelo
teórico de Davis, em alguns aspectos, gerou críticas, dentre elas cabe destacar:
o fato de o modelo ser concebido para áreas de clima temperado; a necessidade
de um rápido soerguimento do relevo, seguido por um período muito longo de
estabilidade tectônica; a colocação das condições de equilíbrio, como resultado a
ser obtido no final do ciclo.

Apesar das críticas relativas ao modelo sugerido por Davis, muitos


geomorfólogos o aceitam enquanto noção de um sistema evolucionário. Pode se
dizer que o caráter cíclico utilizado por Davis como modelo evolutivo constitui,
no conceito científico geral, estágio embrionário de qualquer natureza do
conhecimento. (CASSETI, 2005).

Você muito provavelmente ficou curioso em conhecer fotograficamente


esse ilustre autor cuja teoria representou a primeira concepção desenvolvida, pode-
se dizer, de modo mais completo. Isso porque, nas obras de seus antecessores, as
formas de relevo eram explicadas pelos processos, mas nunca foram pontuadas
em séries evolutivas coerentes, como demonstrou Davis.
13
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

FIGURA 5 – IMAGEM DE WILLIAM MORRIS DAVIS

WILLIAM MORRIS DAVIS

FONTE: Disponível em: <http://www.geog.niu.edu/images/Davis.


gif>. Acesso em: 13 maio 2010.

6.1 MODELO DE WALTHER PENCK


Walther Penck (1924) foi um dos principais críticos do sistema de Davis,
principalmente ao discordar que a denudação só teria início após o término
do soerguimento, como pensava Davis. Para Penck, a denudação acontecia
concomitantemente ao soerguimento, com intensidade diferenciada pela ação do
tectonismo.

ATENCAO

De acordo com Guerra e Guerra (1997, p. 187), “denudação ou desnudação é o


trabalho gliptogenético de desbastamento das diversas rochas da superfície do globo”. Em
outras palavras, a denudação é o desgaste das formas de relevo mais salientes devido à ação
dos agentes erosivos.

Segundo Casseti (2005), as críticas de Penck estão fundamentadas no


método empregado por Davis e na ausência de conexão com a ciência geográfica,
uma das principais preocupações da escola germânica.

Penck propôs que, em caso de forte soerguimento da crosta, ocorreria uma


correspondente incisão do talvegue (linha de maior profundidade no leito fluvial),
que por sua vez implicaria na aceleração dos efeitos denudacionais em razão do
aumento do gradiente da vertente. Caso o efeito denudacional não acompanhasse de
imediato a intensidade do entalhamento do talvegue, ocorreria o desenvolvimento
de vertentes convexas. Desse modo, conclui-se que Penck levou em consideração
a correspondência entre soerguimento, incisão e denudação, valorizando a relação
processual, própria da concepção germânica. (CASSETI, 2005).
14
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

Ainda conforme Casseti (2005), outra situação proposta por Penck corresponde
à existência de um soerguimento moderado da crosta, com proporcional incisão
do talvegue, o que ocasionaria uma compensação equilibrada pelos efeitos
denudacionais, resultando no desenvolvi­mento de vertentes retilíneas.

Ainda de acordo com o mesmo autor, Penck também propôs que, quando
a ascensão da crosta é relativamente pequena, ocorre um fraco entalhamento
do talvegue, sendo a denudação superior o que propicia o desenvolvimento de
vertentes côncavas.

Diante do que foi exposto, para você melhor entender as propostas de


Penck, observe atentamente as ilustrações 1, 2 e 3, a seguir.

FIGURA 6 – AS CONCEPÇÕES DE PENCK EM RELAÇÃO AO SOERGUIMENTO DA CROS-


TA E À DENUDAÇÃO

1
Predominância do 2 Equilíbrio entre soerguimento -
entalhamento do talvegue em
denudação, com formação de vertentes
relação à denudação, responsável
retilíneas (manutenção do ângulo da
pelo desenvolvimento vertentes
vertente).
onvexas ( aumento do ângulo
da vertente).

Intensidade
Soerguimento
Forte

Entalhamento
Moderada

Fraca
3 Denudação
Predomínio do
entalhamento do talvegue, que
implica na concavização da,
vertente (redução do ângulo da
vertente).

FONTE: Casseti (2005)

De acordo com Bigarella (2003), a repetição sucessiva desses ciclos de


intensificação do soerguimento resultaria num modelado dômico, em cujas bordas
se encontraria uma sucessão de planos erosivos escalonados, denominados por
Penck como Piedmonttreppen (escada de Piemonte). Para Penck, não haveria a
necessária estabilidade para o desenvolvimento completo de ciclos, pois estes
constantemente são interrompidos.

15
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

Na concepção de Penck, a fase que antecede o soerguimento dômico


é caracterizada por uma ascensão regional extremamente lenta
quando comparada com a intensidade erosiva. Sendo assim, não se
percebe qualquer elevação da superfície do terreno, desenvolvendo-
se, consequentemente, planície baixa, designada por Penck como
superfície primária (Primärrumpf). Penck relacionava a origem das
superfícies e dos patamares de Piemonte aos processos de ascensão
dômica e de denudação, face às velocidades diferenciadas e aos ciclos
de erosão. (BIGARELLA, 2003, p. 1130-1131).

Pode-se dizer que enquanto Davis afirmava que o relevo evoluía de


cima para baixo, para Penck o processo essencial consistia no recuo paralelo
das vertentes ou no desgaste lateral das mesmas. (CASSETI, 2005). Observe na
ilustração a seguir o contraste entre a proposta de Davis e a de Penck.

FIGURA 7 – CONTRASTE ENTRE A PROPOSTA DE PENCK (A) E A PRO-


POSTA DE DAVIS (B). A FIGURA A ILUSTRA O RECUO PARALELO DAS
VERTENTES PROPOSTO POR PENCK. A FIGURA B ILUSTRA A EVOLU-
ÇÃO DO RELEVO DE CIMA PARA BAIXO, COMO AFIRMAVA DAVIS

A)

B)

FONTE: Casseti (2005)

Sem dúvida, a proposta de Penck (penckiana) foi um dos principais


argumentos responsáveis pela ruptura epistemológica da geomorfologia
registrada na concepção anglo-americana, no período da Segunda Guerra
Mundial, até então fiel às ideias consagradas de Davis.

6.2 O MODELO DE LESTER CHARLES KING: PEDIPLANAÇÃO


Lester Charles King (1953) propôs o modelo de pediplanação. O ponto
principal do modelo apresentado por King corresponde a períodos rápidos e
intermitentes de soerguimento da crosta, separados por longos períodos de
estabilidade tectônica. Segundo Casseti (2005), essa teoria procura restabelecer o
conceito de estabilidade tectônica considerado por Davis, mas admite o ajustamento
por compensação isostática e considera o recuo paralelo das vertentes, como forma de
evolução morfológica, conforme a proposta de Penck (1924). O que diferencia
fundamentalmente os conceitos de Davis e King é o modo de evolução das vertentes.
16
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

Observe, nas ilustrações a seguir, um comparativo do modelo de evolução


da paisagem proposto por Davis para o desenvolvimento das vertentes, através
de seu contínuo rebaixamento vertical, ocasionando a peneplanação, e o modelo
proposto por King, cujo desenvolvimento das vertentes ocorre através do recuo
paralelo das encostas. Observe-as.

FIGURA 8 – MODELOS DE EVOLUÇÃO DA PAISAGEM PROPOSTOS POR W.


M. DAVIS (A) E L. C. KING (B)

Modelo de Davis

Modelo de King

FONTE: O autor

Para King, o recuo ocorre a partir de determinado nível de base, iniciado


pelo nível de base geral, correspondente ao oceano. O material resultante da
erosão ocasionada pelo recuo promove o entalhamento das áreas depressionárias,
originando os chamados pedimentos. A evolução do recuo por um período
de tempo de relativa estabilidade tectônica resultaria no desenvolvimento de
extensos pediplanos, razão pela qual a referida teoria ficou conhecida como
pediplanação. (CASSETI, 2005). Enquanto Davis denominava de peneplanos as
grandes extensões horizontalizadas na senilidade, King as considerava como
pediplanos, com formas residuais denominadas de inselbergues.

E
IMPORTANT

“A pediplanação é o processo mais eficaz de aplainamento de superfícies


extensas do globo terrestre, submetidas a clima árido, quente ou semiárido. A pediplanação
é capaz de elaborar superfícies extensas e planas”. (GUERRA; GUERRA, 1997, p. 466).

17
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

E
IMPORTANT

De acordo com Guerra e Guerra (1997), “os inselbergues são como que resíduos
da pediplanação, em climas áridos quentes e semiáridos, à semelhança dos monadnocks,
devido à peneplanação em regiões de clima úmido”.

Apesar da teoria da pediplanação ter sido originalmente relacionada a


um clima úmido, como as demais teorias apresentadas, partindo do princípio de
que foram produzidas nas regiões temperadas, supõe-se que a horizontalização
topográfica esteja relacionada a um clima seco, assim como o desenvol­vimento
vertical do relevo encontra-se vinculado a um clima úmido, levando em conta
o corte vertical da drenagem. (CASSETI, 2005). Desse modo, o recuo paralelo
das vertentes seria ocasionado principalmente pela desagregação mecânica. Os
detritos das vertentes, a partir da base em evolução, se expandiriam em direção
aos níveis de base, ocasionando entulhamento e, consequentemente, a elevação do
nível de base local. O entulhamento se daria por processos torrenciais, originando
as formas conhecidas como bajadas (acumulação de sedimentos). Estas, por sua vez,
proporcionariam a alteração de toda irregularidade topográfica, caracterizando a
morfologia dos pediplanos.

A figura a seguir ilustra claramente a desagregação mecânica, ou seja,


a destruição dos pontos mais altos e, consequentemente, o entulhamento
de depressão, resultando na elevação do nível de base, ocasionando assim a
pediplanação. Observe-a.

FIGURA 9 – ILUSTRAÇÃO DA DESAGREGAÇÃO MECÂNICA E A OCORRÊNCIA DA


PEDIMENTAÇÃO

Topo

Cornija

Recuo paralelo Relevo residual


Inselberg
Detritos de vertente
Pedimento
Bajada

Knick Bolsão

FONTE: Casseti (2005)

18
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

6.3 O MODELO DE JOHN T. HACK: A TEORIA DO EQUILÍBRIO


DINÂMICO
Segundo Christofoletti (1980, p. 168), “a teoria do equilíbrio dinâmico
considera o modelado terrestre como um sistema aberto, isto é, um sistema
que mantém constante permuta de matéria e energia com os demais sistemas
componentes de seu universo”.

Para Johnt T. Hack, o relevo é um sistema aberto, mantendo constante


troca de energia e matéria com os demais sistemas terrestres, estando relacionado
à resistência litológica. Para ele o modelado é produto de uma competição entre a
resistência dos materiais da crosta terrestre e o potencial das forças de denudação.

De acordo com Christofoletti (1980, p. 168), a teoria do equilíbrio dinâmico

[...] supõe que em um sistema erosivo todos os elementos da topografia


estão mutuamente ajustados, de modo que eles se modificam na
mesma proporção. As formas e os processos encontram-se em estado
de estabilidade e podem ser considerados como independentes
do tempo. Ela requer um comportamento balanceado entre forças
opostas, de maneira que as influências sejam proporcionalmente
iguais e que os efeitos contrários se cancelem a fim de produzir o
estado de estabilidade, no qual a energia está continuamente entrando
e saindo do sistema.

Embora Grove Karl Gilbert (1880) tenha sido o primeiro a expor uma
concepção com base no equilíbrio dinâmico para tentar explicar a evolução do
relevo, foi Hack (1957, 1960, 1965) quem buscou ampliar as ideias iniciais de Gilbert
ao interpretar a topografia do vale do Shenandoah, na região dos Apalaches, levando
em consideração as características das redes de drenagem e das vertentes. (CASSETI,
2005). A argumentação de Hack baseia-se no fato de que as formas de relevo e os
depósitos superficiais têm uma complexa e íntima relação com a estrutura geológica.
Hack verificou que a declividade dos canais fluviais diminui com o comprimento
do rio, ou seja, com a distância a partir das divisas da bacia, de maneira específica
conforme o tipo de rocha. (CHRISTOFOLETTI, 1980).

As formas não são estáticas na teoria do equilíbrio dinâmico. A alteração no


fluxo de energia incidente tende a responder por manifestações no comportamento
da matéria, evidenciando alterações morfológicas. (CASSETI, 2005). Para Hack,
a noção de equilíbrio, apesar de empregada por Davis para caracterizar uma
condição de estabilidade erosiva, é considerada, numa perspectiva sistêmica, como
o resultado do com­portamento balanceado entre os processos morfogenéticos e a
resistência das rochas, bem como, leva em consideração as influências diastróficas
atuantes. (CHRISTOFOLETTI, 1973).

Pode-se dizer que Hack, em relação às concepções de Gilbert, Davi e


Penck, estrutura um encadeamento lógico na concepção sistêmica do modelado,
em detrimento de uma visão fragmentada do relevo.

19
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

6.4 SÍNTESE DOS MODELOS DE REFERÊNCIA EM


GEOMORFOLOGIA

Na tabela a seguir você terá uma síntese dos principais modelos ou teorias
propostas por Davis, Penck, King e Hack e que servem de referência no estudo e
evolução da geomorfologia.

QUADRO 1 – MODELOS OU SISTEMAS DE REFERÊNCIAS EM GEOMORFOLOGIA

CARACTERÍSTICAS DAVIS (1899) PENCK (1924) KING (1953) HACK (1960)


Longos períodos
de estabilidade Toda alternância
Rápido so­er­gui­men­ tectônica, de energia interna
Ascensão de massa
Característica to com pos­te­rior separados por ou externa gera
com intensidade e
Geral do Sistema es­ta­bi­lida­de tec­tôni­ períodos rápidos alteração no
duração diferentes
ca e eus­tática e intermitentes de sistema atra­vés
soerguimento da da matéria
crosta
Reação do
Intensidade sistema com
Relação Início da de­nu­daç­ão de denudação Denudação alteração do
Soerguimento/ após esta­bi­li­da­de associada ao concomitante ao fornecimento
Denudação as­cen­sio­nal comportamento da soerguimento de energia
crosta (oscilações
climáticas)
Todos os
elementos da
Estágio Final Evolução mor­fo­ló­ Evolução por recuo Evolução topografia estão
ou Parcial da gica de cima para paralelo das ver­ morfológica por mutuamente
Morfologia bai­xo tentes recuo paralelo ajustados.
Modificam-se na
mesma proporção
Processos de
As formas não
Fases antropo­ declividade laterais
são estáticas e
mórficas: juven­ das vertentes: Nível de
Características imutáveis. Íntima
tude, ma­tu­ridade convexas, retilíneas pedimentação
Morfológicas relação com a
e senilidade e côn­cavas (relação (pediplano)
estrutura geológi­
(peneplano) incisão/denudação
ca
por ação crustal)
Não evolui
Superfície primária necessariamente
(lenta ascensão para aplai­
Estágio Final Peneplanização compensada pela Pediplanação namento. O
ou Parcial da (formas residuais: denudação). Não (formas residuais: equilíbrio pode
Morfologia monad­nocks ) haveria produção de inselbergs) ocorrer sob os
elevação geral da mais variados
superfície pa­noramas
topográficos

20
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

Processo evolu­tivo Vertente evolui em Pressupõe a


Noção de Nível de Ajustamento
comandado pelo função do nível de generalização de
Base sequencial
nível de base geral base local níveis de base

Relação formas/
Processo/forma,
processos
considerando o
Variáveis que Temporal/estru­tural independen­tes
Processo, tectônica fator temporal,
compõem os com subordinação do tempo (resis­
e tempo admitindo
Sistemas da pro­cessual tência das rochas
implicações
- influências
isostásicas
diastrófi­cas).

FONTE: Adaptado de Casseti (2005)

Sem dúvida, outros autores merecem ser destacados, pois também


contribuíram nos estudos da geomorfologia principalmente a partir dos modelos
apresentados por Davis, Penck e King, a exemplo de A. N. Strahler (1954) com
a análise morfométrica; N. J. Cholley (1962) e N. J. Shrove (1975) com a teoria
probabilística da evolução do modelado; Klimaszewski (1963) com a cartografia
geomorfológica; J. Budel (1948) com a geomorfologia climatogenética; C. Troll
(1932) e Kügler (1976) com a geoecologia e ordenação ambiental.

7 CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS GEOMORFOLÓGICAS


Classificar as formas de relevo não é algo tão simples. Aliás, existem sérias
dúvidas sobre como o relevo pode ser classificado. No entanto, um critério muito
utilizado para classificar as formas de relevo foi o da disposição das camadas rochosas,
compondo a denominada geomorfologia estrutural. Desse modo, de acordo com
Christofoletti (1980, p. 12), as formas de relevo pertenceriam às seguintes categorias:

a) Morfologia das estruturas concordantes


} - relevo tabular
- relevo de cuestas
- contato entre maciços antigos e
bacias sedimentares

b) Morfologia das estruturas dobradas


} - relevo dômico
- relevo dobrado
- relevo apalacheano

c) Morfologia relacionada com


as litologias específicas
} - relevo carsico ou
- cárstico
- relevo granítico

21
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

d) Morfologia em estruturas falhadas

e) Morfologia relacionada com o vulcanismo

Contudo, nesta classificação ficava difícil a colocação das categorias de


formas relacionadas a processos morfogenéticos, como as formas litorâneas,
fluviais, glaciais, dentre outras. Desse modo, no intuito de superar essa dificuldade
surge a geomorfologia climática (J. Büdel (1963) A. Cailleux e J. Tricart (1965)),
na qual as formas de relevo estavam relacionadas com a zonalidade climática,
diferenciando-se em função das zonas morfoclimáticas. (CHRISTOFOLETTI,
1980). No entanto, nesta classificação o estudo das formas litorâneas e fluviais
não tinha um posicionamento definido.

Outras tentativas de classificação do relevo utilizando critérios espaço-


temporais também não deram certo. Pesquisadores soviéticos também se preocuparam
com o problema, embora procurassem elaborar uma classificação para as unidades
componentes da superfície terrestre. De acordo com Christofoletti (1980), Gerasimov
propôs subdividir todas as formas de relevo em três grandes categorias genéticas:

a) unidades geotexturais: → compreendem as maiores unidades da superfície


terrestre. Posteriormente, J. A. Mescerjakov propôs unidades morfotexturais.

b) unidades morfoestruturais: → designam os elementos do relevo de ordem


média que parecem complicar as unidades morfotecturais, tais como: as
cadeias de montanhas, maciços, planaltos e depressões.

c) unidades morfoesculturais: → estão relacionadas com a ação dos sistemas


morfogenéticos.

De acordo com Christofoletti (1980), em 1967, Bachenina e Zaroutskaya


classificaram o relevo utilizando critérios baseados nas principais diferenças da
tectogênese no decorrer da história geológica (elementos de primeira até quarta
ordem) da Terra, caracterizando os megarrelevos. “Os elementos de ordem menores
relacionam-se ao macro e mesorrelevo e classificam-se em função do controle e do
regime tectônico atual”. (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 13).

Todas as classificações apresentadas procuram classificar o relevo e


dividir a Geomorfologia utilizando critérios baseados nos fatores controlantes do
sistema geomorfológico.

22
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

8 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA E


SUA APLICABILIDADE
Como vimos anteriormente, a geomorfologia analisa as formas de relevo
focalizando suas características morfológicas, os materiais componentes, os
processos atuantes e os fatores controlantes, bem como, a dinâmica evolutiva.
Segundo Christofoletti (2009, p. 415), “compreende os estudos voltados para os
aspectos morfológicos da topografía e da dinâmica responsável pelo funcionamento
e pela esculturação das paisagens topográficas”. Assim, a geomorfologia ganha
importância, pois pode auxiliar na compreensão do modelado terrestre que surge
como elemento do sistema ambiental físico e também condicionante no que tange
às atividades humanas e organizações espaciais.

O conhecimento geomorfológico surge como um instrumento utilizado e


inserido na execução de diversas categorias setoriais de planejamento. É importante
destacar que o planejamento sempre envolve a espacialidade, pois incide na
implementação de atividades em determinado território. (CHRISTOFOLETTI,
2009). Ainda de acordo com o mesmo autor, constitui um proceso que repercute
nas características, funcionamento e dinâmica das organizações espaciais. Desse
modo, obrigatoriamente precisa levar em consideração os aspectos dos sistemas
ambientais físicos (geossistemas) e dos sistemas socioeconômicos.

E
IMPORTANT

É importante que fique claro para você o significado do termo planejamento.


Vejamos: “O termo planejamento abrange ampla gama de atividades. Pode-se distinguir as
categorias de planejamento estratégico e planejamento operacional, e usar outros critérios
de grandeza espacial (planejamento local, planejamento regional, planejamento nacional
etc.) ou de setores de atividades (planejamento urbano, planejamento rural, planejamento
ambiental, planejamento econômico etc.)”. (CHRISTOFOLLETI, 2009, p. 417).

Vários exemplos podem ser citados quanto à aplicabilidade do


conhecimento geomorfológico. Assim, destacamos sua aplicabilidade no
planejamento do uso do solo rural e urbano; no planejamento ambiental; nas
obras de engenharia; nas pesquisas de recursos minerais e recuperação de áreas
degradadas através da mineração e na classificação de terrenos. Vejamos, segundo
Christofoletti (2009), o papel e/ou importância da geomorfologia em cada uma
das aplicabilidades destacadas acima:

23
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

Planejamento e uso do solo rural→ sem dúvida, as atividades agrícolas são


responsáveis pela transformação paisagística em extensas áreas. Primeiramente,
substituindo a cobertura vegetal e automaticamente alterando as relações entre
as plantas e o solo. Posteriormente, as áreas exploradas avançam rapidamente
pelos setores topográficos favoráveis, deixando intactas as áreas consideradas
aparentemente inóspitas ou inapropriadas. Diante do exposto, o conhecimento dos
processos geomorfológicos é de fundamental importância. Nesta situação, uma
abordagem geomorfológica seria reconhecer a incidência espacial dos processos e
as suas intensidades e mudanças ao longo das vertentes. Assim, para o controle da
erosão dos solos e do escoamento superficial nas vertentes, seria interessante fazer
a alocação das culturas desde o topo até o sopé, bem como a realização de obras
frequentemente indicadas pelos especialistas no que concerne ao manejo do solo.

Planejamento do uso do solo urbano → em função da grande densidade


ocupacional nas áreas urbanizadas, a topografia surge como um dos principais
elementos a orientar o processo de ocupação. Desse modo, o conhecimento
geomorfológico pode ser aplicado no estudo específico das características
morfológicas e dos processos morfogenéticos, abarcando uma análise dos
componentes do sistema ambiental físico em áreas urbanizadas. Neste sentido,
outros estudos setoriais também poderiam ser realizados, como os do clima, solo,
vegetação e hidrografia. Outra aplicabilidade seria a análise da vulnerabilidade
das áreas urbanas, principalmente no que se refere à ocorrência dos fenômenos
naturais (furacão, tufões, enchentes, secas, movimentos de massa, terremotos,
dentre outros), considerados por alguns autores como azares naturais.

Obras de engenharia → esse tipo de obra procura melhorar e também


ampliar a infraestrutura para os procesos de ocupação dos solos, e pode-se dizer
que muitas das suas dificuldades estão em suplantar os empecilhos advindos
da morfologia e dos processos morfogenéticos. Exemplo disso são as instalações
em áreas costeiras, obras em canais fluviais e as ligações às redes de transporte.
Assim, o conhecimento geomorfológico é importante para o manejo em áreas
costeiras, fornecendo informações das condições do solo aplicáveis à engenharia,
para o empreendimento do controle dos estuários e praias, o proceso erosivo das
falésias e das praias, bem como, a intensificação dos procesos de sedimentação,
normalmente nas áreas portuárias, estuários navegáveis e também áreas utilizadas
para o lazer. Nas obras em canais fluviais que estão atreladas principalmente
aos sistemas de canalização dos rios (obras de engenharia que consistem no
alargamento, aprofundamento e a retificação dos canais dos rios, também
envolve a proteção das margens, bem como a construção de novos canais). É
evidente que, embora os trabalhos de engenharia tenham como objetivo criar
melhores condições e vantagens ao fluxo e uso dos canais, existem também
sérios impactos ambientais atrelados a estas obras, que precisam ser analisados.
Quanto à participação da geomorfologia nas redes de transporte, destacamos
que a ausência ou a avaliação inadequada dos condicionantes geomorfológicos
resulta em dificuldades na hora da construção, prejuízos, bem como, obstáculos
imprevistos para a manutenção e mesmo a própria alteração do traçado inicial.
Exemplo disso foi a construção da Transamazônica.

24
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

Planejamento ambiental → vários são os exemplos da aplicabilidade do


conhecimento geomorfológico no planejamento ambiental. Um deles consiste em
analisar a grandeza integrativa na escala espacial, local ou regional. Nesta análise
integrativa a aplicabilidade consiste em uma visão holística, ou seja, abrange a
totalidade do sistema. Vejamos um exemplo que abarca esta concepção holística:
No planejamento de bacias hidrográficas, a análise geomorfológica é essencial
para compreender a diversidade topográfica correspondente às diversas subzonas
da bacia hidrográfica. Assim, os estudos morfométricos oferecem vários tipos de
indicadores que podem ser usados para avaliar o comportamento hidrológico.
Outro exemplo de atuação do conhecimento geomorfológico no planejamento
ambiental é a análise da ocorrência dos “azares naturais” (fenômenos naturais) e
avaliação dos impactos ambientais.

Pesquisas sobre recursos minerais e recuperação de áreas degradadas


por mineração → o conhecimento geomorfológico é utilizado em vários setores
de prospecção de jazidas minerais A exploração dos recursos minerais tem
recuperação sensível na modificação do cenário topográfico. Pode-se dizer que
essa transformação topográfica é irreversível. A exploração de minério de ferro, de
jazidas carboníferas e de categorias rochosas, por exemplo, necessita obviamente
da transformação da paisagem topográfica. Desse modo, alguns procedimentos
podem e devem ser empregados para tentar minimizar tais efeitos negativos,
e a validade da sua aplicação está justamente baseada no conhecimento das
características geomorfológicas. Na verdade, os procedimentos de recuperação
ambiental devem estar baseados na perspectiva geomorfológica, bem como,
levar em consideração os mecanismos interativos entre as formas de relevo e os
procesos morfogenéticos.

Classificação de terrenos → esta classificação consiste na utilização de


critérios combinatórios e interativos, entre as variáveis ambientais, para qualificar
a potencialidade do uso. Desse modo, as características topográficas surgem como
elemento fundamental. É importante destacar que o conceito de classificação de
terrenos está baseado em que todas as paisagens podem ser divididas em unidades
menores. Cabe destacar ainda que algumas unidades podem ser únicas, como, por
exemplo, cratera de impacto por um meteorito. Contudo, muitas outras apresentam
a frequência de formas repetidas. Em consequência, as paisagens consistem de
pequenas unidades de formas topográficas, como cristas, meias encostas, fundo
de vales, dentre outras. Existe a possibilidade de fazer a distinção e classificação
dessas unidades com a utilização de bases e critérios geomorfológicos, expressando
tais unidades sob a forma de mapas, diagramas, perfis etc. A classificação de
terrenos também posibilita aplicações para projetos militares, obras de engenharia,
pesquisas em relação aos solos, planejamento regional, dentre outros.

Diante do que foi exposto, você conseguiu perceber a importância do


conhecimento geomorfológico? À medida que você for avançando os estudos
neste caderno, terá subsídios para aprimorar sua reflexão sobre a importância da
geomorfologia e sua aplicabilidade.

25
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

9 A GEOMORFOLOGIA NO CONTEXTO DA GEOGRAFIA


Você saberia dizer como o estudo das formas de relevo se articula com os
demais segmentos das ciências da Terra? Pense um pouco.

Podemos dizer que existe uma interdependência entre as relações dos


diversos componentes da natureza, no qual, uma não existe sem a outra. Para Ross
(2005), não se pode pensar em geomorfologia sem entender a geologia e vice-versa,
bem como, não é possível conhecer a tipologia e gênese de um determinado solo
sem que se conheça a forma de relevo a ele associado e a litologia a partir da qual
evoluiu. Contudo, torna-se difícil conhecer a dinâmica geomórfica e pedológica
sem que se conheça as características climáticas, e assim sucessivamente. “O que
deve ficar claro é que na natureza nada está desarticulado, nem mesmo o relevo,
que parece tão imutável”. (ROSS, 2005, p. 8).

No quadro geral das ciências da Terra, a geomorfologia situa-se na


interface existente entre as ciências geológicas e as ciências geográficas. Existe
um acentuado e estreito vínculo entre estas ciências. As ciências geológicas se
propõem a reconstituição da composição e estrutura física do planeta Terra,
tal como ela pode ser vista ou lida nos diversos estratos rochosos presentes na
epigeoesfera. Diversos exemplos podem ser destacados do estreito vínculo da
geologia com a geomorfologia, tais como: a geotectônica; a geologia estrutural; a
paleontologia; a sedimentologia e a estratigrafia. Na geografia este vínculo dá-se
na medida em que depende dos conhecimentos de climatologia, paleogeografia,
fitogeografia, pedologia e hidrografia, relação do ser humano com seu meio,
bem como fornece informações necessárias ao entendimento da produção e
transformação do espaço geográfico.

Portanto, a ciência geográfica, com seu caráter de integração, tem na


Geomorfologia um dos seus sub-ramos, que estuda os diferentes aspectos da
superfície terrestre, compreende a evolução do relevo da Terra no espaço e no
tempo, incluindo também a intervenção humana.

26
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOMORFOLÓGICO

LEITURA COMPLEMENTAR

APLICABILIDADE DOS MAPEAMENTOS TEMÁTICOS EM


GEOMOFOLOGIA

Mauro Sérgio Argento

Desde os primórdios da civilização, a importância do conhecimento


espacial despertou interesse. Primeiramente, era necessário: a) conhecer onde,
no espaço, se localizavam os fenômenos; b) como esses mesmos fenômenos
se distribuíam no espaço; c) por que ocorriam daquela forma. Atualmente, a
grande preocupação está concentrada no futuro, ou seja, como irão ocorrer os
fenômenos e como prever soluções que levam à manutenção de um equilíbrio de
estado contínuo. Isto significa que as ciências vêm desenvolvendo uma ação no
sentido de aprofundar a diagnose dos fenômenos, para chegar a uma melhor base
prognóstica ou de controle dos mesmos. Nesse sentido, a Geomorfologia não
foge à regra e vem se ajustando à moderna tecnologia, a fim de acompanhar os
avanços da informática, viabilizando interfaces com o sensoriamento remoto em
base orbital, com a cartografia computadorizada e com a utilização de Sistemas
de Informações Geográficas – SIGs.

No contexto operacional, os mapeamentos geomorfológicos ainda não


seguem um padrão predefinido, tanto em nível de escalas adotadas, como quanto
à adoção de bases taxonômicas a elas aferidas. Nesse ponto recai, essencialmente,
a dificuldade de um critério padronizado para a elaboração de mapeamentos
temáticos, em bases geomorfológicas. No entanto, um esforço deve ser feito no
sentido do ordenamento de legendas que atendam às diferentes perspectivas de
macroescalas em nível regional, de mesoescalas de detalhamento, em âmbito
municipal e de microescalas, em que são priorizadas as especificidades locais.
Nessa linha de raciocínio, as macroescalas podem atingir 1:100.000, enquanto as
mesoescalas poderão cobrir até 1:30.000, e as microescalas a partir de 1:25.000,
podendo chegar até um nível unitário de detalhamento. Obviamente, cada
mapeamento temático deverá fornecer um grau de informação correspondente,
que deve estar coerentemente representando através de uma legenda de conteúdo
prático e operacional compatível à legenda de interfaces de decisões para o
planejamento, quer no contexto rural, urbano ou regional. Nos meios acadêmicos
devem ser feitos esforços no sentido de adequar os mapeamentos temáticos, em
bases geomorfológicas, aos conceitos acima descritos e, com isso, ampliar as
interfaces da Geomorfologia com as outras ciências que se preocupam com as
questões ambientais.

27
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

A Geomorfologia serve de base para a compreensão das estruturas


espaciais, não só em relação à natureza física dos fenômenos, como à
natureza sócioeconômica dos mesmos. Pode-se compreender, então, o caráter
multidisciplinar que a Geomorfologia apresenta. Nos projetos de gerenciamento
ambiental ou até mesmo numa concepção mais integradora, como na de gestão
do território, os mapeamentos em base geomorfológica têm sido priorizados e,
geralmente, vêm acompanhados de legendas que servem para subdiar decisões,
em níveis pedológicos, climatobotânicos, planialtimétricos e batimétricos, como
em nível do uso potencial do solo, tanto urbano, quanto rural. A base operacional
para a delimitação do espaço, em projetos que utilizam metodologias de Estudos
de Impactos Ambientais e Relatórios de Impactos sobre o meio Ambiente – EIAS/
RIMAS, em sua maioria, apresenta um significativo conteúdo alicerçado em
bases geomorfológicas. A Geologia e a Engenharia desenvolvem muitos de seus
trabalhos geotécnicos subsidiados em informações de conteúdo geomorfológico.
Hoje, sem a utilização de Sistemas de Informações Geográficas – SIGs, torna-se
praticamente inviável a elaboração de projetos ambientais, pois a presença de
um plano de informações, representado por mapeamentos geomorfológicos,
é indispensável. A utilização de tais mapas contribuirá, certamente, para a
elucidação de problemas erosivos e deposicionais que, porventura, venham
a ocorrer em áreas de grande extensão, assim, como viabilizará, mediante
entrecruzamentos com outros mapeamentos temáticos, a elaboração de
cenários ambientais, como, por exemplo, áreas de instabilidade de taludes e de
erodibilidade, e ainda áreas de riscos de movimento de massa e inundação. Além
disso, os mapas geomorfológicos podem fornecer subsídios à instalação de obras
viárias e à localização de rejeitos sépticos, entre outros.

Pelo exposto, pode-se compreender o caráter multidisciplinar que os


mapeamentos geomorfológicos apresentam, já que servem de interfaces com
múltiplas ciências, além de servir a objetivos vários.

O uso de meios como o geoprocessamento por experimentos estatísticos, a


cartografia computadorizada, os meios variados hardwares e softwares, já existentes
no mercado nacional e internacional, os diferentes usos do sensoriamento remoto
e o emprego de Sistemas de Informações Geográficas – SIGs, revestem-se, hoje,
de apoio fundamental para a elaboração de mapeamentos geomorfológicos. Com
isso, vê-se ampliado, substancialmente, o poder pragmático da Geomorfologia,
que constitui, assim, em importante subsídio ao planejamento ambiental.

FONTE: ARGENTO, M. S. Aplicabilidade dos Mapeamentos temáticos em Geomorfologia. In:


GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 9. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.

28
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você estudou que:

• A Geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo. As formas re­


presentam a expressão espacial de uma superfície, compondo as diferentes
configurações da paisagem morfológica.

• A interação entre formas e os processos constitui o sistema geomorfológico.


Este sistema é “aberto”, pois recebe influência e também atua sobre outros
sistemas componentes de seu universo.

• O estudo das formas e dos processos fornece subsídios teóricos sobre a


dinâmica topográfica atual, sob diversas condições climáticas, contribuindo na
compreensão das formas esculpidas pelas forças endógenas e exógenas.

• No decorrer do século XIX, o conhecimento geomorfológico passa por uma


grande transformação. Isso porque nos Estados Unidos e na Europa emergem
vários autores com significativos trabalhos que contribuem no desenvolvimento
da Geomorfologia, tais como: Abraham Werner; Albert Penck; Andrew Ramsay;
Clarence Eduardo Dutton; Ferdinand Von Richthoffen; Grove Karl Gilbert; Jean
Louis Agassiz; John Wesley Powell; Walter Penck e William Morris Davis.

• As diferenças histórico-culturais europeias levaram à individualização de


quadros nacionais contrastantes no que tange ao contexto político continental,
contribuindo assim para que se desenvolvessem correntes filosóficas e
relações escolásticas diferenciadas, levando ao discernimento duas correntes
epistemológicas em geomorfologia.

• A aplicação da teoria dos sistemas na geomorfologia tem auxiliado para melhor


focalizar as pesquisas e também para delinear com maior exatidão o ramo de
estudo desta ciência.

• No estudo da composição dos sistemas, vários aspectos importantes precisam


ser considerados, tais como: a matéria, a energia e a estrutura. Os sistemas
podem ser classificados de acordo com o critério funcional ou conforme a sua
complexidade estrutural.

• A geomorfologia estuda as formas de relevo. Assim, podemos distinguir


dentro do “universo” geomorfológico os seguintes sistemas antecedentes,
considerados os mais importantes para a compreensão das formas de relevo:
sistema geológico, climático; biogeográfico e antrópico.

• Para explicar a evolução do modelado terrestre foram criados algumas teorias


e modelos geomorfológicos, dentre eles merecem destaque:

29
• O Modelo de William Morris Davis, no qual o ciclo geográfico constitui o
primeiro conjunto de concepções que poderia descrever e explicar, de modo
coerente, a gênese e a sequência evolutiva das formas de relevo existentes na
superfície terrestre.

• No modelo de Walther Penck, a denudação acontecia concomitantemente ao


soerguimento, com intensidade diferenciada pela ação do tectonismo.

• Lester Charles King propôs o modelo de pediplanação. O ponto principal do


modelo apresentado por King corresponde a períodos rápidos e intermitentes de
soerguimento da crosta, separados por longos períodos de estabilidade tectônica.

• Para Johnt T. Hack, o relevo é um sistema aberto, mantendo constante troca


de energia e matéria com os demais sistemas terrestres, estando relacionado à
resistência litológica. Para ele, o modelado é produto de uma competição entre a
resistência dos materiais da crosta terrestre e o potencial das forças de denudação.

• O conhecimento geomorfológico surge como um instrumento utilizado e


inserido na execução de diversas categorias setoriais de planejamento. É
importante destacar que o planejamento sempre envolve a espacialidade,
pois incide na implementação de atividades em determinado território.
(CHRISTOFOLETTI, 1980). O planejamento constitui um proceso que repercute
nas características, funcionamento e dinâmica das organizações espaciais.
Desse modo, obrigatoriamente precisa levar em consideração os aspectos dos
sistemas ambientais físicos (geossistemas) e dos sistemas socioeconômicos.

• A ciência geográfica, com seu caráter de integração, tem na Geomorfologia um


dos seus sub-ramos, que estuda os diferentes aspectos da superfície terrestre,
compreende a evolução do relevo da Terra no espaço e no tempo, incluindo
também a intervenção humana.

30
AUTOATIVIDADE

1 Quanto à definição e natureza da Geomorfologia, coloque V


para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) A Geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo.


( ) A interação entre formas e os processos constitui o sistema geomorfológico.
( ) O estudo das formas e dos processos fornece subsídios teóricos sobre a
dinâmica topográfica atual.
( ) Os processos podem ser definidos como sendo uma sequência de ações
irregulares e descontínuas, que se desenvolvem de maneira relativamente
bem especificada na formação do relevo.

Assinale a sequência CORRETA:


a) V – V – F – F.
b) V – F – V – V.
c) F – V – F – V.
d) V – V – V – F.

2 Dentro do “universo” geomorfológico podem-se distinguir


alguns sistemas antecedentes considerados os mais
importantes para a compreensão das formas de relevo.
Neste contexto, relacione os sistemas com suas respectivas
características:

A Sistema geológico.
B Climático.
C Biogeográfico.
D Antrópico.

( ) É formado pela cobertura vegetal e pela vida animal, que atuam como
fornecedores e consumidores de matéria, no qual vale a máxima de
Lavoisier: “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”
( ) exerce forte influência sobre os demais, sendo um dos sistemas com maior
poder de transformação sobre o relevo.
( ) É a base sobre a qual se desenvolvem todos os sistemas e atuam todos os
processos.
( ) É o elemento responsável por alterar o equilíbrio entre todos os sistemas e
por alterar a distribuição de energia e matéria dentro dos sistemas.

A sequência CORRETA é:
a) ( ) C – B – A – D.
b) ( ) B – C – D – A.
c) ( ) A – D – B – C.
d) ( ) D – C – A – B.
31
3 Para explicar a evolução do modelado terrestre foram criadas algumas
teorias e modelos geomorfológicos. Acerca dos modelos geomorfológicos,
analise as afirmativas a seguir e posteriormente assinale a alternativa que
apresenta as afirmações corretas:

I- Para William Morris Davis, o ciclo geográfico constitui o primeiro conjunto


de concepções que poderia descrever e explicar, de modo coerente, a
gênese e a sequência evolutiva das formas de relevo existentes na superfície
terrestre.
II- Walther Penck foi um dos principais críticos do sistema de Davis,
principalmente ao discordar que a denudação só teria início após o término
do soerguimento, como pensava Davis.
III- O ponto principal do modelo de pediplanação apresentado por Lester
Charles King corresponde a períodos rápidos e intermitentes de
soerguimento da crosta, separados por longos períodos de estabilidade
tectônica.
IV- Para Johnt T. Hack, o modelado é produto de uma competição entre a
resistência dos materiais da crosta terrestre e o potencial das forças de
denudação.

a) ( ) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.


b) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) Apenas a afirmativa IV está correta.
d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.

4 O conhecimento geomorfológico surge como um instrumento utilizado


e inserido na execução de diversas categorias setoriais de planejamento.
Vários exemplos podem ser citados quanto à aplicabilidade do conhecimento
geomorfológico. Assim, a partir do que você estudou na seção 8 deste tópico,
bem como outras leituras que tenha realizado, escreva um pequeno texto
elencando a aplicabilidade do conhecimento geomorfológico.

32
UNIDADE 1
TÓPICO 2

PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA


FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

1 INTRODUÇÃO
O relevo atual não foi sempre assim, pois a superfície da Terra é dinâmica.
Como você estudou na Geografia Física, a Terra é um planeta “vivo”. Através
dos processos endógenos e exógenos, a superfície do planeta foi se modificando
ao longo do tempo geológico, deixando marcas de sua história nas sucessivas
camadas que foram dando origem ao relevo atual. Ademais, “a interação da
litosfera móvel terrestre com os fluidos da atmosfera e hidrosfera guia a formação
de uma variada paisagem, única no sistema solar”. (PENHA, 2009, p. 51).

As forças endógenas e exógenas são responsáveis por modelar e/ou esculpir


a superfície do planeta Terra. As formas de relevo que você visualiza no seu dia a
dia são o resultado da atuação dessas forças ao longo de milhões ou bilhões de
anos. Lembrando que a Terra tem aproximadamente 4,5 a 4,6 bilhões de anos.

A título de curiosidade, de acordo com Penha (2009), se apenas as forças


exógenas agissem sobre a superfície da Terra, considerando a não existência
da atuação das forças endógenas, o nosso planeta estaria coberto por um único
oceano cuja profundidade seria de aproximadamente 2,6 km. Na realidade, como
você bem sabe, os oceanos cobrem 71% da superfície terrestre e a profundidade
em média é de 3,8 km. É evidente que essa profundidade é muito irregular. Para
você ter uma ideia, a maior profundidade é de 11.033 metros na fossa Challenger,
vnas Marianas, a sudoeste do Pacífico. Os 29% correspondem às terras emersas,
com uma altitude média de 840 metros acima do nível do mar, tendo como ponto
mais alto o Pico Everest, no Himalaia (Ásia), com 8.848 metros. Desse modo,
pode-se dizer que a maior diferença altimétrica registrada no nosso planeta,
se considerarmos o ponto mais alto e o ponto mais profundo, corresponde a
aproximadamente 20 km.

O intuito deste tópico é fazer com que você entenda o processo de


formação, transformação e desgaste do relevo.

Respire fundo, mantenha a concentração e bom estudo!

33
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

2 O PAPEL DOS PROCESSOS ENDÓGENOS NA FORMAÇÃO


DO RELEVO
Os processos endógenos ou endogenéticos, ou ainda geodinâmicos
internos, correspondem aos processos geológicos que atuam no interior da Terra.
O fluxo da matéria do interior para o exterior ou vice-versa é contínuo e constitui o
ciclo das rochas, no qual as massas rochosas são impulsionadas para a superfície,
acentuando o relevo e impedindo o aplainamento generalizado oriundo dos
processos exógenos.

Caso você não se lembre dos estudos do caderno de Geografia Física,


relacionam-se à geodinâmica interna da Terra os fenômenos magmáticos vulcânicos
e plutônicos, os dobramentos e falhamentos, a epirogênese e a orogênese, os
terremotos e a tectônica de placas.

ATENCAO

A maior parte do conhecimento do interior do planeta é fornecida através de


estudos geofísicos, principalmente com o auxílio da sismologia (estudo dos terremotos).”
(PENHA, 2009).

A conjunção dos processos endógenos, presentes durante toda a


evolução da história geológica da Terra, ocasiona a dinâmica da litosfera e,
consequentemente, a formação das cadeias de montanhas, das fossas oceânicas,
do deslocamento de porções continentais e das atividades magmáticas em grandes
extensões da crosta terrestre.

Em zonas tracionadas por correntes convectivas ascendentes, a crosta


oceânica é formada por sucessivas injeções de magma básico, dorsais são
estruturadas, e o assoalho submarino é arrastado, simetricamente, para fora
da cordilheira oceânica, levando consigo porções continentais mais leves e de
natureza siálica. (PENHA, 2009).

Ainda de acordo com o mesmo autor, em zonas compressivas,


presumivelmente geradas por correntes convectivas descendentes, ocorre a
formação de cordilheiras, favorecendo assim o aparecimento de cinturões
orogenéticos, zonas de subducção e, consequentemente, a formação de arcos de
ilhas e fossas oceânicas. Desse modo, podem ser visualizadas as colisões de crosta
oceânica, bem como, continental. Assim, movimentações tectônicas intensas são
encontradas, ocasionando dobramentos e falhamentos da crosta em larga escala,
bem como a presença de terremotos e vulcões.

34
TÓPICO 2 | PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

Para facilitar sua compreensão, observe atentamente a ilustração a seguir,


a qual indica zonas de construção e destruição de placas litosféricas e feições
geológicas associadas.

FIGURA 10 – SEÇÃO NA CROSTA TERRESTRE INDICANDO ZONAS DE CONSTRUÇÃO E DES-


TRUIÇÃO DE PLACAS LITOSFÉRICAS E FEIÇÕES GEOLÓGICAS ASSOCIADAS

FONTE: Penha (2009)

ATENCAO

Se necessário, retome os estudos do caderno de Geografia Física, com os


conteúdos do Tópico 1 da Unidade 2.

Embora os fenômenos e/ou processos geológicos associados à geodinâmica


interna da Terra já tenham sido abordados no caderno de Geografia Física,
gostaríamos de rever alguns aspectos, no intuito de compreender melhor a
formação do relevo. Vejamos:

2.1 A ATUAÇÃO DOS FENÔMENOS MAGMÁTICOS


As rochas ígneas ou magmáticas resultam do processo de resfriamento e/
ou consolidação do material em estado de fusão proveniente do manto, o chamado
magma. Estas podem ser intrusivas ou plutônicas (solidificação no interior da
crosta) e extrusivas ou vulcânicas (solidificação na superfície).

35
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

A ascensão do magma, na litosfera, pode ocorrer de forma ativa,


ocasionando a formação de corpos intrusivos de aspecto globular, que forçam
e deformam as rochas envolventes, possibilitando a formação de corpos
circunscritos com características dômicas (meia esfera), bem como, pode ocorrer
de forma passiva, sem deformar ou arquear as rochas encaixantes. (PENHA,
2009). Ainda de acordo com o mesmo autor, é evidente que tais condições
intrusivas podem influenciar as formas do relevo, seja pela erosão diferencial,
seja pela deformação das formações rochosas envolventes, quando esses corpos
magmáticos ficam expostos na superfície por meio da denudação.

2.2 A ATUAÇÃO DOS FENÔMENOS METAMÓRFICOS


As rochas metamórficas resultam da transformação (metamorfização) de
rochas preexistentes (magmáticas, sedimentares e as próprias metamórficas) em
condições de pressão e de temperaturas muito elevadas. Dependendo da pressão
e da temperatura, as rochas metamórficas poderão mudar ou não a composição
mineralógica, mas a textura obrigatoriamente muda.

É importante relembrar que são identificados três cenários ou tipos de


metamorfismo fundamentais: regional ou dinamotermal, de contato ou termal
e dinâmico ou cataclástico. No que concerne ao metamorfismo regional, não
podemos deixar de abordar a sua importância como fenômeno plutônico, pois
vastas porções da crosta podem ser afetadas, originando tipos rochosos comuns,
como o escudo brasileiro e o canadense (pré-cambrianos).

As rochas variam em composição, bem como o grau de cristalinidade,


sendo o maior para os gnaisses, onde alguns minerais chegam a ser centimétricos
e de grande influência no relevo de terrenos muito antigos, como o denominado
Complexo Cristalino. (PENHA, 2009). É claro que um gnaisse rico em cristais
centimétricos de feldspato potássico (gnaisse facoidal) manifestar-se-á
diferentemente, por exemplo, dos filitos e os micaxistos, isso porque são mais
débeis e susceptíveis à erosão. O quartzito, por exemplo, quando exposto na
superfície, tende sempre a formar relevo positivo e cristas, nem sempre ocorrentes
em arenitos. (PENHA, 2009).

2.3 A ATUAÇÃO DO TECTONISMO


Sobre o material rochoso da litosfera ocorrem tensões de diferentes tipos e
ordem de esforços. Amplas deformações e movimentos são produzidos em larga
escala, estabelecendo assim a configuração arquitetônica do modelado terrestre.
Associados ao estudo do tectonismo ocorrem a movimentação de placas, os
falhamentos, os dobramentos, a orogênese e a epirogênese. Estes processos são
determinantes na formação e transformação do relevo.

36
TÓPICO 2 | PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

A ordem dos fenômenos relacionados à tectônica de placas, à orogênese,


bem como à epirogênese é de nível mundial e/ou regional, isso porque seus
efeitos são verificados em grades extensões da superfície do planeta, a ponto de
considerarmos uma tectônica global. Já as consequências dos falhamentos e dos
dobramentos também relacionados à tectônica de placas podem ser efetuadas a
nível regional e/ou local e de forma independente, quando tratados isoladamente.

Segundo Penha (2009, p. 61), “o fato de o material rochoso, quando submetido


a esforços, fraturar ou dobrar deve-se ao tipo de resposta que ele apresentará às
tensões, isto é, se quebrando, indicando regime rúptil de deformação, ou se dobrando
indicando regime plástico de deformação”. Como você já sabe, esses regimes físicos
estão presentes no interior da Terra. O regime rúptil pode se estabelecer a uma
profundidade média inferior a 20 km, enquanto que o regime dúctil pode ser superior
a esta, face obviamente às condições de pressão e temperatura.

É importante relembrar que os dobramentos e os falhamentos são processos


endógenos, processados no interior da crosta e não na superfície, como aparentam
ser. Assim, estratos de rochas que sofreram deformação há milhões de anos (Era
Cenozoica) só agora estão aflorando, contribuindo assim, em maior ou menor grau,
para as formas de relevo que estamos visualizando. Desse modo, podemos dizer
que a idade das rochas ou das deformações nelas existentes não é necessariamente
a mesma das formas nelas esculpidas. (PENHA, 2009). Pode-se dizer que os
principais traços do relevo que visualizamos no nosso cotidiano foram delineados
recentemente, na sua maioria no período terciário da Era Cenozoica.

2.3.1 A atuação da orogênese e epirogênese


A orogênese corresponde aos processos tectônicos responsáveis pela
deformação e elevação de extensas regiões da crosta, formando assim os
grandes cinturões montanhosos, a exemplo da Cordilheira dos Andes (foto),
os Alpes e a Cordilheira do Himalaia (foto), dentre outros.

FIGURA 11 – CORDILHEIRA DOS ANDES E DO HIMALAIA


Cordilheira dos Andes Cordilheira do Himalaia

FONTE: Disponível em: <http://www.dolphinscommunications.com/wp- content/uplo-


ads/2009/06/Foto-72-_3.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2010.

37
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

Uma faixa orogênica é uma longa e relativamente estrita região próxima a


uma margem continental de colisão de placas. Nesta, existem muitos ou todos os
processos formadores de montanhas. Desse modo, podemos dizer que uma faixa
orogênica “é uma região alongada da crosta, intensamente dobrada e falhada
durante os processos de formação de montanhas”. (PENHA, 2009, p. 62).

Uma informação importante que você não pode esquecer é que as orogenias
apresentam diferenciação no que concerne à idade, à história, ao tamanho, bem
como à origem. No entanto, todas já foram uma vez terrenos montanhosos. Os
Apalaches, por exemplo, na Era Paleozoica foram uma grande cordilheira.

Quanto à epirogênese, podemos dizer que se caracteriza por movimentos


verticais de extensas áreas continentais, sem gerar perturbações significativas à
disposição e estrutura geológica das formações rochosas afetadas. Para Leinz e
Amaral (2001), apesar da grande lentidão dos movimentos epirogênicos, as provas
diretas da sua ocorrência podem ser observadas em muitos lugares do globo
terrestre, à beira-mar. Assim, esses movimentos podem causar variações lentas
no nível do mar, denominadas eustasia ou movimentos eustático. (GUERRA;
GUERRA, 1997).

De acordo com Penha (2009, p. 63), “um produto típico do movimento


epirogenético negativo é a bacia, uma depressão geralmente de expressão regional,
preenchida por sedimentos, como as bacias sedimentares intracratônicas”.
Extensas camadas de rochas sedimentares podem ser encontradas nesses locais,
inclusive com vários quilômetros de espessura, como, por exemplo, a bacia de
Michigan (EUA) e a bacia do Parnaíba (Brasil).

2.3.2 A atuação dos falhamentos e dobramentos


De acordo com Leinz e Amaral (2001, p. 351), as falhas “são fraturas nas
quais ocorre um deslocamento perceptível das partes, o que se dá ao longo do
plano de fratura”. O tipo de falha está diretamente relacionado com o regime
geotectônico que ocorreu e ainda ocorre em determinadas áreas do globo terrestre.
As feições lineares do fraturamento da crosta são facilmente identificadas na
superfície, através de imagens aéreas ou de satélites. Muitas vezes as falhas
podem promover variações bruscas da litologia, ocasionando alteração no relevo.
Dependendo da amplitude e idade do falhamento, a configuração do relevo será
afetada em maior ou menor escala.

Na ilustração a seguir é possível verificar as principais feições morfológicas


associadas aos falhamentos. Observe-a.

38
TÓPICO 2 | PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

FIGURA 12 – TIPOS DE FALHAS E RELEVOS ASSOCIADOS

(a) FALHA NORMAL

(b) FALHA INVERSA

(c) FALHA HORIZONTAL OU


TRANSCORRENTE

FONTE: Penha (2009)

Quanto aos dobramentos, é importante relembrar que estes correspondem


às deformações dúcteis que afetam os corpos rochosos. As dobras são geradas no
interior da crosta, onde a temperatura e a pressão ocasionam a plasticidade das
rochas. E, quando expostas na superfície, podem controlar o relevo, principalmente
quando geradas em sequências de rochas acamadas, de diferentes composições,
bem como, com resistência diferencial à erosão. Atente para a ilustração que segue.

FIGURA 13 – FORMAS CONTROLADAS PELO MERGULHO DE STRATOS RESISTENTES DEFOR-


MADOS

ROCHA RESISTENTE
ROCHA RESISTENTE
ROCHA DÉBIL

FONTE: Penha (2009)

39
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

2.3.3 A tectônica de placas e a evolução do relevo


A maioria das atividades tectônicas se manifesta no limite das placas
tectônicas. Podemos exemplificar as montanhas e as cadeias montanhosas que
praticamente foram formadas nos limites das placas. Assim, sua evolução é
comumente acompanhada de falhamentos, dobramentos, terremotos, erupções
vulcânicas, intrusões de plútons e metamorfismo, principalmente nas zonas de
subducção de margens continentais ativas. (PENHA, 2009).

Os esforços compressivos, gerados nas zonas de colisão de placas


convergentes, associados ao intenso magnetismo que introduz corpos ígneos
no material crustal afetado, edificam vulcões na superfície, criando as condições
necessárias para o enrugamento do relevo por extensas áreas do planeta,
em diferentes períodos geológicos. Assim, as montanhas quase sempre se
apresentam como cadeias ou cordilheiras, porque as forças que as criaram
operavam por extensas regiões da crosta terrestre, associadas a fenômenos de
grande transcendência geodinâmica interna, sejam montanhas vulcânicas, de
blocos falhados ou de dobramento e empurrão, como os Alpes e o Himalaia (vide
imagem anterior). (PENHA, 2009).

Sem dúvida, o relevo terrestre está intimamente ligado aos episódios


de grande mobilidade crustal, que confere inúmeros aspectos morfológicos à
superfície da Terra no decorrer do tempo geológico.

E
IMPORTANT

Sugerimos que você retome os estudos do caderno de Geografia Física no que


concerne ao estudo das rochas e, principalmente, o estudo sobre a gênese e evolução da
tectônica global. Esta releitura poderá facilitar seu entendimento sobre a atuação dos agentes
endógenos na formação do relevo, uma vez que as informações estão mais detalhadas.

3 PROCESSOS EXÓGENOS E SEUS EFEITOS NO RELEVO


Os processos exógenos correspondem aos processos que atuam no
exterior da Terra. Sem dúvida, nas mais diversas paisagens do mundo é possível
reconhecer a presença dos agentes exógenos no relevo. O trabalho destes agentes
é denominado de erosão.

Mas, o que é propriamente a erosão?

40
TÓPICO 2 | PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

3.1 EROSÃO E DENUDAÇÃO


Antes de verificarmos os tipos e formas de erosão é preciso deixar claro o
conceito de erosão e denudação. Vejamos:

O conceito de erosão (do latim = erodere) está vinculado aos


processos de desgaste da superfície do terreno com a retirada e o
transporte dos grãos minerais. Implica na relação de fragmentação
mecânica das rochas ou na decomposição química das mesmas,
bem como na remoção superficial ou subsuperficial dos produtos
do intemperismo. Atua através de vários processos intempéricos
(mecânicos [corrasão], químicos [corrosão], dissolução) e pela ação
das águas correntes, das ondas, dos movimentos das geleiras e dos
ventos. (BIGARELLA, 2003, p. 884).

Em um sentido mais amplo, a erosão consiste no desgaste, no


“afrouxamento” do material rochoso, bem como na remoção dos detritos através
dos processos atuantes na superfície da Terra. De acordo com Bigarella (2003),
muitas vezes a erosão é confundida com a denudação.

O termo denudação (do latim = denudare = descobrir) por muito tempo


tem sido empregado na geomorfologia como sendo a remoção do material solto
resultante do processo de intemperismo das rochas, oriundo da ação dos diferentes
processos erosivos. (BIGARELLA, 2003). A denudação, conforme foi ressaltado
no tópico 1, consiste no desgaste das formas de relevo mais salientes devido à
ação dos agentes erosivos, ou seja, ocasionará acentuadamente a exposição das
estruturas rochosas.

Mas, afinal, você conseguiu entender a diferença entre a erosão e a


denudação? Lembre-se: A erosão refere-se aos processos de desgastes da
superfície e a denudação consiste nas consequências deste desgaste.

ATENCAO

Você também precisa ter clara a diferença entre corrasão, corrosão e


dissolução. Vejamos conforme a conceituação de Bigarella (203, p. 885):
Corrasão → refere-se ao desgaste exclusivamente mecânico da rocha pela ação de materiais
que se movem sobre a superfície, seja pelos movimentos de massa nas vertentes pela força
da gravidade, ou pelos agentes de transporte que exercem ação erosiva.
Corrosão → refere-se ao desgaste de natureza química sobre os constituintes minerais das
rochas. A corrosão é muito efetiva e evidente nas paisagens cársticas.
Dissolução → neste processo, um material no estado sólido ou gasoso é transformado no
estado líquido pela ação de um solvente, principalmente pela água.

41
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

É importante destacar que a determinação das taxas de erosão ou de


denudação, segundo Bigarella (2003), é bastante complexa, dependendo de uma
série de fatores envolvidos no intemperismo e na remoção de detritos. Dentre
eles podem ser destacados as condições geográficas e climáticas; o tipo de relevo
(sua forma e altimetria) e a natureza das rochas.

No que se refere à cronologia dos eventos denudacionais, segundo


Bigarella (2003), diz respeito tanto aos geomorfólogos como aos geógrafos,
geólogos, estratígrafos e pedólogos, uma vez que se torna necessário correlacionar
as diversas superfícies ou níveis de erosão com seus depósitos correlativos.
“A cronologia da denudação depende da obtenção de muitos dados relativos
aos depósitos correlativos associados, bem como da aplicação de metodologia
apropriada”. (BIGARELLA, 2003, p. 908).

3.2 TIPOS E FORMAS DE EROSÃO


A erosão pode ser considerada normal ou natural e acelerada. A erosão
normal é menos evidente, sendo percebida apenas com o decorrer do tempo e
efetua-se dentro das condições naturais do ambiente. Já a erosão acelerada consiste
na remoção de grande massa de material, a curto prazo, ocasionando sulcos mais
ou menos profundos na superfície do terreno, destruindo o solo no meio rural e
as propriedades na área urbana, além de afetar as obras de engenharia de modo
geral. (BIGARELLA, 2003). É importante destacar que na erosão acelerada existe
a interferência antrópica, bem como as mudanças climáticas, que fazem com que
ocorra o aumento da intensidade erosiva.

Na verdade, desde o período neolítico (caracterizado pelas sociedades


sedentárias) o homem passou a interferir decisivamente no meio ambiente, ao
utilizar práticas agrícolas inadequadas à conservação do solo, criando assim
novas situações para a atuação de fenômenos erosivos acelerados. Atualmente, o
ser humano continua fazendo uso do solo de maneira inadequada, seja nas áreas
rurais ou nas áreas urbanas.

O processo erosivo pode ser compreendido em três etapas: a desagregação,


o transporte e a sedimentação e/ou acumulação.

A erosão inicia com a desagregação das rochas em virtude do intemperismo


(processos que geram a destruição física e a decomposição química dos minerais
em decorrência da ação dos agentes climáticos e biológicos). Os sedimentos que se
formam são posteriormente transportados para áreas mais baixas pelos próprios
mecanismos naturais em movimento (vento, chuvas, rios etc.). Esses sedimentos
são depositados nas partes mais baixas da superfície, nas quais se acumulam.

Os principais agentes erosivos são: a água (que pode agir no desgaste do


relevo de diferentes formas, através das chuvas, rios, mares); glaciações; vento e
a própria ação do ser humano.

42
TÓPICO 2 | PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

3.2.1 O trabalho erosivo das águas


A ação das águas pode gerar o desgaste no relevo de diferentes formas,
através da água das chuvas, dos rios e dos mares. A saber.

3.2.1.1 Erosão pluvial


A erosão pluvial é ocasionada pela retirada de material correspondente à
parte superficial do solo pelas águas das chuvas. Quando o solo está desprovido
de vegetação, este processo erosivo ocorre de maneira acelerada. Num primeiro
momento, o contato das águas das chuvas com o solo pode provocar a desagregação
dos “torrões” e agregados do solo, o que resultará no lançamento do material mais
fino para o alto e para longe, processo conhecido como salpicamento. À medida
que aumenta o impacto do contato, o material mais fino do solo é pressionado
para baixo da superfície, ocasionando a obstrução da porosidade do solo,
aumentando, consequentemente, o fluxo superficial e a erosão. Assim, conforme
o grau de agressão da força destrutiva das águas, podem ser consideradas as
seguintes e principais formas de erosão pluvial:

Erosão Laminar → consiste no processo de remoção de uma camada


delgada e uniforme de solo superficial, ocasionada pelo fluxo hídrico não
concentrado, no qual o solo não apresenta incisões significativas, bem como
canais perceptíveis.

Erosão de Sulcos → são pequenas incisões na superfície terrestre, em


formato de filetes muito rasos, perpendiculares às curvas de nível, representando
áreas em que a erosão laminar é mais intensa. É possível recuperar os sulcos
através de operações normais de preparação do solo.

Erosão de Ravinamento → são formas erosivas resultantes do


aprofundamento dos sulcos devido ao fluxo concentrado de águas pluviais.
É importante destacar que a velocidade do fluxo pluvial é em decorrência do
aumento da intensidade da chuva, da declividade da encosta e/ou terreno e da
ultrapassagem da capacidade de armazenamento do solo.

Erosão de Voçorocas → podemos dizer que este tipo de erosão é a mais


complexa e destrutiva. Corresponde ao produto da ação combinada das águas
do escoamento superficial e subterrâneo, apresentando grande porte e formas
variadas. As voçorocas são verdadeiras “crateras”, possuindo paredes laterais
íngremes e, em geral, fundo chato, ocorrendo fluxo de água no seu interior
durante os eventos chuvosos. Observe a figura a seguir.

43
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

FIGURA 14 – IMAGEM DE UMA VOÇOROCA EM PARANAVAÍ (PR). É O TIPO DE EROSÃO


MAIS AGRESSIVA PROVOCADA PELAS ÁGUAS DAS CHUVAS

FONTE: Almeida e Rigolin (2004)

Acerca da erosão pluvial, é importante destacar também que parte das


águas das chuvas que caem sobre a superfície da Terra infiltra-se no subsolo,
formando a água subterrânea. Essa água subterrânea realiza um trabalho de
erosão no subsolo, modelando formas bem características, principalmente em
terrenos constituídos por rochas de fácil dissolução. O calcário é uma delas, e as
regiões onde ele é trabalhado pelas águas formam um relevo típico denominado
karst (nome emprestado de uma região da Croácia). Sem dúvida, as cavernas
são as mais belas formações desse relevo, que possui vários outros aspectos
característicos, como os lapiás (formas superficiais) e as dolinas (depressões).

ATENCAO

No Tópico 2 da Unidade 2 abordaremos a morfologia cársica ou cárstica.

44
TÓPICO 2 | PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

3.2.1.2 Erosão fluvial


A erosão fluvial corresponde à erosão ocasionada pela ação das águas
dos rios sobre a superfície terrestre. As águas dos rios, durante o seu percurso,
retiram, transportam e depositam materiais, ocasionando a “construção” e/ou
destruição de suas respectivas margens.

É evidente que o trabalho de construção e/ou destruição realizado pela


erosão fluvial depende de alguns fatores, como a natureza da rocha, a declividade
do terreno, a velocidade do fluxo das águas e a força da correnteza.

Os vales fluviais são considerados um dos mais significativos testemunhos do


trabalho erosivo fluvial. Não podemos deixar de ressaltar que este processo erosivo
de formação dos vales fluviais levou bilhões e/ou milhões de anos para ocorrer.

Os exemplos mais comuns desse tipo de formação são os vales em V e os


cânions, a exemplo do Grand Canyon, nos Estados Unidos (Figura 15). Para você
ter uma ideia, o cânion exemplificado foi escavado pelas forças das águas do rio
Colorado, sendo que, entre o ponto mais alto do rio e sua foz há um desnível de
aproximadamente 2.400 metros, cuja extensão é de cerca de 500 km e varia de 7 a
30 km de borda a borda. Sua idade é de aproximadamente 13 milhões de anos. A
ilustração a seguir explica como se forma um cânion. Atente para a foto à direita.

FIGURA 15 – FORMAÇÃO DE UM CÂNION. À ESQUERDA VOCÊ OBSERVA UMA ILUSTRAÇÃO DE


COMO OS RIOS ESCAVAM OS CÂNIONS. À DIREITA TEMOS UMA IMAGEM DO GRAND CANION
DO COLORADO (EUA)

1. Ao correr, os rios carregam partículas


das suas margens. Quanto maior o
1 desnível do percurso e dependendo da
composição do solo, mais sedimentos a
água levará embora

2. Se o terreno, desde a nascente até


um determinado ponto do curso, é
2 subitamente elevado por um movimento
da crosta, o rio ganha velocidade.

3. A força e a turbulência da corrente


escavam o leito no sentido vertical,
3 carregando todo tipo de material que
estiver no caminho, Formam-se

FONTE: FARNDON, J. Dictionary of the Earth. London: Dorling Kindersley, 2000.

É importante destacar que não são todos os vales que apresentam a forma
de “garganta”, como os cânions. Os vales também podem ser encontrados em forma
de vale em calha, vale normal e vale assimétrico. Ao observar a figura a seguir você
perceberá a diferença entre eles.

45
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

FIGURA 16 – ETAPAS DA EROSÃO FLUVIAL

VALE EM CALHA VALE EM NORMAL VALE EM ASSIMÉTRICO

Planície aluvial Sedimentação

FONTE: Disponível em: <www.agriturismo.net>. Acesso em: 2 jun. 2009.

3.2.1.3 Erosão marinha


Podemos dizer que o mar também forma e/ou transforma as paisagens
litorâneas. A erosão marinha pode ser construtiva e também destrutiva. Assim,
o trabalho de construção do relevo, bem como de destruição, realizado pelo mar
nas áreas litorâneas, chama-se de erosão marinha.

No que concerne ao processo construtivo de erosão marinha, podemos


exemplificar a formação das praias, tômbolos e restingas, resultados a partir da
deposição de sedimentos.

O poder erosivo (destrutivo) das ondas é conhecido como abrasão marinha.

Quando as ondas quebram nas partes em que o continente avança sobre


o mar, arrancam fragmentos das rochas, fazendo com que as paredes rochosas
desmoronem, num processo erosivo de destruição (abrasão).

Um exemplo típico de formas resultantes da abrasão marinha são as


falésias (costas altas e abruptas). O esquema a seguir ilustra a formação de uma
falésia. Observe-o.

46
TÓPICO 2 | PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

FIGURA 17 – ESQUEMA DE FORMAÇÃO DE UMA FALÉSIA

FONTE: Almeida e Rigolin (2004)

3.2.2 Erosão glacial


Os processos de erosão glacial ocorrem sob as massas de gelo. Este tipo de
erosão pode ser definido como envolvendo a incorporação e remoção, pelas geleiras,
de partículas ou detritos do assoalho sobre o qual elas se movem. De modo geral,
ocorrem três processos principais de erosão glacial: abrasão; remoção e ação da água
no degelo. Vejamos cada um deles, segundo de Campos e Santos (2001, p. 223):

Processo de abrasão – corresponde ao desgaste do assoalho sobre o qual


as geleiras se deslocam, pela ação de partículas rochosas transportadas na base
de gelo. É importante frisar que a maior parte da abrasão é produzida não pela
ação direta do gelo, mas pelos fragmentos rochosos que ele transporta, pelo
fato de o gelo ter dureza relativamente baixa. A maior ou menor eficiência da
abrasão depende da pressão exercida pela partícula rochosa sobre o assoalho,
da velocidade do movimento das geleiras e da disponibilidade de partículas
protuberantes na base.

Processo de remoção – consiste na remoção de fragmentos rochosos maiores


pelas geleiras. O fenômeno está associado à presença de fraturas ou descontinuidades
nas rochas do substrato que podem corresponder a estruturas previamente existentes
ou a descontinuidades formadas subglacialmente pelo alívio da pressão causada
pela erosão glacial. Variações na pressão basal do gelo, normalmente associadas
à presença de irregularidades no embasamento, podem gerar campos de esforços
ou alterar os existentes, facilitando o aparecimento ou ampliação das zonas de
fraqueza, promovendo a remoção de fragmentos de rocha. O mesmo pode resultar
de mudanças térmicas na base do gelo. Finalmente, variações na pressão da água de
degelo subglacial, nas adjacências de cavidades nas rochas do embasamento, podem
também tornar o processo de remoção mais eficiente.

47
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

Água de degelo – duas são as maneiras pelas quais a água do degelo


glacial produz erosão: a) mecanicamente – resulta do impacto de partículas
transportadas sobre a superfície das rochas do assoalho das geleiras, pela
agitação de clastos transportados e ação de redemoinho destes, dentro de
cavidades subglaciais, e pelo processo de cavitação (consiste na formação de
ondas de choques pelo colapso de bolhas de ar dentro da corrente aquosa, que
se faz sentir mais intensamente em geleiras de base quente, drenadas por fortes
correntes aquosas subglaciais). b) por ação química – os estados insaturados das
soluções aquosas, a disponibilidade de partículas finas, com grande superfície
relativa de reação e a maior solubilidade do dióxido de carbono em razão da
baixa temperatura da água, acidificando-a, são os fatores aventados para explicar
a erosão química glacial.

Os vales e os circos glaciais são as estruturas mais impressionantes


esculpidas pelo gelo. Vales glaciais formaram-se devido à canalização das geleiras
ao longo de depressões topográficas, modificando-as. A ação abrasiva do gelo
resulta em modificação do perfil dos vales fluviais de V para vales glaciais de U.

Os fiordes da Escócia, da Groenlândia e da Noruega são antigos


vales glaciais localizados em litorais de costas altas, que foram reescavados
profundamente pela ação das geleiras e invadidos pelas águas do mar.

FIGURA 18 – IMAGEM DO FIORDE AURLANSFJORD, PATRIMÔNIO MUNDIAL DA


UNESCO

FONTE: Disponível em: <http://www.almadeviajante.com/fotos/noruega/norue-


ga.php>. Acesso em: 15 maio 2010.

3.2.3 A erosão eólica


A ação do vento fica registrada tanto nas formas de relevo como nos
fragmentos trabalhados pela ação eólica, seja de forma destrutiva (erosão) ou de
forma construtiva e/ou acumulativa (sedimentação ou deposição).

48
TÓPICO 2 | PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

3.2.3.1 Registros erosivos


Os dois processos erosivos que correspondem à atividade eólica são: a
deflação e abrasão. Segundo Sígolo (2001, p. 252), “na deflação a remoção de
areia e poeira da superfície pode produzir depressões no deserto, chamadas
bacias de deflação, podendo chegar a níveis mais baixos do que o nível do mar”.
De acordo com o mesmo autor, deflação também pode produzir os chamados
pavimentos desérticos (figura a seguir (esquerda)), caracterizados por extensas
superfícies exibindo cascalho ou o substrato rochoso, expostas pela remoção dos
sedimentos finos. Se o nível topográfico no deserto sofrer um rebaixamento por
esse mecanismo até atingir a zona subsaturada ou saturada em água, podem
originar-se os chamados oásis (figura a seguir).

FIGURA 19 – REGISTROS EROSIVOS. À ESQUERDA VOCÊ OBSERVA O PAVIMENTO


DESÉRTICO NO DESERTO DO ATACAMA, CORDILHEIRA DOS ANDES. A FOTO À DIREITA
CORRESPONDE AO OÁSIS, TAMBÉM NO DESERTO DO ATACAMA

FONTE: Sígolo (2001)

Por causa dos constantes impactos de diferentes partículas em movimento


(areia fina, média ou mesmo grossa) entre si e com materiais estacionados,
geralmente maiores (seixos, blocos etc.), ocorre um intenso processo de desgaste
e polimento de todos esses materiais. (SÍGOLO, 2001). Este processo denomina-
se abrasão eólica. É importante ressaltar que o vento, isoladamente, não produz
qualquer efeito abrasivo sobre materiais rochosos. Apenas quando transporta
areia e poeira é que exerce papel erosivo. A abrasão produzida pelo vento
assemelha-se ao processo de jateamento e polimento com areia, utilizado na
indústria para limpar, polir ou decorar diversos objetos.

Segundo Sígolo (2001), a ação erosiva do vento produz outras formas


de registro, como os yardangs, que se assemelham a cascos de barcos virados,
formados pela ação abrasiva eólica sobre materiais relativamente frágeis, como
sedimentos e rochas sedimentares pouco consolidadas. Representam formas de
abrasão importantes em diferentes áreas desérticas, tais como a Bacia do Lut, no
sudoeste do Irã, e Atacama, no Chile.

49
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

No Brasil, embora os ventifactos (seixos que apresentam duas ou mais


faces planas desenvolvidas pela ação da abrasão eólica) sejam raros, outras
formas erosivas são encontradas, muitas delas conjugadas à atividade pluvial.
Quando assim ocorrem, as ações erosivas eólica e pluvial podem produzir formas
específicas no relevo, como, por exemplo, nos arenitos do Subgrupo Itararé em
Vila Velha, Paraná. Observe a imagem a seguir.

FIGURA 20 – ARENITOS DO SUBGRUPO ITARARÉ ERODIDOS PELA


CONJUGAÇÃO DA AÇÃO EÓLICA E PLUVIAL, EM VILA VELHA, PARANÁ

FONTE: Sígolo (2001)

3.2.3.2 Registros deposicionais


O transporte e a posterior deposição de partículas pelo vento formam
registros geológicos peculiares que são testemunhos desse tipo de atividade no
passado. Os principais registros eólicos deste tipo são as dunas, os mares de areia
e os depósitos de loess. Atente para estes registros.

Dunas – são formadas por uma deposição contínua, apresentam-se como


grandes elevações de areia, podendo ser estacionárias (fixas) ou migratórias
(móveis). As formas de dunas mais comuns são as dunas transversais, barcanas,
parabólicas, estrela e longitudinais.

Mares de areia – é empregado em desertos para grandes áreas cobertas


de areia, a exemplo da Arábia Saudita, com cerca de 1.000.000 km² da superfície
atualmente cobertos por areia. Gigantescas áreas com dunas também ocorrem
na Austrália e Ásia. As extensas coberturas de areia no Norte da África são
conhecidas como ergs. (SÍGOLO, 2001).

Loess – sedimentos muito finos, quase sempre amarelados, e muito férteis,


constituídos por quartzo, argila e calcário. Sua área de ocorrência mais conhecida
é a da China meridional.
50
TÓPICO 2 | PROCESSOS MORFOGENÉTICOS ATUANTES NA FORMAÇÃO E DESGASTE DO RELEVO

ATENCAO

As paisagens estão em constante transformação, seja pelos agentes exógenos


ou pelos agentes endógenos. Como a nossa presença no planeta é muito curta, dado o
tempo de formação e/ou transformação dessas paisagens, não conseguimos identificar
mudanças significativas em suas formas.

51
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você estudou que:

• Os processos endógenos correspondem aos processos geológicos que atuam


no interior da Terra. O fluxo da matéria do interior para o exterior ou vice-
versa é contínuo e constitui o ciclo das rochas, no qual as massas rochosas
são impulsionadas para a superfície, acentuando o relevo e impedindo o
aplainamento generalizado oriundo dos processos exógenos.

• Estão relacionados à geodinâmica interna da Terra os fenômenos magmáticos


vulcânicos e plutônicos, os dobramentos e falhamentos, a epirogênese e a
orogênese, os terremotos e a tectônica de placas.

• A conjunção dos processos endógenos, presentes durante toda a evolução da


história geológica da Terra, ocasiona a dinâmica da litosfera e, consequentemente,
a formação das cadeias de montanhas, das fossas oceânicas, do deslocamento
de porções continentais e das atividades magmáticas em grandes extensões da
crosta terrestre.

• Os processos exógenos correspondem aos processos que atuam no exterior da


Terra. Nas mais diversas paisagens do mundo é possível reconhecer a presença dos
agentes exógenos no relevo. O trabalho destes agentes é denominado de erosão.

• Os principais agentes erosivos do relevo são: a água (que pode agir no desgaste
do relevo de diferentes formas, através das chuvas, glaciações, rios, mares); o
vento e a própria ação do ser humano.

• A ação das águas pode gerar o desgaste no relevo de diferentes formas, através
das chuvas, gelo, rios, mares.

• Os processos de erosão glacial ocorrem sob as massas de gelo. Este tipo de


erosão pode ser definido como envolvendo a incorporação e remoção, pelas
geleiras, de partículas ou detritos do assoalho sobre o qual elas se movem.
De modo geral, ocorrem três processos principais de erosão glacial: abrasão;
remoção e ação da água no degelo.

• A ação do vento fica registrada tanto nas formas de relevo como nos fragmentos
trabalhados pela ação eólica, seja de forma destrutiva (erosão) ou de forma
construtiva e/ou acumulativa (sedimentação).

52
AUTOATIVIDADE

1 Sobre o papel dos processos endógenos na formação do relevo, analise as


afirmativas que seguem e posteriormente assinale a alternativa que apresenta
as afirmações CORRETAS:

I- A junção dos processos endógenos, presentes durante toda a evolução


da história geológica da Terra, ocasionou a formação das cadeias de
montanhas, das fossas oceânicas, do deslocamento de porções continentais
e das atividades magmáticas em grandes extensões da crosta terrestre.
II- A orogenia é responsável pela deformação e elevação de extensas regiões
da crosta, formando assim os grandes cinturões montanhosos.
III- As dobras, quando expostas na superfície, podem controlar o relevo,
principalmente quando são geradas em sequências de rochas acamadas
com diferentes composições e uma resistência diferencial à erosão.
IV- A configuração do relevo, dependendo da amplitude e idade do falhamento,
será afetada em maior ou menor escala.

a) ( ) Estão corretas apenas as afirmativas II, III e IV.


b) ( ) Estão corretas apenas as afirmativas I e II.
c) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.

2 A presença dos agentes exógenos do relevo pode ser reconhecida nas mais
diversas paisagens. Em relação a este estudo, analise as afirmativas e em
seguida assinale a alternativa que corresponde à sequência correta:

I- A erosão pluvial é um dos agentes erosivos mais ativos no relevo, pois pode
ocasionar grandes crateras no solo ou as chamadas voçorocas.
II- Os vales fluviais são considerados os mais significativos testemunhos do
trabalho erosivo dos rios.
III- As falésias são as formas típicas de abrasão marinha.
IV- Um dos processos erosivos eólicos é a deflação. Nesta, a remoção de areia e
poeira da superfície pode produzir depressões no deserto, chamadas bacias
de deflação.

a) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas.


b) ( ) As alternativas II, III e IV estão corretas.
c) ( ) Somente a alternativa III está correta.
d) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

53
3 Diante do que foi exposto sobre a atuação dos processos
endógenos e exógenos na formação, transformação e desgaste
do relevo, teça um texto, elencando o seu entendimento acerca
desses processos e sua interação no modelado terrestre.

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UNIDADE 1
TÓPICO 3

ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

1 INTRODUÇÃO
Sem dúvida, o estudo das vertentes é um dos mais importantes setores
de pesquisa geomorfológica, contemplando não apenas a análise de processos,
mas também das formas. Todavia, o estudo das vertentes é muito complexo, pois
envolve a ação de vários processos responsáveis tanto pela formação como pela
remoção de material detrítico.

Os vários processos que atuam nas vertentes dependem de muitos fatores,


dentre eles podemos destacar o clima atuante da região, a cobertura vegetal,
a litologia, a estrutura geológica e a forma erosiva. Desse modo, ter-se-á uma
grande variedade de formas, dificultando assim o estabelecimento de um modelo
generalizado de desenvolvimento e evolução de vertentes.

Neste tópico você também terá a oportunidade de compreender os


movimentos de massas que são reconhecidos como os mais importantes processos
geomórficos modeladores da superfície terrestre.

Assim, dada a importância do estudo das vertentes, bem como dos


movimentos de massa, convidamos você a “mergulhar” neste estudo e
compreender a morfogênese das vertentes, os tipos e formas de vertentes, bem
como a importância geológica do estudo das mesmas.

2 VERTENTES
Primeiramente é importante que você entenda o que é uma vertente. De
acordo com o dicionário geológico-geomorfológico de Guerra e Guerra (1997,
p. 634-635), vertentes “são planos de declives variados que divergem das cristas
ou dos interflúvios, enquadrando o vale. Nas zonas montanhosas, as vertentes
podem ser abruptas e formarem gargantas”. Neste caso, as vertentes estão mais
próximas do leito do rio, enquanto nas planícies estão mais afastadas.

Você ficou confuso? Vejamos em um sentido mais amplo o que é uma


vertente.

55
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

Vertente significa superfície inclinada, não horizontal, sem apresentar


qualquer conotação genética ou locacional. As vertentes podem ser
subaéreas ou submarinas, podendo resultar da influência de qualquer
processo, e, nesse sentido amplo, abrangem todos os elementos
componentes da superfície terrestre, sendo formadas pela ampla
variedade de condições internas e externas. (CHRISTOFOLLETI, 1980,
p. 26).

Pode-se dizer que o conceito de vertente foi consagrado por J. Dylik como
“toda superfície terrestre inclinada, muito extensa ou distintamente limitada,
subordinada às leis gerais da gravidade”. (CASSETI, 2005).

Na verdade, o estudo das vertentes enquanto categoria do relevo ganha


importância acadêmico-institucional em 1957, com o trabalho de Tricart, no qual
afirmava que a vertente compunha o elemento principal do relevo.

De fato, o estudo das vertentes é caracterizado pelos geógrafos de


fundamental importância, pois consistem nas mais básicas de todas as formas de
relevo. E essa importância pode ser justificada, pois contribui no entendimento
do processo evolutivo do relevo, bem como, por sintetizar as diferentes formas
tratadas pela geomorfologia.

2.1 MORFOGÊNESE DAS VERTENTES


Conforme Christofoletti (1980), as vertentes podem resultar da influência
de qualquer processo e, nesse sentido amplo, abrangem todos os elementos
componentes da superfície terrestre, sendo formadas pela ampla variedade de
condições tanto internas quanto externas.

Desse modo, as vertentes endogenéticas correspondem àquelas vertentes


cuja formação está relacionada aos processos endógenos (que se originam no
interior da Terra). As vertentes exogenéticas resultam dos processos exógenos
(que se origina na superfície da Terra). Enquanto que os processos endógenos
modificam a posição altimétrica e a orientação preexistente das vertentes, bem
como podem ocasionar a formação de novas vertentes, os processos exógenos
reduzem a paisagem terrestre a um determinado nível de base (o principal é o
nível do mar).

É evidente que a interação dos processos endógenos e exógenos


responsáveis pela formação das formas de relevo tanto da superfície continental
quanto oceânica é um processo relativamente lento na escala do tempo geológico.

Gostaríamos de destacar também, conforme coloca Christofoletti (1980,


p. 26):

56
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

Que considerando que os processos endógenos pertencem ao âmbito


da geodinâmica, e que qualquer que seja a origem endogênica primitiva
toda vertente está esculpida pelos processos exógenos, em maior ou
menor grau, podemos afirmar que as vertentes representam a categoria
de forma que se constitui no objeto primordial da geomorfologia, pois
são os componentes básicos de qualquer paisagem.

Os processos morfogenéticos são os responsáveis pela esculturação das


formas de relevo, representando a ação da dinâmica externa sobre as vertentes.
(CHRISTOFOLETTI, 1980). Apesar desses processos atuarem conjuntamente,
apresentam um desenvolvimento diferenciado, cuja eficácia é igualmente variada,
conforme o meio no qual agem. Para Christofolleti (1980, p. 27):

os processos morfogenéticos constituem fenômenos de escala métrica ou


decamétrica, e o seu estudo traz informações de ordem teórica e prática.
No âmbito teórico, explica a evolução das vertentes e a esculturação do
relevo, e no campo prático fornece informações a propósito da melhor
aplicabilidade das técnicas de conservação dos solos.

TURO S
ESTUDOS FU

Na Unidade 3 você fará um estudo aprofundado sobre o solo, bem com as


técnicas de conservação.

Todavia, se considerarmos os processos morfogenéticos isoladamente,


segundo Christofolleti (1980), podemos distinguir as seguintes categorias mais
importantes na morfogênese do modelado terrestre:

a) Meteorização ou intemperismo → este processo é responsável pela produção


de detritos que serão erodidos, ocasionando a formação do regolito. Pode-se
dizer que é um pré-requisito necessário para a movimentação de fragmentos
rochosos ao longo das vertentes.

57
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

E
IMPORTANT

Caso você não saiba o significado de regolito, é importante ter claro o conceito.
Assim, regolito é o “material decomposto que repousa sobre a rocha-matriz, sem ter
sofrido transporte. O material do regolito é um resíduo que não sofreu ainda o processo de
edafização. Por conseguinte, o regolito constitui um material decomposto, isto é, resultante
da meteorização e não-edafização, o que leva alguns pedólogos a denominá-los de solo
cru”. (GUERRA; GUERRA, 1997, p. 525).

b) Movimentos do regolito → este processo corresponde a todos os movimentos


gravitacionais que ocasionam a movimentação de partículas ou parte do
regolito encosta abaixo. A gravidade é a única força importante na qual não
está envolvido nenhum meio de transporte (o vento, a água em movimento, o
gelo e a lava em fusão). Contudo, é evidente que a presença da água e do gelo,
por exemplo, pode acelerar o movimento do regolito.

c) O processo morfogenético pluvial → é um dos processos mais generalizados


e importantes na esculturação das vertentes, distinguindo-se entre a ação
mecânica das gotas de chuva e o escoamento pluvial. No que tange à ação
mecânica das gotas de chuva, pode-se afirmar que este é o primeiro impacto
erosivo dos solos, promovendo o “arrancamento” e deslocamento das
partículas terrosas. Isso ocorre em função da energia cinética das gotas, variando
conforme o tamanho e a velocidade das mesmas. Embora o impacto das gotas
de chuva represente a primeira fase da morfogênese pluvial, o processo de
transporte mais importante é o escoamento pluvial que se origina quando a
quantidade de água precipitada é maior que a velocidade de infiltração.

ATENCAO

No tópico anterior você pôde verificar a ação erosiva das águas das chuvas. Se
for necessário, retome a leitura.

58
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

d) A ação biológica → sem dúvida, a ação dos seres vivos também contribui
no modelado das vertentes. As plantas, através das raízes, ocasionam o
deslocamento de partículas, aumentando a permeabilidade do solo, bem
como intensificam as ações bioquímicas e a retirada de nutrientes. As plantas
também funcionam como camada interceptora diante da ação mecânica da
água das chuvas, servindo de obstáculos ao escoamento pluvial e à ação
dos ventos. Merece destaque também a ação dos animais. As minhocas, ao
digerirem a terra, ocasionam a diminuição granulométrica das partículas. Os
“fuçadores”, ao escavarem suas tocas, deslocam as partículas para jusante.
As formigas, ao escavarem galerias no solo, facilitam a permeabilização e
infiltração, removendo as partículas de locais mais profundos para a superfície.
Desse modo, esse material é desagregado e carregado facilmente pela água
das chuvas. De modo geral, a influência morfogenética dos animais pode ser
considerada mais ativa que a ação das plantas.

ATENCAO

Jusante corresponde a uma área que fica abaixo de outra, ao considerar a


corrente fluvial pela qual é banhada. Costuma-se também empregar a expressão relevo de
jusante ao descrever uma região que está numa posição mais baixa em relação ao ponto
considerado. (GUERRA; GUERRA, 1997).

Segundo Christofoletti (1980, p. 31-32), o estudo dos processos


morfogenéticos demonstra a importância que o fator climático assume no
condicionamento para a esculturação das formas de relevo. Salienta também
que dois conceitos básicos estão implicitamente envolvidos: que processos
morfogenéticos diferentes produzem formas de relevo diferentes; e que
as características do modelado devem refletir até certo ponto as condições
climáticas sob as quais se desenvolveu a topografia. Baseando-se nesses
princípios, decorre o corolário de que as consequências das oscilações
climáticas podem ser reconhecidas através de elementos específicos da
topografia, constituindo as formas relíquias que ainda não se adaptaram às
novas condições de fluxo de matéria e energia.

59
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

Individualmente, os processos morfogenéticos possuem uma dinâmica


própria e são elementos componentes de um conjunto maior, refletindo a
influência do clima regional. Esse conjunto é denominado morfogenético,
formando uma estrutura perfeitamente caracterizada, pois: a) a estrutura
não é reduzível à soma de suas partes. Cada processo pode se integrar e ser
encontrado em diversos sistemas morfogenéticos, mas o seu papel se modificará
em função das condições gerais e dos demais processos aos quais está associado;
b) a estrutura é um sistema de relações, os processos inter-relacionam-se em um
verdadeiro conjunto; c) a estrutura é ordenada e possui uma dominante. Em
cada sistema podem ser encontrados inúmeros processos comuns aos demais;
todavia, todos os processos não possuem a mesma importância em cada sistema,
compondo uma certa hierarquia, mas um deles será o predominante e fornecerá
a característica básica de determinado sistema morfogenético, implicando a
existência de relações variáveis entre os processos. Por exemplo, a alternância
gelo-degelo constitui a dominante no sistema morfogenético periglaciário,
mas é elemento subsidiário no sistema desértico ou no temperado; da mesma
forma, a meteorização bioquímica é intensa nos sistemas tropicais úmidos, mas
é reduzida nos sistemas desérticos e frios.

A verificação de semelhanças no modelado regional, aliada aos tipos


de vegetação e aos solos, permite distinguir as regiões morfogenéticas. Essa
noção foi introduzida primeiramente por Julius Büdel (1944), utilizando o termo
Formkreisen, mas ganhou realce a partir de 1950. O seu conceito é o seguinte:
“sob um conjunto determinado de condições climáticas, predominarão
processos geomórficos particulares que, por sua vez, imprimirão à paisagem
da região características que a tornarão distinta de outras áreas desenvolvidas
sob condições climáticas diferentes”. Nota-se, portanto, que a região
morfogenética nada mais é que a expressão areal do sistema morfogenético.
Como tais sistemas são dependentes dos tipos de clima, facilmente se
depreende o conceito de região ou zona morfoclimática.

Na verdade, várias foram as tentativas realizadas no intuito de definir


e/ou reconhecer as regiões morfoclimáticas da superfície terrestre, podendo ser
classificadas em três categorias: indutivas, sintéticas e objetivas.

DICAS

Caso você queira saber detalhes e/ou características sobre as classificações


indutivas, sintéticas e objetivas, recomendamos a leitura do capítulo 2 da obra de Antônio
Christofoletti, intitulada Geomorfologia. Este capítulo também está disponível no material de
apoio desta disciplina.

60
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

De modo geral, podemos dizer que os fatores morfoclimáticos intervêm


através da meteorização e pedogênese e da natureza dos processos de afeiçoamento
das vertentes. Enquanto que as influências litológicas podem intervir de várias
maneiras, seja na forma do perfil da vertente, na sua declividade média, na
velocidade do recuo, dentre outras.

2.2 EVOLUÇÃO DAS VERTENTES


A evolução das vertentes compreende duas fases distintas: a produção
de detritos e sua remoção. (BIGARELLA, 2003). Pode-se dizer que a evolução
das vertentes é uma consequência da atuação dos processos deposicionais.
Para Bigarella (2003 p. 984), “o mecanismo da evolução das vertentes consiste
essencialmente em uma sutil interação entre profundas mudanças climáticas,
variações de níveis de base locais e deslocamentos crustais”. Segundo o mesmo
autor, esse mecanismo parece ser global. Na verdade, a atuação dos agentes
modeladores da paisagem foi sincronizado e ao mesmo tempo seguiu um
processo cíclico repetido nas vastas extensões da Terra.

Se partirmos do princípio de que os processos de vertentes se diferenciam


em função do clima ou da ação tectônica, o limite do umbral de funcionamento de
uma vertente sofre alterações, sobretudo na escala de tempo geológico, suscetível
a eventuais mudanças. (CASSETI, 2005). Desse modo, em virtude das glaciações
pleistocênicas, nas regiões temperadas, por exemplo, no limite superior das
vertentes ocorria um declive de aproximadamente 2 graus, comandado pelo
processo de solifluxão, associado à fusão de geleiras. Com o recuo dos glaciais
no Holoceno, os processos de vertente atuais passam a ser observados em
condições de declividade mais elevada. (CASSETI, 2005). Assim, a vertente deve
ser analisada numa perspectiva onde o fator temporal assume relevância para a
compreensão do processo evolutivo.

Na visão de Casseti (2005), as relações processuais em uma vertente


dependem de fatores como o declive, a litologia e as condições climáticas. Ainda
de acordo com o mesmo autor, o movimento de massa, por exemplo, pode ocorrer
em declive moderado, desde que a presença de água e de argila seja suficiente para
reduzir o atrito do material intemperizado em relação à estrutura subjacente. Desse
modo, tanto o umbral de destacamento quanto o de parada, para uma vertente
mais longa, variam em função das condições climáticas, do material proveniente da
rocha subjacente (não necessariamente) e da própria declividade.

Observe atentamente o esquema proposto por Clark e Small (apud


CASSETI, 2005), no qual procuram mostrar as relações processuais em uma
vertente considerando sua forma.

61
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

FIGURA 21 – O SISTEMA EM UMA VERTENTE CONVEXO-RETILÍNEA-CÔNCAVA

FONTE: Clark e Smal (apud CASSETI, 2005)

Para Cruz (1982), o estudo geomorfológico da evolução das vertentes é


de fundamental importância, pois auxilia o entendimento espaço-temporal dos
mecanismos morfodinâmicos recentes e antigos. No que concerne aos estudos
morfodinâmicos mais recentes, é importante destacar que estes são fundamentais
para o estudo geomorfológico, pois ajudam a entender as paisagens geográficas.
De acordo com Cruz (1982), são esses estudos (morfodinâmicos) que mostram
os mecanismos dessa evolução e levam ao melhor entendimento dos estudos
morfogenéticos de épocas passadas.

De acordo com Bigarella (2003), várias formas têm sido usadas pelos
geomorfólogos para estabelecer cronologias locais que podem ter também grande
valor na explicação da morfologia de vastas áreas. O problema fundamental da
evolução das vertentes tem sido extensivamente reconhecido pelos geomorfólogos.
Na visão de Bigarella (2003), parece que as diferenças básicas de opiniões entre os
pesquisadores do assunto estão relacionadas com a morfologia das vertentes e o
papel do clima como fator de relevância na evolução da paisagem.

2.3 A FORMA DAS VERTENTES


No que se refere à evolução dos conhecimentos geomorfológicos, cabe
destacar que o desenvolvimento do perfil das vertentes talvez tenha sido um dos
temas mais difíceis de serem interpretados.

62
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

Apesar dos conhecimentos adquiridos desde o início do século XX, até


pouco depois da metade deste mesmo século, as concepções sobre o perfil das
vertentes ainda não eram conclusivas. No intuito de discutir esta problemática
foram seguidas duas metodologias distintas. Segundo Bigarella (2003, p. 973),
uma das metodologias procurou dar “um tratamento geométrico, muitas vezes
matemático, para deduzir o que poderia resultar numa vertente inicial, a partir de
uma sequência de condições estipuladas”. A outra metodologia, utilizada desde
os tempos de Gilbert e Davis, corresponde à análise de inúmeras observações,
ou seja, o uso do método empírico. É evidente que esta metodologia não tem a
mesma precisão que a geométrica.

Existe uma diversificação de tipos de vertentes que abarcam desde


superfícies suavemente inclinadas, bem como superfícies muito íngremes,
escarpadas, quase verticais. Contudo, antes de verificarmos os tipos básicos de
vertentes é importante destacar os principais termos utilizados para descrever as
parcelas componentes das mesmas. Vejamos, segundo Christofoletti (1980, p. 39):

Unidade de vertente → consiste em um segmento ou em um elemento.

Segmento → é a porção do perfil da vertente na qual os ângulos


permanecem aproximadamente constantes, o que lhe dá o caráter retilíneo.

Elemento → é a porção da vertente na qual a curvatura permanece


aproximadamente constante. Pode ser dividido em elemento convexo, com
curvatura positiva, quando os ângulos aumentam continuadamente para
baixo, e elemento côncavo, com curvatura negativa, quando os ângulos
decrescem continuadamente para baixo.

Convexidade → consiste no conjunto de todas as partes de um perfil


de vertente no qual não há diminuição dos ângulos em direção à jusante.

Concavidade → consiste no conjunto de todas as partes de um perfil


de vertente no qual não há aumento dos ângulos em direção à jusante.

Sequência de vertente → é uma porção do perfil consistindo


sucessivamente de uma convexidade, de um segmento com declividade maior
que as unidades superior e inferior, e de concavidade.

Ruptura de declive → consiste no ponto de passagem de uma unidade


à outra.

63
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

A maior parte das vertentes é composta por vários segmentos. Para


Bigarella (2003), as vertentes, por sua vez, geralmente apresentam um perfil
formado por um segmento superior convexo, no qual a declividade aumenta para
a jusante, seguido por um segmento inferior côncavo com redução de declive
encosta abaixo. Pode-se encontrar também um segmento retilíneo com uma
declividade constante, bem como, segmento escarpado marcado pela presença de
rochas mais resistentes, no qual os detritos intemperizados deslizam livremente.

Você deve estar imaginando ou tentando imaginar, diante do que


foi exposto, o perfil dos vários segmentos das vertentes. Para facilitar sua
compreensão, atente para as figuras que seguem.

FIGURA 22 – DESIGNAÇÃO DOS VÁRIOS SEGMENTOS DA VERTENTE. A FIGURA


A1 REPRESENTA UMA VERTENTE CONVEXO-[RETILÍNEA]-CÔNCAVA-CONVEXA. A
FIGURA A2 CORRESPONDE A UMA VERTENTE CONVEXO-CÔNCAVA. A FIGURA B
REPRESENTA UMA VERTENTE FORMADA PELO RECUO DA ESCARPA

Convexo - côncava

Retilínea
Convexo - côncava

Convexo - côncavo
Convexo - côncavo Escarpa

Retilínea Retilínea (vertente de detritos)

Côncava Côncava

FONTE: Adaptado de Bigarella (2003)

O perfil típico de uma vertente, conforme Max Derruau (em 1965),


geralmente apresenta uma convexidade no topo e uma concavidade na parte
inferior, sendo que ambas estão separadas por um simples ponto de curvatura
e/ou desvio ou por segmento. (DERRUAU, 1965 apud CHRISTOFOLETTI,
2005). Conforme Christofoletti (2005, p. 39), “quando tais vertentes se encontram
recobertas por um manto de detritos, com superfície lisa e sem ravinamentos, são
denominadas de regular ou normal”. É importante salientar que a
declividade de uma vertente para outra varia muito. Contudo, a declividade nas
vertentes normais é sempre inferior à dos taludes de gravidade dos materiais.
(CHRISTOFOLETTI, 2005).

Observe na figura a seguir a composição de uma vertente normal ou regular,


conforme a concepção de Max Derruau. A área pontilhada indica o regolito.

64
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

FIGURA 23 – A COMPOSIÇÃO DA VERTENTE NORMAL OU REGULAR, CONFOR-


ME A CONCEPÇÃO DE DERRUAU (1965)

FONTE: Christofoletti (1980)

Não podemos deixar de ressaltar também a importante contribuição de


Frederick R. Troeh, que utilizou equações matemáticas para explicar as formas
das vertentes. Atente para os quatro tipos básicos de vertentes, combinando a
concavidade e convexidade, conforme a concepção de Troeh, em 1965.

FIGURA 24 – OS QUATRO TIPOS BÁSICOS DE VERTENTES, COMBINANDO A


CONCAVIDADE E CONVEXIDADE, CONFORME TROEH (1965)

Vertentes com radicais convexos Vertentes com radicais côncavas


e contornos côncavos e contornos cônvacos

Vertentes com radicais convexas Vertentes com radicais côncavas


e contornos convexos e contornos convexos

FONTE: Adaptado de Christofoletti (1980)

Diferentemente do perfil típico de vertente apresentado anteriormente por


Max Derruau e Frederick R. Troeh (ambos em 1965), vale a pena relembrar que
Lester C. King (em 1953) propôs um modelo universal, no qual a vertente típica
apresenta quatro partes: convexidade no topo; face livre ou escarpa retilínea;
parte reta com detritos da porção superior da vertente e pedimento suavemente
côncavo. Observe essas quatro partes na ilustração a seguir.

65
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

FIGURA 25 – AS QUATRO PARTES COMPONENTES DA VERTENTE, CONFORME O


MODELO APRESENTADO POR KING, EM 1953

Convexidade

Escarpa (face livre)

Retilíneo ( com detritos)

Concavidade

FONTE: Adaptado de Christofoletti (1980)

Contudo, anterior à proposta de King (em 1953), Arthur N. Strahler (em


1950) divide as vertentes erosivas em três tipos básicos considerando o ângulo
de repouso dos materiais não coesivos. O primeiro corresponde às vertentes
em repouso, dentro dos limites do ângulo de repouso. O segundo refere-se às
vertentes de alta coesão, elaborada comumente em material rochoso, apresentando
uma declividade maior. E o terceiro diz respeito às vertentes reduzidas pelo
escoamento difuso e rastejamento, ou seja, declividades suaves.

Não podemos deixar de destacar as contribuições de Dalrymple, Blong e


Conacher (em 1968). Estes propuseram nove unidades hipotéticas no modelo de
perfil das vertentes, baseando-se nos estudos em áreas temperadas úmidas. Para
eles, a vertente é um sistema complexo tridimensional que se “estende do interflúvio
ao meio do leito fluvial e da superfície do solo ao limite superior da rocha não
intemperizada”. (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 40). Nesta concepção, a vertente é
dividida em nove unidades, cada uma sendo definida em função da forma e dos
processos morfogenéticos dominantes e normalmente atuantes sobre ela. Observe
atentamente na figura a seguir as nove unidades hipotéticas no modelo de vertente.

66
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

FIGURA 26 – AS NOVE UNIDADES HIPOTÉTICAS NO MODELO DE VERTENTE APRESENTADO


POR DALRYMPLE, BLONG E CONACHER (EM 1968)

Interflúvio (0° -1)°


Declive com infiltração (2° -4°)

Declive convexo com reptação

Escarpa (ângulo mínimo de 45°)

Declive intermediário de transporte


Sopé coluvial (ângulo 26° e 35°)

Declive aluvial (0° -4°)

Margem de curso de água

Leito do curso

FONTE: Adaptado de Christofoletti (1980)

Para ampliar a discussão quanto à feição tridimensional de uma vertente,


Ruhe (em 1975-1979) apresenta nove aspectos geométricos dependentes do
perfil e da forma. As várias feições compõem segmentos que estão associados de
diversas maneiras, sem que isso implique na presença de todos numa determinada
vertente. (RUHE e WALKER, 1968 apud BIGARELLA, 2003). Vejamos então os
nove tipos de feições tridimensionais eventualmente presentes numa vertente.

67
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

FIGURA 27 – GEOMETRIA DAS FORMAS DE VERTENTES CONFORME RUHE (1975, 1979)

LINEAR - LINEAR -
LINEAR - CÔNCAVO
CONVEXO
LINEAR

CONVEXO -
CONVEXO -
CONVEXO - CÔNCAVO
CONVEXO
LINEAR

CÔNCAVO -
CÔNCAVO -
CÔNCAVO - CÔNCAVO
CONVEXO
LINEAR

FONTE: Bigarella (2003)

Como você pôde perceber, os métodos de analisar, bem como determinar


as formas de vertente, são numerosos. Neste contexto, iremos encontrar
pesquisadores que procuram efetuar seus estudos em função de levantamentos
dos perfis reais, bem como autores que estudam as formas das vertentes através
de equações matemáticas. De modo geral, o emprego de perfis tornou-se uma
técnica descritiva com uma ampla aceitação na análise das vertentes. Pode-se
dizer que esta técnica foi inicialmente proposta por Savigear (em 1952-1956) e
estruturada pelo mesmo autor (1967) e também ampliada por Young (em 1964-
1971). Para eles, “o método usado com maior frequência na análise dos perfis de
vertentes é dividir as unidades em retilíneas, convexas e côncavas.

2.4 DINÂMICA DAS VERTENTES


Sem dúvida, o funcionamento de uma vertente é muito complexo. Muitas
foram as contribuições de estudiosos para tentar compreender a complexidade
do funcionamento de uma vertente. Dentre elas, merecem destaque o conceito de
balanço morfogenético e a dinâmica das vertentes como sistema aberto.

68
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

Em 1954, Alfred Jahn apresentou o conceito de balanço morfogenético.


Neste, a meteorização e a pedogênese correspondem aos componentes verticais
na vertente. Assim, a ação combinada desses componentes pode aumentar a
espessura do regolito. Para Jahn, os demais processos morfogenéticos, como o
movimento do regolito, o escoamento, a ação eólica, dentre outros, correspondem
aos componentes paralelos. O efeito desses processos corresponde à retirada
de detritos da vertente, ocasionando a diminuição da espessura do regolito e o
rebaixamento do modelado. (CHRISTOFOLETTI, 1980).

Esquematicamente, a vertente “estende-se do interflúvio ao canal fluvial


e apresenta a superfície topográfica como limite superior e a superfície rochosa
inalterada como limite inferior”. (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 58). Tendo por
base esta compreensão, a dinâmica da vertente pode ser estudada na perspectiva
dos sistemas abertos, recebendo, bem como perdendo matéria e energia. Neste
contexto, a ilustração a seguir facilitará sua compreensão. Observe-a.

FIGURA 28 – DINÂMICA DA VERTENTE CONSIDERADA COMO SISTEMA ABERTO, RECE-


BENDO E PERDENDO MATÉRIA E ENERGIA DE MANEIRA CONSTANTE

FONTE: Christofoletti (1980)

Diante do que foi exposto, não esqueça que as vertentes apresentam um


equilíbrio dinâmico, podendo chegar a um estado de estabilidade, com o qual a
forma da vertente permanecerá imutável com o passar do tempo, mesmo com a
ocorrência do desgaste do relevo.

69
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

2.5 A IMPORTÂNCIA GEOLÓGICA DO ESTUDO DAS


VERTENTES
O estudo das vertentes abarca uma grande importância nas pesquisas
geológicas. Você deve estar se perguntando: por quê? Por causa de dois motivos
principais. Vejamos, de acordo com Christofoletti (1980, p. 61):

a) O conhecimento e a compreensão dos processos atuais levam-nos a


interpretar os ambientes antigos e estudar a paleogeografia. Charles Lyell,
em 1930, afirmara que “o presente é a chave do passado”. A afirmação de
Lyell deu origem ao princípio do atualismo (vimos no caderno de Geografia
Física) e essa perspectiva foi muito utilizada no decorrer do último século. O
que resta discutir é se os processos atuais e as suas consequências podem ser
extrapolados pura e simplesmente para as épocas passadas.

b) Os fenômenos atuantes sobre as vertentes regulam o tipo de material a ser


fornecido aos rios e aos demais meios de transporte do material detrítico.
Conforme o tipo de material originado na fonte (vertente) será o tipo de
material ocorrente no ambiente de sedimentação. Essa inter-relação foi melhor
explorada por Henri Erhart, que em 1955 apresentou os fundamentos da teoria
biorresistásica, baseando-se em observações sobre os processos pedogenéticos
e nas variações da cobertura vegetal dos continentes. Essa teoria também pode
servir como critério geocronológico no que tange ao fornecimento aproximado
da amplitude das oscilações climáticas ocorridas em certas épocas geológicas.

ATENCAO

A teoria biorresistásica baseia-se na ação geoquímica exercida pelas florestas.


As rochas sob cobertura florestal densa, no decorrer de sua evolução pedogenética perdem
as suas bases alcalinas e alcalino-terrosas e também a maior parte da sílica. Assim, somente
o ferro, o alumínio e a argila residual permanecem no local. Desse modo, estabelece-se
uma distinção dos materiais em duas fases: a fase migradora (bicarbonatos de Na, K, Ca,
Mg e lentes de sílica hidratada) e a fase residual (hidróxidos de ferro, alumínio, argila do tipo
caolinita). A ocorrência dessa separação é porque sob as florestas a erosão mecânica é
praticamente nula, mas existe uma intensa denudação química que carrega dos solos todos
os elementos químicos solúveis. (Adaptado de: Christofolleti, 1980).aa

3 MOVIMENTO DE MASSA
Você sabe o que é um movimento de massa ou também denominado
movimento gravitacional de massa?

70
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

Segundo Bigarella (2003, p. 1026), “os movimentos de massa são


reconhecidos como os mais importantes processos geomórficos modeladores
da superfície terrestre”. De acordo com o mesmo autor, os movimentos de
massa referem-se ao deslocamento de material, ou seja, solo e rocha, vertente
abaixo, sendo influenciados pela gravidade. Ainda segundo o mesmo autor,
esses movimentos são desencadeados pela interferência direta de outros agentes
independentes, como, por exemplo, a água, gelo ou ar.

Podemos dizer, ainda conforme Bigarella (2003, p. 1026), que,


os movimentos de massas são fenômenos comuns em terrenos
acidentados íngremes, podendo ocorrer igualmente em vertentes de
baixa declividade. Grande desmoronamento (landslides) é frequente
em regiões tectonicamente ativas. Outros são causados ou induzidos
pela pressão de água no solo.

No caso dos deslizamentos ocorridos na mesorregião do Vale do Itajaí


(SC) em novembro de 2008, o fator da pressão da água foi determinante, dado o
alto índice pluviométrico nos dias que antecederam os deslizamentos.

As áreas suscetíveis aos movimentos de massa, de acordo com Leopold,


Wolman e Miller (apud BIGARELLA, 2003), possuem as seguintes características:

a) intemperismo profundo das rochas;


b) na ausência de uma alteração profunda, a presença de estruturas sedimentares
favoráveis e de litologia variada;
c) a presença de argilas expansivas;
d) teor elevado de umidade;
e) possibilidade de ação criogênica perene, sazonal ou de tempo menor;
f) ocorrência de terremotos;
g) vertentes perturbadas pela ação de ondas ou de rios.

Para Bigarella (2003), os movimentos de massa enquadram-se em duas


categorias:

a) aqueles devidos a causas externas que aumentam a tensão de cisalhamento


(shear stress) dos materiais das vertentes sem afetar as tensões internas (shear
strength) desses materiais;
b) aqueles que afetam as tensões internas sem mudanças de cisalhamento.

ATENCAO

De acordo com o Novo Dicionário Geológico-Geomorfológico, de Guerra e


Guerra (1997, p. 144), “cisalhamento corresponde à fraturação das rochas onde aparecem
abruptos, produzida pelos esforços tectônicos”.

71
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

De modo geral, os geomorfólogos designam movimentos de massa quando


parte de uma vertente fica instável e os materiais envolvidos movimentam-se
pela ação da gravidade.

3.1 FATORES CONDICIONANTES


A ocorrência dos movimentos de massa é condicionada por vários fatores.
Contudo, merecem destaque principalmente:

• A estrutura geológica da área → neste, devemos considerar os aspectos


litológicos; os padrões de fratura e diáclase (aberturas microscópicas que
aparecem no corpo de uma rocha, principalmente devido aos esforços
tectônicos, tendo direções variadas); o manto de intemperismo; coesão e peso
por unidade do material formador das vertentes; circulação das águas; esforços
de cisalhamento e planos de cisalhamento.
• A declividade da vertente → o movimento de massa é fortemente influenciado
pela morfologia da vertente. Assim, por exemplo, a altura e a inclinação da
mesma são determinantes na ocorrência dos movimentos de massa. Os maiores
eventos catastróficos registrados no Brasil, relacionados a estes movimentos,
segundo Bigarella (2003), foram em áreas de alta declividade.
• O índice pluviométrico → a intensidade das chuvas, bem como o seu
prolongamento, podem ocasionar o deslocamento do solo vertente abaixo,
principalmente em áreas desnudas, cuja infiltração da água é mais acentuada.
• A perda da vegetação → a presença da vegetação é importante, pois controla
o escoamento superficial e a infiltração das águas no manto intemperizado,
diminuindo a penetração excessiva da água no subsolo. A perda da vegetação
expõe o solo ao processo erosivo, principalmente após o período de chuvas
prolongadas, no qual o excesso de água irá encharcar o solo, ocasionando
o relaxamento dos esforços internos através da lubrificação dos planos de
cisalhamento, dando início aos movimentos de massa.
• O solo muito intemperizado → a intensidade do processo de intemperização
do solo contribuirá na aceleração dos movimentos de massa, bem como no
fluxo de lama.
• A ação antrópica → a atuação do ser humano nas vertentes também pode ser
um fator decisivo na ocorrência dos movimentos de massa, seja com a retirada
da vegetação, na construção de moradia nas encostas ou na abertura de estradas,
dentre outras. Um simples corte para a abertura de uma estrada, por exemplo,
no sopé de uma vertente, poderá ocasionar, após a atuação de fortes chuvas,
algum tipo de movimento de massa.

3.2 TIPOS DE MOVIMENTO DE MASSA


Para distinguir os vários tipos de movimento de massa nas vertentes são
empregados alguns critérios que se baseiam no material, no conteúdo de água
do subsolo, na velocidade, no mecanismo, bem como no tipo do movimento. De
acordo com Bigarella (2003, p. 1038), “a classificação dos movimentos de massa
apresenta dificuldades, principalmente no que diz respeito à quantificação das
72
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

variáveis envolvidas. Os movimentos são de natureza variada, podem mudar


vertente abaixo; via de regra, são transacionais entre si”.

É importante destacar que o teor do material que se move e sua consistência


podem determinar o desenvolvimento de uma variedade de tipos gradacionais
de movimentos de massa, os quais dependem também das diversas proporções
da mistura da água e do solo.

A tabela a seguir apresenta simplificadamente a classificação dos movimentos


de massa, de acordo com Vernes (apud BIGARELLA, 2003, p. 1038). Vejamos.

QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS DE MASSA


Tipos de movimentos de Tipo de material
massa
Solo
Rocha Grosseiro Fino
Desmoronamento Desmoronamento Desmoronamento
DESMORONAMENTO rochoso de escombros terroso
(avalanche, queda) (avalanche rochosa) (avalanches de escombros) (avalanche terrosa)
[Falls] [Rock fall] [Debris fall] [Earth fall]
Tombamento
TOMBAMENTO Tombamento rochoso Tombamento de escombros terroso
[Topple] [Rock topple] [Debris topple] [Earth topple]
Escorregamento
ESCORREGAMENTO Escorregamento rochoso Escorregamento de escombros terroso
Rotacional Deslizamento de blocos Deslizamento de blocos de Deslizamento de
rochosos escombros blocos terrosos
Translacional [Rock block glide] (Debris block glide) (Earth block glide)

Translocacional Escorregamento de Escorregamento


Escorregamento de escombros
rochas terroso
Corridas de lama
CORRIDAS DENSAS ou de areia
FONTE: Vernes (apud BIGARELLA, 2003, p. 1038)

Na verdade, existem várias propostas de classificações de diferentes


autores sobre os tipos de movimentos de massas. A tabela que vimos anteriormente
é uma delas. Vejamos outra classificação.

QUADRO 3 – TIPOS DE MOVIMENTOS DE MASSA


Tipo de movimento Características do movimento
Movimento lento. Ocorre em declives acima de 35º, deslocando porção superior do
Rastejos
solo, atingindo baixa profundidade. Possui gradiente vertical de velocidade (maior
(creep)
próximo à superfície, diminuindo com a profundidade).
Envolvem participação da água. Ocorre em relevos de elevada amplitude, com
Escorregamentos
Deslizamentos

presença de manto de regolito. Causado por elevada pluviosidade e antropismo.


(slide)
Envolve fragmentos de rochas (rockslide) e solos (landslides)

Corridas de massa Participação intensa de água, forte caráter hidrodinâmico. O transporte é feito
(flow) por suspensão ou saltação. A separação entre água e carga sólida é dificultada.

Movimentos desenvolvidos em declives com ângulos próximos a 90º. Queda


Queda de blocos
livre de material (rochas, solos). Ação maior da gravidade, sem água como
(fall)
agente mobilizador.

FONTE: Adaptado de Chorley et al. (1984), IPT (1989), Fernandes e Amaral (1996 apud SESTINI,
1999, p. 31)

73
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

As figuras abaixo procuram ilustrar cada tipo de movimento de massa


de acordo com a classificação adaptada de Chorley et al (tabela 02) acima
descrita. Observe.

FIGURA 29 – MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA


Rastejo Escorregamento
trincos

massa movimentada

solo
inclinação
superficial excessiva
surgências d'água ruptura altura
excessiva
limite de rastejo solo de

lençol alteração
freático estrutura
residual
Fonte IPT 91 Fonte IP

FONTE: Movimentos Gravitacionais de Massa. Disponível em: <http://www.meioambiente.pro.


br/baia/mov.htm>. Acesso em: 9 jun. 2009.

FIGURA 30 – MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA


Quedas de Blocos Corridas de Massa
corrida de massa

solo

rocha só
blocos instáveis

descontinuidades
do maciço
surgências

blocos deslocados
do encosto

materias depositadas
Fonte IPT 91 Fonte IPT 91 pela corrida
FONTE: Movimentos Gravitacionais de Massa. Disponível em: <http://www.meioambiente.
pro.br/baia/mov.htm>. Acesso em: 9 jun. 2009.

74
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

Quanto ao escorregamento, destacam-se três tipos de movimentos de


massa associados: Ruptura Planar, Ruptura Circular e Ruptura em Cunha. Atente
para a representação a seguir.

FIGURA 31 – ESCORREGAMENTO: TIPOS DE MOVIMENTOS DE MASSA ASSOCIADOS

Fonte: IPT/SP (1991 apud AUMOND, 2009)

Se fizermos uma análise mais detalhada dos mecanismos de transporte


gravitacional envolvendo a interação grãos/fluidos, veremos que, do ponto de
vista estritamente físico, os fluxos gravitacionais distinguem-se pelo objeto de
atuação da força-peso (a mistura grãos/fluido). (GIANNINI; MELO, 2009). Quanto
ao ponto de vista geológico, de acordo com os mesmos autores, três características
são consideradas mais comuns aos diferentes tipos de fluxos gravitacionais: a
associação preferencial a de declives; a formação de depósitos na base destes
declives; e o caráter brusco, com dissipação de grande quantidade de energia e
deslocamento de grande massa de sedimentos em um tempo muito reduzido
(segundos a poucas horas).

Giannini e Melo (2009) destacam seis principais variedades de fluxos


gravitacionais: escorregamento; deslizamento; fluxo de massa friccional (granular);
fluxo de massa coesivo (de lama); liquidificação; e corrente de turbidez.

Observe, na interessante tabela a seguir, os principais fluxos gravitacionais


destacados acima e suas características quanto ao regime reológico (tipo de resposta
mecânica da mistura grãos/fluido no momento em que o limiar de movimento é
vencido), mecanismo de interação grãos/fluido, declive mínimo e depósito.

75
MECANISMO DE INTE-
TIPO DE SUB-TIPOS DE RAÇÃO INTERGRANU- ESQUEMA DO ÂNGULO SUFICIENTE REPRESENTAÇÃO
REOLOGIA PROCESSO PROCESSO LAR E/OU GRÃO/FLUI- MECANISMO DE PARA PRODUTO ESQUEMÁTICA
GRAVITACIONAL GRAVITACIONAL DO (SUSTENTAÇÃO DO INTERAÇÃO DESENCADEAMENTO* DO PRODUTO
MOVIMENTO

Vencimento do atrito, em Depósitos de blocos de


Queda de rocha
fraturas ou na superfície de rocha ou de olistólitos**,
ou queda de bloco 25 a 35
contato de clastos rudáceos, com tamanho crescente
(rockfall ou blockfall)
pelo peso. com a distância
Falhas normais de alta
Cisalhamento concretadoao 20 (água) encosta ou talude:
Deslizamento
longo de superficies planas a olistólitos** tabulares
Rúptil ou (sliding)
de descontinuidade fisica 30 (ar) deslizadas (slide
disjuntiva
Deslizamento deposits)

FONTE: Giannini e Melo (2009)


escorregamento Falhas lístricas e
(sliding/slumping) depósitos dobrados
Cisalhamento concentrado ao 20 (água)
Escorregamento (slump folded deposits)
longo de superficies curvas a
(slumping) de baixa encosta ou
de descontinuidade física 30 (ar)
talude olistólitos**
deformados
Lentes delgadas de areia
Fluxo de detritos
Pressão dispersiva (choque (espessura máxima
friccional ou de grãos 18 (água) a 25 (ar)
entre grãos) e peneiramento subdecimétrica) com
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

(grain flow ou sand para areia média a fina


Dúctil ou cinético gadação inversa e
flow)

76
plástica empactamento aberto
( de massa) Fluxo de detritos
Tensão interna (densidade/
coesivo ou de lama Depósitos rudáceos com
viscoside) da matriz: empuxo 5
(cohesive debris flow organização incipiente
e coesão
ou mud flow)
Sobrepressão de poro,
Areias com aspecto
Acomodaçaõ de seguida de descenso
maciço ou estruturas
A comodação sedimentos liquefeitos (compactação) de grãos com 0
deformacionais caóticas
de sedimentos (liquelied flow) deslocamento ascendente de
(carvoluções)
liquidificados ou fluidos intersticiais.
areias movediças Acomodação de Areias com estrutura em
(quick sands) Sobrepressão de poro,
sedimentos pires (dish), tubos de
seguida de escape ascendnte 0
fluidificados escape de fluidos (pilar)
concentrado de fluidos
QUADRO 4 – PRINCIPAIS FLUXOS GRAVITACIONAIS E SUAS CARACTERÍSTICAS

Fluidal (fluidized flow) e microvulcões


Turbiditos: sucessões
Turbulência fluidal, sob
Corrente de turbidez granodecrescentes, com
energia e concentração 0
(turbidity current) tendência à repetição
declinantes.
rítmica monótona.
* Este ângulo aumenta com a fricção ou coesão entre os grãos. Depende portanto da granulação do teor de água e de lama, do grau de arredondamento, da presença de superfície
prévias de fraqueza da energia de ativação do processo (fortes correntes, tempestades, sismas) etc. os valores fornecidos são apenas para comparação de ordens de grandeza.
** Olistólitos são intraclastos rudáceos deslocados ou ressedimentados a pequena distância.
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

3.3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE


ESCORREGAMENTOS E DESLIZAMENTOS
Embora não há uniformidade de conceitos em relação às nomenclaturas
empregadas na classificação dos movimentos de massa, podemos dizer que os
escorregamentos (slumpus) e os deslizamentos (glides) têm em comum o fato de
que o movimento ocorre essencialmente ao longo de uma superfície de fraqueza
preexistente ou definida durante o início do processo. (GIANNINI; MELO, 2009).
Nos escorregamentos esta superfície é côncava. Nos deslizamentos, a superfície
é plana.

A ocorrência dos escorregamentos é sempre ao longo de superfícies


de cisalhamento côncavas, sobre as quais a massa em movimento apresenta
um comportamento rotacional. (BIGARELLA, 2003). Os escorregamentos
são comuns em solos bastante intemperizados, assim como em sequências de
rochas síltico-argilosas (lamitos) e também em rochas duras muito fraturadas. O
escorregamento, para Bigarella (2003, p. 1053), “corresponderia a um movimento
mais lento, uniforme, rotacional ou convoluto, que pode ser muito, pouco
ou ligeiramente deformante. Por sua vez, as corridas de terra ou de lama são
movimentos mais fluidos, via de regra bastante rápidos”.

Os deslizamentos ocorrem ao longo de superfícies de cisalhamento planares,


nas quais a massa em movimento, na maioria das vezes, fragmenta-se em vários
blocos. “A superfície de movimentação é abrupta e o volume de material envolvido
é muito grande. No deslizamento os blocos de solo ou de rocha permanecem por
longo tempo inalterados, movendo-se sobre um plano uniforme constituído por
argila com alto teor de água”. (BIGARELLA, 2003, p. 1055).

3.4 EXEMPLOS DE MOVIMENTOS DE MASSA OCORRIDOS


NO BRASIL
Nesta seção selecionamos alguns eventos associados aos movimentos de
massa ocorridos no Brasil nas últimas décadas.

Em 2009:

As fortes chuvas registradas no final de 2009 e início de 2010 e a


ocorrência de deslizamentos transformaram um dos principais paraísos turísticos
do Estado do Rio de Janeiro. Um intenso deslizamento em uma encosta na
enseada do Bananal, Ilha Grande, em Angra dos Reis, atingiu uma pousada e
aproximadamente sete casas, ocasionando a morte de várias pessoas. Também foi
registrado desmoronamento no Morro da Carioca, no centro histórico de Angra
dos Reis. Observe as imagens.

77
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

FIGURA 32 – DESLIZAMENTO EM ANGRA DOS REIS (RJ). A IMAGEM À DIREITA CORRESPON-


DE AO DESLIZAMENTO NA ENSEADA DO BANANAL, ILHA GRANDE, E A IMAGEM À ESQUER-
DA MOSTRA O DESLIZAMENTO NO MORRO DA CARIOCA

FONTE: Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL1432330-5606,00.html>.


Acesso em: 15 maio 2010.

Em 2008:

O Brasil inteiro acompanhou a grande tragédia que ocorreu em novembro


de 2008 no Estado de Santa Catarina, principalmente no Vale do Itajaí. Muitos
consideram como sendo a maior tragédia geoclimática brasileira. Além de
enchentes e inundações, ocorreram intensos movimentos gravitacionais de massa
que ocasionaram corridas de detritos, gerando danos em áreas urbanas e rurais.
Pode-se dizer que os deslizamentos mudaram significativamente a morfologia
dos vales e encostas de muitas áreas.

Embora já tenhamos registros da ocorrência de movimentos gravitacionais


de massa no Brasil em décadas anteriores, não se tem evidências de movimento
de massa com tamanha intensidade no Brasil em relação ao ocorrido no final de
2008 no referido Estado (SC).

No caso dos deslizamentos no Vale do Itajaí, vários fatores podem justificar


esta ocorrência. Contudo, podem estar associados à morfologia da paisagem; os
solos profundos; desmatamentos/cultivos inadequados; obras de terraplanagem:
cortes/aterros; drenagem inadequada e evento pluviométrico. Sem dúvida, os
três meses consecutivos de intensa chuva foram determinantes. Porém, sabemos
que em muitas das áreas de movimento de massa houve a interferência direta ou
indireta do homem. Inclusive em áreas onde, ao que tudo indica, já havia ocorrido
algum tipo de movimento de massa anteriormente, seja a um curto intervalo de
tempo ou longo (20, 50, 100, 150 anos).

Vejamos algumas imagens de deslizamentos ocorridos principalmente no


Morro do Baú, em Ilhota, e em Blumenau.

78
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

FIGURA 33 – VISTA PARCIAL DOS DELIZAMENTOS NO MORRO DO BAÚ EM ILHOTA-SC

FONTE: Disponível em: <http://aleosp2008.files.wordpress.com/2008/12/1198.jpg>. Acesso


em: 15 maio 2010.

FIGURA 34 – DESLIZAMENTOS EM BLUMENAU-SC

FONTE: Disponível em: <http://www.apremavi.org.br/media/fotosPaginas/472_fot.jpg>. Aces-


so em: 15 maio 2010.

Conforme havíamos dito anteriormente, os registros de ocorrência de


movimentos de massa no Brasil não são recentes. Outras catástrofes foram
registradas em décadas passadas. Vejamos algumas delas, segundo Bigarella (2003):

Em 1995:

Em dezembro de 1995 ocorreram eventos catastróficos nas vertentes


íngremes da Serra Geral, no sul de Santa Catarina. As corridas de lama causaram
danos importantes ao longo dos vales dos rios Figueira, em Timbé do Sul,
Pinheirinho, em Jacinto Machado, e São Bento. A ocorrência desses eventos estava
associada às altas precipitações nas vertentes. Chuvas torrenciais provocaram
desmoronamentos e enchentes em pelo menos 24 municípios durante uma
tormenta de quatro horas de duração. Após aproximadamente três horas do
início das chuvas originou-se um fluxo concentrado que destruiu tudo à sua
frente, levando troncos, blocos e matacões rochosos englobados numa massa de
detritos finos. Atente para a impressionante imagem a seguir.

79
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA

FIGURA 35 – ÁREA DO ALTO RIO FIGUEIRA, TIMBÉ DO SUL, ONDE OCORRE-


RAM OS EVENTOS CATASTRÓFICOS EM 1995 NA SERRA GERAL

FONTE: Bigarella (2003)

Em 1974:

Em março de 1974, as bacias dos rios Tubarão e Araranguá sofreram pesadas


precipitações atmosféricas. Várias áreas da mesorregião do Sul catarinese foram
atingidas por enchentes e desmoronamentos catastróficos, principalmente em
Araranguá, Mampituba, Criciúma, Tubarão e Serra Geral. Os movimentos de massa
em Tubarão, por exemplo, afetaram a parte superior de vertentes muito íngremes,
ocasionando grandes quedas de blocos de rochas. Observe a imagem a seguir.

FIGURA 36 – EVENTO CATASTRÓFICO EM TUBARÃO-SC – 1974

FONTE: Bigarella (2003)

80
TÓPICO 3 | ANÁLISE DE VERTENTES E OS MOVIMENTOS DE MASSA

Em 1967:

Ocorreram acentuados movimentos de massa sob a forma de


desmoronamentos nas encostas íngremes da Serra do Mar, em Caraguatatuba,
no litoral norte de São Paulo, em março de 1967. A ocorrência desta catástrofe
ocasionou a movimentação de cerca de dois milhões de toneladas de material
das encostas da Serra do Mar, originando depósitos de fundo de vale com
características comuns àquelas apresentadas pelos sedimentos neocenozoicos.
Observe nas imagens as cicatrizes ocasionadas pelos desmoronamentos.

FIGURA 37 – EVENTO CATASTRÓFICO NA SERRA DO MAR, EM CARAGUATATUBA (SP) - 1967

FONTE: Bigarella (2003)

Em 1956:

Em março de 1956 ocorreram escorregamentos de terra nos morros de


Santos (SP) em áreas densamente habitadas. Esses escorregamentos foram
causados basicamente pelas condições geológicas e pela ação antrópica, e
efetivados pela intensidade e prolongamento das chuvas.

Se você começar a observar com atenção o relevo à sua “volta” é provável


que perceba, em alguns “pontos”, a ocorrência de movimentos de massa antigos, ou
seja, que ocorreram algumas décadas atrás. Estes pontos podem ter sidos encobertos
por uma vegetação mais densa ou podem ser facilmente visualizados em campos
abertos. É evidente que pode ser que não tenha ocorrido nenhum tipo de movimento
de massa na sua cidade. De qualquer maneira, a partir dos conhecimentos adquiridos
neste tópico, comece a observar a paisagem com um olhar mais atento.

DICAS

Sugerimos que você busque mais informações sobre estes e outros movimentos
de massa ocorridos não só no Brasil, mas também em outros países. Tire um tempo e realize
esta pesquisa. Vai ser muito interessante.

81
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você estudou que:

• As vertentes são planos de declives variados que divergem das cristas ou


dos interflúvios, enquadrando o vale. Nas zonas montanhosas as vertentes
podem ser abruptas e formarem gargantas. Neste caso, as vertentes estão mais
próximas do leito do rio, enquanto nas planícies estão mais afastadas.

• O estudo das vertentes enquanto categoria do relevo ganha importância


acadêmico-institucional em 1957, com o trabalho de Tricart, no qual afirmava
que a vertente compunha o elemento principal do relevo.

• Os processos morfogenéticos são os responsáveis pela esculturação das formas


de relevo, representando a ação da dinâmica externa sobre as vertentes.

• As vertentes podem resultar da influência de qualquer processo, e, nesse


sentido amplo, abrangem todos os elementos componentes da superfície
terrestre, sendo formadas pela ampla variedade de condições tanto de
processos endógenos quanto exógenos.

• A maior parte das vertentes é composta por vários segmentos. Contudo, as


vertentes, por sua vez, geralmente apresentam um perfil formado por um
segmento superior convexo, no qual a declividade aumenta para a jusante,
seguido por um segmento inferior côncavo com redução de declive encosta
abaixo. Pode-se encontrar também um segmento retilíneo com uma declividade
constante, bem como, segmento escarpado marcado pela presença de rochas
mais resistentes, no qual os detritos intemperizados deslizam livremente.

• O perfil típico de uma vertente, conforme Max Derruau (em 1965), geralmente
apresenta uma convexidade no topo e uma concavidade na parte inferior,
sendo que ambas estão separadas por um simples ponto de curvatura e/ou
desvio ou por segmento. Frederick R. Troeh (em 1965), utilizando equações
matemáticas para explicar as formas das vertentes, formulou quatro tipos
básicos de vertentes, combinando a concavidade e convexidade. Lester C. King
(em 1953) propôs um modelo universal, no qual a vertente típica apresenta
quatro partes: convexidade no topo; face livre ou escarpa retilínea; parte reta
com detritos da porção superior da vertente e pedimento suavemente côncavo.
Arthur N. Strahler (em 1950) divide as vertentes erosivas em três tipos básicos
considerando o ângulo de repouso dos materiais não coesivos. Dalrymple,
Blong e Conacher (em 1968) propuseram nove unidades hipotéticas no
modelo de perfil das vertentes, baseando-se nos estudos em áreas temperadas
úmidas. Ruhe (em 1975-1979) apresenta nove aspectos geométricos de vertente
dependentes do perfil e da forma.

82
• Os movimentos de massas são reconhecidos como os mais importantes
processos geomórficos modeladores da superfície terrestre. Os movimentos
de massa referem-se ao deslocamento de material, ou seja, solo e rocha,
vertente abaixo, sendo influenciados pela gravidade. Esses movimentos são
desencadeados pela interferência direta de outros agentes independentes,
como, por exemplo, a água, gelo ou ar.

• A ocorrência dos movimentos de massas é condicionada por vários fatores.


Contudo, merecem destaque principalmente a estrutura geológica da área; a
declividade da vertente; o índice pluviométrico; a perda da vegetação; o solo
muito intemperizado e a ação antrópica.

• Para distinguir os vários tipos de movimento de massa nas vertentes são


empregados alguns critérios, que se baseiam no material, na quantidade
de água do subsolo, na velocidade, no mecanismo, bem como no tipo do
movimento. A classificação dos movimentos de massa apresenta dificuldades,
principalmente no que diz respeito à quantificação das variáveis envolvidas.

83
AUTOATIVIDADE

1 No que tange ao estudo da morfogênese das vertentes, analise as afirmativas


a seguir e posteriormente assinale a alternativa que apresenta as afirmativas
CORRETAS:

I- As vertentes endogenéticas correspondem àquelas vertentes cuja formação


está relacionada aos processos endógenos.
II- Os processos morfogenéticos são os responsáveis pela esculturação das
formas de relevo, representando a ação da dinâmica externa sobre as
vertentes.
III- Enquanto que os processos endógenos modificam a posição altimétrica
e a orientação preexistente das vertentes, bem como podem ocasionar a
formação de novas vertentes, os processos exógenos reduzem a paisagem
terrestre a um determinado nível de base.
IV- Os processos morfogenéticos constituem fenômenos de escala métrica ou
decamétrica, e o seu estudo traz informações de ordem teórica e prática.
No âmbito teórico, explica a evolução das vertentes e a esculturação do
relevo, e no campo prático fornece informações a propósito da melhor
aplicabilidade das técnicas de conservação dos solos.

a) ( ) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.


b) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) Apenas a afirmativa IV está correta.
d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.

2 O desenvolvimento do perfil das vertentes talvez tenha sido um dos temas


mais difíceis de serem interpretados. Neste tópico você pôde verificar as
várias contribuições de estudiosos no intuito de compreender e definir os
perfis das vertentes. Neste contexto e com base neste estudo, relacione os
autores com suas respectivas contribuições.

I- Max Derruau (em 1965).


II- Frederick R. Troeh (em 1965).
III- Lester C. King (em 1953).
IV- Arthur N. Strahler (em 1950).
V- Dalrymple, Blong e Conacher (em 1968).

( ) O perfil típico de uma vertente geralmente apresenta uma convexidade


no topo e uma concavidade na parte inferior, sendo que ambas estão
separadas por um simples ponto de curvatura e/ou desvio ou por
segmento.
( ) Utilizou de equações matemáticas para explicar as formas das vertentes.
Desenvolveu quatro tipos básicos de vertentes, combinando a concavidade
e convexidade.

84
( ) Propôs um modelo universal, no qual a vertente típica apresenta quatro
partes: convexidade no topo; face livre ou escarpa retilínea; parte reta com
detritos da porção superior da vertente e pedimento suavemente côncavo.
( ) Divide as vertentes erosivas em três tipos básicos considerando o ângulo
de repouso dos materiais não coesivos.
( ) Estes propuseram nove unidades hipotéticas no modelo de perfil das
vertentes, baseando-se nos estudos em áreas temperadas úmidas.

A sequência CORRETA é:

a) I – II – III – IV – V.
b) V – IV – III – II – I.
c) II – I – III – V – IV.
d) III – V – II – IV – I.
e) IV – III – V – I – II.

3 Agora que você sabe sobre os movimentos de massa, bem


como os tipos de movimentos e os fatores condicionantes,
sugerimos que faça uma pesquisa de campo na sua cidade,
no intuito de investigar a ocorrência de movimentos de
massa de maior ou menor intensidade.

85
86
UNIDADE 2

A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL,
GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E
CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO
DO RELEVO E A GEOMORFOLOGIA
BRASILEIRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Nessa unidade vamos:

• compreender a dinâmica do rio no transporte e deposição de sedimentos,


na construção do seu leito, meandros, estuários etc.;
• entender como se formaram os litorais e as forças envolvidas para dar
origem às diferentes formas de relevo, encontrados nos litorais de todos
os continentes;
• descobrir as diferentes formas de relevo originadas a partir do calcário;
• compreender a compartimentação das diferentes formas de relevo conti-
nental e submarino;
• compreender a origem e formação da Geomorfologia brasileira, suas bases
teóricas e principais autores;
• entender a estrutura geológica sobre a qual se formou o relevo brasileiro;
• identificar a evolução ocorrida na forma de classificar o relevo brasileiro
ao longo da história recente da Geomorfologia no Brasil;
• identificar e localizar as maiores altitudes do território brasileiro.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em quatro tópicos, sendo que em cada
um deles você encontrará atividades para uma maior compreensão
das informações apresentadas.

TÓPICO 1 – GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

TÓPICO 2 – GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

TÓPICO 3 – COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

TÓPICO 4 – A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA


87
88
UNIDADE 2
TÓPICO 1

A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

1 INTRODUÇÃO
Os rios podem ser considerados como uma das consequências mais
importantes do ciclo hidrológico. Por definição, os rios correspondem aos
sistemas que comportam a água doce na superfície do planeta. Exercem um
papel fundamental para o escoamento das águas das chuvas; para o transporte
dos sedimentos do continente para o mar, uma vez que a maioria dos rios são
exorreicos (na drenagem exorreica, o rio corre para fora do continente); para
o transporte de nutrientes e organismos essenciais para a biosfera, bem como
servem de habitat para muitas espécies de animais e plantas. São fundamentais
também para o ser humano, pois são fontes de água potável; servem como vias
de transporte; suas águas são utilizadas para a irrigação, bem como para as
indústrias. Assim, na ciência Geomorfológica, a Geomorfologia Fluvial representa
um setor de destaque, pelo seu caráter condicionante da própria vida humana,
o que despertou o interesse dos pesquisadores ao longo da história da ciência
geomorfológica. Assim, é possível encontrar uma grande produção científica
acerca desta área de conhecimento.

Neste tópico trataremos os aspectos físicos essenciais dos rios, bem como
os processos e formas associadas com o escoamento dos rios, objeto de estudo da
Geomorfologia Fluvial.

Mantenha a concentração e bom estudo!

2 A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL
Segundo Christifiletti (1980, p. 65), “a Geomorfologia fluvial interessa-se
pelo estudo dos processos e das formas relacionadas com o escoamento dos rios”.
Para Cunha (2009, p. 211), “a Geomorfologia Fluvial engloba o estudo dos cursos
de água e das bacias hidrográficas”. De modo geral, a Geomorfologia Fluvial
abarca o estudo da dinâmica física dos rios e sua relação com a (trans)formação
das formas de relevo resultantes.

Três abordagens diferentes a respeito desta área de conhecimento


começaram a ser discutidas a partir de 1945: a morfometria numérica; a compressão
do tratamento estático e inter-relação de dados sobre canais fluviais; a produção de
modelos estocásticos (CUNHA, 2009).
89
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

No decorrer de 1970, ocorreu uma intensificação nos estudos sobre a


Geomorfologia Fluvial, no que tange principalmente aos processos e mecanismos
observados no canal fluvial, permitindo uma visão mais ampla, com o
envolvimento de outras áreas do conhecimento, como a Hidrologia, a Pedologia
e a Ecologia. Ainda na década de 1970, as contribuições da Geomorfologia Fluvial
geraram, segundo Cunha (2009), uma perspectiva temporal para as mudanças
fluviais e passando a se preocupar com as modificações decorrentes da maior
atuação do homem sobre o ambiente fluvial, em especial modificando-o com a
construção de obras de engenharia, ou usos indevidos nas bacias hidrográficas.

Dentre os trabalhos realizados no Brasil nas décadas de 1970 e 1980,


merece destaque o trabalho de sistematização sobre os estudos sedimentológicos,
responsável pela consolidação de alguns conceitos básicos ligados ao campo
da Geomorfologia Fluvial, como as publicações dos livros-textos de Antônio
Christofoletti (1974 e 1981) e João José Bigarella et al. (1979) (SUGUIO, 1973).

2.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RIOS


O que é um rio, para você? Essa pergunta parece ser muito óbvia, você não
acha? Provavelmente você respondeu que um rio corresponde a uma corrente
contínua de água, mais ou menos caudalosa, que deságua no mar ou lago. Este
é um conceito elencado pela maioria dos dicionários. Contudo, precisamos
destacar que embora o curso de água de um rio deva ter certa grandeza para ser
designado como rio, é muito difícil precisar a partir de qual tamanho utiliza-se
esta designação (rio). Todavia, a toponímia é muito rica em termos designativos
no que concerne aos cursos menores de água. Assim, podemos encontrar
designações como: riacho, arroio, ribeira, ribeiro, ribeirão, sanga, córrego,
dentre outros, reservando-se o termo rio para o principal e maior dos elementos
componentes de determinada bacia de drenagem. (CHRISTOFOLETTI, 1980).

O termo rio, geológica e geomorfologicamente, “aplica-se exclusivamente


a qualquer fluxo canalizado e, por vezes, é empregado para referir-se a canais
destituídos de água”. (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 65). Nos casos dos canais secos,
durante a maior parte do ano com fluxos de água durante ou após as chuvas, são
designados de rios efêmeros. Para os casos nos quais os cursos de água funcionam
durante parte do ano, são denominados de rios intermitentes. E, para os cursos de
água cujo fluxo ocorre durante o ano todo, são os chamados rios perenes.

É importante destacar que todos os acontecimentos que ocorrem na bacia


de drenagem automaticamente repercutirão nos rios, direta ou indiretamente.
Assim, conforme coloca Christofoletti (1980), as condições climáticas, a cobertura
vegetal e a litologia são fatores que controlam a morfogênese das vertentes e, por
sua vez, o tipo de carga detrítica fornecida aos rios. Desse modo, a realização do
estudo e análise dos rios, para uma maior compreensão, só poderá se dar numa
perspectiva mais globalizada do sistema hidrográfico.

90
TÓPICO 1 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

ATENCAO

No que tange às bacias de drenagem, é importante destacar que os principais


componentes das bacias de drenagem são os cursos d’água. A bacia de drenagem de um
determinado rio abarca todos os afluentes que deságuam na drenagem principal e eventuais
lagos associados a esse sistema. O que separa uma bacia de drenagem das bacias de
drenagem vizinhas são os divisores de água, ou seja, elevações topográficas, a exemplo da
Serra da Mantiqueira e da Canastra, no Sudeste do Brasil. Outra característica importante
das bacias de drenagem é que elas podem atingir grandes extensões territoriais, como, por
exemplo, dos rios Amazonas (norte da América do Sul), com cerca de 5.780.000 km², do
Congo (região central da África), com 4.000.000 km², e do Mississipi (centro-leste dos EUA),
com cerca de 3.220.000 km². (RICCOMINI et al., 2009).

2.2 OS PADRÕES DE DRENAGEM DOS RIOS


A classificação dos padrões de drenagem dos rios pode ocorrer de
diferentes formas. Todavia, a classificação mais comum apresenta como base o
padrão de drenagem, bem como o comportamento das drenagens em relação ao
substrato e à forma de canais.

A exemplo de uma carta topográfica, de uma fotografia aérea ou em uma


imagem de satélite, as drenagens observadas ilustram padrões muito característicos,
em virtude do tipo de rocha e das estruturas geológicas presentes em seu substrato.

De acordo com Riccomini et al. (2009), existem diferentes arranjos de


drenagem que permitem uma classificação com base em sua geometria. Os que
veremos a seguir são considerados os principais padrões de drenagem. Vejamos:

• Padrão Dentrítico → é considerado o arranjo mais comum. Este tipo de


arranjo se assemelha à distribuição dos galhos de uma árvore ou os “veios” de
determinadas folhas de algumas plantas. Ocorre quando a rocha do substrato é
homogênea, formada apenas por granito, ou, no caso das rochas sedimentares,
com estratos horizontais.

• Padrão Paralelo → ocorre em regiões cuja declividade é mais acentuada e as


estruturas do substrato orientam-se conforme a inclinação do terreno.

• Padrão Radial → neste tipo de arranjo a drenagem se distribui em todas as


direções, originando-se em um ponto central, como os de um cone vulcânico ou
uma feição dômica.

91
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

• Padrão em treliça → quando a drenagem apresenta um arranjo retangular,


mas os tributários são paralelos entre si. Este tipo de arranjo é típico de regiões
com substrato rochoso onde as rochas mais ou menos resistentes se alteram
em faixas paralelas com planos de fraqueza ortogonais, a exemplo das regiões
dobradas de relevo do tipo Apalachiano.

Na figura a seguir você poderá observar atentamente os diferentes arranjos


de drenagem considerados como sendo os principais padrões de drenagem.
Observe-os.

FIGURA 38 – OS PRINCIPAIS PADRÕES DE DRENAGEM


Dendrítico Paralelo

Radial Treliça

FONTE: BLOOM, A. L. Geomorphology: a systematic analysis of Late landforms.


Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1991 (apud RICCOMINI et al., 2009).

É evidente que existem outros padrões intermediários, com denominações


específicas, pois ao longo de um mesmo rio ou bacia de drenagem podem ocorrer
alterações nos padrões de drenagem.

Quanto ao comportamento das drenagens em relação ao substrato, vale a


pena ressaltar a natureza e o arranjo espacial das rochas do substrato das bacias
de drenagem que exercem um papel fundamental quanto ao sentido de fluxo
das águas em seus cursos. Assim, os rios que estão em terrenos constituídos por
rochas sedimentares podem ser classificados, segundo Riccomini et al. (2009, p.
310-311), em:

• Rios Consequentes → fluem segundo a declividade do terreno, em concordância


com a inclinação das camadas. O rio Tietê, no seu trecho sobre os terrenos
sedimentares da bacia do Paraná, é um exemplo típico de rio consequente.
92
TÓPICO 1 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

• Rios Subsequentes → têm seu curso controlado por descontinuidades do


substrato, como folhas, juntas e presença de rochas menos resistentes. Um exemplo
de rio Subsequente é o do Passo Cinco, na região de Itirapina e Ipeúna (Estado de
São Paulo), controlado por uma zona de falha de direção noroeste-sudeste.

• Rios Obsequentes → apresentam fluxo no sentido oposto à inclinação


das camadas e normalmente são de pequena extensão, descem escarpas e
desembocam em rios subsequentes. As drenagens que descem as serras de
Botucatu, São Pedro e São Carlos, no interior paulista, são do tipo obsequente.

• Rios Insequentes → não apresentam controle geológico reconhecível e


normalmente estão relacionados à presença de rochas homogêneas ou de camadas
sedimentares horizontais. Alguns rios meandrantes, como o Ribeira de Iguape (no
Estado de São Paulo), apresentam caráter predominantemente insequente.

Observe-os na ilustração a seguir.

FIGURA 39 – CLASSIFICAÇÃO DOS RIOS. (1) CONSEQUENTE; (2) SUBSEQUENTE;


(3) OBSEQUENTE; (4) RESSEQUENTE (É TAMBÉM CONSIDERADO POR ALGUNS
AUTORES); (5) INSEQUENTE

FONTE: Guerra e Cunha (2009)

E
IMPORTANT

É importante você saber que as bacias de drenagem, conforme Christofoletti


(1980, p. 102), podem ser classificadas de acordo com o escoamento global nos seguintes tipos:
a) Exorreicas: quando o escoamento das águas se faz de modo contínuo até o mar ou oceano.
b) Endorreicas: quando as drenagens são internas e não possuem escoamento até o mar,
desembocando em lagos ou dissipando-se nas areias do deserto, ou perdendo-se nas
depressões cársicas.
c) Arreicas: quando não há nenhuma estruturação em bacias hidrográficas, como nas áreas
desérticas onde a precipitação é escassa e a atividade dunária é intensa, dificultando as linhas
e os padrões de drenagem.
d) Criptorreicas: quando as bacias são subterrâneas, como nas áreas cársicas.

93
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

2.3 OS TIPOS DE LEITOS FLUVIAIS


Os leitos fluviais compreendem os espaços que podem ser ocupados pelo
escoamento das águas. Conforme o perfil transversal das planícies de inundação,
podemos distinguir quatro tipos de leitos fluviais. (CRISTOFOLETTI, 1980). A saber:

• Leito de vazante → inclui-se no leito menor e é utilizado para o escoamento das


águas baixas. Este tipo de leito constantemente serpenteia entre as margens do
leito menor, acompanhando o talvegue, que é a linha de maior profundidade
ao longo do leito.

• Leito menor → é bem delimitado e encaixa-se entre as margens bem definidas.


Ao longo do leito menor constata-se a existência de irregularidades, com
trechos mais profundos, as depressões, acompanhadas de partes com menor
profundidade, mais retilíneas e oblíquas em relação ao eixo aparente do leito,
designadas de umbrais. Neste tipo de leito o escoamento das águas apresenta
uma frequência suficiente capaz de impedir o crescimento da vegetação.

• Leito maior periódico ou sazonal → é um tipo de leito regularmente tomado


pelas cheias, ao menos uma vez por ano. Dependendo do tempo de intervalo
entre uma cheia e outra, é possível ocorrer o crescimento da vegetação herbácea.

• Leito maior excepcional → corresponde àquele por onde ocorrem as cheias


mais intensas, no decorrer das enchentes. A frequência do escoamento das
águas obedece a intervalos irregulares, podendo se estender por alguns anos.

Observe, na ilustração a seguir, os tipos distintos de leitos fluviais. Note a


distinção entre o leito de vazante, o leito menor e o leito maior.

FIGURA 40 – OS TIPOS DE LEITOS FLUVIAIS

DIVISOR TOPOGRÁFICO E DE ÁGUAS

VERTENTE

LEITO MAIOR
DIQUE LEITO MENOR DIQUE
MARGINAL MARGINAL
LEITO VAZANTE

FONTE: Adaptado de Christofoletti (1976) e Guerra (1993 apud GUERRA;


CUNHA, 2009)

94
TÓPICO 1 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

2.4 OS TIPOS DE CANAIS FLUVIAIS


Os tipos de canais fluviais correspondem ao modo de se padronizar o
arranjo espacial que o leito apresenta ao longo do rio. A maioria dos estudos
realizados acerca dos rios emprega uma classificação com base em quatro padrões
básicos de canais caracterizados em função de parâmetros morfométricos, como
sinuosidade, grau de entrelaçamento e relação entre largura e profundidade.
Os quatro padrões básicos e/ou tipos de canais fluviais são designados de:
retilíneos, meandrante, anastomosado e entrelaçado ou ramificado. Observe-
os na figura que segue e posteriormente atente para algumas considerações
sobre cada um dos canais fluviais.

FIGURA 41 – OS QUATRO TIPOS FUNDAMENTAIS DE CANAIS FLUVIAIS

FONTE: Adaptado de Miall (1977 apud RICCOMINI et al., 2009)

2.4.1 Canais retilíneos


Os canais retilíneos são aqueles cujo rio percorre um trajeto retilíneo
sem que ocorra um desvio significativo em sua trajetória normal em direção à
foz. Segundo Christofoletti (1980, p. 88), “os canais verdadeiramente retos são
muito raros na natureza, existindo principalmente quando o rio está controlado
por linhas tectônicas, como no caso de cursos de água acompanhando linhas de
falha”. Os rios retilíneos estão praticamente restritos a pequenos segmentos de
drenagens e distributários deltaicos. Um exemplo típico é o delta do Mississipi,
composto por distributários retilíneos. Observe a ilustração.

95
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

FIGURA 42 – DELTA DO MISSISSIPI

FONTE: Riccomini et al. (2009)

2.4.2 Canais meandrantes


São aqueles em que os rios apresentam curvas sinuosas, largas e
semelhantes entre si, através de um trabalho contínuo de escavação na margem
côncava (ponto de maior velocidade da corrente) e de deposição na margem
convexa (ponto de menor velocidade). No intuito de distinguir entre os canais
meândricos e os que não são, foi proposto o índice de sinuosidade, que é a relação
entre o cumprimento do canal e a distância do eixo do vale. Observe a figura
a seguir. Note que a distância axial é medida ao longo da linha interrompida.
Outro fator importante é o valor de 1,5 usado por alguns pesquisadores como
ponto de partida para considerar os canais como meandros.

FIGURA 43 – SINUOSIDADES DESENVOLVIDAS PELOS RIOS

FONTE: Christofoletti (1980)

96
TÓPICO 1 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

Os canais meândricos são encontrados com frequência nas áreas úmidas


cobertas por vegetação ciliar. A formação da sequência de depressões e umbrais
ao longo do leito fluvial, definindo margens de erosão e deposição, representa o
estágio inicial do meandro.

Várias são as condições essenciais para o desenvolvimento dos meandros,


tais como: camadas sedimentares de granulação móvel, coerente, firmas e não
soltas; gradientes moderadamente baixos; fluxos contínuos e regulares; cargas em
suspensão e de fundo em quantidades mais ou menos equivalentes. (GUERRA;
CUNHA, 2009). As formas meandrantes representam o estado de estabilidade do
canal, denunciando um certo ajustamento entre todas as variáveis hidrológicas,
tais como: declividade, largura e profundidade do canal, velocidade dos fluxos,
rugosidade do leito, carga sólida e vazão. (CHRISTOFOLETTI, 1980). Contudo,
este estado de equilíbrio poderá ser alterado pela ocorrência de um distúrbio na
região, como, por exemplo, a ação do homem no que tange ao plantio em áreas
férteis próximas aos meandros.

Para Christofoletti (1980), os meandrantes fluviais, tradicionalmente na


Geomorfologia, eram relacionados às planícies fluviais e deltaicas. Assim, partindo
desta verificação, chegou-se à noção de que os meandros estavam ligados aos
grandes rios no seu estágio de maturidade do ciclo davisiano (estudo do Tópico
1 da Unidade 1). No entanto, esta interpretação na visão de Christofoletti (1980),
não está correta, pois existem rios de vários tamanhos e em todas as altitudes
que podem formar meandros, desde que uma condição básica seja encontrada,
como a presença de camadas sedimentares de granulação móvel, que estejam
coerentes, firmes, e não soltas.

E
IMPORTANT

Existe uma ampla nomenclatura descritiva aplicada aos meandramentos. Os


termos citados com maior ênfase são: meandros abandonados; diques semicirculares; colo
de meandro; banco de solapamento; faixa de meandro e point-bars.

97
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

2.4.3 Canais anastomosados


Os canais anastomosados são caracterizados por apresentar grande carga
sedimentar no seu leito. Quando o material grosseiro é transportado em grande
quantidade pelo rio e este, por sua vez, não tem potencial suficiente para carregá-
lo até seu nível de base final, deposita-o no seu próprio leito. Desse modo, se forma
um obstáculo natural (rugosidade e saliência), fazendo com que o rio se ramifique
em vários canais pequenos e rasos, bem como apresentam-se desordenados
devido às constantes migrações entre ilhotas. Para Christofoletti (1980, p. 88), “os
trechos anastomosados sempre se localizam ao longo do curso fluvial, pois no
ponto de início como no ponto terminal deverá haver um único canal”. Isto é para
diferenciar do padrão reticulado, que se assemelha à disposição anastomosada,
mas que se caracteriza pelo escoamento efêmero e pela subdivisão em várias
embocaduras que se perdem nas baixadas ou lagos temporários.

De modo geral, o padrão anastomosado se estabelece pela existência


de algumas condições básicas, como a disponibilidade da carga do leito, a
variabilidade do regime fluvial e a existência de contraste topográfico acentuado.
Conforme Guerra e Cunha (2009), a grande quantidade de carga detrítica
grosseira e heterogênea, em conjunto com a flutuação das descargas, permite a
seleção, a deposição de material e, consequentemente, a formação de bancos. A
formação dessa topografia do leito promove a divergência de fluxos e o “ataque”
às margens. Podemos dizer que o padrão anastomosado dos canais expressa uma
melhor relação entre o débito, a carga detrítica e os mecanismos de transporte.

2.4.4 Canais entrelaçados ou ramificados


Os canais entrelaçados ou ramificados surgem quando existem braços de
rios que voltam ao leito principal, formando ilhas. Essa junção deve ser verificada
até dezenas de quilômetros à jusante. Um exemplo típico deste tipo de canal é
o rio Araguaia, em Tocantins, cuja ramificação deu origem à Ilha do Bananal,
considerada a maior ilha fluvial do mundo.

2.5 LEQUES ALUVIAIS E DELTAICOS


O que você sabe sobre os leques aluviais e deltaicos? Pense um pouco.

Os leques aluviais são formados a partir de pontos em que drenagens


confinadas em regiões montanhosas cortam escarpas íngremes, convertem-se
em canais que se bifurcam ao invés de confluírem (distributários ou fluxos não
canalizados), atingem a planície da bacia, onde dispersam radialmente a carga
de sedimentos transportada. Nos casos em que os leques aluviais avançam
diretamente para o interior de um corpo de água (lago ou mar), eles são
denominados de leques deltaicos.

98
TÓPICO 1 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

Segundo Bigarella (2003, p. 1353), leque aluvial “constitui um corpo de


sedimentos fluviais cuja forma aproxima-se de um segmento de cone, com ápice
no sopé de um relevo acidentado, de onde adquire um padrão radial divergente”.
As condições climáticas e o tectonismo são apontados como os principais fatores
envolvidos na determinação da sedimentação de leques aluviais.

Em leques aluviais de climas áridos, o transporte principal de sedimentos


ocorre durante as chuvas torrenciais (que são raras) sob a forma de enchentes
em lençol e fluxos gravitacionais, permitindo a dispersão de sedimentos sobre
a superfície do leque a partir do seu ápice (ponto de saída). Nos leques aluviais
de climas úmidos, o transporte de sedimentos ocorre nos canais distributários,
contudo, poucos canais são ativos ao mesmo tempo. Além dos processos de
transporte sedimentar, outras características distinguem os leques aluviais de
climas áridos dos leques de climas úmidos. Conforme Riccomini et al. (2009),
os leques de climas áridos (comuns em regiões desérticas) geralmente estão
associados à escarpa de falhas, cujos raios são normalmente menores do que
uma dezenas de quilômetros. Ainda segundo Riccomini et al. (2009), os leques de
climas úmidos podem apresentar raios superiores a uma centena de quilômetros,
constituindo megaleques, como o do rio Kosi, na Índia, assim como o rio Taquari,
no Pantanal Mato-grossense. Para você ter uma ideia, o leque do rio Taquari, com
seus 250 km de diâmetro, é provavelmente o mais extenso do mundo. Observe-o
na ilustração a seguir.

FIGURA 44 – O MEGALEQUE DO RIO TAQUARI, NO PANTANAL MATO-GROSSENSE

FONTE: Riccomini et al. (2009)

99
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Quanto aos leques deltaicos, podemos dizer que são exemplos particulares
dos leques aluviais. É importante ressaltar que os leques deltaicos não devem ser
confundidos com os verdadeiros deltas, que são proeminências na linha de costa
formadas nos locais onde os rios adentram os oceanos, mares, interiores ou lagos.
(RICCOMINI, et al., 2009). Os deltas são constituídos pelos sedimentos que são
transportados pelos rios que os “alimentam”.

E
IMPORTANT

A designação delta é oriunda da semelhança das feições com a letra grega delta D
maiúscula, reconhecida por Heródoto, em 4 a. C., nos depósitos da desembocadura do rio Nilo.

2.6 OS DEPÓSITOS ALUVIAIS


Podemos dizer que os depósitos aluviais constituem um importante
componente da história geológica da Terra e ocorrem em contextos geotectônicos
distintos em diversos períodos. O estudo dos depósitos aluviais fundamentados
na análise dos depósitos recentes permite a caracterização dos processos
hidrodinâmicos, bem com a compreensão da evolução sedimentar dos depósitos
antigos. Economicamente, o estudo dos depósitos aluviais torna-se interessante
e/ou importante em função da exploração dos recursos minerais (abordados no
caderno de Geografia Física).

Os geólogos, através do método de fáceis, analisam e interpretam os


depósitos aluviais, bem como seus processos geradores. Este método baseia-
se na comparação de perfis verticais e seções em afloramentos com modelos,
sucessões e associações de fáceis. Segundo Riccomini et al. (2009, p. 317), “os
modelos são elaborados para representar, em sua essência, a combinação de
feições de depósitos sedimentares recentes e antigos e permitir a caracterização
dos diferentes sistemas deposicionais”.

Devido à grande variedade de fatores que controlam os diferentes tipos


de rios e leques aluviais, é possível elaborar uma grande quantidade de modelos
deposicionais. Dentre eles podemos destacar: os leques aluviais de climas áridos
e úmidos, rios entrelaçados, meandrantes e anastomosados. Assim, selecionamos
algumas imagens de depósitos em leques aluviais de clima árido, depósitos
em sistemas de rios entrelaçados e depósitos em sistema fluvial meandrante,
respectivamente. Observe-as atentamente.

100
TÓPICO 1 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

FIGURA 45 – EXEMPLOS DE DEPÓSITOS EM LEQUES ALUVIAIS DE CLIMA ÁRIDO

FONTE: Riccomini et al. (2009)

A foto à esquerda refere-se ao depósito de detritos contendo blocos


métricos de rochas do embasamento na porção proximal de leque aluvial da
formação de Resende (período Oligoceno), junto à borda norte da bacia de
Resende (RJ). A foto à direita corresponde ao sopé do maciço de Itatiaia (RJ),
onde ocorrem intercalações de depósitos de fluxos de detritos, contendo blocos
arredondados de rochas alcalinas, com depósitos de corridas de lama em antigo
leque aluvial da formação Resende (Oligoceno).

FIGURA 46 – DEPÓSITOS NO SISTEMA FLUVIAL ENTRELAÇADO

a b
FONTE: Riccomini et al. (2009)

A foto (a) representa o depósito de barra longitudinal de cascalhos na


porção proximal de um rio entrelaçado atual. A foto (b) ilustra depósitos antigos
de natureza semelhante em terraço fluvial do mesmo rio, mostrando a persistência
do processo no tempo geológico. Imagens ao longo do rio do Braço, no município
de Cruzeiro (SP).
101
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

FIGURA 47 – DEPÓSITOS EM SISTEMAS MEANDRANTES

FONTE: Riccomini et al. (2009)

A foto à esquerda representa o depósito de canal de rio meandrante da


Formação São Paulo (Oligoceno e Mioceno da bacia de São Paulo), nos arredores
de Santa Isabel (SP). A foto à direita ilustra a exposição de seção transversal de um
rio meandrante da Formação São Paulo na região de Guararema (SP), mostrando
estratificação cruzada sigmoidal, na parte centro-esquerda da foto, e depósitos de
meandro abandonado na porção central e centro-direita da foto.

E
IMPORTANT

Para finalizar este tópico, gostaríamos de destacar os terraços fluviais. Estes


apresentam antigas planícies de inundação que foram abandonadas. Morfologicamente,
os terraços fluviais surgem como patamares aplainados, de largura variada, limitados por
uma escarpa em direção ao curso de água. Existem diferentes tipos de terraços. Vejamos,
de acordo com Christofoletti (1980): Terraços aluviais (quando os terraços são constituídos
por materiais relacionados a antigas planícies de inundação); terraços rochosos (quando os
terraços foram esculpidos, através da morfogênese fluvial, sobre as rochas componentes das
encostas dos vales); terraços estruturais (são patamares ao longo das vertentes, mantidos pela
existência de camadas de rochas resistentes); terraços encaixados (resultado de movimentos
tectônicos, de abaixamento do nível de base ou de modificação no potencial hidráulico do
rio, ocasionando a formação desse tipo de terraço).

102
TÓPICO 1 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

INUNDAÇÕES

Riccomini et al. (2009)

Historicamente, as populações que se concentram às margens dos rios


estão, invariavelmente, sujeitas às inundações. Os prejuízos anuais acumulados
pelas inundações atingem cifras astronômicas.

As inundações constituem um dos principais e mais destrutivos tipos


de acidentes geológicos e ocorrem quando a descarga do rio torna-se elevada e
excede a capacidade do canal, extravasando suas margens e alagando as planícies
adjacentes. Elas podem ser controladas por fatores naturais ou antrópicos.
Entre os fatores naturais encontram-se normalmente as chuvas excepcionais
e o degelo. Períodos anômalos de chuva sobre as bacias de drenagem podem
ocasionar a súbita elevação do nível de água dos cursos fluviais, os quais, além de
inundar áreas cultivadas e reduzir a disponibilidade de água potável, acarretam
a destruição de construções e podem redundar na perda de vidas humanas e
dos animais. Por outro lado, a ação antrópica pode ser responsável por grandes
enchentes, como nos casos de ruptura de barragens e diques artificiais.

Importantes obras de engenharia, como diques marginais artificiais,


barragens de contenção e canalização de rios são construídas para minimizar os
efeitos das enchentes, com resultados positivos, mas que também apresentam
seus inconvenientes. Diques marginais artificiais provocam o assoreamento do
canal em virtude do incremento da acumulação de sedimentos que normalmente
seriam depositados nas planícies de inundação. Barragens de concentração, que
de um lado podem ser aproveitadas para a geração de energia hidroelétrica e
irrigação, de outro, retêm sedimentos e, por vezes, em sua construção, acabam
por alagar áreas cultiváveis, núcleos urbanos, reservas florestais, monumentos
históricos, sítios arqueológicos e geológicos. A canalização significa a alteração
do padrão do canal de um rio, em casos extremos por sua retificação, de modo
a aumentar a velocidade de fluxo das águas e evitar que estas atinjam o nível
de inundação. Pode envolver a simples desobstrução do canal ou até seus
alargamentos e aprofundamentos. Reduzindo-se o comprimento do canal,
aumenta-se seu gradiente e, portanto, a velocidade de fluxo. Assim, a grande
descarga associada às enchentes pode ser rapidamente dissipada. Entretanto, a
canalização não impede a tendência de um rio meandrar e retornar ao seu curso
prévio. Um exemplo, que quase todos os anos causa grande comoção à população
paulista, é o das enchentes ao longo das antigas várzeas do rio Tietê e de seus
tributários. As inundações ocorrem em função da redução da área de infiltração
das águas pluviais pelas construções e pavimentações de vias públicas, levando
a um rápido escoamento superficial rumo a um rio originalmente meandrante
a atualmente retificado, com sua planície de inundação densamente ocupada.

103
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Apesar dos altos custos das obras de contenção de enchentes na cidade de são
Paulo – barragens de contenção (popularmente conhecidas como “piscinões”),
canalização de rios e córregos, construção de diques marginais – uma solução
para o problema está muito distante.

A alternativa mais racional para minimizar o efeito das enchentes é


o adequado planejamento da ocupação territorial, particularmente das áreas
inundáveis, mediante a identificação de áreas de risco e o estabelecimento de
regras específicas para seu uso.

104
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você estudou que:

• A Geomorfologia fluvial interessa-se pelo estudo dos processos e das formas


relacionadas com o escoamento dos rios. Na ciência Geomorfológica, a
Geomorfologia Fluvial representa um setor de destaque, pelo seu caráter
condicionante da própria vida humana, o que despertou o interesse dos
pesquisadores ao longo da história da ciência geomorfológica. Assim, é possível
encontrar uma grande produção científica acerca desta área de conhecimento.

• A classificação mais comum dos padrões de drenagem dos rios pode ocorrer de
diferentes formas. Os principais padrões de drenagem são: Padrão Dentrítico;
Padrão Paralelo; Padrão Radial e Padrão em treliça

• Os rios que estão em terrenos constituídos por rochas sedimentares podem ser
classificados em: Rios Consequentes; Rios Subsequentes; Rios Obsequentes e
Rios Insequentes.

• Os leitos fluviais compreendem os espaços que podem ser ocupados pelo


escoamento das águas. No entanto, conforme o perfil transversal das planícies
de inundação, os leitos fluviais podem ser distinguidos em quatro tipos: Leito
de vazante; Leito menor; Leito maior periódico ou sazonal e Leito maior
excepcional.

• Os tipos de canais fluviais correspondem ao modo de se padronizar o arranjo


espacial que o leito apresenta ao longo do rio. Os quatro padrões básicos e/ou
tipos de canais fluviais são designados de: retilíneos, meandrante, anastomosado
e entrelaçado ou ramificado.

• Os leques aluviais são formados a partir de pontos em que drenagens confinadas


em regiões montanhosas cortam escarpas íngremes, convertem-se em canais
que se bifurcam ao invés de confluírem, atingem a planície da bacia, onde
dispersam radialmente a carga de sedimentos transportada. Nos casos em que
os leques aluviais avançam diretamente para o interior de um corpo de água
(lago ou mar) eles são denominados de leques deltaicos.

• O estudo dos depósitos aluviais fundamentados na análise dos depósitos


recentes permite a caracterização dos processos hidrodinâmicos, bem com a
compreensão da evolução sedimentar dos depósitos antigos. Economicamente,
o estudo dos depósitos aluviais torna-se interessante e/ou importante em
função da exploração dos recursos minerais.

105
AUTOATIVIDADE

1 Relacione as colunas quanto aos principais padrões de


drenagem e suas respectivas características:

1. Padrão Radial.
2. Padrão Dentrítico.
3. Padrão Paralelo.
4. Padrão em treliça.

( ) É considerado o arranjo mais comum.


( ) Quando a drenagem se distribui em todas as direções.
( ) Quando a drenagem apresenta um arranjo retangular, mas os tributários
são paralelos entre si.
( ) Ocorre onde a declividade é mais acentuada e as estruturas do substrato
orientam-se conforme a inclinação do terreno.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) 2 – 3 – 4 – 1.
b) ( ) 2 – 1 – 4 – 3.
c) ( ) 3 – 4 – 2 – 1.
d) ( ) 1 – 2 – 3 – 4.

2 No que tange ao estudo realizado sobre a Geomorfologia Fluvial, analise as


afirmativas a seguir:

I- A maioria dos estudos realizados acerca dos rios emprega uma classificação
com base em quatro padrões básicos de canais, caracterizados em função
de parâmetros morfométricos, como sinuosidade, grau de entrelaçamento
e relação entre largura e profundidade.
II- Os leitos fluviais compreendem os espaços que podem ser ocupados pelo
escoamento das águas. Conforme o perfil transversal das planícies de
inundação, quatro tipos de leitos fluviais podem ser distinguidos: leito de
vazante; leito menor; leito entrelaçado e leito meandrante.
III- Acerca do comportamento das drenagens em relação ao substrato, a
natureza e o arranjo espacial das rochas do substrato das bacias de
drenagem exercem um papel fundamental quanto ao sentido de fluxo das
águas em seus cursos.
IV- Os leques aluviais constituem um corpo de sedimentos fluviais, cuja forma
aproxima-se de um segmento de cone, com ápice no sopé de um relevo
acidentado, de onde adquire um padrão radial divergente.
V- O estudo dos depósitos aluviais fundamentados na análise dos depósitos
recentes permite a caracterização dos processos hidrodinâmicos, bem
como a compreensão da evolução sedimentar dos depósitos antigos.

106
a) ( ) Estão corretas apenas as afirmativas I, II e III.
b) ( ) Estão corretas apenas as afirmativas I, III, IV e V.
c) ( ) Somente a afirmativa V está correta.
d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.

3 Diante do que foi exposto sobre os padrões de drenagem, o comportamento


das drenagens em relação ao substrato, os tipos de canais fluviais, os tipos
de leitos fluviais e os depósitos aluviais, você terá condições de elencar
algumas características dos rios de sua cidade e/ou região. Assim, propomos
que você escolha um rio e caracterize-o levando em conta os aspectos citados
anteriormente. Para analisar os padrões de drenagem, utilize uma carta
topográfica ou um mapa físico da região.
Você poderá anotar os resultados na tabela que segue ou construir sua
própria tabela.

NOME DO RIO

LOCALIZAÇÃO

PADRÃO DE DRENAGEM

COMPORTAMENTO DA
DRENAGEM

TIPO DE CANAL

TIPO DE LEITO

OBSERVAÇÕES A RESPEITO
DOS DEPÓSITOS

107
108
UNIDADE 2 TÓPICO 2

GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico você terá a oportunidade de conhecer algumas características
importantes da Geomorfologia Litorânea, bem como apreciar alguns dos
impressionantes ambientes costeiros. Embora não esteja pautada neste tópico
a degradação antrópica destes ambientes, não podemos deixar de destacar o
processo de exploração turística, com o uso inadequado das zonas praianas,
bem como a construção de molhes, dragagens de sedimentos para ampliar a
costa litorânea, dentre outras intervenções que têm ocasionado modificações na
dinâmica costeira, como a erosão de praias e o assoreamento de baías e estuários,
constituindo sérios problemas ambientais.

Você estudará também sobre a Geomorfologia Cárstica. Aliás, as paisagens


correspondentes ao sistema cárstico são espetaculares, a exemplo das cavernas.
Estas, por sua vez, além de representarem atrações turísticas, sua exploração tem
despertado o interesse da humanidade desde tempos pré-históricos.

Concentre-se e bom estudo!

2 A GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA
As paisagens resultantes da morfogênese marinha, no que tange à zona
de contato entre a terra e mar, são objeto de estudo da geomorfologia litorânea.
Pode-se dizer que a morfologia litorânea torna-se muito complexa em virtude
da interferência de processos marinhos e subaéreos sobre estruturas e litologias
muito diferenciadas. Para Chritofoletti (1980), em qualquer período geológico
a ação dos processos litorâneos afeta uma faixa de largura reduzida. Contudo,
as flutuações do nível marinho, principalmente no decorrer do Plioceno e
Quaternário, permitem distinguir formas subaéreas atualmente submersas nas
águas oceânicas. As flutuações do nível marinho permitem também verificar
a presença de formas e terraços escalonados, esculpidos pela ação marinha,
localizados em diferentes altitudes acima do nível do mar. Assim, é importante
destacar que o estudo da geomorfologia litorânea não abarca somente a porção
territorial atualmente sob influência da morfogênese marinha, mas também
abarca toda a área que foi influenciada e/ou afetada pela ação marinha, em função
dos movimentos relativos do nível das terras e águas no transcurso do passado
geológico recente. (CHRISTOFOLETTI, 1980).

109
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

2.1 DESCRIÇÃO DO PERFIL LITORÂNEO


A descrição do perfil litorâneo, no que se refere ao estabelecimento de
nomenclaturas precisas, foi desenvolvida pelos ingleses, pois foram eles os
responsáveis pelos estudos mais aprofundados acerca da morfologia litorânea.
Contudo, no Brasil tornou-se necessário propor uma nomenclatura apropriada
que correspondesse aos mesmos conceitos, conforme você pode observar na
descrição a seguir, de Christofoletti (1980).

FIGURA 48 – NOMENCLATURA DESCRITIVA DE PERFIL LITORÂNEO

ZONA INTERTIDAL

linha de arrebentação
linha de costa

maior menor
ZONA SUB LITORÂNEA
linha do litoral
Fal

linha do litoral

interna externa
ési
a

maré alta
Praia maré baixa
Emba
same
nto
Litorâne
o

FONTE: Christofoletti (1980)

Para Christofoletti (1980), na figura observada, a zona intertidal (shore)


estende-se entre o nível da maré baixa e o da efetivação das ondas nas marés altas.
Esta zona pode ser subdividida em zona intertidal menor (foreshore), exposta
durante a maré baixa e submersa no decorrer da maré alta, e zona intertidal maior
(backshore), que se estende acima do nível normal da maré alta, inundando-se com
as marés altas excepcionais ou pelas grandes ondas durante as tempestades. A
linha do litoral (shoreline) é a linha (estritamente) que demarca o contato entre as
águas e as terras, podendo ter variações conforme os movimentos das marés entre
os limites da zona intertidal. Quanto à zona sublitorânea interna (nearshore) e a
zona sublitorânea externa (offshore), a interna se estende entre a linha do litoral e
a zona de arrebentação das ondas, e a externa começa na linha de arrebentação e
estende-se em direção às águas mais profundas.

É importante destacar que a extensão e a largura dos elementos comentados


variam de acordo com a oscilação das marés e também das características locais
da costa. A costa pode ser entendida como um conjunto de formas componentes
da paisagem que estabelece a área de contato sob influências marinhas.

Vejamos outra descrição do perfil litorâneo, na visão de Tessler e Mahiques


(2009).
110
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

FIGURA 49 – PERFIL ESQUEMÁTICO DA TOPOGRAFIA PRAIAL


Face Plataforma Plataforma
Pós-praia Antepraia continental interna continental
praial

Costa Espraia-
mento Surfe Arrebentação Costa afora
Nivel de
tempestade
Preamar
Nivel médio
Baixamar

Nivel de base
dos trens de
onda

FONTE: Tessler e Mahiques (2009)

Atualmente, a descrição que você acabou de observar é comumente a


mais utilizada.

2.2 OS PROCESSOS MORFOGENÉTICOS RESPONSÁVEIS


PELA MORFOGÊNESE LITORÂNEA
As formas de relevo litorâneas ou costeiras sofrem a atuação dos processos
morfogenéticos. Segundo Christofoletti (1980), estes, por sua vez, podem ser
controlados por vários fatores ambientais, como o geológico, o climático, o
biótico e os fatores oceanográficos.

Nas costas escarpadas, cujos aspectos estão relacionados com a estrutura e


litologia, é perceptível a atuação do fator geológico. A atuação do tectonismo, como os
falhamentos, dobramentos e o vulcanismo, exerce influência no modelado costeiro.
Segundo Christofoletti (1980, p. 128), “as estruturas menores também possuem
importância em função da resistência que as rochas podem oferecer ao ataque dos
processos litorâneos.” Desse modo, as falésias talhadas em quartzito compacto, com
poucas diáclases (fratura, junta ou fenda), por exemplo, apresentam elevada resistência
à ação da meteorização e das ondas. Através da ação hidráulica, as ondas são capazes
de atuar em qualquer linha de menor resistência, originando formas menores como
cavernas, arcos e entalhes de solapamento. As formas deposicionais das costas baixas
sofrem a atuação do fator geológico no que tange às fontes de sedimentos, às áreas
das bacias de drenagem e ao fundo dos mares. (CHRISTOFOLETTI, 1980).

O fator climático é responsável pelo controle da meteorização dos afloramentos


rochosos. Estes, sofrem a atuação dos processos físicos, químicos e biológicos,
relacionados às condições subaéreas, bem como à presença ou proximidade do
mar. Assim, as rochas são decompostas, resultando na granulometria dos materiais.
É interessante notar que a diferenciação granulométrica nas diferentes áreas
costeiras do planeta está atrelada às variações regionais do clima. Vejamos esta
diferenciação, conforme a exposição de Christofoletti (1980, p. 130):
111
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Nos trópicos úmidos, a rápida meteorização química resulta na


profunda decomposição de quase todas as formações rochosas,
propiciando o abastecimento de sedimentos de granulometria fina e
escassez de fragmentos grosseiros, quer no ataque direto das falésias,
quer pela carga detrítica transportada pelos rios. Nas regiões frias,
ao contrário, a ativa gelificação favorece a presença de fragmentos
grosseiros, dominantes nas formas oriundas da acumulação. Nas
costas desérticas também é dominante a presença de fragmentos
grosseiros; elas inclusive se caracterizam pela pequena quantidade de
material terrestre transportado pelo escoamento e pela presença maior
de sedimentos biogênicos, derivados de conchas marinhas e detritos
de corais, nas formas de acumulação.

Dentre os elementos climáticos, os ventos também exercem um papel


fundamental na morfogênese litorânea, isso porque são responsáveis pela
edificação das dunas, bem como pela geração de ondas e correntes, que, juntamente
com as marés, estabelecem o padrão de circulação das águas marinhas nas zonas
litorâneas e sublitorâneas.

Quanto ao fator biótico, pode-se dizer que sofre uma grande influência
das condições climáticas. Isso porque as condições climáticas são responsáveis
por estabelecer ou não condições favoráveis à presença de determinados
organismos. Se você pensou nos corais e nos organismos que lhe estão associados
na construção de recifes, acertou. Assim, esses organismos são típicos das
zonas intertropicais; do mesmo modo, os manguezais ocupam os pântanos e
os estuários que sofrem a influência das marés, nas regiões baixas das latitudes
tropicais. (CHRISTOFOLETTI, 1980). Mas, você deve estar se perguntando qual
a influência desses organismos na atuação do relevo litorâneo. É simples: esses
organismos podem atuar como agentes erosivos, pois “escavam” e promovem a
desagregação dos minerais nas rochas, ou ainda podem servir como protetores e
construtivos, facilitando a retenção dos sedimentos e acumulando seus detritos.

Quanto ao fator oceanográfico, é importante que fique claro que este


fator relaciona-se com a natureza da água do mar, ou seja, com as variações de
salinidade, desde teores mais baixos, a exemplo do mar Báltico, bem como teores
mais elevados, a exemplo do mar Morto. Caso você não saiba, o sal marinho
apresenta poder corrosivo e compressivo (quando da cristalização), atuando como
processo de meteorização nos afloramentos rochosos. Por outro lado, conforme
Christofoletti (1980), o sal marinho condiciona diferentes ambientes ecológicos,
possuidores de fauna e flora específicas, que, por sua vez, influenciam nos processos
de meteorização, transporte e deposição dos sedimentos ao longo da faixa costeira.

112
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

2.2.1 As forças marinhas atuantes na morfogênes litorânea


A principal força marinha atuante na morfogênese litorânea é a atuação
das ondas, das correntes costeiras e das marés.

As ondas são resultantes da ação dos ventos, representando a transferência


direta da energia cinética da atmosfera para os oceanos. Quanto maior a velocidade
do vento, maiores serão as ondas. Calcula-se que as maiores dimensões são
atingidas quando a extensão da superfície sob a ação do vento aproxima-se de
100 milhas náuticas.

A maioria das ondas que atinge a costa é gerada em zonas de alta pressão
atmosférica, no meio dos oceanos, propagando-se em direção aos continentes.
Quando as ondas são produzidas em mar aberto e se propagam em direção
às áreas mais rasas, sofrem um processo de modificação determinado por sua
interação com o fundo marinho. (TESSLER; MAHIQUES, 2009). A profundidade
em que ocorre esta interação é equivalente à metade do comprimento de ondas
incidentes. Essa profundidade é considerada como sendo o limite exterior da
plataforma interna, também denominada de nível de base das ondas.

De acordo com Tessler e Mahiques (2009), o movimento das partículas de


água das ondas, originalmente circular, passa a ser elíptico, ao se aproximarem de
áreas mais rasas, apresentando junto ao fundo um movimento que se assemelha a
um vaivém no sentido de propagação da onda. Desse modo, esta movimentação
é suficiente para não permitir que partículas finas, como as areias (muito finas), os
siltes e as argilas se depositem, ocasionando uma deposição preferencial de frações
granulométricas mais grosseiras, como as areias médias e grossas nos fundos
dominados pelas ondas. Quando atingem áreas com profundidades menores (que
equivalem a 1/25 do seu comprimento de onda), a diminuição das velocidades
orbitais, junto ao fundo, em comparação com a superfície, faz com que a onda perca
o equilíbrio, ocorrendo a arrebentação. (TESSLER; MAHIQUES, 2009).

A título de curiosidade, existem três tipos mais evidentes de arrebentação,


definidos pela forma e energia das ondas incidentes e pela topografia da zona
costeira na qual sofre influência das ondas. Observe na figura a seguir os três
tipos de arrebentação.

FIGURA 50 – TIPOS DE ARREBENTAÇÃO

Deslizante Mergulhante Ascendente

Espuma
Espuma

~ Nível da praia Abaixo do nível da praia

FONTE: Tessler e Mahiques (2009)

113
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Observe que a arrebentação ascendente ocorre em fundos que apresentam


alta declividade. A arrebentação mergulhante ocorre em fundos que apresentam
declividade média, quando as cristas das ondas se rompem após formarem um
enrolamento em espiral. E a arrebentação deslizante ocorre em regiões de topografia
de fundo mais raso, quando as ondas se quebram percorrendo uma grande distância.

Como resultado dos processos de arrebentação de ondas ter-se-á o


desenvolvimento do ambiente praial. A maior parte do trabalho de esculturação
das paisagens costeiras é executada pela atuação das ondas.

Quanto às correntes costeiras, pode-se dizer que constituem alguns dos mais
importantes agentes de remobilização de sedimentos. Isso porque essas correntes são
responsáveis pelo transporte de material ao longo da costa, a partir de um rio, por
exemplo, bem como constituem um grande mecanismo de circulação responsável
pela manutenção da estabilidade e do equilíbrio dos ambientes praianos. (TESSLER;
MAHIQUES, 2009). De acordo com os mesmos autores, além das correntes de deriva
ocorrem também, em regiões costeiras, as correntes de retorno, que constituem um
fluxo transversal à costa, no sentido do mar aberto. Estas correntes são, muitas vezes,
associadas a canais ou cânions de plataforma e, portanto, permitem o transporte de
sedimentos costeiros em direção a porções mais profundas dos oceanos.

Quanto à influência das marés na esculturação litorânea, pode-se dizer


que esta é indireta e relaciona-se com as variações do nível do mar que lhe são
implicadas. A ação das ondas pode-se dar sobre uma amplitude vertical muito
ampla e, por esta razão, sua influência é mais acentuada onde as marés são
maiores. Além dessa função, a de elevar e abaixar o nível de ataque das ondas, as
marés também podem gerar correntes. (CHRISTOFOLETTI, 1980).

De modo geral, as marés atuam na configuração e dinâmica de todas as


desembocaduras fluviais, podendo originar estuários, que constituem áreas de
grande importância para o desenvolvimento de espécies de organismos marinhos
de interesse comercial.

E
IMPORTANT

Você sabe como resulta a formação das marés? Pense um pouco. As marés
são fenômenos ondulatórios, gerados pelos processos de atração gravitacional entre a
Terra, o Sol e a Lua. É importante destacar que tanto a periodicidade quanto a intensidade e
amplitude das marés não são homogêneas nos oceanos. A amplitude das marés pode variar
de alguns centímetros a mais de dez metros, fazendo com que o efeito da maré sobre os
processos sedimentares seja extremamente diversificado.

114
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

2.3 ALGUMAS FEIÇÕES LITORÂNEAS


As formas de relevo litorâneas podem ser originadas tanto da ação erosiva
como da deposição de sedimentos. A partir de agora veremos algumas feições
litorâneas. Atente para as características de cada uma delas.

2.3.1 As planícies costeiras


As planícies costeiras correspondem às superfícies relativamente planas,
baixas, situadas junto ao mar, cuja formação resultou da deposição de sedimentos
marinhos e fluviais. No Brasil, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e
Sudeste, a largura das planícies costeiras é geralmente estreita, confinada entre o
mar e a escarpa dos depósitos sedimentares do Grupo Barreiras. (MUEHE, 2009).
Segundo o mesmo autor, o desenvolvimento das planícies amplas está associado
ao aporte de sedimentos do rio Amazonas, na ilha de Marajó e litoral do Amapá,
na região Norte, e associadas às feições deltaicas dos rios Parnaíba, São Francisco,
Pardo e Jequitinhonha, no Nordeste, e dos rios Doce e Paraíba do Sul, no Sudeste.
A partir do Rio de Janeiro, o confinamento devido ao Grupo Barreiras é substituído
pelas escarpas dos afloramentos do embasamento cristalino, com as planícies
costeiras embutidas nas depressões lateralmente balizadas por interflúvios que
se estendem em direção ao mar na forma de promontórios. (MUEHE, 2009).
Exemplos típicos dessas planícies são as baixadas de Sepetiba e Jacarepaguá, no
Rio de Janeiro. Estas se repetem em dimensões muito variadas até o Rio Grande
do Sul, onde se encontra a planície costeira mais extensa, com uma largura de
aproximadamente 120 km e 520 km de litoral oceânico. Vale a pena destacar que
esta planície abarca a Lagoa dos Patos, a maior laguna do Brasil.

Dentre as planícies costeiras, não podemos deixar de ressaltar as planícies


de cristas de praia, as planícies de chênier e as planícies deltaicas.

As planícies de cristas de praia resultam da progradação (processo natural de


ampliação das praias provocado pelos rios, que durante seu curso até a foz carregam
sedimentos, depositados nas áreas de costa próximas) da linha de costa em direção
ao oceano, através do processo de acumulação de sedimentos devido à atuação
das ondas, no qual cada crista de praia representa um depósito individualizado,
associado a uma linha de praia ativa. (DOMINGUEZ et al, 1992 apud MUEHE,
2009). Assim, as cristas de praia originam, segundo o mesmo autor, uma espécie de
“anéis de crescimento”, permitindo a reconstituição da evolução da planície costeira.
Através desse mesmo processo também ocorre o alargamento dos cordões litorâneos.

As planícies de chêniers são uma forma particular de planícies de cristas


em ambientes deltaicos. São caracterizadas por sequências de depósitos praiais
separados por afloramentos do substrato formado por sedimentos argilosos
orgânicos. (MUEHE, 2009). De acordo com o mesmo autor, este tipo de planície
foi muito estudado pelos norte-americanos do Golfo do México, onde os depósitos
de praia apresentam espessuras de até 4,5 metros e largura de até 200 metros. Em
território brasileiro este tipo de planície pode ser encontrado no litoral do Pará e
também há indícios no Amapá.
115
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

ATENCAO

A designação planície de chênier vem da presença do carvalho (chêne, em


francês), árvore típica do delta do Mississipi.

No que concerne às planícies deltaicas, é importante ressaltar que,


dependendo dos processos fluviais ou marinhos, os deltas podem ser classificados
como construtivos (fluviais) e destrutivos (ondas e marés). O delta do Mississipi
é um caso típico de processos fluviais sobre os marinhos, cujo avanço da
sedimentação fluvial, à frente da planície costeira, se faz acompanhado da
construção de diques marginais, resultando num padrão conhecido como pés-de-
pássaros (tópico anterior). (MUEHE, 2009). Podemos exemplificar como deltas
destrutivos através das ondas, as desembocaduras dos rios São Francisco (SE e
AL), Jequitinhonha (BA), Doce (ES) e Paraíba do Sul (RJ). O delta do rio Amazonas
se caracteriza como sendo altamente destrutivo, pois é dominado pelas marés.

2.3.2 As escarpas e as falésias


Os elementos topográficos básicos das costas escarpadas podem ser
visualizados na figura a seguir. Observe-a e atente para a explicação.

FIGURA 51 – OS ELEMENTOS TOPOGRÁFICOS BÁSICOS DE UMA COSTA ESCARPADA

Declive original

Linha baixa de água


Maré alta
Falésia cortada Maré baixa
aia
pelas ondas Pr
Linhas de preamar
Terraço de abrasão

Terraço de construção marinha

FONTE: Christofoletti (1980)

116
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

A força das ondas promove um entalhe de solapamento na escarpa,


ocasionando o desmoronamento da parte cimeira, resultando na formação de
falésias. Assim, “falésia é um ressalto não coberto pela vegetação, com declividades
muito acentuadas e de alturas variadas, localizado na linha de contato entre a terra e
o mar”. (CHRISTOFOLETTI 1980, p. 133). À medida que a falésia vai recuando para
o continente, amplia-se a superfície erodida pelas ondas, que é chamada de terraço
de abrasão (figura anterior). Os sedimentos erodidos são depositados em águas mais
profundas, constituindo o terraço de construção marinha (figura anterior), formando
assim um plano suavemente inclinado em conjunto com o terraço de abrasão.

Nas imagens a seguir você pode verificar dois exemplos de falésias: a


falésia de Torres, no Rio grande do Sul (imagem à esquerda), e a falésia da Praia
de Pitinga, na Bahia. Observe-as.

FIGURA 52 – EXEMPLOS DE FALÉSIAS

FONTE: Tessler e Mahiques (2009)

ATENCAO

Retome a leitura do tópico 2 da Unidade 1 no que se refere à erosão marinha e


verifique o esquema que explica a formação de uma falésia.

2.3.3 Restinga
Na literatura geomorfológica a restinga é designada como barreiras
ou cordões litorâneos. Segundo Christofoletti (1980, p. 134), “as restingas são
formadas por faixas arenosas depositadas paralelamente à praia, que se alongam
tendo ponto de apoio nos cabos e saliências do litoral”. De modo geral, a restinga
é um verdadeiro depósito de areia emerso, baixo, de forma linear, que fecha ou
tende a fechar uma reentrância mais ou menos extensa da costa.

117
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Observe a vista aérea da restinga em Barra do Furado, Quissamã (à


esquerda). Ao lado (direita) segue uma ilustração esquemática representando a
localização de uma restinga.

FIGURA 53 – RESTINGA

RESTINGA

AR
M
DO
EL
IV
N

FONTE: Vista aérea da restinga em Barra do Furado, Quissamã. Disponível em: <http://www.
overmundo.com.br/uploads/guia/img/1186062860_jurubatiba_ar1.jpg>. Acesso em: 20 jun
2010. Ilustração esquemática. (ROSSATO et al., 2003).

2.3.4 Tômbolo
Tômbolo corresponde a um cordão e/ou faixa arenosa que liga uma ilha
a um continente. Conforme as faixas arenosas construídas, um tômbolo pode ser
simples, duplo ou triplo. Os tômbolos mais complexos são aqueles que reúnem
várias ilhas em rosário, a exemplo da Praia de Nantasket, no litoral atlântico dos
EUA. No Brasil, podemos exemplificar o tômbolo da Ilha Porchat, em Santos.

2.3.5 Pontal
Faixa plana de areia e/ou seixos disposta de modo paralelo, oblíquo, ou
mesmo perpendicular à costa e que se prolonga, algumas vezes, sob as águas, em
forma de banco. Inclusive, neste caso o pontal também pode ser considerado uma
restinga. Vários exemplos podem ser encontrados no litoral brasileiro.

118
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

FIGURA 54 – A IMAGEM À ESQUERDA CORRESPONDE AO PONTAL DE MARACAÍPE (PE) E A


FIGURA À DIREITA ILUSTRA A FEIÇÃO DE UM PONTAL

FONTE: Pontal de Maracaípe. Disponível em: <http://aninha_curiosidades.zip.net/images/fotolat_


pontal_maracaipe.jpg>. Acesso em: 20 jun 2010. Ilustração esquemática (ROSSATO et al., 2003).

2.3.6 Baía
A baía corresponde a uma reentrância da costa, pela qual o mar invade
o interior do continente. É importante que fique claro que a porção do mar que
invade esta reentrância do litoral é menor que a verificada nos golfos. Ademais,
existe um estreitamento na entrada da baía.

Na imagem à esquerda você pode verificar a Baía de Guanabara, no Rio


de Janeiro, e à direita uma imagem de satélite ilustrando a referida baía.

FIGURA 55 – BAÍA DE GUANABARA (RJ)

ra
aba
uan
de G
Baía
Ilha do
Governador
São Gonçalo

io Niterói
oR
ed
ad iro
Cid Jane Copacabana
de

FONTE: Disponível em: <http://blogdajuju.files.wordpress.com/2009/11/img_baia_guana-


bara.jpg>. Acesso em: 20 jun. 2010.

119
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

2.3.7 Golfo
O golfo constitui uma ampla reentrância da costa, que a água do mar
invade com maior profundeza. De modo geral, os golfos são definidos como
grandes porções do mar, que se “intromete’ pela terra entre pontas ou cabos.
(GUERRA; GUERRA, 1997). Um exemplo típico é o Golfo do México. Observe na
imagem a seguir a reentrância da costa.

FIGURA 56 – GOLFO DO MÉXICO

ESTADOS UNIDOS

Oceano Atlântico

Golfo de México BAHAMAS THE

MÉXICO
CUBA

HAITI
Golfo de México Mar Caribe JAMAICA

GUATEMALA
Oceano Pacífico 0 ––––––––––––– 327mi
327mi
HONDURAS
© 2004 ESRI, EarthSat, AND EL SALVADOR NICARAGUA 0 ––––––––––––– 526Km

FONTE: Disponível em: <http://www.panoramadiario.com/uploads/pics/Golfo_de_


Mexico.gif>. Acesso em: 20 jun. 2010.

2.3.8 Enseada
A enseada configura uma reentrância da costa bem aberta em direção
ao mar, limitada por dois promontórios. A ilustração à direita representa uma
enseada. À esquerda você pode vislumbrar a enseada de Brito, em Santa Catarina.

FIGURA 57 – ILUSTRAÇÃO E VISTA DE UMA ENSEADA

FONTE: Enseada de Brito. Disponível em: <http://www.ferias.tur.br/admin/cida-


des/8441/g_EWnsseada%20de%20Brito.jpg>. Acesso em: 20 jun. 2010. Ilustração esque-
mática. (ROSSATO et al., 2003).

120
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

2.3.9 Recifes
Os recifes são formações geralmente litorâneas que surgem próximas à
costa. Segundo a sua origem, os recifes podem ser classificados em recifes de
arenito e recifes de corais. De acordo com o dicionário Geológico-geomorfológico
de Guerra e Guerra (1997), os recifes de arenito resultam da consolidação de antigas
praias por cimentação dos grãos de quartzo, e os recifes de corais se formam
por acumulação de corais. Os recifes coralígenos aparecem preferencialmente
nas faixas intertropicais. Desse modo, a maior parte desses recifes pode ser
encontrada nas Antilhas e Flórida (Oceano Atlântico), na Austrália (onde fica o
maior recife de corais do mundo) e nas ilhas da Oceania (no Oceano Pacífico), no
Mar Vermelho, nas ilhas de Sonda e Madagascar (no Oceano Índico).

No Brasil, os mais extensos e preservados recifes de corais situam-se em


uma Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, que abrange 135 km da
costa, de Tamandaré (PE) até Paripueira (Alagoas).

FIGURA 58 – RECIFE DE CORAIS (TAMANDARÉ, PE)

FONTE: Disponível em: <http://www.miramarmaragogiresort.com/docu-


men/blog/pt/289-ef0-002-003.jpg>. Acesso em: 20 jun. 2010.

NOTA

Ao longo da costa nordeste da Austrália fica a formação de corais mais


importante do planeta, a Grande Barreira Coralina, que compreende 600 ilhas. É sem dúvida
o maior recife de coral do mundo, que abriga um complexo e diverso ecossistema.

121
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

2.3.10 Laguna
De acordo com o dicionário Geológico-geomorfológico de Guerra e Guerra
(1997), laguna é uma depressão contendo água salgada, localizada na borda
litorânea. A separação das águas da laguna das do mar pode se fazer por um
obstáculo mais ou menos efetivo. Contudo, há a existência de canais responsáveis
pela ligação das águas da laguna com as águas do mar. Muitas vezes, o termo
lagoa é usado equivocadamente ao invés de laguna. No Brasil, um exemplo
típico de Laguna é a Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. Como já havíamos
ressaltado anteriormente, é a maior laguna do Brasil.

FIGURA 59 – LAGOA DOS PATOS

FONTE: Disponível em: <http://www.popa.com.br/cartas_mapas/guaiba_google.gif>. Acesso


em: 20 jun. 2010.

2.3.11 Atol
Os atóis são anéis de corais, recortados por passagens, cercando uma
laguna cuja profundidade geralmente ultrapassa 30 metros, mas que apenas em
casos excepcionais atinge 100 metros. O diâmetro é muito variado. Um exemplo
típico é o Atol das Rocas, cerca de 200 km ao largo da costa do Rio Grande do
Norte. Este atol possui um contorno de 10 km, com pouco mais de 3 km em seu
maior comprimento. Observe a imagem a seguir.

122
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

FIGURA 60 – ATOL DAS ROCAS

FONTE: Disponível em: <hw>. Acesso em: 20 jun. 2010.

2.3.12 Praia
As praias correspondem aos depósitos de sedimentos, mais comumente
arenosos, acumulados por ação de ondas que, por apresentarem mobilidade,
se ajustam às condições de ondas e marés. Quanto ao material que compõe as
praias, há a predominância dos grãos de quartzo. Os depósitos de praias, quando
situados a alguns metros acima do alcance das marés, servem como indicadores
da oscilação entre o nível dos oceanos e das terras. O Brasil, com sua enorme
extensão litorânea (7.400 km, sem considerar os contornos de baías e ilhas),
apresenta uma grande quantidade de praias.

FIGURA 61 – PRAIAS. A IMAGEM À DIREITA CORRESPONDE À PRAIA DE MASSAGUAÇU,


CARAGUATATUBA, SP. A IMAGEM À ESQUERDA REPRESENTA A PRAIA DE PARATI, RJ

FONTE: Tessler e Mahiques (2009)

123
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

2.3.13 Dunas costeiras


As dunas costeiras se formam em locais cuja velocidade do vento e a
disponibilidade de areia praial de granulometria são adequadas para o transporte
eólico. Estas condições são mais frequentemente encontradas em praias do tipo
dissipativo a intermediário, de gradiente suave, como ocorre em grande parte do
litoral do Rio Grande do Sul, em Cabo Frio, no litoral do Rio de Janeiro, e também
em muitas áreas litorâneas do Maranhão, Piauí e Ceará, onde são favorecidas
pelo clima seco e a maior amplitude da maré. (MUEHE, 2009).

FIGURA 62 – DUNAS. A IMAGEM À DIREITA REFERE-SE ÀS DUNAS NAS ILHAS CA-


NÁRIAS (ESPANHA). A IMAGEM À ESQUERDA REPRESENTA AS DUNAS DA PRAIA
DA JOAQUINA, EM SANTA CATARINA

FONTE: Tessler e Mahiques (2009), Dunas da Joaquina. Disponível em: <http://


www.fotosdesantacatarina.com.br/wp-content/uploads/2010/03/dunas-da-joaqui-
na-floripa.jpg>. Acesso em: 20 jun. 2010.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a), procure aprofundar, em outras bibliografias, informações


mais detalhadas sobre estas feições.

3 A GEOMORFOLOGIA CÁRSTICA
No hodierno, a geomorfologia cárstica compreende o estudo da forma,
gênese e dinâmica dos relevos elaborados sobre rochas solúveis pela água, tais
como as carbonáticas e os evaporitos, e, mesmo, rochas menos solúveis, como os
quartzitos, granitos, basaltos, dentre outros. (KOHLER, 2009).

124
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

O termo carste é a tradução do termo alemão Karst, originado da palavra


Krasz, denominação dada pelos camponeses a uma paisagem da atual Croácia
e Eslovênia (antiga Iugoslávia), marcada por rios subterrâneos, com cavernas
e superfície acidentada dominada por paredões rochosos e torres de pedra.
(KARMANN, 2009). Para Christofoletti (1980), o termo carste abarca um sentido
amplo e é empregado para designar as áreas calcárias ou dolomíticas, que
possuem uma topografia característica, oriunda da dissolução de tais rochas.

3.1 OS SISTEMAS CÁRSTICOS


Os sistemas cársticos, do ponto de vista hidrológico e geomorfológico,
são constituídos por três componentes principais: sistemas de cavernas (formas
subterrâneas acessíveis à exploração); aquíferos de condutos (formas condutoras
da água subterrânea) e o relevo cárstico (formas superficiais). (KARMANN, 2009).
Estes componentes se desenvolvem de maneira conjunta e interdependente. Observe
atentamente na figura a seguir os principais componentes do sistema cárstico.

FIGURA 63 – COMPONENTES PRINCIPAIS DO SISTEMA CÁRSTICO

FONTE: Karmann (2009)

Os sistemas cársticos são formados pela dissolução de certos tipos de rochas


através da água subterrânea. Dentre as rochas mais favoráveis à carstificação
podemos destacar as rochas carbonáticas (calcários, mármores e dolomitos),
cujo principal mineral, calcita, dissocia-se nos íons Ca² e /ou Mg² e CO² pela
ação da água. (KARMANN, 2009). Os calcários, por exemplo, apresentam uma
solubilidade maior que os dolomitos. Mas, o que é uma rocha solúvel? É uma
rocha que, após sofrer intemperismo químico, produz pouco resíduo insolúvel.

125
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Segundo Karmann (2009), as rochas evaporíticas, constituídas por


halita e/ou gipsita, apesar de sua altíssima solubilidade, originam sistemas
cársticos somente em situações especiais, como em áreas áridas a semiáridas,
pois o intemperismo sob o clima úmido é muito rápido e não permite o pleno
desenvolvimento do carste.

3.2 DISSOLUÇÃO DE ROCHAS CARBONÁTICAS


A calcita é um mineral quase insolúvel em água pura, produzindo
concentrações máximas em Ca² de cerca de 8mg/L. Em águas naturais, ao
contrário, é muito solúvel, como pode ser evidenciado em nascentes cársticas,
cujas águas são denominadas de “duras”, em virtude do alto teor em Ca e Mg.
(KARMANN, 2009). Isto ocorre em função da dissolução ácida do carbonato de
cálcio pelo ácido carbônico, gerado pela reação entre água e gás carbônico. Para
facilitar o seu entendimento, observe atentamente, na figura a seguir, a dissolução
e precipitação de calcita num perfil cárstico. Atente também para os principais
tipos de espeleotemas.

FIGURA 64 – DISSOLUÇÃO E PRECIPITAÇÃO DE CALCITA NUM PERFIL CÁRS-


TICO E OS PRINCIPAIS TIPOS DE ESPELEOTEMAS

CO2 na atmosfera ~ 0,04%


a
uv
Ch

Calcário

CO2
Fraturas

no solo ~ 21%

Dissolução de H2O + CO2 → H2 CO3


calcita
CaCO3 + H2 CO3 → Ca++ + 2HCO3-

CaCO3 + H2 CO3 → Ca++ + 2HCO3-

CO2
CO2 na
Ca++ + 2HCO3- CO2 caverna ~ 0,06%
Ca CO3 + CO2 + H2O
CO2

Rio
Sedimentos fluviais
subterrâneo
Antigas crostas
calcíticas

Tipos de espeleotemas 5 - Cortina com estalactite


1 - Estalagmite 6 - Coluna
2 - Estalagmite tipo vela 7 - Excêntrios (helictites)
3 - Estalacite tipo canudo 8 - Represas de travertino com cristais
4 - Estalacite de calcita subaquática

FONTE: Karmann (2009)

126
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

Ao observar a figura você pôde verificar que as águas das chuvas,


acidificadas inicialmente com CO2 atmosférico, sofrem um grande enriquecimento
em ácido carbônico quando infiltram no solo, pois a respiração das raízes das
plantas e a decomposição de matéria orgânica resultam em elevado teor de
CO2 no solo. Perceba que o ácido carbônico é quase totalmente consumido nos
primeiros metros de percolação da água de infiltração no pacote rochoso, sendo
que, nas partes mais profundas do aquífero, resta somente uma pequena parcela
deste ácido para dissolver a rocha. (KARMANN, 2009).

3.3 DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS CÁRSTICOS


Três condições básicas são responsáveis para que ocorra um
pleno desenvolvimento de sistemas cársticos. São elas: rocha solúvel com
permeabilidade de fratura; relevo; clima e disponibilidade de água. Vejamos
agora, simplificadamente, algumas considerações acerca de cada uma das
referidas condições, conforme Karmann (2009, p. 204).

• Rocha solúvel com permeabilidade de fraturas: rochas solúveis do substrato


geológico, principalmente calcários, mármores e dolomitos, devem possuir uma
rede de descontinuidades, formada por superfícies de estratificação, planos de
fraturas e falhas, caracterizando um aquífero de fraturas. Através da dissolução
da rocha ao longo de intercessões entre planos, instalam-se rotas preferenciais
de circulação da água subterrânea.

• Relevo: o desenvolvimento do carste é favorecido quando a região carbonática


possui topografia, no mínimo, moderadamente acidentada. Vales encaixados
e desníveis grandes geram gradientes hidráulicos maiores, com fluxos
mais rápidos das águas de percolação ao longo dos condutos no aquífero, à
semelhança do que se observa no escoamento superficial. Estas velocidades
maiores da água subterrânea resultam em maior eficiência na remoção de
resíduos insolúveis, bem como a dissolução da rocha ao longo das rotas de
fluxo e rios subterrâneos, acelerando o processo de carstificação. Águas com
fluxo lento exercem pouca ação, pois logo se saturam em carbonato, perdendo
sua ação corrosiva e a capacidade de transportar partículas.

• Clima e disponibilidade de água: como a dissolução é a causa principal da


formação de sistemas cársticos, o desenvolvimento do carste é mais intenso em
climas úmidos. Além de alta pluviosidade, a carstificação também é favorecida
em ambientes de clima quente com densa vegetação, pois nestes a produção
biogênica de CO2 no solo é maior, aumentando o teor de ácido carbônico nas
águas de infiltração. Desse modo, as paisagens cársticas são mais desenvolvidas
em regiões de clima quente e úmido quando comparadas às regiões de clima frio.

127
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

3.4 AS CAVERNAS E OS CONDUTOS


As cavernas são concavidades naturais com dimensões diferenciadas que
aparecem mais frequentemente nas rochas calcárias ou em arenitos de cimento
calcário. As cavernas cársticas fazem parte do sistema de condutos e vazios
característicos das rochas carbonáticas.

De acordo com Karmann (2009), a ampliação dos condutos que compõem


as rotas preferenciais de fluxo da água subterrânea aumenta gradativamente a
permeabilidade secundária da rocha, transformando parte do aquífero fraturado
em aquífero de condutos. Esta é uma característica hidrológica fundamental de
sistemas cársticos.

Em virtude do rebaixamento do lençol freático devido ao aumento de


permeabilidade (muitas vezes associado ao soerguimento tectônico), setores da
rede de condutos são expostos acima do nível da água, passando por modificações
e ampliação em ambiente vadoso (Zona vadosa: onde há livre escoamento de
água). Estes condutos, quando atingem dimensões acessíveis ao ser humano,
constituem as cavernas. É importante destacar que os processos que resultam na
formação do aquífero de condutos e cavernas são denominados de espeleogênese.

UNI

No que tange ao vasto sistema de porosidade de condutos de um aquífero


cárstico, é significativo ressaltar que apenas cerca de 1% está acessível ao ser humano.

3.4.1 Sistemas de cavernas


O conjunto de galerias, condutos e salões compõe um sistema de cavernas.
Lembrando que todos esses componentes fazem parte da mesma bacia de
drenagem subterrânea, caracterizada pela entrada e saída de água.

Os padrões morfológicos dos sistemas de cavernas refletem principalmente a


estrutura da rocha e a maneira como é realizada a recarga de água no sistema, ou seja,
por meio de sumidouros de rios com origem externa ao carste, ou a partir de vários
pontos de infiltração distribuídos sobre a superfície carbonática. (KARMANN, 2009).

Um fenômeno interessante oriundo das cavernas e que ocorre acima


do lençol freático é a deposição de minerais nos tetos, formando um variado
conjunto de formas e ornamentações, chamados de espeleotemas (verifique a
figura apresentada anteriormente).

128
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

Os espeleotemas podem ser classificados segundo sua forma e o regime


de fluxo da água de infiltração, fator essencial na diversificação morfológica. As
estalactites e estalagmites, por exemplo, são formadas por gotejamento da água
de infiltração. As estalactites são originadas a partir de gotas que surgem em
fraturas nos tetos de cavernas e crescem em direção ao piso. Já as estalagmites
crescem do piso em direção à origem de gotejamento, em função do acúmulo de
carbonato de cálcio precipitado pela gota ao atingir o teto. Quando ocorre a união
da estalactite com a estalagmite, formar-se-á uma coluna.

FIGURA 65 – IMAGENS DAS ESTALAGMITES (À DIREITA) E AS ESTALACTITES (À ESQUERDA)

FONTE: Os autores

Para Karmann (2009), os espeleotemas podem formar acumulações de


várias camadas, compostas por mais de um mineral, a exemplo da calcita e a
aragonita, e também englobar contribuições detríticas, como areia e argila, trazidas
por enchentes de rios subterrâneos, ou ainda, por água de gotejamento. Assim,
dar-se-á a constituição de rochas sedimentares de origem química precipitada a
partir da água subterrânea.

3.5 AS FORMAS DE RELEVO CÁRSTICO


A substituição da rede de drenagem fluvial (com seus vales e canais
organizados), por bacias de drenagens centrípetas, é a principal característica de
uma superfície cárstica. Estas bacias, por sua vez, conduzem a água superficial
para sumidouros, que conectam a superfície com a drenagem subterrânea. É
evidente que quanto maior for o desenvolvimento do sistema cárstico, maior será
sua permeabilidade secundária, o que resultará no aumento de sumidouros, bem
como as bacias de drenagem centrípeta.

Associadas às drenagens centrípetas, desenvolve-se uma das mais comuns


feições de relevo cárstico, as chamadas Dolinas.

129
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Você sabe o que é uma dolina? Segundo o dicionário Geológico-


geomorfológico de Guerra e Guerra (1997, p. 212), “dolina corresponde a
uma depressão de forma acentuadamente circular, afunilada, com largura
e profundidades variadas, que aparecem em terrenos calcários”. Segundo
Karmann (2009), as dolinas de dissolução formam-se com a dissolução a partir
de um ponto de infiltração na superfície da rocha fraturada. Ainda de acordo com
o mesmo autor, as dolinas geradas a partir do colapso da superfície em virtude
do abastecimento do teto de cavernas ou outras cavidades em profundidades são
denominadas de dolinas de colapso.

Observe, na figura a seguir, a evolução esquemática de dolinas vde


dissolução (subsidência lenta) e de colapso.

FIGURA 66 – EVOLUÇÃO ESQUEMÁTICA DE DOLINAS DE DISSOLUÇÃO E DE COLAPSO


Dolina de subsidência lenta Dolina de colapso
Dissolução do
calcário ao longo
Drenagem das fraturas e
início da depressão

NA NA

Condutos
Fraturas freáticos

A depressão
é ampliada com
a dissolução ao
longo das fraturas

Rebaixamento do NA e
abatimento de blocos
no teto da caverna

O abatimento de blocos
atinge a superfície

Antigo
nível d'água

FONTE: Karmann (2009)

130
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

Os vales “cegos”, com rios que desaparecem repentinamente em


sumidouros junto a “anfiteatros” rochosos ou depressões, correspondem à outra
feição do relevo cárstico. Os vales cársticos ou de abatimentos, são formados
quando galerias de cavernas sofrem abatimento, frequentemente expondo rios
subterrâneos, ocasionando depressões alongadas com vertentes verticalizadas.
(KARMANN, 2009). É importante ressaltar que apesar de o produto final ser
similar com os vales fluviais, os vales cársticos não podem ser assim classificados,
pois sua origem não é devido ao entalhamento de um canal fluvial.

A imagem a seguir ilustra claramente um vale cárstico. Observe-a.

FIGURA 67 – VALE CÁRSTICO ASSOCIADO À CAVERNA DOS BREJÕES. OBSER-


VE O PÓRTICO DE ENTRADA DA CAVERNA, COM 106 METROS DE ALTURA. SI-
TUADO NO MUNICÍPIO DE MORRO DO CHAPÉU, CHAPADA DIAMANTINA (BA)

FONTE: Karmann (2009)

Os cones cársticos estão entre as formas mais notáveis do relevo cárstico.


Na verdade, os cones cársticos constituem os morros de vertentes fortemente
inclinadas e paredes rochosas, representando morros testemunhos que resistiram
à dissolução. Frequentemente, os cones cársticos abrigam trechos que abarcam
antigos sistemas de cavernas. As imagens a seguir representam este tipo de
relevo. Observe-as.

131
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

FIGURA 68 – CONES CÁRSTICOS, REPRESENTANDO MORROS TESTEMUNHOS, QUE RESIS-


TIRAM À DISSOLUÇÃO. A IMAGEM À ESQUERDA CORRESPONDE À REGIÃO DO VALE DO RIO
BETARI, IPORANGA (SP). A IMAGEM À DIREITA REFERE-SE À REGIÃO DE PIÑAR DE RIO, CUBA

FONTE: Karmann (2009)

Não podemos deixar de destacar também as áreas que apresentam rochas


carbonáticas expostas, são os lapiás ou caneluras. Na maioria das vezes, exibem
um padrão de sulcos com profundidades desde milimétricas a métricas, às
vezes com lâminas proeminentes entre os sulcos. Os lapiás são formados pela
dissolução da rocha na interface solo-rocha e após a erosão do solo continuam seu
desenvolvimento pelo escorrimento da água de precipitação diretamente sobre a
rocha. (KARMANN, 2009). Atente para esta impressionante formação.

FIGURA 69 – CALCÁRIO ENTALHADO POR CANELURAS DE DISSOLUÇÃO


(LAPIÁS) NA REGIÃO DA CAVERNA DO PADRE, BAHIA

FONTE: Karmann (2009)

132
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

E
IMPORTANT

No Brasil, cerca de 3% do território é ocupado por carste carbonático,


constituindo um importante componente nas paisagens.

LEITURA COMPLEMENTAR

BELEZA E MISTÉRIO FORMAM O RICO E AMEAÇADO PATRIMÔNIO


ESPELEOLÓGICO DO PAÍS
Nilza Bellini

No Brasil, a maior parte das rochas carbonáticas foi formada há mais de


600 milhões de anos, ao passo que as cavernas são do período geológico atual,
o Quaternário, iniciado há cerca de 2 milhões de anos. Espeleotemas como
as estalactites (que descem do teto) e estalagmites (que sobem do chão) e os
travertinos, criados pelo acúmulo de minerais carregados pela água em alguns
pontos, podem ter milhões de anos. São fantasticamente bonitos nas cavernas
secas. Os espeleotemas conservam informações muito importantes sobre a
formação do planeta. As cavidades subterrâneas também guardam a história
da evolução das espécies e da cultura humana. Entre os estudos geológicos, é
fundamental o do paleoclima, obtido a partir da análise dos espeleotemas, que
permitem entender o atual padrão de variação climática.

Tesouros brasileiros

As cavernas brasileiras já documentadas localizam-se, na maioria, nos


estados do sudeste e centro-oeste e na Bahia. A toca da Boa Vista, em Campo
Formoso (BA), é a maior caverna conhecida do hemisfério sul. Até 2006 foram
mapeados mais de 102 quilômetros de suas galerias. A mais alta entrada, com 215
metros de altura, é a da gruta Casa de Pedra, no Parque Estadual Turístico do Alto
Ribeira (Petar-SP). Principais atrativos turísticos da região do vale do Ribeira, só no
parque mais de 300 foram exploradas. Dessas, destacam-se Santana, Morro Preto,
Lambari, Água Suja e Casa de Pedra, e, próximo dali, a famosa Caverna do Diabo.

No Distrito Federal fica a maior caverna nacional conhecida em micaxisto,


a Gruta dos Ecos, com 1.380 metros e um lago subterrâneo de 300 metros de
comprimento. Em Minas Gerais está a maior caverna vertical em quartzito do
país, a do Centenário, com 481 metros de profundidade. No Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu (MG), uma estalactite de 28 metros é considerada uma das
maiores do mundo. Devido às suas características, as formações brasileiras têm
sido muito procuradas por expedições espeleológicas internacionais.

133
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

“Visitar cavernas é fascinante”, assegura José Antonio Basso Scaleante, o


Scala. “É uma experiência incomparável, a paisagem subterrânea é única”, diz
o professor, que é também pesquisador de um grupo acadêmico que analisa o
potencial espeleológico do Amapá. Faz quase 30 anos que Scala visita cavernas.
Das mais de quatro mil cadastradas, já esteve em quase mil. “Sinto-me honrado,
aconchegado no ventre da terra”, diz.

Defensores da preservação de cavernas, como Scala, apontam várias razões


para a importância de protegê-las. Elas conservam minerais raros e formações
geológicas preciosas; abrigam importantes sítios geológicos, paleontológicos
e arqueológicos; foram e são consideradas locais sagrados por culturas e
civilizações; representam reservas hidrológicas estratégicas para o abastecimento
de cidades, agricultura e indústrias; cada vez mais, tornam-se fontes de atividades
econômicas, como o ecoturismo e a prática de esportes. Apesar de tudo isso, a
deterioração progride. Quer seja motivada pela mineração, quer seja pelo turismo,
a presença do homem nas cavernas ou em seu entorno é sempre uma ameaça.

Mesmo no Estado de São Paulo, onde a fiscalização é intensa, o patrimônio


espeleológico é desrespeitado. Em 2008 o Ibama autuou proprietários rurais que
plantaram cana-de-açúcar e eucalipto ao redor de cavernas importantes localizadas
em Altinópolis, Ipeúna, Analândia e Itirapina, cidades da região de São Carlos. O
órgão estabelece um perímetro de 250 metros de área livre ao redor das cavidades
para não prejudicar o ecossistema. Na região do Alto Paranapanema, o estrago
foi provocado por mineradoras. As multas aplicadas contra as empresas que não
tinham licenciamento ambiental somaram cerca de R$ 1,3 milhão. O turismo
também provoca danos. As pisadas levam à compactação dos solos, impedindo
a sobrevivência de organismos que vivem no local. A eutrofização – acúmulo de
matéria orgânica em decomposição transportada do exterior – causa a poluição
do ar e das águas do interior e afeta a vida dos animais que só vivem em cavernas.

Na maioria delas, porém, não foram demarcadas áreas de proteção, nem


restringida a visitação. São poucos os casos de interdição. Em 2002, por exemplo,
a Gruta do Tamboril, localizada em Unaí (MG), foi fechada pelo Ibama a pedido
da Secretaria de Saúde, por suspeita de histoplasmose, infecção causada por
um fungo originado nas fezes de morcegos. As placas de interdição e as cercas
de arame foram retiradas por desconhecidos e em 2004 houve novos casos de
contaminação. A transmissão de doenças causadas por fungos que proliferam em
cavernas, no entanto, é rara.

134
TÓPICO 2 | GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA

Danos ambientais

O professor universitário Heros Lobo, doutorando em Geociências pela


Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, está escrevendo
a primeira tese acadêmica sobre o impacto ambiental do turismo espeleológico.
Ainda que seja impossível eliminar totalmente esse tipo de dano, Lobo quer criar
um método para reduzi-lo. Com esse objetivo, faz monitoramento climático e
microscopia eletrônica de varredura no material que coleta das rochas de cavernas
abertas à visitação e das fechadas ao público. “No exterior existem trabalhos do
gênero, mas ainda não foi feita uma matriz de impacto ambiental”, diz ele.
FONTE: BELLINI, N. Beleza e mistério formam o rico e ameaçado patrimônio espeleológico do
país. 2008. Disponível em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_
Id=302&Artigo_ID=4761&IDCategoria=5441&reftype=1>. Acesso em: 25 jul 2010.

135
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você estudou que:

• As paisagens resultantes da morfogênese marinha, no que se refere à zona de


contato entre a terra e o mar, é objeto de estudo da geomorfologia litorânea.

• As formas de relevo litorâneas ou costeiras sofrem a atuação dos processos


morfogenéticos. Estes, por sua vez, podem ser controlados por vários fatores
ambientais, como o geológico, o climático, o biótico e os fatores oceanográficos.

• A principal força marinha atuante na morfogênese litorânea é a atuação das


ondas, das correntes costeiras e das marés.

• As formas de relevo litorâneas podem ser originadas tanto da ação erosiva


como da deposição de sedimentos.

• Você pôde verificar algumas feições litorâneas, com as planícies costeiras;


as falésias, restingas, tômbolos, pontal, baía, golfo, enseada, recifes, laguna,
atol, praia e as dunas costeiras.

• A geomorfologia cárstica compreende o estudo da forma, gênese e dinâmica dos


relevos elaborados sobre rochas solúveis pela água, tais como as carbonáticas e
os evaporitos, e, mesmo, rochas menos solúveis, como os quartzitos, granitos,
basaltos, dentre outros.

• Os sistemas cársticos, do ponto de vista hidrológico e geomorfológico, são


constituídos por três componentes principais: sistemas de cavernas; aquíferos
de condutos e o relevo cárstico.

• Os sistemas cársticos são formados pela dissolução de certos tipos de rochas


através da água subterrânea. Três condições básicas são responsáveis para que
ocorra um pleno desenvolvimento de sistemas cársticos. São elas: rocha solúvel
com permeabilidade de fratura; relevo; clima e disponibilidade de água.

• As cavernas são concavidades naturais com dimensões diferenciadas, que


aparecem mais frequentemente nas rochas calcárias ou em arenitos de cimento
calcário. As cavernas cársticas fazem parte do sistema de condutos e vazios
característicos das rochas carbonáticas.

• Os processos que resultam na formação do aquífero de condutos e cavernas são


denominados de espeleogênese.

• Os espeleotemas podem ser classificados segundo sua forma e o regime de


fluxo da água de infiltração, fator essencial na diversificação morfológica. As
estalactites e estalagmites são exemplos de espeleotemas.
136
AUTOATIVIDADE

1 As paisagens resultantes da morfogênese marinha, no que tange à zona de


contato entre a terra e mar, é objeto de estudo da geomorfologia litorânea.
Acerca deste estudo, analise as afirmativas a seguir:

I- A morfologia litorânea torna-se muito complexa em virtude da interferência de


processos marinhos e subaéreos sobre estruturas e litologias muito diferenciadas.
II- As formas de relevo litorâneas sofrem a atuação dos processos
morfogenéticos, que podem ser controlados por vários fatores ambientais,
tais como o geológico, o climático, o biótico e os fatores oceanográficos.
III- A principal força marinha atuante na morfogênese litorânea é a atuação
das ondas, das correntes costeiras e das marés.
IV- As formas de relevo litorâneas podem ser originadas tanto da ação erosiva
como da deposição de sedimentos.
V- A descrição do perfil litorâneo, no que tange ao estabelecimento de
nomenclaturas precisas, foi desenvolvida principalmente pelos franceses e
russos, pois foram eles os responsáveis pelos estudos mais aprofundados
acerca da morfologia litorânea.

a) ( ) Estão corretas as afirmativas I, II, III e IV.


b) ( ) Estão corretas as afirmativas I, III, IV e V.
c) ( ) Estão corretas apenas as afirmativas III e IV.
d) ( ) Somente a afirmativa I está correta.

2 Na geomorfologia litorânea pode ser encontrada uma


diversificação de feições e/ou ambientes característicos
oriundos tanto da ação erosiva como da deposição de
sedimentos. Acerca de algumas destas feições e suas
respectivas características, relacione as colunas:

1. Planícies costeiras.
2. Falésias.
3. Restinga.
4. Pontal.
5. Golfo.
6. Enseada.

137
( ) É um ressalto não coberto pela vegetação, com declividades muito acentuadas
e de alturas variadas, localizado na linha de contato entre a terra e o mar.
( ) São formadas por faixas arenosas depositadas paralelamente à praia, que
se alongam tendo ponto de apoio nos cabos e saliências do litoral.
( ) Constitui uma ampla reentrância da costa, que a água do mar invade com
maior profundeza.
( ) Configura uma reentrância da costa bem aberta em direção ao mar,
limitada por dois promontórios.
( ) Correspondem às superfícies reativamente planas, baixas, situadas junto ao
mar, cuja formação resultou da deposição de sedimentos marinho e fluviais.
( ) Faixa plana de areia e/ou seixos disposta de modo paralelo, oblíquo, ou
mesmo perpendicular à costa e que se prolonga, algumas vezes, sob as
águas, em forma de banco.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) 4 – 5 – 3 – 2 – 1 – 6.
b) 2 – 3 – 5 – 6 – 1 – 4.
c) 3 – 1 – 4 – 2 – 5 – 6.
d) 2 – 4 – 3 – 5 – 1 – 6.

3 Acerca dos sistemas cársticos, coloque V para as afirmativas verdadeiras e F


para as falsas e em seguida assinale a alternativa que apresenta a sequência
CORRETA:

( ) Os sistemas cársticos são formados pela dissolução de certos tipos de


rochas através da água subterrânea.
( ) O sistema de cavernas é composto por um conjunto de galerias, condutos
e salões.
( ) A rocha solúvel com permeabilidade de fratura é uma das condições
básicas para que ocorra um pleno desenvolvimento de sistemas cársticos.
( ) Uma característica hidrológica fundamental dos sistemas cársticos é a
ampliação dos condutos que compõem as rotas preferenciais de fluxo da
água subterrânea, ocasionando o aumento gradativo da permeabilidade
secundária da rocha, transformando parte do aquífero fraturado em
aquífero de condutos.
( ) A principal característica de uma superfície cárstica é a substituição da
rede de drenagem fluvial por bacias de drenagens centrípetas.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) V – V – V – V – V.
b) F – V – F – V – V.
c) V – F – V – V – F.
d) V – V – V – F – V.

138
4 Do ponto de vista hidrológico e geomorfológico, os sistemas cársticos são
constituídos por três componentes principais: os sistemas de cavernas, os
aquíferos de condutos e o relevo cárstico. Assim, a partir do estudo realizado
sobre os sistemas cársticos, procure investigar na sua cidade e/ou região a
presença de componentes característicos a estes sistemas. No caso de ocorrer
alguma identificação de componentes cársticos, fotografe-os, descreva-os e
socialize com a turma.

139
140
UNIDADE 2 TÓPICO 3

COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

1 INTRODUÇÃO
No caderno de Geografia Física você estudou que a camada mais
“superficial” da Terra é denominada de crosta. Esta é formada por diferentes tipos
de rochas e minerais e apresenta uma superfície irregular. O relevo corresponde à
diversidade de aspectos da superfície da crosta terrestre, ou seja, a irregularidade
e/ou desnivelamento da superfície, seja nas formas emersas e submersas, com
dimensões muito variadas, podendo ser microrrelevo (pequenas formas),
mesorrelevo (formas médias) e macrorrelevo (extensas cadeias de montanhas).

No Tópico 1 da Unidade 1 você pôde verificar que a geomorfologia é a


ciência que estuda as formas do relevo, bem como os processos associados à sua
(trans)formação. Neste tópico o intuito é proporcionar a você o conhecimento
sobre a compartimentação do relevo, ou seja, apresentar alguns dos principais
tipos de relevos correspondentes à superfície terrestre.

Respire fundo e bom estudo!

2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A


COMPARTIMENTAÇÃO TOPOGRÁFICA DO RELEVO
Segundo Casseti (2005), a compartimentação topográfica corresponde à
individualização de um conjunto de formas com características semelhantes, o
que leva a se admitir que tenham sido elaboradas em determinadas condições
morfogenéticas ou morfoclimáticas que apresentem relações litoestratigráficas ou
que tenham sido submetidas a eventos tectodinâmicos.

A junção das diferentes forças ao longo do tempo geológico leva à


caracterização das formas de relevo, define a topografia ou altimetria, bem como
origina traços genéticos comuns como fatores de individualização do conjunto
(relevo). Assim, a evolução do modelado terrestre, cujas particularidades
proporcionam a especificidade de compartimentos, resulta do antagonismo
determinado pelas forças endógenas e exógenas (se necessário, retome o estudo
do tópico 2 da Unidade 1).

141
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

De modo geral, o relevo pode ser caracterizado por superfícies


diferenciadas, como as erosivas, dobradas e falhadas. Estas podem oferecer
variações ou combinações numa determinada área ou formar um domínio
morfológico único de grande extensão. A partir de agora veremos a
compartimentação de alguns dos tipos de relevo emerso e submerso.

3 CARACTERÍSTICAS MORFOESTRUTURAIS DAS BACIAS


SEDIMENTARES
Segundo o Dicionário Geológico-Geomorfológico de Guerra e Guerra
(1997, p. 77), “bacia sedimentar é uma depressão preenchida com detritos
carregados das áreas circundantes”. Geralmente, a estrutura dessas áreas é
composta de estratos concordantes ou quase concordantes, que mergulham
normalmente da periferia para o centro da bacia. (GUERRA; GUERRA, 1997).

A formação das bacias sedimentares ocorre nas faixas intracratônicas,


e o processo de entulhamento é favorecido pela subsidência, ocasionando a
compensação isostática. Assim, as bacias sedimentares assumem espessuras
consideráveis, responsáveis pela subsidência central, permitindo a continuidade
da sedimentação. Segundo Petri e Fulfaro (1983), as bacias sedimentares brasileiras
(correspondem a 64% do território), por exemplo, apresentam espessuras que
chegam a 6.000 metros, como na baixa bacia Amazônica. Merecem destaque
também as bacias sedimentares do Meio-Norte, do Paraná, a São-Franciscana e a
do Pantanal Mato-Grossense.

As sequências sedimentares das bacias, de modo geral, estão dispostas


em forma de sinéclises, ou seja, a espessura das camadas cresce da borda para
o centro, com mergulhos que acompanham o substrato cristalino, parcialmente
atribuído ao próprio processo de subsidência, ligeiramente inclinados na periferia
das bacias com tendência de horizontalização na seção central. (CASSETI, 2005).
Segundo o mesmo autor, a sedimentação se inicia em discordância angular ou
discordância erosiva, e continua com tendência de manutenção de concordância
entre as sequências litoestratigráficas ou discordância erosiva entre as mesmas.

Na figura a seguir você poderá entender melhor a disposição das camadas


nas sequências sedimentares.

142
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

FIGURA 70 – DISPOSIÇÃO DAS CAMADAS NAS SEQUÊNCIAS SEDIMENTARES

Estrutura Estrutura sedimentar


cristalina
Estrutura concordante
horizontal
Estrutura concordante
inclinada

Discordância
angular
Discordância
erosiva

FONTE: Casseti (2005)

3.1 RELEVO TABULAR OU TABULIFORME


As características litológicas dos estratos e o comportamento das camadas
(mergulho) oferecem uma diferenciação morfologicoestrutural, responsável pela
formação, bem como evolução do relevo tabuliforme (e também do relevo de cuestas).

O relevo tabuliforme é caracterizado por uma sequência de camadas


sedimentares horizontais ou sub-horizontais, associadas ou não a derrames
basálticos intercalados. (CASSETI, 2005). Sua disposição tabular pode diferir
daquelas resultantes de processo de pediplanação em estruturas não horizontais.
Contudo, conforme Casseti (2005), a pediplanação também pode ocorrer em
estruturas horizontais, com estreita correspondência entre a superfície de erosão
e o comportamento dos estratos. Este tipo de relevo apresenta uma forma
topográfica de terreno que se assemelha a planaltos, terminando geralmente de
forma abrupta. (GUERRA; GUERRA, 1997).

Geralmente, a ocorrência dos relevos tabulares acontece no interior das


bacias sedimentares, dada a disposição horizontalizada dos estratos. As formas mais
evidentes nas estruturas concordantes se caracterizam por chapadões, chapadas e
mesas, em ordem de grandeza. Essas formas são na maioria das vezes mantidas à
superfície, por camadas basálticas ou por sedimentos litificados de maior resistência.
(CASSETI, 2005). De acordo com o mesmo autor, quando essas formas são submetidas
a processos de pediplanação, podem estar associadas a concreções ferruginosas, com
vegetação xeromórfica, muito provavelmente ligada às condições ambientais áridas
ou semiáridas que deram origem à superfície erosiva.

143
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

E
IMPORTANT

O início da evolução dos relevos tabuliformes, especialmente no caso brasileiro,


está relacionado a uma fase climática úmida, responsável pela organização do sistema
hidrográfico sobre um pediplano em ascensão por esforços epirogenéticos. (CASSETI, 2005).

Para Casseti (2005), a evolução na elaboração do relevo tabuliforme pode


estar associada:

a) Organização do sistema hidrográfico em fase climática úmida, relacionada a


efeitos epirogenéticos; b) Devido aos esforços epirogenéticos considerados,
há uma tendência de aprofundamento dos talvegues e de elaboração
de seus vales; c) A tendência de alternância climática, como a passagem
do clima úmido para o seco, evidenciada na evolução morfológica pós-
cretácea brasileira, teria sido responsável pela evolução horizontal
do modelado, dada a aceleração do recuo paralelo das vertentes por
desagregação mecânica; d) Uma nova fase climática úmida ensejaria uma
nova organização da drenagem e, consequentemente, um reentalhamento
dos talvegues, proporcionando o alçamento de antigos depósitos, como os
pedimentos detríticos que enterraram áreas depressionárias.

O trabalho comandado pelo sistema hidrográfico enseja a evolução


do relevo via erosão regressiva, promovendo ramificações de cursos de
primeira ordem, podendo, então, aparecer formas residuais, como os morros-
testemunhos, mantidos ou não por coroas litoestruturais como o somital,
associado a materiais resistentes. As diferenças litológicas poderiam ainda
proporcionar saliências morfológicas, parcialmente mascaradas na fase
anterior, de clima seco, denominadas cornijas. Com a abertura dos vales,
haveria uma tendência a se formarem vales simétricos, denominados vales
em “manjedouras’’. A presença de pedimentos detríticos em processo de
retrabalhamento morfológico pela incisão da drenagem é testemunha do clima
seco correspondente à fase anterior.

Após todo o processo de evolução na elaboração do relevo tabuliforme,


poder-se-á observar os principais elementos resultantes dessa evolução ilustrados
na figura a seguir. Atente principalmente para a formação de morro testemunho
e de cornija.

144
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

FIGURA 71 – MORFOLOGIA TABULIFORME EVIDENCIANDO OS PRINCIPAIS ELEMENTOS


RESULTANTES DA EVOLUÇÃO DAS ESTRUTURAS CONCORDANTES HORIZONTAIS

Comija
estrutural
Vale em
manjedoura Morro
testemunho
Superfície
exumada

Superfície
estrutural

Superfície
estrutural
Camada friável
Camada
resistente

Materialfriável

Pedimento
detrítico

FONTE: Casseti (2005)

No Brasil, por exemplo, o relevo tabular ocorre principalmente no sudoeste


do Estado de Goiás, na borda setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná. Não
podemos deixar de exemplificar a Chapada Diamantina, localizada no interior do
Estado da Bahia. Esta apresenta nitidamente formas tabulares. Observe a imagem
a seguir.

FIGURA 72 – CHAPADA DIAMANTINA

FONTE: Disponível em: <http://www.baixaki.com.br/imagens/wpapers/


BXK13133_115-1529_imgmorrodoinaciochapadadiamantina800.jpg>. Acesso
em: 28 jul. 2010.

145
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

3.2 RELEVO DO TIPO CUESTA


O termo cuesta é de origem mexicana e representa o que os franceses
denominam de côte e em Portugal foi traduzido por costeira. De acordo com o
Dicionário Geológico-Geomorfológico de Guerra e Guerra (1997, p. 178), cuesta
“é uma forma de relevo dissimétrico constituída por uma sucessão alternada das
camadas com diferentes resistências ao desgaste e que se inclinam numa direção,
formando um declive suave no reverso, e um corte abrupto ou íngreme na chamada
frente de cuesta”. Cabe destacar que é comum você encontrar também na literatura
geomorfológica a expressão front de cuesta, que é o mesmo que frente de cuesta.

O relevo de cuesta é predominante nas bacias sedimentares e nas velhas


plataformas, onde aparecem depressões em forma de fundo de canoa, nas quais
a colmatagem (trabalho de entulhamento ou de enchimento) sucessiva acarreta o
surgimento de camada inclinada.

Conforme Guerra e Guerra (1997), as condições necessárias para que ocorra


a existência de um relevo de cuesta são: a) existência de camadas inclinadas; b)
alternância de camadas de dureza diferenciada; c) ataque da erosão ocasionando
a exposição da frente da cuesta com a sua depressão subsequente. De modo geral,
o relevo de cuesta expressa o resultado do trabalho erosivo diferencial.

Como resultado deste trabalho erosivo ter-se-á os elementos que compõem


o relevo de cuesta. Vejamos, conforme Casseti (2005):

• Front → Corresponde à escarpa erosiva ou “costão’’, que se encontra entre


a depressão ortoclinal e a parte superior da cuesta, referente ao reverso.

• Reverso → Corresponde ao compartimento de cimeira da cuesta, que tem início


na parte terminal superior do front e progride em direção ao centro da bacia
sedimentar. Quando caracterizado pelas camadas litoestratigráficas, denomina-
se reverso estrutural; quando representado por sedimentos resultantes da
intemperização da rocha subjacente, denomina-se reverso escultural. Quando
pediplanado, pode ser denominado de “superfície de erosão”.

• Depressão ortoclinal → Refere-se à área embutida ou deprimida, a partir


do front da cuesta, resultante de processo de denudação comandado pela
drenagem ortoclinal (cursos subsequentes). No caso de cuestas relacionadas
a contato estrutural (cristalino-sedimentar), geralmente as depressões
encontram-se “abertas” em direção às rochas mais antigas, suporte das
sequências sedimentares, e deprimidas em direção ao front. Portanto,
geralmente, a depressão apresenta um comportamento dissimétrico, com
bordas internas íngremes, considerando o front como um dos lados, e
externas relativamente suavizadas, considerando o comportamento da
estrutura cristalina que foi exumada pelo processo denudacional.

146
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

Observe atentamente na figura (à esquerda) que segue os elementos que


caracterizam uma cuesta. Atente também para a figura (à direita) que ilustra o relevo
dissimétrico do tipo cuesta, característico das estruturas concordantes inclinadas.

FIGURA 73 – A FIGURA À ESQUERDA REPRESENTA OS ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM UMA


CUESTA. A FIGURA À DIREITA CORRESPONDE AO RELEVO DISSIMÉTRICO DO TIPO CUESTA,
CARACTERÍSTICO DAS ESTRUTURAS CONCORDANTES INCLINADAS
Morro testemunho
Percée Curso cataclinal
com somital Cuesta
Curso anaclinal
Cornija
Curso
Percées Curso cataclinal
Front Front ortoclinal
Reverso de reverso
Depressão
Talus Curso cataclinal
ortoclinal
Reverso

camada
Mergulho de Pedimento
suspenso
Curso anaclin Estrutura cristalina (paleopavi-
al
mento)

FONTE: Casseti (2005)

4 CARACTERÍSTICAS MORFOESTRUTURAIS NAS ÁREAS DE


DEFORMAÇÃO TECTÔNICA
No Tópico 2 da Unidade 1 você estudou sobre o papel dos processos
endógenos na formação do relevo. Agora, veremos alguns dos tipos de relevos
característicos em áreas de deformação tectônica.

4.1 RELEVO DO TIPO HOG-BACK


Hog-back é um “termo inglês usado para definir uma estrutura inclinada
semelhante à de uma cuesta, mas na qual o mergulho das camadas é geralmente
superior a 30º”. (GUERRA; GUERRA, 1997, p. 340). Considerando o declive
necessário à sua caracterização, torna-se possível entendê-los como vinculados a
fenômenos tectônicos, uma vez que dificilmente se constatam mergulhos em tais
proporções, associados unicamente aos processos de deposição. (CASSETI, 2005).

No Brasil, a Serra Dourada (GO), por exemplo, pode ser caracterizada


como relevo do tipo hog-back, justamente por apresentar semelhança evolutiva
com o relevo de cuestas. Observe-a.

147
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

FIGURA 74 – SERRA DOURADA (GO)

FONTE: Disponível em: <http://farm3.static.flickr.


com/2675/3721594053_60a2eaef09.jpg>. Acesso em: 27 jul. 2010.

4.2 DOMO
Segundo Casseti (2005), o relevo do tipo dômico corresponde a uma
estrutura circular resultante de atividade intrusiva (plutonismo ou fenômenos
magmáticos) que provocou arqueamento da paleomorfologia, com consequente
elaboração de abóbada topográfica. Os melhores exemplos são observados em
sequências sedimentares que passaram a ter as sequências litoestratigráficas
em conformação com a disposição do corpo intrusivo.

A dimensão de um domo varia segundo a proporção do corpo


intrusivo, que pode estar ou não concordante com as rochas encaixantes, ou
segundo planos de estratificação ou de xistosidade. O sill, o lacólito, o lopólito
e o facólito são exemplos de corpos intrusivos concordantes com as rochas
encaixantes, enquanto o dique, o neck, a apófise e o batólito são discordantes.
Esses corpos intrusivos são de origem tectônica, com material proveniente do
sima ou parte superior do manto, embora os domos salinos sejam entendidos
como resultantes de processos atectônicos.

A estrutura dômica, após efeitos erosivos, associados a processos


epirogênicos positivos, tende a proporcionar o desenvolvimento de uma
morfologia circular ou elíptica e/ou semelhante a uma meio esfera, dada a
resistência não só do corpo intrusivo, como também das rochas encaixantes que
foram submetidas a metamorfismo de contato. Atente para a ilustração que segue.

148
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

FIGURA 75 – INTRUSÃO LACOLÍTICA RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO DE UMA ES-


TRUTURA DÔMICA
Domo
Forte mergulho das camadas
e efeito de metamorfismo de
contato

Redução do mergulho
na periferiada
intrusão
Camada friável
Camada resistente

Intrusão concordante (lacolítica)

FONTE: Casseti (2005)

No Brasil, um exemplo típico de relevo dômico é o domo de Serra


Negra, no município de Patrocínio, em Minas Gerais. Este, abrange uma área de
aproximadamente 500 km².

4.3 ESTRUTURA APALACHIANA


O relevo do tipo apalachiano compreende uma série de dobras com
expressivo paralelismo entre as cristas e os vales. É importante destacar,
segundo Guerra e Guerra (1997), que as camadas deste tipo de relevo
são constituídas de rochas com dureza alternada. Não podemos deixar
de considerar que os rios antecedentes atravessam transversalmente a
estrutura regional.

FIGURA 76 – ASPECTOS GERAIS DO RELEVO DO TIPO APALACHIANO


Curso cataclinar Vale
superimposto superimposto (gep)
Vale
l)
ua

sinclinal
Vale
sid

Vale Crista
(re

Vale sinclinal
anaclinal anticlinal
ão

cataclinal
os
er

Crista
de

monoclinal
cie
rfí
pe
Su

a) Sucessão de cristas e
vales paralelos b) Características dos vales e cristais

Camada friável Camada resistente

FONTE: Casseti (2005)

149
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Segundo Casseti (2005), pode ser considerada um exemplo de relevo


apalachiano a sucessão de cristas e vales paralelos evidenciados no município
de Alvorada (TO), à margem esquerda do Rio Tocantins, nas proximidades da
confluência com o Rio Paraná.

4.4 RELEVO JURÁSSICO


Enquanto o relevo do tipo apalachiano corresponde a uma série de
dobras com expressivo paralelismo de cristas e vales, o relevo do tipo jurássico
é entendido como o resultado de inversão do relevo a partir de uma sucessão
regular de dobras.

O relevo jurássico (nomenclatura proveniente do Jura, região dobrada da


França) é o resultado da evolução morfológica de uma estrutura dobrada, onde
a intercalação de camadas de diversas resistências e as atividades morfogenéticas
em diferentes condições climáticas respondem pela inversão do relevo, ou seja,
as anticlinais são arrasadas, por corresponderem a material friável, enquanto as
sinclinais ficam alçadas, por serem individualizadas por rochas duras. (CASSETI,
2005). Se você observar na figura a seguir, perceberá essa inversão do relevo.

FIGURA 77 – INVERSÃO DO RELEVO, CARACTERIZANDO O RELEVO JURÁSSICO


Vale
sinclinal Anticlinal
Vale esvaziada
Sinclinal
anaclinal
suspensa
Vale
anticlinal

Camada resistente
Camada friáveis

FONTE: Casseti (2005)

A inversão morfoestrutural a leste da cidade de Niquelândia (GO) pode


ser considerado um exemplo de relevo do tipo jurássico. Isso porque o relevo é
caracterizado por sinclinais suspensas, revestidas por camadas do Grupo Paranoá
(Proterozoico Superior), enquanto a anticlinal arrasada é composta por sequência
do Grupo Araí (Proterozoico Médio). (CASSETI, 2005).

150
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

4.5 ESCARPAMENTO DE FALHA


O escarpamento de falhas corresponde a paredões de forma mais ou menos
abrupta, em função da idade da falha e do clima da região. “Os escarpamentos de
falhas, quando antigos, já se acham mais trabalhados pela erosão, que ocasiona
uma dissecação no espelho da antiga falha, produzindo assim um recuo e um
rebaixamento no degrau da falha”. (GUERRA; GUERRA, 1997, p. 242).

As ilustrações a seguir procuram representar o estágio evolutivo de um


relevo falhado. Observe-as.

FIGURA 78 – ESTÁGIO EVOLUTIVO DE UM RELEVO FALHADO


Escarpa de
falha
a Linha de falha
lh
fa
de lh
a
n ha fa
Li de
a
nh
Li

A) Erosão remontante em camadas B) Evolução do relevo falhado


tenras por cursos conformes
Escarpa de linha de falha

C) Inversão de relevo e drenagem por


rebaixamento total de antiga escarpa
e destaque da camada deprimida

FONTE: Casseti (2005)

Um dos indícios, para os geomorfólogos reconhecerem a existência de


uma falha responsável pela topografia, é o escarpamento com abruptos, como os
encontrados na Serra do Mar.

151
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

4.6 GRABEN OU FOSSA TECTÔNICA


No estudo do caderno de Geografia Física você pôde verificar que as
depressões estruturais ocasionadas por falhamentos são denominadas de graben
(blocos rebaixados) ou fossa tectônica. Estas depressões apresentam formas
alongadas, enquadradas por uma série de degraus originados por falhas paralelas.
Conforme Guerra e Guerra (1997), um exemplo clássico de fossa tectônica é o vale
do Rio Reno, que corre entre o maciço da Floresta Negra, na Alemanha, e a cadeia
dos Vosges, na França. No Brasil, podemos exemplificar os grabens do Recôncavo
Baiano (BA), o vale do Rio Paraíba do Sul (SP).

4.7 HORST OU MURALHA


Os horsts, ou também denominados de muralha ou ainda pilares,
correspondem às elevações estruturais alongadas salientes em relação ao relevo
contíguo. Este tipo de formação pode estar atrelado à elevação do terreno por falha
escalonada ou, ao contrário, pelo estabelecimento de uma fossa tectônica ou graben.

5 ESCUDOS ANTIGOS OU MACIÇOS CRISTALINOS


Você provavelmente já ouviu falar dos escudos antigos ou maciços
cristalinos (rochas cristalinas), que são imensos blocos de rochas antigas. Mas,
o que é um escudo? Segundo o Dicionário Geológico-geomorfológico de Guerra
e Guerra (1997, p. 244), escudo corresponde aos “primeiros núcleos de rochas
emersas que afloram desde o início da formação da crosta. A distribuição
geográfica dos principais escudos é a seguinte: Fino-Escandinavo; Siberiano;
Canadense; Sul-Africano; Guiano; Brasileiro e Patagônico”.

Estes escudos são constituídos por rochas cristalinas (magmático-


plutônicas), formadas em eras pré-cambrianas, ou por rochas metamórficas
(material sedimentar) do Paleozoico. São rochas resistentes, estáveis, porém bastante
desgastadas. No território brasileiro, os escudos cristalinos correspondem a 36% da
área total e dividem-se em duas grandes porções: o Escudo das Guianas (norte da
Planície Amazônica) e o Escudo Brasileiro (porção centro-oriental brasileira).

6 AS PRINCIPAIS FORMAS DE RELEVO TERRESTRE


No que tange ao relevo terrestre, podemos destacar quatro formas
fundamentais: as cadeias de montanhas, os planaltos, as depressões e as planícies.
Além de suas características estruturais, a gênese e o desgaste são importantes
elementos utilizados para diferenciar as principais formas de relevo.

152
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

As cadeias de montanhas, os planaltos e as depressões relativas são


constantemente erodidos pelos agentes exógenos, enquanto as planícies e as
depressões absolutas recebem sedimentos das áreas mais elevadas. Conheça
algumas características dessas principais formas de relevo.

6.1 CADEIAS DE MONTANHAS


As informações que seguem, as quais fazem alusão às formações
montanhosas, foram extraídas do Dicionário Geológico-Geomorfológico, de
Guerra e Guerra (1997, p. 436-437).

Montanha é uma grande elevação natural do terreno, com altitude


superior a 300 metros e constituída por um agrupamento de morros. A orogênese
é o ramo da geologia que estuda a origem e a formação das montanhas.

As montanhas podem ser classificadas segundo alguns critérios:

a) Quanto à origem: montanhas de dobras; montanhas de falhas; montanhas


vulcânicas e montanhas de erosão.

Esta classificação simplista, quanto à origem, tem apenas função didática


para a sistematização de um conhecimento muito mais complexo das formas que
aparecem na natureza. Os tipos, por exemplo, de montanha de dobra e de falha,
dificilmente podem ser separados na natureza, pois é comum o aparecimento
simultâneo de dobramentos e falhamentos, carreamento e, por vezes, até mesmo
o vulcanismo, por ocasião da manifestação das forças orogênicas.

Quanto às montanhas de erosão, restringem-se, mais especialmente,


a testemunhos e são de pequena extensão. Não se deve considerar as formas
resultantes do trabalho erosivo, pondo em destaque as estruturas produzidas
pelo tectonismo e pelo vulcanismo (montanhas de deslocamento e vulcânica), com
montanhas de erosão, pois aquelas têm grande extensão.

A montanha típica é uma grande elevação de terreno, que foi formada


por forças tectônicas, isto é, orogênese. Nas montanhas típicas encontra-se,
por conseguinte, uma série de dobras e falhas. Como exemplo, podemos
citar a Cordilheira dos Andes, que se estende por todo o oeste da América
do Sul. Esta cordilheira é bem diferente das chamadas “serras” brasileiras. A
Cordilheira dos Andes é uma típica cadeia orogênica jovem. Isto significa que
foi pouco trabalhada pelos agentes de desgaste ou erosivos, diferentemente
das serras brasileiras, cujo desgaste foi muito maior. No caso das chamadas
“serras” brasileiras, as elevações são, de modo geral, de baixa altitude e os
topos bastante regularizados pelo trabalho erosivo, principalmente pelas
águas das chuvas e também pelos rios. Além do mais, as serras brasileiras
não têm duas encostas tão nítidas, como acontece com a cadeia dos Andes,

153
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

ou com as Montanhas Rochosas, na América do Norte, ou com as outras


grandes cordilheiras da Europa (Alpes, Apeninos, Cárpatos e Pirineus);
Ásia (Himalaia); África (cadeia do Atlas) etc. No Brasil o que se observa é a
existência de grandes escarpamentos ou abruptos, como os da Serra do Mar ou
da Mantiqueira, com um topo de relevo mais ou menos ondulado. A vertente
oposta quase não existe, pois o planalto desce suavemente.

b) Quanto à idade: montanhas novas; montanhas velhas e montanhas


rejuvenescidas.

As montanhas novas são aquelas que têm formas aguçadas, cuja


origem ocorreu, de modo geral, na era terciária. Quanto às montanhas velhas,
são aquelas que já sofreram o trabalho de vários ciclos de erosão, tendo suas
formas e suas altitudes bastante suavizadas e rebaixadas. As montanhas
rejuvenescidas são aquelas que, depois de modeladas pela erosão, sofreram
nova movimentação orogenética, dando novamente formas aguçadas.

c) Quanto à altitude: no que concerne à altitude, as montanhas podem ser


classificadas de modo geral em duas categorias:

Montanhas baixas → são aquelas cujo relevo relativo apresenta


desnivelamentos que oscilam de 300 a 900 metros, medidos numa área de 100 km².

Montanhas altas → são aquelas que apresentam desnivelamentos


relativos superiores a 900 metros, medidos numa área de 100 km².

E
IMPORTANT

Cabe lembrar que as cadeias de montanhas constituem grandes elevações da


crosta terrestre, as quais apresentam um relevo mais acidentado, com encostas íngremes e
vales profundos, originadas pelos dobramentos modernos. As montanhas são formações mais
recentes, cujo processo erosivo não ocasionou modificações significativas nas suas formas.

154
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

As cordilheiras são geralmente compreendidas como grandes cadeias de


montanhas, e/ou um conjunto de montanhas, como, por exemplo, as já citadas
anteriormente, Cordilheira dos Andes (América do Sul), Montanhas Rochosas
(América do Norte), os Alpes (Europa), Atlas (África) e Himalaia (Ásia). Estas
são também denominadas de dobramentos modernos, pois se formaram na era
Cenozoica. Observe o mapa a seguir e procure identificá-las. Antes, observe a
formação correspondente às Montanhas Rochosas.

FIGURA 79 – MONTANHAS ROCHOSAS

FONTE: Disponível em: <http://geographicae.files.wordpress.com/2007/05/ro-


ckymountains.jpg>. Acesso em: 27 jul. 2010.

155
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA
FIGURA 80 – ATLAS GEOGRÁFICO ESCOLAR. Rio de Janeiro:IBGE, 2002.

FONTE: Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

156
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

6.2 PLANALTOS
São relevos geralmente aplainados, situados em altitudes variáveis.
Também podem ser chamados de platôs. Destacam-se em relação às áreas
circundantes. As bordas dos planaltos são irregulares e apresentam saliências e
reentrâncias resultantes da ação dos agentes erosivos (ação da água e do vento).
Em virtude destes agentes, os planaltos correspondem às formações mais antigas
do relevo terrestre. Podemos citar como exemplo o Planalto Central no Brasil,
localizado em território dos Estados de Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul.

É importante destacar que os planaltos, de acordo com a composição das


rochas dos quais são formados, podem ser classificados em planaltos cristalinos,
planaltos sedimentares e planaltos basálticos. Vejamos algumas características
de cada um deles.

Planaltos cristalinos → podemos dizer que os planaltos cristalinos são


considerados “restos” de antigas montanhas que foram desgastadas pelos agentes
erosivos. São constituídos de rochas cristalinas ígneas intrusivas e também
metamórficas. Um exemplo desse tipo de formação é o planalto de Campos do
Jordão, em São Paulo, e o de Borborema, no Nordeste.

Planaltos sedimentares → foram originados de áreas de rochas


sedimentares, que foram soerguidas por movimentos internos da crosta. O
planalto do Maranhão-Piauí, no Nordeste, é um exemplo de planalto sedimentar.

Planaltos basálticos → são constituídos de rochas ígneas extrusivas ou


vulcânicas. Para você ter uma ideia, o território brasileiro apresenta grandes extensões
de planaltos basálticos, a exemplo do planalto meridional, no Sul do Brasil.

O esquema a seguir ilustra planaltos constituídos de camadas sedimentares


ou de rochas cristalinas, os quais possuem superfície plana ou suavemente
movimentada. Trata-se, em qualquer circunstância, de área mais elevada que as
circunvizinhas e delimitada por declives.

157
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

FIGURA 81 – ESQUEMA DE FORMAÇÃO DE PLANALTOS

Camadas sedimentares

Rochas cristalinas

FONTE: CRISTOFOLETTI, A. Análise Ambiental. São Paulo: Nacional, [s.d.].

E
IMPORTANT

Dependendo da composição das rochas, os planaltos podem assumir diferentes


formas, como, por exemplo, escarpas, chapadas e cânions.

6.3 PLANÍCIES
São áreas relativamente planas, geralmente extensas, e são formadas pela
deposição dos sedimentos. De acordo com o Dicionário Geológico-geomorfológico,
existem também planícies que podem estar a mais de 1.000 metros de altitude.
São as chamadas planícies de nível de base local, ou planícies de montanhas.

As planícies são comumente drenadas por rios de escoamento lento e que


descrevem cursos sinuosos (meandros). O “exame” de uma planície, do ponto de
vista geológico, em sua parte superficial, revela a presença de rochas sedimentares
relativamente recentes, na posição horizontal ou sub-horizontal. (GUERRA;
GUERRA, 1997). Tomamos como exemplo as planícies brasileiras: Planície
Litorânea, Planície Amazônica e Planície do Pantanal. Esta última é uma planície
inundável de formação recente, cuja altitude média é de aproximadamente 110
metros. Observe-a.

158
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

FIGURA 82 – PLANÍCIE DO PANTANAL

FONTE: Disponível em: <http://www.riobranco.org.br/arquivos/sites2008/6_agos-


to/grupo8/Orc/Imagens/Pantanal%20mato%20grossense%202.jpg>. Acesso em:
20 jul. 2010.

As planícies podem ser classificadas, quanto à situação, em: planícies


marítimas e/ou costeiras, continentais e lacustres. Em geral, as planícies ficam ao
lado e abaixo dos planaltos e das montanhas, que são áreas onde há o predomínio
da erosão. Podem estar associadas a várias origens, tais como: vales fluviais,
sedimentos trazidos pelos ventos, geleiras, dentre outros.

Na figura a seguir você pode perceber que, delimitadas por declives, as


planícies encontram-se em posições mais baixas que as áreas circunvizinhas.
Assim, recebem os sedimentos oriundos das partes mais altas. Observe-a.

FIGURA 83 – ILUSTRAÇÃO DE UMA PLANÍCIE

FONTE: CRISTOFOLETTI, A. Análise Ambiental. São Paulo, Nacional, [s.d.].

159
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

6.4 DEPRESSÕES
São áreas rebaixadas em relação aos relevos circundantes. As depressões
situadas abaixo do nível do mar são chamadas de depressões absolutas, a
exemplo do Mar Morto, na Ásia, localizado a 396 metros abaixo do nível do mar.
As depressões situadas abaixo das áreas que as circundam e acima do nível do
mar são denominadas de depressões relativas.

As depressões podem ter dimensões, formas e origens bem variadas.


Pode-se, por exemplo, chamar um vale de depressão longitudinal em relação ao
relevo circundante. Outro exemplo é uma fossa tectônica.

Segundo Guerra e Guerra (1997), do ponto de vista geomorfológico é


importante destacar também as depressões das frentes de cuestas, depressões
subsequentes e as depressões de circundesnudação periférica, que é a zona
deprimida entre o maciço das rochas cristalinas ou cristofolianas e a estrutura
sedimentar inclinada da cuesta, como, por exemplo, a depressão periférica paulista.

Vejamos a classificação de depressões, quanto à sua origem, do professor


José A. P. Domingues (apud GUERRA; GUERRA, 1997).

Depressões originadas por simples deslocamentos locais de terreno:

a) Devido à larga deformação de natureza sinclinal, podendo nelas formar-se


outras depressões. Ex: Mar Cáspio, Mar Aral.

b) Abaixamento de um fragmento da crosta terrestre devido a um sistema de


fraturas. Ex.: série dos grandes lagos africanos.

c) Depressões devidas a um bombeamento.

d) Por falhas no caso de um deslocamento horizontal.

Depressões formadas por remoção do material da superfície:

a) Por escavamento ao longo de uma calha fluvial.

b) Por dissolução da rocha, podendo essa dissolução ser superficial ou subterrânea.


Pode haver mesmo a formação de depressão devido a um desabamento após
a dissolução do terreno subjacente. Formação de “panelas” de decomposição
e cacimbas.

c) Depressão subsequente e de circundesnudação periférica.

d) Devido a ações periglaciárias ou glaciárias.

160
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

Depressões formadas por barragens:

a) Barragem devido a um desmoronamento.

b) Barragem de um rio por material trazido por um afluente, formando-se um


cone de dejeção sobre o rio principal.

c) Barragem devido ao abandono de meandros.

d) Barragens formadas por ações periglaciárias ou glaciárias.

e) Barragens formadas por um derrame de lavas.

f) Autobarragem por cursos d’água.

g) Barragens formadas por ações dos animais (castores).

h) Barragens de um vale por dunas.

i) Barragens por um dique marginal.

Casos especiais:

a) Depressões das crateras vulcânicas.

b) Depressão causada por queda de meteoritos.

c) Depressão formada devido à topografia plana e à ação conjunta de vários


outros fatores.

d) Ação humana.

Na ilustração a seguir você consegue distinguir claramente a ocorrência


de uma depressão absoluta e uma depressão relativa.

161
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

FIGURA 84 – ILUSTRAÇÃO DE UMA PLANÍCIE


depressão relativa depressão absoluta

nível do mar continente

FONTE: CRISTOFOLETTI, A. Análise Ambiental. São Paulo, Nacional, [s.d.].

Vejamos na figura a seguir o perfil das principais formas do relevo


terrestre. Observe as formas de planície, planalto, depressão absoluta, montanha
e depressão relativa.

FIGURA 85 – PRINCIPAIS FORMAS DE RELEVO TERRESTRE


Montanha
Depressão
Planalto Depressão relativa
absoluta

Planície

Nível do mar

FONTE: Almeida e Rigolin (2005)

É importante ressaltar que, associadas às principais formas de relevo


terrestre, encontraremos outras formas, a exemplo das serras, chapadas, morros,
colinas, espigão, dentre outras.

162
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

DICAS

Para aprofundar seu conhecimento sobre as várias características do relevo,


acesse o site <http://www.funape.org.br/geomorfologia/cap1/index.php>.

7 A COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO SUBMARINO


No caderno de Geografia Física você estudou que a crosta da Terra está
dividida em crosta continental e crosta oceânica. Estima-se que a área da crosta
terrestre recoberta pelos oceanos representa aproximadamente 70% da superfície
total, sendo que o Oceano Pacífico constitui o maior corpo aquoso, com uma área
de cerca de 180 milhões de Km², ou seja, 53% da área oceânica. A profundidade
média dos oceanos é de aproximadamente 3.870 metros, sendo que as maiores
profundidades estão localizadas no Challenger Deep (11.037), nas Fossas Marianas,
no Oceano Pacífico. Este, em relação aos demais oceanos, é o que possui maior
profundidade média (4.282), com cerca de 87% de seus fundos localizados a
profundidades superiores a 3.000 metros. (TESSLER; MAHIQUES, 2009).

De acordo com a profundidade, o relevo submarino, e/ou também


denominado relevo batimétrico, pode ser classificado em várias formas, com
características próprias. A saber.

7.1 PLATAFORMA CONTINENTAL


As plataformas continentais correspondem às extensões submersas dos
continentes, apresentando pequena declividade rumo ao alto-mar. Segundo
Tessler e Mahiques (2009, p. 378), as plataformas continentais “são contíguas e
largas em margens do tipo Atlântico, onde estão presentes como margens passivas,
a exemplo do encontrado no sudeste brasileiro, cuja plataforma continental pode
apresentar largura de 160 km”. De acordo com o mesmo autor, as plataformas
continentais do tipo Pacífico, localizadas em margens tectonicamente ativas,
possuem larguras menores e são ladeadas por fossas submarinas, como é
observado nas plataformas continentais do Peru e Chile.

Em média, as plataformas continentais atingem uma profundidade de


200 metros a partir do nível do mar. É importante destacar que as plataformas
continentais são de natureza essencialmente sedimentar.

163
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

7.2 TALUDE CONTINENTAL


O talude continental constitui uma unidade de relevo, também de
construção sedimentar, que se inclina acentuadamente rumo aos fundos
oceânicos, cuja profundidade é da ordem de aproximadamente 3.000 metros. Este
tipo de relevo não é homogêneo, ocorrendo quebras de declividade e também,
frequentemente, cânions e vales submersos. Os cânions submarinos são vales
profundos, erodidos sobre a plataforma continental externa e o talude continental,
atingindo, por vezes, a elevação continental. Na base dos taludes continentais,
predominantemente em margens do tipo Atlântico, pode ocorrer uma unidade de
relevo irregular e individualizada, sendo construída por sequências sedimentares,
diretamente associadas aos processos de transporte e deposição de sedimentos
que moldam as plataformas e taludes continentais, conhecida como Elevação ou
Sopé Continental. (TESSLER; MAHIQUES, 2009). Esta se estende entre 3.000 e
5.000 metros, apresentando declividades intermediárias entre as observadas nas
plataformas e os taludes continentais.

7.3 REGIÃO E/OU PLANÍCIE ABISSAL


As regiões e/ou planícies abissais são áreas extensas e profundas, de
relevo relativamente plano, estendendo-se da base das elevações continentais
até os relevos íngremes e abruptos das cordilheiras oceânicas, cuja profundidade
é superior a 5.000 metros. Esses compartimentos, que constituem as maiores
extensões territoriais dos relevos do fundo de todos os atuais oceanos, são
localmente interrompidos pela presença de uma série de montes submarinos, ou
montanhas asubmarinas, que correspondem às elevações isoladas; podem atingir
mais de 1.000 metros de altura. A parte emersa das irregularidades do relevo das
planícies abissais constitui as ilhas oceânicas.

7.4 OUTRAS FORMAS DO RELEVO BATIMÉTRICO


Além das formas do relevo submarino mencionadas anteriormente,
não podemos deixar de destacar as fossas submarinas, as dorsais oceânicas,
os montes marinho, guyots, as ilhas vulcânicas e as bacias oceânicas. Vejamos,
simplificadamente, cada uma dessas formas.

Fossas submarinas → constituem depressões alongadas e estreitas, com


laterais de altas declividades. A fossa submarina é uma importante feição presente
nas zonas de subducção de placas litosféricas (se necessário, retome o estudo do
caderno de Geografia Física).

Dorsais oceânicas → são grandes cadeias de montanhas que existem


no fundo dos oceanos (se necessário, retome o estudo do caderno de Geografia
Física). Seus picos podem aparecer em forma de ilhas, como o arquipélago dos
Açores, no Oceano Atlântico.

164
TÓPICO 3 | COMPARTIMENTAÇÃO DO RELEVO

Montes marinhos → são montanhas submersas cujos picos não afloram


à superfície.

Guyots → são antigas ilhas cujos topos foram abaixados pela erosão e
estão submersos.

Ilhas vulcânicas → são topos de vulcões submarinos que alcançam


a superfície, formando ilhas ou arco de ilhas (retome o estudo do caderno de
Geografia Física).

Bacias oceânicas → correspondem ao leito dos oceanos, excluindo as


cordilheiras e as fossas.

A figura a seguir ilustra algumas das formas de relevo submarino


mencionadas. Observe-as.

FIGURA 86 – FORMAS DO RELEVO SUBMARINO


Plataforma Montes
Continente Arco de ilhas
continental marinhos

Talude Região
continental pelágica
Ilha
Guyots Dorsal Vulcânica

Planície abissal

FONTE: Almeida e Rigolin (2005)

ATENCAO

O nível do mar marca o limite entre o relevo continental e o relevo submarino. O


zero é utilizado para determinar as medidas de altitude e profundidade. O relevo continental,
com altitudes acima do nível do mar (exceção das depressões absolutas), é chamado de
relevo hipsométrico. Já o relevo submarino é denominado relevo batimétrico.

165
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você estudou que:

• As bacias sedimentares são depressões preenchidas com detritos carregados


das áreas circundantes.

• O relevo tabuliforme é caracterizado por uma sequência de camadas


sedimentares horizontais ou sub-horizontais, associadas ou não a derrames
basálticos intercalados.

• Cuesta é uma forma de relevo dissimétrico constituída por uma sucessão


alternada das camadas com diferentes resistências ao desgaste e que se inclinam
numa direção, formando um declive suave no reverso, e um corte abrupto ou
íngreme na chamada frente de cuesta.

• Hog-back corresponde a uma estrutura inclinada semelhante à de uma cuesta,


mas na qual o mergulho das camadas é geralmente superior a 30º.

• O relevo do tipo dômico corresponde a uma estrutura circular resultante de


atividade intrusiva que provocou arqueamento da paleomorfologia, com
consequente elaboração de abóbada topográfica.

• O relevo do tipo apalachiano compreende uma série de dobras com expressivo


paralelismo entre as cristas e os vales.

• O relevo jurássico é o resultado da evolução morfológica de uma estrutura


dobrada, onde a intercalação de camadas de diversas resistências e as atividades
morfogenéticas em diferentes condições climáticas respondem pela inversão
do relevo.

• O escarpamento de falhas corresponde a paredões de forma mais ou menos


abrupta, em função da idade da falha e do clima da região.

• As depressões estruturais ocasionadas por falhamentos são denominadas de


graben (blocos rebaixados) ou fossa tectônica.

• Os horsts, ou também denominados de muralha ou ainda pilares, correspondem


às elevações estruturais alongadas salientes em relação ao relevo contíguo.

166
• Os escudos antigos ou maciços cristalinos são imensos blocos de rochas antigas.

• As principais formas de relevo são: as cadeias de montanhas, os planaltos, as


depressões e as planícies.

• O relevo submarino pode ser classificado em varias formas tais como: as


plataformas continentais; o talude continental; as regiões e/ou planícies abissais;
as fossas submarinas; as dorsais oceânicas; os montes marinhos; os guyots; as
ilhas vulcânicas; e as bacias oceânicas.

167
AUTOATIVIDADE

1 O relevo pode ser caracterizado por superfícies diferenciadas. A partir desta


diferenciação, relacione os tipos de relevo destacados, com suas respectivas
características:

1. Bacia sedimentar.
2. Relevo tabuliforme.
3. Cuesta.
4. Hog-back.
5. Domo.
6. Apalachiano.
7. Escarpamento de falhas.

( ) É caracterizado por uma sequência de camadas sedimentares horizontais


ou sub-horizontais, associadas ou não a derrames basálticos intercalados.
( ) Define uma estrutura inclinada, cujo mergulho das camadas é geralmente
superior a 30º.
( ) Compreende uma série de dobras com expressivo paralelismo entre as
cristas e os vales.
( ) É uma depressão preenchida com detritos carregados das áreas
circundantes.
( ) É uma forma de relevo dissimétrico constituída por uma sucessão
alternada das camadas com diferentes resistências ao desgaste e que se
inclinam numa direção, formando um declive suave no reverso, e um
corte abrupto ou íngreme.
( ) Corresponde a uma estrutura circular resultante de atividade intrusiva
que provocou arqueamento da paleomorfologia, com consequente
elaboração de abóbada topográfica.
( ) Corresponde a paredões de forma mais ou menos abrupta, em função da
idade da falha e do clima da região.

A sequência CORRETA é:

a) 7 – 5 – 3 – 1 – 6 – 4 – 2.
b) 2 – 4 – 6 – 1 – 3 – 5 – 7.
c) 4 – 3 – 2 – 1 – 6 – 5 – 7.
d) 1 – 5 – 3 – 2 – 7 – 4 – 6.

2 No que tange ao relevo terrestre, podemos destacar quatro formas


fundamentais: as cadeias de montanhas, os planaltos, as depressões e as
planícies. Acerca destas formas do relevo, coloque V para as afirmativas
verdadeiras e F para as falsas e em seguida assinale a sequência CORRETA:

168
( ) A Cordilheira dos Andes é considerada uma típica cadeia orogênica jovem.
( ) Os planaltos correspondem às formações mais antigas do relevo terrestre.
( ) As planícies correspondem às áreas relativamente planas, geralmente
extensas, e são formadas pela deposição dos sedimentos.
( ) As chamadas planícies de base local, ou planícies de montanhas, podem
estar a mais de 1.000 metros de altitude.
( ) As depressões situadas abaixo do nível do mar são chamadas de
depressões absolutas, a exemplo do Mar Morto, na Ásia, localizado a 396
metros abaixo do nível do mar.

a) V – F – V – F – V.
b) F – V – V – V – V.
c) V – V – V - V – V.
d) F – F – F – V – V.

3 Você pôde verificar que o relevo submarino, e/ou também


denominado relevo batimétrico, pode ser classificado em
várias formas, com características próprias. A partir deste
estudo, analise as afirmativas a seguir:

I- Estima-se que a área da crosta terrestre recoberta pelos oceanos representa


aproximadamente 70% da superfície total.
II- As plataformas continentais correspondem às extensões submersas dos
continentes, apresentando pequena declividade rumo ao alto-mar.
III- Os cânions submarinos são vales profundos, erodidos sobre a plataforma
continental externa e o talude continental, atingindo, por vezes, a elevação
continental.
IV- A fossa submarina é uma importante feição presente nas zonas de
subducção de placas litosféricas.
V- As regiões e/ou planícies abissais constituem as maiores extensões
territoriais dos relevos do fundo de todos os atuais oceanos.

a) Estão corretas somente as afirmativas I, II e III.


b) Estão corretas somente as afirmativas III, IV e V.
c) Estão corretas somente as afirmativas II e IV.
d) Todas as afirmativas estão corretas.

4 Diante do que foi exposto neste tópico, como você descreveria o relevo onde
você reside? Observe atentamente o relevo à sua volta e tente descrevê-lo. Você
poderá também fotografá-lo e levar as imagens para socializar com a turma.

169
170
UNIDADE 2
TÓPICO 4

A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

1 INTRODUÇÃO
A Geografia é uma ciência fascinante, pois proporciona a compreensão
da formação do planeta Terra com as atuais características de clima, posição dos
continentes e oceanos, formação dos grandes ecossistemas, formação do relevo;
isto, apenas para falar dos aspectos físicos, ou o que chamamos de Geografia Física.

Um leigo, ao olhar a superfície terrestre, vê apenas planícies, depressões,


morros, montanhas, rios, lagos etc.; ou seja, não compreende a origem, o tempo
geológico necessário, bem como os fatores que influenciaram na formação dos
cenários mais belos da Terra, as paisagens mais deslumbrantes.

Neste tópico, ao abordarmos a Geomorfologia Brasileira, mencionaremos


os principais pesquisadores que deram início à compreensão do relevo brasileiro
e suas contribuições científicas para o estudo desta ciência.

Conheceremos os diferentes tipos de relevo que formam o território brasileiro,


sua classificação, segundo os estudiosos, e a razão pela qual as altitudes no Brasil são
modestas, ou seja, 85% do território encontra-se na altitude de 0 a 600 metros.

Outro aspecto que chama a atenção no relevo brasileiro é o fato de não


existir vulcões em atividade ou adormecidos, tampouco existem terremotos de
grandes proporções, e, quando ocorrem, são tremores de baixa intensidade,
provocados pela acomodação de pequenas falhas geológicas.

Diferente de outros países considerados continentais, como Rússia,


Canadá, China, EUA, que também possuem grandes territórios - entretanto, boa
parte destes é ocupada por áreas inabitáveis, como: desertos, geleiras eternas,
áreas de instabilidade geológica, grandes cordilheiras etc -, o território brasileiro,
ao contrário, é quase totalmente habitável e ainda leva a vantagem de possuir
a maior floresta equatorial. Divide com os demais países da América do Sul as
duas maiores bacias hidrográficas do planeta, além de possuir solos férteis, o que
favorece atividades como agricultura e pecuária.

A desvantagem de possuir tanto território habitável, com essa enormidade


de recursos naturais disponíveis, é que não há uma barreira natural que impeça
a destruição de ecossistemas frágeis como o Pantanal, a Floresta Amazônica, a
Mata Atlântica, o Cerrado, apenas para citar os mais importantes.

171
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Enfim, o estudo da Geografia é sempre uma fascinante viagem a alguma


parte deste lindo planeta que é a Terra. Neste tópico vamos viajar pelo relevo
brasileiro e descobrir a gênese e evolução de suas formas.

2 A ESTRUTURAÇÃO DA GEOMORFOLOGIA NO BRASIL

2.1 AS BASES CONCEITUAIS DA GEOMORFOLOGIA


BRASILEIRA
A Geomorfologia surgiu a partir do estudo de geólogos e geógrafos que
procuraram compreender a formação do relevo terrestre.

No Brasil não foi diferente, entretanto, nas últimas décadas os mais renomados
geomorfólogos em nosso país tiveram origem na Geografia, como são os casos de
Aziz Nacib Ab’Saber; João José Bigarela; Antônio Christofoletti, entre outros.

Apesar do estudo da geomorfologia ter avançado muito nas últimas cinco


décadas, a valorização dos conhecimentos geomorfológicos só ganhou importância
com o aumento da relevância das questões ambientais, principalmente no que diz
respeito à análise ambiental.

Segundo Marques (2009 p. 37),

Ab’Saber (1958) define a época que se segue a 1940 como sendo a de


implantação de “técnicas modernas”, colocando a publicação do trabalho
de Emmanuel de Martonne (1940), relativo aos problemas morfológicos
do Brasil tropical atlântico, como marco inicial. A partir desse momento, a
geomorfologia brasileira começa a ter maior participação de geógrafos. A
criação do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1937, do
qual fazia parte o Conselho Nacional de Geografia (CNG), e a expansão das
faculdades de Filosofia, tiveram grande influência nesse sentido. Marcava-se
também, uma forte influência das escolas alemã, francesa e norte-americana.

Maior volume de trabalhos específicos de Geomorfologia aparece,


marcando o início desse período: Guimarães (1943) e Azevedo (1949), reunindo e
sintetizando os conhecimentos sobre o relevo brasileiro; Lamego (1945), estudando
as lagoas costeiras do Estado do Rio de Janeiro; Maak (1947), trabalhando com a
Geologia do Paraná, com observações relativas às ações climáticas do passado;
Ruellan (1953), tratando das relações do escoamento pluvial com o modelado do
relevo tropical; King (1956), abordando a Geomorfologia do Brasil oriental; Tricart
(1959), estabelecendo uma divisão morfoclimática para o Brasil atlântico central.

172
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

A realização do XVIII Congresso Internacional de Geografia da UGI, no


Rio de Janeiro, em 1956, foi um marco importante, pelo contato estabelecido
com a produção internacional, de onde emanavam novas concepções teóricas
e práticas que estimularam o desenvolvimento de muitas pesquisas no país.

Nessa época, a forte influência que existia das concepções de William


Morris Davis (1850-1934 - geógrafo norte-americano, despontou como o
principal nome a ser lembrado na história da Geomorfologia.) vai dando lugar
às abordagens que destacam a importância da geomorfologia climática. As
obras de Ab’Saber e Bigarella constituíram volumosas e preciosas contribuições
nessa direção.

No final dos anos 60 ao início dos anos 70, abriram-se novos cenários
para a Geomorfologia brasileira. Começam a ser incorporados os conceitos
oriundos da Teoria Geral de Sistemas e, com eles, a aplicação das ideias relativas
ao equilíbrio dinâmico. Elaborador e divulgador de vários trabalhos nessa
linha, Antônio Christofoletti lança, em 1974, o livro intitulado Geomorfologia,
voltado para o ensino, o qual incorpora e divulga a perspectiva sistêmica. Esse
livro, ainda hoje, é um dos poucos produzidos em português que atende a
objetivos didáticos.

Também em 1974 é lançado o livro de Margarida Penteado, sob o


título Fundamentos de Geomorfologia, destinado ao ensino, contendo exemplos e
referências do que estava sendo produzido no país.

O projeto Radar da Amazônia (RADAM), posteriormente expandido


para todo o país como projeto RADAMBRASIL, foi, sem dúvida, em nível
mundial, um dos maiores já realizados de levantamento de recursos naturais
que incluía os temas Geologia, Geomorfologia, solos, vegetação e uso potencial
do solo. Durante mais de uma década, a partir de um primeiro, em 1973,
foram sendo publicados novos volumes, contendo relatórios e documentação
cartográfica (mapas temáticos), recobrindo todo o país, perfazendo, hoje, cerca
de 40 volumes, cujas edições estão sob a responsabilidade do IBGE.

A partir da década de 1970, a geomorfologia passou a contar com uma


importante ferramenta, já disponível em países desenvolvidos, ou seja, as imagens
de satélites, que passaram a ser geradas com a criação do Instituto de Pesquisas
Espaciais (INPE), disponibilizando imagens para usuários não vinculados a
órgãos governamentais.

Originados de profissionais ligados à Geografia ou à Geologia, os


conhecimentos geomorfológicos são fundamentais para atender a várias áreas de
interesse da sociedade, tais como: análise ambiental; ocupação do território para
expansão de cidades; construção de rodovias; portos; enfim, existe uma infinidades
de aplicações para as informações geradas pelos estudos da geomorfologia que
podem favorecer o equilíbrio nas relações entre o homem, a sociedade e a natureza.

173
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Cabe destacar que a solução de problemas ambientais, gerados pela ocupação


irregular de encostas, por exemplo, exige cada vez mais a atuação de profissionais de
várias áreas, para se ter um olhar multidisciplinar ou uma visão sistêmica.

Portanto, deslizamentos de encostas provocados pelo excesso de chuvas,


como os que aconteceram em Blumenau/SC (2008); Angra dos Reis/RJ (2009/2010)
e Rio de Janeiro/RJ (2010), poderiam ter sido evitados caso profissionais das áreas
de Geologia, Geografia e Geomorfologia tivessem atuado sob a coordenavção e
financiamento do poder público, para apontar as áreas de risco, recomendando a
desocupação ou a não ocupação, no caso de ser área destinada à expansão urbana.

NOTA

Caro(a) acadêmico(a), embora a Geomorfologia esteja muito ligada à Geografia,


uma vez que em muitos países ela surgiu através do estudo de geógrafos, esta é uma área de
estudo também para geólogos, engenheiros ambientais, engenheiros florestais, agrônomos
e todas as profissões que necessitam do conhecimento das formas de relevo, processos
erosivos, qualidade de solo, comportamento da crosta terrestre, entre outros.

2.2 GEOMORFOLOGIA NO CONTEXTO DA GEOGRAFIA


BRASILEIRA
Aziz Nacib Ab’Saber é reconhecidamente a maior autoridade no
conhecimento da Geomorfologia brasileira e do estudo desta ciência dentro do
contexto da Geografia. Transcrevemos a seguir trechos de um artigo intitulado:

“A História da Geomorfologia no Brasil: a contribuição de Aziz Nacib


Ab’Saber”, de autoria de Rafaela Soares Nelmann (2010):

1. Introdução

Nos últimos anos, a literatura internacional relacionada à Geomorfologia


vem registrando um intenso debate sobre os caminhos da Geomorfologia e da
Geografia Física. Assim, por exemplo, Rhoads e Thorn (2002) registraram a
necessidade de se realizar um balanço crítico sobre a história e a epistemologia
da Geomorfologia, uma vez que a mesma apresenta problemas filosóficos e
metodológicos que precisam ser equacionados urgentemente, pois a cada dia
a Geomorfologia está sendo impregnada pela questão cultural e política.

174
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Para Gregory (2000), a Geomorfologia geográfica está descaracterizada


na Geografia Física, pois a maior produção de Geomorfologia está acontecendo
nas ciências naturais e multidisciplinares. E esse atraso, segundo Gregory (2000,
2001), ocorre em função do forte impacto do pragmatismo na Geomorfologia,
sendo que não há razão para não refletirmos sobre os conceitos e as práticas da
Geografia Física e em particular pela Geomorfologia. O que podemos verificar
é que, atualmente, o cenário internacional referente à produção da Geografia
Física e em especial à produção da Geomorfologia vem merecendo um amplo
debate sobre a situação da Geomorfologia na Geografia e suas relações com
as ciências humanas e naturais. O que fica evidente é a enorme necessidade
de se realizar estudos sobre a constituição histórica e epistemológica da
Geomorfologia, o que irá auxiliar na redefinição dos cursos de Geografia e no
próprio sentido de se fazer Geomorfologia no contexto da Ciência Geográfica.

É neste contexto que o presente trabalho pretende apresentar algumas


considerações sobre a produção epistemológica de Aziz Nacib Ab’Saber,
geógrafo responsável pela formação da Geomorfologia Geográfica no Brasil.
O presente trabalho, como parte de nossa bolsa de Iniciação Científica (PIBIC/
CNPq/UNICAMP), fundamentou-se no trabalho de Vitte (2008), que realizou
ampla pesquisa sobre a história da Geomorfologia no Brasil.

2. A contribuição de Aziz Nacib Ab’Saber para a formação da geomorfologia


geográfica no Brasil

Segundo VITTE (2008), a Geomorfologia no Brasil desenvolve-se a


partir da influência de Emanuel de Martonne e de Pierre Monbeig, (Abreu,1994)
que acabou favorecendo o desenvolvimento de uma perspectiva metodológica
firme para a Geografia. Para Monbeig, a análise geográfica deveria produzir
monografias regionais, em que a delimitação regional era dada a partir da
relação entre o natural e o social.

Historicamente, este momento coincide com a expansão cafeeira no


sudeste do Brasil, particularmente São Paulo, o processo de industrialização e
urbanização de São Paulo e a mudança na órbita regional, particularmente entre
o nordeste e o sudeste (Oliveira, 1981; Cano, 1990). Ou seja, a Geomorfologia
na USP e na antiga Universidade do Brasil desenvolveu-se a partir de uma
leitura secundária do ciclo davisiano e particularmente na USP, com forte
influência do método monbeiguiano, em que também a noção de história e
ocupação era importante para delimitar uma região/compartimento.

Em 1958, Ab’Saber chamava a atenção para a enorme produção da


Geomorfologia brasileira, fruto da expansão dos cursos de Geografia no Brasil
e da interiorização do desenvolvimento econômico do país.

175
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

A partir da década de 1950, a Geomorfologia brasileira passará por uma


grande ruptura paradigmática, com o surgimento da Teoria da Pediplanação,
e, associada a grandes transformações no interior da Geologia, particularmente
no que tange à sedimentologia e à estratigrafia, além do surgimento de novas
técnicas de representação e de aquisição de informações, ocorrerá uma ruptura
paradigmática na Geomorfologia brasileira. (VITTE, 2008).

A década de 1950, sob o ponto de vista político e econômico, é marcada


no plano mundial pela intensificação da “Guerra Fria” e pela Revolução
Chinesa. No Brasil é a fase de Juscelino Kubstcheck de Oliveira (JK) e pela
implantação das ideias nacional-desenvolvimentistas, com a construção de
Brasília, a indústria automobilística e a abertura de rodovias.

Para as Ciências da Terra, a década de 1950 é declarada a década


dos oceanos, em que pesquisadores das Ciências da Terra procuram, por
meio do estudo dos sedimentos do fundo oceânico, desvendar os processos
continentais. É o momento em que os conhecimentos da sedimentologia e da
estratigrafia passam a auxiliar os estudos geomorfológicos. Some-se a este fato
a descoberta das variações climáticas da Terra e a possibilidade de associar
as evidências destas variações com os sedimentos continentais e, a partir daí,
estabelecer uma idade para as formas de relevo. Ainda dos anos 50, temos o
uso, ainda que tímido, das fotografias aéreas para as pesquisas geográficas
e geomorfológicas, possibilitando uma visão tridimensional das formas
e de suas associações em escalas, que associadas aos trabalhos de campo
permitiriam construir hipóteses mais condizentes para explicar os fenômenos
geomorfológicos em ambiente intertropical. (VITTE, 2008).

É neste contexto cultural que a comunidade brasileira de geomorfólogos


entrará em contato com a Teoria da Pediplanação elaborada pelo geólogo sul-
africano Lester King (1956), que, segundo ABREU (1982), surgirá a partir da
influência do congresso de Chicago de 1936, que foi dedicado à obra de Walter
Penck.

O início dos anos 50 até aproximadamente 1957 é marcado por um


processo de transformação nas pesquisas geomorfológicas, não propriamente
uma ruptura, mas uma fase de transição devido a obstáculos epistemológicos
(BACHELARD, 1992), como, por exemplo, os trabalhos de geologia que
estavam mais avançados no conhecimento empírico da realidade brasileira que
os de Geomorfologia, que, guiados por um modelo anacrônico e incompatível
com a realidade tropical brasileira, acabavam por não propiciar avanços
significativos sobre a gênese do relevo brasileiro.

Durante os primeiros sete anos da década de 50, intensos estudos regionais


e com preocupações genéticas serão desenvolvidos por Fernando Flávio Marques
de Almeida e Aziz Ab’Saber. Trabalhos esses propiciados por significativos

176
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

avanços na geologia, pela divulgação no Brasil dos trabalhos realizados pelos


franceses na África e principalmente pela influência das reflexões de Lester King e
Von Englen, que se realizaram a partir de 1940, logo após o Congresso de Chicago,
que discutiu a obra de Walter Penck. (ABREU, 1982).

Um exemplo interessante desse momento da Geomorfologia brasileira


é a tese de doutoramento de Aziz Ab’Saber, “Geomorfologia do Sítio Urbano
de São Paulo”, defendida em 1957 (AB’SABER, 2007), tese orientada por
Aroldo de Azevedo, tendo como um dos membros examinadores Fernando
Flávio Marques de Almeida. Essa obra marca uma profunda transição e ao
mesmo tempo uma reconstrução do modelo interpretativo do relevo e de sua
gênese. (VITTE, 2008).

Não há uma ruptura paradigmática, mas a mudança interpretativa,


propiciada por novas fontes bibliográficas, como no caso de Von Englen e
principalmente pelos obstáculos que a geologia, particularmente os trabalhos
de Ruy Osório de Freitas, chamavam a atenção e passavam a exigir trabalhos
analíticos e de profunda correlação entre os elementos da natureza, como o
papel da tectônica e das litologias na estruturação da drenagem e na definição
do compartimento geomorfológico, no caso a bacia de São Paulo.

Outra influência marcante no trabalho de Aziz é o texto de Fernando


Flávio Marques de Almeida, “O Planalto Paulistano”, publicado em 1954 pela
AGB no livro “A Cidade de São Paulo” (VITTE, 2008). A tese de doutorado de
Aziz é paradigmática, pois nela, além da mudança de concepção sobre a gênese
e evolução do relevo, percebe-se claramente um tímido ensaio metodológico
que caminhará para o trabalho de Aziz de 1969 (A Geomorfologia a serviço
das pesquisas do quaternário). É um trabalho de Geomorfologia, mas de cunho
essencialmente geográfico, visto que as preocupações do autor em construir uma
espacialidade do relevo, a bacia de São Paulo, e, de sua gênese altamente complexa,
mas preocupado também com as questões históricas voltadas para a construção
do espaço, no caso o sítio urbano e, como o relevo influenciou decisivamente a
opção da ocupação e a própria valorização imobiliária dos terrenos.

No ano de 1956 realiza-se, no Rio de Janeiro, o Congresso da UGI, em


que as discussões internas são intensificadas com as que se desenvolvem nos
trabalhos de campo “pós-congresso”, que foram comandados por Jean Tricart,
Jean Dresch e Ab’Saber. O foco central das discussões foi o da problemática dos
materiais nas vertentes, principalmente para os paleopavimentos detríticos e o
seu significado paleoambiental e geomorfológico. (VITTE, 2008).

É um trabalho que marca definitivamente o nascimento de um mestre


da geografia brasileira, demonstrando claramente a influência de Deffontaines
e de Monbeig com a preocupação regional e histórica e, do ponto de vista da
Geomorfologia, as influências de Francis Ruellan, Von Englen, Jean Dresch e
Tricart.

177
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

No ano de 1964, João José Bigarella, engenheiro químico de formação


e discípulo de Reinard Maack por opção e paixão, publicará um trabalho,
“Variações Climáticas no Quaternário e suas Implicações no Revestimento
Florístico do Paraná” (Bol. Paranaense de geografia, n.10 a 15, 1964), que será um
marco referencial muito importante para os estudos cronogeomorfológicos e,
pela primeira vez no Brasil, será demonstrada a validade da teoria da biostasia
e da resistasia para explicar a evolução do relevo brasileiro. (VITTE, 2008).

Nesse momento, Aziz trabalha na USP como assistente do professor


Aroldo de Azevedo na cadeira de Geografia do Brasil, ao mesmo tempo em que
o professor Kullmann leciona biogeografia para os alunos de Geografia e detalha
hipoteticamente os mecanismos que poderiam explicar as diferenças fitogeográficas
no território brasileiro. Esse é o momento em que será estruturada, sob o ponto de
vista da Geomorfologia, a Teoria dos Refúgios e Redutos Florestais por Aziz em 1979,
e ao mesmo tempo a criação dos domínios morfoclimáticos do Brasil (AB’SABER,
1967), a partir de uma associação entre as formulações de Tricart e de Cholley
com a sua noção de sistemas de erosão, mais as reflexões de Kullmann, Monbeig
e Aroldo de Azevedo. (VITTE, 2008). A Teoria dos Refúgios Florestais representa
uma imensa revolução da Geomorfologia brasileira em contexto mundial, uma
vez que Aziz imprime em sua elaboração como sendo condição sine qua non para
compreendermos, de um lado, a complexidade do tecido biogeográfico brasileiro e,
de outro, a própria especificidade dos ditos refúgios.

A partir da Teoria dos Refúgios Florestais, a Geomorfologia climática é


dinamizada. Agora torna-se possível especificar as relações entre as variações
do Wurm-Winsconsin, por exemplo, com a distribuição do tecido florestal,
a existência e a persistência de formas de relevo e depósitos correlativos em
ambientes morfoclimáticos distintos ou mesmo contrastantes com as condições
atuais. (VITTE, 2008).

Estava constituída assim, uma das maiores revoluções na Geomorfologia


climática mundial, da qual farão parte Aziz Ab’Saber, João José Bigarella e
Maria Regina Mousinho, que em muitas ocasiões trabalharão conjuntamente,
formando a estrutura política e científica que garantirá a manutenção do
paradigma climático na interpretação do relevo brasileiro. (VITTE, 2008).

Assim, em função das especializações da Geologia, das novas técnicas e


o cimento teórico-metodológico que foi a Teoria da Pediplanação e a Teoria da
Bio-Resistasia, os geógrafos-geomorfólogos foram despertados para o estudo dos
materiais superficiais e principalmente para o possível papel das “Stones-lines”
e cascalheiras enquanto registro das mudanças climáticas no Brasil. (AB’SABER,
1962). No final dos anos de 1960 a Geomorfologia brasileira presencia duas
grandes revoluções. Primeiramente, com Ab’Saber, que, fruto de uma longa

178
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

reflexão e muita experiência em campo, que já começara durante a sua tese de


doutoramento em 1957, irá publicar em 1969 o clássico trabalho “Um Conceito
de Geomorfologia a Serviço das Pesquisas sobre o Quaternário”, um trabalho de
cunho metodológico e que exerce influência nas pesquisas geomorfológicas até os
dias atuais. (VITTE, 2008).

No trabalho de 1969, Ab’Saber apresenta a sua concepção de


Geomorfologia, que para Abreu (1982) é um marco teórico e metodológico
nos trabalhos de Geomorfologia e, ao mesmo tempo, em que coloca Ab’Saber
como sendo aquele que incorpora e desenvolve as proposições da linhagem
epistemológica germânica. (ABREU, 1982).

Para Ab’Saber (1969), a análise geomorfológica dever estar centrada no


Quaternário. Esta análise envolve três etapas, sendo o relevo o produto de uma
interação complexa que é tecida pelas forças endogenéticas e exogenéticas.
Assim, em um trabalho de Geomorfologia, devemos considerar como
primeiro nível de análise a “compartimentação topográfica”, que envolve não
apenas a análise da topografia, mas principalmente a influência da geologia
e da estrutura nesta compartimentação, que é regionalmente definida pelos
remanescentes de aplainamentos.

No segundo nível de análise, o geomorfólogo deve considerar


a “estrutura superficial da paisagem”, que corresponde aos solos, mas
principalmente aos colúvios, às rampas coluviais e, neste caso, a possibilidade
de cascalheiras e “Stones-lines” não apenas no contato rocha-colúvio, mas
inclusive com linhas embutidas no pacote coluvial. As análises físicas, químicas,
micromorfológicas, permitem a dedução dos processos e a qualidade dos
mesmos que atuaram na destruição ou mesmo no reafeiçoamento das formas
pretéritas. (VITTE, 2008).

A correlação dos dois primeiros níveis permite já o estabelecimento de


uma compartimentação das formas geneticamente homogêneas, com grande
utilidade no planejamento ambiental.

O terceiro nível de análise de Ab’Saber (1969) é a “fisiologia


da paisagem”, compreendida pelo autor como sendo a expressão do
funcionamento atual da geoesfera. No caso, corresponde aos processos atuais
que atuam no modelamento das formas.

Com esta proposição metodológica, Ab’Saber (1969) desprende-se dos


problemas advindos com a adoção da taxonomia das formas de relevo, como
as propostas por Tricart (1965). Agora, as formas são produto dos processos
passados e dos atuais, em um quadro em que participam tanto a geologia
quanto as forças climáticas e paleoclimáticas. (VITTE, 2008).

179
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Apesar de poucos questionamentos ao modelo deAziz e Bigarella, a


década de 1960 foi fundamental para se construir um verdadeiro paradigma na
Geomorfologia brasileira. Pois, montou-se uma estrutura teórica, metodológica
e interpretativa do relevo e de seus processos, construindo, juntamente, uma
verdadeira Geomorfologia geográfica. Onde a grande marca do modelo é o artigo
de 1969 de Aziz, “A Geomorfologia a serviço das pesquisas do quaternário”, que
até hoje (2008) exerce forte poder nas pesquisas geomorfológicas do Brasil e nada
mais foi construído em termos teóricos e metodológicos para se buscar análises
mais precisas e profundas sobre a gênese do relevo brasileiro. (VITTE, 2008).

Talvez aí esteja um dos maiores problemas da Geomorfologia geográfica


brasileira, pois esse modelo e esse método desenvolvido exerceram tamanho
poder por gerações de geógrafos-geomorfólogos, ao longo do tempo, que a
própria criatividade científica, por parte da Geografia, tenha sido afetada, a tal
ponto que hoje estamos com enorme dificuldade de manter a Geomorfologia
na Geografia e desenvolver modelagens mais apropriadas ao atual estágio de
desenvolvimento científico do Brasil.
FONTE: Disponível em: <http://www.geo.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos/trabalhos_com-
pletos/eixo4/018.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2010

NOTA

Você deve estar pensando que não é fácil estudar Geomorfologia, já que a
formação e a alteração das formas de relevo estão sujeitas a muitos fatores diferentes.
As dificuldades existiam, principalmente porque os pesquisadores se utilizavam de teorias
científicas conhecidas na época, como a teoria mecanicista ou reducionista, formulada em
meados do século XVII, que estuda os elementos da natureza de forma isolada. Por esta
razão, muitos pesquisadores desta ciência passaram a se utilizar de teorias científicas mais
recentes, entre elas a Teoria Geral de Sistemas, que analisa as partes não como algo fechado,
mas como um sistema aberto, interagindo com muitos outros.

3 ESTRUTURA GEOLÓGICA DO RELEVO BRASILEIRO


O território brasileiro possui altitudes modestas, contrastando com as
altitudes de até 6.962 metros da Cordilheira dos Andes.

A razão destas diferenças ou contrastes está na origem da formação destes


relevos.

Podemos dividir genericamente a estrutura geológica planetária


continental da seguinte forma:

• Escudos cristalinos ou núcleos cratônicos.


• Bacias sedimentares.
180
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

• Terrenos vulcânicos.
• Dobramentos modernos.

O Brasil está inserido na plataforma continental sul-americana, que por


sua vez fazia parte, há 200 milhões de anos, do mega-continente de Gondwana,
unindo todas as terras emersas do Hemisfério Sul.

Pelo fato de nosso país estar localizado no centro da plataforma sul-


americana, ou seja, distante das bordas onde existem as zonas de instabilidade
geológica, não há em território brasileiro os dobramentos modernos, formados a
partir do choque de placas tectônicas que deram origem às grandes cordilheiras.

Portanto, o território brasileiro é formado por escudos cristalinos (36%),


bacias sedimentares (64%) e terrenos vulcânicos (8%); entretanto, a percentagem de
terrenos vulcânicos não deve ser somada aos demais, tendo em vista que o derrame
de lava ocorrido no Brasil cobriu áreas de relevo sedimentar muito antigo.

Importante salientar que a maior parte da estrutura geológica brasileira é


muito antiga; entretanto, as formas do relevo, em função do constante desgaste
que sofre pela ação dos agentes internos e externos, são recentes.

ATENCAO

Da mesma forma como podemos classificar de analfabeta uma pessoa que


desconhece o alfabeto utilizado para construir a escrita do seu próprio idioma, podemos
qualificar como um “analfabeto” geográfico alguém que observa uma paisagem e não
identifica o tipo de vegetação, clima, relevo, geologia da região observada, agentes que
contribuíram para a formação daquela paisagem.
Portanto, compreender as formas de relevo, sua origem e classificação é um processo de
“alfabetização” da paisagem.

3.1 ESCUDOS CRISTALINOS OU NÚCLEOS CRATÔNICOS


O Brasil possui 36% de seu território formado por estruturas geológicas
muito antigas, ou seja, os chamados escudos cristalinos, originados no Pré-
Cambriano (Figura 87); sendo que 34% tiveram origem na era Arqueozoica, com
idade de mais de 3 bilhões de anos, onde a existência de minerais para exploração
economicamente viável é pequena.

Entretanto, em 4% do território brasileiro há escudos datados do


Proterozoico, onde é comum a existência de minérios como o ferro, a bauxita,
manganês, ouro, cassiterita, entre outros minerais metálicos.

181
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

FIGURA 87 – AS ERAS GEOLÓGICAS NO BRASIL

ERAS GEOLÓGICAS

Cenozóico (< 65Ma)


Mesozóico (250 - 65 Ma
Paleozóico (540 - 250 Ma)
Neoproterozóico (1.0 Ga - 540 Ma)
Mesoproterozóico (1.6 - 1.0 Ga)
Paleoproterozóico (2.5 - 1.6 Ga)
Arqueano / Paleoproterozóico (indif.)
Neo - arqueano (2.8 - 2.5 Ga)
Mescarqueano (3.2 - 2.8 Ga)
Paleoarqueano (3.6 - 3.2 Ga)

FONTE: Disponível em: <http://www.tudomaisumpouco.com/ErasGeologicasBrasil_


CPRM%5B1%5D.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.

Os escudos cristalinos são divididos em:

• Escudo das Guianas – localizado ao norte da planície amazônica.

• Escudo brasileiro – localizado ao sul da planície amazônica, que por sua


vez divide-se em: Sul-Amazônico, Atlântico, Araguaia-Tocantins, Sul-Rio-
Grandense, Gurupi e Bolívio-Mato-Grossense.

3.2 BACIAS SEDIMENTARES


Formadas por depressões no relevo que ao longo de milhões de anos
foram preenchidas por sedimentos, as bacias sedimentares escondem enorme
riqueza de informações do passado da Terra, especialmente com respeito à flora,
fauna, clima, origem dos sedimentos existentes em cada época etc.

182
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

O acúmulo de sedimentos com aumento de pressão e temperatura promoveu


a compactação dos sedimentos e a formação das rochas sedimentares. Entre estes
sedimentos formaram-se acúmulos de restos orgânicos que, após milhões de anos,
originaram os depósitos de petróleo em fundos de mares ou antigos fundos de
mares, e carvão mineral, originados em antigos fundos de lagos, pântanos etc.

Portanto, minerais de origem orgânica como carvão e petróleo estão


associados às rochas sedimentares.

Desde tempos geológicos muito antigos, não existiram, em território brasileiro,


movimentos tectônicos importantes. A prova está na disposição praticamente
horizontal das camadas de sedimentos formados ao longo de milhões de anos.

Em função da ação de agentes externos e internos, o relevo terrestre está


em constante mudança; entretanto, nas bacias sedimentares estas mudanças são
mais acentuadas devido à ação das chuvas e, principalmente, dos rios.

As bacias sedimentares no Brasil ocupam 64% do território, ou seja,


aproximadamente 5,5 milhões de km².

Segundo Jurandyr Ross (2001), bacias sedimentares como a do Pantanal


Mato-grossense, parte ocidental da bacia amazônica e trechos do litoral nordeste
e sul tiverem origem mais recente geologicamente falando, ou seja, no terciário
e quaternário (Era cenozoica), com idade a partir de 63 milhões de anos. Já
as grandes bacias sedimentares vão do Paleozoico (600 milhões de anos) ao
Mesozoico, cerca de 230 milhões de anos.

As principais bacias sedimentares do Brasil são: Amazônica; Meio Norte;


Paraná, do Pantanal Mato-Grossense, do São Francisco ou Sanfranciscana e a
litorânea; além de bacias secundárias e menores.

3.3 TERRENOS VULCÂNICOS


A maior ocorrência de agentes internos em território brasileiro, com
ruptura da crosta terrestre, ocorreu no final da era Mesozoica, quando movimentos
tectônicos provocaram a abertura de fendas na região que hoje conhecemos como
Araxá e Poços de Caldas/MG, provocando gigantescos derrames de lava vulcânica,
conhecidos como derrame de Trapp, cobrindo de basalto (rocha resultante da
solidificação da lava vulcânica) grandes áreas que se estendem desde o sul de
Minas Gerais, porções ocidentais dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul, atingindo áreas do Paraguai e Argentina. Estes derrames de
basalto deram origem ao solo fértil conhecido por terra roxa.

183
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

4 AS CLASSIFICAÇÕES DO RELEVO BRASILEIRO


Para compreendermos a classificação do relevo brasileiro feita pelos três
mais importantes autores, é necessário termos clareza a respeito dos conceitos
que os mesmos utilizam.

Independente da maneira como classificaram o relevo, todos utilizam os


conceitos de planalto, planície e depressões.

Portanto, antes de conhecermos as classificações dos autores, vamos


compreender o que significa cada uma destas formas de relevo.

• Planalto – são formados pelas áreas onde a erosão e desgaste do relevo é maior
do que o processo de acúmulo de sedimentos.

• Planícies – partes da superfície terrestre em que o acúmulo de sedimentos é


maior do que a erosão, o que favoreceu a formação de relevos planos ou com
poucas ondulações.

• Depressões:
Absolutas: são aquelas que estão abaixo do nível do mar. No Brasil não existem
depressões absolutas. No mundo um bom exemplo é o Mar Morto,
que encontra-se na atualidade com 417 metros abaixo do nível do
Mar Mediterrâneo.
Relativas: correspondem às áreas de relevo rebaixadas em relação ao seu
entorno, onde os processos erosivos superam a sedimentação.

4.1 CLASSIFICAÇÃO DE AROLDO DE AZEVEDO

ATENCAO

Acompanhe através da classificação de três diferentes autores, em épocas


diferentes, a evolução do conhecimento do relevo brasileiro através da história. Mais do
que estudar a classificação de relevo, é mergulhar no passado e colocar-se no lugar do
pesquisador e perceber os recursos com que contava para realizar sua pesquisa e os critérios
que utilizou para fazer a sua classificação.
Bom estudo.

Esta classificação realizada pelo prof. Haroldo Azevedo (Figura 88) é a


mais antiga (1940) e a mais genérica, estabelecendo apenas duas classificações,
ou seja, planalto e planície.

184
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Para diferenciar estas duas formas de relevo este se baseou na altitude.


Assim sendo, as terras até 200 metros de altitude foram classificadas como
planície e aquelas acima disto foram classificadas como planalto.

Seguindo este critério, a classificação do relevo brasileiro, segundo este


autor, ficou da seguinte forma:

PLANALTOS: das Guianas e Brasileiro: subdividido em: Planalto Central;


Planalto Atlântico e Planalto Meridional

PLANÍCIES: Planície amazônica;


Planície do Pantanal;
Planície costeira;

FIGURA 88 – MAPA DO RELEVO: CLASSIFICAÇÃO DE AROLDO DE AZEVEDO

Planalto das Guianas

Planície Amazônica

Planalto Central

Planalto Atlântico

Planície do Pantanal

Planalto Planície
Meridional Costeira

As Grandes
Divisões do
Relevo
Brasileiro
Planalto
Segundo Aroldo de Azevedo Planície

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_hGJz9rvNVgc/SYpDafrVQhI/


AAAAAAAAADw/5lObHU9LIZ8/s400/Arldo+de+Azevedo+relevo.gif>. Acesso em:
17 jun. 2010.

185
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

4.2 CLASSIFICAÇÃO DE AZIZ AB’SABER


É de autoria do Prof. Aziz Ab’Saber a classificação de relevo em planalto
e planície, baseado nos processos de sedimentação e erosão.

Diferente do Prof. Aroldo de Azevedo, que usou critérios altimétricos


para classificar o relevo, o Prof. Aziz utilizou critérios morfoclimáticos, ou seja,
a alteração das formas de relevo pela ação climática. Desta forma, a classificação
deste autor fica assim definida (Figura 89):

PLANALTOS:
- das Guianas e Brasileiro: Subdividido em:
- Central
- Meridional
- Nordestino
- Serras e planaltos do leste e Sudeste
- Maranhão-Piauí
- Uruguaio-Rio-Grandense

PLANÍCIES:
- Planícies e terras baixas amazônicas
- Planícies e terras baixas costeiras
- Planície do Pantanal

FIGURA 89 – MAPA DO RELEVO: CLASSIFICAÇÃO DE AZIZ AB’SÁBER


RELEVO: CLASSIFICAÇÃO DE AZIZ AB'SABER

Planalto das Guianas

Planícies e Terras Baixas


Amazônicas
Planalto do
Maranhão-Piauí Planalto
Nordestino

Planalto Central
Planícies e
Terras Baixas
Costeiras

Planície
do
Serras e
Pantanal
Planaltos do
Leste e
OCEANO Planalto
Sudeste
PACÍFICO Meridional

OCEANO
ATLÂNTICO

Planalto
Uruguaio-Sul-Rio-
Grandense

FONTE: Disponível em: <http://geologiabr.files.wordpress.com/2009/09/mapa-


-aziz.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2010.

186
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

4.3 CLASSIFICAÇÃO DE JURANDYR ROSS


Em 1989, o Prof. do Departamento de Geografia da Universidade de São
Paulo, Jurandyr Ross, propôs uma nova classificação, onde são consideradas três
formas de relevos principais, que são: planaltos, planícies e depressões.

Esta nova divisão do relevo, mais detalhada, foi possível devido ao


desenvolvimento de modernas técnicas de cartografia e, principalmente, à
utilização das imagens de satélites, possibilitando a obtenção de características
detalhadas da estrutura geológica, tipos de solos, relevo, vegetação, hidrografia
do território brasileiro.

Esta nova divisão do relevo apresentada pelo Prof. Jurandyr fundamentou-


se em três princípios, que são:

• Morfoestrutural – relativo à estrutura geológica

• Morfoclimático – relativo às formas do relevo e o clima

• Morfoescultural - diz respeito à modelação do relevo pela ação dos agentes


externos como chuva, vento, temperatura etc.

Seguindo estes princípios, o Prof. Jurandyr Ross classificou o relevo


brasileiro em 28 unidades, sendo 11 planaltos, seis planícies e 11 depressões,
conforme descrição detalhada abaixo:

PLANALTOS:

Para Jurandyr Ross (2003), os planaltos cobrem a maior parte do território


brasileiro e são formados por rochas que resistiram à erosão, por esta razão são
chamados de formas residuais.

Cabe chamar a atenção para o fato de que esta classificação subdivide os


planaltos em quatro subgrupos, de acordo com a sua origem:

Planaltos em Bacias Sedimentares: são aqueles planaltos delimitados por


depressões periféricas, formados por rocha sedimentar. Fazem parte deste grupo
o planalto da Amazônia oriental e os planaltos e chapadas do Paraná e da bacia
do Parnaíba.

Planaltos em intrusões e coberturas residuais da plataforma: Também


chamados de escudos, estes planaltos constituem as formações mais antigas, ou seja, na
era Pré-Cambriana. Grande parte de suas áreas está coberta por rochas sedimentares.
Como exemplo, podemos citar: os planaltos residuais Norte Amazônico.

187
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Planaltos em Núcleos Cristalinos Arqueados: consistem em planaltos


distantes uns dos outros, porém possuem em comum as formas arredondadas.
Exemplo deste grupo é o planalto da Borborema, localizado na parte oriental dos
estados do Nordeste.

Planaltos dos Cinturões Orogênicos: foram formados através da erosão


sobre os dobramentos antigos existentes em território brasileiro, ocorridos na
Era Pré-Cambriana. Os melhores exemplos deste grupo são: as serras do Mar, da
Mantiqueira e do Espinhaço.

PLANÍCIE

As planícies foram formadas a partir do terciário e quaternário, por esta


razão sua sedimentação é recente.

Em relação às classificações anteriores, as áreas de planícies foram


reduzidas. A razão é que parte do que era classificado pelos demais autores como
planície, na visão do Prof. Jurandyr passou a ser depressão periférica.

As seis planícies existentes foram classificadas em dois subgrupos, que são:

Planícies Costeiras: localizadas ao longo do litoral brasileiro.

Planícies Continentais: na Amazônia, apenas aquelas localizadas às margens


dos rios são consideradas planícies. Outro exemplo é a planície do Pantanal.

DEPRESSÕES

Consistem nas formas de relevo cuja altitude é inferior ao seu entorno,


aparecendo escarpas quase verticais nas áreas de contato com os planaltos. A razão
para o surgimento destas diferenças altimétricas que dão origem às depressões
está na diferença dos tipos de rochas. Assim, as rochas menos resistentes à erosão
deram origem às depressões, e as rochas mais resistentes formaram os planaltos.

O Prof. Jurandyr Ross identificou a existência de 11 depressões em


território brasileiro, formando três grupos:

Depressões periféricas: aparecem nas áreas de contato entre as rochas


sedimentares cristalina, como é o caso da depressão periférica Sul-Rio-Grandense.

Depressões interplanálticas: são formadas pelas áreas mais baixas


existentes entre os planaltos. Como exemplo, temos a depressão do São Francisco
e a depressão Sertaneja.

Depressões marginais: Um bom exemplo é a depressão Sul-Amazônica,


que foi esculpida em rocha cristalina, limitando as bordas das bacias sedimentares.

188
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Identifique no mapa a seguir (Figura 90) os 11 planaltos, 11 depressões e


seis planícies identificados pelo Prof. Jurandyr Ross, que aparecem devidamente
numerados.

PLANALTOS

1. Planalto da Amazônia Oriental.


2. Planalto e Chapada da Bacia do Parnaíba.
3. Planalto e Chapada da Bacia do Paraná.
4. Planalto e Chapada dos Pareceis.
5. Planaltos Residuais Norte-Amazônico.
6. Planaltos Residuais Sul-Amazônico.
7. Planaltos e Serra do Atlântico-Leste-Sudeste.
8. Planaltos e Serras de Goiás-Minas.
9. Serras Residuais do Alto Paraguai.
10. Planalto da Borborema.
11. Planalto Sul-Rio-Grandense.

DEPRESSÕES

12. Depressão da Amazônia Ocidental.


13. Depressão Marginal Norte-Amazônica.
14. Depressão Marginal Sul-Amazônica.
15. Depressão do Araguaia.
16. Depressão Cuiabana.
17. Depressão do Alto Paraguai-Guaporé.
18. Depressão do Miranda.
19. Depressão Sertaneja e do São Francisco.
20. Depressão do Tocantins.
21. Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná.
22. Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense.

PLANÍCIES

23. Planície do Rio Amazonas.


24. Planície do Rio Araguaia.
25. Planície e Pantanal do Rio Guaporé.
26. Planície e Pantanal-Mato-Grossense.
27. Planície da Lagoa dos Patos e Mirim.
28. Planícies e Tabuleiros Litorâneos.

189
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

FIGURA 90 – MAPA DO RELEVO: CLASSIFICAÇÃO DE JURANDYR ROSS

CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO BRASILEIRO

Planaltos
1- Planalto da Amazônia Oriental
2- Planaltos e chapadas da bacia do parnaíba
3- Planaltos e chapadas da bacia do Paraná
4- Planaltos e chapada dos Parecis
5- Planaltos residuais norte-amazonicos
6- Planaltos residuais sul-amazônicos
7- Planaltos e serras do Atlântico leste-sudeste
8- Planaltos e serras de Goiás-Minas
9- Serras residuais do Alto Paraguai
10- Planalto da Borborema
11- Planalto Sul-Rio-Grandense
Depressões
12-Depressão da Amazônia Ocidental
13-Depressão marginal norte-amazônica
14-Depressão marginal sul-amazônica
15-Depressão do Araguaia
16-Depressão Cuiabana
17-Depressão do Alto Paraguai-Guaporé
18-Depressão do Miranda
19-Depressão sertaneja e do São Francisco
20-Depressão do Tocantis
21-Depressão periférica da borda
leste da bacia do Paraná
22-Depressão periférica Sul-Rio-Grandense
Depressões
23-Planície do rio Amazonas
24-Planície do rio Araguaia
25-Planície e pantanal do rio Guaporé
26-Planície e pantanal mato-grossense
OCEANO 27-Planície das lagoas dos Patos e Mirim
ATLÂNTICO 28-Planícies e tabuleiros litorâneos

0 350 Km

FONTE: Disponível em: <http://conceitosetemas.blogspot.com/2009/03/classificacoes-de-re-


levo-do-brasil.html>. Acesso em: 17 jun. 2010.

Podemos concluir que a classificação do relevo brasileiro, segundo


os autores citados, é também resultado da evolução das técnicas de estudo
e mapeamento do território brasileiro. Não há dúvida de que as imagens de
satélites e as técnicas de geoprocessamento, bem como a riqueza de detalhes
de informações obtidas do solo, rocha e relevo, permitiram ao Prof. Jurandyr
detalhar melhor as unidades do relevo do país, incluindo aí as depressões, não
mencionadas pelos autores que o precederam.

5 HIPSOMETRIA DO BRASIL
Ao analisarmos o mapa do relevo abaixo, cuja hipsometria está
representada em cores, comprova-se o que afirmamos no início deste tópico, ou
seja, o território brasileiro possui altitudes modestas.

190
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

FIGURA 91 – MAPA DO RELEVO BRASILEIRO

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Brazil_topo.jpg>. Acesso em: 17


jun. 2010.

A maior altitude não chega a três mil metros, como é o caso do Pico da
Neblina, com 2.993,70 metros acima do nível do mar, localizado no município de
São Gabriel (AM), na Serra do Imeri, fronteira do Brasil com a Venezuela.

Dados antigos forneciam uma altitude de 3.014 metros, entretanto,


técnicas mais modernas, como GPS, forçam um dado mais realista.

Na sequência, temos o Pico 31 de Março, com 2.972,66 metros, localizado


no mesmo Parque Nacional do Pico da Neblina, na divisa com a Venezuela.

O terceiro maior pico do Brasil é o Pico Bandeira, com 2.891,98 metros,


situado no Parque Nacional da Serra do Caparaó, entre os Estados do Espírito
Santo e Minas Gerais.
191
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Em quarto lugar está o Pico do Calçado, com 2.849 metros de altitude,


também localizado no Parque Nacional da Serra do Caparaó, divisa entre os
Estados do Espírito Santo e Minas Gerais.

A Pedra da Mina, localizada na Serra da Mantiqueira, Estado de São


Paulo, é o quinto de maior altitude, com 2.798,36 metros acima do nível do mar.

Podemos destacar ainda os seguintes picos:

Pico das Agulhas Negras, com 2.792,66, localizado na Serra da Mantiqueira,


divisa entre SP/MG/RJ.

Pico do Cristal, sétima maior montanha do Brasil, com 2.769,76 metros,


localizado no Parque Nacional do Caparaó.

O Monte Roraima aparece em oitavo lugar, com 2.734,06 metros. Está


localizado na Serra de Pacaraima, Estado de Roraima, no extremo norte do país.

Com altitudes modestas, ausência de desertos, geleiras eternas,


cordilheiras, vulcões e áreas sujeitas a terrenos. Não existem em território
brasileiro áreas anecúmenas, ou seja, onde é impossível ao homem viver.

Ao contrário, em sua maior parte as terras são agriculturáveis, com


solos férteis ou passíveis de recuperação, o que tem contribuído para o avanço
da devastação sobre os domínios morfoclimáticos brasileiros, tornando difícil
a preservação de ecossistemas importantes, como a Floresta Amazônica, Mata
Atlântica, Pantanal Mato-grossense, Cerrado, além de ecossistemas menores, cuja
única forma de preservação tem sido através da criação de Zonas de Preservação,
sejam estes municipais, estaduais, federais ou particulares.

192
TÓPICO 4 | A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

LEITURA COMPLEMENTAR

PERSPECTIVAS DA GEOMORFOLOGIA

A melhor compreensão do significado das formas e processos geomorfológicos


é, na verdade, uma diretriz que sempre será perseguida. Pelos vários caminhos em
que se subdivide a Geomorfologia deverão continuar surgindo contribuições que
ampliarão o nível do conhecimento atual, como vem ocorrendo ao longo da história.
Subdivisões nascidas por diferentes critérios existem e formam conteúdos que
retratam as suas especificidades, seguindo, entretanto, a mesma diretriz comum a
todas: Geomorfologia Estrutural; Geomorfologia Climática; Geomorfologia Costeira;
Geomorfologia Continental; Geomorfologia Regional; Geomorfologia Aplicada;
Geomorfologia Dinâmica ou Funcional, ou dos Processos (fluviais, eólicos, costeiros,
glaciais, cársticos, de meteoração e das vertentes) e Geomorfologia do Quaternário.

Atualmente, novas subdivisões podem ser cogitadas e fundamentadas,


como, por exemplo, Geomorfologia Antrópica – destacando a ação do homem;
Geomorfologia Urbana – destacando a ação dos processos sobre um ambiente
artificial; Geomorfologia Submarina – para as áreas cobertas pelos mares e
oceanos; Geomorfologia Ecológica – interações de processos e formas com os
componentes dos ecossistemas; Geomorfologia Planetária – viabilizada pelo
uso do sensoriamento remoto, envolvendo estudos da superfície da Terra, Lua e
planetas (Vitek & Ritter – 1989); ETC.

Na formação do geomorfólogo está havendo cada vez mais a necessidade


de aprendizado da Física, Química, Matemática, Estatística e Computação. A
existência de um leque amplo de temáticas de interesse da Geomorfologia deve
conduzi-lo a obter conhecimentos básicos, oriundos de diferentes disciplinas.

Como vem ocorrendo em todas as áreas, estimular a cooperação


interdisciplinar é fundamental para aprimorar e fazer avançar o seu conhecimento
na interpretação dos processos e formas de relevo.

Em seu trabalho, novas ferramentas são disponíveis e apresentam


aprimoramentos constantes. Os sistemas de tratamento digital de imagens de
satélite oferecem novos recursos para a observação do relevo, implementação
de classificações, acompanhamento, ao longo do tempo, de modificações das
características de uma área e maior precisão, a partir do aumento do nível de
resolução das imagens. Os sistemas geográficos de informações permitem
armazenar e manusear, de diferentes modos, grande quantidade de informações,
aferidas as suas posições geográficas, e recuperá-las, principalmente, sob a forma
de mapas diversos, com níveis cada vez maiores. Computadores apresentam
recursos de uso dos mais avançados. Instrumentos e equipamentos para trabalhos
de campo e laboratório são construídos para melhor atender necessidades diversas,
apresentando alta sensibilidade e precisão. A expansão das telecomunicações
permite a construção de redes para internet com intercâmbio de dados e
informações.
193
UNIDADE 2 | A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL, GEOMORFOLOGIA LITORÂNEA E CÁRSTICA; A COMPARTIMENTAÇÃO DO
RELEVO E A GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA

Os recursos disponíveis favorecem a implementação e o aprimoramento de


vários métodos de trabalho. No campo experimental, áreas são instrumentalizadas,
possibilitando acompanhar a atuação dos processos que ali ocorrem ou que são
simulados, como, por exemplo, a chuva. Os trabalhos de mapeamento, realizados
com base em levantamento de campo, passaram a contar com instrumentos de
fácil manejo, que permitem a localização precisa de pontos na superfície terrestre.
Dados ambientais e informações podem ser obtidos em tempo real. Valorizam-se
simulações produzidas em modelos de escala ou matematicamente. Os trabalhos
de modelagem geomorfológica ganham corpo em diversas direções.

Embora exista uma multiplicidade de novos recursos, é importante salientar


a necessidade de evoluir também sob o ponto de vista teórico. Até este momento,
com as novas concepções teóricas, a Geomorfologia ainda não ultrapassou algumas
barreiras que lhe trazem dificuldades. Isso, porém, não deve ser definido a priori
como defeito ou virtude. Não há um critério que, por si só, promova a classificação
de todos os fatos geomorfológicos, estabelecendo categorias hierarquizadas em
diferentes escalas espaciais e temporais, de modo satisfatório. Disso resultam, por
exemplo, problemas com o mapeamento geomorfológico, que é um dos principais
resultados de seu trabalho. Não há também, como assinala Ross (1990), “uma
sistemática única de trabalho”. Várias são as metodologias para o desenvolvimento
das pesquisas, sendo possível reconhecer nelas as influências das principais escolas,
de origem: alemã, americana, francesa e inglesa.

Questões teóricas que norteiam a evolução das ciências também se


fazem presentes na Geomorfologia. Muitas influências ocorreram, tais como:
deterministas, uniformistas, catastrofistas, possibilistas e historicistas. As
discussões entre o valor dos enfoques ideográfico e nomotético remetem à
importância do geral e do particular na pesquisa, e ressaltaram dicotomias. No
futuro, novas questões deverão surgir.
FONTE: MARQUES, J. S. Ciência Geomorfológica. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfo-
logia: uma atualização de bases e conceitos. 6ªed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

194
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você estudou que:

• A Geomorfologia surgiu através do estudo de geólogos e geógrafos, entretanto


não é um campo de estudo exclusivo destes profissionais.

• Os conhecimentos geomorfológicos só ganharam importância com o aumento


da relevância das questões ambientais, principalmente no que diz respeito à
análise ambiental.

• Destacamos os vários trabalhos de Aziz Ab’Sáber e sua grande contribuição à


Geografia e especialmente à Geomorfologia, por ser considerado, entre geógrafos
e profissionais da ciência de áreas afins, como uma verdadeira genialidade.

• Acompanhamos a evolução do conhecimento geomorfológico dentro e fora da


Geografia, desde o início do Século XX até a atualidade.

• O projeto Radar da Amazônia (RADAM), posteriormente expandido para todo


o país como projeto RADAMBRASIL, foi sem dúvida, em nível mundial, um
dos maiores já realizados de levantamento de recursos naturais que incluía os
temas Geologia, Geomorfologia, solos, vegetação e uso potencial do solo.

• Segundo o artigo: A História da Geomorfologia no Brasil, Gregory (2000) afirma


que a Geomorfologia geográfica está descaracterizada na Geografia Física, pois
a maior produção de Geomorfologia está acontecendo nas ciências naturais e
multidisciplinares. E esse atraso, segundo Gregory (2000, 2001), ocorre em função do
forte impacto do pragmatismo na Geomorfologia, sendo que não há razão para não
refletirmos sobre os conceitos e as práticas da Geografia Física e, em particular, pela
Geomorfologia.

• Ainda segundo o artigo acima citado, apesar de poucos questionamentos ao


modelo de Aziz e Bigarella, a década de 1960 foi fundamental para se construir
um verdadeiro paradigma na Geomorfologia brasileira. Pois, montou-se uma
estrutura teórica, metodológica e interpretativa do relevo e de seus processos,
construindo, juntamente, uma verdadeira Geomorfologia geográfica. Onde
a grande marca do modelo é o artigo de 1969 de Aziz, “A Geomorfologia a
serviço das pesquisas do quaternário”, que até hoje (2008) exerce forte poder
nas pesquisas geomorfológicas do Brasil e nada mais foi construído em termos
teóricos e metodológicos para se buscar análises mais precisas e profundas
sobre a gênese do relevo brasileiro. (VITTE, 2008).

195
• Entre os tipos de estrutura geológica do relevo no Brasil, existem apenas
escudos cristalinos (36%), bacias sedimentares (64%) e uma área coberta de lava
vulcânica, chamada de derrame de Trapp, originando o basalto, rocha que após
o processo de intemperismo formou um solo fértil chamado de terra roxa.

• O território brasileiro não está na borda de uma placa tectônica, por esta razão
não existem, em nosso país, os dobramentos modernos que deram origem às
cordilheiras, como os Andes, na América do Sul. Por esta mesma razão, não
existem também vulcões e terremotos.

• O Brasil possui 36% do seu território formados por escudos cristalinos, sendo
que 34% se formaram na Era Arqueozoica, onde praticamente não existem
minerais para exploração economicamente viável.

• Em 4% do território, formados na Era Proterozoica, há a presença de ferro,


manganês, bauxita, ouro etc.

• As bacias sedimentares no Brasil ocupam 64% do território, ou seja,


aproximadamente 5,5 milhões de km².

• As bacias sedimentares mais recentes são datadas de 60 milhões de anos, já as


mais antigas têm datação de até 600 milhões de anos.

• O derrame de Trapp, maior derrame basáltico do mundo, cobre 8% da bacia


sedimentar do Paraná e outras bacias menores. Este valor não deve ser somado aos
demais, uma vez que há superposição de camadas geológicas com datas diferentes.

• Aprendemos, através da classificação do relevo por Aroldo Azevedo, Aziz


Ab’Sáber e Jurandyr Ross, como ocorreu a evolução sobre o conhecimento do
relevo brasileiro, bem como as técnicas para obtenção dos dados geográficos
necessários para fazer uma classificação adequada.

• Aroldo de Azevedo e Aziz Ab’Sáber não incluíram em sua classificação a forma


de relevo chamada de depressão. Este conceito foi introduzido pelo Prof.
Jurandyr Ross.

• A maior parte do território brasileiro, ou seja, 85%, está em altitude que varia
entre 0 a 600 metros.

• A maior altitude do Brasil está no Pico da Neblina, com 2.993,70 metros acima
do nível do mar, localizado no município de São Gabriel (AM), na Serra do
Imeri, fronteira do Brasil com a Venezuela.

196
AUTOATIVIDADE

1 Faça um resumo sobre a evolução do conhecimento geomorfológico no


Brasil, identificando os principais autores, suas ideias e contribuições para o
avanço da Geomorfologia.

2 Identifique no Artigo: “História da Geomorfologia no Brasil” qual foi a


contribuição de Aziz Ab’Saber para a Geografia e Geomorfologia e escreva
um resumo através de tópicos.

3 Faça uma análise das três classificações de relevo brasileiro, apresentadas


respectivamente por Aroldo de Azevedo, Aziz Ab’Saber e Jurandyr Ross e
aponte as diferenças, os critérios empregados e técnicas utilizadas para a
classificação adotada, bem como a evolução que ocorreu.

4 Que tipo de rocha do território brasileiro está associado ao


surgimento de minérios como ferro, manganês e bauxita?

5 Quais minérios estão associados às rochas sedimentares?

6 Qual a importância das florestas para a preservação da vida?

197
198
UNIDADE 3

INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO


AMBIENTE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• entender o que significa intemperismo e os agentes envolvidos neste


processo para dar origem aos mais variados tipos de solos;

• compreender a origem dos solos e os critérios utilizados para a classificação


dos mesmos;

• descobrir de que forma o solo perde seus nutrientes mais importantes


através do processo de lixiviação e como recuperar solos empobrecidos;

• conhecer as diferentes causas da degradação ambiental;

• identificar os problemas ambientais e urbanos;

• conhecer os riscos de contaminação dos lençóis freáticos e a importância da


preservação dos mesmos;

• compreender como é possível recuperar áreas degradadas e as diferentes


técnicas utilizadas para a recuperação das mesmas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em três tópicos, sendo que em cada
um deles você encontrará atividades para uma maior compreensão das
informações apresentadas.

TÓPICO 1 – O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE

TÓPICO 2 – DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E AN-


TRÓPICAS

TÓPICO 3 – RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS


DE RECUPERAÇÃO

199
200
UNIDADE 3
TÓPICO 1

O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE

1 INTRODUÇÃO
O solo, camada mais superficial da litosfera ou crosta terrestre, é o substrato
sobre o qual se desenvolvem e influenciam as características da biosfera, além de
ser modificado por ela em função dos processos interativos existentes entre este
e os seres vivos.

Os solos se formam a partir de um processo de intemperismo da rocha


matriz por ação de agentes tais como: sol, fatores climáticos, ação dos seres vivos
e agentes mecânicos como gelo e neve.

Os solos são constituídos em proporções variáveis de minerais, água, gases


e húmus. Entretanto, o fator que mais influencia o tipo de solo de cada região é a
rocha matriz, que fornece os minerais que o compõem. Segundo Moreira e Sene
(2007, p. 116):

Os conceitos de solo estão relacionados às atividades humanas que


nele se desenvolvem e às ciências que o estudam. Para a mineração,
solo é um detrito que deve ser separado dos minerais explorados e
depois removidos; para algumas ciências, como a ecologia, é um
sistema vivo composto por partículas minerais e orgânicas que
possibilita o desenvolvimento de diversos ecossistemas. A Geografia,
em particular a pedologia, considera o solo a arte natural e integrada
à paisagem que dá suporte às plantas que nele se desenvolvem;
finalmente, a edafologia define solo como um meio natural no qual o
homem cultiva plantas, interessando-se pelas características ligadas à
produção agrícola.

O solo possui importância econômica e ambiental incalculável; entretanto,


o uso inadequado para fins econômicos, tais como agricultura, pecuária,
mineração etc., tem provocado perdas anuais de toneladas de solos férteis que
são levados pelas chuvas e rios, provocando vários problemas ambientais, com
prejuízos econômicos para as atuais e futuras gerações.

201
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

2 INTEMPERISMO

2.1 TIPOS DE INTEMPERISMO


Ao serem expostas à atmosfera, as rochas sofrem ação direta dos raios do
sol, dos agentes biológicos tais como animais e plantas, fatores climáticos, entre
outros, que alteram as características físicas, bem como a composição química dos
minerais que as compõem. Este processo contínuo de desagregação e decomposição
da rocha, conhecido como intemperismo físico ou mecânico e químico, é o que dá
origem ao solo. Segundo Moreira e Sene (2007), “em regiões tropicais úmidas são
necessários, em média, 100 anos para a formação de apenas dois centímetros de
solo. Em áreas de clima frio e seco, esse período é ainda maior”.

Percebe-se, portanto, que o processo de formação do solo ocorre ao longo de


centenas de milhares de anos, e que o uso inadequado faz perder vários centímetros
de solos férteis por ano.

E
IMPORTANT

A importância de manejar corretamente os solos agrícolas, para evitar a sua


perda e o prejuízo econômico e ambiental para as gerações presentes e futuras, torna-se mais
evidente ao sabermos que para formar dois centímetros de solo é necessário um século.

Como salientamos, existem duas formas de intemperismo que alteram as


rochas para dar origem aos solos: a física ou mecânica e a química.

a) Processos físicos ou mecânicos:

• Ação térmica: A variação diária da temperatura entre o dia e a noite ou entre


as diferentes estações do ano promove constantes dilatações e contrações da
rocha, levando à sua desagregação.

• Erosão e deposição causadas pela água: Ao atingirem o solo, as águas pluviais


removem e transportam consigo grande quantidade de sedimentos, que são
carreados aos rios e depositados em suas margens. Partes destes sedimentos são
levadas ao mar e oceanos, sendo depositadas em praias, baías e fundos de mares.

• Erosão e deposição causada pelo vento ou eólica: Os ventos exercem poder


semelhante, erodindo montanhas e criando formas como as de Vila Velha/PR, ou
através da remoção e deposição de sedimentos, formando as dunas. (figura 93)

202
TÓPICO 1 | O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE

• Formação de gelo: Nas regiões do planeta onde as temperaturas são muito


baixas, a água, ao penetrar nas fraturas e orifícios das rochas, se expande após
o congelamento, provocando a sua desagregação.

• Cristalização de sais: O sal trazido pela maresia se cristaliza nas fraturas,


desenvolvendo pressões que ampliam o efeito desagregador.

• Ação orgânica ou biomecânica: intemperismo causado pela ação mecânica das


raízes de árvores, que atuam como força motriz, abrindo canais que permitem a
entrada e ação de outros agentes que passam a atuar na desagregação. Algumas
espécies de insetos, como formigas, também colaboram escavando as rochas
de baixa dureza, além de vermes, roedores, e alguns mamíferos que também
contribuem para o processo de desintegração das rochas.

O Canyon Fortaleza (Figura 92), na fronteira entre RS e SC, é resultado do


desgaste geológico por ação de agentes físicos e químicos.

FIGURA 92 – CANYON FORTALEZAV

FONTE: Disponível em: <www.cprm.gov.br/Aparados/ponto_14.htm>. Acesso em:


10 jun. 2010.

203
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

FIGURA 93 – FOTOS SUPERIORES: VILA VELHA, NO PARANÁ


FOTOS INFERIORES: DUNAS DE FLORIANÓPOLIS E LENÇÓIS MARANHENSES

FONTE: Disponível em: <http://www.guiatimeout.estadao.com.br/Image/ti-


meout.estadao.com.br>. Acesso em: 18 jun. 2010.

a) Processos químicos:

• É o resultado de agentes como a água, que, juntamente com o gás carbônico,


atuam na transformação química dos minerais que compõem a rocha. Um
exemplo deste processo é a alteração que sofrem minerais como feldspato e
mica, que após sofrerem a ação química da água, se transformam em argila.

Outro exemplo são as formações das cavernas calcárias, como as cavernas


de Botuverá-SC. (Figura 94) Estas cavernas se formaram em regiões onde existe
grande quantidade de calcário. A água, ao infiltrar-se na rocha, dissolve o
calcário, criando fissuras e formando as cavernas ao longo de milhões de anos. O
calcário dissolvido volta a solidificar-se em um mineral chamado calcita, através
do processo de gotejamento, que dá origem às estalactites (teto) e estalagmites
(colunas que sobem do solo).

204
TÓPICO 1 | O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE

FIGURA 94 – CAVERNAS DE BOTUVERÁ-SC

FONTE: Disponível em: <http://www.belasantacatarina.com.br/images/ima-


ges/caverna12.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2010.

2.2 FATORES QUE INFLUENCIAM NO INTEMPERISMO DOS


MINERAIS
a) Condições climáticas

As condições climáticas exercem influência preponderante no processo de


intemperismo.

Em climas onde há reduzida precipitação há predominância dos processos


mecânicos de intemperismo, reduzindo o tamanho das partículas sem grandes
alterações na composição química. Nas regiões de clima chuvoso, a umidade
estimula tanto a ação química quanto mecânica, favorecendo a formação de
novos minerais e produtos solúveis.

No clima temperado, entre os minerais que se formam está a argila; por


esta razão este mineral está presente no solo agrícola das regiões sob o domínio
deste clima.

Geralmente, nos climas quentes, como o Equatorial, a intensidade


do intemperismo é mais rápida, favorecendo a ação química no processo de
decomposição dos minerais. Segundo Brady (1979, p. 295), “os produtos mais
resistentes do intemperismo químico, tais como hidróxidos de ferro e de alumínio,
tendem a predominar nas regiões tropicais úmidas...”

O clima exerce grande influência sobre o tipo de vegetação predominante.


Deste modo, exerce ação indireta sobre as reações bioquímicas nos solos e,
portanto, nos seus efeitos sobre o intemperismo mineral. Por exemplo, os solos
formados sob florestas coníferas, cujas agulhas possuem cátions metálicos em
quantidades reduzidas, são geralmente mais ácidos do que outros formados sob
pradarias ou árvores caducifólias.
205
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

b) Características físicas

Para Brady (1979), o tamanho das partículas, a dureza e o grau de


compactação constituem as três características físicas que agem sobre o
intemperismo. Rochas formadas com grandes cristais de diferentes minerais
favorecem a desintegração. Isto acontece porque há variação nos coeficientes de
expansão e contração de cada mineral, à medida que se modifica a temperatura.
As tensões resultantes auxiliam o desenvolvimento de rachaduras e a dissociação
das rochas nos seus componentes minerais. Os materiais de granulação mais fina
são aparentemente mais resistentes à dissolução mecânica.

A dureza e o grau de compactação exercem, ao que parece, influência


sobre o intemperismo, basicamente em função da intensidade de desintegração
em partículas suficientemente pequenas para possibilitar a decomposição. Assim,
um quartzito denso ou um arenito firmemente compactado por outro mineral,
quando submetido a intemperismo lento, resistirá à dissolução mecânica.

3 A PEDOGÊNESE

3.1 COMPOSIÇÃO E FORMAÇÃO DOS SOLOS


As rochas, ao sofrerem o processo de intemperismo ao longo de milhões de
anos, transformando-se em solo, deixam porosidades que permitem a penetração
da água e ar, o que possibilita a formação de um ambiente favorável para o
desenvolvimento de animais e plantas, que passam a agir com mais intensidade,
intensificando o intemperismo e acrescentando ao solo a matéria orgânica, o que
faz aumentar sua fertilidade.

O solo é formado dos seguintes elementos:

• Minerais: Em função das rochas que lhe deram origem, apresentam partículas
de tamanhos diferentes que recebem a classificação a partir do tamanho menor
para o maior, ou seja: argila, silte, areia fina, areia grossa e cascalho.

• Matéria orgânica: Conhecido como húmus, é resultado do acréscimo ao


solo de restos da decomposição de plantas e animais, através da ação de
microrganismos.

• Água: Tem o importante papel de fornecer nutrientes às plantas, tais como:


sais minerais, oxigênio, gás carbônico. A água é retida temporariamente no
solo, sendo reposta pela chuva, ou, no caso de cultivo, pela irrigação artificial.

• Ar: Ao ocupar os poros do solo não preenchidos pela água, o ar fornece oxigênio
para as plantas que o absorvem através das raízes. O oxigênio presente em
abundância no subsolo favorece a formação de húmus.
206
TÓPICO 1 | O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE

Quanto maior a quantidade de vida que se desenvolve sobre o solo,


maior a sua riqueza. Entretanto, ao analisarmos o perfil do solo e as diferentes
camadas que o formam, descobrimos que a profundidade de cada horizonte
depende da origem da rocha matriz, do tempo que esta se formou, bem como
das condições climáticas de cada região. Por exemplo, os solos da Mata Atlântica,
que são formados de rochas muito antigas, geologicamente falando, e em função
da presença da umidade do mar, que trazem chuvas constantes, são ricos em
vida biológica nos horizontes A, B e parte do C, e a rocha matriz está até 30 ou 40
metros de profundidade. Já o solo da caatinga, por exemplo, é raso, pedregoso
e alcalino e não armazena a chuva que cai. As altas temperaturas causam uma
evaporação intensa e a salinização do solo. Na estação seca a temperatura do
solo pode chegar a 60° C. O perfil do solo desenvolve-se simultaneamente com
o processo de intemperismo ou meteorização da rocha, sendo que este perfil é
definido a partir da superfície até a rocha matriz. (Figuras, 95, 96 e 97).

FIGURA 95 – PERFIL DO SOLO

FONTE: Disponível em: <http://lablogatorios.com.br/geofagos/files/2009/01/


p1140254.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2010.

207
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

FIGURA 96 – PERFIL DO SOLO FIGURA 97 – PERFIL DO SOLO

FONTE: Disponível em: <http:// FONTE: Disponível em: <http://


www.escola.agrarias.ufpr.br/ima- www.achetudoeregiao.com.br/ANI-
gens/cambissolo2.jpg>. Acesso MAIS/Solo/solo.jpg>. Acesso em: 18
em: 18 jun. 2010. jun. 2010.

Ao analisarmos um corte vertical de um solo que denominamos “perfil”,


visível nas barreiras de estradas, é possível constatar a presença de diferentes
camadas, em geral distintas, chamadas de horizontes.

Num solo bem preservado, as camadas aparecem bem definidas e o


horizonte “A” possui coloração escura, devido à decomposição da matéria
orgânica, que forma o húmus, atribuindo ao solo grande fertilidade. Para formar
30 centímetros de solo com húmus são necessários entre 40 a 60 anos; entretanto,
é a camada do solo mais exposta às intempéries e a que mais sofre perdas em
função do uso inadequado, principalmente na agricultura.

No horizonte “A”, o processo de meteorização ou intemperismo é mais intenso,


em função de sua maior exposição tanto aos agentes climáticos como orgânicos.

Entre o horizonte A e o horizonte B existe deslocamento de materiais tais


como: água, argilas, sais e muitos outros componentes, num processo chamado
lixiviação.

O horizonte B, por receber materiais do horizonte A, é o mais compacto,


entretanto ainda existe a presença da matéria orgânica, pois é o espaço destinado
ao crescimento das raízes.

No horizonte C o processo de meteorização ou intemperismo da rocha não


está completo, sendo possível visualizar pequenos blocos de rocha misturados ao solo.

O horizonte R (rocha) constitui a rocha matriz consolidada.

208
TÓPICO 1 | O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE

UNI

Considerando, como já foi salientado, o longo tempo necessário para formar o


solo, e o quanto este influenciou no aparecimento dos ecossistemas naturais, ambos passam
a fazer parte um do outro, criando uma unidade que deveria ser inseparável; entretanto,
quando este rompimento ocorre, o prejuízo é grande: para o solo, para os ecossistemas que
existem sobre eles e para a humanidade, que depende de ecossistemas saudáveis e solos
férteis para a sua sobrevivência.

3.2 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM DOS SOLOS


O resultado da ação das várias forças da natureza promovendo o intemperismo
das rochas é a formação do solo. Tal solo pode ter se formado a partir da rocha matriz,
e, portanto, está repousando em sua posição por séculos ou milhares de anos; ou
pode ter sido transportado para longe de sua formação original.

Segundo a origem de sua formação, os solos podem ser classificados em


quatro tipos principais e suas subdivisões:

• Solos residuais: são formados a partir da desagregação da própria rocha onde


se encontram, por esta razão também são conhecidos como “in-situ”. Este pode
ser dividido em dois subtipos, que são:

- Solo eluvial: é formado pela camada mais superficial do solo; por esta razão é
conhecido como solo residual ou maduro. Uma análise macroscópica identifica
um solo mais homogêneo.

- Solo de alteração: Possui a presença de elementos da rocha original, o que lhe


atribui uma característica heterogênea, uma vez que está abaixo do solo eluvial.

• Solos transportados: Têm origem na erosão, transporte e deposição de solos


preexistentes, provenientes de sedimentos recentes, principalmente do terciário
e quaternário: Podem ter origem eólica, fluvial ou marinha.

Os solos transportados podem ser dos seguintes tipos:

• Aluvião: formado por material erodido trabalhado e transportado por ação


fluvial e depositado nos seus leitos e margens, bem como em fundos e margens
de lagoas e lagos.

• Coluvião: Consiste de material solto ou decomposto, transportado e depositado


no sopé de montanhas por ação da gravidade.

209
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

• Tálus: Consiste na presença de blocos de rochas, transportados por gravidade


e depositados no sopé de montanhas, resultado de solos poucos espessos.
• Solos coluvionais: Consistem em solos com movimentação lenta da parte mais
superficial, em função de agentes tais como a gravidade. Possuem aspecto
homogêneo, não apresentando estratificação visível.

• Solos orgânicos: consistem em solos ricos em matéria orgânica, além dos


minerais que os compõem.

3.3 LIXIVIAÇÃO DO SOLO


Você já ouviu falar em lixiviação? Os acadêmicos de Geografia e de outras
ciências naturais e ambientais necessitam compreender o significado e como atua
o processo de lixiviação. Para ajudar a sua compreensão escolhemos um conceito
claro de lixiação, conforme a Enciclopedia e Dicionários Porto Editora.
A lixiviação consiste na capacidade que a água enriquecida em dióxido
de carbono tem de remover ou substituir mais rapidamente os átomos
dos minerais. Formam-se, por exemplo, grandes grutas e cavernas em
terrenos calcários, em consequência de uma mais intensa capacidade
de dissolução realizada pela água contendo ácido carbônico. A água,
ao passar lentamente através de materiais sólidos, pode ser filtrada ou
extrair substâncias desses materiais - fenômeno chamado percolação.
Entre os materiais removidos podem encontrar-se nutrientes. A perda de
nutrientes através da lixiviação é determinada por fatores climáticos, bem
como pela interação dos nutrientes do solo. Nas regiões onde existe uma
elevada percolação de água, o potencial de lixiviação também é elevado.
Tais condições existem nas zonas úmidas e nas zonas facilmente
irrigadas. Em geral, nestas zonas o excesso de percolação das águas é
a regra, favorecendo a oportunidade para a remoção de nutrientes. Em
regiões áridas e semiáridas não irrigadas há uma fraca lixiviação dos
nutrientes, sendo a percolação muito significativa. Alguma lixiviação de
nutrientes ocorre nas regiões subúmidas, contudo de menor efeito do
que o que acontece nas regiões com climas úmidos. Em todos os casos,
o tratamento agrícola do solo, com cobertura vegetal, reduz a perda de
nutrientes do solo.

FONTE: LIXIVIAÇÃO. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-07
-05]. Disponível em:<URL: http://www.infopedia.pt/$lixiviacao>. Acesso em: 18 jun. 2010.

A lixiviação é, portanto, um fenômeno da natureza que cria muitos


problemas para a agricultura.

ATENCAO

Caro(a) acadêmico(a), você deve estar se perguntando: de que forma a


agricultura é afetada pela lixiviação? Pois este é um conhecimento que todo agricultor
deveria ter para saber proteger o solo do empobrecimento causado pela lixiviação.

210
TÓPICO 1 | O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE

A chuva intensa, comum nas regiões tropicais, infiltra-se no solo sem


cobertura vegetal, percolando por entre as partículas, transportando minerais
solúveis como fósforo, cálcio, nitrogênio, presentes nas camadas superficiais do
solo, responsáveis pela fertilidade do mesmo, para as camadas mais profundas.
Isto empobrece o solo, tornando-o ácido. Para fazer a correção destes solos
ácidos e empobrecidos de nutrientes é aplicado calcário, que corrige a acidez e os
elementos desagregados e repõe os nutrientes ao solo.

Mas a grande dor de cabeça da agricultura é o que fazer para impedir


ou ao menos minimizar o problema do empobrecimento do solo causado pelo
processo de lixiviação. Uma das práticas adotadas entre agricultores da Região
Sul é cobrir o solo após a colheita com palha seca ou os próprios restos da colheita.
Esta prática protege o solo da erosão e a decomposição dos vegetais repõe alguns
minerais perdidos na lixiviação.

Segundo Rosolem, Calanego e Folani (2005),


Os restos vegetais deixados na superfície do solo em sistemas de
semeadura direta, além de proteger o solo da erosão, constituem
considerável reserva de nutrientes que podem ser disponibilizados
para a cultura principal, subsequente. Avaliou-se a lixiviação de K
da palha de seis espécies vegetais com potencial de uso como plantas
para cobertura do solo de acordo com a quantidade de chuva recebida
após o manejo. Milheto (Pennisetum americanum, var. BN-2), sorgo
de guiné (Sorghum vulgare), aveia preta (Avena strigosa), triticale
(Triticum secale), crotalária juncea (Crotalaria juncea) e braquiária
(Brachiaria decumbens) foram cultivados em vasos com terra, em
casa de vegetação, em Botucatu (SP). Aos 45 dias da emergência, as
plantas foram cortadas na altura do colo, secas em estufa e submetidas
a chuvas simuladas de 4,4, 8,7, 17,4, 34,9 e 69,8 mm, considerando
uma quantidade de palha equivalente a 8,0 t ha-1. A máxima retenção
de água pela palha corresponde a uma lâmina de até 3,0 mm,
independentemente da espécie, praticamente não ocorrendo lixiviação
do potássio com chuvas da ordem de 5 mm. A máxima liberação de K
por unidade de chuva ocorre com lâminas de até 20 mm, decrescendo
a partir deste ponto. A quantidade de K liberado da palha logo após
o manejo depende da espécie vegetal, não ultrapassando, no entanto,
24 kg ha-1 com chuvas da ordem de 70 mm, apresentando correlação
positiva com a concentração do nutriente no tecido vegetal. O triticale
e a aveia são mais eficientes na ciclagem do potássio.

Como você pode perceber através da experiência relatada na citação


acima e na experiência de agricultores do Sul, há solução para este problema.

211
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

3.4 TIPOS DE SOLOS NO BRASIL


O tipo de solo de cada região do Brasil está relacionado à rocha matriz e
ao clima. A seguir apresentaremos fragmentos do artigo intitulado Tipos de solos
brasileiros, de Luiz Alberto Brandão.

A classificação dos solos pode ser feita segundo diferentes critérios.


A ênfase na utilização de critérios genéticos, morfológicos ou morfogenéticos
varia de país para país, o que dá origem a diferentes classificações pedológicas.
Contudo, no nosso estudo iremos utilizar o método brasileiro.

O Brasil situa-se quase inteiramente no domínio tropical úmido (exceto


a região Sul e o Nordeste semiárido). Esta situação, aliada à estabilidade
estrutural de seu embasamento, que desde o final do Cretáceo não sofreu
movimentações de grande porte, leva à predominância de uma cobertura
pedológica que reflete, de maneira acentuada, o fator climático como
preponderante na sua formação. Nessa escala de análise, rocha original e
condições topográficas locais têm importância secundária.

Os solos brasileiros são bem estudados, existindo um serviço cartográfico


da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que vem
realizando, desde a década de 1960, levantamentos cartográficos sistemáticos
do território brasileiro. Esses trabalhos permitiram o desenvolvimento de uma
classificação própria, publicada em 1999, subdividindo os solos em classes,
com seis diferentes níveis hierárquicos. O primeiro nível comporta 14 classes e
nós iremos enfatizar os mais predominantes em relação à extensão territorial.
As três classes mais frequentes em relação à representação geográfica no Brasil
são: o latossolo, o argissolo e o cambissolo.

• Os latossolos (solo bem evoluído, laterizado, rico em argilominerais e oxi-


hidróxidos de ferro e alumínio)

• Os Argissolos (solo bem evoluído, argiloso, apresentando mobilização de


argila da parte mais superficial)

• Os Cambissolos (solo pouco desenvolvido, com horizonte B incipiente).

Latossolos (síntese)

São formados pelo processo denominado latolização, que consiste


basicamente na remoção da sílica e das bases do perfil (Ca2+, Mg2+, K+ etc), após
transformação dos minerais primários constituintes. Os latossolos apresentam
tendência a formar crostas superficiais, possivelmente devido à floculação das
argilas que passam a comportar-se funcionalmente como silte e areia fina. A
fração silte desempenha papel importante no encrostamento, o que pode ser
evitado, mantendo-se o terreno com cobertura vegetal a maior parte do tempo,

212
TÓPICO 1 | O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE

em especial em áreas com pastagens. Essas pastagens, quando manejadas de


maneira inadequada, como: uso de fogo, pisoteio excessivo de animais, deixam
o solo exposto e sujeito ao ressecamento.

Os latossolos são passíveis de utilização com culturas anuais, perenes,


pastagens e reflorestamento. Normalmente, estão situados em relevo plano a
suave-ondulado, com declividade que raramente ultrapassa 7%, o que facilita
a mecanização. São profundos, porosos, bem drenados, bem permeáveis
mesmo quando muito argilosos, friáveis e de fácil preparo. Apesar do alto
potencial para agropecuária, parte de sua área deve ser mantida com reserva
para proteção da biodiversidade desses ambientes. Um fator limitante é a baixa
fertilidade desses solos. Contudo, com aplicações adequadas de corretivos
e fertilizantes, aliadas à época propícia de plantio de cultivares adaptadas,
obtém-se boas produções. No Cerrado, os latossolos ocupam praticamente
todas as áreas planas a suave-onduladas, sejam chapadas ou vales. Ocupam
ainda as posições de topo até o terço médio das encostas suave-onduladas,
típicas das áreas de derrames basálticos e de influência dos arenitos.

Argissolos (síntese)

São solos minerais, não hidromórficos, com horizonte A ou E (horizonte


de perda de argila, ferro ou matéria orgânica, de coloração clara) seguido de
horizonte B textural, com nítida diferença entre os horizontes. Apresentam
horizonte B de cor avermelhada até amarelada e teores de óxidos de ferro
inferiores a 15%. Podem ser eutróficos, distróficos ou álicos. Têm profundidades
variadas e ampla variabilidade de classes texturais. Nesses solos constata-
se grande diversidade nas propriedades de interesse para a fertilidade e
uso agrícola (teor variável de nutrientes, textura, profundidade, presença
ou ausência de cascalhos, pedras ou concreções, ocorrência em diferentes
posições na paisagem, entre outras). Dessa forma, torna-se difícil generalizar
suas qualidades. Problemas sérios de erosão são verificados naqueles solos
em que há grande diferença de textura entre os horizontes A e B, sendo tanto
maior o problema quanto maior for a declividade do terreno.

Quando a fertilidade natural é elevada e não há pedregosidade,


sua aptidão é boa para a agricultura. São particularmente indicados para
situações em que não é possível investir grandes aplicações de capital para o
melhoramento e a conservação do solo e das lavouras, o que é mais comum
em áreas de agricultura familiar. Apesar de não ocorrerem em grandes áreas
contínuas no Cerrado, sua presença é frequente. Ocupam, na paisagem, a
porção inferior das encostas onde o relevo apresenta-se ondulado (8% a 20%
de declive) ou forte-ondulado (20% a 45% de declive).

213
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

Cambissolo (síntese)

O Cambissolo é um solo pouco desenvolvido, com horizonte B


incipiente. Uma das principais características dos Cambissolos é serem pouco
profundos e, muitas vezes, cascalhentos. Estes são solos “jovens” que possuem
minerais primários e altos teores de silte até mesmo nos horizontes superficiais
(os latossolos, por exemplo, podem ter muita areia ou argila, mas nunca têm
teores altos de silte). O alto teor de silte e a pouca profundidade fazem com
que estes solos tenham permeabilidade muito baixa. O maior problema,
no entanto, é o risco de erosão. Devido à baixa permeabilidade, sulcos são
facilmente formados nestes solos pela enxurrada, mesmo quando eles são
usados com pastagens. Contudo, existem cambissolos muito férteis no Brasil
(com exceção do Cerrado).
Disponível em: <http://www.soartigos.com/articles/28/1/Tipos-de-solos-brasileiros/Invalid-Lan-
guage-Variable1.html>. Acesso em: 20 jun. 2010.

3.5 DEPÓSITOS LATERÍTICOS


Segundo o Dicionário Livre de Geociências (2010):
Laterização: Processo pedogenético atuante em climas tropicais,
onde uma profunda lixiviação (intemperismo químico) leva o solo a
se enriquecer em hidróxidos de ferro e/ou alumínio. Na laterização
os elementos alcalinos e alcalinos terrosos são os primeiros a serem
lixiviados e, em estados mais agressivos (em função do pH das
soluções), processa-se também a lixiviação da sílica livre e combinada
em minerais silicatados, restando somente um produto de menor
solubilidade, que pode ser uma mistura de hidróxidos de ferro e
alumínio. Caso haja predominância de alumínio, o material residual
recebe o nome de bauxita, importante minério de alumínio. A
laterização é economicamente importante na formação de depósitos
secundários de minérios, como a bauxita, produzida a partir de rochas
alcalinas e de depósitos argilosos aluvionares. A laterização de rochas
ultramáficas (serpentinitos, dunitos e peridotitos, contendo de 0,2 a
0,3% de Ni) leva a um considerável enriquecimento secundário em
níquel e à formação de depósitos economicamente viáveis de Níquel.

FONTES: LATERIZAÇÃO. Disponível em: <http://www.dicionario.pro.br/dicionario/index.php/Lat


eriza%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 18 jun. 2010.

Portanto, você descobriu que a laterização da rocha é um processo natural,


com grande importância econômica.

214
TÓPICO 1 | O INTEMPERISMO E A PEDOGÊNESE

4 COBERTURA VEGETAL - SUA IMPORTÂNCIA NA PRESERVAÇÃO


DO SOLO, DA VIDA E DOS MANANCIAIS AQUÍFEROS
As florestas ocorrem em variadas formas e em diferentes lugares da Terra,
influenciadas por fatores tais como: solo, latitude e altitude, que determinam o
clima da região, ou seja, umidade e temperatura.

As florestas são importantes não apenas para preservar a vida, o solo e


os mananciais, mas atuam como centros energéticos de reciclagem do carbono,
oxigênio e nitrogênio.

Influenciam na temperatura e na pluviosidade, além de formar as mais


importantes reservas genéticas do planeta, uma vez que muitas das plantas que
ainda não foram estudadas podem trazer a cura para muitas doenças.

As florestas funcionam como esponjas que abastecem os mananciais


aquíferos (Figura 98). O volume de água dos rios e ribeirões está relacionado
ao volume pluviométrico e à quantidade e qualidade das florestas. A redução
ou eliminação das florestas comprometerá o abastecimento de água, já que as
raízes das plantas, além de ajudar a evitar a erosão e os movimentos de terra,
facilitam a infiltração da água até os lençóis aquíferos, responsáveis por manter a
quantidade de água dos rios sem grandes variações.

FIGURA 98 – FLORESTA AMAZÔNICA

FONTE: Disponível em: <http://www.dialogosuniversitarios.com.br/UserFiles/91/


Image/Responsabilidade/floresta_amazonica.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2010.

A ausência da vegetação, além de provocar a perda de um valor incalculável


do patrimônio genético nacional, provoca a erosão e a lixiviação de solos férteis.

215
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

É comum ouvir do público desinformado que a água do planeta vai


acabar. Na realidade, a quantidade de água disponível no planeta não sofreu
grandes variações desde a formação da Terra. Entretanto, o que poderá acabar é a
água potável, disponível para consumo humano e de animais, uma vez que a água
poderá secar nas fontes, caso a maior parte da cobertura vegetal seja suprimida,
ou tornar-se poluída, como já está acontecendo com a maior parte dos rios atuais.

As florestas exercem papel importante na regulagem do clima, tendo


em vista que através da fotossíntese absorvem o gás carbônico, liberado em
excesso pela queima de combustíveis fósseis como carvão e petróleo, devolvendo
oxigênio, tão essencial à vida.

É verdade que as florestas, sozinhas, não darão conta de retirar o excesso de


gás carbônico da atmosfera, resultante da queima de combustíveis fósseis; entretanto,
terão um papel importante de amenizar os efeitos do aquecimento global.

Desta forma, a eliminação das florestas aumentará a quantidade de CO²


na atmosfera, agravando o efeito estufa, porque, ao ser derrubada, uma pequena
parte da madeira é aproveitada. O restante permanece no solo da floresta em
decomposição, liberando mais gases do efeito estufa.

No Brasil utiliza-se ainda uma prática antiga no preparo do solo para a


agricultura e pecuária, que é a queimada para “limpeza” da terra. Esta prática,
além de empobrecer o solo, libera grandes quantidades de gás carbônico.

A pecuária e a prática da monocultura, além de eliminarem grande quantidade


de seres vivos, e, portanto, importantes bancos genéticos, eliminam as árvores, que
em situações normais são de fundamental importância para manter a temperatura da
terra em níveis adequados à nossa sobrevivência e à de todas as espécies vivas.

Não significa que a humanidade terá que deixar de cultivar alimentos e


criar animais para suprir a fome do mundo. Mas, com certeza, terá que encontrar
formas mais racionais e inteligentes de produzir mais em menos espaço.

Não há dúvidas de que o valor do banco genético existente numa floresta


é muito maior do que toda a madeira retirada dela, e o uso comercial que se faça
da terra. Entretanto, este valor ainda não está sendo considerado nos mercados
de ações, porque sua perda não está fazendo parte dos cálculos dos economistas.

216
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você estudou que:

• O solo é formado através de um processo de desagregação e decomposição


das rochas, por influência de agentes naturais como água, vento, calor, ação de
agentes biológicos e químicos.

• Existem duas formas de intemperismo: a física ou mecânica e a química.

O intemperismo físico ou mecânico ocorre em função de:


Ação térmica.
Erosão e deposição causadas pela água e o vento.
Formação de gelo.
Cristalização de sais.
Ação orgânica ou biomecânica.

• O intemperismo químico ocorre devido à ação de agentes que dissolvem


minerais como calcário, por exemplo, transformando-o em calcita, presente nas
cavernas de Botuverá, em Santa Catarina; Caverna do Diabo, em São Paulo, na
forma de estalactites e estalagmites.

• Os fatores que influenciam o intemperismo dos minerais são:

a) condições climáticas.
b) características físicas.

• O solo é composto de: minerais, matéria orgânica, água e ar.

• Quanto maior a quantidade de vida que se desenvolve sobre o solo, maior a sua
riqueza.

• O perfil do solo desenvolve-se simultaneamente com o processo de intemperismo


ou meteorização da rocha, sendo que este perfil é definido a partir da superfície
até a rocha matriz.

• Em um solo de formação muito antiga ou maduro, existem três horizontes de solos


antes da rocha matriz, conhecidos como Horizonte A, Horizonte B e horizonte C.

• No horizonte A o processo de intemperização é mais intenso, havendo a


presença de húmus, formado a partir da decomposição da matéria orgânica.

• No horizonte B o solo é mais compactado, mas ainda existe a presença de


matéria orgânica.

217
• No horizonte C o processo de intemperização não está completo, havendo a
presença de blocos de rocha misturados ao solo.

• Quanto à origem, os solos podem ser residuais ou transportados.

• Lixiviação é o processo de percolação da água através das camadas de solo,


onde os nutrientes são transportados das camadas superiores para as mais
profundas, deixando a terra ácida e sem fertilidade.

• Os solos brasileiros são bem estudados, existindo um serviço cartográfico da


Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que vem realizando,
desde a década de 1960, levantamentos cartográficos sistemáticos do território
brasileiro. Esses trabalhos permitiram o desenvolvimento de uma classificação
própria, publicada em 1999, subdividindo os solos em classes, com seis
diferentes níveis hierárquicos. O primeiro nível comporta 14 classes e nós
iremos enfatizar os mais predominantes em relação à extensão territorial. As
três classes mais frequentes em relação à representação geográfica no Brasil são:
o latossolo, o argissolo e o cambissolo.

• As florestas têm papel fundamental na proteção do solo e dos mananciais aquíferos.

218
AUTOATIVIDADE

Como você conheceu as diferentes formas de degradação ambiental


mais importantes, faça um texto que contemple uma visão social, política
econômica e ambiental a respeito das características do local onde mora. De
que forma a degradação ambiental está afetando o local onde você vive? Que
aspectos relacionados à política, à educação, à economia estão levando a tais
condições de degradação?

Leve o texto para sala de aula e faça um debate com os colegas,


orientados pelo(a) Professor(a)-Tutor(a) Externo(a), sobre os problemas
ambientais da região.

Procure aprofundar melhor o tema, realizando uma pesquisa, e


convide seus colegas a escrever artigos para jornais locais, chamando a atenção
da população sobre os problemas ambientais de seu bairro, cidade ou região.

Após o estudo deste tópico vamos fazer um exercício para compreender


como são avaliados os sistemas ambientais aplicados a Teoria Geral dos
Sistemas. Bom trabalho.

1 Sob a ótica ambiental, de acordo com os conceitos de


geomorfologia e que consiste de sua aplicação nas geociências,
analise a seguinte afirmação: “o meio ambiente, construído ou
natural, é um sistema aberto, ou seja, frequentemente, componentes
naturais ou artificiais interferem, desorganizam e reorganizam os sistemas, à
medida que são incluídos ou eliminados componentes do sistema”. Diante desta
afirmação faça uma dissertação a respeito da seguinte situação.

Suponha uma área degradada, aberta com maquinário pesado. Trata-se


de um terreno desprovido de cobertura florestal, com a presença de vossorocas
(valas produzidas por processos erosivos, deslocamento do solo) onde escoam a
água da chuva, levando as possíveis sementes e plântulas em estágio inicial de
crescimento. As espécies animais que antes habitavam esta região não são mais
encontradas na área.

Diante disto, indique:

a) Quais as componentes do sistema: terreno degradado?

b) Quais os componentes do sistema antrópico (humanos) que interferem ou


interferiram na área degradada?

c) Que componentes naturais atuam sobre a área, preservando ou


intensificando a degradação?

219
220
UNIDADE 3
TÓPICO 2

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E


ANTRÓPICAS

1 INTRODUÇÃO
A degradação ambiental consiste na degeneração das condições naturais do
meio ambiente onde as modificações físicas e biológicas do meio trazem prejuízos
para a fauna e a flora, comprometendo a sustentabilidade do ecossistema afetado,
trazendo a diminuição ou perda total da biodiversidade daquele ambiente.

Segundo Ross (2005),


Como toda causa tem efeito correspondente, todo benefício que o
homem extrai da natureza tem certamente também seus malefícios.
Desse modo, parte-se do princípio de que toda ação humana no
ambiente natural ou alterado causa algum impacto em diferentes
níveis, gerando alterações com graus diversos de agressão, levando
às vezes as condições ambientais a processos até mesmo irreversíveis.

O objetivo deste tópico é apresentar aos acadêmicos um panorama a


respeito das causas da degradação ambiental e de que forma esta afeta o equilíbrio
e a dinâmica dos ecossistemas terrestres.

2 ORIGEM E CONCEITOS DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL


Num passado não muito distante, degradação ambiental era preocupação
de ecólogos, ecologistas e ambientalistas malucos que não tinham coisa mais
importante com que se preocupar; até que cientistas sérios e respeitados
começaram a alertar a sociedade e os governos quanto aos riscos e consequências
da degradação ambiental para a sobrevivência de todas as espécies vivas do
planeta, principalmente a humana, obviamente.

Pode-se dizer que a origem da degradação ambiental, provocada por ação


antrópica, surgiu com a civilização, ou seja, a partir da época em que o homem
deixou de ser nômade para fixar-se num determinado espaço. Desde então,
passou a construir moradias, suplantar a vegetação natural, arar a terra para
o cultivo agrícola, a pecuária etc. É claro que todas estas práticas provocaram
impactos insignificantes durante o período em que a base econômica de todos os
povos estava no cultivo da terra, sendo as demais atividades complementares.

221
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

O surgimento da Revolução Industrial e a necessidade sempre crescente


de matéria-prima para atender as fábricas, bem como a poluição gerada na
produção, deram início a um processo de degradação ambiental, devido à
necessidade de extração de minérios, devastação de florestas, a poluição dos rios,
mares e oceanos, desertificação dos solos rurais em função da prática predatória
da agricultura e pecuária para atender a agroindústria.

Estas práticas predatórias, sem os devidos cuidados no manejo e recuperação


do meio ambiente, estão ameaçando o futuro da humanidade e da vida no planeta.

Nas décadas de 1960 a 1970, quando os países desenvolvidos se


aperceberam dos prejuízos ambientais causados pela indústria, passaram a criar
leis e a aplicar multas pesadas às poluidoras, o que levou os governos dos países
subdesenvolvidos, inclusive o governo brasileiro da época, a anunciar ao mundo
que todas as indústrias poluidoras poderiam instalar-se em seus territórios,
porque não havia leis ambientais que inibissem a poluição.

Com matérias-primas abundantes destes países, mão de obra barata,


facilidades fiscais e sem restrições à degradação ambiental, era a senha que as
indústrias necessitavam para instalar-se em países como Brasil, México, Argentina,
entre outros, trazendo algum desenvolvimento econômico, mas enormes prejuízos
ambientais, tanto que os governos, pressionados pela sociedade civil, tiveram que
aprovar leis que inibissem todo tipo de degradação ao meio ambiente.

Demorou até que os governos dos países subdesenvolvidos acordassem


para a forma predatória com que estavam sendo retiradas as matérias-primas
que alimentavam as indústrias, bem como a maneira como estas estavam
contaminando vários ecossistemas através da liberação de seus rejeitos, nos rios,
mares e no ar, sem tratamento adequado.

No Brasil a degradação ambiental está caracterizada na Lei da Política


Nacional do Meio Ambiente, que diz:

“DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: alteração adversa das características do


meio ambiente.

POLUIÇÃO: é a degradação ambiental resultante de atividades que direta


ou indiretamente:

a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população.

b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas.

c) Afetem desfavoravelmente a biota.

d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente.

222
TÓPICO 2 | DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E ANTRÓPICAS

e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais


estabelecidos.

Segundo o Decreto Federal nº 97.632/89, o conceito de degradação


ambiental é definido como o conjunto de “processos resultantes de danos ao meio
ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades,
tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais”.

A criação de leis para inibir as práticas que impliquem em degradação ao


meio ambiente não significou a eliminação do problema; seja porque o poder de
fiscalização do governo é ineficiente; pela falta de consciência da gravidade do
problema, tanto da comunidade em geral quando de empresários poluidores; ou
ainda porque o problema da degradação ambiental é muito mais profundo do
que se imagina, pois está ligado à cultura do consumismo e do desperdício da
civilização atual, cujas práticas tornaram-se insustentáveis.

O fato é que este problema se agravou tanto que, caso a civilização


do presente não encare e resolva com a maior seriedade e competência,
inclusive mudando hábitos de consumo, o que significa deixar de ter uma vida
ambientalmente insustentável para tornar-se sustentável, corremos risco de
sermos extintos enquanto civilização, tal como a conhecemos atualmente.

O alerta não é apenas uma opinião pessoal dos autores deste caderno, mas
uma advertência dos cientistas mais renomados, como James Lovelock, autor da
Teoria de Gaia, que defende a tese de que o planeta Terra é um organismo vivo. Esta
hipótese foi apresentada em 1969 pelo citado cientista britânico, afirmando que a
biosfera do planeta é capaz de gerar, manter e regular as suas próprias condições
para sustentar a vida. Para chegar a essas conclusões, Lovelock, juntamente com
a bióloga norte-americana Lyn Margulis, analisaram pesquisas que comparavam
a atmosfera da Terra com a de outros planetas. Apresentaram a ideia de que a
vida na Terra é autorreguladora, ou seja, é a vida que cria as condições para a
sua própria sobrevivência, e não o contrário, como as teorias mais conhecidas
sugerem. O nome Gaia é uma homenagem à deusa grega da Terra, Gaia. Esta
teoria é vista com ceticismo por cientistas mais tradicionalistas, entretanto a Teoria
de Gaia encontra simpatizantes entre grupos ecológicos e pesquisadores de todos
os países. Diante da ameaça para a humanidade do aquecimento global e a crise
climática no mundo, a hipótese vem ganhado credibilidade entre cientistas.

James Lovelock é enfático ao afirmar que caso a civilização do presente


não mude rapidamente sua matriz energética de combustíveis fósseis para outras
fontes sustentáveis, muito pouco ou quase nada sobrará da civilização atual,
pois o planeta estará tão quente que a vida só sobreviverá nas proximidades dos
círculos polares e altas motanhas, pois a maior parte das terras ou estará inundada
pelo mar ou estéril, pelo excesso de calor.

Na sequência, estudaremos as diferentes formas de degradação ambiental


resultante da ocupação do espaço geográfico.v

223
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

DICAS

Você já ouviu falar sobre a Teoria de Gaia, além do texto que acabou de ler?
Caso já conheça, procure se aprofundar. Caso não conheça, faça uma busca na internet que
encontrará muitas informações importantes.

3 A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NOS ESPAÇOS RURAIS E


URBANOS
A ocupação do espaço geográfico e a utilização dos recursos naturais são
uma necessidade intrínseca à sobrevivência humana e base do desenvolvimento
econômico. Sustentabilidade ambiental e desenvolvimento econômico deveriam ser
inseparáveis; entretanto, a sociedade capitalista ou socialista não utiliza esta lógica.
Muitos empresários e governantes justificam a degradação do meio ambiente em
função da necessitade de “progresso” e do “desenvolvimento”, desenvolvimento
este que atende apenas uns poucos, pois não é possível considerar-se que um
país está se desenvolvendo devido ao forte crescimento econômico, às custas da
destruição de seus ecossistemas. Justamente o bem mais precioso e poupança das
gerações futuras foi trocado por dinheiro, que deixou atrás um rastro de destruição.

O desenvolvimento econômico dos países industrializados tem


possibilitado a transferência de algumas tecnologias que ficaram obsoletas
em seus países de origem e que, em geral, trazem prejuízos para os países
subdesenvolvidos, como é o caso dos pesticidas e fertilizantes, que têm mudado
o modo como os agricultores dos países mais pobres utilizam o solo, aumentando
a produtividade, mas estão alterando os ecossistemas na agricultura.

A utilização de produtos químicos, a mecanização, a irrigação artificial, com


o objetivo de aumentar as safras para a exportação, têm aprisionado o produtor
rural num círculo vicioso de endividamento e destruição do solo, com o uso de
defensivos agrícolas, agricultura intensiva monocultora, que destrói a fertilidade do
solo, causando prejuizos a médio e longo prazo para o proprietário da terra e o país.

Nos países industrializados, a agricultura mecanizada e o uso intensivo


de produtos químicos estão causando a erosão do solo, queda na produtividade
da terra e contaminação de lençóis de água. Os Estados Unidos têm um índice
de erosão do solo por hectare de terra cultivada maior do que o Peru, embora os
índices de erosão do solo em muitos países em desenvolvimento sejam maiores
que nos Estados Unidos.

Em todo o mundo, mais de seis milhões de hectares de terrra são


permanentemente reduzidos, a cada ano, a condições desérticas. Vinte e um
milhões adicionais de hectares não geram retornos econômicos, em virtude da

224
TÓPICO 2 | DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E ANTRÓPICAS

desertificação, que é uma das causas diretas da escassez absoluta. A degradação


e perda do solo podem ocasionar grandes gastos econômicos.

No Canadá, um relatório do governo estimou que a degradação do solo


custava ao produtor US$ 1 bilhão por ano. Tais custos levaram países como a ex-
União Soviética, atual Rússia, a reconsiderar os planos de expansão da agricultura
para terras marginais.

Outro problema grave nos espaços rurais é a dificuldade, apesar da


obrigatoriedade da lei, de manter as matas ciliares e as reservas legais em cada
propriedade. Fator este que tem contribuído para a constante diminuição no
volume de água que brota dos mananciais.

A necessidade de aumento de áreas de cultivo e de pastagens, bem como a


demanda pelo consumo da madeira, têm exercido forte pressão sobre as florestas.

Países tropicais como o Brasil, Indonésia, países da África etc, que sofreram
forte explosão demográfica e aumento da dívida externa, estão exportando suas
florestas na forma de madeira, para equilibrar suas balanças comerciais, o que, na
maioria das vezes, nem sequer ameniza a miséria de seu povo, já que apenas uns
poucos ficam com os lucros da venda da madeira.

Segundo o Manual Global de Ecologia (1996, p. 48):


A madeira das florestas tropicais gera 8 bilhões, a cada ano, com
comércio exterior. Por ano, cerca de 5 milhões de hectares de florestas
tropicais são cortadas para a obtenção de madeira, celulose e outros.
Muitas vezes, florestas inteiras chegam a desaparecer com o corte de
árvores... A cada ano, uma área estimada de 8 milhões de hectares de
florestas é desmatada para ceder lugar ao cultivo de alimentos. Sem o
uso extensivo de fertilizantes, solos desmatados perdem a fertilidade
em poucos anos. Consequentemente, os agricultores são forçados a
desmatar mais florestas.O Brasil é um exemplo de como a pobreza
e programas inadequados de governo levam ao desflorestamento
em massa na Amazônia. Com o início em meados da década de 60,
um grande número de agricultores sem terra começou a entrar na
região à procura de terras e emprego. O governo os atraiu à região,
promovendo uma baixa taxação e incentivo de linhas de crédito.
Os ocupantes descobriram que o solo da região era frágil e poderia
suportar a agricultura intensiva e criação de gado apenas por alguns
poucos anos. Na década de 1970, o desflorestamento em partes
da Amazônia, especialmente em Rondônia, alcançou proporções
alarmantes. Por volta de 1988, quase 25% da floresta tropical original
de Rondônia haviam sido desmatados. Apesar das vastas áreas de
florestas derrubadas e as numerosas terras de criação e cultivo na
região, a Amazônia ainda é muito pobre e contribui apenas com
3% da renda nacional do Brasil. Somente em 1988 o Brasil deve ter
sofrido queimadas em 20 milhões de hectares de florestas e cerrados
para que fossem abertas clareiras para o cultivo e criação de gado.
As queimadas causaram maciça poluição do ar e, provavelmente,
respondem por quase um décimo de todas as emissões de carbono
através de atividades humanas.

225
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

Ao abordarmos os problemas de degradação ambiental no espaço


urbano, é necessário contextualizar o que causou a explosão demográfica nas
cidades, que acabaram se transformando em destino de até 96% ou mais das
populações de países desenvolvidos, e, entre 60% a 85% dos habitantes dos
países subdesenvolvidos. No Brasil a população urbana começou a ultrapassar a
rural no final da década de 1960.

Entretanto, é necessário salientar que este processo de urbanização tardio


ocorreu apenas nos países subdesenvolvidos, mais precisamente, após a Segunda
Guerra Mundial, quando tais nações, que até então tinham a base de sua economia
no setor primário, começaram a se industrializar de forma muito rápida, ao
mesmo tempo em que as tecnologias agrárias chegavam ao campo, causando o
desemprego em massa. Com desemprego no campo, as populações não tiveram
outra solução a não ser migrar para as cidades, o que provocou o inchaço das
mesmas, causado pela explosão demográfica, corroborado pelos avanços no
campo da medicina, que reduziram drasticamente as taxas de mortalidade.

Nos países do chamado mundo desenvolvido, a urbanização ocorreu de


forma lenta desde o início da primeira Revolução Industrial, em meados do século
XVIII. Portanto, os problemas urbanos, em especial os ambientais, de moradia,
transportes, foram sendo solucionados de forma gradativa.

Já nos países subdesenvolvidos, em função da rápida urbanização, as


cidades não passaram por um processo de crescimento mas de inchaço, haja vista
que o poder público, por falta de competência, de condições ou por corrupção,
não consegue atender à demanda dessas levas de migrantes do campo com
moradia, transporte, saneamento, escolas, hospitais, creches etc. O resultado é o
processo de favelização das periferias das médias e grandes cidades de todos os
países economicamente atrasados.

A favelização trouxe problemas como violência urbana, criminalidade e,


principalmente, degradação ambiental, com esgoto e lixo correndo a céu aberto
por ruelas e ribeirões.

A necessidade de constante expansão urbana também exerce forte


pressão sobre florestas e áreas de mananciais, utilizados para a construção de
novos condomínios, portos, aeroportos, vias de circulação, aumento das áreas
industriais, crescimento de favelas, entre outros.

Desta forma, o poder público em particular e a sociedade em geral,


necessitam encarar e tentar resolver problemas tão diversos quanto violência,
saneamento, destino do lixo, poluição industrial e residencial, educação, saúde,
transporte público, meio ambiente; enfim, a cidade cria facilidades, mas também
uma enorme quantidade de problemas, com soluções difíceis ou impossíveis.

226
TÓPICO 2 | DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E ANTRÓPICAS

4 DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DE ÁGUAS SUPERFICIAIS E


SUBTERRÂNEAS
A água é o bem mais precioso do planeta e fonte da vida. Nenhum planeta
pode sustentar a vida, tal como a conhecemos, sem água. Tanto é que os cientistas,
ao procurarem indícios de vida em outros planetas, procuram pela presença de
água. Seja subterrânea, na forma de gelo ou de vapor, a água é um indicador da
possibilidade de exister vida extraterrestre.

Já salientamos que a água existente no planeta Terra continua praticamente


inalterável desde a sua formação, isso porque a quantidade do vapor de água que
é perdido pela atmosfera para o espaço sideral é compensada por mais vapor
de água que entra no ciclo hídrológico, proveniente do manto da Terra, liberado
durante as explosões vulcânicas. Portanto, a água é um bem renovável, que não
corre o risco de acabar por causas naturais, apenas por intervenção humana, seja
poluindo ou desmatando as florestas, que são as fontes de armazenamento de
água durante o período de estiagens prolongadas.

A extinção das florestas implicará não apenas na perda da biodiversidade,


mas a interrupção do ciclo hidrológico equilibrado, tal como o conhecíamos e
que vem se alterando a cada ano, pois as matas contribuem com grande parte do
vapor d’água que alimentam as nuvens e fazem chover.

A devastação da Amazônia não terá implicações ecológicas e climáticas


apenas na bacia amazônica, mas em todo o Brasil e no planeta, pois, como vimos
no estudo da Teoria Geral de Sistemas e na Teoria do Caos, nenhum acontecimento
acontece de forma isolada, uma vez que cada elemento que forma a grande teia da
vida é um sistema e está conectado a sistemas maiores e menores; de maneira que
um acontecimento na Amazônia terá obrigatoriamente implicações catastróficas
planetárias, em especial no clima, já que a Amazônia não é sozinha o pulmão do
mundo, como foi aventado, mas é, sim, um dos mais importantes recicladores
de ar do planeta e reguladores dos ciclos de chuvas, importantes para abastecer
permanentemente os mananciais aquíferos, superciais e subterrâneos.

A água cobre três quartos da superfície da Terra; entretanto, em mais de


97% a água disponível é salgada e menos de 3% é doce. Deste valor, 77% estão
congelados nos polos; 22% compõem-se de águas subterrâneas; 1% encontra-se
nos lagos, rios, plantas e animais.

Outra questão importante a salientar é que estes 25% de águas disponíveis,


somados às águas superficiais e subterrâneas, estão mal distribuídos pelo planeta.
Regiões como na Ásia, que possuem altas densidades populacionais, têm escassez
de recursos hídricos. Já a Amazônia, com menos de dez habitantes por km², possui
a maior bacia hidrográfica do mundo, cuja vazão possui o maior volume de água.

227
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

Apesar desta pequena fração disponível para consumo humano,


agricultura, dessedentação de animais, indústria, saneamento etc., a civilização
do presente vem poluindo de forma criminosa rios, lagos e nascentes, com
agrotóxicos da agricultura, dejetos industriais de todo tipo e tamanho, esgoto
das cidades, entre outros. Boa parte dos dejetos que a sociedade capitalista e
consumista não recicla, por vários fatores, é despejada em cursos d’água.

A água é poluída quando as atividades humanas a tornam imprópria para o


consumo. A poluição das águas superficiais pode ser revertida quando se eliminam
as fontes poluidoras e se preservam matas ciliares e matas que protegem nascentes.
O mesmo não acontece com as águas subterrâneas, que, quando poluídas, torna-se
extremamente caro para corrigir o problema, o que o torna proibitivo.

As principais fontes de poluentes tóxicos das águas nos países desenvolvidos


são a indústria e a mineração. As atividades industriais produzem poluentes a
partir da fabricação de gasolina e derivados de petróleo, pesticidas e herbicidas;
fertilizantes, aço e outros metais, derivados da celulose. Os principais poluentes
industriais são: compostos orgânicos de cloridato, minerais e derivados de petróleo,
fenol, nitrogênio, fósforos, mercúrio, chumbo e cádmio. Há ainda outras importantes
fontes de poluição das águas que incluem descarga de detritos, escoamento urbano e
rural, precipitação ácida e o lixo radioativo próximo a instalações nucleares.

Os depósitos de água subterrânea estão mais protegidos dos processos


poluidores do que os de água superficial, pois a camada de solo sobrejacente
atua como filtro físico e químico. A possibilidade de um poluente atingir a água
subterrânea dependerá dos seguintes motivos:

• Características do aquífero: os mais vulneráveis são os aquíferos formados


pelo lençol freático. Já os confinados e semiconfinados, pela sua localização,
são mais difíceis de serem poluídos.

• Profundidade do nível estático: consiste na espessura da zona de aeração.


Esta zona atua como um reator físico-químico; por esta razão, sua espessura
tem papel importante. Espessuras maiores permitirão maior tempo de
filtragem, além do que aumentarão o tempo de exposição do poluente aos
agentes oxidantes e adsorventes presentes na zona de aeração.

• Permeabilidade da zona de aeração e do aquífero: a permeabilidade da


zona de aeração é fundamental quando se pensa em poluição. Uma zona
de aeração impermeável ou pouco permeável é uma barreira à penetração
de poluentes no aquífero. Aquíferos extensos podem estar parcialmente
recobertos por camadas impermeáveis em algumas áreas, enquanto em
outras acontece o inverso. Estas áreas de maior permeabilidade atuam como
zona de recarga e têm uma importância fundamental em seu gerenciamento.

228
TÓPICO 2 | DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E ANTRÓPICAS

Por outro lado, alta permeabilidade (transmissividade) permite uma


rápida difusão da poluição. O avanço da mancha poluidora poderá ser acelerado
pela exploração do aquífero, na medida em que aumenta a velocidade do fluxo
subterrâneo em direção às áreas onde está havendo a retirada de água. No
caso de aquíferos litorâneos, a superexploração poderá levar à ruptura do
frágil equilíbrio existente entre água doce e água salgada, produzindo o que se
convencionou chamar de intrusão de água salgada.

• Teor de matéria orgânica existente sobre o solo: a matéria orgânica tem


grande capacidade de adsorver uma gama variada de metais pesados
e moléculas orgânicas. Estudos no Estado do Paraná, onde está muito
difundida a técnica do plantio direto, têm mostrado que o aumento do teor de
matéria orgânica no solo tem sido responsável por uma grande diminuição
do impacto ambiental da agricultura. Tem diminuído a quantidade de nitrato
e sedimentos carregados para os cursos d’água. Segundo técnicos estaduais,
isto tem modificado o próprio aspecto da água da represa de Itaipu.

• Tipo dos óxidos e minerais de argila existentes no solo: sabe-se que estes
compostos, por suas cargas químicas superficiais, têm grande capacidade
de reter uma série de elementos e compostos.

Na contaminação de um solo por nitrato, sabe-se que o manejo de


fertilizantes, com adição de gesso ao solo, facilita a reciclagem do nitrogênio pelos
vegetais e, consequentemente, a penetração do nitrato no solo é menor. Da mesma
forma, a mobilidade dos íons nitratos é muito dependente do balanço de cargas.
Solos com balanço positivo de cargas suportam mais nitrato. Neste particular, é
de se notar que nos solos tropicais os minerais predominantes são óxidos de ferro
e alumínio e caolinita, que possuem significantes cargas positivas, o que permite
interação do tipo íon-íon (interação forte) com uma gama variada de produtos que
devem sua atividade pesticida a grupos moleculares iônicos e polares.

A poluição capaz de atingir as águas subterrâneas pode ter origem


variada. Considerando que os aquíferos são corpos tridimensionais, em geral
extensos e profundos, diferentemente, portanto, dos cursos d’água, a forma da
fonte poluidora tem importância fundamental nos estudos de impacto ambiental.

• Fontes pontuais de poluição: são as que atingem o aquífero através de


um ponto. Exemplos: sumidouros de esgotos domésticos, comuns em
comunidades rurais, aterros sanitários, vazamentos de depósitos de
produtos químicos, vazamentos de dutos transportadores de esgotos
domésticos ou produtos químicos. Estas fontes são responsáveis por
poluições altamente concentradas na forma de plumas.

229
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

• Fontes lineares de poluição: são as provocadas pela infiltração de águas


superficiais de rios e canais contaminados. A possibilidade desta poluição
ocorrer dependerá do sentido de fluxo hidráulico existente entre o curso d’água
e o aquífero subjacente. É necessário enfatizar que, ao longo de um mesmo
curso, há lugares onde o fluxo se dá do aquífero para o talvegue e outros onde
se passa o inverso, isto é, as águas do rio se infiltram em direção ao aquífero.
A existência de poços profundos em funcionamento nas proximidades do
curso d’água poderá forçar a infiltração de água contaminada no aquífero,
invertendo o seu fluxo ou aumentando sua velocidade.

• Fontes difusas de poluição: são as que contaminam áreas extensas.


Normalmente são devidas a poluentes transportados por correntes aéreas,
chuva e pela atividade agrícola. Em aglomerados urbanos, onde não haja
rede de esgotamento sanitário, as fossas sépticas e sumidouros estão de
tal forma regularmente espaçadas que o conjunto acaba por ser uma fonte
difusa de poluição. A poluição proveniente das fontes difusas se caracteriza
por ser de baixa concentração e atingir grandes áreas.

FONTE: POLUIÇÃO da Água Subterrânea. Disponível em: <http://www.meioambiente.pro.br/


agua/guia/poluicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2010.

É verdade que necessitamos explorar os recursos naturais, mas não é verdade


que estes necessitam ser explorados de forma predatória e insustentável. A causa
desta insustentabilidade no uso dos recursos do planeta está no modelo de sociedade
que estimula o consumo para alimentar as engrenagens da economia e gerar
riquezas. Entretanto, se este modelo levará ao esgotamento dos recursos necessários
à sobrevivência da vida, colocando em risco a civilização, então está errado.

Somos estimulados ao consumo e aceitamos, na maioria das vezes, os apelos


da mídia para consumir muitos produtos supérfluos. Nós, enquanto consumidores,
estamos na ponta do processo, e, portanto, a responsabilidade é muito mais individual
do que coletiva. De que forma podemos colaborar para frear a destruição dos
recursos do planeta? Consumindo apenas o necessário; não consumindo produtos
de empresas que são reconhecidamente poluidoras ou que extraem os recursos de
forma insustentável; evitar comer carne vermelha, ou certificar-se de que a carne
não é de gado criado em área desmatada; não comprar madeira de empresa que
não possua a certificação de extração legal e sustentável; compensar a emissão dos
gases estufa utilizando mais o público, plantando árvores todos os anos. Enfim, são
muitas as maneiras de pressionar empresas a não poluir e degradar o meio ambiente;
o que não podemos é ficar parados esperando que alguém resolva por nós os sérios
problemas ambientais que enfrenta e enfrentará nosso planeta.

230
TÓPICO 2 | DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E ANTRÓPICAS

DICAS

Agora que você estudou sobre as águas superficiais e subterrâneas e as


diferentes formas de poluição, leia o texto da leitura complementar no final desta UNIDADE,
sobre o Aquífero Guarani e sua importância para os países que estão sobre ele.
Boa leitura.

5 DESERTIFICAÇÃO
A desertificação é um processo de degradação da terra que vem afetando
a maioria dos países do mundo, incluindo o Brasil.

A ONU, preocupada com este problema que vem afetando a produção


de alimentos, ampliou os debates sobre o tema, realizando em agosto de 1977-
em Nairóbi, no Quênia, a Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação.
Durante a conferência foi criado o Plano das Nações Unidas para o Combate à
Desertificação-PNUCD.

A ECO-92 ou Rio-92, como ficou conhecida a Conferência das Nações


Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em
junho de 1992, autorizou a convocação do processo de negociação da Convenção
Internacional de Combate à Desertificação e Seca, nos países afetados por estes
problemas, em especial os países africanos.

Ainda na Rio-92 foi formado o Comitê Intergovernamental de Negociação


da Desertificação - CIND.

Durante a Conferência da ONU no Rio de Janeiro foi criada a Agenda


21, ou seja, a agenda ambiental para o Século 21, que em seu capítulo 12 definiu
desertificação como: “a degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e
subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles as variações climáticas e
as atividades humanas”.

Em 17 de junho de 1994 é aprovado o texto da Convenção Internacional de


Combate à Desertificação, por esta razão tornou-se o Dia Mundial do Combate à
Desertificação.

Depois de ser ratificado por mais de 50 países, o texto entrou em vigor


em 26 de outubro de 1996. Atualmente, mais de 100 países já assinaram o texto
aprovado na Convenção de 1994.

231
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

5.1 CAUSAS DA DESERTIFICAÇÃO


É certo que a desertificação não atinge todas as regiões do planeta e nem
todos os tipos de climas. Como foi mencionado no próprio conceito da Agenda
21, atinge as terras das regiões áridas, semiáridas e subúmidas, já propensas
a este problema, acentuado por fatores climáticos e ação humana para uso na
agricultura, pecuária, extração de madeira, entre outras, que, utilizada de forma
predatória, acentua o processo de desertificação destas áreas.

Os rigores climáticos destas regiões com baixa pluviosidade deram origem


a uma fauna e flora adaptadas à ausência de chuva por períodos que chegam
a durar anos. Entretanto, mudanças no clima provocadas pelo aquecimento
global, associado à ação antrópica, estão criando desertos em áreas que antes
alimentavam milhões de pessoas.

5.2 CONSEQUÊNCIAS DA DESERTIFICAÇÃO


O maior impacto da desertificação de terras agriculturáveis é o social. A
quebra na safra de produção de alimentos tem gerado uma onda de famintos e
pessoas desnutridas no entorno destas áreas. A solução para estas populações é
migrar para as grandes cidades em busca de melhores condições.

Sem condições e estrutura para receber levas de migrantes sem qualificação,


as grandes cidades dos países subdesenvolvidos afetados pelo problema da
desertificação acabam inchando, com o aumento de sub-habitações ou favelas, como
são conhecidas no Brasil, além do aumento da criminalidade, ausência de saneamento
básico, fornecimento de água tratada, aumento de doenças e baixa expectativa de
vida. Desta forma vivem milhões de pessoas ao redor do mundo, que dificilmente
serão integradas a uma economia de mercado cada vez mais globalizada.

O prejuízo econômico gerado pela perda de milhões de hectares de terras,


antes cultiváveis, gera um alto custo para sua recuperação, quando é possível.
Muitas destas regiões estão se tornando irrecuperáveis, tal o grau de degradação
a que foram submetidas.

Em torno de 37% das terras do planeta (Quadro 5) estão nas regiões áridas,
semiáridas e subúmido seco, onde vivem em torno de 1/6 da população mundial
e cujos indicadores sociais apontam para baixo padrão nutricional, baixa renda,
baixo nível de instrução, ausência de tecnologias modernas, entre outros.

Há ainda a perda, às vezes definitiva, de espécies endêmicas que poderiam


fornecer material genético para o fortalecimento de plantas de valor econômico
e alimentar, com melhor poder de adaptação a climas áridos e semiáridos,
utilizando pouca ou nenhuma irrigação, além de curas de doenças, a descoberta
de plantas de valor econômico e alimentar. Enfim, a extinção de espécies nativas,
seja da fauna ou da flora, é um dano irreparável para toda a humanidade.

232
TÓPICO 2 | DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E ANTRÓPICAS

QUADRO 5 – TERRAS DEGRADADAS EM TODO O PLANETA


% do total das
Km ² terras secas

1 Área degradadas por irrigação 430.000 0,8


2 Áreas degradadas por
2.160.000 4,1
agricultura de sequeiro
3 Áreas degradadas por
pecuária(solos e vegetações 7.570.000 14,6
degradadas)
4 Áreas secas com degradação
de solos induzidas pelo homem 10.160.000 19,5
(ISRIC, 1+2+3)
5 Degradação das terras de
pastoreio(degradação de
25.760.000 50,0
vegetação sem degradação de
solos) - ICASALS
6 Total das áreas secas
35.920.000 69,0
degradadas(4+5)

FONTE: Disponível em: <www.desertdesmat.hpg.ig.com.br>. Acesso em: 21 jun. 2010.

5.3 DESERTIFICAÇÃO NO BRASIL


Como vimos, a Convenção das Nações Unidas para Combate à
Desertificação qualificou as áreas sujeitas à desertificação, aquelas de climas
árido, semiárido e subúmido.

No Brasil tais áreas estão localizadas na região Nordeste e no Norte de


Minas Gerais, no chamado Polígono da Seca, segundo o Programa de Combate à
Desertificação e Nitigação dos Efeitos da Seca na América do Sul (2010).

O mapa da susceptibilidade do Brasil, elaborado pelo MMA a partir


de trabalho realizado pelo Centro de Sensoriamento Remoto do IBAMA,
determinou três categorias de susceptibilidade: Alta, Muito Alta e Moderada.
As duas primeiras referem-se respectivamente às áreas áridas e semiáridas
definidas pelo índice de aridez. A terceira é resultado da diferença entre a
área do Polígono das Secas e as demais categorias. Assim, de um total de
980.711,58 km2 de áreas susceptíveis, 238.644,47 km2 são de susceptibilidade
Muito Alta, 384.029,71 km2 são de susceptibilidade Alta e 358,037,40 km2 são
moderadamente susceptíveis.

233
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

O processo de desertificação se manifesta de duas maneiras diferentes:

I) difusa no território, abrangendo diferentes níveis de degradação dos solos,


da vegetação e dos recursos hídricos;

II) concentrada em pequenas porções do território, porém com intensa


degradação dos recursos da terra.

Os estudos disponíveis indicam que a área afetada de forma Muito


Grave é de 98.595 km2, 10% do semiárido e as áreas afetadas de forma Grave
atingem 81.870 km2, 8% do território. Deve-se acrescentar que as demais áreas
sujeitas ao antropismo, 393.897 km2, sofrem degradação Moderada.

Além destas áreas com níveis de degradação difusos, podem ser citadas
quatro áreas com intensa degradação, segundo a literatura especializada,
os chamados Núcleos de Desertificação. São eles: Gilbués-PI, Irauçuba-CE,
Seridó-RN e Cabrobó-PE, totalizando uma área de 18.743,5 km2.

234
TÓPICO 2 | DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: CAUSAS NATURAIS E ANTRÓPICAS

O desenvolvimento das atividades de preparação do Plano Nacional


de Combate à Desertificação (PNCD) leva em consideração estes dois níveis
de ocorrência do fenômeno, sendo que as ações requeridas para cada um deles
serão de naturezas diferentes.

Vimos que a desertificação é um sério problema que afeta milhões de


pessoas no mundo, problema este do qual o Brasil não escapa, uma vez que
possuímos terras dentro das áreas mapeadas pela Convenção das Nações Unidas
para o Combate à Desertificação.

Entretanto, há extensas áreas, especialmente no Brasil, que não estão


sob influência dos climas árido e semiárido, mas que vêm sofrendo com a
desertificação. São regiões do Rio Grande do Sul, onde a desertificação avança
sobre as áreas de pastagens, devido ao pisoteio dos animais, e no Paraná e outras
regiões do Brasil, devido à monocultura intensiva.

235
RESUMO DO TÓPICO 2
• A degradação ambiental consiste na degeneração das condições naturais do meio
ambiente onde as modificações físicas e biológicas do meio trazem prejuízos
para a fauna e flora, comprometendo a sustentabilidade do ecossistema afetado,
trazendo a diminuição ou perda total da biodiversidade daquele ambiente.

• A origem da degradação ambiental, provocada por ação antrópica, surgiu com


a civilização, ou seja, a partir da época em que o homem deixou de ser nômade
para fixar-se num determinado espaço.

• Apesar de existirem muitas leis no Brasil para coibir a degradação ambiental,


estas geralmente não são aplicadas em todos os casos, seja devido à falta de
fiscalização ou por corrupção.

• Em todo o mundo, mais de seis milhões de hectares de terrra são


permanentemente reduzidos, a cada ano, a condições desérticas. Vinte e um
milhões adicionais de hectares não geram retornos econômicos, em virtude da
desertificação, que é uma das causas diretas da escassez absoluta. A degradação
e perda do solo podem ocasionar grandes gastos econômicos.

• Países tropicais como o Brasil, Indonésia, países da África etc, que sofreram
forte explosão demográfica e aumento da dívida externa, estão exportando
suas florestas na forma de madeira, para equilibrar suas balanças comerciais, o
que na maioria das vezes nem sequer ameniza a miséria de seu povo, já que uns
poucos ficam com os lucros da venda da madeira.

• A água cobre três quartos da superfície da Terra; entretanto, em mais de 97%


a água disponível é salgada e menos de 3% é doce. Deste valor, 77% estão
congeladas nos polos; 22% compõem-se de águas subterrâneas; 1% encontra-se
nos lagos, rios, plantas e animais.

• Apesar desta pequena fração disponível para consumo humano, agricultura,


dessedentação de animais, indústria, saneamento etc, a civilização do presente
vem poluindo de forma criminosa rios, lagos e nascentes, com agrotóxicos da
agricultura, dejetos industriais de todo tipo e tamanho, esgoto das cidades,
entre outros. Boa parte dos dejetos que a sociedade capitalista e consumista
não recicla, por vários fatores, é despejada em cursos d’água.

236
• As principais fontes de poluentes tóxicos das águas nos países desenvolvidos
são a indústria e a mineração. As atividades industriais produzem poluentes a
partir da fabricação de gasolina e derivados de petróleo, pesticidas e herbicidas;
fertilizantes, aço e outros metais, derivados da celulose. Os principais poluentes
industriais são: compostos orgânicos de cloridato, minerais e derivados de
petróleo, fenol, nitrogênio, fósforos, mercúrio, chumbo e cádmio. Há ainda
outras importantes fontes de poluição das águas, que incluem descarga de
detritos, escoamento urbano e rural, precipitação ácida e o lixo radioativo
próximo a instalações nucleares.

• Os depósitos de água subterrânea estão mais protegidos dos processos


poluidores do que os de água superficial, pois a camada de solo sobrejacente
atua como filtro físico e químico.

Entretanto, a poluição acontece e os mananciais aquíferos estão sendo


poluídos.

• A ONU, preocupada com o problema da desertificação, que vem afetando a


produção de alimentos, realizou em agosto de 1977- em Nairóbi, no Quênia, a
Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação. Durante a conferência foi
criado o Plano das Nações Unidas para o Combate à Desertificação – PNUCD.

• Durante a Conferência da ONU no Rio de Janeiro foi criada a Agenda 21, ou


seja, a agenda ambiental para o Século 21, que em seu capítulo 12 definiu
desertificação como: “a degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e
subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles as variações climáticas
e as atividades humanas”.

• Entre as principais causas da desertificação estão a ação humana e as mudanças


climáticas.

• Entre as principais consequências da desertificação estão os problemas


econômicos, sociais e perda da biodiversidade.

237
AUTOATIVIDADE

1 Como você conheceu as diferentes formas de degradação ambiental mais


importantes, faça um texto que contemple uma visão social, política
econômica e ambiental a respeito das características do local onde mora. De
que forma a degradação ambiental está afetando o local onde você vive?
Que aspectos relacionados à política, à educação, à economia estão levando
a tais condições de degradação?

2 Leve o texto para sala de aula e faça um debate com os colegas,


orientados pelo(a) Professor(a)-Tutor(a) Externo(a), sobre os
problemas ambientais da região.

3 Procure aprofundar melhor o tema, realizando uma pesquisa, e convide


seus colegas a escrever artigos para jornais locais, chamando a atenção da
população sobre os problemas ambientais de seu bairro, cidade ou região.

238
UNIDADE 3
TÓPICO 3

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE


RECUPERAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Estudamos no tópico anterior a respeito da degradação ambiental e suas
consequências para os meios rural e urbano, bem como para os mananciais
aquíferos. A melhor maneira de evitar áreas degradadas, sem dúvida, é não
criá-las. Entretanto, como não é possível evitar, em função da necessidade de
extração de recursos naturais, a necessidade de recuperar as áreas degradadas
tem se destacado em função da constante preocupação com a qualidade do meio
ambiente físico, biológico, químico e climático.

2 CONCEITO E LEGISLAÇÃO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREA


DEGRADADA
Já abordamos, no tópico anterior, que a degradação ambiental tornou-se
um problema para a humanidade desde o início da Revolução Industrial, e vem
acentuando-se à medida que a população mundial cresce e passa a exercer maior
pressão sobre os recursos naturais.

Em função do desrespeito à natureza e da ausência de consciência quanto


à importância da preservação dos ecossistemas, foi necessário criar leis para
regular as atividades potencialmente poluidoras; conceituar corretamente o
que é degradação ambiental; determinar as regras para recuperação; estabelecer
punição aos infratores da lei, entre outros atributos da legislação ambiental.

Desta forma, para regular estas atividades potencialmente poluidoras, foi


criada uma série de instrumentos legais, a começar pela Constituição Federal,
que ditam normas e procedimentos para que as operações transcorram dentro
das condições de controle.

239
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

O artigo 225 da Constituição, o Capítulo do Meio Ambiente, estabelece


que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-la e preservá-la para as presentes
e futuras gerações”. Este artigo incumbe ao poder público “exigir, na forma da
lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente degradadora do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”.
Determina-se, ainda, que “aquele que explorar recursos minerais fica obrigado
a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida
pelo órgão público competente, na forma da lei”.

No que diz respeito às sanções penais, a Constituição Federal estabeleceu


que “as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar o dano”.

A promulgação da Lei nº 9.605, de 12/02/98, determinou que as questões


relacionadas a danos ambientais fossem transferidas do âmbito administrativo
para o âmbito criminal. Tal lei, conhecida como Lei de Crimes Ambientais,
determina as condições nas quais prejuízos ambientais passarão a ser considerados
como crime, com penas de indenização e de reclusão.

Importante ressaltar ainda a Lei nº 6.938/81 (Política Nacional de Meio


Ambiente), que adota o critério da responsabilidade objetiva em seu artigo 14º, “...o
poluidor é obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.”

Conforme Salvador e Miranda (2007, p. 1) a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de


1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274/90, dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação.

Em seu art. 4º, afirma que a Política Nacional do Meio Ambiente visará:

VII - (...) obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e,


ao usuário da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
econômicos.

O Decreto nº 97.632, de 10 de abril de 1989, que dispõe sobre a


regulamentação do artigo 2º, inciso VIII, da Lei nº 6.938, determina:

Art. 1º - Os empreendimentos que se destinem à exploração de recursos


minerais deverão, quando da apresentação do Estudo de Impacto Ambiental
- EIA e do Relatório de Impacto Ambiental – RIMA – submeter à aprovação
do órgão ambiental competente um plano de recuperação de área degradada.

240
TÓPICO 3 | RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO

Em seu art. 2º, o mesmo decreto define o conceito de degradação:

[...] são considerados como degradação os processos resultantes dos


danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas
propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos
ambientais.

A restauração de uma determinada área degradada após a extração


de minérios, por exemplo, é algo impossível de acontecer, tendo em vista que
restaurar implica na reprodução exata das condições do local antes da alteração
sofrida. A reabilitação, que segundo Kopezinski (2000) parece ser a proposta
mais próxima da realidade, está ligada ao uso e ocupação do solo, ou seja,
uma reutilização do local minerado como área de lazer, residencial, comercial,
industrial, entre outros. Já a recuperação, por sua vez, implica em colocar no
local alterado condições ambientais as mais próximas possíveis das condições
anteriores.

FIGURA 99 – ÁREA DEGRADADA INICIANDO O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.mgamineracao.com.br/areas/ambiente/


recuperacao/REC-003.JPG>. Acesso em: 18 jun. 2010.

241
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

FIGURA 100 – ÁREA DEGRADADA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FONTE: Disponível em: <http://www.meioambienteurgente.blogger.com.br/flores-


ta_rio.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2010.

FIGURA 101 – RESULTADO DA DEVASTAÇÃO DAS FLORESTAS DE MADAGASCAR

FONTE: Disponível em: <http://images.wildmadagascar.org/pictures/tana-maro-


antsetra/deforestation_aerial_0076.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2010.

242
TÓPICO 3 | RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO

FIGURA 102 – DEVASTAÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA

FONTE: Disponível em: <http://ecourbana.files.wordpress.com/2008/10/desmata-


mento-6.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2010.

3 ATIVIDADES DE RECUPERAÇÃO
A busca de soluções dos problemas ambientais tem envolvido profissionais
das mais variadas áreas do conhecimento, como: geografia, biologia, agronomia,
economia, engenharias (em especial a ambiental), hidrologia, geologia, sociologia
etc., exigindo abordagens sistemáticas, interdisciplinares e multidisciplinares,
para coordenar e unir os mais variados conhecimentos para solucionar um
problema em comum: no caso em questão, recuperar uma área degradada.

O passo inicial é identificar a área impactada e fazer o diagnóstico


ambiental, levantando o grau de degradação e as técnicas mais apropriadas para
a sua recuperação. A partir destes diagnósticos e relatórios, estabelece-se um
planejamento com um cronograma de execução de cada etapa, seguindo o plano
de recuperação elaborado e a realização de um monitoramento e manutenção das
medidas implementadas.

3.1 MÉTODOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO


Para recuperar áreas degradadas é necessário definir estratégias e métodos
de recuperação, bem como medidas a serem implementadas. Estas medidas são
aplicadas de acordo com o diagnóstico do impacto ambiental elaborado no início
do processo.

São apresentados três conjuntos de alternativas aplicadas à recuperação de


áreas degradadas, definidas em função da base de conhecimentos científicos para a
recuperação da área em questão. São elas: revegetação; geotecnologias; remediação.

243
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

A utilização destas técnicas de forma integrada visa devolver ao ambiente


degradado a estabilidade biológica, física e química.

3.1.1 Técnica de revegetação


A técnica da revegetação pode ser utilizada tanto com espécies nativas, quanto
com espécies exóticas. Entretanto, as espécies exóticas têm fins apenas comerciais,
já que sob a ótica ambiental, espécies como pínus e eucaliptos são nocivas ao solo,
pois esgotam os nutrientes; para a fauna, já que não oferecem alimento e abrigo para
a fauna local; e para a água, já que são espécies que retiram muita água do solo,
secando o lençol freático e comprometendo as nascentes próximas.

A única vantagem ecológica da revegetação com espécies de árvores


exóticas é que fornecem matérias-primas para a indústria de celulose e de
madeira, o que evita a pressão sobre as espécies nativas.

A revegetação com espécies nativas tem o objetivo de devolver ao ambiente


degradado a regeneração dos ecossistemas originais, devolver a restauração
biológica do solo, a redução e controle de erosão, a estabilidade dos terrenos
instáveis, a proteção dos recursos hídricos e a recuperação paisagística.

A revegetação pode ser feita com o plantio de mudas das espécies


previamente selecionadas com plantio direto.

Outra técnica muito utilizada é recolher a serapilheira que existe no solo


de fragmento de floresta próximo à área a ser recuperada, e espalhar em fileiras,
distantes dois a três metros uma fileira da outra. Esta serapilheira é rica em
sementes das mais variadas espécies, que estão no solo da mata, e brotarão na
área a ser recuperada, dando início ao processo de recuperação.

FIGURA 103 – REVEGETAÇÃO DE ENCOSTA DE MORRO DEGRADADO

FONTE: Disponível em: <http://cebv.fc.ul.pt/cienciaonline/imagens/reabili-


ta1.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2010.

244
TÓPICO 3 | RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO

3.1.2 Técnicas da geotecnia


Métodos de fundamentação geotécnica podem envolver desde a execução
de medidas simples até obras de engenharia relativamente complexas. As medidas
ou obras geotécnicas podem ser com ou sem estruturas físicas de contenção ou
retenção, sendo aplicadas no controle de processos do meio físico que atuam
na degradação do solo. Visam, portanto, à estabilização física do ambiente e,
geralmente, compreendem procedimentos técnicos da mecânica dos solos, de
geologia, da geografia, de engenharia, que, integradamente, constituem a geotecnia.

Trata-se, portanto, de medidas que envolvem, dependendo da área degradada,


terraplenagem, sistemas de drenagem e retenção de sedimentos, barragens ou diques
de bacias de disposição de rejeitos de beneficiamento, contenção de talude e em locais
que antes serviam como depósito de resíduos da construção civil.

3.1.3 Técnica de remediação


É um método que exige o uso de técnicas de tratamento com o objetivo
de eliminar, neutralizar, imobilizar, confinar ou transformar os elementos ou
substâncias contaminantes presentes no ambiente e, desse modo, alcançar
a estabilidade química ambiental. No caso de solos e águas subterrâneas
contaminadas, os métodos geralmente envolvem técnicas de tratamento in situ.
Em situações de tratamento de águas superficiais, sedimentos, lodos ou lixiviados,
especialmente quando se tem por objetivo restabelecer padrões de qualidade
ambiental, caracterizam-se como técnicas de saneamento. Geralmente, as técnicas
de remediação compreendem processos químicos, mas podem envolver também
processos físicos ou biológicos.

Em depósitos de resíduos há uma tendência em priorizar técnicas de


tratamento in situ. Estas técnicas permitem solucionar o problema no próprio
local da contaminação, sem a necessidade de transportar materiais contaminados
para tratá-los em outra área, reduzindo muito os custos operacionais.

Os métodos de remediação são aplicados também em lagos e represas


contaminadas pela urbanização e industrialização, visando eliminar problemas
como eutrofização e falta de oxigênio na água.

4 EXEMPLOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS


Apresentaremos, na sequência, dois exemplos de recuperação de áreas
degradadas.

245
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

4.1 RECUPERAÇÃO DE MATAS CILIARES


A ocupação do Brasil, desde o início da colonização, sempre foi
desordenada e sem a menor preocupação com questões ambientais, até porque o
Brasil era imenso e devastar para conquistar era a meta a ser alcançada.

A exploração predatória para extração de madeira levou à fragmentação


das florestas brasileiras e, em muitas regiões, as matas ciliares desapareceram.

A mata ciliar, também conhecida como mata de galeria, floresta marginal,


apenas para citar alguns nomes, é, portanto, a vegetação de margens de rios, que
exerce a função que os cílios exercem nos olhos (por esta razão é chamada de
mata ciliar), que é filtrar a sujeira, evitando que vá para o rio.

Estas matas devem proteger os rios desde a nascente até a foz, possuindo
várias funções, como: servir de corredores ecológicos de habitat e fornecer alimento
para a fauna; proteger o solo, impedindo o desbarrancamento das margens de
rios e ribeirões; funciona como barreira impedindo a propagação de pragas;
armazenam água que é liberada através da transpiração; através das raízes a
água penetra com mais facilidade no solo, abastecendo os lençóis freáticos. Por
todas estas razões é que as matas ciliares são tão importantes e necessitam ser
recuperadas, onde estas foram suprimidas.

Uma das formas mais naturais de recuperação é impedir que o gado


bovino circule pela área degradada e deixar que a natureza recupere sozinha as
matas que foram suprimidas.

Um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade de


recuperação natural após distúrbios, ou seja, perde sua resiliência. Dependendo
da intensidade do distúrbio, fatores essenciais para a manutenção da resiliência,
como banco de plântulas e de sementes no solo, capacidade de rebrota das
espécies, chuva de sementes, dentre outros, podem ser perdidos, dificultando o
processo de regeneração natural ou tornando-o extremamente lento.

Para uma recuperação mais rápida e planejada é necessário ter alguns


cuidados, tais como:

• Disponibilidade de mudas ou sementes das espécies nativas de matas ciliares


de cada região.

• Escolher as espécies mais apropriadas, como, por exemplo: certificar-se de


que todas as mudas disponíveis são de espécies primárias, ou seja, que podem
crescer sob a forte luz e calor do sol.

• Criar condições adequadas para as novas plantas se desenvolverem, como:


utilizar adubo orgânico durante os primeiros anos de vida.

246
TÓPICO 3 | RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO

• Respeitar a sucessão de vegetação, plantando, dentro do tempo adequado, as


espécies secundárias e terciárias.

• Conhecer o solo que vai ser revegetado e, sendo necessário, enriquecê-lo com
adubação natural mais intensa.

Na dissertação de mestrado defendida por Souza (2004), num trabalho


intitulado: “Proposta de um programa de monitoramento voluntário de dados
climáticos na bacia do Ribeirão Fruteira, - Laurentino-SC”, o autor, além de
contar com o apoio de membros da comunidade para fazer o monitoramento
de dados do clima, como pluviosidade e temperatura, promoveu um trabalho
paralelo de educação ambiental que envolveu a comunidade, alunos e professores
de uma escola estadual do município de Laurentino, na recuperação de alguns
trechos das matas ciliares do citado ribeirão. (Figura: 104)

FIGURA 104 – PESQUISADOR SOUZA (2004) COM ALUNOS E COMUNIDADE


DE LAURENTINO–SC, REALIZANDO O PLANTIO DE MUDAS PARA RECUPE-
RAR A MATA CILIAR

FONTE: Acervo do autor

O Código Florestal (Lei n° 4.777/65), desde 1965, inclui as matas ciliares na


categoria de áreas de preservação permanente. Assim, toda a vegetação natural
(arbórea ou não) presente ao longo das margens dos rios e ao redor de nascentes
e de reservatórios deve ser preservada.

De acordo com o Artigo 2° desta lei, a largura da faixa de mata ciliar a ser
preservada está relacionada com a largura do curso d’água. A tabela apresenta as
dimensões das faixas de mata ciliar em relação à largura dos rios, lagos etc.

247
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

Largura Mínima da Faixa Situação


30 m em cada margem Rios com menos de 10 m de largura
50 m em cada margem Rios com 10 a 50 m de largura
100 m em cada margem Rios com 50 a 200 m de largura
200 m em cada margem Rios com 200 a 600 m de largura
500 m em cada margem Rios com largura superior a 600 m
Raio de 50 m Nascentes
30 m ao redor do espelho d'água Lagos ou reservatórios em áreas urbanas
Lagos ou reservatórios em zona rural, com
50 m ao redor do espelho d'água
área menor que 20 ha
Lagos ou reservatórios em zona rural, com
100 m ao redor do espelho d'água
área igual ou superior a 20 ha
100 m ao redor do espelho d'água Represas de hidrelétricas

Apesar de o Código Florestal brasileiro definir que os rios com menos de


10 metros de largura devem ter no mínimo 30 metros de largura da mata ciliar,
a Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, com o apoio do Governo
do Estado e de alguns empresários, aprovou mudanças nas leis ambientais do
Estado, mesmo indo contra a lei federal, que entre outras medidas reduziu a
largura mínima das matas ciliares de 30 metros para 5 metros.

Vale lembrar que esta mudança nas leis ambientais catarinenses foi
aprovada depois da catástrofe ambiental, com enchentes e desbarrancamentos,
que abalou o Estado de Santa Catarina e o mundo. Em anos anteriores e nos
primeiros meses de 2009, estiagens prolongadas têm trazido a seca para a região
oeste dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nem mesmo tantas
catástrofes ambientais foram capazes de sensibilizar as autoridades a impedir a
aprovação de uma lei que, com certeza, agravará os problemas ambientais.

4.2 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS PELA


MINERAÇÃO
Deixamos claro que o despertar da consciência ambiental e as graves
consequências da degradação dos ecossistemas em nosso planeta são recentes,
mais precisamente no início da década de 1970, quando cientistas e ambientalistas
começaram a alertar para o problema.

No final da década de 1980, quando os problemas já estavam se tornando


sérios, cientistas, políticos e empresários do setor industrial, preocupados
com o problema, resolveram adotar a causa, onde acabaram convergindo para
uma conclusão: a necessidade de uma política global de gestão ambiental que
promovesse a sustentabilidade dos ecossistemas, como única solução.

Segundo Brum (2000):


248
TÓPICO 3 | RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO

Dados recentes (1) sobre o desempenho ambiental de empresas


líderes de dez setores industriais, no Brasil, apontam as indústrias químicas,
de papel, celulose e automotivas como as de melhor performance, embora,
como conclusão da própria fonte, os resultados não sejam os melhores. Essa
avaliação, efetuada com base em questionário proposto por especialistas dos
setores envolvidos, indica que o desenvolvimento sustentável vem se tornando
realidade no contexto de cada segmento da indústria, e isso pode ser observado
mediante somatório dos escores obtidos para cada item avaliado. Dos vinte
itens avaliados, em escala crescente de 1 a 5, com o respectivo total de pontos:
1. Papel e celulose (82), 2. Automotivo (76), 3. Químico (74), 4. Siderúrgico (68),
5. Fumo (58), 6. Mineração e Cerâmica (47), 7. Têxtil (45), 8. Alimentação (38) e
9. Metalurgia (33).

No contexto, a indústria da mineração atinge um grau preocupante, o


que demonstra a necessidade de séria avaliação de suas relações ambientais.

De maneira geral, o efeito da mineração, considerado aqui desde a


lavra até o tratamento do minério, faz-se sentir especialmente:

a) sobre o meio físico ou sobre a fisiografia da região. São efeitos visíveis,


detectados a curto prazo, denominados de agudos, e afetam:

1) a paisagem (desaparecimento de morros; aterros de depressões;


transformações, inclusive por assoreamento de drenagem);

2) o solo (remoção, decapagem e aterro);

3) a vegetação (desflorestamento).

b) sobre a qualidade do meio. Efeitos não visíveis, detectados a longo prazo.


Esses efeitos são considerados crônicos e sentidos principalmente por:

1) modificação na qualidade da água (efeito na qualidade de recursos hídricos);

2) absorção ou assimilação (cutânea, respiratória ou digestiva) por animais:


podem afetar organismos superiores (inclusive o homem);

3) modificações da qualidade do ar (emissão de particulados);

4) modificação do meio físico, inclusive trazendo efeitos a curto, médio e longo


prazos sobre o clima local. No caso da Bahia, essa tendência é de favorecer a
desertificação. Dentro desse contexto, a recuperação das áreas mineradas e seu
monitoramento aparecem como ferramenta importante para a minimização
dos impactos citados e, em alguns casos, podem melhorar a qualidade do
ambiente em relação às condições anteriores ao empreendimento mineiro.

249
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

A recuperação de determinada área degradada por um determinado


empreendimento, neste caso a mineração, pode ser definida como o conjunto de
ações necessárias para que a área volte a estar apta para algum uso produtivo
em condições de equilíbrio ambiental. Para que seja possível obter-se novo uso
da área, é necessário que ela apresente condições de estabilidade física (processos
erosivos, movimentos de terrenos) e estabilidade química (a área não deve estar
sujeita a reações químicas que possam gerar compostos nocivos à saúde humana
e ao ecossistema, drenagens ácidas de pilhas de estéril ou rejeitos contendo
sulfetos). Dependendo do uso pós-mineração, pode-se adicionar os requisitos
de estabilidade geológica (áreas utilizadas com a finalidade de conservação
ambiental). No caso do empreendimento mineiro, a participação do homem
deve iniciar ao se planejar a mina e finalizar quando as relações fauna, flora e
solo estiverem em equilíbrio e em condições de sustentabilidade.

... As medidas podem incluir desde simples alterações operacionais para


melhoria dos ambientes de trabalhos, como controle de poeira, ruídos e até mesmo
alterações de processos visando atividades e/ou operações menos agressivas.

Com relação à recuperação de áreas degradadas pela mineração, muitos


estudos passaram da teoria à prática e, nos últimos 20 anos, muitos trabalhos
têm atingido alto grau de especificidade visando à redução destes. De modo
geral, as áreas degradadas pela mineração devem ser objeto de trabalhos de
recuperação envolvendo os seguintes pontos:

- áreas lavradas: incluem cavas (secas e inundadas), frentes de lavras (bancadas


e taludes), trincheiras, galerias em lavra subterrânea etc;

- áreas de deposição de resíduos sólidos: incluem pilhas ou corpos de bota-fora,


solos superficiais, estéreis, bacias de decantação e sedimentação de rejeitos de
beneficiamento etc.;

- áreas de infraestrutura: incluem áreas de funcionamento de unidades de


beneficiamento, áreas de estocagem e expedição de minérios, vias de circulação,
escritórios, oficinas etc.

A recuperação de áreas degradadas pela mineração deve ser planejada


antes da implantação do empreendimento, a fim de prever a desativação das
atividades mineiras e a reabilitação dos terrenos remanescente.

É possível, entretanto, observar que em diversas situações esta parece


não ser a prática adotada, particularmente em empreendimentos de médio
e pequeno porte. Não raramente, essas áreas correspondem a terrenos
manejados como estoque especulativo para fins diversos (imobiliários, no caso
de áreas próximas a centros urbanos, ou reflorestamento, no caso de áreas
rurais). Nesses casos, em que a intenção dos proprietários dos terrenos parece
ser a de aguardar algum tempo antes de empreender a reabilitação da área, o

250
TÓPICO 3 | RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO

princípio da recuperação provisória torna-se recomendável, não apenas para


evitar a intensificação ou aceleração dos processos de degradação dos solos e as
consequências ambientais decorrentes, mas, também, para garantir sua própria
proteção e viabilização posterior. Dois aspectos são destacados, sob o ponto de
vista tecnológico, como desafios a serem incorporados ao planejamento das
atividades de recuperação, a saber: recuperação executada simultaneamente
à mineração, agregando a recuperação ao cotidiano e não a restringindo ao
final do empreendimento. Recuperação orientada de acordo com um plano
prévio: execução com base em decisões expressas em documento previamente
discutido e definido entre minerador, poder público e comunidade envolvida,
apontando para o aproveitamento das áreas degradadas – PRAD.

Utilizando o amplo conceito de recuperação, o planejamento das


atividades que objetivam a estabilidade das áreas degradadas deverá ter como
primeira tarefa a definição de uma das seguintes metas:

- recuperação provisória: quando o uso final ainda não estiver definido;

- recuperação definitiva: quando o uso final do solo já estiver definido.

As técnicas utilizadas para assegurar o uso adequado do solo


são numerosas, mas no geral todas compreendem as seguintes etapas:
desmatamento, remoção e estocagem do capeamento do solo, remodelagem
final da área e revegetação.

Outro trabalho, desenvolvido por Maschio (1992, p. 20), cita alguns passos
a serem levados em conta no trabalho de recuperação:

• Remoção da cobertura vegetal e lavra: revestimento vegetal do local minerado


pode corrigir ou diminuir, substancialmente, os impactos provocados pela
mineração sobre os recursos hídricos, edáficos e visuais da área.

• Obras de engenharia na recuperação: do ponto de vista ecológico, controle de


taludes e de água parece ser um fator importante para alcançar a estabilidade de
áreas mineradas. Em mineração nos trópicos, a água parece ser o fator que mais cria
instabilidade. Isto se manifesta através de deslizamento de superfície e transportes
de partículas ou movimentos de massa dos depósitos, em virtude da saturação e/
ou das condições lubrificantes da água, causando sedimentação nos cursos d’água.

• Manejo de solo orgânico: a mineração de superfície exige a retirada da vegetação


e da cama superior do solo existente sobre o minério. Esta capa enriquecida
com material orgânico é deslocada para qualquer posição, o que, muitas vezes,
favorece sua perda. O ideal para a armazenagem de solo orgânico é removê-
lo e armazená-lo misturado com a vegetação do mesmo local, convertida
mecanicamente em cobertura florestal morta.

251
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

• Preparação do solo para plantio: é essencial que se conheçam as características


químicas do material, que será o meio de crescimento e como isso afeta o
crescimento das plantas. O fertilizante mais usado nas minas é o composto de
nitrogênio, fósforo e potássio.

• Seleção das espécies de plantas: a escolha das espécies para utilização em


recuperação de áreas degradadas deve ter como ponto de partida estudos da
composição florística da vegetação que existia na região.

LEITURA COMPLEMENTAR

O Aquífero Guarani é o maior manancial de água doce subterrânea


transfronteiriço do mundo. Está localizado na região centro-leste da América do
Sul, entre 12º e 35º de latitude sul e entre 47º e 65º de longitude oeste e ocupa uma
área de 1,2 milhões de Km², estendendo-se pelo Brasil (840.000 Km²), Paraguai
(58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina (255.000 Km²).

Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total),


abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 

Esse reservatório de proporções gigantescas de água subterrânea é


formado por derrames de basalto ocorridos nos períodos Triássico, Jurássico e
Cretáceo Inferior (entre 200 e 132 milhões de anos).  É constituído pelos sedimentos
arenosos da Formação Piramboia na Base (Formação Buena Vista na Argentina
e Uruguai) e arenitos Botucatu no topo (Missiones no Paraguai, Tacuarembó no
Uruguai e na Argentina).

A espessura total do aquífero varia de valores superiores a 800 metros até


a ausência completa de espessura em áreas internas da bacia. Considerando uma
espessura média aquífera de 250 metros e porosidade efetiva de 15%, estima-se
que as reservas permanentes do aquífero (água acumulada ao longo do tempo)
sejam da ordem de 45.000 Km³.

O  Aquífero Guarani constitui-se em uma importante reserva estratégica


para o abastecimento da população, para o desenvolvimento das atividades
econômicas e do lazer.

Sua recarga natural anual (principalmente pelas chuvas) é de 160 Km³/


ano, sendo que desta, 40 Km³/ano constitui o potencial explorável sem riscos para
o sistema aquífero.

As águas em geral são de boa qualidade para o abastecimento público


e outros usos, sendo que em sua porção confinada os poços têm cerca de 1.500
metros de profundidade e podem produzir vazões superiores a 700 m³/h.

252
TÓPICO 3 | RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO

Conheça Melhor o Aquífero Guarani


Uma Bacia Gigantesca*

Além do Guarani, sob a


superfície de São Paulo, há outro Nas margens do aquífero, a
reservatório, chamado Aquífero erosão expõe pedaços do arenito.
Bauru, que se formou mais tarde. São os chamados afloramentos.
1 3
Ele é muito menor, mas tem É por aqui que a chuva entra e
capacidade suficiente para suprir também por onde a contaminação
as necessidades de fazendas e pode acontecer.
pequenas cidades.
O líquido escorre muito devagar
A cada 100 metros de
pelos poros da pedra e leva
profundidade, a temperatura do
décadas para caminhar algumas
2 4 solo sobe 3 graus Celsius. Assim,
centenas de metros. Enquanto
a água lá do fundo fica aquecida.
desce, ele é filtrado. Quando chega
Neste ponto ela está a 50 graus.
aqui está limpinho.

Perfil do Aquífero Guarani


A partir da Área de Recarga

No Estado de São Paulo, o Guarani é explorado por mais de 1000 poços


e ocorre numa faixa no sentido sudoeste-nordeste. Sua área de recarga ocupa
cerca de 17.000 Km², onde se encontra a maior parte dos poços. Esta área é a mais
vulnerável e deve ser objeto de programas de planejamento e gestão ambiental
permanentes, para se evitar a contaminação da água subterrânea e sobrexploração
do aquífero, com o consequente rebaixamento do lençol freático e o impacto nos
corpos d’água superficiais.

253
UNIDADE 3 | INTEMPERISMO, PEDOGÊNESE E MEIO AMBIENTE

Rio 96/13
Paraná Araraquara
100/108
600 66/11 70/8 98/11 600
96/9 99/9 100/52
400 400
200 200
0 0
-200 -200
-400 -400
-600 -600
-800 -800
-1 000 -1 000
-1 200 -1 200

Legenda: LOCALIZAÇÃO DO
PERFIL NA ÁREA
Aquifero Bauru

Aquifero Serra Geral (basalto)

Aquifero Botucatu

Substrato do Aquífero
(Grupos Passa Dois e Tubarão)
FONTE:
Poço e Código de Referência Estudo Hidroquímico e Isotópico
Nível Potenciométrico das Águas subterrâneas do
do Aquífero Botucatu Aquífero Botucatu no Estado de
São Paulo - 1983
Direções de Fluxo d'água
no Aquífero Botucatu

Nota explicativa: Perfil elaborado com base em dados de poços de água (D.A.E.E.) e
poços de pesquisa de petróleo (Petrobras e Paulipetro)
Rosa B.G. da Silva

A combinação da qualidade da água adequada para consumo humano


com o fato do aquífero apresentar boa proteção contra os agentes de poluição que
afetam rapidamente as águas dos rios e outros mananciais de água de superfície,
aliado ao fato de haver uma possibilidade de captação nos locais onde ocorrem
as demandas e serem grandes as suas reservas de água, faz com que o Aquífero
Guarani seja o manancial mais econômico, social e flexível para abastecimento do
consumo humano na área.

Por ser um aquífero de extensão continental com característica confinada,


muitas vezes jorrante, sua dinâmica ainda é pouco conhecida, necessitando
maiores estudos para seu entendimento, de forma a possibilitar uma utilização
mais racional e o estabelecimento de estratégias de preservação mais eficientes.

 Uma Reserva para o Futuro*

254
TÓPICO 3 | RECUPERAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO

Profundidade do
Aquífero
até 200 metros
até 400 metros
até 600 metros
até 800 metros
até 1 000 metros

Afloramentos
Para impedir a contaminação pelo derrame de agrotóxicos, um dia a
agricultura que utiliza fertilizantes e pesticidas poderá ser proibida nestas
regiões.

Aquecimento
Em regiões onde o aquífero é profundo, as fazendas poderão aproveitar a
água naturalmente quente para combater geadas. Ou para reduzir o
consumo de energia elétrica em chuveiros e aquecedores.

Irrigação
Usar água tão boa para regar plantas é um desperdício. mas, segundo os
geólogos, essa pode ser a única soluçãi para lavoura em áreas em riscos de
desertificação, como o sul de Goiás e o oeste do Rio Grande do Sul.

Aqueduto
Transportar líquido a grandes distâncias é caro e acarreta perdas imensas
por vazamento. Mas, para a cidade de São Paulo, que despeja 90% de seus
esgotos nos rios, sem tratamento nenhum, o Guarani poderá, um dia, ser a
única fonte.

* Figuras e textos extraídos da Revista Super Interessante nº 07 ano 13


FONTE: Disponível em: <http://www.daaeararaquara.com.br/guarani.htm>. Acesso em: 18 jun.
2010.Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-agua/imgens/
aquifero-guarani-17.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2010.

255
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você compreendeu que o conceito de recuperação ambiental
está diretamente ligado ao de degradação.

• Revegetação: consiste na recuperação.

• Geotecnia: Métodos de fundamentação geotécnica podem envolver desde a


execução de medidas simples até obras de engenharia relativamente complexas.
As medidas ou obras geotécnicas podem ser com ou sem estrutura física de
contenção ou retenção, sendo aplicadas no controle de processos do meio físico
que atuam na degradação do solo. Visam, portanto, à estabilização física do
ambiente e, geralmente, compreendem procedimentos técnicos da mecânica
dos solos, de geologia, da geografia, de engenharia, que, integradamente,
constituem a geotecnia.

• Remediação: É um método que exige o uso de técnicas de tratamento com


o objetivo de eliminar, neutralizar, imobilizar, confinar ou transformar os
elementos ou substâncias contaminantes presentes no ambiente e, desse modo,
alcançar a estabilidade química ambiental.

• As três técnicas de recuperação devem considerar as fases de:

• planejamento;
• execução;
• monitoramento.

• Em qualquer área a ser recuperada devem ser considerados os seguintes fatores:

• o tipo de solo;
• clima;
• as espécies vegetais preexistentes;
• as espécies animais que compunham a área.

256
AUTOATIVIDADE

Agora que chegamos ao final do Caderno de Estudos e deste tópico em


particular, é o momento de testar a assimilação do conteúdo desenvolvendo a
seguinte atividade:

Questão única – Utilizando os conceitos aplicados na


recuperação de áreas degradadas apresente e justifique a melhor
técnica de recuperação de área:

SITUAÇÃO

Uma área rural, com predominância de cultivo de culturas agrícolas


e pecuária, nas quais os agricultores plantam suas culturas até a margem dos
córregos e rios, justificando, assim que se deixarem os 30 metros previstos
na lei Federal estarão perdendo terra de plantio.

Considerando a necessidade de preservação da água da propriedade


e as matas ciliareas, para preservar a água do rio, qual a técnica mais indicada
para recuperar as margens ou matas ciliares?

257
258
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263
ANOTAÇÕES

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Você também pode gostar