Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ENSINO DE GEOGRAFIA
3º Ano
INSTITUTO SUPER
Ao contrário do que está habituado (os Módulos), este é apenas um texto de apoio à disciplina
de Ordenamento territorial com carácter facultativo, organizado em seis unidades temáticas,
tendo cada um, uma introdução, os objectivos, um resumo alargado e a bibliografia
recomendada (disponível na internet em forma de e-boocks, ou artigos científicos publicados
em revistas credíveis), a qual deve exaustivamente ser usada para complementar os resumos
alargados aqui presentes. A leitura deste documento pode não ser suficiente para que o
estimado estudante esteja suficientemente preparado para os testes e/ou exames.
O seu conteúdo embora tenha exemplos moçambicanos, não se refere apenas ao nosso país
pelo facto de que, um estudante de nível superior (universitário) deve ter a visão universal para
se defender em qualquer ponto do mundo com base em conhecimentos sólidos e agir
localmente à base dos mesmos conhecimentos.
A partir da Leitura do resumo alargado o estudante deve ser capaz de buscar, na bibliografia
recomendada os conhecimentos complementares que o permitirão estar a altura de responder
as questões colocadas nesta disciplina e em qualquer lugar.
O Tutor
Eng. Adelino Ernesto Macaza Mugadui, MSc.
(Ambiental/ Sanitário)
Especialista em Avaliação e Gestão Ambiental
i
Lista de figuras
Lista de tabelas
Tabela 1. Vantagens do planeamento……………………………………………………………………………………..24
Tabela 2. Comparação das abordagens racional – incremental……………………………………………….55
ii
Índice
Lista de figuras ...............................................................................................................................ii
Lista de tabelas ..............................................................................................................................ii
Lista de abreviaturas e acrónimos .................................................................................................v
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 1
UNIDADE TEMÁTICA I: Introdução ao ordenamento territorial: conceito, princípios e
objectivos...................................................................................................................................... 3
1. Introdução ................................................................................................................................ 3
2. Objectivos ................................................................................................................................. 4
3. Sumário alargado ...................................................................................................................... 4
3.1. Conceito de ordenamento e território .............................................................................. 4
3.2. Pressupostos básicos do território .................................................................................... 6
3.3. Princípios e objectivos do ordenamento do território ...................................................... 6
4. Bibliografia .............................................................................................................................. 10
UNIDADE TEMÁTICA II: O ordenamento territorial e o desenvolvimento socioeconómico ..... 12
1. Introdução .............................................................................................................................. 12
2. Objectivos ............................................................................................................................... 13
3. Sumário alargado .................................................................................................................... 13
3.1. A utilização dos recursos territoriais e as estratégias de desenvolvimento local ........... 15
4. Bibliografia .............................................................................................................................. 17
UNIDADE TEMÁTICA III. Planificação e ordenamento territorial ............................................... 18
1. Introdução .............................................................................................................................. 18
2. Objectivos ............................................................................................................................... 19
3. Sumário alargado .................................................................................................................... 20
3.1. Planeamento versus Planificação .................................................................................... 21
3.3. Áreas de actuação/Planeamento e ordenamento do território ..................................... 26
4. Bibliografia .............................................................................................................................. 27
UNIDADE TEMÁTICA IV: Gestão e ordenamento territorial....................................................... 28
1. Introdução .............................................................................................................................. 28
2. Objectivos ............................................................................................................................... 29
3. Sumário alargado .................................................................................................................... 30
iii
3.1. Desafios na gestão e desenvolvimento territorial ........................................................... 32
4. Bibliografia .............................................................................................................................. 34
UNIDADE TEMÁTICA V: Ordenamento territorial e sustentabilidade ambiental ...................... 36
1. Introdução .............................................................................................................................. 36
2. Objectivos ............................................................................................................................... 38
3. Sumário alargado .................................................................................................................... 38
3.1. Ordenamento do território, urbanismo, ambiente e qualidade de vida ........................ 40
4. Bibliografia .............................................................................................................................. 41
UNIDADE TEMÁTICA VI: Procedimentos de ordenamento territorial. Ordenamento do espaço
rural e do espaço urbano. Características de espaços ordenados ............................................. 42
1. Introdução .............................................................................................................................. 42
2. Objectivos ............................................................................................................................... 42
3. Sumário alargado .................................................................................................................... 43
3.1. Procedimentos de Ordenamento territorial.................................................................... 43
3.2. Ordenamento do espaço rural e do espaço urbano........................................................ 45
3.2.1. Ordenamento do espaço rural .................................................................................. 46
3.2.2. Ordenamento do espaço Urbano ............................................................................. 50
3.3.3. Características de espaços ordenados ...................................................................... 58
4. Bibliografia .............................................................................................................................. 61
iv
Lista de abreviaturas e acrónimos
OT – Ordenamento do Territorial
PP – Planos de pormenor
PU – Plano de Urbanização
v
INTRODUÇÃO
Os diferentes planos, para serem eficazes, têm que ser enquadráveis a diversas escalas de
análise, dependendo da efectividade de todos eles da coerência dos restantes. Um plano
nacional, regional ou local de ordenamento do território tem que se basear na lógica dos planos
das diferentes regiões; estes, por sua vez, têm por base os planos municipais que definem o uso
dos solos e estabelecem princípios para a gestão das cidades e das aldeias do local; os
aglomerados devem ser organizados por planos operativos que regulem e ordenem a sua
estrutura construída, os seus edifícios, e que definam coerências para a localização das
diferentes funções que neles coexistem – a indústria, o comércio, a habitação ou a agricultura
(zoneamento). São os Planos de Urbanização, os de Pormenor ou de Salvaguarda que, e mais
uma vez a escalas diversas, delimitam e desenham as malhas que estruturam e definem um
espaço territorial urbano ou rural.
1
Objectivos específicos
2
UNIDADE TEMÁTICA I: Introdução ao ordenamento territorial: conceito, princípios e
objectivos
1. Introdução
Partindo da questão inicial, o que é o Ordenamento do Território (OT), são inúmeras as linhas de
pensamento, as tentativas de definição e conceitualização, na maior parte dos casos
divergentes entre si, que tentam responder a tal pretensão. Assim, que conclusões são passíveis
de se extrair dos termos ordenamento e território? Numa primeira instância, é possível desde
já, extrair-se: o elevado grau de dificuldade de redução desses termos a um modelo teórico,
surge sempre associado à exigência de uma elevada precisão terminológica. Este modelo
teórico promovido pelo OT é caracterizável pela sua diversa e extensa aplicabilidade, variando
consoante o utilizador.
3
2. Objectivos
Os objectivos desta unidade temática são os seguintes: compreender os conceitos de
ordenamento territorial; conhecer os princípios de ordenamento territorial e aplicar os seus
fins.
3. Sumário alargado
Como acepção ampla, Oliveira (2002) entende ser todo o acto de estabelecer políticas
direccionadas para a garantia do equilíbrio das condições de vida nas diferentes partes de um
determinado território, isto é, são todos os actos públicos orientados para a obtenção de uma
qualidade de vida digna. Neste sentido, a actividade pública deve, no âmbito das suas
competências, ordenar o espaço.
Como acepção restrita, este autor defende que o Ordenamento territorial deve compreender
uma competência muito importante, a de harmonizar e coordenar as várias actividades
existentes num determinado território. Esta acepção é, igualmente, partilhada por Orea (2001),
o qual admite que, do ponto de vista administrativo, o Ordenamento territorial deve ter uma
função pública, porque só assim é possível controlar, de uma forma equidistante, o crescimento
4
espontâneo das actividades humanas, públicas ou privadas, evitando problemas e
constrangimentos futuros, fomentando e garantindo uma justiça sócio-espacial.
De acordo com Sicola (2011) o território é um dos principais e mais utilizados termos da
Geografia, pois está directamente relacionado com os processos de construção e transformação
do espaço geográfico. A sua definição é variável, conforme a corrente de pensamento ou a
abordagem que se realiza, mas a conceituação mais comummente adoptada o relaciona ao
espaço apropriado e delimitado a partir de uma relação de poder.
Sicola (2011) refere que Friedrich Ratzel (viveu entre 1844-1904) foi um dos pioneiros na
elaboração e sistematização do conceito de território. A sua análise está directamente vinculado
ao poder e domínio exercido pelo Estado nacional, de forma que o território conforma uma
identidade tal que o povo que nele vive não se imagina sem a sua expressão territorial.
Outro importante autor que discutiu esse conceito foi o geógrafo suíço Claude Raffestin (1936-
1971), que ressaltava o facto de o espaço ser anterior ao território. Com isso, ele queria dizer
que o território é o espaço apropriado por uma relação de poder. Essa relação encontra-se,
assim, expressa em todos os níveis das relações sociais (Sicola, 2011).
O geógrafo Marcelo Lopes de Souza, por exemplo, refere que o processo de formação territorial
nem sempre ocorre por meio de expressões concretas sobre o espaço. Ele evidencia a existência
de múltiplas territorialidades, como as do narcotráfico, as do comércio ambulante, entre outras.
Assim, os territórios podem possuir um carácter cíclico (que varia com o tempo), móvel (que se
desloca nos mais diferentes espaços) e que se organiza a partir de redes que se interligam pelo
fluxo de informações ou contactos. Um exemplo de território em rede seria o dos traficantes,
5
que se organizam em células que nem sempre se encontram próximas uma das outras, mas que
se articulam em redes de transporte de armas, drogas e comunicação.
Dessa forma, podemos compreender que o território possui vários níveis, variando desde o local
até o global. Além disso, ele pode se expressar através de relações naturais ou biológicas,
culturais, políticas, sociais, económicas, militares, entre outras.
Por exemplo, garimpeiros ou caçadores entre grupos organizados entrando em confronto por
razões territoriais; procissões religiosas que não cederiam lugar a outra, no mesmo instante e
local; a peregrinação à Meca, ao túmulo de Lenine ou Elvys Presley, o Caminho de Santiago de
Compostela com seus percursos, itinerários e peregrinos; o morro dominado pelo tráfico. Esses
produtos do imaginário social tomam emprestadas referências espaciais enraizadas e bem
localizadas que são submetidas à representação, tendo uma simbologia específica e validade
indeterminada. De outra forma, a presença fixa e massiva de anúncios publicitários numa rua
comercial, toma para si parcela do espaço inequivocamente com a finalidade de apropriação
simbólica do espaço público.
6
agrícola, florestal, turismo, mineira; corredores de desenvolvimento; áreas de possível conflito;
áreas de competição – Massingir, Matutuine; Gorongosa, Gilé, reserva do Niassa, outros); b.
Planeamento do uso da Terra e dos Recursos Naturais da zona no nível local (até a povoação): –
Confirmar oportunidades de grande investimento – Identificação de investimento de mais
pequena escala – Criar capacidade organizacional no nível local para implementar uma política
de gestão descentralizada dos recursos c. Assegurar direitos – delimitação das áreas das
comunidades; outros direitos (estado, privado); segurança de posse; criar capacidade social e
jurídica; nivelar os actores; d. Exercer direitos – implementar acções de desenvolvimento e de
investimento, utilizando o distrito como plataforma estratégica para promoção pró-activa das
acções e do investimento, etc. (figura 1).
Um outro conjunto de princípios é enunciado por Frade (1999), através do qual o autor
estabelece uma ligação ao princípio do Desenvolvimento Sustentável: gestão do património
7
comum nacional2; equilíbrio entre a conservação e o desenvolvimento3; compatibilidade4. Como
é possível observar, os raciocínios existentes são vários. Perante este contexto, Alves (2001)
contribui com mais alguns para a causa, nomeadamente: igualdade5; equidade6; interesse
público; liberdade e responsabilidade; sustentabilidade; interdisciplinaridade.
2
É da responsabilidade do Estado, ponderar e mediar o equilíbrio de forças (A intervenção do poder público e do Estado deverá visar, sempre, a
prossecução do interesse colectivo) no espaço geográfico.
3 Integrado num contexto de latente tensão entre economia e natureza, o desenvolvimento não deve colocar em risco os ecossistemas naturais,
correndo-se o risco de destruir o pilar de sustentação deste, assim, estes dois elementos não devem ser entendidos como valores
contraditórios, tornando-se necessário encontrar uma plataforma de compromisso entre as duas.
4
Traduz a coerência e o entendimento que devem revestir as decisões entre os vários níveis institucionais com responsabilidades em matéria de
planeamento de ocupação e uso do solo, tanto na dimensão interna, Administração Central, Regional e Local, como na dimensão externa.
5Promove o acesso a condições, oportunidades, bens e serviços a todos os cidadãos.
6Forma de nivelar os cidadãos e as organizações num mesmo patamar. Estabelece os parâmetros que regulamentam a perequação, corrigindo
desequilíbrios e distorções. (adaptado, Alves, 2001).
8
Figura 2. Princípios de Ordenamento do Território: uma análise comparativa entre diferentes
abordagens.
3. A definição das características dos escalões territoriais, assim como a criação de novos
escalões e o estabelecimento de competências no âmbito da organização político-
administrativa é fixada por lei (Estas leis incluem):
9
Decreto 23/2008, de 1 de Junho – Regulamento da Lei do Ordenamento do
Território;
4. Bibliografia
Oliveira, F.P. (2002) – “Sistemas e Instrumentos de Execução dos Planos”, Livraria Almedina,
Coimbra, Portugal.
10
Decreto nº 24/2008, de 1 de Junho (RLOT). Regulamento da Lei de Ordenamento do Território.
República de Moçambique.
11
UNIDADE TEMÁTICA II: O ordenamento territorial e o desenvolvimento socioeconómico
1. Introdução
O cenário mundial emergente nos dias que correm é o da globalização do capitalismo, com a
internacionalização da mais-valia produtiva através das empresas transnacionais e da ampliação
das diferenças socioeconómicas entre os países centrais e os países periféricos. Para a
geografia, mais do que o território, interessa o estudo dos usos que a sociedade faz dele. O
território representa uma trama de relações com raízes históricas, configurações políticas e
identidades. Nesses termos, o território usado deve ser compreendido como uma mediação
entre o mundo e a sociedade nacional e local.
Um desdobramento importante, que se manifesta numa posição que não reduz o espaço a um
mero reflexo, é a concepção que defende existir uma dimensão territorial do desenvolvimento.
Estas recentes experiências em termos de modelos de desenvolvimento local baseiam-se na
concepção de que o factor essencial no desenvolvimento e na competitividade de determinada
região é a capacidade de actuação organizada, cooperativa e integrada da própria sociedade
local, com base nos recursos específicos do seu território.
O ordenamento territorial é uma forma singular de uso do território que apresenta um arranjo
de objectos sociais, naturais e culturais historicamente estabelecidos. Mas esse ordenamento
não é apenas condição social de reprodução da ordem capitalista. Pode ser também uma
ferramenta de planeamento e execução de políticas públicas. Com a criação da Política Nacional
de Ordenamento Territorial (PNOT) em 2007, o Governo de Moçambique, por exemplo avançou
na criação de instrumentos que ordenem o território e que busquem o desenvolvimento mais
justo das diferentes regiões e localidades do país. Estará em causa a sua implementação.
12
enquadramento do debate do conceito de desenvolvimento local, explicitando como ele pode
tornar-se uma ferramenta para o progresso de determinados territórios e o ordenamento
territorial nacional, que engloba políticas que fomentem experiências de desenvolvimento local,
numa aproximação entre estes dois conceitos.
2. Objectivos
3. Sumário alargado
13
que o território, em certos lugares, acaba por tornar-se mais racional e produtivo. O território
passa a ser visto como um campo de forças, um lugar que exercita a dialéctica entre a escala
local e a escala global, entre o Estado, o mercado e a sociedade. Portanto, o território, nos dias
actuais, passa a ser: (…) o quadro da vida de todos, na sua dimensão global, na sua dimensão
nacional, nas suas dimensões intermediárias e na sua dimensão local, que constitui o traço de
união entre o passado e o futuro imediatos (Santos, 1999).
Para Poletto (2008) o território é uma construção histórica e, portanto, social, a partir das
relações de poder (concreto e simbólico) que envolvem, concomitantemente, sociedade e
espaço geográfico (que também é sempre, de alguma forma, natureza). Assim, o território
possui tanto uma dimensão mais subjectiva, que se propõe denominar, aqui, de identidade
territorial7, e uma dimensão mais objectiva, que se pode designar de dominação do espaço,
num sentido mais concrecto, realizada por instrumentos de acção político-económica.
Nesta nova ordem mundial, o território já não pode ser visto como neutro e passivo, mas como
actor importante nas mudanças recentes das hierarquias espaciais, que sinalizam para uma
visão interdisciplinar e mais abrangente desse fenómeno nas ciências humanas e espaciais.
Como observa Ribeiro (2005):
7
A identidade, no pensamento moderno, diz respeito ao agrupamento daquilo que é igual, daquilo que é reconhecido como sendo comum na
multiplicidade em meio à mudança (e a correlata separação destes frente a seus diferentes) (ARAÚJO, 2007). A identidade é sempre uma
construção histórica dos significados sociais e culturais que norteiam o processo de identificação e distinção de um indivíduo ou um grupo. Está
atrelada ao processo de territorialização (Haesbaert, 2007), pois na construção do território também vai se construindo a identidade territorial.
Contudo, não devemos pensar a identidade como algo material ou uma “coisa em si”, mas sempre como uma relação, uma “posição de sujeito”,
construída de forma relacional e contrastiva, visto que os processos de identificação e, consequentemente, as identidades são sempre
construídas na e pela diferença (Cruz, 2007). Desse modo, entendemos a identidade territorial não somente com base na proximidade entre
sujeitos e na partilha passiva de certo território e de seus valores simbólicos, mas como sendo derivada do agir colectivo dos sujeitos,
portadores de práticas e de conhecimento, “construtores” do território e de novas lógicas de referência identitária aos lugares (Saquet, 2007).
14
Trata-se, então, de pensar sobre uma nova ordem mundial que relaciona o global e o local. A
Ordem global serve-se de uma população esparsa de objectos regidos por essa lei única que os
constitui em sistema, característica essencial do período técnico-científico-informacional,
produtor de verticalidades.
De acordo com Ribeiro (2005) Silveira (2001) e Santos (1997) já a ordem local diz respeito a uma
população contígua de objectos, reunidos pelo território e regidos pela interacção, pela
contiguidade, ou seja, pelas horizontalidades Nesta concepção, o território se constitui: (…) a
partir dos seus usos, do seu movimento conjunto e o das suas partes, reconhecendo tanto as
suas particularidades como as suas complementaridades. Trata-se da divisão territorial do
trabalho e da vida social que permite pensar o território como actor, isto é, o território no seu
papel activo. Portanto, o território tornou-se uma verdadeira plataforma de infraestruturas, que
visa à fluidez, à integração articulada, à compressão espácio-temporal e à aceleração do
processo de acumulação de capital.
Portanto, o ordenamento territorial deve sempre ser feito pensando no âmbito de políticas
nacionais implementadas pelo Governo, constituindo-se numa ferramenta de auxílio à
implementação de metas e políticas de desenvolvimento do território. Dessa forma pensar o
ordenamento territorial é: (…) pensar e actuar no conjunto das forças que modelam
actualmente o desenvolvimento do país, a partir de um olhar da união sobre o conjunto das
regiões e lugares e de uma estratégia que vise, sobretudo, coordenar as políticas territoriais
sectoriais e prestar a elas uma necessária racionalidade técnica, no contexto actual do
planeamento marcado pela dispersão (Costa, 2005).
15
Ordenar o território exige, obrigatoriamente, por um lado considerar alternativas de usos
possíveis e aceitáveis do espaço. Eleger os usos mais adequados exige, por sua vez, o
conhecimento dos agentes públicos e privados que actuam num dado território, os seus
interesses e as suas práticas de ocupação. Junto com os critérios de ajustes ambientais,
territoriais, económicos, sociais e técnicos, é necessário também reflectir sobre as principais
preocupações doutrinárias do ordenar: o desenvolvimento económico, a qualidade de vida e a
preservação do ambiente. Sendo estas reconhecidas como legítimas e asseguradas pela
Constituição, servirão como balizadores para hierarquizar e escolher as alternativas aceitáveis e
desejáveis. Portanto, a aplicação dos critérios e a hierarquização mencionada supõem a
definição de um modelo territorial futuro, num cenário desejável de país que se pretende
atingir pelo ordenamento.
Nesse processo há que ter em conta os governos locais. O factor que contribui para que os
governos locais detenham maior autonomia nos seus planeamentos, foi a descrença na
planificação racional. Estas planificações se baseavam na falsa promessa de que a
transformação das formas espaciais e do entorno construído poderia ser um meio eficaz de
sanar os problemas sociais. Harvey chamou este erro de “utopias da forma espacial” como via
para encontrar uma solução, em vez de construir um utopismo dialéctico, aberto às
transformações tanto históricas como espaciais (Harvey, 2004).
Esta visão tem o objectivo de implementar um planeamento territorial que vise à redução das
desigualdades regionais e ao fortalecimento da coesão territorial pelo uso racional dos recursos
e das potencialidades de cada região, afirmando as identidades e fortalecendo a capacidade
regional de construir o futuro. A busca da redução das disparidades existentes num país, em
termos regionais e sub-regionais só pode ser conseguida com investimentos massivos a partir
da realidade, potencialidade e necessidade de cada território, uma política de investimentos
que dinamize as estruturas produtivas, priorizando medidas sociais equitativas.
16
4. Bibliografia
Costa, W. M. da. (2005) Subsídio para uma Política Nacional de Ordenamento Territorial. In:
Brasil. Ministério da Integração Nacional. Secretaria de Desenvolvimento Regional. Para pensar
uma política nacional de ordenamento territorial: anais da Oficina sobre a Política Nacional de
Ordenamento Territorial. Brasília: MIN, 2005. P. 55-59.
Ribeiro, Ana Clara Torres. Outros territórios, outros mapas. Revista OSAL, Buenos Aires, v. 4, n.
16, p. 263-272, Jan./Abr. 2005.
Santos, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2ª Ed. São Paulo: Hucitec,
1997.
Santos, M. O território e o saber local: algumas categorias de análise. Cadernos do IPPUR, Rio de
Janeiro, v. 13, n. 2, p. 15-26, 1999.
Silveira, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record,
2001.
17
UNIDADE TEMÁTICA III. Planificação e ordenamento territorial
1. Introdução
A gestão territorial orientada para os resultados assume uma especial relevância nos projectos
de desenvolvimento e se baseia numa série de enfoques e ferramentas de amplo
reconhecimento como a planificação estratégica e o alinhamento dos programas com os
objectivos, a gestão de riscos e a avaliação e seguimento dos resultados.
Uma destas ferramentas, a planificação estratégica - vai permitir ordenar as relações causa-
efeito existentes entre os objectivos ou metas a alcançar e os programas que serão
implementados para alcançá-los. É importante que sejam analisadas em diferentes cenários a
relação entre os projectos e os objectivos que se pretende alcançar, podendo priorizar os
diferentes objectivos e tendo um quadro de análise o suficientemente consistente e flexível,
que permita estabelecer as relações entre cada projecto e cada objectivo. Deste modo, a
planificação estratégica permite realizar uma selecção de projectos que assegure a sua
contribuição aos objectivos estratégicos dos territórios à sua escala e as entidades promotoras e
que os resultados esperados são definidos a partir de uma priorização adequada.
A planificação territorial está orientada ao cumprimento dos objectivos à longo prazo, já que a
maioria deles está enfocada a conseguir mudanças socioeconómicas ou ambientais, que
normalmente não mostram resultados imediatos ao terminar um determinado projecto, mas
18
que se manifestam com prazos mais amplos, por isso, é necessário realizar uma avaliação ex-
post uma vez finalizado o projecto.
2. Objectivos
3. Sumário alargado
Frade (1999) refere que estruturação do espaço nacional constrói-se em três níveis geográficos
a que correspondem somente dois níveis administrativos: o nível nacional que se revê num
plano para todo o território; um nível regional ou intermédio, abrangendo o espaço
correspondente a mais de um município; o nível municipal ou periférico, que abrange a área de
um município ou parte dela. O ordenamento territorial tem como instrumento operativo
privilegiado, o Plano8.
Nestes termos, e de acordo com o quadro jurídico em vigor no nosso país, as principais espécies
de planos de ordenamento territorial são as seguintes: • Os Planos Regionais de Ordenamento
do Território (PROT); • os Planos Especiais de Ordenamento do Território (PEOT) •Planos de
Desenvolvimento distrital (PED); • Planos de estrutura Municipal (PEM); • Planos de pormenor
8
A actividade de planeamento não se restringe apenas ao plano, mas este é o seu instituto fundamental. Se o planeamento ou planificação é
um processo que, por tal facto, possui uma dinâmica intrínseca, susceptível de se modificar e adaptar à realidade em que ocorre, o plano é o
produto principal, a cristalização, num certo lapso temporal, dessa acção planificadora. Por isso, o risco de se criar um mecanismo
excessivamente rígido é uma ameaça que pende sobre qualquer plano, tanto maior quanto mais dilatado é o período considerado. Sem dúvida
que o plano possui uma natureza estática (embora esteja sujeito a revisão), pois consolida um determinado conjunto de opções e de
estratégias, e sem isso perderia qualquer fiabilidade e justificação. Mas, a tarefa mais difícil para qualquer equipa do plano, será torná-lo um
elemento suficientemente confiável e ao mesmo tempo convertido às reais necessidades a que está adstrito.
20
(PP), regulados, no caso moçambicano, pela Lei n° 19/2007 de 18 de Julho. Lei de Ordenamento
do Território. e o respectivo Decreto nº 24/2008, de 1 de Junho (RLOT) - Regulamento da Lei de
Ordenamento do Território.
Assim que para Freitas (2014) o planeamento é peça fundamental da actividade humana,
permitindo a criação de cenários através da capacidade de previsão. A disciplina de
Planeamento Territorial preocupada com a melhor organização do espaço e distribuição
eficiente das actividades humanas tem no planeamento uma ferramenta essencial para o seu
desenvolvimento como profissão. A criação ou transformação de espaços urbanos e naturais é o
objectivo final da planificação e planeamento no ordenamento territorial e, o desenvolvimento
das soluções passa por um conhecimento aprofundado não só dos estados iniciais dos sistemas
a intervencionar como das dinâmicas que neles subsistem e a forma como estas poderão crias
impactos na paisagem, tendo em vista a criação de formas mais eficientes e mais belas.
Segundo Davidson, (1996) existem quatro vectores fundamentais através dos quais o
planeamento influencia o desenvolvimento que de facto ocorre. Estes vectores são: Inspiração
(inspiration), Compromisso (commitment), Orientação (guidance) e Controlo (control). Eles
representam relações que qualquer plano constrói com os stakeholders chave. A inspiração ou
visão é um termo que é pouco usado em relação a planeamento, no entanto é uma força
poderosa capaz de influenciar as acções de uma forma vincada pois traduz-se numa maior
21
vontade das pessoas para atingir um resultado. Para que a inspiração possa ter efeitos efectivos
é necessário que o plano seja claro e de fácil comunicação e compreensão. A visão de
Ebeneezer Howard e as suas cidades jardim é um exemplo claro de uma visão facilmente
transmissível e que teve efeitos práticos na criação de cinturas verdes à volta de várias cidades
britânicas e europeias. O comprometimento é essencial para que qualquer plano seja
implementado. A planificação refere-se ao conjunto de acções na economia, resguardadas pelos
indicadores ou metas.
Progressivamente, num ambiente em que o estado está cada vez mais arredado do controlo
total dos recursos é necessário que seja garantido o “commitment” de todos os actores
envolvidos no processo que detêm o controlo desses mesmos recursos. Isto é fundamental para
que se garanta a base dum processo participativo. A orientação é, normalmente, uma função do
governo, planeadores do governo guiam onde e quando o desenvolvimento se deve realizar.
Implica o uso de meios indirectos tais como provisões de controlo e planeamento de
infraestruturas. Esta função é normalmente vista como positiva pelos vários actores envolvidos
no processo, na medida em que ajuda o desenvolvimento urbano e o sector privado da seguinte
forma (Freitas, 2014):
Uso: O uso do solo é uma questão que está ligada tanto à “guidance “como ao controle
no planeamento. Esforços podem ser feitos para garantir ou promover certas qualidades
e tipologias de uso;
22
Responsabilidade: Conhecer a responsabilidade por cada acção é fundamental para que
o plano tenha eficácia na obtenção dos objectivos. Formas inovadores de pensar têm
quebrado a tradicional responsabilidade única do estado com vista à formação de
parcerias com os actores envolvidos;
Maior controlo significa muitas vezes que qualquer alteração num plano, por mais reduzida que
seja, signifique processos prolongados. O autor argumenta que poucos são os que se opõem ao
controlo de zonas ambientalmente sensíveis. O problema reside no facto de o planeamento ser
efectuado com grande detalhe em fases muito iniciais. Modificações no ambiente externo,
económico e social, e descoberta de novas realidades criam dificuldades, muitas vezes
irreversíveis, na implementação de um plano perdendo-se assim, grande parte do investimento
feito em trabalho técnico especializado. O conceito de zonamento une o controlo com o uso.
Um planeamento eficaz pode reduzir os custos do total ciclo de vida dos edifícios e
infraestruturas (parques, vias etc.), ou seja, desde a sua concepção, construção passando pela
manutenção e terminando na sua demolição. Quando 1% dos custos iniciais de um projecto são
gastos até 70% dos custos totais do seu ciclo de vida podem já estar comprometidos. Se 7% do
custo inicial for investido até 90% dos custos do ciclo de vida estão comprometidos.
Consequentemente, um processo de concepção eficaz garante uma maior sustentabilidade do
projecto, beneficiando a sociedade, a economia e o ambiente, como explanado na tabela
seguinte (Freitas, 2014):
24
No seu artigo “Dilemmas of a general theory of planning”, Rittel & Webber, (1973) fazem uma
clara definição das principais barreiras que impedem os profissionais do planeamento
aperfeiçoar totalmente os sistemas, métodos e processos que utilizam para planear. Qualquer
teoria é inadequada para a previsão completa das consequências. A própria inteligência humana
é incapaz de compreender a totalidade dos factores envolvidos, a pluralidade da sociedade
política torna impossível a unidade na definição de âmbito e objectivos. Estas dificuldades
apontam os autores, teimam em não ser definitivamente resolvidas.
A causa fundamental, segundo Rittel & Webber, (1973), encontra-se relacionada com
paradigma da ciência, o método científico e à visão, errada, de todas as profissões como um
tipo de engenharia. Este paradigma, aplicável a grandes classes de problemas do mundo
moderno é simplesmente inadequado aos problemas de matriz social que o planeamento pode
enfrentar. Esta incapacidade levou o leigo a duvidar do profissional, pois este tem-se revelado
incapaz de resolver os problemas a que se propôs. Estes autores consideram que os
profissionais que se envolvem com as ciências sociais terão sido enviesados a acreditar que
poderiam operar como cientistas aplicados e que este erro teve e têm consequências bastante
graves.
Ainda segundo os mesmos autores, estes consideram a existência de dez factores distintos dos
problemas apresentados à profissão do planeamento e sobre os quais os profissionais devem
ponderar e considerar seriamente: • Não existe uma formulação definitiva do problema; • Os
problemas de planeamento não possuem regra de finalização; • As soluções aos problemas não
podem ser definidas como verdadeiro ou falso mas apenas como boas ou más; • Não existe
25
forma de testar uma solução deste tipo de problemas • Só existe uma tentativa; • Não existe
um código para descrever potenciais soluções; • Todos os problemas são únicos; • Todos os
problemas são sintomas de outro problema; • A explicação para a discrepância entre o estado
actual e desejado determina a natureza da solução; e, • O planeador não tem o direito de errar.
A legislação em vigor define três tipos de PMOT: Plano Director Municipal (PDM), Plano de
Urbanização (PU) e Plano de Pormenor (PP). As diferentes figuras dos PMOT, com as suas
diferentes finalidades e distintos âmbitos de intervenção, revelam-se instrumentos
fundamentais para a gestão local e quotidiano da população e do território. O principal
objectivo destes instrumentos é a qualificação do território, tendo sempre presente a utilização
sustentável dos recursos territoriais e a criação que um quotidiano que permita contribuir
positivamente para a qualidade de vida dos cidadãos, bem como para o desenvolvimento social,
económico e cultural.
26
4. Bibliografia
LaGro, J. A. (2007). Site Analysis: A Contextual Approach to Sustainable Land Planning and Site
Design (2nd Edition.). John Wiley & Sons.
Rittel, H. W. J., & Webber, M. M. (1973). Dilemmas in a general theory of planning. Policy
Sciences, 4 (2), 155 – 169.
27
UNIDADE TEMÁTICA IV: Gestão e ordenamento territorial
1. Introdução
Os planos territoriais não podem ser vistos como um fim em si mesmos, mas como um meio de
trabalho dotado de uma dimensão conceptual, o qual visa explorar ideias e programas para
acções de gestão do desenvolvimento. São instrumentos criativos, mesmo nos casos em que o
objectivo é a conservação dos recursos naturais, e as entidades que elaboram os planos e que
administram os instrumentos de planeamento devem estar sujeitas a uma avaliação de mérito
quando confrontadas com os resultados das suas aplicações e acções sobre o território.
Pardal (2006) considera que com a aprovação do Plano Nacional da Política de Ambiente
(PNPA), o tema Ordenamento do Território é analisado a partir de quatro pontos diferentes: −
Integração das questões ambientais nos Planos; − Ambiente Urbano e Cidades de Média
Dimensão; − Enquadramento das Estatísticas (planificação) na Política do Ambiente; − Áreas de
Actuação e principais medidas.
O Sistema de Gestão Territorial (SGT), tal como se encontra actualmente estatuído, é a base da
política de ordenamento do território, abrangendo três âmbitos: nacional, regional (provincial) e
municipal. Quanto às categorias de instrumentos previstas, este sistema é servido por quatro
(Gaspar & Simões, 2006):
Desenvolvimento territorial;
Planeamento territorial;
Política sectorial; e,
Natureza espacial.
Do ponto de vista regulamentar, a lei serve como guia para o OT à escala nacional, clarificando e
efectivando todo um conjunto de pretensões e estratégias. Associada a esta base legal,
desenvolve-se um extenso conjunto de Leis e Decretos-Leis que possibilitam a organização,
aplicação e gestão deste sistema. Desta forma, são instituídas uma série de ferramentas9 que
permitem, mediante uma coordenação e concertação, a convergência das diferentes entidades
responsáveis para um único tipo e forma de planeamento, flexibilizando-se e harmonizando-se
as decisões.
2. Objectivos
Os objectivos desta unidade temática são os seguintes: Saber integrar o estudo e a aplicação
das ciências naturais e humanas na compreensão das relações entre o conhecimento do meio
biofísico e o quadro social, político, institucional e legal, que fundamentam os modelos e os
instrumentos de gestão territorial. A capacidade de representar, estudar, modelar, ordenar e
organizar sistemas ambientais e territoriais para implementar sistemas de gestão ambiental e
sistemas de gestão territorial, resultam da formação de competências a fim de:
9
Instrumentos de gestão territorial (IGT)
29
Caracterizar, avaliar a gestão de sistemas ambientais nas suas componentes biofísicas e
humanas;
3. Sumário alargado
A Gestão Territorial acaba por conduzir às seguintes mudanças: novas normas de vinculação,
nova requalificação do solo, aposta no planeamento sub-regional, avaliação dos instrumentos
30
de gestão territorial, desmaterialização na elaboração dos programas e planos e, por último,
criação de um Comité Nacional do Território. Quanto às normas de vinculação os programas são
responsáveis por vincular as entidades públicas e os planos são os únicos a vincular as entidades
privadas, isto é, os planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal são os únicos
instrumentos que determinam a classificação e qualificação do uso do solo, bem como a
respectiva execução e programação.
Para Peres & Chiquito (2012) a necessidade de aproximação dos componentes de gestão
ambiental, sustentabilidade e Ordenamento territorial vem resultando em políticas que
procuram redesenhar a relação entre desenvolvimento económico, sustentabilidade ambiental
e os contextos locais e regionais, e conformando organizações intermediárias, entre a escala
municipal e provincial ou regional e entre a escala provincial e nacional, com a atribuição de
31
corporificar a construção de planos e projectos conjuntos ao alcance da participação real dos
grupos sociais neles interessados.
Para Chiquito (2012) embora tenha havido avanços neste sentido, ainda persistem múltiplos
embates e limites que impedem um movimento em direcção à integração entre escalas
territoriais, entre instrumentos de planeamento, actores e instituições. Na escala nacional,
permanece o quadro político-administrativo de sectorialização das políticas públicas e uma
conjuntura económica que acentua a exclusão social. Isto se verifica, por exemplo, nas múltiplas
propostas de políticas de desenvolvimento regional como os Territórios da Cidadania, as
Regiões Integradas para o Desenvolvimento Económico e as políticas de desenvolvimento
regional para as diferentes regiões. A multiplicidade das políticas e sua falta de integração,
associadas ao arranjo político-territorial do poder nacional acarretaram demandas que
conflituam e a aparente fragmentação do território, dificultando a integração do
desenvolvimento e um efectivo ordenamento territorial de cunho ambiental.
Para uma boa gestão territorial, as dinâmicas demográficas, urbanas e rurais, agrícolas,
industriais e as dinâmicas de fluxos e redes têm efeitos múltiplos e cruzados sobre o território, e
são consideradas – ou deveriam sê-lo – pelo ordenamento territorial (Théry & Mello, 2009). As
questões que derivam desses cruzamentos são, sem dúvida, as da sua compatibilidade e dos
conflitos que podem ser produzidos entre elas.
Neste caso, a variável ambiental deve ser entendida como recursos naturais, património natural
e cultural, conhecimento e práticas sociais que começou a ser incluída no discurso e na
definição das políticas públicas, a partir dos anos 1970, tendo um destaque expressivo na
constituição de novas institucionalidades de carácter regional. A partir disso, novos recortes
regionais começaram a ser criados como, por exemplo, as Áreas de Conservação, Bacias
Hidrográficas, Reservas agrícolas nacionais, terras húmidas, etc.
Para Filho & Abramovay (2003) os territórios não são, simplesmente, um conjunto neutro de
factores naturais e de dotações humanas capazes de determinar as opções de localização das
empresas e dos trabalhadores: eles se constituem por laços informais, por modalidades não
mercantis de interacção construídas ao longo do tempo e que moldam uma certa personalidade
e, portanto, uma das fontes da própria identidade dos indivíduos e dos grupos sociais. Em torno
dos territórios existem certos modelos mentais partilhados e comportamentos que formam
uma referência social cognitiva materializada numa certa forma de falar, em episódios históricos
e num sentimento de origem e de trajectórias comuns. Os territórios não são definidos pela
objectividade dos factores de que dispõem, mas antes de tudo, pela maneira como se
organizam. Exactamente por isso, antes de discutir políticas territoriais, é necessário voltar-se
ao que são as novas formas de organização produtiva no mundo contemporâneo e aos novos
desafios que colocam à intervenção do Estado – a gestão.
33
Os desafios centram-se no entendimento de que a política territorial não consiste mais em
redistribuir recursos e riquezas já criadas e existentes, mas ao contrário, em despertar os
potenciais para a criação de riquezas, iniciativas e coordenações novas. É neste sentido que a
OCDE (2001 a) refere-se a uma economia regional da aprendizagem, de cidades e regiões de
aprendizagem.
Os territórios não são apenas o receptáculo geográfico neutro onde empresas, colectividades e
indivíduos actuam: cada vez mais, eles vão-se tornando verdadeiros actores, em virtude da
interacção que promovem entre os conhecimentos das empresas, dos representantes eleitos,
do sector associativo local e dos próprios órgãos do Estado. A essência dos sistemas produtivos
localizados não é o sector económico, mas a rede produtiva da qual a firma é parte. O destino
dos territórios deixa de se concentrar numa autoridade ou numa agência central encarregada
de distribuir recursos e passa a depender da capacidade de criação de riquezas que a própria
interacção entre actores locais é capaz de criar. A estrutura piramidal é substituída por uma
abordagem policêntrica, dotada de múltiplas instâncias de decisão.
4. Bibliografia
OCDE (2001 a) – Cities and regions in the new learning economy – Paris.
Pardal, S. (2006). A apropriação do território. Criticas aos diplomas da RAN e REN. Ordem dos
Engenheiros. Ingenium Edições, Lda.
34
Peres, R. B. & Chiquito, E. de A. (2012) Ordenamento territorial, meio ambiente e
desenvolvimento regional. Novas Questões, Possíveis articulações. Estudos urbanos e regionais
v.14, n.2 / Novembro 2012.
Théry, H.; Mello, N. A. Atlas do Brasil: Disparidades e Dinâmicas do Território. 2ª Ed., São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2009. 312p.
35
UNIDADE TEMÁTICA V: Ordenamento territorial e sustentabilidade ambiental
1. Introdução
O actual debate sobre o território configura uma amálgama de visões que oscilam entre
percebê-lo como uma configuração estática, até a visão de território como realidade complexa
e dinâmica, em permanente transformação, reflexo das dinâmicas físicas, socioeconómicas e
culturais do contexto local e dai a necessidade do seu ordenamento.
O território constituído como espaço social produzido e delimitado por um limite que o ordena
é construído como representação: como tal, pode ser uma ferramenta, um recurso do
desenvolvimento económico e social que se pretende que seja sustentável (possibilite o
aproveitamento de recursos naturais por gerações actuais, sem comprometer a possibilidade de
as futuras gerações o fazerem também). Nesta perspectiva se incluem no processo do
planeamento e o ordenamento as diferentes dimensões do território, destacando a sua
complexidade.
36
competitividade dos produtos gerados no interior de um território, vantagem compartida
colectivamente.
Colocam-se desafios para a acção colectiva no sentido de gerir a apropriação compartilhada dos
benefícios desta competitividade; tais desafios podem ser encaminhados através da negociação
dos conflitos, de regras claras e comuns, da tomada de decisões colectivas.
2. Objectivos
3. Sumário alargado
Para Carmo (2016), numa segunda dimensão, no quadro da organização económica, a tarefa de
assegurar um correcto ordenamento do território assume uma importância evidente: quer para
a aplicação do princípio do planeamento democrático do desenvolvimento económico e social,
quer para a realização de incumbências materiais, como as que visam a promoção do bem-estar
e da qualidade de vida, no quadro de uma estratégia de desenvolvimento sustentável, e a
promoção da coesão, orientando o desenvolvimento e eliminando diferenças económicas,
sociais e territoriais; quer para a realização de incumbências operacionais, como as que visam a
criação de instrumentos de planeamento e a integração de preocupações de racionalidade e
sustentabilidade na utilização dos recursos naturais, no âmbito de políticas sectoriais de
interesse económico e, também, dos objectivos da política agrícola ou agrária. Ainda em
matéria de organização económica sublinha-se a ligação entre o ordenamento do território e os
planos de desenvolvimento económico, no campo dos objectivos e dos processos.
39
fundamental de assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos na resolução
dos problemas nacionais, regionais e locais (Carmo, 2016).
Para Carmo (2016) nos direitos e deveres fundamentais das pessoas nas relações entre si e, com
o estado, o ordenamento do território não é definido como um direito em si mesmo,
delimitado, antes surge, como um dever e um direito transversal, concebido como uma
obrigação programática de política pública que prossegue a racional organização do território e
o desenvolvimento socioeconómico harmonioso e sustentável e que proporciona condições
para a efectivação de direitos positivos de natureza social, como é o caso do direito à habitação
e urbanismo e dos direitos e deveres de última geração, como é o caso do direito ao ambiente e
qualidade de vida, bem como para atingir objectivos de desenvolvimento económico e social.
4. Bibliografia
41
UNIDADE TEMÁTICA VI: Procedimentos de ordenamento territorial. Ordenamento do espaço
rural e do espaço urbano. Características de espaços ordenados
1. Introdução
Os actos de ordenar e planear são intrínsecos à actividade humana e têm as suas histórias
interligadas, além de possuírem objectivos comuns de organização e gestão do espaço
territorial, conforme explica Partidário (1999).
Para Santos (2004) as reflexões acerca dos vários conceitos que definem o termo planeamento
como procedimento para o Ordenamento territorial podem ser resumidos à ideia de que trata-
se de um processo contínuo envolvendo recolha, organização e análise sistematizada de
informações, através de métodos que permitam definir as melhores possibilidades para o uso
dos recursos disponíveis.
Para que o efectivo planeamento seja possível, é necessário conhecer os recursos disponíveis
em relação a sua quantidade e qualidade, bem como os objectivos a que se destinam, os seus
usos. Neste sentido, a utilização do zoneamento como procedimento avaliador do território é
comum, visto que é considerado um integrador de informações ambientais (Silva; Santos, 2004).
Diferentes abordagens de procedimentos têm sido encontradas nas últimas décadas.
Segundo Millikan & Del Prette (2000), os zoneamentos realizados estão relacionados a duas
tradições, sendo uma delas refere-se à regulação de uso do solo urbano e a outra ao
zoneamento agrícola. A primeira, baseada na definição de zonas específicas para as diversas
actividades, de forma a manter as áreas residenciais isoladas de possíveis incómodos e
perturbações, tem carácter normativo.
2. Objectivos
42
de planeamento e ordenamento territorial; confrontar zoneamentos elaborados aos critérios
estabelecidos; identificar os pontos positivos e negativos que se destaquem nos casos a analisar
e que possam ser tomados como referência para outros exercícios de zoneamento.
3. Sumário alargado
Critérios e cenários óptimos - realizar palestras e reuniões abertas à participação pública, seja
para informar decisões, seja para colher informações ou somar opiniões; A participação da
sociedade dá maior credibilidade e aceitação às colocações feitas pelo próprio zoneamento
43
ambiental. Seja pela abertura de espaço para a participação pública, seja pelos interesses
particulares dos diferentes sectores nos objetivos específicos a serem tratados pelo
zoneamento ambiental em questão, é interessante observar como ocorre esta participação: se a
maioria dos sectores se manifesta de forma equilibrada ou se há predomínio de um ou outro
sector nesta participação.
Legislação vigente (espacializável) - Além das componentes físicas e bióticas, leis e/ou normas
que possam ser mapeadas são indispensáveis à elaboração do zoneamento, considerando, por
exemplo, áreas de preservação permanente, distâncias recomendadas entre infraestrutura e
determinadas actividades e usos, entre outros. Entretanto, a consideração destes itens, pode
ser feita de forma especializada em mapas ou como indicações não mapeadas consideradas
pelos tomadores de decisão.
44
Produto final - é fundamental que os mapas representativos dos resultados estejam claros,
além de apresentarem legendas explicativas e informações de leitura simples, permitindo uma
fácil interpretação de suas colocações.
O planeamento do espaço urbano e rural é uma expressão com origem no Reino Unido (Town
and Country Planning Act 1947), adoptado no período imediatamente a seguir à II Guerra
Mundial como resposta aos processos de industrialização e urbanização, mas também
amplamente utilizada no continente europeu. Agrega um conjunto de políticas públicas
abrangendo várias actividades, como planeamento do uso do solo, desenho urbano,
ordenamento da paisagem, renovação urbana, planeamento de transportes, desenvolvimento
de equipamentos, etc. O objectivo global do ordenamento do espaço urbano e rural é a
manutenção do equilíbrio entre o desenvolvimento económico, o bem-estar social e a
qualidade ambiental.
45
3.2.1. Ordenamento do espaço rural
Dados dos Censos Demográficos que são produzidos periodicamente a partir da segunda
metade do século XX mostram grande incremento da população urbana, e um decréscimo
significativo da população rural sendo que hoje, a maior parte da população vive em zona
urbana, a diminuição da população rural, paralelamente ao incremento da população urbana,
indica a tendência de aumento da urbanização em que os países deixam de características rurais
para caminhar no sentido de mais urbanizados. Com a modernização das actividades agrícolas
houve o desenvolvimento de ocupação com fins urbanos na zona rural, ocorrendo uma
crescente conversão de terras rurais em urbanas, mediante uma lógica que não promove a
inclusão social e a sustentabilidade do ambiente (Nakano, 2004).
Para Albuquerque & Albuquerque (2017) no ordenamento, os qualificativos urbano e rural são
identificados pela destinação dada ao solo, ora pela localização do imóvel, sendo que cada um
dos critérios tem sua utilidade jurídica. A noção de área urbana e de área rural pode variar
significativamente conforme o critério adoptado ou conforme o fim que se pretende atingir.
Cada critério de classificação possui os seus limites. É pertinente a determinadas hipóteses
jurídicas enquanto em outras não pode ser aplicada. A definição de imóvel rural conferida pelo
Direito Agrário não é a mesma do Direito Civil. Pela óptica agrarista, a destinação que se dá ao
imóvel ou à actividade nele exercida configura o principal elemento caracterizador do imóvel
rural, e não sua localização, a qual pode ser urbana, inclusive.
46
gasolina com lojas, indústrias ou distritos industriais, e a própria actividade rural pode
desempenhar funções que não visam apenas a produção agrícola, mas a manutenção da
biodiversidade, a preservação histórica, turísticas e outras, não directamente caracterizadas
como funções rurais (Bernardes & Antonello, 2009).
O Mundo Rural constitui um alargado conjunto de regiões, com dinâmicas opostas ao urbano, e
que se iniciam nos limites onde este acaba. Partindo deste conceito os territórios rurais
representam uma elevada percentagem de espaço que, no caso português, se encontra bem
presente, sobretudo no interior do país, fragilizado e marginalizado. Os territórios rurais que
existem actualmente reproduzem uma realidade territorial, resultante de sucessivas mutações
organizacionais e funcionais, ocorridas à medida que a sociedade evoluiu, e que resultaram em
consequências pouco favoráveis para o equilíbrio das suas estruturas socioeconómicas.
No ordenamento dos espaços rurais é necessário entender que o espaço que é geográfico é
também um espaço percebido, em função de cada indivíduo e do seu papel na sociedade e
segundo as necessidades e os desígnios das diferentes épocas. A percepção de cada indivíduo
ou grupo social permite que um mesmo local tenha significados diferentes e possa ser mais ou
menos valorizado. Desta forma, o espaço é mais do que a realidade física, dele fazem parte uma
série de elementos que despertam estímulos sensoriais relacionados com aspectos imateriais
de ordem cultural, religiosa, mítica. Cada grupo humano tem uma percepção própria do espaço
que ocupa, e que de uma forma ou outra lhe pertence (Dollfus, 1976), e é objecto de
representação.
Para (Carlos, 2007) ao ser entendido como um produto histórico e social, subentende-se que o
espaço e as actividades sociais se materializam espacialmente, ao longo do tempo,
determinando a dinâmica do espaço e a sua organização. Contudo, se este se forma pela
acumulação das actividades humanas ao longo dos tempos, também o momento presente é
importante porque lhe confere a funcionalidade e o dinamismo que lhe dão vida. A conjugação
das dinâmicas espaciais passadas e presentes, juntamente com as percepções e desejos
47
emanados dos vários grupos sociais, é o caminho para antever a estruturação dos territórios no
futuro (Figura 3).
Nos espaços rurais Todos os territórios são constituídos por áreas abertas (naturais ou
artificiais), pelas estruturas físicas (edificações) e pela população, que aí se movimenta e
desenvolve as suas actividades, criando um emaranhado de fluxos que resultam das funções
que lhe estão associadas. A presença do homem contribui para a diversificação do espaço
natural, que aumenta à medida que as intervenções se multiplicam e o espaço se socializa,
(Santos & Cunha 2007).
As várias funcionalidades provêm dos diferentes usos que são atribuídos ao espaço e que se
relacionam com a rotina social. A dinâmica da organização espacial depende da forma como a
população e as suas actividades foram sendo geograficamente distribuídas, mas obedecendo a
um centro “económico”. O centro destaca-se, assim, por padrões de elevada densidade em
48
relação à sua envolvente. Esta densidade evidencia-se: ao nível da centralização de actividades,
da concentração populacional, ligada ao exercício das diversas funções, da elevada mancha de
espaço edificado e na disseminação da informação (figura 4).
Nesta figura observa-se que nos ordenamentos dos espaços rurais, a sociedade, sendo
organizadora e indutora de modificações, contribui para a formação de estruturas políticas,
socioeconómicas, culturais e ambientais com diferentes características. Estas características
permitem distinguir e comparar realidades espaciais diferentes, cujas diferenças manifestam-se
em termos de desenvolvimento e de relacionamentos entre espaços. Ou seja, as desigualdades
nos níveis de desenvolvimento geram hierarquias espaciais, estabelecidas a partir de relações
49
de dependências. Estas diferenças no desenvolvimento territorial notam-se entre o centro,
acumulador de funções e polarizador, e as áreas periféricas envolventes, sob a sua influência.
A ausência de uma boa política urbana resulta na produção de cidades com vários problemas
socioambientais: défice habitacional; assentamentos precários; escassez de água potável;
esgotos a céu aberto; ausência ou insuficiência de áreas verdes e de espaços de uso comum de
50
lazer como praças e parques ou destinados à prestação de serviços públicos, como escolas,
delegacias e postos de saúde; despejos de lixos sobre vias públicas e/ou terrenos baldios;
edificações insalubres, sem insolação, mal ventiladas e sem privacidade; moradias em áreas
sujeitadas à disseminação de doenças contagiosas e a acidentes como alagamentos,
deslizamentos e incêndios; poluição do solo, da atmosfera e dos recursos hídricos, além da
poluição sonora; ruas estreitas e insuficientes a fim de o volume de tráfego (saturação do
sistema viário, congestionamento); transporte público precário; calçadas de má-qualidade e
sem acessibilidade universal; conflitos de vizinhança geradores de hostilidade e actos de
violência.
Para que a política urbana produza cidades sustentáveis e justas do ponto de vista económico,
ambiental e social, é imprescindível que a actuação Estatal seja fruto de um planeamento que
alie as melhores técnicas disponibilizadas pelo urbanismo às virtudes cívicas e legitimadoras do
processo democrático participativo. O planeamento é um instrumento que tem por finalidade
resolver ou antever racionalmente algum problema por meio da previsão ordenada de acções
estratégicas. É um processo contínuo que pressupõe a realização de várias actividades prévias e
preparatórias à deliberação política, como o levantamento de dados, diagnóstico da realidade,
elaboração de alternativas e propostas, e avaliação de custos e benefícios.
1. Método científico
O método científico (figura 5) está na base de todas as abordagens de planeamento pois é nele
que se baseia a abordagem racional-compreensiva. Esta abordagem serve como ponto de
partida para todas as outras abordagens de planeamento. Foi Auguste Comte (1798-1857),
considerado por muitos como o pai da sociologia, quem procurou adaptar e aplicar os métodos
da ciência clássica a observação e experimentação aos problemas sociais da época. A lição do
que os métodos científicos transpuseram ao planeamento é que com melhores métodos e
51
análises mais profundas pode ser previsto o desenvolvimento a longo prazo dos territórios e das
cidades, possibilitando assim a construção de planos totalmente capazes de dirigir o seu
desenvolvimento. De acordo com a ciência clássica o planeamento deve-se focar nos factores
quantificáveis (população, infraestruturas, trânsito, distâncias a equipamentos públicos, etc.)
para garantir a maior fiabilidade do processo (Mantysalo, 2005).
Figura 5. Método científico de ordenamento de espaços (serve tanto para espacos urbanos
como rurais).
A abordagem racional compreensiva que Fainstein, (2000) e (Moughtin, 2003) chamam também
de sinóptica é a tradição dominante e, de facto, o ponto de partida para todas as outras
abordagens. As diversas correntes de planeamento que surgem no Séc. XX são de uma forma ou
outra reacções ou modificações desta abordagem. Com origens no movimento utilitarista e no
racionalismo o planeamento Racional ou Compreensivo surge, ou tem a sua grande aceitação,
52
no período imediatamente após a segunda grande guerra. Segundo estes autores existem
quatro elementos clássicos deste método: estabelecimento de objectivos, identificação de
políticas alternativas, avaliação custo-benefício e implementação e avaliação das decisões
(Figura 6).
53
para analisar o problema de um ponto de vista de sistemas relacionando os objectivos com os
meios e obstáculos.
54
Neste método Lindblom considera a alternativa da seguinte maneira: um objectivo principal de
forma explícita ou sem pensamento consciente, o objectivo da manutenção de preços. De todos
os factores já discutidos muitos serão ignorados, nomeadamente os sociais, e seria também
desnecessário efectuar uma categorização hierárquica mesmo dos factores considerados
fundamentais. Defende que a abordagem racional descrita no ponto anterior é incapaz de
resolver eficazmente os problemas de maior complexidade. Essa abordagem pode e foi descrita
mas, com excepção de problemas políticos relativamente simples, ela não tem capacidade de
ser executada. A abordagem racional, segundo Lindblom toma como dado adquirido uma
capacidade intelectual e fontes de informação que simplesmente não existem pelo que, nos
casos em que o tempo e recursos são limitados (quase sempre), é absurdo a sua aplicação em
problemas de elevada complexidade. As instituições públicas estão de facto habituadas a
praticar o método incrementalista defendido pelo autor pois apenas tomam, algumas variáveis
em consideração e poucas alternativas estratégicas com vista à resolução dos problemas que as
afectam (Tabela 2 comparativa).
Tabela 2. Comparação das abordagens racional - incremental
56
que é denegrida ou mesmo eliminada a vertente dos valores e objectivos dando primazia ao
conhecimento profundo do funcionamento dos sistemas urbanos (Freitas, 2014).
Para encorajar um governo urbano mais democrático é necessário incluir, ao invés de excluir
todo o cidadão interessado no processo de planeamento. Esta inclusão não significa apenas a
permissão que o cidadão seja “ouvido” numa audição. Ele tem de ser informado sobre as razões
fundamentais que originaram o processo da construção das propostas e ser capaz de as digerir e
contrapor (Sanoff, 2000). Para tal é necessário que a linguagem seja clara e não ambígua.
O planeamento radical é descrito por Fainstein, (2000) como uma tradição ambígua em que
duas correntes distintas de pensamento unem-se ocasionalmente. A primeira versão é guiada
pelo activismo, guiado por uma visão idealista mas pragmática de ajuda comunitária e
independência. A primazia do crescimento pessoal, espírito cooperativo e liberdade de forças
anónimas é comum ao modelo transactivo. Mais do que as outras abordagens de planeamento
defende que as acções colectivas podem ter resultados tangíveis no futuro imediato. Este
radicalismo aceita funcionar nos interstícios do sistema institucional vigente. A filosofia em que
se baseia para a sua visão social é essencialmente comunitária em que o crescimento individual
se dá pela participação na vida diária da comunidade controlando e experimentando o seu
ambiente sem intervenção do estado central.
57
Para Freitas (2014) a segunda corrente deste movimento vem uma perspectiva crítica e holística
dos processos sociais de grande escala como a estrutura das classes e as relações económicas, o
controlo exercido pelo meio de cultura e os meios de comunicação, as dinâmicas históricas dos
movimentos sociais as confrontações e lutas. Esta corrente foca menos na resolução de
problemas ad-hoc através da comunidade e mais na estrutura do estado. Este estado permeia
toda a vida social em todos os níveis o que irá depois determinar a evolução e resolução dos
vários problemas sociais e económicos. Esta tradição do radicalismo está associada à visão do
planeamento como “mandarinismo”.
Para Henry Lefebvre (2000), Costa (2002) e Morais (2001) a existência de espacos ordenados
contendo: divisão social e técnica do trabalho; divisão territorial do trabalho; desenvolvimento e
acumulação tecnológico; transformação de excedente agrícola; sistema de transporte e de
58
comunicação e certa concentração espacial de actividades não agrícolas. Pode-se dizer que um
espaço ordenado é uma área urbanizada, que se diferencia de outros espaços através da
combinação de vários critérios, como a aglomeração de população, a densidade demográfica, a
ocupação da população em actividades do sector secundário e terciário, a diversidade das
funções económicas;
Cada uma das suas componentes vai dar origem a um modelo de cidade distinto. Uma cidade
menos regular, estruturada essencialmente a partir de funções e de edifícios singulares, civis ou
religiosos, situados em lugares elevados da malha urbana, os quais vão dar sentido e estruturar
os espaços urbanos envolventes. Quanto ao modelo de cidade associado à componente erudita,
verifica-se que este origina cidades com um traçado regular (ou mais regular), planeadas e
construídas de acordo com um projecto, onde é definida uma ordem (geométrica) que estrutura
o traçado urbano e define a posição dos diferentes tipos de edifícios e de funções.
59
Figura 9. Evolução da mancha de ocupação da cidade da Praia de até 1960 a 2000.
Fonte: Nascimento, J.M.do (2015) Citando Amaral, I. do (1964); EEPDM Praia (1998); Monteiro,
H. (2000); Fotografias aéreas da Praia (2004), inventário de terreno (2007); imagem do Google
earth (2008)
60
4. Bibliografia
Albuquerque, P. C. & Albuquerque, M. P. de (2017) A ocupação da zona rural com fins urbanos,
o ordenamento territorial pelo município e a cidade sustentável. Organização pelo Comité
Científico Double Blind Review pelo SEER/OJS. Revista de Direito Urbanístico, Cidade e
Alteridade | e-ISSN: 2525-989X | Brasília | v. 3 | Nr. 1 | p. 36 – 57 | Jan/Jun. 2017.
Bernardes, J. R.; Antonello, I. T. (2009). A interface entre a implantação de chácaras para lazer e
a constituição do “Novo Rural brasileiro. Campo- Território: Revista de Geografia Agrária, V.4,
N.7, p. 112-139, 2009.
Fainstein, S. S. (2000). New Directions in Planning Theory. Urban Affairs Review, 35 (4), 451 –
478. Doi: 10.1177/107808740003500401.
Lindblom, C. (1959). The Science of Muddling Through. Public Administration Review, 19(2), 79–
88.
Lindblom, C. (1979). Still Muddling, Not Yet Through. Public Administration Review, 39 (6), 517 –
526.
Moor, M., & Rowland, J. (2006). Urban Design Futures (1st ed.). Routledge.
Morais, J. S. Maputo: Património da estrutura e forma urbana. Lisboa: Livros Horizonte, 2001.
Moughtin, J. C. (2003). Urban Design: Method and Techniques (2nd ed.). Arquitectural Press.
Nakano, K. O Plano Diretor e as zonas rurais. In Santoro, Paula & Pinheiro, Edie (Orgs.), O
município e as áreas rurais. São Paulo: Instituto Pólis, 2004.
Reynaud (1981) – Société, espace et justice: inégalites régionales et justice socio-spatiale. PUF,
Paris.
Sanoff, H. (2000). Community Participation Methods in Design and Planning. John Wiley and
Sons.
62
Santos, N. e Cunha, L. (2007) – Novas oportunidades para o espaço rural. Análise exploratória no
Centro de Portugal. VI Congresso da Geografia Portuguesa, Lisboa, 17-20 de Outubro.
Santos, R. F. Planejamento Ambiental - teoria e prática. São Paulo: Oficina de textos, 2004.
184p.
Santos, R. R. dos, mariana; Ranieri, M. L. & Eduardo, V. (2013) Critérios para análise do
zoneamento ambiental como instrumento de Planejamento e ordenamento territorial. Ambiente
& Sociedade, vol. XVI, núm. 4, Octubre-diciembre, 2013, pp. 43-62. Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade Campinas, Brasil.
63