SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
2 PERSONALIDADE ..................................................................................... 4
2
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta
, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta.
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 PERSONALIDADE
Fonte: slideplayer.com.br
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seja quem ele é, sendo um ser que pode mudar, se aprimorar e se respeitar
constantemente.
De acordo com SILVA L; et al., (2018) a personalidade é desenvolvida através
da estrutura e tem como base, o alicerce que contém componentes hereditários,
pessoais e ambientais. Ela é formada até a adolescência e também por meio do
conteúdo relacionado a experiências familiares, escolares, culturais, religiosas e
sociais, que resultam nos detalhes do acabamento pessoal, que podem ou não ser de
primeira linha, contudo, fomentar a personalidade irá permitir ao indivíduo a
desenvolver enquanto ser humano e compreender a sua existência através de
opiniões, valores e sentimentos.
Nenhum ser humano mostrará características que já não estejam presentes em
outros indivíduos como um tipo de herança humana, isto é, todos os indivíduos da
mesma espécie recebem os traços característicos dessa espécie. No entanto, a
combinação individual dessas características em diferentes proporções em uma
determinada pessoa irá caracterizar sua personalidade ou sua maneira de ser
(AUWEELE, CUYPER, MELE E RZEWNICKL, 1993 apud SILVA L; et al., 2018).
Os traços de personalidade não agem independentemente uns dos outros.
Uma pessoa é aquilo que se deve à combinação e interação de muitas características
e traços, cujo número ainda não foi determinado. O conceito de traço é a peça
fundamental da construção da personalidade de um indivíduo, tendo em vista que os
traços psicológicos podem ser definidos como estruturas internas estáveis que servem
como comportamento predisponente e, consequentemente, podem ser "indicadores"
de futuros comportamentos (AUWEELE, CUYPER, MELE E RZEWNICKL, 1993 apud
SILVA L; et al., 2018).
Segundo Silva e Nakano (2011 apud SILVA L; et al., 2018), os traços de
personalidade podem ser usados para resumir, prever e explicar o comportamento de
uma pessoa” (p. 52), ao avaliar essas características, as respostas e motivações de
uma pessoa para certos comportamentos, seriam encontradas em sua personalidade.
Mas, assim como existem vários conceitos para o assunto, também existem várias
teorias analíticas, e a avaliação da personalidade depende da teoria que o
pesquisador adota.
5
O desenvolvimento da personalidade
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para enfrentar a vida, através da afirmação absoluta do ser individual e da melhor
adaptação possível a tudo o que existe em geral, e tudo isso junto com a máxima
liberdade de escolha.
A personalidade se desenvolve no curso da vida e é apenas por meio de nossas
ações e da maneira como agimos que podemos descobri-la. A princípio, não sabemos
o que está escondido dentro de nós, que fatos sublimes ou que crimes existem em
nós, que é uma espécie do que é bom ou mal. Ninguém desenvolve sua personalidade
porque alguém disse que isso era certo ou pelo o que precisa ser feito, a natureza não
se deixa impressionar pelas conversas e falatórios. (JUNG, 1981 apud NASCIMENTO
L; 2012).
Martins (2011 apud NASCIMENTO L; 2012) trata do tema da personalidade a
partir dos processos psicológicos de cada indivíduo. A autora lembra que o reflexo
psicológico
A unidade entre o real e o ideal é garantida pela atividade vital humana, que ao
mesmo tempo é mediatizada e mediatizadora do reflexo psicológico. Essa discussão
se baseia na produção da psicologia cultural histórica desenvolvida por um grupo de
pesquisadores russos no século XX. Leontiev (1978, p. 183 apud NASCIMENTO L;
2012) afirma que a atividade em seus estágios iniciais de desenvolvimento “assume
a forma de processos externos pelos quais a imagem psíquica aparece como produto
desse processo. ” No entanto, atividade é uma manifestação em ações pelas quais o
homem se fixa na realidade objetiva e a transforma em realidade subjetiva.
Martins (2011, p. 65 apud NASCIMENTO L; 2012) traz de Rubinstein (1960
apud NASCIMENTO L; 2012) três teses básicas para a caracterização da consciência
no contexto da concepção histórico- social. A primeira é: “A consciência é a forma
específica de reflexão sobre a realidade objetiva que existe fora e independentemente
da consciência. “A autora afirma que esta tese assume que:
Portanto,
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hipóteses, leis, teorias pelas quais o homem conhece a realidade, a outra
forma de expressão se revela na produção de finalidades, dos objetivos que
procedem e orientam as ações humanas. (MARTINS, 2011, p. 66 -67 apud
NASCIMENTO L; 2012).
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O teórico da personalidade aceitou uma responsabilidade pelo menos parcial
de reunir e organizar os diversos achados dos especialistas. O experimentalista
poderia saber muito sobre habilidades motoras, audição, percepção ou visão, mas em
geral sabia relativamente pouco sobre como essas funções especiais se relacionavam
umas com as outras. O psicólogo da personalidade estava, nesse sentido, mais
preocupado com reconstrução ou integração do que com análise ou estudo segmental
do comportamento (Hall et al., 2000, p. 31 apud ROCHA N; 2013).
De acordo com os teóricos da personalidade, as teorias da personalidade
servem para juntar e sistematizar uma gama de observações e achados além de
sugerir o caminho para novas descobertas. Assim sendo, uma teoria da personalidade
está em constante busca de explicar o que, como e por que os indivíduos são e agem
de determinada maneira. Sendo que o que refere-se às características da pessoa, ou
como diz respeito aos determinantes da personalidade, por exemplo: qual grau de
influência e de interação entre fatores genéticos e ambientais no comportamento das
pessoas. Já o porquê está relacionado às razões ou aos aspectos motivacionais que
conduzem ou geram determinado comportamento e não outro (Pervin & John, 2004
apud ROCHA N; 2013).
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operam os mecanismos de estabilidade e mudança, entre outros aspectos (Beck, A.
T., & Alford, 2000 apud ROCHA N; 2013).
Dessa forma, torna- se como uma condição básica dentro da teoria da
personalidade as seguintes formas de análises da referente teoria: a) os critérios de
uma teoria científica geral, pois como busca ser uma teoria científica, as teorias da
personalidade precisam se submeter às mesmas exigências de clareza, abrangência,
utilidade e parcimônia, b) critérios básicos que constituem uma teoria da
personalidade, quais sejam: estrutura, processo, crescimento e desenvolvimento,
psicopatologia e mudança, c) requisitos que uma teoria da personalidade completa
deve apresentar seu parecer, ou seja, sua perspectiva quanto à concepção de
homem, motivação humana, aos determinantes internos e externos, os processos
conscientes e inconscientes e a relação entre cognição, afeto e comportamento (Beck,
A. T., & Alford, 2000 apud ROCHA N; 2013).
3 PERSONALIDADE NORMAL
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Quarto, torna- se necessária a condução adequada dos impulsos libidinais e
agressivos, o que requer a plena expressão das necessidades sexuais e a sublimação
dos impulsos agressivos de acordo com a forma de assertividade, resistindo aos
ataques sem exagero de uma reação excessiva e sem voltar - se a agressividade
contra si mesmo (self) (Kernberg, 2006 apud SÁ D; 2010). Para Coleman (2005 apud
SÁ D; 2010), a normalidade baseia-se na flexibilidade no uso de mecanismos de
defesa, a maioria dos quais devem ser baseada em mecanismos de defesa de forma
madura, apesar da possibilidade (reduzida) de usar mecanismos de defesa de forma
imatura.
Para Bergeret (2004 apud SÁ D; 2010), a personalidade normal “corresponde
a uma estrutura profunda, neurótica ou psicótica, não descompensada (e que talvez
nunca o venham a estar), estruturas estáveis e definitivas em si que se defendem
contra a descompensarão por uma adaptação à sua originalidade. ”
Mudança da personalidade:
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A personalidade está sujeita a mudanças? Em caso afirmativo, quais são os
efeitos dessa mudança? Uma pesquisa recente sugere que os tratamentos
psicodinâmicos e cognitivos, comportamental e farmacológico, promovam mudanças
de personalidade (Piper & Joyce, 2001; Paris, 2005, cit por Livesley, 2007 apud SÁ D;
2010). De acordo com um estudo de Coleman (2005 apud SÁ D; 2010), a terapia
psicanalítica e cognitiva - comportamental, tem efeitos sobre as mudanças nas
cognições e defesas.
Carl Rogers (2007 apud SÁ D; 2010) sugere seis condições necessárias e
suficientes para o processo de mudança de personalidade no contexto da
psicoterapia:
Para SÁ D; (2010) em primeiro lugar, é imprescindível que a relação seja
estabelecida, no sentido de que seus dois intervenientes estarem em contato
psicológico (sem relação, não há mudança);
Conforme SÁ D; (2010) em segundo lugar, é preciso que o cliente esteja a
vivenciar um estado de incongruência, sentindo-se vulnerável ou ansioso (ou
seja, há uma discrepância entre a experiência atual e a forma como o indivíduo
representa essa experiência).
Como caracteriza SÁ D; (2010) em terceiro lugar, apenas o terapeuta deve
mostrar- se congruente, genuíno e integrado no contexto relacional;
Como alega SÁ D; (2010) em quarto lugar, o terapeuta deve aceitar os aspectos
do cliente de forma incondicional, sem condições de aceitação, implicando em
uma disposição para cuidar do outro, como uma pessoa separada, não
possessiva ou como satisfação própria.
De acordo com SÁ D; (2010) em quinto lugar, o terapeuta deve experimentar
uma compreensão empática do quadro de referência interno do cliente e
encorajar a comunicação dessa experiência com o cliente. (Ou seja, o
terapeuta deve ser capaz de sentir o mundo de seu cliente como se fosse seu,
sem perder sua identidade. Somente se o terapeuta puder acessar livremente
este mundo e percebê – lo genuínamente e empáticamente, é que ele
consegue comunicar com o cliente estes aspectos, partilhando a linguagem e
compreensão do mesmo);
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Para SÁ D; (2010) em sexto lugar, a comunicação da compreensão empática
do terapeuta e da aceitação incondicional ao cliente deve ocorrer em um nível
mínimo, uma vez que está presente no comportamento, palavras e atitude do
terapeuta e é entendida, quando de uma boa relação, pelo cliente.
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A maioria dos estudos relatados pelos autores descobriu que as mudanças
foram positivas. Para McWilliams (2005 apud SÁ D; 2010) do ponto de vista
psicanalítico, ele afirma que a personalidade pode ser significativamente alterada pela
terapia, mas não pode ser transformada. As pessoas retêm seus roteiros e guias
principais, conflitos, expectativas e defesas internas, embora mantenham a
oportunidade de expandir sua autonomia e autoestima quando os componentes de
sua personalidade básica são esclarecidos, independentemente de o contrato
terapêutico conter ou não um acordo para mudar a personalidade, a consideração de
sua natureza por ambas as partes facilitará o trabalho do relacionamento terapêutico.
Segundo Debray e Nollet (2004 apud SÁ D; 2010), os esquemas de transtorno
de personalidade, ou seja, as perturbações existentes da personalidade são muito
difíceis de mudar, sugerindo que a personalidade de um paciente não pode ser
mudada. De acordo com estes autores, o que é possível fazer é reforçar um esquema
alternativo ou orientar para uma perspectiva socialmente proveitosa para o cliente.
Como tentativa para responder à nossa segunda pergunta, em relação a
personalidade se a mesma mudar qual seria o aspecto que iria incidir essa mudança?
Livesley (2007 apud SÁ D; 2010) compreendendo a personalidade como um sistema
organizado de componentes e subsistemas, e confirma que cada um dá origem a
diferentes áreas da psicopatologia.
Como caracteriza SÁ D; (2010) o autor reconhece seis áreas de personalidade
alterada/perturbada, como o componente sintomático (por exemplo, medo, ansiedade,
depressão, comportamento impulsivo), mecanismos de controle que regulam
emoções e impulsos, predisposições genéticas e o sistema interpessoal (que
consistem em representações do outro, crenças, expectativas e estratégias
comportamentais que influenciam o relacionamento), sistema do self (conjunto de
esquemas utilizados para organizar a autoconsciência e autoconhecimento de forma
coerente, o que confere estabilidade e direcionamento à experiência e direção à
ação.).
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Conforme a base desses dois últimos domínios interconectados é
desencadeada a compreensão das regras que governam o comportamento humano.
(e.g. Como a teoria da Mente, o que irá sugerir um trabalho de mentalização). Por
fim, a última área está relacionada ao meio ambiente, pois o indivíduo seleciona,
projeta e estrutura seu contexto para apoiar sua personalidade. Portanto, é necessário
que o autor leve esses aspectos em consideração ao tentar intervir no contexto
terapêutico dos transtornos de personalidade. Livesley (2007 apud SÁ D; 2010) define
cinco fases que compõem o processo de mudança:
Para SÁ D; (2010) segurança - ocorre no início do tratamento e respeita o
momento de crise (perda do controle emocional, comportamento
desorganizado, agressão a si mesmo, ou seja, virando -se para o self ou a para
o outro), oferecendo uma estrutura de apoio e suporte.
De acordo com SÁ D; (2010) contenção - em conjunto com o anterior, visa
conter impulsos e afetos e restaurar a capacidade de controlar o
comportamento, o que requer forte aliança, afirmação, validação e
compreensão empática.
Como alega SÁ D; (2010) controle e regulação – essa fase continua após a
superação da crise com o objetivo de reduzir os sintomas, a violência e os
ataques ao self por meio da aquisição de habilidades e competências de
autocontrole que compensem os déficits nos mecanismos reguladores do self.
No dizer de SÁ D; (2010) exploração e mudança – o tratamento leva à
exploração e modificação dos processos cognitivos, afetivos e motivacionais
que estão por trás do problema do paciente.
Para SÁ D; (2010) integração e síntese – quando se chega ao fim do
tratamento o mesmo irá exigir a integração de fragmentos da personalidade e
a síntese de uma nova estrutura, nomeadamente dos limites interpessoais, de
um Eu/self mais coerente e de uma representação mais integrada do outro.
Para Livesley (2007 apud SÁ D; 2010), por um lado, trabalhar no tratamento de
personalidades perturbadas envolve construir uma relação de colaboração, manter
um processo de tratamento consistente, promover a validação e construir a motivação
e o compromisso com a mudança. Estas intervenções gerais permitem ao paciente a
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experiência a uma vivência de um self estável em sua relação (com o terapeuta), o
que contribui para a construção de um self mais coerente.
Como descrito por SÁ D; (2010) em relação a intervenções mais específicas,
o autor reitera a importância de aumentar a autoconsciência para levar ao
autoconhecimento (ampliando a visão dos pacientes sobre seus problemas e
aspectos de si mesmos (self), especialmente aqueles com transtornos de
personalidade, em que o conhecimento de si mesmo é limitado, desorganizado e
compartilhado ou suprimido), proporcionar novas experiências (dentro e fora do
contexto terapêutico, ou seja, experiências emocionais corretivas com o terapeuta que
podem ser assimiladas e estendidas a outros contextos) e também novas
aprendizagens.
Para o autor, é impensável esperar que os pacientes façam mudanças
profundas sem ajuda na criação de um novo roteiro de vida que os capacitará a
entender o que está acontecendo com eles. Por outro lado, também é importante
trabalhar com o paciente a questão da manipulação que leve a mudança em seu
ambiente. A intervenção cognitiva desempenha um papel importante na modulação
de padrões e esquemas de modos e pensamentos mal adaptativos. As intervenções
psicodinâmicas são úteis na modificação de padrões cíclicos de comportamentos
interpessoais e na manipulação do evitamento e outras estratégias que criam
resistências ao tratamento (Livesley, 2008 apud SÁ D; 2010).
Como alega SÁ D; (2010) dois níveis importantes de mecanismos de mudança
são aqueles que envolvem o paciente e aqueles que envolvem o processo terapêutico,
incluindo as técnicas utilizadas pelo terapeuta. O nível dos mecanismos cognitivos e
de defesa do paciente é um aspecto importante: na terapia cognitivo-comportamental,
a incidência de intervenções para alcançar mudanças está em cognições distorcidas.
Na terapia psicanalítica, a intervenção passa por mecanismos de defesa. Do ponto de
vista cognitivo-comportamental, os sintomas são causados por pensamentos
automáticos desadaptativos o que chamamos de mal adaptativos que refletem a
estrutura cognitiva.
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Este modelo teórico utiliza como técnicas o questionamento socrático, a
psicoeducação e o coaching para observar e modificar padrões de pensamento, afeto
e comportamento. Do ponto de vista psicanalítico, a intervenção nos mecanismos de
mudança é feita através das defesas, do tornar consciente o inconsciente ou da
relação objetal, pela internalização do self e do outro. Neste modelo teórico, a relação
é por si só uma ferramenta que estimula o uso de defesas mais maduras e promove
o insight, através de técnicas interpretativas (Coleman, 2005 apud SÁ D; 2010).
Já Eysenck (1976; cit. in Dias, 2004 apud SILVA ANA; 2014) definiu
personalidade como “a organização mais ou menos estável e persistente do
carácter, temperamento, intelecto e físico do indivíduo, que permite o seu
ajustamento único ao meio”. Deste modo, a personalidade assume uma linha
de padrões básicos de comportamento, que vão sofrendo alterações ao longo
do seu processo evolutivo através da aprendizagem, desenvolvimento e meio
ambiente (Savastano, 1980 apud SILVA A; 2014).
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Todas as teorias da personalidade surgiram da tentativa de descrever e explicar
como os indivíduos diferem em seu comportamento, em sua personalidade (John,
1999 apud SILVA A; 2014). Do ponto de vista de um dos conceitos, a personalidade
é vista como a integração dinâmica dos padrões de comportamento do sujeito com
base no temperamento, caráter, sistema de valores internalizados e habilidades
cognitivas (Kernberg, 2006 apud SILVA A; 2014). Existem vários modelos teóricos
com base psicanalítica, mas todos eles se relacionam com processos dinâmicos, em
contraste com os traços de personalidade, que neste caso são vistos como atributos
estáticos.
Assim, “as pessoas se organizam em dimensões que são significativas para si
mesmas e apresentam características emblemáticas que expressam ambas as
polaridades de uma dimensão proeminente e saliente” (Mc Williams, 2005, pag.62
apud SILVA A; 2014). Em contraste com as teorias psicológicas e cognitivas, a
personalidade é percebida como uma série de padrões que permanecem estáveis ao
longo do tempo, resultante de uma combinação de influências genéticas e do meio ao
longo do desenvolvimento. Assim, a personalidade é percebida como uma série de
características específicas que proporcionam um perfil individual estável. (Asendorpf,
2008 apud SILVA A; 2014).
Portanto, faz sentido distinguir o conceito de personalidade de traços de
personalidade, em que os últimos são definidos como uma unidade de análise
comportamental, no entanto, a forma como eles estão relacionados não é semelhante
(Digman, 1990, cit in Pais Ribeiro, 2005). Assim, o caráter único e distinto que a
personalidade confere a cada indivíduo inclui traços gerais semelhantes aos de outras
pessoas. Portanto, duas pessoas com personalidades diferentes podem se comportar
ou se comportar de forma semelhante. Dessa forma o paradigma de traços é baseado
na identificação das características de personalidade que são responsáveis pela
consistência comportamental (Paim, 2002 apud SILVA A; 2014).
19
Quando se trata de mudanças de personalidade Rogers (2007 apud SILVA
ANA; 2014) a definiu como uma mudança que pode ser estrutural, superficial ou
profunda, no sentido de que se pretende uma estrutura mais madura, com maior
integração do eu/self e isso significa menos conflito interno. No entanto, a mudança
de personalidade no processo psicoterapêutico é um tema controverso, na medida em
que alguns autores defendem essa possibilidade, outros consideram tal mudança
impossível. Mas hoje sabemos que há estudos que mostram que tanto a terapia
psicanalítica quanto a cognitivo-comportamental causam mudanças na personalidade
(Livesley, 200 apud SILVA A; 2014).
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funcional, ela se apresentou em um nível médio em comparação a uma amostra de
pacientes com diagnóstico de transtorno de personalidade. No nível de defesa, estava
localizado no nível neurótico e enfatizava a defesa contra a intelectualização e
deslocamento. Ao fim do primeiro ano, assistiu-se a uma elevação na personalidade
saudável, pela avaliação do SWAP-200, não apresentando critérios para um
diagnóstico de perturbação de personalidade.
Conforme SILVA A; (2014) ao mesmo tempo, houve um aumento na função
geral de defesa avaliada com a DMRS. Do ponto de vista analítico, a produtividade
geral da contribuição do paciente para a terapia melhorou em aproximadamente
12,5%. No final do segundo ano, obteve um ganho adicional de 2,9 pontos na
classificação de alto desempenho do SWAP200, resultando em um aumento geral de
49,34 para 60,81, valores muito diferentes dos valores originais comparando com os
nos iniciais. No nível de defesa, não houve mudança em seu estilo de defesa no
domínio neurótico, mas houve uma diminuição na defesa neurótica e obsessiva e um
aumento na defesa madura, com o desempenho geral da defesa sendo ligeiramente
maior do que no final do primeiro ano de psicoterapia.
Hersoug e colaboradores (2002 apud SILVA A; 2014) conduziram um estudo
com o objetivo de compreender se as mudanças observadas nos mecanismos de
defesa predizem os resultados durante a psicoterapia psicodinâmica breve. Assim,
eles compararam a mudança nos sintomas e nas defesas, sendo esta última avaliada
por meio da escala DMRS e do questionário DSQ sobre estilo defensivo em uma
amostra de 43 pacientes. Os autores deste estudo concluíram que o funcionamento
geral defensivo teve melhorias só a partir da 16ª sessão, ao passo que os sintomas
apresentaram uma melhoria logo no início da terapia.
Moreno e colaboradores (2005 apud SILVA A; 2014) apresentaram um estudo
de caso de 2 anos em psicoterapia psicodinâmica para avaliar o diagnóstico
psicodinâmico e sua evolução. Para tal, os teóricos utilizaram material nas sessões
de supervisão com as seguintes técnicas e instrumentos empíricos: o tema central da
relação de conflito, ou seja, núcleo do relacionamento conflituoso (Core Conflitual
Relationship Theme) (Luborsky & Crits-Christoph, 1990 apud SILVA A; 2014), a
Symptom Checklist90-Revised (Derogatis, 1983 apud SILVA A; 2014), e Elementos
Diferenciais para um Diagnóstico Psicodinâmico (Moreno et al., 1998 apud SILVA A;
21
2014). Assim, foi possível o reconhecimento de alguns fatores responsáveis pela
mudança psíquica ao longo do processo psicoterapêutico, mostrando os benefícios
da utilização de vários instrumentos de avaliação possibilitando uma análise mais
completa acerca da evolução do paciente durante o tratamento.
Malheiro (2012 apud SILVA A; 2014) a personalidade e o mecanismos de
defesa foram avaliados por meio de gravações de áudio de reuniões a cada seis
meses com Shedler-Westen Assessment Procedure (SWAP-200), e o Defense
Mechanism Rating Scales (DMRS) respetivamente e o Symptom Checklist-90-
Revised (SCL-90-R) aplicado em três momentos distintos, ao longo do processo
psicoterapêutico. Com este estudo, a intenção era investigar as ligações entre as
alterações da personalidade, o uso de determinados mecanismos de defesa e a
redução dos sintomas em dois pacientes, seguido de psicoterapia pelo mesmo
terapeuta durante um período de 2 anos. Dos resultados obtidos concluiu que em
ambos os casos analisados, a mudança sintomática ocorreu de uma forma mais
rápida do que ao nível estrutural, isto é, ao nível da personalidade e dos mecanismos
de defesa.
Loureiro (2012 apud SILVA A; 2014) também realizou um estudo que teve como
objetivo, observar a relação entre mudanças nos mecanismos de defesa e traços de
personalidade durante todo o processo terapêutico em dois pacientes com
personalidades diferentes. Para a avaliação dos mecanismos de defesa foi utilizada a
escala Defense Mechanisms Rating Scales (DMRS) e na avaliação das características
de personalidade o The Shedler-Westen Assessment Procedure (SWAP-200). Foram
analisadas 33 gravações áudio de sessões de duas pacientes do mesmo terapeuta
sob psicoterapia de inspiração psicanalítica.
De acordo com SILVA A; (2014), os resultados mostraram que diferentes
pacientes e grupos de patologia levaram a uma taxa característica de mudança nos
mecanismos de defesa. Os níveis globais de funcionamento defensivo na DMRS, e
os indicadores de saúde mental do SWAP-200, variaram no mesmo sentido, em
ambas as pacientes. A partir disso, concluiu-se que as flutuações na personalidade
do paciente e na função de defesa estão relacionadas, o que é um forte indicador das
mudanças estruturais encontradas ao longo do processo terapêutico.
22
O estudo realizado por Marques (2012 apud SILVA A; 2014) consistia em
observar como as atitudes, comportamentos e interações do terapeuta mudam
quando influenciados pelos traços de personalidade de seus pacientes. Para tal,
analisou gravações áudio de sessões de duas pacientes em psicoterapia psicanalítica
com o mesmo terapeuta durante dois anos e avaliadas utilizando o Psychotherapy
Process Q-Set (PQS; Jones, 2000) no início, 6, 12, 18 e 24 meses de terapia.
A personalidade dos pacientes foi avaliada através do ShedlerWesten
Assessment Procedure (SWAP-200; Shedler & Westen, 1998 apud SILVA ANA; 2014)
e os resultados das terapias foram obtidos através do SCL-90- R (Derogatis & Savitz,
2000 apud SILVA A; 2014). Dos resultados obtidos, foi constatado que o terapeuta foi
mais claro, seguro e paternalista, com a paciente neurótica obsessiva, aderindo mais
fortemente ao protótipo psicodinâmico com a paciente borderline e dependente, com
quem foi adaptando mais a sua adesão a diferentes técnicas ao longo do tempo.
23
de diagnóstico “Outras perturbações de personalidade especificadas” e “Perturbação
de personalidade não especificada.
Conforme GOMES L; (2013), A publicação da 3ª edição do DSM, em 1980,
introduziu o sistema multiaxial de organização da psicopatologia, estando as
perturbações de personalidade incluídas no Eixo II, considerando-as em entidades
nosológicas distintas das principais síndromes clínicas em Psiquiatria, podendo
coexistir com estes mesmos. A definição geral de transtorno de personalidade
esclareceu a distinção entre traços e transtornos de personalidade, enfatizando a
necessidade de inflexibilidade, desajustamento e interrupção do funcionamento do
indivíduo para que o diagnóstico do transtorno de perturbação fosse aplicado.
De acordo com GOMES L; (2013) este volume forneceu uma descrição mais
abrangente de cada uma dessas patologias, para as quais os critérios diagnósticos
politéticos foram estabelecidos pela primeira vez e 11 diagnósticos específicos foram
definidos, organizados em 3 grupos ou “clusters”, bem como uma categoria residual
reservada para perturbações de personalidade atípicas, mistas ou outras (Ver tabela
1, pág.26).
Fonte: eg.uc.pt
24
Como caracteriza GOMES L; (2013) essas mudanças levaram a uma melhoria
significativa na validade e confiabilidade dos diagnósticos em patologia de
personalidade. A versão revista do DSM-III, publicada em 1987, foi publicada e
orientada por uma maior estabilidade na seção de transtornos de personalidade em
relação as perturbações fazendo uma comparação com as edições anteriores. Bem
como algumas mudanças de nome, incluindo a atribuição das letras A B e C aos
diferentes “clusters/ aglomerados”, certos critérios diagnósticos, baseados na
literatura e pesquisas empíricas disponíveis até o momento, também foram
modificados para alcançar maior objetividade e validade científica.
De acordo com GOMES L; (2013), no apêndice A foram adicionados dois novos
diagnósticos em relação aos transtornos de personalidade sobre a questão das
perturbações como por exemplo a personalidade sádica e autodestrutiva, tendo em
vista que foram incluídos no apêndice A, tornando-se assim alvos para investigação
futura no sentido de esclarecer a sua validade e utilidade clínica. No DSM-IV,
publicado em 1994, a definição geral de transtornos de personalidade das
perturbações foi expandida e os pré-requisitos para diagnosticar esses transtornos
são apresentados na forma dos seguintes critérios diagnósticos gerais.
Para GOMES L; (2013) A - Padrões persistentes de experiências e
comportamentos internos que diferem significativamente do que é
esperado na cultura do indivíduo em pelo menos duas das seguintes
áreas: cognição, afetividade, funcionamento interpessoal e controlo de
impulsos;
No dizer que GOMES L; (2013) B - A rigidez desse padrão global se
manifesta em uma ampla gama de situações pessoais e sociais.
Conforme GOMES L; (2013) C - Estresse e sofrimento clinicamente
significativo ou deficiência em áreas sociais, ocupacionais ou outras
áreas funcionais importantes que podem ser atribuídas a este padrão.
Como aponta GOMES L; (2013) D - Estabilidade, longa duração e início
da adolescência ou também início da idade adulta;
De acordo com GOMES L; (2013) E - O padrão não pode ser melhor
explicado como uma manifestação ou consequência de outro transtorno
de personalidade das perturbações.
25
Para GOMES L; (2013) F - O padrão não se deve ao efeito fisiológico
direto de uma substância ou de uma doença geral.
27
A proposta dimensional não foi aceita como um sistema de diagnóstico oficial,
tendo sido incluída na seção III (emerging measures and models - medidas e modelos
emergentes) para encorajar estudos futuros, esta decisão foi tomada devido ao apoio
limitado à pesquisa e a uma mudança muito repentina na prática clínica, no entanto,
os componentes do modelo alternativo para transtornos de personalidade
provavelmente desempenharão um papel importante nas novas versões do DSM
(FEW, 2013 apud GOMES A; 2019).
O termo personalidade traz diversas controvérsias em sua definição, o teórico
Gordon Alport, sugeriu que a personalidade pode ser entendida simplesmente como
“O que a pessoa realmente é”. De acordo com o DSM5, o transtorno de personalidade
é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia
fortemente das expectativas da cultura de um indivíduo, sendo este difuso e inflexível,
começa na adolescência ou no início da idade adulta, permanece estável ao longo do
tempo e leva a um considerável sofrimento e / ou restrições de prejuízos funcionais
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud GOMES A; 2019).
Conforme GOMES A; (2019) os seguintes transtornos de personalidade
estão incluídos no DSM -V:
Para GOMES A; (2019) transtorno de personalidade paranoide: esse tipo
de transtorno de personalidade leva a uma desconfiança ou uma grande suspeita que
as motivações de outros são interpretadas como maliciosas.
De acordo com GOMES A; (2019) transtorno de personalidade esquizoide:
são padrões que fazem com que o indivíduo se distancie das relações sociais e
também adquiri uma faixa restrita de um prejuízo da expressão emocional.
Como discorre GOMES A; (2019) transtorno da personalidade
esquizotípica: padrões de estresse e desconforto agudo em relacionamentos
íntimos, distorções cognitivas ou perceptivas e excentricidades comportamentais.
No dizer de JESUÍNO A; (2019) transtorno de personalidade antissocial: diz
respeito a comportamentos divergentes com outras pessoas, incluindo um sentimento
exagerado da própria importância, bem como antipatia insensível em relação aos
outros, englobando os traços de Manipulação, Insensibilidade, Desonestidade e
Hostilidade.
28
Citando, Beck, Freeman, Davis e cols. (2005, pag. 167 apud Silva A; 2018)
transtornos de personalidade borderline: o transtorno da personalidade borderline
(TPB) pode ser caracterizado pela notável instabilidade em muitos, se não em todos,
aspectos do funcionamento da pessoa, incluindo relacionamentos, autoimagem, afeto
e comportamento.
Por sua vez, o DSM-5 (APA, 2013 apud SETTE C; 2019) define o TPH -
Transtorno de personalidade histriônica: como um padrão predominante de
procura por atenção e emocionalidade em excesso. As principais características são
a necessidade de ser o centro das atenções, sentindo desconforto quando não o é, o
uso de atributos físicos e vestimenta para chamar a atenção, os comportamentos
excessivamente dramáticos e de teatralidade, a mudança rápida e superficial das
emoções, e o estilo impressionista e carente de detalhes no discurso.
Na seção II do DSM-5 (APA, 2013 apud SETTE C; 2019), o TPN - transtorno
de personalidade narcisista: é definido com um padrão invasivo de grandiosidade,
necessidade de admiração e falta de empatia. Outras características presentes no
diagnóstico são fantasias de sucesso ilimitado e poder, senso inflado de auto
importância, crença de ser especial e merecedor de privilégios e de tratamento
especial, comportamentos de manipulação para ganho próprio, e arrogância. Pessoas
diagnosticadas com TPN também podem apresentar autoestima vulnerável,
sentimento de vazio e sentimentos de angustia e tédio (Caligor, Levy, & Yeomans,
2015 apud SETTE C; 2019).
Conforme FONTES S; (1997) transtorno de personalidade evitativa: esse
tipo de personalidade é conhecido como personalidade evitativa, é caracterizada
sobretudo por uma evitação comportamental, emocional e cognitiva generalizada, que
se explica por um medo intenso da avaliação negativa dos outros.
Como alega FONTES S; (1997) transtorno de personalidade dependente:
esse transtorno se caracteriza, sobretudo, por uma excessiva necessidade de cuidado
e proteção, que, pelo medo da separação, leva à submissão e a um intenso vínculo
com o outro.
O transtorno de personalidade obsessivo–compulsivo (TPOC): possui
como principais características a preocupação com a organização e o perfeccionismo.
Pessoas diagnosticadas com esse transtorno de personalidade dedicam-se
29
excessivamente ao trabalho, são conscienciosas, escrupulosas e inflexíveis com
questões morais, éticas ou de valores; a dificuldade em descartar objetos também
pode se fazer presente. O TPOC é um dos transtornos de personalidades mais
prevalentes de todos, afetando aproximadamente de 2,1% a 7,9% da população;
sendo que, nos homens, é duas vezes mais comum. (APA, 2013 apud MELCA I;
2015).
Mudança de personalidade devido a outra condição médica: É uma
perturbação persistente da personalidade entendida como decorrente dos efeitos
fisiológicos diretos de uma condição médica (e.g. lesão do lobo frontal) (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud GOMES A; 2019).
Transtorno da personalidade
30
personalidade como um constructo unificador ou organizador para o comportamento
humano complexo”. (p 32 apud FIORAVANTE M; 2014).
De acordo com Beck, (2004 apud PEREIRA J; 2020) as pessoas constroem
esquemas cognitivos a partir da sua experiência de vida, essas estruturas são
adaptáveis conforme o valor que tiveram para o sujeito ao longo da sua vida.
Entretanto, suas estruturas cognitivas não são verdades absolutas para lidar com o
cotidiano, e podem na verdade se tornar disfuncionais ao longo das suas novas
possibilidades de vivência. É através dos esquemas que o sujeito se comporta, sente
e interpreta novas realidades.
31
de pacientes com transtornos de ansiedade (Beck, 1994). Diversos estudos têm
encontrado altas taxas de diagnóstico de transtorno de personalidade entre os
pacientes com transtornos do Eixo I (transtorno de pânico, transtorno obsessivo-
compulsivo, ansiedade generalizada) (Beck, 1994; Beck et al., 2001 apud
FIORAVANTE M; 2014).
A teoria cognitiva propõe que as crenças relacionadas aos transtornos de
personalidade perpetuam os comportamentos desses transtornos (Beck et al., 2001
apud FIORAVANTE M; 2014).
Esses são explicados por esquemas negativos e disfuncionais que se
desenvolvem cedo como estratégias de adaptação à vida e produzem julgamentos
tendenciosos e erros cognitivos de forma consistente e em todos os aspectos da vida
do indivíduo. (Beck, 1998 apud FIORAVANTE M; 2014). A combinação dessas
estratégias promovidas pelo processamento de informações disfuncional e crenças
negativas sobre o self, os outros e as relações interpessoais gera afetos e influências
motivacionais que estreitam os tipos de resposta do indivíduo diante das situações
vivenciadas por ele. (Beck & Freeman, 1990; Beck,1998 apud FIORAVANTE M;
2014).
As estruturas que estariam na base da personalidade têm características como
amplitude (estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação),
e densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são
energizados) (Martins, 2010; Butler et al, 2002). Pode-se afirmar que os esquemas
nos transtornos de personalidade, seriam amplos, rígidos, densos e hipervalentes.
Uma vez hipervalentes, os esquemas são facilmente ativados, mesmo que o estímulo
seja inócuo. Esses esquemas inibem outros esquemas mais adaptativos ou mais
apropriados e introduzem um viés sistemático no processamento da informação (Beck
& Davis, 2005 apud FIORAVANTE M; 2014).
32
refletem um ou mais temas conceituais que ligam o paciente à sua história de
desenvolvimento, estratégias compensatórias e reações disfuncionais à atual
situação de vida do paciente (Bhar, Beck & Butler, 2012, Butler, Brown,
Dahlsgaard, Newman & Beck, 2001 apud FIORAVANTE M; 2014). Além
disso, a avaliação de tais crenças também pode ter uma função diagnóstica.
33
operação destas estratégias (Beck & Freeman, 1993 apud MARTINS P;
2010).
34
O comportamento dramático que atrai a atenção da personalidade histriônica
pode ter suas raízes em rituais de exibição em animais não humanos; em todo o reino
animal são observados o comportamento predatório e dependente, essa observação
acontece pelo comportamento de apego. (Beck & Freeman, 1993 apud MARTINS P;
2010). Todos os outros perfis estão de acordo no que diz respeito a comportamentos
que foram e muitas vezes continuam a ser extremamente importantes para a
adaptação do indivíduo.
Para Beck et al. (2005 apud MARTINS P; 2010) embora os organismos não
tenham consciência do objetivo final dessas estratégias biológicas, eles conhecem os
estados subjetivos que refletem seu funcionamento de operação: fome, medo,
estimulação sexual e recompensas ou punições. Todas elas orientadas para garantir
a sobrevivência e a reprodução, ou seja, contribuindo para a adaptação do organismo.
35
os das síndromes sintomáticas, os primeiros operam sobre o processamento de
informação em uma base mais contínua.
Um esquema no transtorno de personalidade será ativado quase sempre e será
parte do processamento da informação, normal e cotidiano, do indivíduo. A partir de
semelhanças descritivas, os transtornos de personalidade são divididos em três
grupos. O grupo A compreende os transtornos da Personalidade Paranoide,
Esquizoide e Esquizotípica. No grupo B estão os transtornos Antissocial, Borderline,
Histriônico e Narcisista. Por fim, o grupo C compreende os transtornos da
Personalidade Esquiva, Dependente e Obsessivo-compulsiva (APA, 2002 apud
MARTINS P; 2010).
Segundo o DSM IV-TR (APA, 2002 apud MARTINS P; 2010) o traço de
personalidade é um padrão persistente de perceber, relacionar-se com e pensar sobre
o ambiente e sobre si mesmo, que se manifesta em vários contextos sociais e
pessoais. Esses traços, quando inflexíveis e desadaptativos, causam mal-estar
subjetivo e prejuízo funcional significativo, caracterizando assim um transtorno de
personalidade.
Terapia Cognitivo Comportamental (TCC)
38
pensamentos, no sentido de que exerçam um efeito realista sobre a forma
como nos sentimentos perante a nós mesmos, ao mundo e a nosso futuro
(tríade cognitiva). A forma como percebemos e avaliamos os acontecimentos
externos e internos a nós, irá determinar a forma como iremos nos sentir e
consequentemente agir perante esses acontecimentos. Observando e
descrevendo as emoções que sentimos, e fazendo uma conexão entre o que
sentimos, e o que previamente a esses sentimentos, pensamos, podemos
buscar fazer uma avaliação realística de nossos pensamentos, para que
assim confrontemos nossos pensamentos distorcidos e sentimentos
desagradáveis gratuitos, e os substituímos por pensamentos condizentes
com a realidade.
A maneira como observamos mundo e formamos uma ideia concreta sobre ele
é o que irá determinar a forma em que nós sentimos e agimos, isso contribui para o
desenvolvimento da formação de nossa personalidade. Dessa maneira, quando se
tem pensamentos distorcidos devem ser corrigidos e controlados, e pensamentos
realistas que acarretam em sentimentos desagradáveis devem ser submetidos a uma
busca por solução de problemas. Nossas crenças, principais sistemas de avaliação
da tríade cognitiva, e mais profundamente arraigadas e previamente estabelecidas
mediante aprendizado, determinam nossos pensamentos automáticos, pensamentos
estes a quais não fazemos nenhum tipo de avaliação realista, simplesmente os
sentindo quando nos remetemos a algum estímulo que de algum modo faça parte do
modelo em que aprendemos previamente e estabelecemos a crença. "Não nos
apercebemos dos pensamentos que direcionam nosso comportamento, porque
nossas ações tornaram-se rotina. Entretanto, quando decidimos mudar ou aprender
um novo comportamento, os pensamentos podem determinar se e como essa
mudança ocorrerá e ajudará no autoconhecimento e na busca da personalidade".
(GREENBERGER & PADESKY, 1999, P.25 apud TAVARES L; 2005).
39
A Terapia cognitiva, conforme bem coloca RANGÉ (2001a apud TAVARES
L; 2005), é uma abordagem ativa, diretiva e estruturada, de prazo limitado,
orientada para o problema, caracterizada pela aplicação de uma variedade de
procedimentos clínicos como introspecção, insight, teste de realidade e
aprendizagem visando aperfeiçoar discriminações e corrigir concepções
equivocadas que se supõe basearem comportamentos, sentimentos e atitudes
perturbadas. Na terapia cognitiva, terapeuta e paciente, em conjunto,
estabelecem os objetivos da terapia, os sintomas-alvo a serem atacados, etc.
Ainda para GREENBERGER & PADESKY (1999 apud TAVARES L; 2005),
o terapeuta cognitivo deve fazer perguntas a respeito de cinco aspectos da vida
do paciente: pensamentos (crenças, imagens, lembranças), estados de humor,
comportamentos, reações físicas e ambiente (passado e presente), visto que as
cinco áreas estão interligadas, onde cada aspecto diferente da vida de uma
pessoa influencia todos os outros. Pequenas mudanças em qualquer área podem
acarretar mudanças nas demais.
40
Nas colocações feitas por Young (2003 apud ISOPPO G; 2012), este
mencionou algumas limitações da terapia cognitiva tradicional para o tratamento de
pacientes com Transtornos de Personalidade ou àqueles com transtornos mais
severos e arraigados. Tendo em vista que esses pacientes não conseguiam e não
tinham a capacidade responder a algumas suposições básicas sobre terapia cognitiva
(Cazassa e Oliveira, 2008 apud ISOPPO G; 2012).
Conforme destacado por Cazassa e Oliveira (2008), tais limitações estariam
ligadas a:
Ter acesso a sentimentos, pensamentos e imagens a partir de treinamentos
curtos;
Motivação para tarefas de aprendizagem e estratégias de autocontrole;
Construção de uma relação colaborativa com o terapeuta, entre outros.
A terapia do Esquema proposta por Young integra elementos da abordagem
cognitivo-comportamental, aliando Gestalt, relações objetais, construtivismo e escolas
psicanalíticas, em uma rica e unificada conceituação e modelo de tratamento (Young,
2003 apud ISOPPO G; 2012). O modelo desenvolvido por Young enfatiza a
confrontação, e a discussão de experiências inicias de vida; caracteriza-se ainda por
ser mais longa do que a terapia cognitiva, dedicando muito tempo a superar a evitação
cognitiva, afetiva e comportamental (Callegaro, 2005 apud ISOPPO G; 2012).
41
Esquemas Iniciais Desadaptativos
43
possibilidade de expressar suas emoções de maneira livre, onde os sujeitos são
geralmente tristes e introvertidos, com regras internalizadas excessivamente rígidas,
autocontrole e pessimismos exagerados e uma hipervigilância para possíveis eventos
negativos, podendo levar o sujeito a sofrimento emocional, psicológico, evoluir com
depressão e ansiedade (PERES, 2008 apud RIBAS K; 2016).
44
O segundo domínio se refere a Autonomia e Desempenho Prejudicados, no
qual está relacionado aos esquemas de dependência, vulnerabilidade,
emaranhamento e fracasso, assim como associados à falta de capacidade de
se separar, sobreviver, ser independente e abalo da confiança em si (SHOREY
et al., 2015 apud RIBAS K; 2016).
O terceiro domínio são os Limites Prejudicados, onde são apresentados
vinculados aos esquemas de merecimento e grandiosidade, autocontrole e
autodisciplina insuficiente, ou seja, a falta de direção, disciplina, limites e metas
(TRINCAS et al., 2014 apud RIBAS K; 2016).
O quarto domínio, Orientação para o Outro, no qual se constitui como sendo
esquema de subjugação, auto sacrifício, onde o indivíduo vai em busca de
aprovação e reconhecimento, surgindo, desta forma, quando há um foco
excessivo nos desejos e sentimentos dos outros (LAVERGNE et al., 2015 apud
RIBAS K; 2016).
Já o quinto domínio é o de Supervigilância e Inibição são os esquemas de
negativismo e pessimismo, inibição emocional, padrões inflexíveis e caráter
punitivo, os quais são caracterizados pela necessidade de seguir regras,
esconder emoções, relaxar, estabelecer relacionamentos íntimos e evitar erros
(HAWKE et al., 2011; LAVERGNE et al., 2015 apud RIBAS K; 2016).
Para SOUZA S; et al., (2019) Young ressalta que quando se trabalha com a
terapia do esquema é sobretudo uma abordagem em que ativa o lado sensível e
humana, em relação a comparação com outras abordagens existentes. A terapia do
esquema faz com que a situação normalize, ao contrário de patologizar, os transtornos
psicológicos. Pois, sabemos que todos nós temos esquemas, pois são experiências
vivenciadas e que pode comprometer as emoções ruins, ou até mesmo traumáticas,
que são enraizadas em nossa personalidade, entretanto existem modos e estilos de
enfrentamentos diferenciados, o qual o indivíduo passa a encontrar uma maneira de
lidar com os problemas eventuais que provavelmente surgiram ao longo de sua vida
(Young et al., 2008 apud SOUZA S; et al., 2019).
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6 REFERÊNCIAS BILBIOGRAFICAS
BOER E MARIA ALICE FONTES, Selma. Conversando sobre Personalidade. Cemp, [S.
l.], p. 1-10, 1997.
46
FERNANDO SOUZA MARTINS, PABLO. Personalidade e sua relação com
transtornos de ansiedade e de humor: uma análise da produção cientifica
brasileira na abordagem cognitivo – comportamental. UFU, [S. l.], p. 1-125, 2010.
47
SOFIA RODRIGUES GI MARTINS SILVA, ANA. Mudanças das características de
personalidade e dos sintomas no processo terapêutico. Ispa, [S. l.], p. 1-53, 2014.
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