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planejamento estratégico
Antonio Carlos Robert Moraes16
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Livre docente no Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. <tonicogel@uol.com.br>
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Nas últimas décadas, avançou o processo de democratização do Brasil,
trazendo para o planejamento estatal os temas da descentralização, da participação
social e da sustentabilidade do desenvolvimento. Eles adentraram num quadro
político-administrativo de grande setorização das políticas públicas e numa
conjuntura de prolongada crise econômica, que acentuou o grave índice de exclusão
social do país. Uma questão federativa não solucionada e a aceleração da
globalização completam o horizonte no qual deve atuar o empenho planejador
nacional contemporâneo. Uma visão geoestratégica do território emerge como
essencial nesse cenário, dada a necessidade de articulação de políticas (num
momento de restrição orçamentária) para objetivar as metas da retomada do
crescimento e do combate à desigualdade social.
O tratamento dado ao território, no governo anterior, ancorou-se basicamente
em duas concepções teóricas: a primeira escorava-se no conceito de eixos de
desenvolvimento, e visava direcionar geograficamente os grandes investimentos
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infra-estruturais (públicos e privados); a segunda tinha como instrumento básico
de atuação a proposta do zoneamento ecológico-econômico e trazia uma ótica
ambiental (não raro com um enfoque conservacionista). Pode-se avaliar hoje que
a inexistência de compatibilização entre as duas orientações atuou como um aspecto
negativo na implementação das proposições planejadas.
Os eixos de desenvolvimento acabaram por adotar uma visão excessivamente
circulacionista do território, dando enorme ênfase ao setor de transportes em
detrimento de uma abordagem mais transetorial. De todo modo, recuperou-se
uma concepção mais integrada no planejamento da União, mesmo que o êxito do
empreendimento não tenha sido o ambicionado. Os obstáculos e dificuldades que
afloraram nesse processo merecem ser identificados e discutidos com profundidade
na formatação da Política Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT).
Quanto aos programas de zoneamento (da SAE, do GERCO, do PPG7, e da
SDS/MMA) a avaliação efetuada é bastante crítica. Tal instrumento revelou-se –
ao longo de mais de uma década de tentativas de implantação – de difícil operação
e de alto custo de elaboração, podendo ser definido como um instrumento de alto
risco, cujos resultados só podem ser aferidos após a sua confecção, com a
possibilidade de chegar a resultados exíguos em face dos recursos despendidos,
como demonstram os estudos de Severino Agra Filho (2001) e Neli Aparecida de
Mello (2002) sobre o tema.
Além de outros problemas de ordem metodológica que merecem ser
analisados, de forma sistemática, os zoneamentos vivenciaram questões de
conflito de competências legal entre os níveis de governo, exigindo a adoção de
modelos de operação complexos e pouco eficientes. Um embaralhamento das
escalas de atuação governamental talvez explique o cerne dos problemas
defrontados. Isto alerta para a importância dessa matéria em programas de
ordenamento territorial.
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