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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA

COMARCA DE GOIÂNIA/GO.

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver
crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o
homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
(MM. Rui Barbosa)

AROLDO FARIA ARANTES, brasileiro, casado, servidor público, portador do RG nº


4053125 SPTC/GO e do CPF/MF nº 862.562.971-72, com endereço à Rua Bandeirantes,
n. 2571, Bairro Buriti III, CEP: 75.513-850, em Itumbiara/GO, por seu procurador
constituído, com fulcro nos arts. 280, 281, 282 Inciso I, 284, 285 inciso I, 327 § 7, 331 §
21 Inciso II, § 22, 338, 353, 340 e art. 344 da Lei Estadual n. 10.460/88 e os artigos 3º
Inciso II, art. 22 § 4, 30, 40, 52, 56, 64 e 65 da Lei Estadual n. 13.800/01 e art. 5º inciso
XXXIV, alínea ‘a’ da Constituição Federal de 1988, vem respeitosamente à presença de
Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO ORDINÁRIA DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO C/C PEDIDO


DE LIMINAR E REINTEGRAÇÃO EM CARGO PÚBLICO.

na forma que dispõe o artigo 282 e seguintes do Código de Processo Civil, arts. 75, 76,
82, 115, 145 e demais outros aplicáveis à espécie do Código Civil Brasileiro, bem como o
artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal, em face do Estado de Goiás, pessoa jurídica
de direito público interno, com endereço para intimações no município de Goiânia, no
Palácio Pedro Ludovico Teixeira, Praça Cívica, Centro, o qual deverá ser citado na pessoa
do Excelentíssimo Senhor Governador do Estado, Chefe do Poder Executivo, na forma do
que abaixo passo a expor e finalmente requerer, pelas razões de fato e do direito a
seguir expostas:

DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do art. 300 do CPC/15, “a tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo”.

A PROBABILIDADE DO DIREITO resta configurada nos autos diante da demonstração


inequívoca de que existem nulidades absolutas no processo.

Por fim, cabe destacar que o presente pedido NÃO caracteriza conduta irreversível, não
conferindo nenhum dano ao reclamado.

DAS PRELIMINARES

Inicialmente requer, em sede de preliminar, com base no art. 300 do Código de Processo
Civil c/c art. 61 parágrafo único da Lei Estadual n. 13800/01, para atribuir efeito
suspensivo a decisão contida na Portaria 412/2018 - SEGPLAN, vez que a aplicação
imediata da penalidade está gerando dano e risco ao resultado útil do processo.
A medida cautelar ora pleiteada deve ser concedida, pois preenche os requisitos legais
para tal, dado que resta incontroversa a probabilidade do direito.

Requer também a anulação da Portaria 412/2018 - SEGPLAN que fundamentou a


punição hora contestada, por flagrante desrespeito ao contraditório e ao devido
processo legal, art. 5ª da Carta Magna, pois todos os andamentos processuais realizados
após o Recurso Administrativo de 30/07/18 (fls. 271 a 278), e até a publicação da
referida portaria, portaria essa publicada no Diário Oficial do Estado de Goiás em
16/04/19, foram realizados sem a devida citação da parte, sem o devido contradito do
acusado e principalmente de forma restrita, ou seja, restringindo os direitos de vista ou
cópia do processo, em flagrante violação ao disposto no art. 46 da Lei Estadual
13800/01: “Art. 46 – Os interessados têm direito à vista do processo e a obter certidões
ou cópias reprográficas dos dados e documentos que o integram, ressalvados os dados e
documentos de terceiros protegidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à
imagem”, como já configurado nos autos em outros recursos da parte, bem como no
Processo n. 201800017000134, o que caracteriza de forma límpida e clara a ilegalidade e
nulidade do ato.
O artigo 278 do CPC - Código de Processo Civil disciplina que a nulidade dos atos deve
ser alegada na primeira oportunidade que couber à parte falar nos autos, sob pena de
preclusão, assim sendo, com base em todo o conteúdo probatório do processo, requer
também que sejam declaradas as seguintes nulidades processuais, referentes a primeira
e a segunda Comissão Processante responsável pelo PAD e as demais falhas incontestes
presentes no andamento do referido processo administrativo disciplinar, a seguir
expostas:
a) Inexistência de comissão prevista em lei – Após recebimento do Recurso
Administrativo (fls. 305 a 329) impetrado contra a Portaria 412/2018 - SEGPLAN e o
conhecimento do mesmo, o Exmo. Sr. Joaquim Cláudio Figueiredo Mesquita, Secretário
de Estado de Gestão e Planejamento, deveria ter seguido o que preceitua o artigo 341
da Lei n. 10460/88 e instaurado uma Comissão Especial, composta por 3 (três) membros,
não podendo integrá-la qualquer dos membros da comissão do processo disciplinar
originário, a ausência da referida comissão gerou nulidade o que deve ser declarado de
oficio pela administração pública, pois fere a disposição expressa do art. 5º da CF/88,
tornando assim todos os atos posteriores inconstitucionais;
b) Inobservância de fluxo processual previsto em lei – Ao receber o referido Recurso
Administrativo (fls. 305 a 329) a autoridade requisitada, o Senhor Secretário de Estado
de Gestão e Planejamento, deveria ter seguido o art. 343 parágrafo único da Lei
10460/88 e antes de tomar qualquer decisão enviar o processo para o Chefe do Poder
Executivo, uma vez que, segundo a legislação vigente, o julgamento hora pleiteado era
um ato privativo do Governador do Estado, como fundamentou também o Despacho n.
550/2018 SEI – PA – 05461, da Procuradoria Administrativa da Procuradoria Geral do
Estado – PGE, em seu item 17 (fls. 291), assim deve ser declarado nulo de pleno direito
o referido ato, gerando assim nulidade em todos os atos posteriores;
c) Cerceamento de defesa - O Despacho 238/2018 (fls. 293) da PGE, em seu item 22
estipula o mês de setembro de 2012 como o de efetivação do cometimento da suposta
transgressão disciplinar, bem como, em Despacho da Procuradoria Geral do Estado (fls.
218), sendo que em outras partes do processo as datas de cometimento da transgressão
e da prescrição são divergentes, inclusive existindo documento emitido pela
Procuradoria Geral do Estado anotando a prescrição em Setembro de 2017, o qual não
foi anulado por qualquer outro despacho presente nos autos. O despacho em comento
solicitou, com base na legislação vigente, a citação da parte, o que foi simplesmente
ignorado no processo, configurando agressão ao contraditório, ação ilegal e
cerceamento de defesa, conforme o que preceitua o art. 5º, inciso LV, da Constituição
Federal e art. 280 do Código de Processo Civil, senão vejamos: “Art.280 - As citações e
as intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais.”, nessa
espia é dever da administração pública declarar a inconstitucionalidade do referido
ato, sob pena de tornar nulo todos os atos subsequentes;
d) Cerceamento de defesa – A juntada da defesa prévia por envelope protocolada em
05/11/2013 no Processo nº 20258/12 foi ignorada em todas as fases do processo,
inclusive pelos despachos da Procuradoria Geral do Estado, sendo que a única defesa
prévia aceita no processo foi protocolada por advogado dativo constituído por ato
administrativo nulo (fls. 58), como prevê as Leis Estaduais n. 10460/88 e n. 13800/01 e
fundamenta o art. 5º da Constituição Federal, nessa espia é dever da administração
pública declarar a inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de tornar nulo todos
os atos subsequentes;
e) Cerceamento de defesa e inconstitucionalidade – O recurso administrativo (fls. 271 a
278), protocolado em 30/07/18, que solicitava o anexo aos autos de documentos
existentes na própria administração foi sumariamente ignorado pela Comissão, ferindo o
art. 5º LV da Constituição Federal de 1988 e o despacho emitido pelo Presidente da
Comissão Processante, no mesmo dia, usurpou todos os direitos fundamentais a defesa
e ao contraditório previstos na Constituição Federal e nas legislações gerais e específicas,
ignorando a solicitação da oitiva de testemunhas mencionadas pela testemunha Joaci
Albernaz (fls. 248/256), testemunhas essas que não haviam sido citadas ainda no
processo e portanto configuraram um fato novo, ainda na fase anterior a tomada de
decisão, conforme inteligência do art. 493, parágrafo único do Código de Processo Civil,
ferindo o direito do servidor previsto na Carta Magna e em todo o regramento
infraconstitucional, nessa espia é dever da administração pública declarar a
inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de tornar nulo todos os atos
subsequentes;
f) Cerceamento de defesa – O Despacho n. 449/2018 (fls. 264) presente nos autos, da
Procuradoria Administrativa da PGE, apontou o quadro de nítida ofensa ao art. 5º, LV da
Constituição Federal de 1988;
g) Servidor impedido - A Portaria 208/2013 (fls. 110 e 111), de 02/09/13, que nomeou a primeira
comissão, possuía 03 (três) servidores, quais sejam, Jordana Costa Prata, Maurício da Veiga
Jardim Jácomo e Rômulo José Fagury Grelo, porém existem documentos assinados no processo
por outros servidores alheios a comissão como se dessa fizessem parte (fls. 31/32), sendo os
servidores Maycon Vicente Inácio e Marcus Vinícius dos Santos Cruz (fls. 27), sendo que esse
último, mais tarde veio a fazer parte da própria comissão processante, o que viola
fragrantemente o art. 330 § 3º Inciso VIII da Lei Estadual 10460/88 – Estatuto dos Servidores
Públicos, senão vejamos:

“Art. 330 caput § 3o - É considerado suspeito ou impedido para atuar como sindicante ou
processante o funcionário que: VIII - tenha se manifestado anteriormente na causa que constitui
objeto de apuração do processo disciplinar.”

Assim restando demonstrado flagrante afronta ao princípio do devido processo legal, nessa espia
é dever da administração pública declarar a inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de
tornar nulo todos os atos subsequentes;

h) Nulidade documental - Documentos assinados nos autos apenas por um membro da


Comissão (fls. 26/27/41/42/74/75/127/210/266/269 e 270), em discordância com o expresso no
art. 329 caput § 1o da Lei 10.460/88 - “A comissão funcionará e deliberará com a presença
mínima de 2 (dois) de seus membros, cabendo, nesse caso, ao vice-presidente suprir eventuais
ausências do presidente ou do secretário.” Assim requer sejam os referidos atos declarados
inexistentes devido a patente ilegalidade em que foram exarados. (grifo nosso)

i) Ato administrativo nulo - A citação que convocou o advogado dativo, Antônio Fernando
Carvalho Gedda Fernandes (fls. 57 e 58), que apresentou a primeira defesa prévia, que arrolou as
2 (duas) únicas testemunhas aceitas no processo, Joaci Albernaz e Bento de Godoy Neto, foi
assinada por um único membro da comissão afrontando o art. 329 caput § 1º da Lei 10.460/88 e
tornando assim, todos os documentos posteriores nulos de pleno direito, fato esse que deve ser
declarado de oficio pela administração pública (grifo nosso), nessa espia é dever da
administração pública declarar a inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de tornar nulo
todos os atos subsequentes;

j) Prescrição intercorrente – Existe um documento comprobatório da inércia processual (fls.


70/71), demonstrando que o PAD ficou paralisado até 10/04/17, ou seja, por 3 (três) anos e 3
(três) meses, fato esse que gerou prescrição intercorrente conforme o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça no Agravo Regimental interposto no Recurso Especial 1.401.371/PE, assim
requer sejam os autos arquivados, pois restou prescrito o jus puniendi estatal;

k) Agente incompetente – A Portaria 012/2017 (fls. 71/72), que substituiu os membros da


Comissão Processante composta pela Portaria 208/2013 (fls. 110 e 111), não objetivou em seu
texto se a nova comissão deveria ultimar ou reiniciar o processo administrativo e foi assinada por
Rogério Rocha, Chefe da Corregedoria, agente incompetente para a confecção do ato
administrativo, uma vez que somente o Secretário, autoridade que instaurou a primeira
comissão, poderia realizar tal ato, conforme inteligência do art. 328 e os incisos I, II, III do Art.
312 da Lei Estadual 10.460/88, tornando todos os atos praticados pela Comissão Processante, a
partir dali, em atos administrativos inexistentes, segundo o ensinamento de Celso Antônio
Bandeira de Melo: "(...) Entretanto, parece-nos que há, além deles – e nisto modificamos a
posição que vínhamos assumindo até época recente -, uma categoria de atos viciados cuja
gravidade é de tal ordem que, ao contrário dos atos nulos ou anuláveis, jamais prescrevem e
jamais podem ser objeto de "conversão". Além disto, existe direito de resistência contra eles.
São os que denominaremos com a expressão rebarbativa(reconheça-se) de "atos inexistentes".
Consistem em comportamentos que correspondem a condutas criminosas, portanto, fora do
possível jurídico e radicalmente vedadas pelo Direito." fonte: <http://goo.gl/qG62R>, consulta
feita em 25/04/2019”, nessa espia requer sejam declarados inexistentes todos os atos praticados
pela comissão ficta devido o vício formal; (grifo nosso)
l) Cerceamento de defesa – A defesa prévia (fls 192) não foi objeto de contradito por parte da
Comissão e nem houve a citação do servidor, configurando afronta ao princípio do contraditório
e nulidade por cerceamento de defesa, art. 5ª LV da Constituição Federal de 1988, art. 43 inciso
II da Lei Estadual n 10460/88 e art. 2ª da Lei Estadual n. 13800/01, ferindo assim o princípio
constitucional da legalidade, tornando o ato nulo de pleno direito, vez que afronta de forma
direta a determinação do art. 37 da Constituição Federal, nessa espia é dever da administração
pública declarar a inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de tornar nulo todos os atos
subsequentes;

m) Cerceamento de defesa – O Mandado de intimação (fls. 194), presente nos autos, que
solicitou a apresentação das Alegações Finais sem que a Comissão tivesse apreciado a defesa
prévia presente nos autos (fls. 192), ou seja, sem que tivesse fundamentado a decisão, conforme
determina o art. 93 inciso IX da Constituição Federal de 1988 e art. 489 § 1º do Código de
Processo Civil, Lei Federal n. 13.105/15, art. 2º incisos IV, VII e VIII e art. 50 inciso V § 1º da Lei
Estadual n. 13800/01 – Lei do Processo Administrativo Estadual, ferindo assim o princípio
constitucional da legalidade, tornando o ato nulo de pleno direito, vez que afronta de forma
direta a determinação do art. 37 da Constituição Federal, nessa espia é dever da administração
pública declarar a inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de tornar nulo todos os atos
subsequentes;

n) Cerceamento de defesa – O relatório final da comissão processante pediu a condenação do


servidor sem a oitiva das testemunhas Suelma de Oliveira Carvalho, Isabel Dias Reis e Leonardo
de Moura Vilela (fls. 199 a 209), ferindo assim o princípio da ampla defesa e do contraditório,
conforme preceitua o art. 5ª LV da Constituição Federal de 1988, art. 43 inciso II da Lei Estadual n
10460/88 e art. 2ª da Lei Estadual n. 13800/01, contrariando assim o princípio constitucional da
legalidade, tornando o ato nulo de pleno direito, vez que afronta de forma direta a determinação
expressa do art. 37, caput da Constituição Federal, bem como, conforme entendimento
jurisprudencial da 1ª Turma do TRF da 1ª Região: “PREVIDENCIÁRIO - PENSÃO POR MORTE -
TRABALHADOR RURAL - NECESSIDADE DA PROVA TESTEMUNHAL - AGRAVO RETIDO PROVIDO -
SENTENÇA ANULADA. 1. Agravo retido em face de decisão que indeferiu o pedido de inquirição
de testemunhas, porque o rol foi apresentado fora do prazo. Requerido seu exame pelo Tribunal
(§ 1º do art. 523 do CPC). 2. A pensão por morte é devida ao conjunto dos dependentes do
segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data do óbito ou da decisão judicial, na
forma disciplinada pelo art. 74 da Lei 8.213/91, na redação original. Requerido seu exame pelo
Tribunal (§ 1º do art. 523 do CPC). 3. Cerceamento de defesa configurado em razão
do indeferimento da oitiva de testemunhas, vez que há necessidade de se provar os fatos
alegados através de seus depoimentos. 4. Havendo necessidade da produção da prova
testemunhal, para complementar o início de prova material, ao juiz cabe requisitá-la, mesmo de
ofício, em busca da verdade real e como preconiza o art. 130 do CPC. Precedente: AC
2000.01.00.024069-9/MG, rel. Juiz Antônio Sávio de Oliveira Chaves. 5. Agravo retido provido.
Sentença anulada. Remessa dos autos à vara de origem, para produção da prova oral. Apelação
prejudicada. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL (AC) 00379133120024019199, Relator Des. Fed. Luiz
Gonzaga Barbosa Moreira, publicada no e-DJF1 01/07/2008 PAG 40).” (grifamos)

o) Cerceamento de defesa – Existe nos autos um Despacho da PGE (fls. 218) sem a
devida citação do servidor, conforme o que preceitua o art. 3º, inciso II e art. 26 da Lei
Estadual 13800/01, afrontando o art. 5º LV da Constituição Federal, configurando por si
só uma agressão ao princípio da ampla defesa e do contraditório, ferindo assim o
princípio constitucional da legalidade, tornando o ato nulo de pleno direito, vez que
afronta de forma direta a determinação do art. 37 da Constituição Federal, nessa espia
é dever da administração pública declarar a inconstitucionalidade do referido ato, sob
pena de tornar nulo todos os atos subsequentes;
p) Cerceamento de defesa – A Procuradora da PGE declarou nos autos (fls. 224)
cerceamento de defesa e nulidade processual, sendo a nulidade absoluta um vício
insanável, conforme a inteligência dos artigos 276, 278 e 283 do Código de Processo
Civil e art. 563, 567 e 573 § 1º do Código de Processo Penal;
q) Nulidade processual – O advogado dativo desconstituído pela primeira Comissão
processante, através da Solicitação n. 003/2013 e do Memorando 1426/2013 (fls. 50 e
51), assinou documento (fls. 249) como representante do servidor, sem que tenha sido
emitido ato de nova nomeação por parte da administração ou solicitação da parte
constituindo novo defensor, sendo que a suposta revelia que motivou a nomeação de
Jorge André Jorge Pereira Nogueira (fls. 47), não foi declarada, por termo, nos autos do
Processo Administrativo Disciplinar, ou seja, não se tem como inferir se a possível revelia
foi constatada pelos membros da Comissão, e se uma vez constatada foi afastada
posteriormente, vez que a parte participou de todos os atos posteriores à citação ficta
objetivando o enquadramento de tal ato da Comissão nos artigos 337, incisos I, II, IX, XI
e 346, parágrafo único, todos do Código de Processo Civil;
r) Cerceamento de defesa – Despacho da Comissão Processante (fls.256), reiterando
Relatório Final sem a devida oitiva das testemunhas, ferindo assim o princípio da ampla
defesa e do contraditório, conforme preceitua o art. 5ª LV da Constituição Federal de
1988, art. 43 inciso II da Lei Estadual n 10460/88 e art. 2ª da Lei Estadual n. 13800/01,
contrariando assim o princípio constitucional da legalidade, tornando o ato nulo de
pleno direito, vez que afronta de forma direta a determinação do art. 37 da
Constituição Federal, nessa espia é dever da administração pública declarar a
inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de tornar nulo todos os atos
subsequentes;
s) Documento nulo – A citação que convocou a testemunha Bento de Godoy Neto (fls.
265) contém vício de nulidade, pois foi assinada por apenas um dos membros da
Comissão Processante, o que o fere o disposto no art. 329 caput § 1º da Lei Estadual
10.460/88, bem como tem a sua nulidade reconhecida pelos artigos 280: “As citações e
as intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais”, e 281
do Código de Processo Civil, sendo que, “anulado o ato, considera-se de nenhum efeito
todos os subsequentes que dele dependam”, portanto todo o andamento processual
realizado a partir deste documento não possui supedâneo na norma legal brasileira, ou
seja, são nulos de pleno direito e devem ser reconhecidos como tal de ofício pela
própria administração, conforme inteligência do art. 282, também do Código de
Processo Civil, Lei Federal n. 13105/15, nessa espia é dever da administração pública
declarar a inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de tornar nulo todos os atos
subsequentes;
t) Movimentação processual ilegal – Diferentemente dos argumentos utilizados pela
procuradora no Despacho n. 674/2018 (fls. 333 a 337) para justificar a atipicidade e a
anomalia das movimentações do referido processo terem acontecido, por diversas
vezes, aos sábados e aos domingos (fls. 281), inclusive chamando um dos responsáveis
por essa movimentação ilegal de “servidor diligente” (fls. 336 – Item 13.6), a norma
vigente determina de forma expressa na Lei Estadual 13.800/01 em seu artigo 23: “Os
atos do processo devem realizar-se em dias úteis, no horário normal de funcionamento
da repartição na qual tramitar o processo” o art. 212 do Código de Processo Civil
determina que; “Os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 (seis) às 20
(vinte) horas.”, portanto, a “diligência” cometida por este servidor (andamento
processual em um domingo às 23 horas e 40 minutos) e por outros que emitiram atos
administrativos durante o fim de semana (a Portaria 412/2018 foi assinada em
14/08/2018, um sábado) não encontram respaldo nos regramentos gerais e nem nos
específicos referentes ao processo administrativo e portanto devem ser declarados
nulos de pleno direito e anulados por afrontarem a legislação vigente, vez que as
normas supracitadas são taxativas e não permitem a prática da discricionariedade,
ademais tais atos são tipificados na lei nº 8429/92 em seu art. 11, I, nessa espia é dever
da administração pública declarar a inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de
tornar nulo todos os atos subsequentes;
u) Numeração de páginas realizada de forma contrária a legislação – O referido processo
iniciou-se através do Processo nº 20258/12, tramitando de forma física e, portanto, até
a sua transformação em processo eletrônico foi regido pelas legislações específicas e
gerais à cerca do processo administrativo, ou seja, deveria ter obedecido o art. 22
parágrafo 4º da Lei Estadual nº 13.800/01 que versa sobre a necessidade da numeração
correta das páginas sequencialmente e rubricadas pelo responsável por sua autuação e,
em sua tramitação, por quem nele inserir quaisquer documentos, redação dada pela Lei
Estadual 17.039, de 22 de junho de 2010, bem como pelo art. 207 da Lei Federal
13.105/15 – Código de Processo Civil que diz textualmente: “O escrivão ou o chefe de
secretaria numerará e rubricará todas as folhas dos autos.”, assim resta incontroverso
que a norma supra é impositiva não existindo assim discricionariedade no referido ato.
Vale salientar, que o tramite do processo administrativo deve manter um mínimo de
oficialidade e a existência de numerações anômalas dentro do contexto processual
demonstra inequivocamente que o respeito ao andamento oficial do processo não foi
preservado;
v) Inexistência de ato administrativo / agente incompetente / agressão a norma
constitucional – A análise dos autos, diferentemente do que foi sustentado pela
Procuradora Administrativa da Procuradoria Geral do Estado, Dra. Juliana Pereira Diniz
Prudente, em seu Despacho nº 674/2018 (fls. 333 a 337 – Item 13.5 e 13.5.1),
demonstram de forma categórica, que os documentos que deram abertura ao referido
processo, quais sejam, os referidos relatórios mensais de frequência (fls. 151, 152 e 153)
possuem vício de invasão de competência, uma vez que a devolução do servidor ao
setor de recursos humanos do órgão, realizada em 20/07/12, através do Memorando
300/2012 – SRH (fls. 163), tornou o referido Superintendente, à época dos fatos, senhor
Bento de Godoy Neto, em agente incompetente para realizar o ato administrativo,
transformando assim os referidos relatórios em atos administrativos inexistentes. A
afirmação contida no item 13.5.1 do referido Despacho (fls. 333 a 337) concentra-se em
desqualificar a arguição de nulidade presente no Recurso (fls. 305 a 329), se valendo de
afirmação falsa ou não condizente com os fatos presentes nos autos, uma vez que o
servidor condenado, na suposta ocorrência dos fatos que causaram a condenação
imposta pela administração pública, estava a disposição da Gerência de Gestão de
Pessoas, portanto não estando hierarquicamente subordinado ao superintendente que
assinou os referidos relatórios de frequência (fls. 151, 152 e 153), que seria o
Superintendente de Administração e Finanças, à época, qual seja, o senhor Joaci
Albernaz, e não lotado na Gerência de Instrumentos Econômicos e de Gestão
Ambiental, ligada a outra Superintendência, lotação essa que só veio a se concretizar em
05/12/2012. Vale salientar, portanto, que diferentemente do que a Procuradoria
Administrativa da Procuradoria Geral do Estado afirma em seu Despacho (fls. 333 a 337),
o Superintendente que assinou os documentos passíveis de nulidade (fls. 151, 152 e
153) não foi o Superintendente responsável pela Gerência de Instrumentos Econômicos
e de Gestão Ambiental, senhor Marcelo Lessa, mas sim, o Superintendente Estadual de
Recursos Hídricos, senhor Bento de Godoy Neto. Se um ato administrativo não
preenche todos os requisitos legais, trata-se de um ato inválido, e um ato inválido não
pode permanecer como se fosse válido, deve ser retirado pela própria administração
pública, que tem o poder de rever seus próprios atos, ou pelo poder judiciário, por
provocação pelo interessado ou por quem de direito: o Ministério Público. Nota-se que a
simples alegação de que a arguição de nulidade presente no Recurso (fls. 305 a 329)
não deve prosperar, presente no Despacho nº 674/2018 (fls. 333 a 337 – Item 13.5 e
13.5.1), por parte da Procuradoria Administrativa da PGE, não tem por si só o condão
legal de desconhecimento do contraditório, uma vez que para negar qualquer pleito
baseado em lei, a administração deve fundamentar as suas decisões em
jurisprudências, legislações ou perícias que confrontem a solicitação pretendida,
conforme art. 93 inciso IX da Constituição Federal de 1988 e art. 489 § 1º do Código de
Processo Civil, Lei Federal n. 13.105/15, algo que simplesmente não foi feito no
Despacho nº 674/2018 (fls. 333 a 337 – Item 13.5 e 13.5.1) ou em qualquer parte do
processo para confirmar ou afastar as alegações da parte, inclusive uma das nulidades
elencadas no Recurso Administrativo (fls. 305 a 329), a de alínea ‘d’, foi simplesmente
ignorada pelo Despacho (fls. 333 a 337), sem a devida fundamentação, incorrendo em
nulidade e desrespeitando o art. 2º incisos IV, VII e VIII e art. 50 inciso V § 1º da Lei
Estadual n. 13800/01 – Lei do Processo Administrativo Estadual;
AD ARGUMENTANDUN TANCTUM:

A separação dos poderes não veda que o Poder Judiciário possa apreciar o controle da
legalidade dos atos dos demais poderes, como é o caso dos autos.

DOS FATOS

Conforme narra o Processo Administrativo Disciplinar n. 201200017001050, houve uma


denúncia de que o recorrente teria abandonado o cargo conforme inteligência do Art.
303, inciso LX e art. 317 da Lei Estadual n. 10460/88, o que não foi confirmado por
nenhuma prova válida e por nenhum depoimento válido colhidos na instrução.

Fato que demonstra total inconstitucionalidade por parte da administração pública, pois
foi praticado ao revés do disciplinado no art. 5º, incisos III, XX, XXXIII, XXXIX, LIII, LV, LVI,
LVII e LX, e do art. 37 caput da Constituição Federal, uma vez que o ato administrativo
presente em tal portaria não obedeceu ao princípio da publicidade e aos demais
princípios inerentes a administração presentes na carta magna, nessa espia é dever da
administração pública declarar a inconstitucionalidade do referido ato, sob pena de
tornar nulo todos os atos subsequentes;
No entanto, não bastasse a ausência de provas, mesmo sem a citação do acusado para
que pudesse contraditar e garantir o seu direito pleno a se defender, a sanção foi
aplicada em grave afronta aos princípios constitucionais da legalidade, contraditório e da
ampla defesa, proporcionalidade e boa fé.
Vale também salientar que, a Lei Estadual n. 13800/01, em seu art. 56, estabelece que:
“Das decisões administrativas cabe recurso, em face de razões de legalidade e de
mérito.”
Portanto, valendo-se das prerrogativas previstas em lei geral e específica, analisando a
legislação local geral sobre o processo administrativo disciplinar é possível notar que a
transgressão disciplinar mencionada no inciso LX do art. 303 da Lei Estadual 10460/88
não faz parte do rol de transgressões disciplinares presentes nos incisos do artigo 317 da
mesma lei, senão vejamos:
“Art. 317. A pena de demissão será aplicada nos casos das infrações previstas nos incisos
XLIX, LIV a LXI e LXV do art. 303 e XLI e XLII do art. 304, bem como nos casos de
contumácia na prática de transgressões disciplinares puníveis com suspensão.“ Lei
Estadual nº 10.460/88 – Estatuto dos Servidores Públicos. (grifo nosso)
Se a possível transgressão disciplinar não se enquadra na punição estabelecida pela
portaria atacada por esta ação (Portaria 412/2018 – SEGPLAN), a decisão simplesmente
não tem validade jurídica perante todas as legislações gerais e específicas, bem como
perante a Constituição Federal em seu art. 5º, inciso XXXIX, e deve ser declarada nula de
ofício pela administração pública, sob pena de inconstitucionalidade, assim requer seja
a referida portaria declarada nula de pleno direito vez que resta eivada de
inconstitucionalidade e ilegalidade, pois caso não ocorra a reparação administrativa,
incorrerá os responsáveis pelos atos, nas condutas vedadas no art. 11, I, II, IV, da Lei
Federal nº 8429/92 restando assim indispensável as penalidades elencadas no art. 12, III
da referida norma, o que será questionado em juízo.

DO DIREITO

A presente ação anulatória vem consubstanciada em nulidades insanáveis no Processo


Administrativo Disciplinar, os quais devem ser reconhecidos, pelos seguintes motivos.

DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

Preliminarmente cabe suscitar matéria de ordem pública, que vem refletir no imediato
arquivamento do presente processo, qual seja, a prescrição.

A conduta enquadrada como ilegal é datada de 30/09/2012. Por força legal, a eficácia do
ato administrativo fica adstrita à publicação do mesmo.

Portanto, diante de sua publicidade e inequívoca ciência do ato, tem-se configurado o


marco final da prescrição em 30/09/2017, segundo o que preceitua o art. 142 da Lei
Federal n. 8112/90, art. 1º da Lei Federal n. 9873/99 e o art. 1º do Decreto Federal n.
20910/32 e em 30/09/2018, conforme inteligência do Art. 322, inciso I da Lei Estadual n.
10460/88.
Ocorre que, a instauração do PAD aconteceu somente em 02/09/2013, conforme
Portaria 208/2013, publicada no Diário Fácil do Estado de Goiás em 13/09/2013,
conforme se depreende as folhas 34 e 35 do referido Processo Administrativo Disciplinar.

Assim, considerando que o ato investigado, configuraria, em tese, a infração contida no


art. 303, inciso LX, ou seja, abandonar o cargo, com sanção prevista de demissão, nos
termos do art. 317 da Lei Estadual n. 10460/88, restando configurada a prescrição pelo
decurso de prazo por mais de 3 (três) anos da data que foi dada ampla publicidade,
conforme entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça no Agravo
Regimental interposto no Recurso Especial 1.401.371/PE.

Sobre o prazo prescricional presente no art. 322 da Lei Estadual n. 10460/88, temos o
entendimento da própria administração pública através do Manual Técnico de Processo
Administrativo Disciplinar do Gabinete de Controle Interno da Governadoria do Estado
de Goiás - GECONI, em seu item 9.1.4: "Interrompe a contagem do prazo prescricional a
publicação do ato de instauração do processo administrativo disciplinar, recomeçando, a
partir de então, o seu curso pela metade. - art. 322, parágrafo 3º, da Lei Estadual
n.10460/88 e CP art. 117" disponível em http://www.controladoria.go.gov.br/cge/wp-
content/uploads/2013/04/PROCESSO-ADMINISTRATIVO-DISCIPLINAR.pdf, ou seja,
mesmo que o prazo prescricional presente no Decreto Federal n. 20.910/32 não se
enquadre no presente PAD, a prescrição deveria ter sido decretada em 13/03/17, pois
após o término do prazo legal da comissão processante para a entrega do Relatório
Final, a prescrição começou a contar pela metade, ou seja, em 03 (três) anos.

Ademais, não bastasse a nítida prescrição, configurada de forma intercorrente e do


prazo legal como um todo

O que, evidentemente, confirma que a pretensão punitiva do Estado encontra-se


prescrita, conforme posicionamento do Superior Tribunal de Justiça ao confirmar este
entendimento:

AGRAVO EM EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO DO PAD DECISÃO REFORMADA. No tocante à


prescrição da falta grave, coaduno-me ao entendimento pacificado no STJ, que aponta a
inexistência de legislação específica acerca do prazo prescricional para a conclusão do
PAD, que poderá implicar em sanção disciplinar, devendo, portanto, ser adotado o
menor prazo previsto no art. 109 do Código Penal, qual seja, dois anos se anterior a Lei
n. 12.234/10 ou três anos quando posterior. PRÁTICA DE NOVO DELITO DURANTE O
CUMPRIMENTO DE PENA. FALTA GRAVE. NULIDADE POR AUSÊNCIA DE INSTAURAÇÃO DE
PAD DECLARADA DE OFÍCIO. Considerando os termos da Súmula n. 533 do STJ e a
recente jurisprudência deste e. Tribunal de Justiça, necessária é a instauração de
Procedimento Administrativo Disciplinar, a fim de apurar a ocorrência de eventual falta
grave praticada pelo apenado. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. (Agravo
n. 70075481135, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rosaura
Marques Borba, julgado em 22/02/18).

Portanto, demonstrada a prescrição punitiva no presente processo, deve ser o mesmo


imediatamente arquivado de ofício pela própria administração.

DA COMISSÃO

A presente comissão processante foi instaurada em 02/09/13, através da Portaria


208/13, pelo Secretário de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, publicada
no DOE em 13/09/13, portanto, de acordo com o art. 331, parágrafos 21 e 22, a referida
comissão tinha o prazo máximo de 180 dias para conclusão do presende PAD, e após
esse prazo a referida comissão simplesmente perdeu a validade, sendo que esse
também é o entendimento da própria administração pública, conforme o que prevê o
Manual Técnico do Processo Administrativo Disciplinar do Gabinete de Controle Interno
da Governadoria do Estado de Goiás, em seu item 6.6 alíneas "d e e", página 35,
conforme o fundamentado e acessado em: http://www.controladoria.go.gov.br/cge/wp-
content/uploads/2013/04/PROCESSO-ADMINISTRATIVO-DISCIPLINAR.pdf, senão
vejamos:

"Esgotados os prazos que alude o art. 331 parágrafo 21 da Lei n. 10460/88, sem que o
inquérito tenha sido concluído, designa-se nova comissão para refazê-lo ou ultimá-lo, a
qual poderá ser integrada pelos mesmos ou por outros servidores"

O entenimento das doutrinas específicas também segue no mesmo sentido, senão


vejamos:

"Não tendo sido cumprido o prazo, nem mesmo a prorrogação, a autoridade


instauradora tem o dever de destituir a comissão, nomeando outra para prosseguir os
trabalhos." - cf. PALHARES MOREIRA REIS - "Manual do Servidor Público" - Brasília-DF:
CTA, 1993 - pág. 210 - sustenta ademais, o ilustrado autor que, ultrapassado o prazo
legal estabelecido para a conclusão da sindicância ou do processo disciplinar, ter-se-á
como nulo o trabalho realizado.

O ilustre doutrinador, José Armando da Costa (in, "Teoria e Prática do Processo


Administrativo Disciplinar" - Brasília-DF: Ed. Brasília Jurídica, 1996 - pag. 194) preceitua
que: "O processo deverá ser relatado e concluído à autoridade instauradora, para
julgamento, no prazo de sessenta dias. Esse prazo, nos casos de força maior, ou em que
as circunstâncias o exigirem, poderá ser prorrogado por igual prazo. Não sendo os
trabalhos concluídos nessa prorrogação, deverá a comissão ser redesignada para, no
lapso de sessenta dias, ultimar essa tarefa." Esse mesmo doutrinador explica que o prazo
originário somente aceita uma prorrogação por igual período. Fora dessa expressão
temporal de 60 dias, deveverá ser designada nova comissão.

Portanto, com a perda do objeto da referida comissão em 13/03/14, pela prescrição do


prazo máximo de 180 dias após a publicação da Portaria, conforme a legislação vigente,
a investidura de novos membros em 10/04/17, através da Portaria 012/17 (fls. 71), não
possui validade jurídica e com isso todos os atos posteriores da referida comissão
processante são nulos de pleno direito, conforme inteligência das Leis Estaduais n.
10460/88 e n. 13800/01, do Código de Processo Civil e da Constituição Federal de 1988.

Vale salientar também o entendimento da própria administração: "as nulidades


absolutas são oponíveis em qualquer fase do processo e mesmo após a sua conclusão, e
até por quem não tenha legítimo interesse ou por parte de quem lhes tenha dado
causa." (Manual Técnico de Processo Administrativo Disciplinar do Gabinete de Controle
Interno da Governadoria do Estado de Goiás, página 64, publicada em 10/2016,
disponível em http://www.controladoria.go.gov.br/cge/wp-
content/uploads/2013/04/PROCESSO-ADMINISTRATIVO-DISCIPLINAR.pdf).

AUSÊNCIA DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA

Todo procedimento assim como qualquer ato administrativo deve ser conduzido com
estrita observância aos princípios constitucionais, sob pena de nulidade.

Ao instaurar o processo administrativo de repercussão direta do recorrente, o recorrido


deveria de imediato garantir o direito ao contraditório e à ampla defesa, como dispõe
claramente a Lei Estadual n. 10460/88:

Art. 282 – Sob pena de responsabilidade, será assegurado ao funcionário:

I – o rápido andamento dos processos de seu interesse, nas repartições públicas;


II – a ciência das informações, pareceres e despachos dados em processos que a ele se
refiram;
III – a obtenção de certidões requeridas para defesa de seus direitos e esclarecimentos
de situações, salvo se o interesse público impuser sigilo;

Além disso, a ampla defesa e o contraditório também é prevista na Constituição Federal,


em seu art. 5º, inciso LV, bem como na Lei Estadual n. 13800/01:

Art. 3º - Sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados, o administrado tem os
seguintes direitos:

I – ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o
exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações;
II – ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de
interessado, ter vista dos mesmos, pessoalmente ou através de procurador
legitimamente constituído, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer das
decisões proferidas;
III – formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão
objeto de consideração pela autoridade julgadora;

(...)
Art. 38 - O interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada da decisão, juntar
documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir alegações
referentes à matéria objeto do processo.
§ 1o – Os elementos probatórios deverão ser considerados na motivação do relatório e
da decisão.
§ 2o – Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provas
propostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou
protelatórias.
(...)
Art. 46 – Os interessados têm direito à vista do processo e a obter certidões ou cópias
reprográficas dos dados e documentos que o integram, ressalvados os dados e
documentos de terceiros protegidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à
imagem.

A ausência de citação do recorrente, trata-se de manifesta quebra do direito


constitucional à ampla defesa, especialmente por ser a principal afetada na decisão em
análise, conforme análise bem disciplinada pelo Ministro Celso de Mello:

“(..)mesmo em se tratando de procedimento administrativo, que ninguém pode ser


privado de sua liberdade, de seus bens ou dos seus direitos sem o devido processo
legal, notadamente naqueles casos em que se estabelece uma relação de polaridade
conflitante entre o Estado, de um lado, e o indivíduo, de outro. Cumpre ter presente,
bem por isso, na linha dessa orientação, que o Estado, em tema de restrição à esfera
jurídica de qualquer cidadão, não pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou
arbitrária (...). Isso significa, portanto, que assiste ao cidadão (e ao administrado),
mesmo em procedimentos de índole administrativa, a prerrogativa indisponível do
contraditório e da plenitude de defesa, com os meios e recursos a ela inerentes,
consoante prescreve a Constituição da República em seu art. 5º, LV. O respeito efetivo
à garantia constitucional do ‘due process of law’, ainda que se trate de procedimento
administrativo (como o instaurado, no caso hora em exame, perante o e. Tribunal de
Contas da União), condiciona, de modo estrito, o exercício de que se acha investida a
Pública Administração, sob pena de descaracterizar-se, com grave ofensa aos postulados
que informam a própria concepção do Estado Democrático de Direito, a legitimidade
jurídica dos atos e resoluções emanados do Estado, especialmente quando tais
deliberações, como sucede na espécie, importarem em invalidação, por anulação, de
típicas situações subjetivas de vantagem.” (STF MS 27422 AgR)

Seguindo esse entendimento temos o art. 26, parágrafo 5 da Lei Estadual n.6 13800/01
que diz textualmente: "As intimações serão nulas quando feitas sem a observância das
prescrições legais (...)"

Temos também o entendimento da própria administração pública, através do Manual


Técnico do Processo Administrativo Disciplinar do GECONI - Gabinete de Controle
Interno da Governadoria do Estado de Goiás, senão vejamos:

"Eivam de nulidade absoluta os vícios de competência, relacionados com a composição


da comissão, citação do indiciado, direito de defesa do acusado ou indiciado e com o
julgamento do processo." (Manual Técnico do Processo Administrativo Disciplinar
-Gabinete de Controle Interno da Governadoria do Estado de Goiás - 2006 - pág. 64 -
fonte: http://www.controladoria.go.gov.br/cge/wp-content/uploads/2013/04/PROCESSO-
ADMINISTRATIVO-DISCIPLINAR.pdf acessado em 02/05/2019

Nesse sentido são os recentes precedentes:

NULIDADE DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR RECONHECIDA ANTE A


VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO.
PRESCINDIBILIDADE DO PAD PARA APLICAÇÃO DA FALTA GRAVE PELO MAGISTRADO,
DESDE QUE ASSEGURADO AO APENADO O DEVIDO PROCESSO LEGAL, COM REALIZAÇÃO
DE AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO. O sistema constitucional
vigente impõe que se assegure ao acusado, seja em processo judicial ou administrativo
o direito à ampla defesa e ao contraditório, sendo imperioso o reconhecimento da
nulidade do PAD em que a oitiva do agente penitenciário ocorreu sem a presença do
apenado e de sua defesa técnica. (...) (Tribunal de Justiça do RS, Embargos Infringentes e
de Nulidade Nº 70075262279, Relator: José Conrado Kurtz de Souza, Quarto Grupo de
Câmaras Criminais, Julgado em 23/03/2018, Publicado em 18/04/2018)

DIREITO CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTAS DO CHEFE DO PODER


EXECUTIVO ESTADUAL. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA PELO TRIBUNAL DE CONTAS DO
ESTADO DO ACRE. COMPETÊNCIA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA. VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE
PRAZO PARA EXPLICAÇÕES. CASSAÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR. NECESSIDADE. 1. (...) 2.
Em tema de sanções de natureza jurídica ou de limitações de caráter político-
administrativo ao Poder Público, não pode exercer o Tribunal de Contas a sua
autoridade de maneira abusiva ou arbitrária, desconsiderando, no exercício de sua
atividade institucional os princípios do contraditório e da ampla defesa, quando a
cautelar deferida monocraticamente está apoiada em processo passível de recurso
com efeito suspensivo. 3. Inviável o acolhimento do pleito de emissão de ordem para
que o Tribunal de Contas se abstenha de impedir a realização de concursos nas áreas de
educação, saúde e segurança, sob pena de indevido e inegável engendramento das
atribuições constitucionais da Corte de Contas. (TJ-AC – MS 01000625420178010000
Relator Des. Pedro Ranzi, Tribunal Pleno Jurisdicional, Publicado em 28/07/2017)

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL - FALTA GRAVE - PRELIMINAR DE NULIDADE - PRÉVIO


PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - NECESSIDADE - ENUNCIADO Nº 533 DA
SÚMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. A instauração de procedimento
administrativo é imprescindível para o reconhecimento da falta disciplinar grave,
devendo, ainda, ser assegurado o direito de defesa, a ser efetivado por advogado
constituído ou defensor público nomeado, sob pena de nulidade do Processo
Administrativo Disciplinar (PAD) e, por consequência, da decisão que reconheceu
judicialmente a falta grave. (TJMG - Agravo em Execução Penal 1.0313.16.014108-
8/001, Relator(a): Des.(a) Júlio Cezar Guttierrez , 4ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
03/04/2019, publicação da súmula em 10/04/2019)

MANDADO DE SEGURANÇA - DIREITO ADMINISTRATIVO - ESTADO DE MINAS GERAIS -


POLICIAL MILITAR - CONDENAÇÃO CRIMINAL - CRIME DE TORTURA - POSTERIOR
ABSOLVIÇÃO NA ESFERA CRIMINAL - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - PERDA DO CARGO -
PROCESSO ADMINISTRATIVO - IMPRESCINDIBILIDADE - ATO ADMINISTRATIVO -
NULIDADE -- LIMINAR - REQUISITOS - ART. 7º, III, DA LEI 12.016/2009 -PREENCHIDOS -
DEFERIMENTO - RECURSO IMPROVIDO - DECISÃO MANTIDA. O art. 7º, III, da Lei
12.016/2009, confere ao magistrado a possibilidade de conceder liminar em mandado
de segurança, desde que se façam presentes o relevante fundamento e que do ato
impugnado possa resultar ineficácia do provimento final. O reconhecimento da
prescrição da pretensão punitiva do Estado, afasta todos os efeitos decorrentes de
eventual condenação, sendo eles de cunho principal ou acessórios, como é o caso da
perda do cargo ou a inabilitação para o exercício. A demissão de servidor público
depende de prévio processo administrativo disciplinar. Restando comprovado nos
autos que o ato de demissão do servidor público agravado não está revestido das
formalidades legais atinentes à espécie, alternativa não restava ao Judiciário senão
conceder a liminar rogada. Presentes os requisitos legais, deve ser mantida a decisão
que deferiu o pedido liminar para determinar que a autoridade coatora reintegre o
servidor Agravado ao seu respectivo cargo, até o julgamento final da ação originária, ou
até que seja instaurado e concluído o competente PAD. (TJMG - Agravo de Instrumento-
Cv 1.0000.18.104052-8/001, Relator(a): Des.(a) Ana Paula Caixeta , 4ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 29/11/2018, publicação da súmula em 30/11/2018)

Reexame Necessário. Servidor Público. Demissão por inassiduidade ou impontualidade.


Ausência de prévia advertência ou suspensão. Art. 153 do Estatuto dos Servidores
Públicos Municipais. Não observância. Não tendo sido observado o comando do art. 153
do Estatuto dos Servidores Públicos Municipais de Santa Rosa no procedimento de
exoneração por inassiduidade ou impontualidade, é de ser reintegrado o autor no cargo
do qual foi sumariamente demitido sem prévia advertência ou suspensão com
pagamento da remuneração mensal a partir da demissão. Sentença mantida em
Reexame Necessário. (Reexame Necessário nº 70005714662, Primeira Câmara Especial
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Corrêa Palmeiro da Fontoura, julgado
em 30/ 10/2003)

Apelação Cível e Reexame Necessário. Administrativo. Servidor Público. Penalidade. Devido


processo legal. Nulidade. Penalidade aplicada (40 dias de suspensão, convertidos em multa
tendo como base 50% da remuneração do servidor) sem o devido processo legal, porquanto não
oportunizada a ampla defesa e o contraditório em todos os atos do procedimento
administrativo, afrontando a orientação do art. 5º, inciso LV, da CF/88. Ouvida da principal
testemunha do procedimento administrativo sem a prévia ciência do servidor. Nulidade da
pena imposta. Sentença mantida em Reexame Necessário. Apelação desprovida. (Apelação e
Reexame Necessário nº 70007090830, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, julgado em 13/11/2003)

“Sobreleva-se ainda no caso em tela, que o procedimento disciplinar por abandono de cargo
público, que redundou na demissão do autor, está eivado de irregularidade insanável, qual seja,
a falta de intimação pessoal.” ." (TJGO, DUPLO GRAU DE JURISDICAO 14998-0/195, Rel. DES.
WALTER CARLOS LEMES, 3A CAMARA CIVEL, julgado em 10/07/2007, DJe 15052 de 31/07/2007)

“É ilegal a ausência de intimação do acusado e de seu defensor para acompanhamento


da sessão secreta do Conselho de Disciplina que deliberou sobre a exclusão daquele dos
quadros da Polícia Militar, em razão dos princípios do contraditório e da ampla defesa,
assegurados pela Constituição Federal.” (RMS 19.141/GO, Rel. Ministra MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 17/11/2009, DJe 07/12/2009)

Nesse sentido, o TJ/MT em situação análoga decidiu:

RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO


ADMINISTRATIVO C/C REINTEGRAÇÃO E RESSARCIMENTO DE VENCIMENTOS – POLICIAL
MILITAR – JULGAMENTO RECURSAL EM SESSÃO SECRETA - INADMISSIBILIDADE - DIREITO
À AMPLA DEFESA - OFENSA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL - ANULAÇÃO DO ATO E
REINTEGRAÇÃO AO CARGO - SENTENÇA MANTIDA.
Não pode o policial militar ser demitido sem que lhe seja assegurado o direito à ampla
defesa em processo administrativo instaurado para tal fim. É inadmissível o julgamento
secreto de recurso interposto pelo policial sem sua intimação ou de seu defensor,
máxime diante da gravidade da pena aplicável in abstrato. (N.U 0056039-
30.2006.8.11.0000, Ap 56039/2006, DES.ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, TERCEIRA
CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 11/10/2006, Publicado no DJE 23/10/2006)

RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL - ADMINISTRATIVO - AÇÃO ORDINÁRIA DE


REINTEGRAÇÃO ÀS FUNÇÕES C/C RESSARCIMENTO DE VENCIMENTOS POLICIAL
MILITAR - LICENCIAMENTO A BEM DA DISCIPLINA - PRESCRIÇÃO QUINQUENAL -
OCORRÊNCIA - EXTINÇÃO DO PROCESSO COM JULGAMENTO DE MÉRITO (CPC, ART. 269,
IV) - SENTENÇA RATIFICADA - APELO IMPROVIDO. Transcorrido o quinquênio da
prescrição contra a Fazenda Pública, sem que o interessado tenha exercido a pretensão
à desconstituição do ato administrativo que o licenciou, a bem da disciplina, e não tendo
a Administração praticado qualquer ato contrário ao exercício dessa pretensão, opera-se
a prescrição e justifica-se a decretação da extinção do processo, na forma do art. 269, IV,
do CPC. (N.U 0013697-77.2001.8.11.0000, Ap 13697/2001, DR. JOÃO FERREIRA FILHO,
PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO, Julgado em 04/06/2003,
Publicado no DJE 17/06/2003)

Vale salientar que a ata da comissão processante (fls. 38) infringiu o art. 331, parágrafo
5º da Lei Estadual n. 10460/88 e que a primeira citação do referido PAD é nula, pois
quem a assinou foi o servidor Thiago Quintiliano de Castro, e a mesma não consta das
obrigações constantes do art. 331, parágrafo 4º e todos os seus incisos da Lei Estadual n.
10460/88.

Não se questiona a autoexecutoriedade das sanções. Contudo, a imposição da


penalidade sem a ampla defesa – que é o caso, transborda o devido processo legal,
passível de nulidade, conforme assevera a doutrina:

“Caráter prévio da defesa – consiste na anterioridade da defesa em relação ao ato


decisório. A garantia da ampla defesa supõe, em princípio, o caráter prévio das
atuações pertinentes. A anterioridade da defesa recebe força matiz nos processos
administrativos punitivos, pois os mesmos podem culminar em sanções impostas aos
implicados.” (MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 20ª edt. Editora RT,
2016. pg. 205)

“(...) processo administrativo punitivo é todo aquele promovido pela Administração para
a imposição de penalidade por infração à lei, regulamento ou contrato. Esses processos
devem ser [i] necessariamente contraditórios, com oportunidade de defesa, [ii] que
deve ser prévia, e estrita observância do devido processo legal, sob pena de nulidade
da sanção imposta.” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 34 ed.
São Paulo: Malheiros. 2008. P. 702.)

O direito ao questionamento da decisão é garantia obrigatória não apenas nos processo


judiciais, como também nos processos administrativos, conforme reitera a doutrina:

“É sabido que a ampla defesa e o contraditório não alcançam apenas o processo penal,
mas também o administrativo, nos termos do art. 5º, LV da CF/88. É que a Constituição
estende essas garantias a todos os processos, punitivos ou não, bastando haver litígios.”
(Harrinson Leite, Manual de Direito Financeiro, Editora Jus Podivum, 3ª Edição, 2014, p.
349)
Ao compulsar os autos temos em seu item 13.3 do Despacho n. 674/2018 (fls. 333 a
337) da Procuradoria Geral do Estado de Goiás a afirmação de que a nulidade absoluta
do processo foi sanada, porém, como já vimos nas legislações e doutrinas já
demonstradas na presente ação, a nulidade absoluta não pode ser convalidade ou
sanada pela administração, sendo um vício insanável.

Portanto, neste sentido, tem-se nitidamente a quebra do contraditório e da ampla


defesa no processo administrativo disciplinar em trâmite sem qualquer notificação ao
impetrante. Razão pela qual, merece provimento o presente pedido.

DA AUSÊNCIA DE PROVAS

Ao analisar minuciosamente a instrução do processo, verifica-se que o processo foi todo


constituído unicamente em razão dos Relatórios Mensais de Frequência, documentos
nulos de pleno direito, por vício de forma e de invasão de competência e portanto, sem
qualquer evidência concreta ou prova válida.

Fato é que de forma leviana instaurou-se um processo sancionador, desprovido de


provas cabais a demostrar o dolo do agente público, consubstanciadas unicamente em
indícios que maculam a finalidade do objetivo traçado.

As testemunhas ouvidas no processo, foram arroladas em defesa prévia apresentada nos


autos por advogado dativo constituído por ato administrativo nulo, ou seja, não
possuem validade jurídica.

Vale salientar, que as testemunhas arroladas pelo recorrente em recurso administrativo


foram indeferidas e os questionamentos sobre a veracidade dos relatórios de frequência
simplesmente ignorados pela Comissão processante, sem a devida fundamentação
obrigatória da administração pública prevista na Constituição Federal e nos demais
regramentos infraconstitucionais.

Importante esclarecer sobre a indispensabilidade da prova pericial/testemunhal, pois


trata-se de meio mínimo necessário a comprovar o direito pleiteado, sob pena de grave
cerceamento de defesa:

CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DA PRODUÇÃO DE PROVA ORAL E


COMPLEMENTAÇÃO DE PERÍCIA. Constitui-se cerceamento de defesa o indeferimento
da produção de prova oral e prova técnica visando comprovar tese da parte autora,
considerando o julgamento de improcedência do pedido relacionado a produção da
prova pretendida. (TRT 4, 00213657920165040401 RO, julgado em 23/04/2018, 5ª
Turma)

CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DE PROVAS. PREJUÍZO. O indeferimento de


provas com posterior julgamento, baseado na distribuição do ônus probatório, em
sentido contrário ao alegado pela parte que postulara a respectiva produção (v.g.
complementação pericial e oitiva de testemunha) cerceia o direito de defesa da parte e
lhe causa prejuízo, nos termos do artigo 794 da CLT. (TRT 4, 0010650-82.2013.5.04.0271
RO, julgado em 05/11/2014, 6ª Turma)

Tratam-se de provas necessárias ao contraditório e à ampla defesa, conforme dispõe o


art. 369 do Código de Processo Civil, “as partes tem o direito de empregar todos os
meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste
código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz.”

Trata-se, portanto, da positivação ao efetivo exercício do contraditório e da ampla defesa


disposto no art. 5º da Constituição Federal:

“Art. 5º - (...) LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados


em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes; (...)

A doutrina ao disciplinar sobre este princípio destaca que:

“(...) quando se diz “inerentes” é certo que o legislador quis abarcar todas as medidas
passíveis de serem desenvolvidas como estratégia de defesa. (DA SILVA, Homero
Batista Mateus. Curso de Direito do Trabalho Aplicado – vol. 8 – Ed. RT, 2017. Versão
Ebook. Cap. 14)

A legislação pátria em vigor aplicável à espécie, é a que tomamos a liberdade, como se


vê:

CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

"Art. 75 - A todo direito corresponde uma ação, que o assegura."

"Art. 76 - Para propor, ou contestar uma ação, é necessário ter legítimo interesse
econômico ou moral."

"Art. 82 - A validade do ato Jurídico requer agente capaz, objeto líquido e forma
prescrita ou não defesa em lei."

"Art. 115 - São lícitas em geral, todas as condições, que a lei não vedar expressamente.
Entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o ato, ou o
sujeitarem ao arbítrio de uma das partes."

"Art. 130 - Não vale o ato, que deixar de revestir a forma especial, determinada em lei
(art. 82) salvo quando esta comine sanção diferente contra a preterição da forma
exigida."

"Art. 145 - É nulo o ato jurídico"


(....)
III - quando não revestir a forma prescrita em lei."

Que, a lei é clara, e não foi obedecida pelo requerido, que devem, em tese ser o
primeiro a dar o exemplo do fiel cumprimento da legislação vigente, e nunca ao
contrário, já que é quem promulga e faz, necessariamente, valer o preceito do jus
scriptum.

Que, na demonstração que faz-se nesta oportunidade, evidencia-se de longa margem,


que o Requerido passou por cima de tudo o que determina o preceito legal, que por sua
própria formalidade, é que resguarda os sagrados direitos do ora suplicante.

Vale salientar também, que o Relatório Final da Comissão Processante (fls. 199 a 209) foi
destinado ao senhor Rogério Fernandes Rocha, chefe da Corregedoria da SECIMA, e não
para a autoridade instauradora, ocasionando um possível vício de nulidade.

Cabe alertar, ao nobre julgador, que a citação da oitiva de testemunhas, presentes às


páginas 234, 239, 265 e do servidor acusado (fls. 240/266) não observou o art. 331,
parágrafo 4º, e todos os seus incisos da Lei Estadual 10460/88 e foi assinada apenas por
um dos membros da referida comissão, desobecendo o art. 329 da mesma lei, gerando
uma nulidade absoluta e um vício insanável.

Vale lembrar que, uma vez nulas as referidas citações, os depoimentos e documentos
emitidos em decorrência destas não possuem valor legal.
Que, ser julgado, em procedimento administrativo, sem qualquer defesa, sem qualquer
produção de provas (documental, testemunhal e pericial), sem qualquer oportunidade
de contraditar testemunhas de acusação, é forma imperialista, desumana e antijurídica,
senão ditatorial, na promoção de tais atos, e, estas atitudes, que por si só falam mais
alto, do que dissemos nesta ocasião, é uma pequena demonstração dos atos do
Requerido, no abuso de autoridade cometida contra os direitos do autor.

DA DOUTRINA

Que, a doutrina, por seus ilustres mestres do direito, nos ensinam o seguinte:

PONTES DE MIRANDA

Comentários à Constituição de 1967, 2ª Edição, Tomo V, p. 235:

"O direito de defesa deve ser assegurado em qualquer processo penal, administrativo ou
policial."

HELY LOPES MEIRELES

Direito Administrativo Brasileiro, Ed. Revista dos Tribunais - SP. 1981, p. 569.

"Essa garantia constitucional se estende a todo e qualquer procedimento acusatório,


judicial ou administrativo e se consubstancia no devido processo legal (due process of
law), de prática universal nos estado de Direito. É a moderna tendência da
jurisdicionalidade do poder disciplinar que impõe condutas formais e obrigatórias para
garantia dos acusados contra arbítrios da administração, assegurando-lhes não só a
oportunidade de defesa, como a observância de rito legalmente estabelecido para o
processo."

ALEXANDRE DE MORAES
Direito Constitucional, 10ª edição, Ed. Atlas 2002, pág. 121/122.
“O devido processo legal tem como corolários a ampla defesa e o contraditório, que
deverão ser assegurados aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral, conforme texto constitucional expresso (ART. 5º IV). Assim, embora
no campo administrativo, não exista necessidade de tipificação estrita que subsuma
rigorosamente a conduta à norma, a capitulação do ilícito administrativo não pode ser
tão aberta a ponto de impossibilitar o direito de defesa, pois nenhuma penalidade
poderá ser imposta, tanto no campo judicial, quanto nos campos administrativos ou
disciplinares, sem a necessária amplitude de defesa. Por ampla defesa, entende-se o
asseguramento que é dado ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o
processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de omitir-se
ou calar-se, se entender necessário, enquanto o contraditório é a própria exteriorização
da ampla defesa, impondo a condução dialética do processo (par conditio), pois a todo
ato produzido pela acusação, caberá igual direito de defesa de opor-se-lhe ou de dar-lhe
a versão que melhor lhe apresente, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídica
diversa daquela feita pelo autor.”
Nesse diapasão, é a lição do abalizado mestre CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO, in
Temas de Direito Público, 1993, p. 208:
“Sempre sustentamos, apoiados no magistério de José Frederico Marques, Geraldo
Ataliba e Hely Lopes Meirelles, que a garantia do "due processo of law", na ordem
jurídica brasileira, aplica-se ao procedimento administrativo, tanto no punitivo quanto
no administrativo não punitivo. Vale dizer, sempre que a Administração tiver que impor
sanção, uma multa, fazer um lançamento tributário ou decidir a respeito de
determinado interesse do administrado, deverá fazê-lo num procedimento regular, em
que ao administrado se enseje o direito de defesa. Assim decidiu o TFR. Se a aplicação
do "due process of law" ao procedimento administrativo resultava de modo implícito da
constituição anterior, na Constituição vigente a obrigatoriedade dessa aplicação é
expressa (art. 5, LV). Destarte, não há mais dúvidas aos litigantes, em processo
administrativo, são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes. Estabelece-se, no citado dispositivo, inclusive, a
obrigatoriedade do duplo grau de jurisdição (jurisdição no sentido largo) no
procedimento administrativo.”
Assim, nenhum servidor público pode ser demitido, nos termos da Constituição vigente,
sem o devido processo legal, onde se estabelece os princípios do contraditório e da
ampla defesa.
Ademais, verifica-se que a Lei 10.460 data de 22 de fevereiro de 1.988, anterior
portanto, a promulgação, no mesmo ano, da carta republicana, a qual, em atenção aos
princípios do Estado Democrático de Direito, estabeleceu como garantia fundamental e
núcleo imodificável de seu texto, a observância seja em processos judiciais ou
administrativos, do “due process of law” que, no caso em tela, restou violado, ante a
impossibilidade de contraditório e de defesa por parte do autor no processo
administrativo disciplinar que culminou com sua demissão do serviço público.
Qualquer diploma legal que não respeite os padrões mínimos exigidos pela ampla defesa
e pelo contraditório, hão de ser entendidos como inconstitucionais ou, no caso, como
não recepcionados pela Constituição Federal.
Cediço, pois: mesmo se tratando de falta disciplinar por abandono de cargo público, ou
por qualquer outro caso, o procedimento administrativo deve se ater a exigência do
devido processo legal, eis que defeso à Administração Pública demitir servidor sem
atenção ao consagrado preceito constitucional.
À respeito do tema, veja-se:
"Duplo Grau de Jurisdição em Ação Ordinária de Reintegração de Função Pública.
Nulidade de citação por edital. 01 - A lei 6.013/84, § 2º, Art. 150 e atual Estatuto dos
Servidores Públicos do Município de Goiânia Lei complementar nº 011/93, art. 183,
dispõe que somente o indiciado que se achar em lugar incerto e não sabido será citado
por edital, ou seja, que a realização da citação deve ser feita pessoalmente e apenas em
casos excepcionais e que se realizará por edital. 02 - in casu, ficou comprovado que a
municipalidade no período da instauração e desenvolvimento do processo
administrativo tinha conhecimento do endereço do autor e assim deveria pois ter
realizado o ato citatório do mesmo pessoalmente. Remessa conhecida e improvida.
Decisum confirmado".(TJGO primeira Câmara Cível. Fonte: DJ 13476 de 06/02/2001.
Acórdão: 19/12/2000.Relator: Des Matias Washington de Oliveira Negry. Recurso: 6765-
1/195 - Duplo Grau de Jurisdição)
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em situações semelhantes também decidiu:
“EMENTA: (...) i - o servidor público nomeado por concurso não pode ser demitido ou
exonerado, sem que, no procedimento administrativo disciplinar, seja realizado de
acordo com a norma insculpida no Artigo 5, LV da Constituição Federal. ii - estando o
servidor em local certo e sabido, a ausência de intimação pessoal para se defender no
procedimento disciplinar, viola o princípio do contraditório e da ampla defesa,
redundando na procedência da reintegração daquele ao respectivo cargo. remessa e
apelo improvidos." (3a câmara cível, dj 14716 de 13/03/2006, Rel. Des. Walter Carlos
Lemes, duplo grau de jurisdição nº 11570-5/195)
“EMENTA: (...) ii - a demissão de servidora por abandono de cargo, verificado em
processo administrativo nulo, que não seguiu o disposto em lei que disciplina o seu
procedimento, deve ser tida como inócua, com a reintegração da servidora no serviço
público. apelação não conhecida, remessa apreciada e sentença confirmada". (1ª
Câmara Cível, DJ 12816 de 02/06/1998, Rel. Des. Castro Filho, Duplo Grau de Jurisdição
nº 5085- 0/195).
“EMENTA: (...) I – O servidor público municipal que se encontra sob a égide de regime
jurídico único instituído por lei local, ainda que não estável somente pode ser demitido
mediante o devido processo legal, facultando-lhe ampla defesa. II – Age com acerto o
magistrado que declara a nulidade do ato atacado determinando a reintegração do
servidor no respectivo cargo. Remessa e apelo conhecidos e improvidos.” (DGJ nº 6020-
9/195, Rel. Des. Arivaldo da Silva Chaves, DJ nº 13299 de 17.05. 2000)
“EMENTA: (...) 1 - A EXONERAÇÃO DO SERVIDOR, ESTAVEL OU NÃO, OCORRERÁ
MEDIANTE O COMPETENTE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO OU JUDICIAL, NO QUAL
SERÁ DADO OPORTUNIDADE PARA O ACUSADO POR MEIO DE INTIMAÇÃO,
APRESENTAR DEFESA. A INOBSERVÂNCIA DO DIREITO DE CONCESSÃO DE AMPLA
DEFESA E CAUSA DE NULIDADE DO ATO DE PUNIÇÃO.” APELO CONHECIDO E 18
DGJ14998-0/195 PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA." (1A CÂMARA CÍVEL, DJ 13806 de
25/06/2002, REL. DES. ANTÔNIO NERY DA SILVA, APELAÇÃO CÍVEL Nº 63078- 3/188)
“EMENTA: (...) E NULO O ATO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR IMPOSTO AO FUNCIONÁRIO,
QUANDO NÃO PRECEDIDO DO PROCESSO DISCIPLINAR E DO CONTRADITÓRIO.
REMESSA CONHECIDA E DESPROVIDA". (TJGO SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, DJ 13327 de
29/06/2000, REL. DES. JALLES FERREIRA DA COSTA, DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Nº
6402-5/195)
“EMENTA: (...) 1) O ATO DE DEMISSÃO DO FUNCIONÁRIO ESTÁVEL, EMBASADO EM
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR EM QUE INOBSERVADAS E DESCUMPRIDAS
FORMALIDADES ESSENCIAIS, EM PREJUÍZO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA, COM
OS RECURSOS E MEIOS A ELA INERENTES, PADECE DE NULIDADE INSANÁVEL. (TJGO
PRIMEIRA CÂMARA, DJ 13024 de 05/04/1999, REL. DES MATIAS WASHINGTON OLIVEIRA
NEGRY, APELAÇÃO CÍVEL Nº 47523-2/188)
De outra feita, a Lei Estadual n. 10460/88, em seu § 5.º, do artigo 331, dispõe que:
“§ 5.º Apresentada a defesa prévia, a comissão marcará, sucessivamente, audiência para
a inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e defesa, determinando,
posteriormente, a produção de outras provas requeridas pelas partes”.
Ademais, nos dias atuais deve-se levar em conta não somente as leis em seu sentido literal; a
função social do processo é algo bastante debatido. As leis têm sido elaboradas com textos
abertos a fim de que não sejam arbitrárias, mais democráticas.
Ora, com a nova concepção social, a fim de verificar maior eficiência entre a relação do poder
público com o privado deve ser levada em consideração a condição social e pessoal de cada ser
humano.
A respeito deste assunto, eis a previsão do art. 5.º, da Lei de Introdução ao Código Civil:
“Art. 5.º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum.”
Nesse sentido, a Administração Pública, no seu desiderato, deve, também, observar se a norma
a aplicar atende à finalidade social, que é variável no tempo e no espaço, aplicando o critério
teleológico na interpretação da lei, sem desprezar os demais processos interpretativos, inclusive,
o do justo. Por isso mesmo reporto-me a Cluture: “Teu dever é lutar pelo direito. Mas, no dia
que encontrares o direito em conflito com a justiça, luta pela justiça” (4.º Mandamento do
Advogado). Disso resulta que a norma se destina a um fim social, de que o julgador deve
participar ao interpretar o preceito normativo.
Na hipótese vertente, não é possível que venha o servidor sofrer consequências a que não deu
causa, ou seja, foi induzido ao erro por parte da própria administração, mormente se se
instaurou um processo administrativo no qual não se atendeu o princípio do contraditório e da
ampla defesa, ferindo assim o art. 5º, inciso LV e o Art. 37 da Constituição Federal.
Nessa espia, temos a seguinte jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:
"Mandado de Segurança. Demissão em processo administrativo disciplinar. crime funcional
contra a administração pública. Peculato. Prescrição punitiva. Independência entre as
instancias administrativa e penal. Exceção. 1 - As infrações administrativas previstas em lei como
crime, prescreverão juntamente com este inadmitindo-se, portanto, a prescrição punitiva do
ilícito administrativo enquanto não verificado o lapso temporal também estabelecido na lei
penal artigo 322, parag. 2 da lei n. 10460/88. 2 - A independência entre as instancias
administrativa e penal constitui a regra, tanto que prescinde a punição disciplinar de previa
decisão na instancia penal. Excepcionalmente, este princípio resta trincado na sua inteireza
diante do reconhecimento judicial da inexistência de autoria, da inocorrência material do
próprio fato ou ainda quando a falta funcional, em sua definição legal, se escudar exatamente
num tipo penal elencado dentre aqueles que se definam como crimes contra a administração
pública, caso em que o ato punitivo deve aguardar, necessariamente, a decisão condenatória da
justiça penal. neste último caso, se há decisão absolutória no juízo criminal, o impetrante fica
eximido da persecução administrativa e punição disciplinar pelo mesmo fato, se não há faltas
residuais sem igual na legislação penal. 3 - A Constituição Federal não garante apenas o simples
direito de defesa do servidor publico, mas a ampla defesa com os meios e recursos a ela
inerentes (art. 5, LV e 41, § 1, II). significa, nestes termos, que a possibilidade de rebater
acusações, alegações, argumentos, interpretações de fatos, interpretações jurídicas, para
evitar sanções ou prejuízo, não pode sofrer qualquer restrição devendo consubstanciar a
defesa na mais ampla e abrangente possibilitada no juízo penal. 4 - O decreto demissório
fulcrado em figura prevista na lei penal, e que prescinde do processo criminal, está eivado de
nulidade absoluta, mormente se sobrevém sentença penal absolutória transitada em julgado. 5 -
Segurança concedida." (TJGO, Mandado de Segurança 10055-0/101, Rel. Des. Beatriz Figueiredo,
Órgão Especial, julgado em 12/06/2002, DJe 13817 de 10/07/2002)
"Mandado de Segurança. Processo Administrativo Disciplinar. Ofensa ao princípio constitucional
da ampla defesa. Anula-se o processo, bem assim o ato de demissão do servidor público que
não teve assegurada a ampla defesa no processo administrativo disciplinar a que foi submetido.
no caso, o primeiro acusado não teve oportunidade de produzir suas provas atempadamente
requeridas, enquanto que o segundo não teve defensor constituído ou nomeado. Segurança
concedida". (TJGO, MANDADO DE SEGURANCA 7678-3/101, Rel. DES NOE GONCALVES
FERREIRA, TJGO TRIBUNAL PLENO, julgado em 11/02/1998, DJe 12766 de 18/03/1998)
"Direito administrativo. duplo grau de jurisdição e apelo em mandado de segurança. Punição
disciplinar. prazo prescricional. interrupção. Consumação. processo administrativo. contraditório
inobservado. Nulidade. i- consumada a prescrição da pretensão punitiva do estado, correto seu
pronunciamento, tornando ineficazes os atos administrativos que consubstanciaram a
penalidade disciplinar imposta ao funcionário. ii- nao fosse a causa extintiva reconhecida, nao
prevaleceria, de qualquer modo, a punicao, infligida com base em processo disciplinar em que
nao se observou o principio do contraditorio e ampla defesa. duplo grau de jurisdicao e apelo
conhecidos e desprovidos ". (TJGO, DUPLO GRAU DE JURISDICAO 4407-7/195, Rel. DES JALLES
FERREIRA DA COSTA, TJGO SEGUNDA CAMARA CIVEL, julgado em 18/03/1997, DJe 12532 de
10/04/1997)

Que, nem poderia ser diferente diante dos textos legais, eis que a doutrina em
consonância com a lei, pois que analisa friamente a aplicação desta, também não pode
estar distante da jurisprudência, que vem a ser a aplicação do texto legal frente aos fatos
e atos jurídicos ocorridos, quando os Tribunais, são chamados a se pronunciarem, como
veremos a seguir:

DA JURISPRUDÊNCIA

Que, para tanto, trazemos nesta ocasião, algumas decisões, que em muitos são
aplicáveis à presente causa:

"DUPLO GRAU DE JURISDICAO. APELACAO CIVEL. ACAO DECLARATORIA. REINTEGRACAO


SERVIDOR PUBLICO AO CARGO. PEDIDO DE LICENCA. ABANDONO DE SERVICO. PROCEDIMENTO
DISCIPLINAR SEM INTIMACAO PESSOAL. CERCEAMENTO DEFESA. OFENSA AO PRINCIPIO DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL. I - O FATO DO AUTOR PROTOCOLAR PEDIDO ADMINISTRATIVO DE
LICENCA, NAO O EXIME DE CUMPRIR SUAS FUNCOES, ABANDONANDO O SERVICO, ENQUANTO
NAO OBTEM AUTORIZACAO PARA GOZAR A LICENCA ENTAO ALMEJADA. DECORRE DAI QUE NAO
MERECE GUARIDA A PRETENSAO DO AUTOR EM RELACAO AO PEDIDO DE RECEBIMENTO DOS
VENCIMENTOS E DEMAIS VANTAGENS, DURANTE O PERIODO DE ABANDONO DO SERVICO, JA
QUE NAO FEZ JUS AO PLEITO, POIS NAO TRABALHOU E NEM TINHA AUTORIZACAO PARA
AFASTAR-SE. II - NENHUM SERVIDOR PUBLICO PODE SER DEMITIDO, NOS TERMOS DA
CONSTITUICAO VIGENTE, SEM QUE O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR SEJA
REALIZADO EM OBSERVANCIA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL, ONDE SE ESTABELECEM OS
PRINCIPIOS DO CONTRADITORIO E DA AMPLA DEFESA. III - NAO PREVALECE A MERA ALEGATIVA
DO 2 APELANTE AO DIZER QUE SEGUIU O RITO TRACADO PELO ARTIGO 337 DA LEI N. 10460/88,
A QUAL ESTABELECE UM PROCEDIMENTO PECULIAR PARA O CASO DE ABANDONO DE CARGO.
NAO RESTOU EVIDENCIADO NOS AUTOS QUE O AUTOR ESTIVESSE EM LOCAL INCERTO. POR
ISSO, O CHAMAMENTO DESTE APENAS POR EDITAL ACARRETA O CERCEAMENTO DE DEFESA,
DEVENDO, POIS SER MANTIDA A SUA REINTEGRACAO AO CARGO PUBLICO FACE A OFENSA DO
PRINCIPIO ESTABELECIDO NO ARTIGO 5, INCISO LV, DA CONSTITUICAO FEDERAL. REMESSA E
APELOS IMPROVIDOS." (TJGO, DUPLO GRAU DE JURISDICAO 14998-0/195, Rel. DES. WALTER
CARLOS LEMES, 3A CAMARA CIVEL, julgado em 10/07/2007, DJe 15052 de 31/07/2007)
“ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA TIPIFICADA NO ART. 303,
INCISO LVI DA LEI N.º 10.460/88. AUSÊNCIA DA ELEMENTAR DO TIPO "EM SERVIÇO".
NULIDADE DO DECRETO DEMISSÓRIO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. In casu, em nenhum
momento restou efetivamente evidenciado que o Recorrente estivesse no exercício de
seu mister ("em serviço"). Isso porque, uma vez que os fatos se deram em local diverso
do ambiente do trabalho, ainda que próximo, como consta do Relatório Final, somente
seria cabível a imputação acaso ficasse demonstrado que o Recorrente estava, ao
menos, no cumprimento das atribuições do cargo no momento do ocorrido, o que não
ocorrera na espécie. 2. O fato de cuidar-se a vítima de funcionário público, colega de
serviço do Recorrente, e de existir uma animosidade entre eles em razão do serviço,
segundo consta dos autos, não se mostra suficiente para tipificar o ilícito administrativo.
3. No campo do direito disciplinar, assim como ocorre na esfera penal, interpretações
ampliativas ou analógicas não são, de espécie alguma, admitidas, sob pena de
incorrer-se em ofensa direta ao princípio da reserva legal. 4. Ressalte-se que a
utilização de analogias ou de interpretações ampliativas, em matéria de punição
disciplinar, longe de conferir ao administrado uma acusação transparente, pública, e
legalmente justa, afronta o princípio da tipicidade, corolário do princípio da
legalidade, segundo as máximas: nullum crimen nulla poena sine lege stricta e nullum
crimen nulla poena sine lege certa, postura incompatível com o Estado Democrático de
Direito. 5. Recurso conhecido e parcialmente provido para anular a pena demissória
aplicada ao Recorrente. ( STJ, 5ª Turma - RMS 16264/GO
2003/0060165-4, Relator (a): Ministra Laurita Vaz, com a aceitabilidade da Lei Federal n.
8112/90 publicado no DJ 02/05/2006 p. 339)”

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


SERVIDOR PÚBLICO. DEMISSÃO. PODER DISCIPLINAR. DELEGAÇÃO. SECRETÁRIO DE
ESTADO. LEI Nº 10460/88, ART. 312, INCISO III, ALÍNEA "A", DO ESTADO DE GOIÁS.
INCONSTITUCIONALIDADE. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO GOVERNADOR DO ESTADO. I -
Por meio do julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade nº 2007.0224412-5, em
27/02/2008, o e. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás declarou inconstitucional o art.
312, III, alínea "a", da Lei estadual 10.460/88 (com a redação dada pela Lei n.º
14.210/02 e regulada pelo Decreto Estadual n.º 5.629/02), através da qual o
Governador delegou a Secretário de Estado competência para aplicar a pena de
demissão aos servidores no âmbito da respectiva Secretaria. II - Reconhecida pela e.
Corte a quo a inconstitucionalidade do cogitado dispositivo, impõe-se a concessão da
segurança, declarando-se a nulidade do ato impositor da pena demissória, com a
imediata a reintegração do servidor, pagamento dos vencimentos e cômputo de
tempo para todos os efeitos legais. Precedente: RMS 24.635/GO, 5ª Turma, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 20/10/2008.” (STJ, AgRg nos EDcl no RMS
22.033/GO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04/03/2010, DJe
05/04/2010).
“É possível anular judicialmente o ato demissional que ocorre em desatenção ao
acervo probatório dos autos e com desatenção à proporcionalidade na sanção, sem
prejudicar eventual aplicação de diversa penalidade administrativa. Precedente: MS
13.791/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, DJe 25.4.2011.” (STJ,
MS 15810/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
29/02/2012, DJe 30/03/2012)
“Em se tratando dos limites da atuação do poder judiciário no âmbito do processo
administrativo disciplinar, este Superior Tribunal de Justiça, à luz dos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, firmou orientação de que a pena de demissão
imposta a servidor público submetido a processo administrativo disciplinar deve
encontrar fundamento em provas convincentes que demonstrem, de modo cabal e
indubitável, a prática da infração pelo acusado.” (STJ, RMS 19.498/SP, 5ª Turma, DJe
22/03/2010)
“É possível tutela antecipada para reintegração de servidor demitido, pois tal hipótese
não está arrolada nos motivos impedientes de tutela antecipada contra a União
constantes do art. 1ª da Lei Federal 9.494/97.” (STF, Rcl 2539).
“A reintegração de servidor demitido tem eficácia financeira retroativa. Além do mais,
o Estado poderá ser responsabilizado civilmente pela inflição indevida de sanção.”
(STJ, RMS 19.498/SP, 5ª Turma, DJe 22/03/2010 e STJ, AgRg no Ag 1374452/GO, 2 º
Turma, DJe 09/03/2012 – Responsabilidade civil do Estado por demissão aplicada em
sede de Processo Administrativo Disciplinar eivado de irregularidades).

"O julgamento da legalidade dos atos administrativos, está incluído na competência


jurisdicional que protege qualquer lesão de direito individual." (STF, in RDA 110/243).

"Ainda que discricionário o ato administrativo, deve conformar-se com a finalidade


legal." (TJSP, in RDA 36/121).

"A motivação jurisdicional do ato administrativo, tem seus limites no formalismo que
cerca o ato." (TFR, in RDA 61/135).

"A faculdade discricionária não pode ser usada abusivamente sob pretexto de pena
disciplinar." (TJBA, in RDA, 105/150).

“Recurso Administrativo. Processo Administrativo Disciplinar. Decisão que aplicou


penalidade de multa. Instrução processual realizada unilateralmente pela autoridade
julgadora, sem observar o disposto no art. 329 da Lei Estadual n. 10.460/88. Nulidade. I -
Os princípios constitucionais da legalidade (art. 37, caput), e do devido processo legal
(art. 5º, incisos LV e LIV), são de observância obrigatória na instância administrativa,
impondo à autoridade julgadora o dever de seguir o rito processual pré-estabelecido
na lei. II - Nos termos do art. 329 da Lei Estadual n. 10.460/88, o processo administrativo
disciplinar instaurado contra servidores da Justiça e titulares das serventias
extrajudiciais deve ser instruído por uma comissão composta de 03 (três) servidores
estáveis, sendo nulo o processo disciplinar conduzido unilateralmente pela autoridade
processante, por violação aos princípios do devido processo legal e do juiz natural,
sendo direito dos servidores que a instrução processual seja conduzida por seus pares,
mediante uma comissão. processante imparcial e instituída nos termos da lei
estatutária. Precedentes do STJ e STF. III - Reconhecida a nulidade a partir da instauração
do processo administrativo, os autos devem retornar à comarca de origem para que se
promova o processamento do recorrente perante uma comissão disciplinar a ser
nomeada. Decisão administrativa anulada de ofício. Recurso prejudicado.” (CSM, PAD
80984-62, Rel. Des. Carlos Alberto França, DJ 842026, de 17.06.2011)
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO C/C COBRANÇA E
INDENIZAÇÃO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA NO
CURSO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. AUSÊNCIA DE INDIVIDUALIZAÇÃO
DA CONDUTA NO ATO DE INSTAURAÇÃO DO PROCEDIMENTO. PRODUÇÃO DE PROVA
SEM OITIVA DA PARTE CONTRÁRIA. COBRANÇA DOS VALORES DEVIDOS A TÍTULO DE
SALÁRIO. INDENIZAÇÃO. I - A garantia do contraditório e ampla defesa, garantidos
constitucionalmente pelo art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal, são de observância
obrigatória nos procedimentos administrativos de cunho disciplinar, razão pela qual o
ato de instauração dos mesmos deve conter em bojo a descrição do ato praticado, de
modo a possibilitar ao processado o exercício de sua defesa de maneira eficiente, sendo
corolário deste pensamento, o direito de participar da produção de prova promovida
pela comissão processante, inclusive sob pena desta eivar-se de nulidade insanável. II -
Uma vez anulado o ato demissionário, assiste à apelante o direito de perceber os valores
que lhe eram devidos a título de salário desde a ruptura da relação de trabalho. III - Não
há que se falar em indenização na espécie, uma vez que restou assegurado à parte o
pagamento de seus vencimentos durante o tempo em que esteve afastada. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO“ (TJGO, 1ª CC, AC 308441-34, Rel. Des. Leobino
Valente Chaves, DJ 756, de 09.02.2011)
“PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. NOTÁRIO E REGISTRADOR. SINDICÂNCIA
CONDUZIDA UNILATERALMENTE. NULIDADE. A sindicância, quando instaurada com
caráter punitivo e não meramente investigatório ou preparatório de um processo
disciplinar principal, no qual é indispensável a observância das garantias do
contraditório e da ampla defesa e, além disso, do princípio da impessoalidade e da
imparcialidade, mediante a convocação de uma comissão disciplinar composta de três
servidores. NULIDADE DECLARADA DE OFÍCIO” (CSM, PAD 62467-43, Rel. Des. Amélia
Martins de Araújo, DJ 628, de 27.07.2010)
“ADMINISTRATIVO. PENA DE CENSURA APLICADA A MAGISTRADO NO BOJO DE
JULGAMENTO DE REPRESENTAÇÃO. PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. NÃO RESPEITADOS. NECESSÁRIO PRÉVIO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. PREVISÃO EXISTENTE NO REGIMENTO INTERNO DO TRIBUNAL A QUO.
1. Para a aplicação de pena disciplinar, é imprescindível o prévio procedimento
administrativo, por meio do qual sejam obedecidos os princípios do devido processo
legal, da ampla defesa e do contraditório. 2. A apresentação de meras informações
acerca dos fatos narrados na Representação não pode ser considerada como apta a
configurar o devido respeito aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e
do contraditório, uma vez que, para tanto, imprescindível teria sido possibilitar, no
mínimo, a utilização de todos os meios de prova permitidos em direito. 3. O processo
de sindicância, desde que utilizado como meio único para a apuração e aplicação de
penalidades disciplinares, deve, obrigatoriamente, observar os princípios da ampla
defesa, do contraditório e do devido processo legal. 4. Recurso ordinário em mandado
de segurança conhecido e provido.” (STJ, RMS 25030, Min. Laurita Vaz, J. 06.06.2011, Dje
22.09.2011)
O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que a ausência de
processo administrativo ou a inobservância aos princípios do contraditório e da ampla
defesa tornam nulo o ato de demissão de servidor público, civil ou militar, seja ele
estável ou não. Nesse sentido:
“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL NÃO ESTÁVEL.
EVENTUAL DEMISSÃO. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. 1. Garantia do
contraditório e da ampla defesa em eventual demissão de servidor
público pela Administração, mesmo que de cargo não efetivo.
Precedentes. 2. A decisão agravada reconheceu que o acórdão recorrido
decidiu conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal. RE 244.544-
AgR/MG, 2ª Turma, rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 21.06.2002, dentre
outros. 3. Agravo regimental ao qual se nega provimento” (RE 491.724-
AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe 19.12.2008).
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MILITAR.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. LICENCIAMENTO. OFENSA AOS
PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. A jurisprudência
desta Corte tem se fixado no sentido de que a ausência de processo
administrativo ou a inobservância aos princípios do contraditório e da
ampla defesa tornam nulo o ato de demissão de servidor público, seja
ele civil ou militar, estável ou não. Agravo regimental a que se nega
provimento” (RE 513.585-AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe
1º.8.2008).
Confiram-se, a propósito, os seguintes julgados, análogos ao caso:
“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. OFENSA INDIRETA. PROCEDIMENTO PARA
COLOCAÇÃO DE MAGISTRADO EM DISPONIBILIDADE. SESSÃO SECRETA DE
JULGAMENTO. PROIBIÇÃO DA PRESENÇA DO ACUSADO E DE SEU DEFENSOR.
NULIDADE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. Processo administrativo anulado,
pelo Superior Tribunal de Justiça, com base na interpretação de normas
infraconstitucionais. Interpretação esta, que, ademais, é a que melhor se
coaduna com a garantia constitucional da ampla defesa. Recurso extraordinário
não conhecido” (RE 195.612, Rel. Min. Ellen Gracie, Primeira Turma, DJ 14.6.2002
- grifo nosso).
“POLICIAL MILITAR. PRAÇA. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. LICENCIAMENTO EX OFFICIO,
A BEM DA DISCIPLINA. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA, PELO PODER PÚBLICO,
DA GARANTIA DO DUE PROCESS OF LAW. NULIDADE DO ATO PUNITIVO QUE
NÃO RESPEITOU ESSA GARANTIA CONSTITUCIONAL. RECURSO PROVIDO. O
Estado, em tema de punições de índole disciplinar, não pode exercer a sua
autoridade de maneira abusiva ou arbitrária, desconsiderando, no exercício de
sua atividade censória, o postulado da plenitude de defesa. O reconhecimento
da legitimidade ético-jurídica de qualquer sanção punitiva imposta pelo Poder
Público exige, ainda que se cuide de procedimento meramente administrativo
(CF, art. 5º, LV), a fiel observância da garantia constitucional do “due process of
law”. Doutrina. Precedentes. A praça da Polícia Militar, ainda que não disponha
de estabilidade, não pode sofrer desligamento de sua corporação, a bem do
serviço público, a não ser que o Estado, na imposição dessa punição disciplinar
(licenciamento ex officio), tenha efetivamente respeitado as garantias do
contraditório e da plenitude de defesa, asseguradas, aos servidores públicos em
geral, pelo art. 5º, LV, da Constituição da República, eis que esse preceito
constitucional, para o fim referido, não estabelece qualquer distinção entre
servidores civis e servidores militares. Precedentes” (AI 315.538, Rel. Min. Celso
de Mello, DJ 4.5.2005).

Portanto, nobre julgador, caracterizado está dentro da lei vigente da doutrina e da


jurisprudência, a ilicitude civil praticada pelo Requerido, contra os direitos do
Requerente, e que, nada mais resta, a bem da JUSTIÇA, DO QUE DECRETAR A NULIDADE
DO ATO ADMINISTRATIVO, e seus efeitos, desde sua gênese, em data pretérita de 18 de
agosto de 2018, TORNANDO SEM EFEITO TODOS OS ATOS JÁ PRATICADOS.

DA LIMINAR

ASSIM SENDO, MM. Julgador, provado, desde logo, como acima demonstrado, e com
base na documentação em anexa, a inominável violência e o monstruoso abuso de
poder que se quer perpetrar contra o REQUERENTE, e consequentemente, demonstrada
a relevância do fundamento da impetração “fumus boni juris”, bem como, se
concretizada a ameaça, o dano irreparável que advirá ao direito líquido e certo do
impetrante, até porque o autor está desempregado e os seus vencimentos tem
natureza alimentar, e existindo obrigações administrativas, funcionais, e gerenciais
(chefe de setor), “periculum in mora”, que se refletirá inevitavelmente em prejuízo da
administração pública estadual, que não pode e não deve sujeitar-se às constantes
turbações ditadas por mera perseguição política e resultante de ato ilegal e abusivo, é
que se requer:

a) Com base no art. 300 do Código de Processo Civil c/c art. 61 parágrafo único da Lei
Estadual n. 13800/01, requer a atribuição de efeito suspensivo a decisão contida na
Portaria 412/2018 - SEGPLAN, com base no precedente julgado pelo STJ, na RMS
24.635/GO, 5ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 20/10/2008 e
posterior jurisprudência acatada no AgRg nos EDcl no RMS 22.033/GO, Rel. Ministro
FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04/03/2010, DJe 05/04/2010, bem como,
por flagrante desrespeito ao contraditório e ao devido processo legal, art. 5ª LV da Carta
Magna, e A CONCESSÃO LIMINAR PARA TORNAR NULO, TODOS OS ATOS PRATICADOS
PELA COMISSÃO PROCESSANTE, que como visto alhures, fora constituída de forma
irregular, que não possui legitimidade, para afastar o requerente de suas funções, por
inexistir, no ordenamento jurídico pátrio, DETERMINAÇÃO LEGAL, que possa embasar o
afastamento do requerente de suas funções, sem lhe ser assegurado o direito à ampla
defesa e ao contraditório, e POR SER A MESMA ILEGAL, E ESTANDO EM DESACORDO
COM A PRÓPRIA LEGISLAÇÃO ESTADUAL, quais sejam, Leis 10460/88 e 13800/01, uma
vez que todos os andamentos processuais realizados no processo, tramitaram sem a
devida citação da parte, sem o devido contradito do servidor e principalmente de forma
restrita, ou seja, restringindo os direitos de vista ou cópia do processo, conforme
inteligência do art. 3o inciso II e art. 46 da Lei Estadual n. 13800/01, como já configurado
no PAD em outros recursos da parte, bem como no Processo n. 201800017000134, o
que caracterizou de forma límpida e clara a ilegalidade e nulidade do ato. A medida
cautelar ora pleiteada deve ser concedida, pois preenche os requisitos legais para tal,
dado que resta incontroversa a probabilidade do direito.
b) A aceitação da aplicabilidade prescricional do art. 1º do Decreto Federal n. 20.910/32
e do art. 1º da Lei Federal n. 9.873/99, com fulcro na aplicação do princípio da igualdade
e da simetria, seguindo o entendimento jurisprudencial, com todas os precedentes
judiciais e analogias presentes no Despacho n. 401/2019 da Procuradoria Geral do
Estado, constante do Processo n. 201300003016146.

c) Requer o reconhecimento das nulidades processuais presentes nas preliminares: a) b)


c) d) e) f) g) h) i) j) k) l) m) n) o) p) q) r) s) t) u) v);

d) Requer o arquivamento do referido processo, por flagrante desrespeito ao art. 5º,


incisos III, XX, XXXIII, XXXIX, LIII, LV, LVI, LVII, LX da Constituição Federal e deve ser
declarada nulo de ofício pela administração pública, sob pena de inconstitucionalidade,
pois foi praticado ao revés do disciplinado no art. 37 caput da Constituição Federal, uma
vez que o ato administrativo presente na Portaria 412/2018, não obedeceu ao princípio
da publicidade e aos demais princípios inerentes a administração presentes na carta
magna.

d) Com fundamento no art. 117 e demais artigos correlatos da Lei Estadual n. 10460/88,
requer a reintegração do requerente as suas funções, no mesmo local e com todas as
vantagens e benefícios inerentes ao cargo que ele recebia até a publicação da referida
decisão atacada até que se tenha uma decisão final válida sobre o referido processo.

REQUER, por fim, que seja notificado o requerido, para contestar a presente ação,
ouvido em seguida o órgão do Ministério Público, esperando-se que, ao final, seja
confirmada em definitivo, por sentença, a liminar ora requerida.

Dá-se à causa o valor de R$ 500,00, para os efeitos meramente fiscais.

"Princípio da moralidade. Ética da legalidade e moralidade. Confinamento do princípio


da moralidade ao âmbito da ética da legalidade, que não pode ser ultrapassada, sob
pena de dissolução do próprio sistema. Desvio de poder ou de finalidade." (ADI 3.026,
Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 8-6-2006, Plenário, DJ de 29-9-2006.)

Termos em que

P. Deferimento

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