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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

HIDROGEOGRAFIA

GUARULHOS – SP
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

2 INTRODUÇÃO À HIDROGEOGRAFIA ................................................................... 5

2.1 O desenvolvimento das cidades nas planícies de inundação ............................. 5

3 BACIA HIDROGRÁFICA ......................................................................................... 7

3.1 Conceitos relacionados às bacias hidrográficas ................................................. 8

3.2 Conceitos relacionados às características físicas da bacia ................................ 9

3.3 Bacia hidrográfica: conceito e classificações .................................................... 10

3.4 Características das redes fluviais ..................................................................... 15

3.5 Aspectos morfométricos das bacias hidrográficas ............................................ 18

3.6 A Geografia das principais bacias hidrográficas do Brasil ................................ 21

3.7 Impactos ambientais nas bacias hidrográficas brasileiras: causas e

consequências .......................................................................................................... 27

3.7.1 Dez rios mais poluídos do Brasil ..................................................................... 31

3.8 Os comitês de bacias hidrográfica e a gestão dos recursos hídricos no Brasil 32

3.9 A importância das bacias e sua influência no cotidiano .................................... 38

4 OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL ............................................................. 39

4.1 Distribuição da água no planeta........................................................................ 39

4.2 Classes de água ............................................................................................... 42

4.3 Impactos antrópicos nos recursos hídricos ....................................................... 45

4.4 Tipos de poluição .............................................................................................. 46

4.4.1 Poluição térmica ............................................................................................. 46

4.4.2 Poluição biológica ........................................................................................... 47

4.4.3 Poluição química ............................................................................................ 48

4.4.4 Poluição sedimentar ....................................................................................... 49

1
4.5 Instrumentos para minimização dos impactos .................................................. 51

4.6 Poluição dos recursos hídricos ......................................................................... 52

4.6.1 Eutrofização .................................................................................................... 52

4.6.2 Assoreamento ................................................................................................. 54

5 CICLO HIDROLÓGICO ......................................................................................... 55

5.1 Principais processos do ciclo hidrológico .......................................................... 56

5.2 Precipitação e entrada de água no ciclo hidrológico ......................................... 58

5.3 Balanço hídrico: mensuração do ciclo da água................................................. 62

6 LIMNOLOGIA ........................................................................................................ 67

6.1 História, importância e desenvolvimento. ......................................................... 67

6.2 Definição ........................................................................................................... 68

6.3 A Limnologia no Brasil ...................................................................................... 69

6.4 A água: ocorrência, qualidade, caracterização e classificação. ........................ 71

6.5 Qualidade da água............................................................................................ 73

6.6 Classificação das Águas Interiores ou Continentais ......................................... 74

6.6.1 Quanto à hidromecânica ................................................................................. 74

6.6.2 Quanto à origem ............................................................................................. 75

6.6.3 Quanto à natureza química............................................................................. 76

6.6.4 Quanto à periodicidade ................................................................................... 76

6.7 Lagos: origem, tipos e distribuição geográfica .................................................. 77

6.8 Agentes da natureza formadores de águas lênticas ......................................... 79

6.9 Açudes e reservatórios do Brasil ...................................................................... 79

7 AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OS RECURSOS HÍDRICOS ............................ 80

7.1 Mudanças climáticas......................................................................................... 81

7.2 O Brasil no meio de tudo isso ........................................................................... 85

7.3 Os oceanos e o gás carbônico.......................................................................... 86


2
7.4 A dinâmica dos mares e a ocupação de áreas litorâneas ................................. 89

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 91

3
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

4
2 INTRODUÇÃO À HIDROGEOGRAFIA

Hidrogeografia é o ramo da Geografia que realiza estudos sobre toda a água


existente na superfície terrestre, como lagos, oceanos, rios, mares, além das águas
subterrâneas. O planeta é formado por mais de 97% de água e compreende um
volume de aproximadamente 1.400.000.000 km³. Sendo assim, a hidrogeografia é a
responsável por analisar os diversos aspectos de toda essa água, como a formação
e características dos rios, a geomorfologia, a distribuição da água doce, a morfologia
das águas oceânicas, a geomorfologia fluvial, as bacias hidrográficas, entre outros.
A sua relevância resulta, principalmente, da contribuição para a realização de
projetos de potencial energético, como a construção de usinas, da elaboração de
planejamentos para o uso racional de recursos hídricos e do conhecimento sobre
questões ligadas aos biomas aquáticos (SAGAH, 2018).

Fonte de: www.agenciabrasil.ebc.com.br

2.1 O desenvolvimento das cidades nas planícies de inundação

As planícies de inundação atraem assentamentos humanos desde o começo


da civilização. Elas são lugares naturais para os assentamentos urbanos, porque
combinam fácil transporte hidroviário com acesso a terras férteis e agricultáveis. Tais
lugares, entretanto, estão sujeitos às inundações que formaram as planícies de

5
inundação. Pequenas inundações são comuns e geralmente causam poucos danos,
mas os episódios de maior proporção que ocorrem com intervalo de algumas décadas
podem ser bastante destrutivos.
Há cerca de 4 mil anos, as cidades começaram a se estabelecer nas planícies
de inundação ao longo do rio Nilo, no Egito, nas terras da antiga Mesopotâmia, entre
os rios Tigre e Eufrates, e, na Ásia, ao longo do rio Indo, na Índia, e do Yang-Tsé e
Huang Ho (Amarelo), na China. Posteriormente, muitas das capitais da Europa foram
construídas sobre planícies de inundação: Roma, na margem do Tibre; Londres, ao
longo do rio Tâmisa; e Paris, junto ao Sena. Entre as cidades da América do Norte
construídas em planícies de inundação, podem ser citadas Saint Louis, ao longo do
rio Mississippi; Cincinnati, junto ao rio Ohio; e Montreal, margeando o rio Saint
Lawrence. As enchentes periodicamente destruíram partes dessas cidades antigas e
modernas que se localizavam nas regiões mais baixas das planícies de inundação,
mas seus habitantes sempre as reconstruíram (GROTZINGER; JORDAN, 2013).
Atualmente, muitas das maiores cidades estão protegidas por diques artificiais
que reforçam e elevam os diques naturais dos rios. Além disso, sistemas extensivos
de barragens podem ajudar a controlar as inundações que afetam essas cidades, mas
são incapazes de eliminar completamente os riscos. Em 1973, o Mississippi causou
sérios problemas em uma enchente que durou 77 dias consecutivos em Saint Louis,
Missouri (EUA). O rio alcançou uma altura recorde de 4,03 m acima do nível de
inundação.
Em 1993, o Mississippi e seus tributários saíram novamente de seus leitos e
ultrapassaram os registros mais antigos, resultando em uma devastadora enchente, a
segunda pior da história dos Estados Unidos, como foi oficialmente considerada (atrás
da enchente de Nova Orleans causada pela elevação da maré que se seguiu ao
furacão Katrina em 2005).
Essa cheia ocasionou 487 mortes e prejuízos materiais de mais de 15 bilhões
de dólares. Em Saint Louis, o Mississippi ficou acima do nível normal durante 144 dos
183 dias que existem entre abril e setembro. Um resultado inesperado dessa
inundação foi a dispersão de poluentes, que ocorreu quando a água da cheia lavou
os agrotóxicos das fazendas e depositou-os nas áreas inundadas. Descobrir como
proteger a sociedade contra inundações apresenta alguns problemas complexos.

6
Alguns geólogos acreditam que a construção de diques artificiais para confinar o
Mississippi contribuiu para que a inundação atingisse níveis tão elevados.
O rio não pode mais erodir suas margens e alargar seu canal para acomodar
parte da quantidade adicional de água que flui durante os períodos de maior vazão.
Além floresceram há milhares de anos. Atualmente, a grande e larga planície de
inundação do Ganges, no norte da Índia, continua a ter um papel importante na vida
e na agricultura daquele país. Muitas cidades antigas e modernas estão localizadas
em planícies de inundação (Grotzinger e Jordan, 2013).

3 BACIA HIDROGRÁFICA

A bacia hidrográfica é uma área do terreno limitada por um divisor de águas,


elevação entre dois rios, que possui uma crista ou terreno alto onde escoa a água da
chuva para uma rede de rios que a drenam.

Fonte de: www.sobratema.org.br

A bacia hidrográfica pode ser pequena ou possuir uma grande região, drenada
por um rio principal e seus tributários. Por um terreno em declive, a água de diversas
fontes como rios, ribeirões, córregos e outros desaguam em um determinado rio,
formando, assim, uma bacia hidrográfica. Dessa forma, uma bacia hidrográfica é
formada por um rio principal, podendo ser mais de um, e um conjunto de afluentes
(cursos d’água menores) que desaguam no rio principal.
7
A bacia hidrográfica é uma unidade territorial muito importante nos estudos
ambientais, sobretudo os que envolvem questões hidrológicas. É sobre a bacia que
desenvolvemos nossas atividades e que transformamos os espaços, os quais refletem
diretamente na condição ambiental da bacia e, consequentemente, de seus rios
(SAGAH, 2018).

3.1 Conceitos relacionados às bacias hidrográficas

A seguir, você verá os principais conceitos relacionados às bacias


hidrográficas.
 Tributário ou afluente: rio menor que desagua nos rios com maiores
hidrografias.
 Sub-bacias e microbacias: as sub-bacias são áreas de drenagem dos
tributários do curso d’água principal, possuem áreas maiores que 100 km² e
menores que 700 km². A microbacia possui toda sua área com drenagem direta
ao curso principal de uma sub-bacia, várias microbacias formam uma sub-
bacia, que possuem a área inferior a 100 km².
 Curvas de nível: são linhas que representam a altitude de um terreno. As
curvas de nível constituem a forma mais utilizada para representação do relevo
nas cartas, mapas e plantas topográficas.
 Pontos cotados: são a projeção ortogonal de um ponto do terreno no plano
da carta com a indicação de sua altitude. São usados em pontos notáveis do
terreno, como topos de morros e fundos de vales.
 Divisor de água ou interflúvios: linha que representa os limites da bacia,
determinando o sentido de fluxo da rede de drenagem e a própria área de
captação da bacia hidrográfica.
 Declividade: é a inclinação da superfície do terreno em relação ao plano
horizontal.
 Vertente: qualquer superfície que possua uma inclinação superior a 2°, ângulo
suficiente para haver escoamento da água.
 Leito fluvial: é o canal de escoamento de um rio.
 Leito da vazante: região mais baixa da bacia hidrográfica, onde o rio escoa
em época de seca, ou seja, com sua menor vazão anual.

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 Leito menor: é o leito do rio propriamente dito, por ser bem encaixado e
delimitado, caracterizando-se também como a área de ocupação da água em
época de cheia.
 Leito maior: denominado também como planície de inundação, é nessa área
que ocorrem as cheias mais elevadas, denominadas enchentes.

3.2 Conceitos relacionados às características físicas da bacia

Os itens a seguir apresentam os conceitos relacionados às características


físicas de bacia hidrográfica (SAGAH, 2018).
 Área de drenagem: é a área plana e seus divisores topográficos. A área de
uma bacia é o elemento básico para o cálculo das outras características físicas.
 Forma da bacia: tem efeito sobre o comportamento hidrológico da bacia.
Igualmente importante, é o formato da bacia hidrográfica, que geralmente
apresentam duas formas básicas, com tendência a serem circulares ou
alongadas. A forma circular tem tendência de promover maior concentração da
enxurrada em um trecho menor do canal principal da bacia, promovendo
vazões maiores e adiantadas, ao passo que a forma alongada produz maior
distribuição da enxurrada ao longo do canal principal, amenizando, portanto, as
vazões e retardando as vazões máximas.
 Rede de drenagem: a rede de drenagem é um conjunto de canais de
escoamento inter-relacionados que formam a bacia hidrográfica. Esses canais
são dispostos em hierarquias, rios de primeira ordem, rios de segunda ordem
e, assim, sucessivamente. Os rios de primeira ordem correspondem às
nascentes, onde o volume de água ainda é baixo. Os rios de segunda ordem
correspondem à junção de dois rios de primeira ordem e os rios de terceira
ordem, a junção de dois rios de segunda ordem.
 Características do relevo da bacia: o relevo de uma bacia hidrográfica
influencia os fatores meteorológicos e hidrológicos, pois a velocidade do
escoamento superficial é determinada pela declividade do terreno, já a
temperatura, a precipitação e a evaporação estão relacionadas à altitude da
bacia.

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 Características geológicas: tem relação direta com a infiltração,
armazenamento da água no solo e com a suscetibilidade de erosão dos solos.
 Características agroclimáticas: são caracterizadas principalmente pelo tipo
de precipitação e pela cobertura vegetal.

3.3 Bacia hidrográfica: conceito e classificações

A análise de uma bacia hidrográfica deve partir de uma visão sistêmica, capaz
de medir a dinâmica e a interação entre os elementos, pois se trata de uma unidade
complexa, de um espaço onde tudo está conectado por seu fluxo (Grotzinger e Jordan,
2013).
De forma resumida, as bacias hidrográficas são unidades territoriais definidas
por componentes do meio físico, essencialmente o relevo e a hidrografia, o que as
diferencia das unidades administrativas, que são delimitadas por critérios políticos,
administrativos, econômicos, etc. (Figura abaixo).

Bacias hidrográficas são separadas pelo divisor de águas.


Fonte: Grotzinger e Jordan (2013, p. 510).

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Conforme Grotzinger e Jordan (2013), toda elevação entre dois rios, que meça
poucos metros ou milhares, forma um divisor de águas, uma crista ou terreno alto de
onde toda a água da chuva escoa, para um ou outro lado. Assim, uma bacia
hidrográfica é uma área do terreno limitada por divisores que vertem toda sua água
para a rede de rios que a drenam.
Complementarmente, Borsato e Martoni (2004) definem bacia hidrográfica
como uma área limitada por um divisor de águas, que a separa de outras bacias
limítrofes e serve de captação natural da água de precipitações por meio de
superfícies vertentes, que, por uma rede de drenagem, fazem convergir os
escoamentos para a seção de exutório, ou foz, seu único ponto de saída. Por sua vez,
Christofoletti (1980, p. 19) afirma que a bacia hidrográfica é entendida como “[...] uma
área drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial, funcionando como um
sistema aberto, em que ocorre a entrada e saída de energia e matéria”.
Lima e Zakia (2000) também consideram as bacias hidrográficas sistemas
abertos, que recebem energia por meio de agentes climáticos e perdem energia por
meio do deflúvio, de forma que qualquer modificação no recebimento ou na liberação
de energia pode acarretar uma mudança compensatória que tende a minimizar o
efeito da modificação e restaurar o estado de equilíbrio dinâmico. As bacias
hidrográficas são classificadas em quatro tipos, de acordo com o escoamento global,
ou seja, com base no lugar onde deságuam (CHRISTOFOLETTI, 1980).

1. Exorreicas: quando o escoamento da bacia hidrográfica se dá diretamente no


mar.
2. Endorreicas: quando o escoamento da bacia hidrográfica se dá internamente,
desaguando em lagos, por exemplo.
3. Arreicas: quando não há qualquer estrutura de bacia hidrográfica ou padrão
de drenagem, como ocorre em áreas desérticas.
4. Criptorreicas: quando as bacias hidrográficas são subterrâneas, como nas
áreas cársicas.

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É comum encontrarmos o termo sub-bacias, o qual se refere a bacias
hidrográficas dentro de bacias maiores. Um exemplo é a bacia hidrográfica do Alto
Tietê, cujas sub-bacias servem para definir unidades de planejamento, já que tratar
da bacia inteira seria bastante complexo, por seu tamanho (Figura abaixo).

Figura 2. Bacia hidrográfica do Alto Tietê e suas sub-bacias.


Fonte: Militantes... (2015, documento on-line).

Conforme Santos (2004, p. 40):

[...] a adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento é de


aceitação universal. O critério de bacia hidrográfica é comumente usado
porque constitui um sistema natural bem delimitado no espaço, composto por
um conjunto de terras topograficamente drenadas por um curso d’água e seus
afluentes, onde as interações, pelo menos físicas, são integradas e, assim,
mais facilmente interpretadas. Esta unidade territorial é entendida como uma
caixa preta, onde os fenômenos e interações podem ser interpretados, a
priori, pelo input e output. Nesse sentido, são tratadas como unidades
geográficas, onde os recursos naturais se integram. Além disso, constitui-se
numa unidade espacial de fácil reconhecimento e caracterização. Sendo
assim, é um limite nítido para ordenação territorial.

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De acordo com Botelho e Silva (2004), a partir da década de 1990, a bacia
hidrográfica passou a ter um maior significado como unidade de análise de
planejamento ambiental, sendo possível avaliar, de forma integrada, as ações
antrópicas no ambiente e as consequências disso para o equilíbrio hidrológico. Nesse
contexto, as bacias hidrográficas são células básicas da análise ambiental, nas quais
a visão sistêmica e integrada do ambiente está implícita:

O fato é que a qualidade das águas superficiais tem sido afetada em muito
pelas atividades produtivas ou por seus reflexos (poluição por esgotos,
derramamentos acidentais de produtos tóxicos em vias de transporte,
disposição inadequada de rejeitos sólidos, etc.). A bacia hidrográfica é
justamente o palco dessas ações e degradações, refletindo sistemicamente
todos os efeitos. A identificação da bacia como unificadora dos processos
ambientais e das interferências humanas tem conduzido à aplicação do
conceito de gestão de bacias hidrográficas, dando ao recorte destas um novo
significado (LIMA, 2005, p. 179).

Embora a bacia hidrográfica seja um sistema natural no qual o referencial é a


água, não é um sistema ambiental único, pois leva em conta demais componentes da
natureza, como o relevo, solo, fauna, flora, etc., e os componentes sociais, quando se
considera as atividades econômicas e político-administrativas (ROSS; PRETTE,
1998).
A própria Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecida pela Lei nº
9.433, de 8 de janeiro de 1997, reconhece, no art. 1º, a bacia hidrográfica como uma
unidade territorial, que deve ser utilizada para os trabalhos que envolvem a temática
dos recursos hídricos.

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Com isso, é fundamental saber delimitar uma bacia hidrográfica, identificando
o fluxo que a água percorre. Para delimitar uma bacia, deve-se seguir as etapas
abaixo (SPERLING, 2007):

1. Definir o ponto inicial (exutório) a partir do qual será feita a delimitação da bacia.
O exutório está situado na parte mais baixa do trecho do curso d’água principal.
2. Realizar a marcação do curso d’água principal e dos tributários (os quais
cruzam as curvas de nível, das mais altas para as mais baixas, para a definição
dos fundos de vale).
3. Iniciar a delimitação da bacia hidrográfica a partir do exutório, conectando os
pontos mais elevados, com base nas curvas de nível. O limite da bacia circunda
o curso d’água e as nascentes de seus tributários.
4. Verificar, nos topos dos morros, se a chuva que cai do lado de dentro do limite
realmente escoará sobre o terreno rumo às partes baixas, cruzando
perpendicularmente as curvas de nível em direção ao curso da água em estudo.
Se a inclinação do terreno estiver voltada para a direção oposta das drenagens,
é porque pertence a outra bacia. Dentro da bacia, poderá haver locais com
cotas mais altas do que as cotas dos pontos que definem o divisor de águas da
bacia.
5. Diferenciar os talvegues dos divisores de águas (Figura abaixo). Os talvegues
são depressões (vales), representadas graficamente, onde as curvas de nível
apresentam a curvatura contrária ao sentido da inclinação do terreno, indicando
que, nesses locais, ocorre concentração de escoamento. Os divisores de água
são representados pelo inverso de um talvegue, no qual as curvas de nível
apresentam curvatura voltada para o sentido da inclinação do terreno, sobre a
qual as águas escoam no sentido ortogonal às curvas em direção aos
talvegues.

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Delimitação de uma bacia hidrográfica.
Fonte: Adaptado de Sperling (2007).

Para a geografia, é fundamental analisar a bacia hidrográfica de forma


sistêmica, a partir de uma concepção geográfica, que possibilite entender não só o
sistema hidrológico, mas como as formas de apropriação dos espaços influencia
diretamente a qualidade ambiental da bacia.

3.4 Características das redes fluviais

As redes fluviais podem ser classificadas de diferentes formas, de acordo com


o padrão de drenagem, o comportamento das drenagens em relação ao substrato e a
forma dos canais.
Os padrões de drenagem são bastante característicos, tendo relação direta
com o tipo de rocha e com a estrutura geológica do substrato em que se insere. Podem
ser caracterizados por imagens de satélite, fotografia aéreas ou cartas topográficas.
De acordo com Riccomini et al. (2009), os padrões de drenagem podem ser os
seguintes (Figura 4).

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 Dendrítico: é o mais comum, assemelhando-se à distribuição dos galhos de
uma árvore. Ocorre quando a rocha do substrato é homogênea, formada
apenas por granito, por exemplo, ou no caso de rochas sedimentares com
estratos horizontais.
 Paralelo: encontrado em regiões com fortes declividades, onde as estruturas
do substrato orientam-se segundo a inclinação do terreno.
 Radial: a drenagem se distribui em todas as direções com origem em um ponto
central, como os de um cone vulcânico.
 Treliça: quando a drenagem tem um arranjo retangular, mas os afluentes são
paralelos entre si. Ocorre em regiões com substrato rochoso com alternância
de rochas mais ou menos resistentes em faixas paralelas, com planos de
fraqueza ortogonais (Riccomini et al. 2009).

Padrões de drenagem
Fonte: Riccomini et al. (2009, p. 310).

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As rochas também têm papel fundamental na determinação do sentido do fluxo
das águas dos rios, como os instalados em terrenos de rochas sedimentares
(RICCOMINI et al., 2009).
 Rios consequentes: seu fluxo segue a declividade do terreno. Por exemplo:
rio Tietê no trecho sobre terrenos sedimentares da bacia do Paraná.
 Rios subsequentes: seu fluxo é controlado por descontinuidades do substrato,
como falhas, juntas e presença de rochas menos resistentes. Por exemplo: rio
Passa Cinco na região de Itirapina e Ipeúna (estado de São Paulo).
 Rios obsequentes: seu fluxo é no sentido oposto da inclinação das camadas.
Na maioria dos casos, são de pequena extensão. Por exemplo: drenagens que
descem as serras de Botucatu, São Pedro e São Carlos, no interior paulista.
 Rios insequentes: não apresentam controle geológico reconhecível, sendo
relacionados à presença de rochas homogêneas ou de camadas sedimentares
horizontais. Por exemplo: rios meandrantes, como o baixo curso do Ribeira de
Iguape, no estado de São Paulo.

Há, também, os padrões dos canais de drenagem, classificados de acordo com


seus parâmetros morfométricos, como sinuosidade, grau de entrelaçamento e relação
entre largura e profundidade (RICCOMINI et al., 2009). Podem ser retilíneos,
meandrante, anastomosado ou entrelaçado (Figura 5).

Tipos de canais fluviais.


Fonte: Adaptada de Riccomini et al. (2009).

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A vegetação também é um elemento que tem forte influência na forma que terá
o canal de drenagem. Rios com vegetação em suas margens costumam ter padrões
meandrantes e anastomosados, uma vez que as raízes fixam o solo e diminuem a
ação dos processos erosivos. Já nas margens sem vegetação, há predomínio de rios
entrelaçados (RICCOMINI et al., 2009).

3.5 Aspectos morfométricos das bacias hidrográficas

A forma da bacia hidrográfica tem um papel importante em seu comportamento


hidrológico. Algumas metodologias, listadas abaixo, são destacadas por Christofoletti
(1980) para a determinação da forma de uma bacia hidrográfica.
 Índice de circularidade: estabelece uma relação entre a área da bacia
hidrográfica e a área do círculo de mesmo perímetro empregando a fórmula Ic
= A/Ac, onde Ic é o índice de circularidade, A é a área da bacia considerada e
Ac é a área do círculo de perímetro igual ao da bacia hidrográfica considerada.
O valor máximo do índice a ser obtido é igual a 1,0; quanto maior for o valor,
mais circularidade terá a bacia hidrográfica.
 Índice de forma: após a delimitação da bacia hidrográfica, traça-se uma figura
geométrica, como um círculo, um retângulo, um quadrado ou um triângulo, que
cubra, da melhor maneira possível, a bacia hidrográfica (Figura abaixo). Em
seguida, relaciona-se a área englobada simultaneamente pelas duas com a
área total, que pode pertencer à bacia ou à figura geométrica, aplicando-se o
índice de forma If = 1 – (área K ∪ L)/(área K ∩ L), onde If é o índice de forma,
K é a área da bacia e L é a área da figura geométrica. Quanto menor for o
índice, mais próxima a figura geométrica estará da forma da bacia hidrográfica.

18
Mensuração da forma de bacias hidrográficas.
Fonte: Christofoletti (1980, p. 114).

Estudos realizados por Villella e Mattos (1975), a partir da comparação de


bacias hidrográficas semelhantes, demonstraram que as bacias com forma mais
circular apresentam uma tendência de gerar picos de enchentes mais elevados em
relação às bacias mais arredondadas.
Se as bacias circulares apresentarem drenagens com comprimentos
semelhantes, o percurso dos escoamentos é mais curto, gerando respostas mais
rápidas e concentradas a eventos de chuva. As bacias mais alongadas apresentam
um rio principal, com diversos tributários menores, onde as águas percorrem um
caminho mais longo até o exutório, tendendo a apresentar cheias mais distribuídas
com menor vazão de pico (VILLELLA; MATTOS, 1975).
A densidade de drenagem é outro fator dos aspectos morfométricos da bacia
hidrográfica. Segundo Christofoletti (1980, p. 115), “[...] correlaciona-se o comprimento
total dos canais de escoamento com a área da bacia hidrográfica”. Ela pode ser
calculada pela fórmula Dd = Lt/A, onde Dd é a densidade de drenagem, Lt é o
comprimento total dos canais e A é a área da bacia hidrográfica.
É importante destacar que o cálculo da densidade de drenagem apresenta
relação inversa com o comprimento dos rios; quando se aumenta o valor numérico da
densidade, há diminuição proporcional do tamanho dos componentes fluviais da bacia
hidrográfica:

19
Em um mesmo ambiente climático, o comportamento hidrológico das rochas
repercute na densidade de drenagem. Nas rochas onde a infiltração encontra
maior dificuldade há condições melhores para o escoamento superficial,
gerando possibilidades para a esculturação de canais, como entre as rochas
clásticas de granulação fina e, como consequência, densidade de drenagem
mais elevada. O contrário ocorre com as rochas de granulometria grossa
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 116).

Com isso, quanto maior for a densidade de drenagem, maior será a capacidade
da bacia hidrográfica de fazer escoamentos rápidos no exutório, bem como deflúvios
de estiagem baixos (TUCCI, 2004). Outra variável morfométrica importante é a
densidade de segmentos da bacia hidrográfica, ou seja, o número de canais fluviais
em relação a sua área de contribuição. De acordo com Christofoletti (1980), deve-se
aplicar o sistema de ordenação dos canais criado por Strahler e somar a quantidade
de segmentos de todas as ordens da bacia hidrográfica, aplicando a fórmula Fx =
Ʃni/A, onde ni representa o número de segmentos de determinada ordem e A é a área
da bacia hidrográfica.
A densidade de segmentos e a densidade de drenagem podem variar de
acordo com as características específicas da textura topográfica, cuja formação
envolve a geologia, o clima, a topografia e o uso e a ocupação do solo da área. Com
isso, é possível encontrar bacias com a mesma densidade de drenagem, mas com
frequências diferentes de segmentos, e bacias com igual densidade de segmentos,
mas com densidade de drenagem diferente (CHRISTOFOLETTI, 1980).
A bacia hidrográfica também apresenta forte relação com o relevo,
considerando o relacionamento entre a amplitude altimétrica máxima da bacia
(variação das altitudes mínima e máxima) e a maior extensão da referida bacia,
medida paralelamente à principal linha de drenagem (CHRISTOFOLETTI, 1980). A
fórmula que expressa a relação do relevo é Rr = Hm/Lh, onde Hm é a amplitude
altimétrica máxima e Lh é o comprimento da bacia hidrográfica.
O índice de rugosidade também expressa aspectos de análises a partir do
relevo, mais especificamente com as variáveis topográficas, como a declividade, o
comprimento das vertentes e a densidade de drenagem, expressando como um
número adimensional, que resulta do produto entre a amplitude altimétrica (H) e a
densidade de drenagem (Dd), com base na equação Ir = H × Dd.
Com isso, se a densidade de drenagem aumenta e o valor da amplitude
altimétrica permanece constante, a distância horizontal média entre a divisória e os
canais adjacentes será reduzida, acompanhada de aumento na declividade da
20
vertente. E se o valor da amplitude altimétrica aumenta enquanto a densidade de
drenagem permanece constante, também aumentarão as diferenças altimétricas entre
o interflúvio e os canais e a declividade das vertentes.
É fundamental também conhecer o coeficiente de manutenção, um índice que
tem a finalidade de fornecer a área mínima necessária para a manutenção de um
metro de canal de escoamento, sendo um dos valores numéricos mais importantes
para a caracterização do sistema de drenagem. Pode ser calculado com a fórmula Cm
= 1/Dd × 1.000, onde Cm é o coeficiente de manutenção e Dd é o valor da densidade
de drenagem (expresso em metros). Por exemplo, o km² da bacia hidrográfica
representaria a área dessa unidade dividida pela densidade da drenagem
(CHRISTOFOLETTI, 1980).
Os aspectos morfométricos de uma bacia hidrográfica influenciam seu
comportamento hidrológico e os fenômenos, que podem ocorrer com maior ou menor
intensidade, como inundações, enxurradas e processos erosivos, por exemplo.

3.6 A Geografia das principais bacias hidrográficas do Brasil

Todas as regiões hidrográficas do País são importantes, pois cada uma delas
é composta por um conjunto de bacias e de sub-bacias hidrográficas que banham
aquela região e que são responsáveis pelo abastecimento de água de cidades, de
comunidades e de localidades rurais.
São fundamentais, ainda, para o desenvolvimento de diversas atividades
econômicas, como a geração de energia, a pesca, o turismo e a agricultura, e para a
manutenção da vida de espécies vegetais e de animais das localidades drenadas por
suas águas.

21
Divisão das bacias hidrográficas.
Fonte: (ANA, 2007a)

Entre as 12 regiões hidrográficas, destacam-se quatro, que, juntas, cobrem


mais de 80% do território brasileiro. São elas:
1. Amazônica;
2. Tocantins-Araguaia;
3. Platina (conjunto das bacias do Paraná, do Paraguai e do Uruguai);
4. São Francisco.

A Bacia Amazônica é considerada a maior bacia hidrográfica do mundo, com


rica biodiversidade (flora e fauna) e enorme potencial energético por sua grande
disponibilidade hídrica, despertando interesse de cientistas, de ONGs (organizações
não governamentais), de empresas e de governos ao redor do mundo. De acordo com
Yahn Filho (2005), a Bacia Amazônica é uma bacia de drenagem internacional, pois
seus afluentes começam no território de outros países da América do Sul: Bolívia,
Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

22
De acordo com a ANA (2017), a região hidrográfica amazônica ocupa 45% do
território nacional em sete estados (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará
Amapá e Mato Grosso). Ainda conforme a ANA (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E
SANEAMENTO BÁSICO, 2017, documento on-line), a região hidrográfica em questão:

Possui uma extensa rede de rios com grande abundância de água, sendo os
mais conhecidos: Amazonas, Xingu, Solimões, Madeira e Negro. A densidade
populacional é 10 vezes menor que a média nacional, entretanto, a região
concentra 81% da disponibilidade de águas superficiais do país. Cerca de
85% da área da RH Amazônica permanece com cobertura vegetal nativa.

Na região hidrográfica amazônica, está localizada a maior floresta tropical do


mundo, com uma grande biodiversidade e papel-chave nos contextos socioambiental
e econômico. De acordo com a ANA (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E
SANEAMENTO BÁSICO, 2017), a população dessa região hidrográfica era de 9,7
milhões de habitantes, com uma população urbana de 73%. A densidade populacional
da área é muito baixa, de 2,51 ha/km². A intensificação da ocupação dessa RH ocorreu
a partir da década de 1970, principalmente pelas atividades madeireira, de criação de
gado e de plantio de pastagens (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO
BÁSICO, 2017).
Com relação aos aspectos econômicos, a região ocupa grande parte do
território brasileiro, mas, com relação, ao produto interno bruto, representa 5%,
aproximadamente. Os setores econômicos que se destacam nessa área são a
indústria de transformação, a agroindústria, a pecuária, a exploração madeireira, a
exploração mineral, a extração de gás e o petróleo (MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE, 2006a).
A cobertura vegetal da área é composta por formações florestais e por
formações campestres, variando de uma cobertura baixa até floresta tropical úmida,
ocupando, aproximadamente, 70% da bacia hidrográfica Continental. A região sofre
com o descaso ambiental e com o desmatamento, que tem se intensificado nos
últimos anos, causando impactos ambientais na bacia hidrográfica amazônica e no
País como um todo, no sentido econômico e de sustentabilidade ambiental
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006a).

23
Outra região hidrográfica de fundamental importância para o Brasil é a região
hidrográfica do Tocantins-Araguaia, a maior bacia hidrográfica totalmente brasileira.
De acordo com o MMA (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006b), ocupa,
aproximadamente, 11% do território brasileiro, abrangendo os estados de Goiás,
Tocantins, Maranhão, Pará, Distrito Federal e Mato Grosso. Essa região hidrográfica
drena parte de dois biomas importantes no País: o Cerrado e a Amazônia.
Segundo o MMA (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006b), grande parte da
região hidrográfica Tocantins-Araguaia possui um ecossistema bastante frágil, tendo
o cerrado como bioma de sua maior área de abrangência.
É importante ressaltar que esse bioma é fundamental para o armazenamento
e a qualidade dos recursos hídricos subterrâneos nessa região. De acordo com o
estudo realizado pelo MMA:

Na Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia, intensificou-se a


contaminação dos recursos hídricos, sobretudo no Estado de Goiás. A partir
da década de 1980, com o aumento das populações urbanas, expansão das
fronteiras agrícolas e a proliferação das atividades garimpeiras, a
contaminação desses recursos passou a representar um importante fator de
risco potencial para o equilíbrio ambiental (MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE, 2006b, documento on-line).

Essa importante região hidrográfica, de acordo com o IBGE (MARTINS, 2013),


possui uma população de, aproximadamente, 8,6 milhões de habitantes, com 76% da
população vivendo nos centros urbanos e 24% vivendo nas zonas rurais. Sua
densidade demográfica é de 9,3 hab./km² e as atividades econômicas nela
desenvolvidas são a agricultura (principalmente o plantio de soja), a pecuária e a
mineração.
A pesca, a aquicultura e o turismo também se destacam como atividades
socioeconômicas na região. Destaca-se, ainda, seu potencial hidrelétrico e de
navegação. Com relação aos usos do solo, a região tem sofrido com o desmatamento
em função da expansão das atividades agrícolas, impactando os biomas Cerrado e
Amazônia.

24
Imagem do Cerrado
Fonte de: www.ecoa.org.br

O conjunto das regiões hidrográficas Paraná, Paraguai e Uruguai forma a Bacia


Platina, considera a segunda maior do País. Também é uma bacia de drenagem
internacional, pois abrange os territórios de outros quatro países da América do Sul
além do Brasil: Uruguai, Paraguai, Bolívia e Argentina. A Bacia Platina ocupa partes
da região Sudeste e Sul do País, sendo bem povoada. Suas águas são utilizadas nas
mais variadas atividades, como na produção industrial, na produção agropastoril e no
abastecimento de água, além de possuir hidrelétricas importantes e um ótimo
potencial de geração de energia.
A população total dessas três regiões hidrográficas é de, aproximadamente, 70
milhões de habitantes, de acordo com o IBGE (MARTINS, 2013). O conjunto das
regiões hidrográficas citadas abrange parte das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste
do País, sendo a região hidrográfica do Paraná a mais populosa e a de maior
desenvolvimento econômico do País. Segundo a ANA (AGÊNCIA NACIONAL DE
ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO, [2019]), a área possui a maior demanda por
recursos hídricos, pois é utilizada nos mais variados tipos de uso do solo e atividades
socioeconômicas, com destaque para o uso industrial. As regiões hidrográficas em
questão chamam a atenção no que diz respeito ao gerenciamento dos recursos

25
hídricos: abastecimento urbano, conflitos pelo uso da água, qualidade da água e
vulnerabilidade a inundações.
Além das bacias hidrográficas destacadas, é imprescindível mencionar a
importância, tanto nacional quanto regional, da Bacia do São Francisco, que drena
parte das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Por abranger parte das
três regiões administrativas, a região hidrográfica do São Francisco é caracterizada
por fortes contrastes socioeconômicos, contemplando tantas áreas de alta densidade
demográfica e riqueza quanto áreas de pobreza extrema e baixa densidade
demográfica.

Bacia Hidrográfica do Rio Francisco


Fonte de: www.pensamentoverde.com.br

A região hidrográfica do São Francisco possui uma população de 14,3 milhões


de habitantes, com uma densidade demográfica de 22,4 hab./km² (MARTINS, 2013).
As águas dessa região são utilizadas para o abastecimento e o desenvolvimento de
atividades agrícolas. A região também desenvolve atividades voltadas para o turismo.
De acordo com a ANA (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO,
[2019]), os principais temas para a gestão das águas na região hidrográfica do São
Francisco estão relacionados aos eventos críticos de seca, já que parte dela se

26
encontra no semiárido, além de ao abastecimento urbano, à qualidade da água, à
irrigação e aos potenciais hidrelétrico e de navegação.
Conforme já mencionado, cada região hidrográfica possui geografias física e
humana únicas, com aspectos socioeconômicos e socioambientais diferentes, que
caracterizam suas dinâmicas socioespaciais. Apesar de existirem estudos que tratem
dessas regiões, dentro de cada grande área de uma região hidrográfica existem
diversas sub-bacias, micro bacias hidrográficas que carecem de estudos e de análises
para servir de subsídio ao planejamento e ao ordenamento territorial dessas áreas.

3.7 Impactos ambientais nas bacias hidrográficas brasileiras: causas e


consequências

Para conhecer as questões ambientais e os impactos no contexto regional ou


local, a bacia hidrográfica, pelo estudo de características físicas e antrópicas, é uma
importante unidade de análise espacial, pois fornece uma visão holística do meio,
possibilitando o planejamento de ações para o ordenamento territorial e a mitigação
de impactos ambientais. Os estudos integrados podem ser realizados a partir da
interdisciplinaridade e da multidisciplinaridade, agregando o conhecimento de
diversas áreas para a compreensão do meio como um todo. Conforme Nascimento e
Sampaio (2004), o Projeto Radam foi um marco para o começo dos estudos
integrados no País.

27
No Brasil, bacias hidrográficas com altos graus de poluição e de impactos
ambientais como as bacias dos Rios Tietê, Sinos, São Francisco e Rio Doce carecem
de análises e de estudos que visem mitigar os impactos ambientais nessas áreas.
Botelho e Silva (2004) mostram exemplos de bacias hidrográficas onde estudos
integrados poderiam contribuir para a avaliação dos impactos ambientais, como as
bacias dos Rios Piracicaba e Paraíba do Sul, em São Paulo. Segundo Botelho e Silva
(2004, p. 153):

Ao distinguirmos o estado dos elementos que compõem o sistema hidrológico


(solo, água, ar, vegetação, etc.) e os processos a eles relacionados
(infiltração, escoamento, erosão, assoreamento, inundação, contaminação,
etc.), somos capazes de avaliar o equilíbrio do sistema ou ainda a qualidade
ambiental nele existente.

Os impactos ambientais que ocorrem nas bacias hidrográficas brasileiras são


dos mais variados tipos.
Entre os impactos gerados nas áreas urbanas, estão os decorrentes de
resíduos sólidos e de efluentes que contaminam os recursos hídricos, originados tanto
por residências quanto por empreendimentos industriais. Destaca-se, nesse sentido,
a ocupação de áreas de risco, o que ocasiona não apenas problemas ambientais, mas
também problemas sociais, com inundações e enchentes.
Por sua vez, os problemas ambientais em bacias hidrográficas que ocorrem
mais em áreas rurais são o desmatamento, o assoreamento, a poluição de cursos
d’água com agrotóxicos, além do lixo e da agricultura em áreas de muita declividade
e as atividades de mineração, em algumas regiões. Veja, na Figura abaixo, a poluição
em um rio no Amazonas.

28
Poluição no Rio Mindu, em Manaus (AM). Com a chuva, a quantidade de lixo fica mais evidente.
Fonte: Pereira (2018, documento on-line).

Para Guerra e Cunha (1993), bacia hidrográfica é uma unidade que integra os
setores naturais e sociais, de forma que as mudanças que acontecem em qualquer
um desses setores são capazes de gerar alterações e impactos a jusante, bem como
nos fluxos de energia de saída de uma bacia hidrográfica. Segundo os autores, as
mudanças que ocorrem no interior de uma bacia podem, sim, ser resultado das
dinâmicas naturais, mas as atividades antrópicas aceleram os processos e acabam
por gerar desequilíbrios nesses ambientes.
No Brasil, temos muitos exemplos de impactos ambientais associados a bacias
hidrográficas, mas chamam a atenção aqueles que envolvem perdas humanas e
devastação ambiental, que são os casos de Mariana (MG) e Brumadinho (MG), dois
municípios com atividades de mineração instaladas a montante de bacias
hidrográficas.
Em novembro de 2015, o município de Mariana foi palco de uma das maiores
tragédias ambientais já ocorridas em solo brasileiro: a barragem de rejeitos de
mineração com o nome de Fundão, controlada por três grandes empresas do ramo
(Samarco Mineração S.A., Vale S.A. e BHP Billiton), rompeu-se e despejou um volume
de aproximadamente 62 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério nas águas
do Rio Doce, rio de extrema importância para a região sudeste do País, pois serve

29
para o abastecimento de água, para a pesca, para o sustento de comunidades
ribeirinhas, para o turismo, etc. O desastre deixou um rastro de destruição jamais visto,
impactando ecossistemas inteiros, flora, fauna e comunidades ribeirinhas.
Três anos depois, novamente o estado de Minas Gerais foi protagonista nos
noticiários, com o rompimento de outra barragem de rejeitos de mineração, a
barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, despejando um volume de
cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos, que contaminaram do Rio
Paraopeba (Figura abaixo) até o Rio São Francisco. Esse rompimento impactou
importantes ecossistemas, tendo um grande impacto social com a morte de mais de
250 pessoas e causando enorme devastação ambiental e de comunidades ribeirinhas.

Poluição no Rio Paraopeba em Minas Gerais, após o rompimento da barragem da mina Córrego do
Feijão.
Fonte: Christyam de Lima/Shutterstock.com.

Em cada região do País, existem bacias hidrográficas e recursos hídricos


extremamente poluídos, muitos sem um plano de gerenciamento. De acordo com o
levantamento Indicadores do Desenvolvimento Sustentável, a partir de uma análise
de Índices de Qualidade de Água (MARTINS, 2013), o Quadro abaixo mostra o ranking
dos dez rios mais poluídos do Brasil.

30
3.7.1 Dez rios mais poluídos do Brasil

Fonte: Adaptado de Martins (2013).

31
Diversos são os exemplos de bacias hidrográficas com os mais diferentes tipos
de poluição e impactos ambientais. Com relação à região hidrográfica do Tocantins-
Araguaia, chama a atenção a contaminação dos recursos hídricos subterrâneos,
consequência dos impactos ambientais que ocorrem no bioma Cerrado. De acordo
com o MMA (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006, documento on-line):

Dentre os mais importantes focos de contaminação dos recursos hídricos


subterrâneos pode-se destaca a disposição inadequada nos chamados
“lixões” urbanos, na periferia dos centros urbanos; o lançamento de efluentes
industriais sem qualquer controle, embora as atividades fabris sejam
incipientes na região; a expansão da atividade agrícola com o uso intensivo
de insumos e a adoção de práticas de manejo inadequadas; e a atividade
extrativista da mineração sem controle, que representou historicamente um
importante fator de poluição das águas subterrâneas, sendo gradualmente
substituída pela atividade extrativista organizada com a adoção de medidas
mitigadoras, que contribuem atualmente para reduzir os impactos.

3.8 Os comitês de bacias hidrográfica e a gestão dos recursos hídricos no


Brasil
No Brasil, a ANA é responsável pela regulação da Política Nacional de
Recursos Hídricos (PNRH), cumprindo os objetivos e as diretrizes da Lei das Águas
do Brasil (Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997). Dessa maneira, a ANA trabalha com
a regulação, o monitoramento, a aplicação de leis e o planejamento dos recursos
hídricos no País.

A ANA dispõe de um conjunto de iniciativas que contemplam os aspectos


envolvidos na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos,
traduzidos especialmente nas questões de planejamento, regulação,
articulação institucional e capacitação, sistema de informações e garantia de
uso múltiplo (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, [201-]).

32
Com relação à regulação, a ANA é responsável por emitir outorgas
regulamentando o uso de recursos hídricos em rios e corpos d’água pertencentes à
União. Também fiscaliza os usos dos recursos hídricos, fazendo valer o cumprimento
da legislação sobre os usos desses recursos. O serviço de monitoramento oferecido
pela ANA permite o acesso a boletins e a informações importantes para a tomada de
decisão das autoridades responsáveis pela prevenção dos desastres ambientais
causados por inundações e secas no território brasileiro. Sobre os usos das águas no
Brasil, a ANA (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, [2019], documento on-line) afirma
que:

A retirada total de água estimada em 2018 foi de 2.048 m³/s. O principal uso
de água no país, em termos de quantidade utilizada, é a irrigação (49,8%),
seguida pelo abastecimento humano (24,4%) e pela indústria (9,6%). Juntos,
representaram cerca de 85% da retirada total. Outras utilizações
consideradas foram o atendimento aos animais (8,0%), as termelétricas
(3,8%), o suprimento rural (1,7%) e a mineração (1,6%). A demanda por uso
de água no Brasil é crescente, com aumento estimado de aproximadamente
80% no total retirado nas últimas duas décadas. A previsão é de que até 2030
a retirada aumente em 24%. O histórico da evolução dos usos da água está
diretamente relacionado ao desenvolvimento econômico e ao processo de
urbanização do País.

Fonte de: www.aen.pr.gov.br

33
A Constituição de 1988 estabeleceu os fundamentos básicos para a PNRH,
voltada à promoção democrática da sustentabilidade ambiental. Uma das
prerrogativas da governança deve estar centrada na concretização dos direitos
humanos e no acesso à água com equidade. Uma das marcas da PNRH é a
contribuição para políticas públicas com lastro no desenvolvimento sustentável,
estabelecendo que a água é um bem de domínio público, ou seja, é um recurso natural
que deve contemplar toda a coletividade. Conforme o art. 1º da PNRH (BRASIL, 1997,
documento on-line):

Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes


fundamentos:
I — a água é um bem de domínio público;
II — a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III — em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentação de animais;
IV — a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas;
V — a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI — a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com
a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Portanto, a promoção da justiça, quanto à demanda e ao acesso à água, está


alicerçada no avanço do conceito de desenvolvimento sustentável, que consiste no
desenvolvimento socioeconômico capaz de suprir as necessidades da geração atual
sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações.
Um caminho para consolidar essa proposta cidadã é a gestão colaborativa, que
preconiza a gestão dos recursos hídricos propostos na legislação (O QUE..., [201-]).
A PNRH determina que a água é um bem de toda a população e, por isso, seu
uso deve acontecer mediante aprovação do poder público, seja estadual ou nacional.
A autorização do governo é denominada de Outorga de Recursos Hídricos, cujo
objetivo é controlar, qualitativa e quantitativamente, o uso das águas e fiscalizar o
efetivo exercício dos direitos de acesso pelas organizações. Os usos dos recursos
hídricos que estão sujeitos à Outorga são (O QUE..., 2020, documento on-line):
 Derivação ou captação de parcela de água existente em um corpo hídrico, para
consumo final, incluindo abastecimento público ou insumo de processo
produtivo;
 Extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de
processo produtivo;
34
 Lançamento em corpo hídrico de esgotos e demais resíduos líquidos ou
gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição
final;
 Uso para fins de aproveitamento de potenciais hidrelétricos;
 Outros usos e/ou interferências, que alterem o regime, a quantidade ou a
qualidade da água existente em um corpo d'água.

O que se observa, porém, é que as ações estatais nem sempre vão ao encontro
dos interesses da PNRH.
A complexidade do papel do Estado revela o entrave no gerenciamento dos
recursos naturais e, no caso específico dos recursos hídricos, a pressão exercida
pelos interesses das corporações que cooptam o Estado para atender a seus
interesses privados, seguindo as lógicas neoliberais. A execução de ações
governamentais voltadas aos interesses de alguns grupos econômicos, sobretudo em
países subdesenvolvidos, reforça a necessidade de uma governança global da água
de maneira ajustada.

Os comitês de bacias hidrográficas podem ser interestaduais, quando as bacias


envolvem mais de um estado, ou estaduais, quando sua área de abrangência se
restringe ao estado em que está inserida. Os comitês de bacias hidrográficas, de
acordo com a ANA (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, [201-?], documento on-line),
“[...] possuem poder de decisão e cumprem papel fundamental na elaboração das
políticas para gestão das águas nas bacias, sobretudo em regiões sujeitas a eventos
críticos de escassez hídrica, inundações ou na qualidade da água”.

35
Esses grupos de gestão, que são responsáveis por discussões e deliberações
acerca dos recursos hídricos em bacias hidrográficas, avaliam os interesses e os
conflitos de usos dos recursos hídricos e atuam na elaboração de políticas para gestão
das bacias hidrográficas. Os comitês de bacias hidrográficas são formados por
representantes do poder público (federal, estadual ou municipal), de usuários da água
e da sociedade civil (MEGIATO, 2020).
Veja, no Quadro abaixo, os comitês de bacias hidrográficas do estado de São
Paulo e dados levantados por cada comitê, como número de municípios, área,
população, etc.

Dados dos comitês de bacias hidrográficas de São Paulo

Fonte: Malheiros, Prota e Perez Rincon (2013, documento on-line).

36
O Brasil possui uma boa PNRH, atuando em diversas questões a respeito do
uso, da gestão e do gerenciamento dos recursos hídricos no País. Efetivamente,
porém, faltam políticas de fiscalização e de preservação dos mananciais hídricos para
que eles sejam utilizados de forma sustentável, a fim de garantir água potável e
recursos naturais no futuro. Estudos que façam análises e mapeamentos das bacias
hidrográficas a partir de uma lógica sistêmica devem ser realizados e publicados a fim
de chamar a atenção para as causas ambientais que envolvem essas áreas, visando
contribuir para a elaboração de políticas públicas de preservação dos recursos
hídricos e a mitigação dos impactos ambientais (MEGIATO, 2020).
Por sua vez, os Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs) têm, como objetivo,
promover fóruns para que os interesses comuns quanto ao uso da água sejam
pautados. Trata-se de um espaço em que representantes da comunidade de uma
bacia hidrográfica discutem e deliberam a respeito da gestão dos recursos hídricos,
compartilhando responsabilidades de gestão com o poder público.

Fonte de: www.eosconsultores.com.br

Integram os CBHs, portanto, o poder público (das esferas municipal e


estadual), a sociedade civil (organizações não governamentais, universidades,
associações) e os usuários de água (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, [2019]). Vê-

37
se, portanto, que a busca pelo desenvolvimento sustentável é um desafio quando se
trata do gerenciamento dos recursos hídricos.
Atender aos interesses dos segmentos que necessitam de água como recurso
para a produção agropecuária, industrial e comercial ao mesmo tempo que se
promove o acesso à água de qualidade para 100% da população é o desafio a ser
superado em meio a tantos (e divergentes) interesses econômicos e sociais.

3.9 A importância das bacias e sua influência no cotidiano

A bacia hidrográfica é essencial para os seres humanos, pois nela ocorre toda
a dinâmica da água que utilizamos. Entre os usos das bacias estão (MEGIATO, 2020):
 Consumo humano: é dos rios que a água para consumo é captada. Os usos
da água são o uso doméstico, o gasto público, através de edifícios públicos,
fontes ornamentais e proteção contra incêndios, o consumo comercial e o
industrial.
 Criação de animais: a água é utilizada para cultivar as plantas que alimentam
o gado e também na hora do abate e produção da carne.
 Uso agrícola e agroindustrial: na agricultura a água é utilizada para irrigar a
plantação e o futuro processamento dos produtos.
 Uso energético: a água é utilizada para produção de energia por meio de
hidrelétricas.
 Industrial ou mineração: o uso da água nas indústrias é feito desde a
incorporação do recurso nos produtos até a lavagem de materiais,
equipamentos e instalações, além da utilização em sistemas de refrigeração e
geração de vapor.

A água resultante dos processos industriais, chamada de efluente, pode


provocar a perda de qualidade e descaracterização de um curso d’água e/ou lençol
freático, morte dos organismos aquáticos, impossibilidade de uso da água para uso
humano, industrial e turístico, desequilíbrio entre espécies animais, podendo ocorrer
extinção das espécies endêmicas, e proliferação de doenças.

38
4 OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

4.1 Distribuição da água no planeta

A água tem uma série de significados para a sociedade. Representa vida para
muitos, visto que na composição do ser humano integra aproximadamente dois terços
do corpo humano e atinge até 98% para certos animais aquáticos, legumes, frutas e
verduras, sendo considerado o constituinte inorgânico mais abundante na matéria viva
(LIBÂNIO, 2010).
Além disso, a água é um solvente universal e essencial para a manutenção da
vida no planeta, modificando-as e modificando-se em função destas. Um solvente é a
denominação dada a uma substância que pode dissolver outros compostos,
chamados de solutos. Ressalta-se a importância da água como solvente universal,
visto que a maioria das reações químicas ocorrem em soluções ou meios aquosos,
ou seja, é essencial para que essas reações ocorram. A água também pode ser
considerada um bem mineral, proveniente de fontes naturais ou de fontes
artificialmente captadas. Essas águas têm componentes químicos, como sais e gases,
dissolvidos nela.
Por fim, a água cobre 75% da superfície do nosso planeta e sua distribuição
nos continentes ocorre, conforme Libânio (2010), da seguinte forma:
a) Américas = 46%;
b) Ásia = 32%;
c) África = 9%;
d) Europa = 7%, e;
e) Austrália e Oceania = 28%.

39
Fonte de: www.sitedecuriosidades.com

Conforme o mesmo autor, a maior parcela de água doce encontra-se congelada


nas calotas polares, sendo inviável o seu uso para fins de abastecimento.
No Brasil, conforme a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
(INSTITUTO..., 2008), 78,6% dos domicílios são abastecidos de água por rede geral.
Segundo a mesma fonte, nas grandes regiões, o abastecimento varia, sendo: 45,3%
na região Norte; 68,3% na região Nordeste; 87,5% na região Sudeste; 84,2% na
Região Sul; e 82% na região Centro-Oeste.
Conforme a Agência Nacional de Águas (ANA) (2017), a disponibilidade hídrica
varia também nas regiões hidrográficas. Essa variação é apresentada na Tabela a
seguir. Observação: área aflorante refere-se à porção que intercepta a superfície

40
terrestre e tem potencial para receber recarga direta de água por intermédio da
infiltração (AGÊNCIA..., 2017).

Os recursos hídricos podem se encontrar na forma de águas superficiais, que


são aquelas que se acumulam nas superfícies, dando origem aos rios, lagos,
córregos, pântanos, entre outros.

41
Os recursos hídricos podem estar apresentados, ainda, na forma de águas
subterrâneas. Conforme ANA (AGÊNCIA..., 2017), as águas subterrâneas
desempenham um papel importante no abastecimento de água para diversos usos,
em especial nos períodos de estiagem, sendo uma alternativa para a escassez hídrica.

4.2 Classes de água

Como vimos, a água pode ser classificada conforme a salinidade, sendo este
conceituado como a medida da quantidade de sais dissolvidos nas águas. De acordo
com Braga et al. (2005), a salinidade é o conjunto de sais dissolvidos na água, formado
por bicarbonatos, cloretos, sulfatos e, em menor quantidade, outros sais, que pode
conferir sabor salino e características incrustantes.

Fonte de: www.ofitexto.com.br

Esse índice é uma relação entre a quantidade de sal e uma medida de água
que pode ser expressa na forma de porcentagem (%), g/kg ou até mesmo por ppm
(partes por milhão), ppb (partes por bilhão) e ppt (partes por trilhão).

42
A Resolução Conama nº 357 (CONAMA, 2005) apresenta a classificação das
águas da seguinte forma:
 Águas doces: apresentam salinidade igual ou inferior a 0,5%. Exemplos de
água doce são as contidas nos rios, nos lagos e na maioria dos lençóis
subterrâneos.
 Águas salobras: apresentam salinidade superior a 0,5% e inferior a 30%. As
águas salobras ocorrem principalmente em estuários e lagunas.
 Águas salinas: apresentam índices de salinidade igual ou superior a 30%. O
principal exemplo de água salina é a contida nos oceanos.

As classes de água são definidas considerando a concentração de salinidade,


bem como suas condições e seus padrões de qualidade. As águas doces apresentam
as seguintes condições, dependendo das classes:
 Classe especial: as condições naturais do corpo de água devem ser mantidas.
 Classe 1: tem como principal característica a ausência de materiais flutuantes,
óleos e graxas, substâncias que causem gosto e odor, corantes gerados por
fontes antrópicas e resíduos objetáveis. Além disso, não se pode verificar efeito
tóxico crônico; há demanda bioquímica de oxigênio (DBO5,20) de até 3 mg/L;
presença de oxigênio dissolvido (OD) não inferior a 6 mgO2 /L; turbidez de até
40 unidades nefelométricas de turbidez – UNT; cor verdadeira em níveis
naturais; pH variando entre 6 e 9; e coliformes termotolerantes não devem
exceder 200 coliformes/100 mL em 80% ou de seis amostras coletadas em um
ano, exceto para o caso de uso da água para recreação de contato primário
que deve atender à legislação específica. Além disso, para o enquadramento
dos recursos hídricos nessa classe, devem ser observados os padrões de
qualidade apresentados na Resolução Conama nº 357 (CONAMA, 2005).
 Classe 2: tem como principal característica a ausência de materiais flutuantes,
óleos e graxas, substâncias que causem gosto e odor e resíduos objetáveis.
Os corantes gerados por fontes antrópicas devem ser removidos por processo
de coagulação, sedimentação e filtração convencionais. Além disso, não se
pode verificar efeito tóxico crônico; cor verdadeira de até 75 mg Pt/L; DBO5,20
de até 5 mg/L; turbidez de até 100 UNT; OD não inferior a 5 mgO2 /L; pH
variando entre 6 e 9; e coliformes termotolerantes não devem exceder 1.000

43
coliformes/100 mL em 80% ou de seis amostras coletadas em um ano, exceto
para o caso de uso da água para recreação de contato primário que deve
atender à legislação específica. Os padrões de qualidade devem atender ao
disposto na Resolução Conama nº 357 (CONAMA, 2005).
 Classe 3: tem como principais condições de qualidade a ausência de efeitos
tóxicos agudos a organismos; ausência de materiais flutuantes, espumas, óleos
e graxas, substâncias que causem gosto e odor e resíduos sólidos objetáveis.
Os corantes de origem antrópica devem ser removidos por processos de
coagulação, sedimentação e filtração convencionais. A concentração de
DBO5,20 não deve exceder 10 mg/L; OD não pode ser inferior a 4 mgO2 /L;
turbidez de até 100 UNT; cor verdadeira de até 75 mg Pt/L; pH entre 6 e 9; e a
concentração de coliformes termotolerantes variará conforme o uso pretendido.
Para uso em recreação de contato secundário e dessedentação são
estabelecidos limites específicos. Para os demais usos, não exceder 4.000
coliformes/100 mL em 80% ou de seis amostras coletadas em um ano. Na
Resolução Conama nº 357 (CONAMA, 2005) constam os padrões de qualidade
para as demais substâncias.
 Classe 4: as condições de qualidade de água para essa classe devem atender
ausência de materiais flutuantes e espumas, odor e aspecto não objetáveis.
Além disso, para óleos e graxas, são toleradas iridescências. No que se refere
a substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento
de canais de navegação, estas devem ser virtualmente ausentes. OD deve
estar em uma concentração superior a 2 mgO2 /L e pH deve estar na faixa de
6 a 9. Assim como as demais classes, deve-se consultar a Resolução Conama
nº 357 (CONAMA, 2005) para verificar os padrões de qualidade para as águas.

Para águas salobras, são apresentadas as seguintes classes: especial, classe


1, classe 2 e classe 3, sendo que estas variam conforme o uso, as condições e os
padrões de qualidade. Já as águas salinas são classificadas da seguinte forma:
especial, classe 1 e classe 2, também tendo em seus usos e seus valores limites de
concentração de substâncias a base para a definição de classificação.
Como podemos perceber, para a definição de cada classe de água são
considerados os diferentes usos das águas. Sendo assim, estes são sistematizados

44
na Figura apresentada a seguir. Verificamos que para usos mais nobres da água,
como abastecimento humano e dessedentação animal, as condições e os padrões de
qualidade da água devem ser mais restritivos, uma vez que envolvem critérios de
saúde pública. Entretanto, usos como lançamento de efluentes devem se atentar aos
critérios que constam não só nas legislações estaduais e municipais, mas também
nas políticas definidas pelos Comitês de Bacias Hidrográficas.

Infográfico dos usos da água.


Fonte: Agência Nacional de Águas (2017).

4.3 Impactos antrópicos nos recursos hídricos

As ações dos homens na sociedade, advindas da expansão urbana, do


crescimento demográfico, da industrialização, etc., têm provocado a alteração do meio
ambiente, o que, por sua vez, tem causado também a degradação da qualidade dos
recursos hídricos. De acordo com a ANA (AGÊNCIA..., 2017), a qualidade da água

45
tem um grande impacto na saúde pública e, de modo mais abrangente, na vida da
população, sendo essencial para o equilíbrio e o funcionamento dos ecossistemas.
A poluição hídrica é dividida em duas categorias, de acordo com suas
características, sendo elas: poluição pontual e poluição difusa. A poluição pontual é
aquela ocorrida por meio de lançamentos individuais, como esgotos sanitários ou
efluentes industriais. Segundo Tomaz (2006), a poluição pontual é quando o
lançamento em um curso d’água é proveniente de uma única fonte. Essas fontes são
de fácil identificação e monitoramento, sendo possível, ainda, prever o impacto
ambiental e responsabilizar o causador pela poluição (ROSA; FRACETO; MOSHINI-
CARLOS, 2012).
Já a poluição difusa é mais difícil de ser identificada, pois não tem uma fonte
definida de poluição, por exemplo, a poluição advinda das plantações agrícolas, do
chorume de resíduos, etc. Diferentemente da poluição pontual, tem características
diferenciadas e afetam diversos locais e abrangentes áreas (ROSA; FRACETO;
MOSHINI-CARLOS, 2012). Ainda, nesse tipo de poluição, é mais difícil identificar o
causador pelo dano ambiental. Conforme Tomaz (2006), a poluição por fontes difusas
ainda se divide em urbana e rural, sendo a rural causada principalmente pela utilização
de fertilizantes agrícolas.

4.4 Tipos de poluição

A poluição hídrica também pode ser classificada conforme sua origem e seus
efeitos. A seguir, são descritos alguns tipos principais de poluição.

4.4.1 Poluição térmica

É resultante do lançamento de águas residuárias e/ou águas de refrigeração


em elevadas temperaturas nos recursos hídricos. As fontes geradoras desse tipo de
poluição são: siderúrgicas, refinarias, centrais elétricas, indústrias químicas, entres
outras.
Os principais efeitos da poluição térmica referem-se aos gases dissolvidos no
meio aquático. A solubilidade de um gás diminui à medida que a temperatura aumenta.
Sendo assim, com o lançamento de efluentes com altas temperaturas, o oxigênio

46
presente no meio disponível aos organismos aeróbios acaba tendo sua concentração
reduzida, acarretando mortandade desses seres.

Fonte de: www.brasilescola.uol.com.br

Ainda, o aumento da temperatura do meio aquático pode alterar a cinética de


reações química, podendo potencializar a ação poluente de substâncias, ou seja,
tornando-as mais tóxicas, ocasionando, dessa forma, mudanças negativas no
ambiente. Por fim, alterações na temperatura das águas podem alterar o ciclo
reprodutivo das espécies (CONAMA, 2005).

4.4.2 Poluição biológica

É decorrente da presença de microrganismos patogênicos nos recursos


hídricos, em especial nas nascentes, águas subterrâneas e mananciais. Dentre os
microrganismos, podemos destacar a presença de bactérias, vírus e protozoários
responsáveis pela transmissão de doenças de veiculação hídrica, conforme
apresentado no Quadro abaixo a seguir.

47
As principais fontes desse tipo de poluição são decorrentes do lançamento de
esgotos domésticos provenientes de residências e empresas sem tratamento
adequado, ou seja, em virtude da carência de infraestrutura de esgotamento básico.

4.4.3 Poluição química

Esse tipo de poluição é resultante do lançamento de substâncias químicas, de


diferentes origens, nos recursos hídricos. Dentre as substâncias químicas, podemos
destacar: fertilizantes agrícolas, compostos orgânicos sintéticos (medicamentos,
plásticos, solventes, inseticidas, herbicidas, etc.), plásticos, petróleos, metais
pesados, entre outros (FINKLER, 2018).
A contaminação das águas por essas substâncias pode ocorrer na forma de
lançamento por parte de indústrias, vazamentos ou problemas no processo industrial,
derramamentos (no caso do petróleo, agrotóxicos), lixiviação do solo, disposição
inadequada sobre o solo, entre outros.

48
A poluição química envolve, muitas vezes, o efeito cumulativo decorrente da
exposição a pequenas concentrações de poluentes por longos períodos, o que
caracteriza efeitos crônicos sobre os seres. Importante destacar que essas
substâncias, por serem sintéticas ou metais pesados, acabam acumulando-se nos
organismos, não sendo eliminadas e provocando danos a longo prazo com extensa
amplitude (CONAMA, 2005).
Além disso, a poluição hídrica por substâncias químicas afeta primeiramente
aos organismos aquáticos, mas podem interagir com todos os demais da cadeia
alimentar em virtude da magnificação biológica.

4.4.4 Poluição sedimentar

A poluição sedimentar é resultante do carreamento de partículas, que podem


ser do solo ou de produtos insolúveis orgânicos ou inorgânicos, que acabam sendo
depositados nos recursos hídricos. O transporte dessas partículas impede que a
luminosidade penetre nas camadas mais profundas da coluna da água, interferindo
na fotossíntese e alterando a disponibilidade de oxigênio para os organismos
existentes no meio. Além disso, contribui para o assoreamento dos recursos hídricos,
como estudaremos a seguir.

49
A poluição sedimentar é resultante de erosão do solo, remoção da cobertura
vegetal, extração de minérios e disposição de resíduos sobre o solo de forma
inadequada.

Rompimento da barragem de fundão


Fonte de: www.infoescola.com

50
4.5 Instrumentos para minimização dos impactos

A minimização dos impactos ambientais nos recursos hídricos também


depende de uma série de recursos legais, merecendo destaque a Política Nacional de
Recursos Hídricos – PNRH (BRASIL, 1997). Essa política, baseada no modelo francês
de gestão, instituiu uma série de instrumentos que buscam garantir a água em
quantidade e qualidade suficiente, o uso racional das águas, a prevenção da poluição,
a defesa de eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes de uso
inadequado dos recursos naturais e a promoção da captação, da preservação e do
aproveitamento das águas pluviais.
Esses objetivos da PNRH encontram-se descritos no seu art. 2º. Os
instrumentos instituídos pela PNRH (BRASIL, 1997) são:
 Planos de recursos hídricos: esses instrumentos buscam definir estratégias
de planejamento para a conservação, preservação e recuperação dos recursos
hídricos que compõem uma bacia hidrográfica. O documento deve ser
formulando considerando o conteúdo mínimo previsto na Lei Federal nº 9.433
(BRASIL, 1997).
 Enquadramento dos corpos de água: instrumento baseado nos usos dos
recursos hídricos; a partir destes se define os padrões de qualidade de água
que devem ser atendidos. Dessa forma, atua-se de forma preventiva no
combate à poluição dos recursos hídricos.
 Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos: instrumento que garante
ao usuário, por meio de uma autorização, o direito ao controle quali-quantitativo
do direito ao acesso e uso da água. O documento transfere propriedade ao
usuário da água e só garante sua utilização.
 Cobrança pelo uso dos recursos hídricos: “objetiva reconhecer a água como
bem econômico, incentivar a racionalização do uso da água e obter recursos
financeiros para financiamento de programas e intervenções” (AGÊNCIA...,
2016).

51
 Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos: esse instrumento tem
como principais objetivos (AGÊNCIA..., 2018):
 Reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação
quali-quantitativa dos recursos hídricos;
 Atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda
de recursos hídricos;
 Fornecer informações para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

4.6 Poluição dos recursos hídricos

Até aqui, observou-se que a poluição pode ser advinda de diferentes fontes,
como biológica, térmica, química e sedimentar. Os poluentes, que constituem os
quatro tipos de poluição que estudamos, de forma isolada ou conjunta, resultam em
fenômenos que degradam a qualidade dos recursos hídricos. A seguir, vamos
visualizar os impactos causados por esses eventos de poluição dos recursos hídricos.

4.6.1 Eutrofização

A eutrofização é um fenômeno que pode ser observado em recursos hídricos


decorrentes da presença de nutrientes no meio, em especial nitrogênio e fósforo.
Segundo Macêdo (2006), os nutrientes (fósforo, nitrogênio, potássio, cálcio, entre
outros) são encontrados em concentrações muito baixas em águas naturais. A fonte
desses nutrientes, de forma geral, é de esgoto doméstico ou industrial lançado nos
recursos hídricos sem prévio tratamento, bem como os fertilizantes utilizados na
agricultura que são carreados para as águas.
Com maior disponibilidade de nutrientes, ocorre a proliferação acentuada de
algas e cianobactérias. Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (2012) afirmam que as
cianobactérias presentes em águas eutrofizadas podem produzir gosto e odor. Os
autores continuam comentando que algumas espécies são capazes de liberar toxinas
que não são removidas por tratamentos convencionais de água (neurotoxinas ou
hepatotoxinas).
Em decorrência da proliferação desses organismos, a água acaba adquirindo
uma cor turva, impedindo que a luz penetre na coluna da água e, assim, alterando o

52
equilíbrio do meio, em especial no que se refere à fotossíntese. Dessa forma, diminui
a concentração de oxigênio no meio, o que pode acarretar a morte de espécies de
animais e vegetais presentes no ecossistema aquático. Rocha, Rosa e Cardoso
(2009) afirmam que, em concentrações baixas de oxigênio, bactérias anaeróbias
passam a oxidar a matéria orgânica, podendo causar mau cheiro em virtude dos
compostos formados.

Exemplo de Eutrofização
Fonte de: www.infoescola.com

Por fim, Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (2012) comentam que o processo de


eutrofização é um dos mais graves problemas relacionados à perda da qualidade da
água. Entre as medidas para minimização deste problema está a instalação de
sistemas de coleta e tratamento de esgoto doméstico e industrial, providos de
operações para remoção de nutrientes. Outra alternativa é a racionalização do uso de
fertilizantes na agricultura.

53
4.6.2 Assoreamento

O assoreamento é um processo no qual os sedimentos são carreadas e


acabam se depositando no fundo dos recursos hídricos. Como vimos anteriormente,
esse fenômeno contribui principalmente com a poluição sedimentar.

Exemplo de Assoreamento
Fonte de: www.infoescola.com

O processo inicia com a ocorrência de chuvas que transportam tais partículas


até o leito de rios e demais recursos hídricos, ocorrendo sua sedimentação. Nowacki
e Rangel (2014) afirmam que a quantidade e a granulometria do material transportado
pelas águas dependem de sua velocidade (energia) e de seu volume.
O transporte de sedimentos ocorre naturalmente, entretanto, em virtude da
ação antrópica, acabou sendo acelerado. Em virtude da ação do homem sobre o meio,
houve modificação do ciclo hidrológico, em especial em razão da remoção da
cobertura vegetal. As razões do desmatamento são diversas, merecendo destaque:
expansão agrícola, exploração pela mineração e ocupação urbana.
No que se refere à mata ciliar, está tem função, entre outras, de retenção dos
sólidos antes de eles chegarem nos rios. Com sua remoção, sua função fica alterada,

54
resultando na formação de bancos de areia, que prejudicam a navegação e as
mudanças no seu curso e o habitat de espécies.

5 CICLO HIDROLÓGICO

O ciclo hidrológico, também conhecido como ciclo da água, é o movimento


contínuo da água presente nos oceanos, continentes e na atmosfera. Esse ciclo é
influenciado por diversos fatores, entre eles, a ação da gravidade, o tipo e a densidade
da cobertura vegetal e os elementos e fatores climáticos (temperatura do ar, ventos,
umidade relativa do ar e insolação), que são os responsáveis pelos processos de
circulação da água dos oceanos para a atmosfera em uma determinada latitude
terrestre (PELISON, 2020).
O ciclo hidrológico ou ciclo da água, segundo Ministério do Meio Ambiente
(BRASIL, c2017), é o movimento contínuo da água presente nos oceanos, continentes
(superfície, solo e rocha) e na atmosfera. Esse movimento é alimentado pela força da
gravidade e pela energia do sol, que provocam a evaporação das águas dos oceanos
e dos continentes.

Representação do ciclo hidrológico.


Fonte: Brasil (c2017).

55
A Figura acima apresenta uma representação do ciclo hidrológico. Observando
essa figura você pode ver que na atmosfera formam-se as nuvens, que, quando
carregadas, provocam precipitações, na forma de chuva, granizo, orvalho ou neve. Já
nos continentes, a água precipitada pode seguir diferentes caminhos, acompanhe:
 Infiltrar e percolar (passagem lenta de um líquido através de um meio) no solo
ou nas rochas, podendo formar aquíferos, ressurgindo na superfície em forma
de nascentes, fontes, pântanos, ou alimentar rios e lagos.
 Fluir lentamente entre as partículas e espaços vazios dos solos e das rochas,
podendo ficar armazenada por um período muito variável, formando os
aquíferos.
 Escoar sobre a superfície, nos casos em que a precipitação for maior do que a
capacidade de absorção do solo.
 Evaporar e retornar à atmosfera. Em adição a essa evaporação da água dos
solos, rios e lagos, uma parte da água é absorvida pelas plantas, que, por sua
vez, liberam a água para a atmosfera através da transpiração. Esse conjunto
de evaporação mais transpiração é chamado de evapotranspiração.
 Congelar, formando camadas de gelo nos cumes de montanha e geleiras.

5.1 Principais processos do ciclo hidrológico

O vapor d’água se condensa, formando minúsculas gotas que dão forma às


nuvens e, em termos gerais, podem precipitar, principalmente como chuvas ou neve.
Em síntese, a precipitação ocorre quando há um alto teor de vapor de água na
atmosfera e a água é, então, depositada sobre a superfície terrestre na forma de
granizo, geada, orvalho, neblina, neve ou chuva, dependendo principalmente das
condições de temperatura da região. É comum que usemos o termo precipitação para
qualquer desses eventos. Uma vez que a água é precipitada, inúmeros caminhos
podem ser tomados por ela (PELISON, 2020).
Os processos básicos desse ciclo natural da água podem ser observados na
Figura abaixo.

56
Principais processos do ciclo hidrológico. Iniciando pela precipitação (1), quando a água atinge a
superfície terrestre, pode haver infiltração no solo (2) e interceptação pela cobertura vegetal (3). O
excedente não infiltrado escoará pela superfície do solo (4) e então, ao longo do seu armazenamento,
poderá ser evapotranspirada (5) e/ou evaporada (6), sendo transformada em vapores d’água que
formarão novamente nuvens que possibilitam a reinserção da água em forma de precipitação,
reiniciando a circulação no sistema.
Fonte: Adaptada de Robinson e Ward (2017).

Note que uma parte do volume precipitado é interceptada pela vegetação,


enquanto outra parte atinge diretamente o solo. A porção de chuva que atinge o solo
pode se infiltrar prontamente, a depender das condições de permeabilidade da área,
mas uma parte escoará sobre a superfície do terreno (PRUSKI; BRANDÃO; SILVA,
2004).
Assim, entendemos que uma parcela da água que precipita servirá para
umedecer o solo, começando assim o armazenamento dos volumes de água no meio
poroso, mas também disponibilizando o recurso natural, inclusive para a zona
radicular, propiciando sua utilização pelas plantas. Dessa forma, podemos considerar
que há um fluxo de água para a biosfera (GROTZINGER; JORDAN, 2014). Em
especial, o conteúdo armazenado nos poros do solo permite que as plantas possam
57
retornar parte da água absorvida, em um processo que chamamos de
evapotranspiração, combinando os processos de evaporação que poderiam ocorrer
em outras superfícies (como nos solos e nas lagoas) com o de transpiração, exclusivo
dos seres vivos.
A porção de precipitação que não se infiltrou no solo é aquela que colabora
para o escoamento superficial, sendo essa água gradualmente coletada por galerias
de drenagem (no contexto urbano), por estruturas e canais artificiais ou por elementos
naturais (pelos rios e lagos). Vale destacar que o escoamento superficial pode causar
perdas da qualidade do solo, com deslocamento de sedimentos e da água com
contaminação dos materiais assim carreados. A medição do escoamento superficial
é, portanto, de fundamental importância para as obras e projetos de drenagem pluvial,
uma vez que, conhecendo essa variável, podem ser propostas estruturas e
adequações necessárias à mitigação de eventuais problemas relacionados ao
deslocamento de massas hídricas superficialmente (PRUSKI; BRANDÃO; SILVA,
2004). Na próxima seção, veremos as relevantes atividades associadas às
precipitações e ao escoamento superficial e suas relações com o gerenciamento dos
recursos hídricos de uma bacia hidrográfica.

5.2 Precipitação e entrada de água no ciclo hidrológico

A água está presente na Terra em três fases: líquida, fluindo superficial e/ou
subterraneamente em nossos compartimentos ambientais; sólida, em forma de neve
e retida nas geleiras dos polos da Terra; e em forma de vapor d’água, sendo uma fase
imprescindível à formação das nuvens e consequentemente à precipitação. Porém, é
em sua forma líquida que água, na forma de precipitação, atende às necessidades
mais básicas de humanos, animais e plantas. Seu escoamento em riachos sustenta
ecossistemas e, junto com a percolação em aquíferos, garante armazenamento e
abastecimento de longo prazo para uso humano, ainda que os oceanos sejam a
principal fonte mundial de vapor d´água que alimenta a precipitação (ROBINSON;
WARD, 2017).

58
Podemos considerar que o tempo de residência da água nos reservatórios
subterrâneos é longo, mas que a água acaba retornando à superfície em nascentes
que alimentam rios e lagos, desaguando finalmente nos oceanos (GROTZINGER;
JORDAN, 2014). Indiretamente, portanto, a mesma água precipitada é submetida ao
fluxo da água subterrânea infiltrada subsuperficialmente e/ou em profundidade e
retorna à superfície terrestre, onde mais rapidamente pode se locomover, quando
comparado ao escoamento subsuperficial.

Aqui, vale observar que o primeiro passo para determinar a vazão de um projeto
de drenagem é justamente calcularmos a fração da precipitação que se transforma
em escoamento superficial. Para tanto, diversos métodos podem ser aplicados, e a
partir dos dados de precipitação, torna-se possível estimar uma aproximação do
escoamento, sendo, portanto, muito mais fácil e confiável sua previsão em bacias
instrumentadas com equipamentos pluviométricos (PRUSKI; BRANDÃO; SILVA,
2004).
Dentre os fatores que influenciam a taxa de infiltração da água no solo,
podemos destacar variáveis e parâmetros agroclimáticos como tipos de solos e
coberturas superficiais das áreas, uma vez que interferem diretamente na
interceptação, armazenamento no meio poroso e infiltração da água em um terreno.
Pruski, Brandão e Silva (2004) destacam ainda os seguintes fatores fisiográficos: a
área de contribuição e o formato da bacia, a declividade do terreno e estruturas de
drenagem já existentes. Quanto maior a bacia, maior a área de contribuição e maior
a probabilidade de ocorrência de diferentes tipos de solo. A topografia, assim como o
formato da bacia, influencia na velocidade dos escoamentos superficiais, que, de
forma geral, é maior em bacias mais circulares (o tempo de concentração é
aproximadamente o mesmo em toda a bacia) e também em terrenos mais íngremes,
59
com menor detenção e retenção subsuperficial, quando comparados a terrenos mais
planos.
Apenas uma parte do volume precipitado atinge a seção de desague de uma
bacia sob forma de escoamento superficial. Outra parte será a interceptada, outra
poderá se depositar em depressões e se infiltrar no solo e, finalmente, uma parte do
volume total precipitado será escoada superficialmente. Dessa forma, definimos um
coeficiente de escoamento. O coeficiente de escoamento é um valor adimensional que
pode ser calculado da seguinte forma:

onde ES representa o escoamento superficial e PT é o total precipitado.


O valor de C varia entre 0 e 1, sendo o valor 1 correspondente à situação de
maior impermeabilização da superfície, enquanto um valor próximo a 0
correspondente à condição de maior permeabilidade da água em um terreno. Em
geral, a vazão máxima do escoamento superficial pode ser calculada por diversas
fórmulas e métodos, a começar pelos mais simples, nos casos em que a área drenada
é pequena (menor que 5 km², ou 500 ha), como pode ser observado no método
racional:

onde Qmax representa a vazão máxima do escoamento superficial, I é a


intensidade média de precipitação considerando a duração do evento equivalente ao
tempo de concentração (TC) da bacia hidrográfica e C é o coeficiente de escoamento
superficial de uma superfície terrestre (PELISON, 2020).
Porém, o método racional pode ser aplicado basicamente em bacias com altas
intensidades de precipitação, curta duração e, portanto, tendo uma precipitação
uniforme e próxima do TC da bacia. Além disso, simplificações são adotadas para
permitir sua aplicação, como considerar o solo já saturado para que a taxa de
infiltração seja constante e uma uniformidade (irreal) do coeficiente de escoamento
superficial à toda a bacia de contribuição. Para tornar esse método mais real,

60
coeficientes podem ser testados de acordo com a cobertura presente na bacia, e
dessa forma, um cálculo proporcional às áreas das diferentes coberturas superficiais
acaba conferindo um coeficiente médio e mais representativo da área total:

onde Ci é o coeficiente de ES de uma subárea contribuinte, Ai é a subárea


considerada (para uma determinada cobertura de solo) e A é a área total da bacia. A
Figura abaixo ilustra essa situação.

Desenho esquemático para exemplificar a distribuição heterogênea das coberturas do solo em uma
bacia hidrográfica, com a nítida variação do coeficiente de escoamento gerado (C1 , C2 , C3 e C4 ,
nesse caso hipotético). Em destaque temos: as áreas de proteção permanente ao redor dos cursos
hídricos (incluindo as nascentes, representadas pelos círculos verdes) e o ponto do exutório (círculo
cor-de-rosa), que concentra toda a água drenada pela área contribuinte.

Outros métodos mais complexos e regionalizados podem ser utilizados para


determinar a vazão máxima do escoamento superficial, inclusive com a utilização de
geotecnologias para determinação de variáveis não medidas em determinadas
regiões, como a evapotranspiração ou mesmo o uso e ocupação dos solos (PELISON,
2020).
É importante observar que quanto mais urbanizamos e/ou impermeabilizamos
uma área (Figura abaixo), menor tornamos o tempo de concentração da bacia, ou
61
seja, mais rapidamente o escoamento superficial poderá atingir o ponto exutório, com
maiores vazões e, portanto, maior risco de cheias e inundações.

Principais processos do ciclo hidrológico destacados em duas situações distintas de ocupação de


uma área: (a) com um ciclo natural; (b) com maior intervenção humana, havendo menor infiltração de
água no solo e maior escoamento superficial.
Fonte: Adaptada de alphabe/Shutterstock.com.

Para que saibamos a confiabilidade das nossas estimativas, devemos realizar


um balanço de entradas e saídas de água do ciclo para a região de interesse,
estabelecendo assim um balanço hídrico.

5.3 Balanço hídrico: mensuração do ciclo da água

Apesar da distribuição global em constante mudança (de vapor de água,


evaporação, precipitação e escoamento, mudanças associadas na água do solo e
armazenamento de água subterrânea), o balanço hídrico global é considerado, na
verdade, um sistema fechado.
Praticamente nenhuma água é perdida do sistema e as liberações ocasionais
de água da atividade vulcânica, ou acréscimos de água, são mínimas. Além disso, em
períodos bastante curtos de tempo, a entrada de vapor d'água na atmosfera por
evaporação é totalmente contabilizada pelo processo de condensação–precipitação
(ROBINSON; WARD, 2017).
O ciclo hidrológico global fornece um conceito introdutório útil, mas apresenta
um valor prático limitado para as ciências hidrológicas, cujos profissionais precisam

62
compreender e quantificar a ocorrência, a distribuição e o movimento da água em uma
área específica (PELISON, 2020).
A unidade natural de estudo costuma ser uma bacia de drenagem ou sub-
bacias hidrográficas, áreas de captação que recebem a água da precipitação dentro
do seu limite topográfico (divisores d’água) e da qual as principais saídas são
evaporação, evapotranspiração e vazão dos escoamentos (superficiais e
subterrâneos). No modelo esquemático da Figura abaixo, podemos perceber que a
acumulação e/ou retenção de água precisa ser contabilizada nos cálculos do balanço
hídrico.

Processos do ciclo hidrológico são peças essenciais no balanço hídrico de uma área de drenagem.
Fonte: Adaptada de danylyukk1/Shutterstock.com.

Utilizando a equação de continuidade, na forma de equação hidrológica ou de


balanço hídrico, podemos definir que a área a ser considerada depende do nosso
interesse de informação e dos dados existentes, quer numa pequena parcela

63
experimental de poucos metros quadrados, que numa grande bacia hidrográfica ou
grupo de bacias integradas, seguindo a seguinte fórmula:

De uma forma direta, se essa equação puder ser resolvida, uma avaliação
quantitativa da movimentação da água na bacia de drenagem torna-se possível.
A primeira determinação que precisamos fazer é obviamente da área de
drenagem para a qual pretendemos realizar o balanço hídrico. Collischonn e Dornelles
(2013) explicitam que a área de drenagem é a característica mais importante de uma
bacia hidrográfica, provavelmente por reunir todos os outros elementos necessários
para tais estimativas: uso e cobertura do solo, construções e/ou outras formas de
impermeabilização da superfície e, claro, a água precipitada a ser drenada.
Se antes precisávamos de instrumentos mecânicos para mensurar as áreas de
uma bacia ou sub-bacia hidrográfica, como o planímetro, agora podemos utilizar
software simples como de desenho auxiliado por computador (CADs) ou com mais
funcionalidades de localização, como os Sistemas de Informação Geográfica (SIGs).
Numa segunda etapa, precisamos determinar as características das chuvas.
Comumente, consideramos métodos para a determinação das precipitações máximas
médias, ou seja, uma média dos valores extremos de precipitação observada para
uma dada duração.
A equação a seguir, mais conhecida como equação de intensidade, duração e
frequência, ou simplesmente IDF, é desenvolvida para chuvas intensas (PRUSKI;
BRANDÃO; SILVA, 2004):

onde corresponde à intensidade máxima média de precipitação (em


mm/h); T é o tempo de retorno considerado (em anos); t é a duração do evento de
precipitação (min); e K, a, b e c são parâmetros de ajuste relacionados à estação
pluviográfica considerada, e precisam ser regionalizados. Observe que os valores de

64
precipitação efetiva, infiltração e perdas podem ser relacionados à intensidade das
precipitações (Figura abaixo).

Distribuição dos volumes precipitados em função da intensidade das chuvas.


Fonte: Adaptada de Chapter 3 (c2021).

As perdas iniciais e as proporcionais são consideradas como uma porção


importante relacionada à intensidade dos eventos de precipitação, e não há grande
variação da capacidade de infiltração de um solo quando ele atinge a saturação de
umidade. Ademais, ainda hoje podemos apontar a interceptação vegetal (ICV),
incluindo a camada de serapilheira presente sobre o solo, como uma das variáveis de
mais difícil mensuração (PELISON, 2020).

65
Retomando o cálculo do balanço hídrico, podemos discretizar as variáveis a
serem consideradas da seguinte forma: de entrada (precipitação P); perdas iniciais e
proporcionais (captação e/ou armazenamento [Ac ], umedecimento do solo [Sw] e
interceptação pela vegetação [ICV]) e de saída (escoamento superficial [ES],
evaporação [E], evapotranspiração [ET], infiltração da água em superfície [I] e
percolação da água em profundidade [DP]). Observe a substituição das variáveis na
equação a seguir, resultando em um balanço hídrico genérico:

A figura abaixo ilustra as dinâmicas dessas variáveis. Observe que o balanço


hídrico deve ser realizado de forma a validar as variáveis existentes na bacia de
interesse, levando-se em conta a cobertura vegetal, o tipo de solo e ainda as
infraestruturas construídas. Os armazenamentos superficiais e/ ou subterrâneos de
água permitem que a água continue a circular no sistema terrestre e também que a
possamos utilizar para todas as atividades previstas (ROBINSON; WARD, 2017).

Variáveis de um balanço hídrico genérico.


Fonte: Adaptada de Chapter 3 (c2021).
66
Os profissionais que trabalham com hidrologia, especialmente na hidrologia
urbana, devem cada vez mais ter uma visão de longo prazo e em larga escala para
enfrentar os consideráveis desafios gerados, quer pelo impacto da variabilidade
sazonal, das mudanças climáticas nos processos hidrológicos ou da disponibilidade
de recursos hídricos (ROBINSON; WARD, 2017).
O tipo de solo, a geologia, a ocupação e o uso do solo variam espacial e
temporalmente, também podendo causar variações nos componentes do balanço
hídrico. Cabe enfatizar a relevância da relação entre precipitação e evaporação
potencial (incluindo a evapotranspiração), que varia enormemente dependendo da
cobertura vegetal de uma área para outra e ao longo do tempo.
Assim, é imprescindível que calculemos cada uma das variáveis do ciclo da
água presente na nossa área de interesse, para assim podermos realizar previsões
mais acuradas e, em especial, planejamentos adequados quanto ao escoamento das
águas superficiais e também da contínua disponibilidade hídrica direcionada aos mais
variados usos consuntivos e não consuntivos.

6 LIMNOLOGIA

6.1 História, importância e desenvolvimento.

As primeiras referências sobre a natureza dos rios, lagos e outras coleções de


água datam da época de Aristóteles (384-322 a.C.), o qual, no seu livro História
Animalium afirma que as águas interiores não eram todas semelhantes, pelo menos
no tocante à fauna ocorrente, e numa tentativa de classificação dos animais
existentes, denominou-os tão somente de habitantes dos rios, habitantes dos lagos,
habitantes dos pântanos, etc. Um dos seus discípulos - Teophrastus, seguiu também
o mesmo princípio na catalogação dos vegetais, classificando-os como vegetais de
lagos rasos, vegetais dos rios, vegetais de lagos profundos e outros.
Somente, a partir de 1869, o estudo dos seres aquáticos passou a ser feito com
maior senso científico, não mais considerando somente as espécies da flora e da
fauna, mas também a coleção de água com as suas características físicas, químicas
e biológicas. Por este tempo o termo Limnologia foi empregado pela primeira vez
(deriva do grego - limne = lago + logos = estudo) no trabalho intitulado Le Leman,

67
Monographie Limnologique, de autoria do Prof. François Alphonse Forel, da
Universidade de Lausanne, Suíça, que com ele ganhou o título de pai da limnologia e
marcou o início do estudo científico dos lagos e águas interiores de um modo geral.

Lago azul na Suíça


Fonte de: www.portaldeinverno.com.br

É importante não confundirmos a limnologia com a hidrobiologia. A primeira


refere-se à ciência da vida DOS corpos d’água; enquanto a segunda, refere-se à vida
NOS corpos d’água.

6.2 Definição

A limnologia é, segundo Forel (1892), a ciência que estuda a vida dos


ambientes de águas doces, tais como, rios, riachos, córregos, lagoas, lagos, açudes,
brejos, fontes, nascentes, etc. que não sejam influenciados diretamente pelo mar. Seu
objetivo é estudar a correlação e a dependência entre os organismos habitantes
dessas águas e o ecossistema, abrangendo de um modo geral todos os fatores que
exercem influência sobre a qualidade, quantidade, periodicidade e sucessão desses
organismos na água.

68
A Limnologia faz parte da ecologia, ciência que tem por fim o estudo das
relações entre os seres vivos e o meio ou ambiente em que vivem, bem como as suas
recíprocas influências.
Com base nos conceitos ecológicos, a limnologia clássica criada por Forel e
desenvolvida por outros importantes limnologistas, evoluiu ao ponto de cada vez mais
tender para uma especialidade, devido à grande complexidade dos fenômenos que
ocorrem nos ambientes aquáticos. Sob este aspecto, as seguintes especializações
podem ser assim consideradas:
a) Limnologia física - quando trata apenas do estudo dos parâmetros físicos
da água (temperatura, cor, condutividade elétrica)
b) Limnologia química - que diz respeito somente ao estudo dos parâmetros
químicos da água (pH, oxigênio dissolvido, DBO – Demanda bioquímica de
oxigênio, DQO – Demanda química de oxigênio, dentre outros);
c) Limnologia aplicada - que se volta para o estudo da biologia da pesca, da
aquicultura, da produtividade pesqueira, da produtividade primária, etc.
d) Limnologia paleontológica - que trata do estudo dos fósseis existentes nos
sedimentos dos lagos.
e) Limnologia de reservatórios - que é a mais nova especialização desta
ciência, surgida em razão da construção de barragens para diferentes
propósitos, como produção de energia elétrica, navegação, controle de
enchentes, pesca, etc. e que tem por fim o estudo do impacto ambiental
provocado tanto sobre os seres vivos, como na qualidade e quantidade da
água.

6.3 A Limnologia no Brasil

Até a década de 1930, as pesquisas em ambientes aquáticos continentais no


Brasil eram de cunho tipicamente hidrobiológico e a maioria das pesquisas
limnológicas eram realizadas por pesquisadores estrangeiros ESTEVES (1988).
Os primeiros estudos limnológicos em nosso país foram realizados no Nordeste
brasileiro. Essa região pode ser considerada como o berço da limnologia nacional,
graças aos trabalhos pioneiros de pesquisadores famosos que aqui trabalharam nos
primórdios da antiga Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste (CTPN),

69
posteriormente denominada Diretoria de Pesca e Piscicultura do DNOCS, cujo
primeiro chefe foi o naturalista paulista Rodolpho von Ihering, cognominado - o pai da
piscicultura nacional.
Ao longo de mais de 65 anos têm sido inúmeros os trabalhos desenvolvidos,
não somente nessa na Região Nordeste, mas também em outras partes do país, tanto
no campo da limnologia regional, como no da engenharia sanitária, da aquicultura, da
pesca em reservatórios, do controle da poluição etc.

Lagoas do Uruau (Beberibe)


Fonte de: www.visiteobrasil.com.br

Pode-se dizer que a Limnologia Brasileira, hoje, encontra-se consolidada e


caracterizada. Seus profissionais estão entre os mais atuantes na Ecologia Brasileira.
No mundo moderno, a água doce é um recurso estratégico. A ausência deste
recurso ou a sua presença em quantidade ou qualidade inadequadas têm sido um dos
principais fatores limitantes ao crescimento social e econômico de várias regiões do
Brasil e do mundo. A demanda por água doce em todo o mundo tem aumentado de
maneira exponencial. Paralelamente, a degradação de sua qualidade tem reduzido
ainda mais sua disponibilidade ESTEVES (1988).
Os ecossistemas aquáticos continentais tornam-se cada vez mais
indispensáveis à vida moderna pois estão relacionados às mais variadas atividades
humanas como a obtenção de alimento, de energia elétrica, o abastecimento

70
doméstico e industrial, o lazer e a irrigação entre outras. O uso na irrigação se constitui
hoje como um dos principais aspectos que contribuem para que a água seja hoje um
recurso estratégico. Basta lembrar que 70% de toda a produção de alimento do mundo
provém de apenas 17% das áreas cultiváveis.
A Limnologia é uma ciência de grande alcance social uma vez que fornece
inúmeros subsídios para a conservação, o manejo e a recuperação dos ecossistemas
aquáticos continentais. Desta forma, o limnólogo passa a ter um papel cada vez mais
importante na sociedade moderna.

6.4 A água: ocorrência, qualidade, caracterização e classificação.

Na biosfera, que é o espaço do nosso globo onde são encontrados todos os


seres vivos, distinguem-se três grandes ecossistemas:
a) Aéreo: Onde há predominância de gases;
b) Terrestre: Onde há predominância de massa sólida e;
c) Aquático: Onde há predominância da massa líquida, que forma os
oceanos, mares, rios, lagos, açudes, lençóis subterrâneos, fontes, etc. De
interesse da limnologia, como já vimos, são as águas doces, enquanto as
águas marinhas, salgadas e salobras, pertencem ao campo da oceanografia.

Toda água encontrada na biosfera, em qualquer um desses ecossistemas,


deriva direta ou indiretamente da água da chuva, através do chamado ciclo
hidrológico, que é o responsável pelo transporte da água dos oceanos, lagos, açudes
e de outras fontes para a atmosfera, a qual pela precipitação e escoamento sobre a
crosta terrestre volta novamente para o oceano, lagos, açudes, etc., trazendo
dissolvido no seu meio, além de gases, substâncias orgânicas e inorgânicas
ESTEVES (1988).
Por esta condição a água desempenha um papel fundamental na biosfera, já
que é necessária a todos os seres vivos.
Calcula-se, de uma maneira geral, que as reservas de água na biosfera sejam
de 1,36 trilhões de quilômetros cúbicos, sendo que 97,2% são representadas pelos
oceanos e mares, enquanto 2,8% correspondem à água doce. Caso toda água
existente na natureza pudesse ser distribuída, uniformemente, sobre a crosta

71
terrestre, formaria um tapete de 3.000 m de espessura, mas, deste total, apenas uma
camada de 40 m corresponderia às águas subterrâneas e de 40 cm, as águas doces
da superfície - rios, lagos, lagoas, açudes, represas, etc. Esta comparação tem por
objetivo mostrar a diminuta fração da massa líquida de interesse limnológico.

Fonte de: www.infoescola.com

Além de ser o principal componente do corpo dos animais e vegetais e tomar


parte na constituição das rochas, a água atua na natureza como um importante
regulador da temperatura, amenizando o clima e favorecendo o desenvolvimento da
vida animal e vegetal. Isto ocorre graças as suas propriedades físicas, em particular
devido ao seu elevado calor específico, que é duas vezes superior ao do ar. Sem a
presença da água na atmosfera na forma de vapor, os efeitos da irradiação acabariam
por liquidar toda a vida orgânica do planeta. Plantas, animais e rochas, bem como
tudo que existe sobre a terra, necessitam de água e mantêm por ela uma tremenda
avidez, devido ser transportadora de substâncias nutritivas e materiais inorgânicos
ESTEVES (1988).

72
6.5 Qualidade da água

A água, como já vimos, é um bem de consumo necessário a todos os seres


vivos, sendo utilizada para a agricultura, a irrigação, a recreação (balneabilidade), o
saneamento, a aquicultura, o abastecimento público e doméstico (potabilidade), a
dessedentação de animais, a navegação, a harmonia paisagística, a produção de
energia elétrica e outras finalidades.
A qualidade da água utilizada para diversos fins depende muito da presença de
microrganismos que se desenvolvem nela, como algas, fungos, leveduras,
protozoários, rotíferos e outros componentes do fito e do zooplancton. Esses seres
microscópicos têm uma importância particular na utilização da água para
abastecimento público e doméstico, pois são capazes de modificar o pH, a
alcalinidade, a cor, a turbidez, o sabor e o odor, visto que ao morrerem e sofrerem o
processo de mineralização da matéria orgânica, liberam substâncias que inviabilizam
o uso da água ESTEVES (1988).

Fonte de: www.8.worldwaterforum.org

No tocante à aquicultura, a qualidade da água deve estar de acordo com o que


estabelece a Resolução nº 020, de 18 de junho de 1986, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA).

73
Desta forma para que sua utilização possa ser feita sem comprometimento da
finalidade a que se destina, há necessidade de ser caracterizada quanto aos critérios
de qualidade, cuja amostra envolve cuidados especiais na coleta, preservação e
armazenamento.

6.6 Classificação das Águas Interiores ou continentais

Sob a denominação de água interior ou continental se entende as coleções de


águas doces que se encontram organizadas dentro de sistemas hidrográficos
definidos, de acordo com a bacia de drenagem e que formam uma unidade de meio
ambiente, devidamente representada e isolada, ESTEVES (1988).
As características destas águas dependem de vários fatores ambientais, como
a topografia, geologia, hidrologia, climatologia e outros, sendo assim classificadas:

6.6.1 Quanto à hidromecânica

a) Lênticas

São as águas paradas, como a dos lagos, lagoas, açudes e represas. Embora
possam existir correntes subaquáticas, elas não são fatores dominantes, enquanto a
densidade vertical e as estratificações térmicas e químicas constituem as suas
principais características. Apresentam ainda uma instabilidade do pH e baixa
concentração de oxigênio dissolvido.

74
Construção de um açude
Fonte de: www.estado.rs.gov.br

b) Lóticas

São as águas correntes, como a dos rios, riachos, arroios, igarapés, etc., que
se caracterizam por uma contínua corrente, seguindo sempre uma única direção, com
água nova vindo continuamente de cima. A velocidade da corrente é um fator positivo
e certos organismos aquáticos mostram uma adaptação à mesma, cada vez que está
vai se tornando mais violenta ESTEVES (1988).
Outras características são a elevada turbidez, pois são capazes de transportar
grandes quantidades de material em suspensão, temperatura homogênea, saturação
de oxigênio dissolvido, uniformidade do pH, pobreza em sólidos dissolvidos, escassez
de fitoplâncton e de macrófitas, exceto do tipo flutuante que pode formar verdadeiras
ilhas móveis, conhecidas por camalote e presença de algas aderentes.

6.6.2 Quanto à origem

a) Naturais: São as coleções d’água que se formaram sem a interferência do


homem, como os rios, riachos, lagos, lagoas, fontes, etc.

75
b) Artificiais: São aquelas resultantes do represamento ou controle pelo
homem para atender a múltiplos propósitos, como sejam, açudes, represas,
reservatórios, aguadas, canais, viveiros, tanques, etc.

6.6.3 Quanto à natureza química

Por motivo de dissolver todos os elementos inorgânicos e orgânicos


encontrados sobre o solo, bem como na atmosfera, sendo por isso considerada como
solvente universal, recebendo assim denominações específicas, como doce, salobra,
salgada, ácida, alcalina, gasosa, carbonatada, mole, dura, ferruginosa, magnesiana,
radioativa, etc. de acordo com os sais que se encontram nela dissolvidas, as águas
interiores podem ser, quanto à sua natureza química, de diferentes tipos, ESTEVES
(1988).

6.6.4 Quanto à periodicidade

Tendo em vista o tempo de duração em que permanece líquida, formando os


lagos, açudes, rios, riachos, fontes e outras coleções d’água, elas são:

a) Permanentes
Aquelas coleções d’água que nunca secam, permanecendo sempre na
superfície terrestre. Tal tipo de água interior ocorre principalmente em regiões onde a
precipitação pluvial é maior que a evaporação.

b) Temporárias ou Periódicas
São as coleções d’água que desaparecem da superfície terrestre em
determinadas épocas, por não resistirem às prolongadas estiagens ou quando
passam do estado líquido para o sólido, como nas regiões temperadas.
As coleções d’água localizadas nas regiões desérticas e semiáridas tendem a
acumular sais dissolvidos em excesso devido a elevada evaporação, algumas vezes
alcançando concentrações superiores à dos oceanos, como no Great Salt Lake, nos
Estados Unidos, no Mar Morto, em Israel, e em muitos açudes do Nordeste brasileiro.

76
Solos arenosos não conseguem reter a água durante o período de chuvas e
por isso as coleções d’água se tornam temporárias. Açudes e viveiros para a criação
de organismos aquáticos construídos neste tipo de solo secam completamente,
principalmente na época do verão.
Os organismos que ocorrem nestas águas possuem um ciclo de vida bastante
curto, embora alguns possam adquirir formas de resistência, ESTEVES (1988).

6.7 Lagos: origem, tipos e distribuição geográfica

Por lago se entende uma coleção de água lêntica confinada em uma bacia e
que não apresenta ligação com o mar. Esta definição foi dada por Forel, em 1892,
com a finalidade de diferenciar os lagos verdadeiros daqueles que são pequenos
braços do mar.
Sob o ponto de vista morfométrico são chamados de lagos as extensas
coleções de águas paradas, de grandes profundidades, larguras e comprimentos. A
mesma definição pode ser aplicada para açudes, reservatórios e represas, com a
única diferença de serem construídos pelo homem com múltiplos propósitos,
ESTEVES (1988).
Quanto à lagoa, se trata de uma coleção de água natural, de pouca
profundidade e características temporárias, muito embora possam existir com essa
mesma definição extensas coleções de águas naturais, permanentes e de grandes
profundidades, como as lagoas de Patos, no Rio Grande do Sul.

77
Estuário da Lagoa dos Patos
Fonte de: www.peld.furg.br

De uma maneira geral, as causas responsáveis pela formação das águas


lênticas, como sejam, lagos, lagoas, açudes, etc., são de três tipos, ESTEVES (1988):

a) Construtivas
Quando o homem interfere diretamente para a sua formação, mediante a
construção de uma barragem no vale de um rio, riacho, igarapé. São os açudes, as
represas, reservatórios, viveiros, etc.

b) Destrutivas
Quando resulta do efeito de fenômenos da natureza, os quais formam
depressões na crosta terrestre, dando origem à formação de coleções de águas
lênticas naturais, como os lagos, lagunas, lagoas, etc.

c) Obstrutivas
Quando estes mesmos fenômenos da natureza provocam o barramento de
vales formando uma bacia lacustre. Uma mesma causa obstrutiva pode ser destrutiva
ao mesmo tempo.

78
6.8 Agentes da natureza formadores de águas lênticas

De acordo com a sua gênese, as águas lênticas foram formadas à custa da


ação de diversos agentes da natureza, tanto em épocas remotas como ainda estão a
acontecer em nossos dias. Os agentes mais conhecidos e frequentes são: abalos
sísmicos, geleiras, vulcanismo, deslizamento de terras, chuvas, ventos, meteoros,
garimpagem, dentre outros fatores.

6.9 Açudes e reservatórios do Brasil

Lagos artificiais formados pelo represamento de rios com múltiplos propósitos,


tais como, abastecimento público, controle de enchentes, regularização de cursos,
geração de energia elétrica, irrigação, navegação, recreação, pesca e outros, são
bastante comuns em nosso país, ESTEVES (1988).
A construção de grandes açudes no Brasil teve início em 1890, quando foi
iniciada a barragem de Cedro, em Quixadá, Ceará, concluída 16 anos mais tarde.
Depois do Nordeste foi o Estado de São Paulo que partiu com uma política de
construção de barragens, cuja primeira represa teve o seu início em 1901, no Rio
Tietê, com a finalidade de geração de energia elétrica, enquanto no Nordeste era a de
acumulação de água na época das chuvas para fazer frente às crises nos períodos
de seca. A construção dessas barragens resultou na formação de um grande número
de ecossistemas lacustres artificiais. De acordo com GURGEL (1990) a quantidade
estimada de açudes construídos no Brasil é da ordem de 68.800, com área inundada
total de 53.200 km². Só na Região do Nordeste estão localizados 60.000 açudes, que
cobrem uma área de 8.000 km², correspondente a 15% do total do pais.
É na Região Sudeste que está o maior potencial de espelho d’água artificial
com 26.000 km² (48,9%), cuja quantidade estimada é de 6.600 açudes construídos,
seguindo-se em ordem decrescente a Região Nordeste (15,0%), o Sul (14,7%), o
Norte (13,5%) e o Centro-Oeste (7,9%). Apesar da Região Sudeste contar com o
maior percentual de espelho d’água, entretanto, está localizado na Região Nordeste
o açude Sobradinho (BA), com 5.194 km², considerado atualmente a maior coleção
de água doce formada pelo homem no mundo.

79
Face o regime hidrológico dos rios do Nordeste brasileiro, os efeitos da
açudagem têm sido mais benéficos que negativos, quer sob o ponto de vista social,
econômico, climático e biológico. ESTEVES (1988) destaca um elenco de quinze
efeitos prejudiciais aos ecossistemas aquático e terrestre com a construção de
açudes, os quais jamais poderão ser levados em conta em se tratando da região
nordestina, que tem neste tipo de coleção d’água razões para a sobrevivência de sua
população.
Na verdade, para uma política racional de açudagem no Nordeste, tem que se
levar em consideração antes de tudo, a melhor distribuição e aproveitamento da água
represada, com preferência para as áreas carentes desse recurso hídrico e não,
simplesmente, atender interesses pessoais e muitas vezes escusos.
Sob o ponto de vista limnológico a alteração no regime hidrológico e da
qualidade da água até certo ponto favorece o melhor aproveitamento dos açudes
nordestinos, como comprovam os estudos bioecológicas realizados em muitos deles,
fazendo com que, na média geral, sejam considerados como os de maior
produtividade da pesca no mundo.

7 AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OS RECURSOS HÍDRICOS

Os recursos hídricos estão irremediavelmente relacionados com as


mudanças climáticas, uma vez que esses ambientes são altamente suscetíveis a
alterações do clima. Essas alterações impactam desde o nível médio dos mares
até a probabilidade de ocorrência de eventos extremos, como períodos de secas
severas e inundações, degelo glacial, etc.

80
Fonte de: www.blog.brkambiental.com.br

7.1 Mudanças climáticas

Vivemos em um mundo dinâmico, com disruptivas mudanças históricas nas


áreas sociais, econômicas, ambientais e culturais. Essas mudanças podem ser
sentidas instantaneamente, como um desmatamento para cultivo agrícola, por
exemplo, ou levar séculos, como as alterações geológicas. O clima também apresenta
mudanças naturais, com aquecimento e resfriamento (Grotzinger e Jordan, 2013).

Estudos indicam que entre 3.000 a 2.300 anos antes do presente (AP) a
temperatura na Terra era mais fria; posteriormente, entre 1.000 a 709 anos AP,
passamos por um período chamado de clima óptimo, com temperatura terrestre média

81
variando entre 20 a 24°C. Mais recentemente, entre 478 a 101 anos AP, a Terra
vivenciou a conhecida Pequena Idade do Gelo, que, apesar de não ser um evento
climático global, apresentou uma significativa expansão das geleiras na América do
Norte e na Europa (BARRY; CHORLEY, 2017).
Entretanto, apesar desse aquecimento e resfriamento naturais, a partir da
Revolução Industrial, a Terra passou a registrar índices altíssimos de emissões de
dióxido de carbono (CO2) na atmosfera (Figura abaixo). Esse gás é um dos principais
responsáveis pelo efeito estufa, que impede que a energia solar refletida pelo planeta
se dissipe. Esse fato faz com que haja um aquecimento gradual das temperaturas
médias do planeta, o que pode causar impactos irreversíveis. Esse processo é
conhecido como aquecimento global Grotzinger e Jordan (2013, p. 673).

Concentração atmosférica de CO2 nos últimos 10 mil anos.


Fonte: Grotzinger e Jordan (2013, p. 673).

Quando o Sol aquece a superfície da Terra, parte do calor é aprisionada por


vapor d’água, CO2 e outros gases na atmosfera (Figura abaixo), semelhante a como
o calor é aprisionado por um vidro fosco em uma estufa. Por isso “efeito estufa”, que
explica por que a Terra tem um clima que possibilita a vida. Se a atmosfera não
contivesse gases do efeito estufa, a superfície terrestre seria sólida e congelada.
Portanto, os gases do efeito estufa, sobretudo o CO2, exercem uma função crucial na
regulação do clima.

82
Quando a superfície terrestre é aquecida pelo Sol, ela irradia calor de volta para a atmosfera. O CO2
e outros gases de efeito estufa absorvem parte dessa radiação infravermelha e a irradiam para todas
as direções, inclusive para a superfície da Terra. Dessa maneira, a atmosfera armazena calor, como
um vidro em uma estufa. Fonte: Grotzinger e Jordan (2013, p. 417).

Assim, embora o gás de efeito estufa sejam importantes para a manutenção da


vida na Terra, sua emissão excessiva acabou por desencadear mudanças climáticas,
uma variação estatisticamente significativa no estado médio do clima ou em sua
variabilidade, que persiste por um período prolongado, geralmente de décadas ou
mais. Trata-se, portanto, de uma alteração no clima que é atribuída direta ou
indiretamente à atividade humana, que modifica a composição da atmosfera e que se
soma à variabilidade climática natural observada ao longo de escalas temporais
comparáveis. Ou seja, as mudanças climáticas podem ser decorrentes de processos
internos naturais, forçantes externas naturais, ou mudanças antropogênicas
persistentes na composição atmosférica e no uso da terra (BARRY; CHORLEY, 2017).
Assim, apesar de o aquecimento do planeta ser um processo natural, a ação
do homem acelera esse processo pelo desflorestamento para expansões agrícola,
urbana e industrial, e, sobretudo, por meio do lançamento de CO2 na atmosfera. Os
impactos causados pela atuação humano são denominadas ações antropogênicas
(GROTZINGER; JORDAN, 2013).

83
Portanto, as emissões humanas de carbono estão intensificando o efeito estufa
pelo aumento da concentração de CO2 na atmosfera, e parte desse CO2 dissolve-se
nos oceanos, onde se combina com a água para formar ácido carbônico. Essa
acidificação oceânica está reduzindo a capacidade que os crustáceos e os corais têm
de calcificar suas conchas e esqueletos, e pode afetar de modo adverso muitos outros
tipos de organismos marinhos, prejudicando os ecossistemas marinhos. De acordo
com Grotzinger e Jordan (2013), a biodiversidade de ecossistemas continentais está
em declínio em razão da perda de hábitat e dos efeitos do aquecimento global, de
forma que a rápida taxa atual de extinção de espécies pode, por fim, levar a uma
redução da biodiversidade equivalente às extinções em massa do passado.
Dessa forma, as mudanças climáticas afetam, sobremaneira, os recursos
hídricos. Por exemplo, com relação ao uso do solo, o desmatamento pode afetar o
escoamento superficial de uma bacia hidrográfica, alterando a vazão e a qualidade da
água, o que impacta a sobrevivência dos animais no hábitat, o fornecimento para
consumo, etc. Assim, de forma genérica, a associação entre desmatamento e
aquecimento global ameaça a sobrevivência das comunidades de peixes, que
necessitam de um hábitat com temperatura adequada para sobreviver. Segundo Val
e Almeida-Val (2008), se mantidas as taxas atuais de desmatamento, entre 2% e 8%
das espécies poderiam desaparecer nas próximas duas décadas. Além disso, o
aquecimento global influencia diretamente o regime pluviométrico, provocando
inundações em diversos locais e secas severas em outros, como comentamos na
introdução deste capítulo.

84
Mas não é só isso. As várias consequências do efeito estufa incluem
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2018):
 O derretimento das calotas polares e o consequente aumento do nível do mar;
 O comprometimento da segurança alimentar, prejudicando as colheitas e a
pesca;
 A extinção de espécies e danos a diversos ecossistemas;
 Perdas de terras em decorrência do aumento do nível do mar, que provocará,
também, ondas migratórias;
 A escassez de água em algumas regiões;
 Inundações nas latitudes do Norte e no Pacífico Equatorial;
 Riscos de conflitos em virtude da escassez de recursos naturais;
 Problemas de saúde provocados pelo aumento do calor.

7.2 O Brasil no meio de tudo isso

O Brasil, quinta maior nação do mundo, é o país com maior disponibilidade


hídrica do planeta, com cerca de 12% da água doce mundial. Por outro lado, é o
sétimo maior produtor mundial de gases de efeito estufa, apesar de ter um exemplar
sistema de produção de eletricidade. Milz (2019) afirma que a utilização do solo na
agricultura é responsável por quase a metade dessas emissões, das quais grande
parte se deve à dizimação das matas.
Acerca do desmatamento, além da retirada da vegetação, da degradação do
solo e do aumento do escoamento superficial, os gases liberados durante os
incêndios, muitos deles criminosos, contribuem significativamente para o efeito estufa.
No Brasil, por exemplo, o ano de 2020 foi marcado por números recordes de
desmatamento na Amazônia e no Pantanal, destruindo importantes hotspots 1 da
biodiversidade e devastando espécies inteiras. Mesmo sendo considerada uma das
maiores áreas úmidas do planeta, a planície pantaneira vem apresentando secas
severas, que culminam na disseminação de focos de incêndio. Esses eventos

1O termo hotspots é utilizado para designar lugares que apresentam uma grande riqueza natural e
uma elevada biodiversidade, mas que, no entanto, encontram-se ameaçados de extinção ou que
passam por um corrente processo de degradação. Trata-se dos lugares do planeta onde a conservação
de suas feições naturais faz-se mais urgente.
85
demonstram como o aquecimento global afeta no regime pluviométrico e traz impactos
severos à biodiversidade (AMAZÔNIA..., 2020).

Além disso, o desmatamento da Amazônia impede a formação de massas de


ar carregadas de vapor da água, que levam a umidade da Amazônia ao Centro-Oeste,
ao Sudeste e ao Sul do Brasil. Tal evento é denominado “rios voadores” e está sendo
diretamente ameaçado pelas ações antrópicas. Um exemplo disso é a escassez
hídrica vivenciada pela cidade de São Paulo em 2014.

7.3 Os oceanos e o gás carbônico

Os oceanos possuem papel fundamental na absorção de CO2, sendo


considerados grandes sumidouros desse gás. Nascimento ([2017]) salienta que as
macroalgas e os fitoplânctons (seres marinhos) realizam fotossíntese para converter
CO2 em açúcares da mesma forma como o fazem as plantas terrestres. Estima-se
que os oceanos retiram, da atmosfera, cerca de 1/3 do carbono emitido pela atividade
humana, o que corresponde a aproximadamente dois bilhões de toneladas métricas
por ano. Assim, o processo natural de fotossíntese, seja em ecossistemas terrestres

86
ou aquáticos, ajuda a diminuir consideravelmente a quantidade de CO2 na atmosfera
(NASCIMENTO, [2017]).
Além dos oceanos, áreas costeiras como mangues e marismas fornecem
inúmeros benefícios e serviços essenciais para a adaptação às mudanças climáticas
ao longo das costas em todo o mundo, incluindo proteção contra inundações e o
aumento do nível do mar, prevenção da erosão costeira, manutenção da qualidade da
água costeira, fornecimento de hábitat para pescas comerciais e espécies marinhas
ameaçadas, e segurança alimentar para muitas comunidades costeiras. Além disso,
esses ecossistemas sequestram e armazenam quantidades significativas de carbono
azul costeiro da atmosfera e do oceano, e, portanto, agora são reconhecidos por seu
papel na mitigação das mudanças climáticas.
O carbono azul (blue carbon) se refere a todo carbono que é capturado da
atmosfera e é armazenado nos ecossistemas costeiros (ECYCLE, c2017). Estima-se
que áreas oceânicas e costeiras apresentem taxas significativamente mais altas de
absorção de carbono do que as florestas terrestres. Os depósitos de carbono
acumulados dentro desses sistemas são armazenados acima do solo na biomassa
das plantas (troncos de árvores, caules e folhas), abaixo do solo na biomassa da
planta (sistemas radiculares e rizomas) e nos solos orgânicos ricos em carbono,
típicos desses ecossistemas (Figura abaixo).

Manguezais e pântanos salgados ao longo de nossa costa “capturam e retêm” carbono, agindo como
sumidouros de carbono. Esses sistemas costeiros, embora muito menores que as florestas,
sequestram o carbono em um ritmo muito mais rápido e podem continuar a fazê-lo por milhões de
anos. A maior parte do carbono absorvido por esses ecossistemas é armazenada abaixo do solo.
Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration (2019, documento on-line).
87
Entretanto, apesar da importância desses ambientes no sequestro de carbono,
nos últimos 50 anos, entre 30–50% dos manguezais foram perdidos e continuam a
ser perdidos a uma taxa de 2% ao ano (ECYCLE, c2017). As principais causas de
destruição dos ecossistemas de mangue incluem o desmatamento e o aterro para a
inserção urbana e industrial, a criação de tanques de aquicultura e outras formas de
desenvolvimento costeiro insustentável.
Macreadie et al. (2019) descrevem três abordagens amplas de gestão para a
conservação desses ambientes e a garantia do sequestro de carbono como método
mitigador das mudanças climáticas:
1. preservação;
2. restauração;
3. criação.

A preservação da qualidade e da extensão das áreas costeiras, por meio de


proteção legislativa e/ou apoio a meios de subsistência alternativos, por exemplo, tem
o benefício duplo de evitar a remineralização de carbono historicamente sequestrado
ao mesmo tempo que protege a capacidade de sequestro futura. A preservação pode
incluir abordagens diretas ou indiretas para manter ou melhorar os processos
biogeoquímicos, como sedimentação e abastecimento de água (MACREADI et al.,
2019).
A restauração pertence a uma gama de atividades que buscam melhorar os
processos biofísicos e geoquímicos (e, portanto, a capacidade de sequestro) nos
ecossistemas de carbono azul. Exemplos incluem reflorestamento passivo e/ou ativo
de manguezais explorados e degradados, intervenções de terraplenagem para
devolver lagoas de aquicultura aos ecossistemas de mangue e a restauração da
hidrologia em planícies de inundação costeiras drenadas. De acordo com Macreadi et
al. (2019), embora a restauração possa restabelecer os processos de sequestro de
carbono, é importante notar que ela pode não evitar que grandes quantidades de
carbono sejam perdidas após distúrbios ou intervenções futuras.
Por fim, a criação compreende incentivos à pesquisa e o desenvolvimento de
métodos e de técnicas capazes de proteger esses ambientes, garantindo um pleno
funcionamento destes ecossistemas (MACREADI et al., 2019).

88
7.4 A dinâmica dos mares e a ocupação de áreas litorâneas

As linhas de costa do mundo servem como barômetros para as iminentes


mudanças causadas por muitos tipos de atividades humanas. A poluição dos nossos
cursos d’água nos continentes, cedo ou tarde, chega às praias, assim como o chorume
dos lixões das cidades e o óleo de lavagem de tanques em alto-mar são levados à
costa. À medida que a ocupação imobiliária e as construções ao longo das linhas
costeiras expandem-se, veremos a diminuição continuada e, mesmo, o
desaparecimento de algumas de nossas mais belas praias (Figura 4). Da mesma
forma, também veremos efeitos consideráveis em nossas praias à medida que o
aquecimento global causar a subida do nível do mar (GROTZINGER; JORDAN, 2013).

A urbanização excessiva em Balneário Camboriú, Santa Catarina, vem diminuindo a faixa de areia da
praia central.
Fonte: Passaporte Oficina (2019, documento on-line).

De fato, durante o século XX, o nível do mar subiu em torno de 200 mm e está
atualmente aumentando a uma taxa aproximada de 3 mm por ano. O aumento do nível
do mar é uma ameaça grave à sociedade humana, pois poderia inundar deltas, atóis
e outros terrenos baixos costeiros, além de erodir praias, aumentar as cheias costeiras
e ameaçar a qualidade da água em estuários e aquíferos, comprometendo a
segurança de 745 milhões de pessoas em todo o mundo (NASCIMENTO, [2017]).

89
A verdade é que mudanças lentas no meio ambiente, como a acidificação dos
oceanos, a desertificação e a erosão costeira, também estão afetando diretamente os
meios de subsistência das pessoas e sua capacidade de sobreviver em seus locais
de origem. Essas populações são chamadas de refugiados climáticos, grupos que
acabam migrando para locais de podem ofertar subsídios para a manutenção da vida.
No Brasil, por exemplo, devido à escassez de água, muitos povos migram do
interior nordestino para cidades do Sudeste, fugindo das secas. A pouca incidência
ou, mesmo, a ausência de chuvas torna os solos improdutivos e inviabiliza a criação
de animais. Políticas públicas ineficazes também agravam essa situação:

[...] o estudo “Mudanças no padrão espaço-temporal de secas no nordeste


brasileiro”, publicado na Atmopsheric Science Letters, no ano passado,
revelou que a seca, entre 2012 e 2017, foi a pior em 30 anos e prejudicou a
população de 24 milhões de pessoas que vive na região, promovendo
milhares de deslocamentos, em especial para a região Sudeste, algo que já
ocorria em determinados períodos, desde a década de 1990. [...] O
levantamento alerta que a combinação de alta variabilidade espacial e
temporal das chuvas, falta de irrigação, degradação da terra devido ao
manejo inadequado do solo e a pobreza em larga escala nas áreas rurais
tornam a região uma das áreas mais vulneráveis do mundo aos impactos das
mudanças climáticas (RESK, 2019, documento on-line).

Conforme a Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados


(ACNUR), desde o ano de 2009, estima-se que, a cada segundo, uma pessoa é
deslocada em razão de um desastre ambiental. Em 2018, foram registrados, no
mundo, 17 milhões de novos deslocamentos relativos a desastres naturais e a
mudanças climáticas. E as previsões são alarmantes. A mudança climática deverá
expulsar 140 milhões pessoas de suas casas, o que reforça que não é mais possível
desconsiderar essa questão nas agendas das políticas públicas dos países (RESK,
2019).
Diante dos fatos, é perceptível que os fenômenos climáticos vão além de
questões naturais, interferindo diretamente nos fenômenos humanos. É necessário
sensibilizar-se com essas questões em prol de um ensino crítico, que promova a
busca por políticas públicas eficientes, minimizando impactos negativos na vida
humana.

90
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