Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HIDROGEOGRAFIA
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
consequências .......................................................................................................... 27
1
4.5 Instrumentos para minimização dos impactos .................................................. 51
6 LIMNOLOGIA ........................................................................................................ 67
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 91
3
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
4
2 INTRODUÇÃO À HIDROGEOGRAFIA
5
inundação. Pequenas inundações são comuns e geralmente causam poucos danos,
mas os episódios de maior proporção que ocorrem com intervalo de algumas décadas
podem ser bastante destrutivos.
Há cerca de 4 mil anos, as cidades começaram a se estabelecer nas planícies
de inundação ao longo do rio Nilo, no Egito, nas terras da antiga Mesopotâmia, entre
os rios Tigre e Eufrates, e, na Ásia, ao longo do rio Indo, na Índia, e do Yang-Tsé e
Huang Ho (Amarelo), na China. Posteriormente, muitas das capitais da Europa foram
construídas sobre planícies de inundação: Roma, na margem do Tibre; Londres, ao
longo do rio Tâmisa; e Paris, junto ao Sena. Entre as cidades da América do Norte
construídas em planícies de inundação, podem ser citadas Saint Louis, ao longo do
rio Mississippi; Cincinnati, junto ao rio Ohio; e Montreal, margeando o rio Saint
Lawrence. As enchentes periodicamente destruíram partes dessas cidades antigas e
modernas que se localizavam nas regiões mais baixas das planícies de inundação,
mas seus habitantes sempre as reconstruíram (GROTZINGER; JORDAN, 2013).
Atualmente, muitas das maiores cidades estão protegidas por diques artificiais
que reforçam e elevam os diques naturais dos rios. Além disso, sistemas extensivos
de barragens podem ajudar a controlar as inundações que afetam essas cidades, mas
são incapazes de eliminar completamente os riscos. Em 1973, o Mississippi causou
sérios problemas em uma enchente que durou 77 dias consecutivos em Saint Louis,
Missouri (EUA). O rio alcançou uma altura recorde de 4,03 m acima do nível de
inundação.
Em 1993, o Mississippi e seus tributários saíram novamente de seus leitos e
ultrapassaram os registros mais antigos, resultando em uma devastadora enchente, a
segunda pior da história dos Estados Unidos, como foi oficialmente considerada (atrás
da enchente de Nova Orleans causada pela elevação da maré que se seguiu ao
furacão Katrina em 2005).
Essa cheia ocasionou 487 mortes e prejuízos materiais de mais de 15 bilhões
de dólares. Em Saint Louis, o Mississippi ficou acima do nível normal durante 144 dos
183 dias que existem entre abril e setembro. Um resultado inesperado dessa
inundação foi a dispersão de poluentes, que ocorreu quando a água da cheia lavou
os agrotóxicos das fazendas e depositou-os nas áreas inundadas. Descobrir como
proteger a sociedade contra inundações apresenta alguns problemas complexos.
6
Alguns geólogos acreditam que a construção de diques artificiais para confinar o
Mississippi contribuiu para que a inundação atingisse níveis tão elevados.
O rio não pode mais erodir suas margens e alargar seu canal para acomodar
parte da quantidade adicional de água que flui durante os períodos de maior vazão.
Além floresceram há milhares de anos. Atualmente, a grande e larga planície de
inundação do Ganges, no norte da Índia, continua a ter um papel importante na vida
e na agricultura daquele país. Muitas cidades antigas e modernas estão localizadas
em planícies de inundação (Grotzinger e Jordan, 2013).
3 BACIA HIDROGRÁFICA
A bacia hidrográfica pode ser pequena ou possuir uma grande região, drenada
por um rio principal e seus tributários. Por um terreno em declive, a água de diversas
fontes como rios, ribeirões, córregos e outros desaguam em um determinado rio,
formando, assim, uma bacia hidrográfica. Dessa forma, uma bacia hidrográfica é
formada por um rio principal, podendo ser mais de um, e um conjunto de afluentes
(cursos d’água menores) que desaguam no rio principal.
7
A bacia hidrográfica é uma unidade territorial muito importante nos estudos
ambientais, sobretudo os que envolvem questões hidrológicas. É sobre a bacia que
desenvolvemos nossas atividades e que transformamos os espaços, os quais refletem
diretamente na condição ambiental da bacia e, consequentemente, de seus rios
(SAGAH, 2018).
8
Leito menor: é o leito do rio propriamente dito, por ser bem encaixado e
delimitado, caracterizando-se também como a área de ocupação da água em
época de cheia.
Leito maior: denominado também como planície de inundação, é nessa área
que ocorrem as cheias mais elevadas, denominadas enchentes.
9
Características geológicas: tem relação direta com a infiltração,
armazenamento da água no solo e com a suscetibilidade de erosão dos solos.
Características agroclimáticas: são caracterizadas principalmente pelo tipo
de precipitação e pela cobertura vegetal.
A análise de uma bacia hidrográfica deve partir de uma visão sistêmica, capaz
de medir a dinâmica e a interação entre os elementos, pois se trata de uma unidade
complexa, de um espaço onde tudo está conectado por seu fluxo (Grotzinger e Jordan,
2013).
De forma resumida, as bacias hidrográficas são unidades territoriais definidas
por componentes do meio físico, essencialmente o relevo e a hidrografia, o que as
diferencia das unidades administrativas, que são delimitadas por critérios políticos,
administrativos, econômicos, etc. (Figura abaixo).
10
Conforme Grotzinger e Jordan (2013), toda elevação entre dois rios, que meça
poucos metros ou milhares, forma um divisor de águas, uma crista ou terreno alto de
onde toda a água da chuva escoa, para um ou outro lado. Assim, uma bacia
hidrográfica é uma área do terreno limitada por divisores que vertem toda sua água
para a rede de rios que a drenam.
Complementarmente, Borsato e Martoni (2004) definem bacia hidrográfica
como uma área limitada por um divisor de águas, que a separa de outras bacias
limítrofes e serve de captação natural da água de precipitações por meio de
superfícies vertentes, que, por uma rede de drenagem, fazem convergir os
escoamentos para a seção de exutório, ou foz, seu único ponto de saída. Por sua vez,
Christofoletti (1980, p. 19) afirma que a bacia hidrográfica é entendida como “[...] uma
área drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial, funcionando como um
sistema aberto, em que ocorre a entrada e saída de energia e matéria”.
Lima e Zakia (2000) também consideram as bacias hidrográficas sistemas
abertos, que recebem energia por meio de agentes climáticos e perdem energia por
meio do deflúvio, de forma que qualquer modificação no recebimento ou na liberação
de energia pode acarretar uma mudança compensatória que tende a minimizar o
efeito da modificação e restaurar o estado de equilíbrio dinâmico. As bacias
hidrográficas são classificadas em quatro tipos, de acordo com o escoamento global,
ou seja, com base no lugar onde deságuam (CHRISTOFOLETTI, 1980).
11
É comum encontrarmos o termo sub-bacias, o qual se refere a bacias
hidrográficas dentro de bacias maiores. Um exemplo é a bacia hidrográfica do Alto
Tietê, cujas sub-bacias servem para definir unidades de planejamento, já que tratar
da bacia inteira seria bastante complexo, por seu tamanho (Figura abaixo).
12
De acordo com Botelho e Silva (2004), a partir da década de 1990, a bacia
hidrográfica passou a ter um maior significado como unidade de análise de
planejamento ambiental, sendo possível avaliar, de forma integrada, as ações
antrópicas no ambiente e as consequências disso para o equilíbrio hidrológico. Nesse
contexto, as bacias hidrográficas são células básicas da análise ambiental, nas quais
a visão sistêmica e integrada do ambiente está implícita:
O fato é que a qualidade das águas superficiais tem sido afetada em muito
pelas atividades produtivas ou por seus reflexos (poluição por esgotos,
derramamentos acidentais de produtos tóxicos em vias de transporte,
disposição inadequada de rejeitos sólidos, etc.). A bacia hidrográfica é
justamente o palco dessas ações e degradações, refletindo sistemicamente
todos os efeitos. A identificação da bacia como unificadora dos processos
ambientais e das interferências humanas tem conduzido à aplicação do
conceito de gestão de bacias hidrográficas, dando ao recorte destas um novo
significado (LIMA, 2005, p. 179).
13
Com isso, é fundamental saber delimitar uma bacia hidrográfica, identificando
o fluxo que a água percorre. Para delimitar uma bacia, deve-se seguir as etapas
abaixo (SPERLING, 2007):
1. Definir o ponto inicial (exutório) a partir do qual será feita a delimitação da bacia.
O exutório está situado na parte mais baixa do trecho do curso d’água principal.
2. Realizar a marcação do curso d’água principal e dos tributários (os quais
cruzam as curvas de nível, das mais altas para as mais baixas, para a definição
dos fundos de vale).
3. Iniciar a delimitação da bacia hidrográfica a partir do exutório, conectando os
pontos mais elevados, com base nas curvas de nível. O limite da bacia circunda
o curso d’água e as nascentes de seus tributários.
4. Verificar, nos topos dos morros, se a chuva que cai do lado de dentro do limite
realmente escoará sobre o terreno rumo às partes baixas, cruzando
perpendicularmente as curvas de nível em direção ao curso da água em estudo.
Se a inclinação do terreno estiver voltada para a direção oposta das drenagens,
é porque pertence a outra bacia. Dentro da bacia, poderá haver locais com
cotas mais altas do que as cotas dos pontos que definem o divisor de águas da
bacia.
5. Diferenciar os talvegues dos divisores de águas (Figura abaixo). Os talvegues
são depressões (vales), representadas graficamente, onde as curvas de nível
apresentam a curvatura contrária ao sentido da inclinação do terreno, indicando
que, nesses locais, ocorre concentração de escoamento. Os divisores de água
são representados pelo inverso de um talvegue, no qual as curvas de nível
apresentam curvatura voltada para o sentido da inclinação do terreno, sobre a
qual as águas escoam no sentido ortogonal às curvas em direção aos
talvegues.
14
Delimitação de uma bacia hidrográfica.
Fonte: Adaptado de Sperling (2007).
15
Dendrítico: é o mais comum, assemelhando-se à distribuição dos galhos de
uma árvore. Ocorre quando a rocha do substrato é homogênea, formada
apenas por granito, por exemplo, ou no caso de rochas sedimentares com
estratos horizontais.
Paralelo: encontrado em regiões com fortes declividades, onde as estruturas
do substrato orientam-se segundo a inclinação do terreno.
Radial: a drenagem se distribui em todas as direções com origem em um ponto
central, como os de um cone vulcânico.
Treliça: quando a drenagem tem um arranjo retangular, mas os afluentes são
paralelos entre si. Ocorre em regiões com substrato rochoso com alternância
de rochas mais ou menos resistentes em faixas paralelas, com planos de
fraqueza ortogonais (Riccomini et al. 2009).
Padrões de drenagem
Fonte: Riccomini et al. (2009, p. 310).
16
As rochas também têm papel fundamental na determinação do sentido do fluxo
das águas dos rios, como os instalados em terrenos de rochas sedimentares
(RICCOMINI et al., 2009).
Rios consequentes: seu fluxo segue a declividade do terreno. Por exemplo:
rio Tietê no trecho sobre terrenos sedimentares da bacia do Paraná.
Rios subsequentes: seu fluxo é controlado por descontinuidades do substrato,
como falhas, juntas e presença de rochas menos resistentes. Por exemplo: rio
Passa Cinco na região de Itirapina e Ipeúna (estado de São Paulo).
Rios obsequentes: seu fluxo é no sentido oposto da inclinação das camadas.
Na maioria dos casos, são de pequena extensão. Por exemplo: drenagens que
descem as serras de Botucatu, São Pedro e São Carlos, no interior paulista.
Rios insequentes: não apresentam controle geológico reconhecível, sendo
relacionados à presença de rochas homogêneas ou de camadas sedimentares
horizontais. Por exemplo: rios meandrantes, como o baixo curso do Ribeira de
Iguape, no estado de São Paulo.
17
A vegetação também é um elemento que tem forte influência na forma que terá
o canal de drenagem. Rios com vegetação em suas margens costumam ter padrões
meandrantes e anastomosados, uma vez que as raízes fixam o solo e diminuem a
ação dos processos erosivos. Já nas margens sem vegetação, há predomínio de rios
entrelaçados (RICCOMINI et al., 2009).
18
Mensuração da forma de bacias hidrográficas.
Fonte: Christofoletti (1980, p. 114).
19
Em um mesmo ambiente climático, o comportamento hidrológico das rochas
repercute na densidade de drenagem. Nas rochas onde a infiltração encontra
maior dificuldade há condições melhores para o escoamento superficial,
gerando possibilidades para a esculturação de canais, como entre as rochas
clásticas de granulação fina e, como consequência, densidade de drenagem
mais elevada. O contrário ocorre com as rochas de granulometria grossa
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 116).
Com isso, quanto maior for a densidade de drenagem, maior será a capacidade
da bacia hidrográfica de fazer escoamentos rápidos no exutório, bem como deflúvios
de estiagem baixos (TUCCI, 2004). Outra variável morfométrica importante é a
densidade de segmentos da bacia hidrográfica, ou seja, o número de canais fluviais
em relação a sua área de contribuição. De acordo com Christofoletti (1980), deve-se
aplicar o sistema de ordenação dos canais criado por Strahler e somar a quantidade
de segmentos de todas as ordens da bacia hidrográfica, aplicando a fórmula Fx =
Ʃni/A, onde ni representa o número de segmentos de determinada ordem e A é a área
da bacia hidrográfica.
A densidade de segmentos e a densidade de drenagem podem variar de
acordo com as características específicas da textura topográfica, cuja formação
envolve a geologia, o clima, a topografia e o uso e a ocupação do solo da área. Com
isso, é possível encontrar bacias com a mesma densidade de drenagem, mas com
frequências diferentes de segmentos, e bacias com igual densidade de segmentos,
mas com densidade de drenagem diferente (CHRISTOFOLETTI, 1980).
A bacia hidrográfica também apresenta forte relação com o relevo,
considerando o relacionamento entre a amplitude altimétrica máxima da bacia
(variação das altitudes mínima e máxima) e a maior extensão da referida bacia,
medida paralelamente à principal linha de drenagem (CHRISTOFOLETTI, 1980). A
fórmula que expressa a relação do relevo é Rr = Hm/Lh, onde Hm é a amplitude
altimétrica máxima e Lh é o comprimento da bacia hidrográfica.
O índice de rugosidade também expressa aspectos de análises a partir do
relevo, mais especificamente com as variáveis topográficas, como a declividade, o
comprimento das vertentes e a densidade de drenagem, expressando como um
número adimensional, que resulta do produto entre a amplitude altimétrica (H) e a
densidade de drenagem (Dd), com base na equação Ir = H × Dd.
Com isso, se a densidade de drenagem aumenta e o valor da amplitude
altimétrica permanece constante, a distância horizontal média entre a divisória e os
canais adjacentes será reduzida, acompanhada de aumento na declividade da
20
vertente. E se o valor da amplitude altimétrica aumenta enquanto a densidade de
drenagem permanece constante, também aumentarão as diferenças altimétricas entre
o interflúvio e os canais e a declividade das vertentes.
É fundamental também conhecer o coeficiente de manutenção, um índice que
tem a finalidade de fornecer a área mínima necessária para a manutenção de um
metro de canal de escoamento, sendo um dos valores numéricos mais importantes
para a caracterização do sistema de drenagem. Pode ser calculado com a fórmula Cm
= 1/Dd × 1.000, onde Cm é o coeficiente de manutenção e Dd é o valor da densidade
de drenagem (expresso em metros). Por exemplo, o km² da bacia hidrográfica
representaria a área dessa unidade dividida pela densidade da drenagem
(CHRISTOFOLETTI, 1980).
Os aspectos morfométricos de uma bacia hidrográfica influenciam seu
comportamento hidrológico e os fenômenos, que podem ocorrer com maior ou menor
intensidade, como inundações, enxurradas e processos erosivos, por exemplo.
Todas as regiões hidrográficas do País são importantes, pois cada uma delas
é composta por um conjunto de bacias e de sub-bacias hidrográficas que banham
aquela região e que são responsáveis pelo abastecimento de água de cidades, de
comunidades e de localidades rurais.
São fundamentais, ainda, para o desenvolvimento de diversas atividades
econômicas, como a geração de energia, a pesca, o turismo e a agricultura, e para a
manutenção da vida de espécies vegetais e de animais das localidades drenadas por
suas águas.
21
Divisão das bacias hidrográficas.
Fonte: (ANA, 2007a)
22
De acordo com a ANA (2017), a região hidrográfica amazônica ocupa 45% do
território nacional em sete estados (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará
Amapá e Mato Grosso). Ainda conforme a ANA (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E
SANEAMENTO BÁSICO, 2017, documento on-line), a região hidrográfica em questão:
Possui uma extensa rede de rios com grande abundância de água, sendo os
mais conhecidos: Amazonas, Xingu, Solimões, Madeira e Negro. A densidade
populacional é 10 vezes menor que a média nacional, entretanto, a região
concentra 81% da disponibilidade de águas superficiais do país. Cerca de
85% da área da RH Amazônica permanece com cobertura vegetal nativa.
23
Outra região hidrográfica de fundamental importância para o Brasil é a região
hidrográfica do Tocantins-Araguaia, a maior bacia hidrográfica totalmente brasileira.
De acordo com o MMA (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006b), ocupa,
aproximadamente, 11% do território brasileiro, abrangendo os estados de Goiás,
Tocantins, Maranhão, Pará, Distrito Federal e Mato Grosso. Essa região hidrográfica
drena parte de dois biomas importantes no País: o Cerrado e a Amazônia.
Segundo o MMA (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006b), grande parte da
região hidrográfica Tocantins-Araguaia possui um ecossistema bastante frágil, tendo
o cerrado como bioma de sua maior área de abrangência.
É importante ressaltar que esse bioma é fundamental para o armazenamento
e a qualidade dos recursos hídricos subterrâneos nessa região. De acordo com o
estudo realizado pelo MMA:
24
Imagem do Cerrado
Fonte de: www.ecoa.org.br
25
hídricos: abastecimento urbano, conflitos pelo uso da água, qualidade da água e
vulnerabilidade a inundações.
Além das bacias hidrográficas destacadas, é imprescindível mencionar a
importância, tanto nacional quanto regional, da Bacia do São Francisco, que drena
parte das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Por abranger parte das
três regiões administrativas, a região hidrográfica do São Francisco é caracterizada
por fortes contrastes socioeconômicos, contemplando tantas áreas de alta densidade
demográfica e riqueza quanto áreas de pobreza extrema e baixa densidade
demográfica.
26
encontra no semiárido, além de ao abastecimento urbano, à qualidade da água, à
irrigação e aos potenciais hidrelétrico e de navegação.
Conforme já mencionado, cada região hidrográfica possui geografias física e
humana únicas, com aspectos socioeconômicos e socioambientais diferentes, que
caracterizam suas dinâmicas socioespaciais. Apesar de existirem estudos que tratem
dessas regiões, dentro de cada grande área de uma região hidrográfica existem
diversas sub-bacias, micro bacias hidrográficas que carecem de estudos e de análises
para servir de subsídio ao planejamento e ao ordenamento territorial dessas áreas.
27
No Brasil, bacias hidrográficas com altos graus de poluição e de impactos
ambientais como as bacias dos Rios Tietê, Sinos, São Francisco e Rio Doce carecem
de análises e de estudos que visem mitigar os impactos ambientais nessas áreas.
Botelho e Silva (2004) mostram exemplos de bacias hidrográficas onde estudos
integrados poderiam contribuir para a avaliação dos impactos ambientais, como as
bacias dos Rios Piracicaba e Paraíba do Sul, em São Paulo. Segundo Botelho e Silva
(2004, p. 153):
28
Poluição no Rio Mindu, em Manaus (AM). Com a chuva, a quantidade de lixo fica mais evidente.
Fonte: Pereira (2018, documento on-line).
Para Guerra e Cunha (1993), bacia hidrográfica é uma unidade que integra os
setores naturais e sociais, de forma que as mudanças que acontecem em qualquer
um desses setores são capazes de gerar alterações e impactos a jusante, bem como
nos fluxos de energia de saída de uma bacia hidrográfica. Segundo os autores, as
mudanças que ocorrem no interior de uma bacia podem, sim, ser resultado das
dinâmicas naturais, mas as atividades antrópicas aceleram os processos e acabam
por gerar desequilíbrios nesses ambientes.
No Brasil, temos muitos exemplos de impactos ambientais associados a bacias
hidrográficas, mas chamam a atenção aqueles que envolvem perdas humanas e
devastação ambiental, que são os casos de Mariana (MG) e Brumadinho (MG), dois
municípios com atividades de mineração instaladas a montante de bacias
hidrográficas.
Em novembro de 2015, o município de Mariana foi palco de uma das maiores
tragédias ambientais já ocorridas em solo brasileiro: a barragem de rejeitos de
mineração com o nome de Fundão, controlada por três grandes empresas do ramo
(Samarco Mineração S.A., Vale S.A. e BHP Billiton), rompeu-se e despejou um volume
de aproximadamente 62 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério nas águas
do Rio Doce, rio de extrema importância para a região sudeste do País, pois serve
29
para o abastecimento de água, para a pesca, para o sustento de comunidades
ribeirinhas, para o turismo, etc. O desastre deixou um rastro de destruição jamais visto,
impactando ecossistemas inteiros, flora, fauna e comunidades ribeirinhas.
Três anos depois, novamente o estado de Minas Gerais foi protagonista nos
noticiários, com o rompimento de outra barragem de rejeitos de mineração, a
barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, despejando um volume de
cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos, que contaminaram do Rio
Paraopeba (Figura abaixo) até o Rio São Francisco. Esse rompimento impactou
importantes ecossistemas, tendo um grande impacto social com a morte de mais de
250 pessoas e causando enorme devastação ambiental e de comunidades ribeirinhas.
Poluição no Rio Paraopeba em Minas Gerais, após o rompimento da barragem da mina Córrego do
Feijão.
Fonte: Christyam de Lima/Shutterstock.com.
30
3.7.1 Dez rios mais poluídos do Brasil
31
Diversos são os exemplos de bacias hidrográficas com os mais diferentes tipos
de poluição e impactos ambientais. Com relação à região hidrográfica do Tocantins-
Araguaia, chama a atenção a contaminação dos recursos hídricos subterrâneos,
consequência dos impactos ambientais que ocorrem no bioma Cerrado. De acordo
com o MMA (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006, documento on-line):
32
Com relação à regulação, a ANA é responsável por emitir outorgas
regulamentando o uso de recursos hídricos em rios e corpos d’água pertencentes à
União. Também fiscaliza os usos dos recursos hídricos, fazendo valer o cumprimento
da legislação sobre os usos desses recursos. O serviço de monitoramento oferecido
pela ANA permite o acesso a boletins e a informações importantes para a tomada de
decisão das autoridades responsáveis pela prevenção dos desastres ambientais
causados por inundações e secas no território brasileiro. Sobre os usos das águas no
Brasil, a ANA (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, [2019], documento on-line) afirma
que:
A retirada total de água estimada em 2018 foi de 2.048 m³/s. O principal uso
de água no país, em termos de quantidade utilizada, é a irrigação (49,8%),
seguida pelo abastecimento humano (24,4%) e pela indústria (9,6%). Juntos,
representaram cerca de 85% da retirada total. Outras utilizações
consideradas foram o atendimento aos animais (8,0%), as termelétricas
(3,8%), o suprimento rural (1,7%) e a mineração (1,6%). A demanda por uso
de água no Brasil é crescente, com aumento estimado de aproximadamente
80% no total retirado nas últimas duas décadas. A previsão é de que até 2030
a retirada aumente em 24%. O histórico da evolução dos usos da água está
diretamente relacionado ao desenvolvimento econômico e ao processo de
urbanização do País.
33
A Constituição de 1988 estabeleceu os fundamentos básicos para a PNRH,
voltada à promoção democrática da sustentabilidade ambiental. Uma das
prerrogativas da governança deve estar centrada na concretização dos direitos
humanos e no acesso à água com equidade. Uma das marcas da PNRH é a
contribuição para políticas públicas com lastro no desenvolvimento sustentável,
estabelecendo que a água é um bem de domínio público, ou seja, é um recurso natural
que deve contemplar toda a coletividade. Conforme o art. 1º da PNRH (BRASIL, 1997,
documento on-line):
O que se observa, porém, é que as ações estatais nem sempre vão ao encontro
dos interesses da PNRH.
A complexidade do papel do Estado revela o entrave no gerenciamento dos
recursos naturais e, no caso específico dos recursos hídricos, a pressão exercida
pelos interesses das corporações que cooptam o Estado para atender a seus
interesses privados, seguindo as lógicas neoliberais. A execução de ações
governamentais voltadas aos interesses de alguns grupos econômicos, sobretudo em
países subdesenvolvidos, reforça a necessidade de uma governança global da água
de maneira ajustada.
35
Esses grupos de gestão, que são responsáveis por discussões e deliberações
acerca dos recursos hídricos em bacias hidrográficas, avaliam os interesses e os
conflitos de usos dos recursos hídricos e atuam na elaboração de políticas para gestão
das bacias hidrográficas. Os comitês de bacias hidrográficas são formados por
representantes do poder público (federal, estadual ou municipal), de usuários da água
e da sociedade civil (MEGIATO, 2020).
Veja, no Quadro abaixo, os comitês de bacias hidrográficas do estado de São
Paulo e dados levantados por cada comitê, como número de municípios, área,
população, etc.
36
O Brasil possui uma boa PNRH, atuando em diversas questões a respeito do
uso, da gestão e do gerenciamento dos recursos hídricos no País. Efetivamente,
porém, faltam políticas de fiscalização e de preservação dos mananciais hídricos para
que eles sejam utilizados de forma sustentável, a fim de garantir água potável e
recursos naturais no futuro. Estudos que façam análises e mapeamentos das bacias
hidrográficas a partir de uma lógica sistêmica devem ser realizados e publicados a fim
de chamar a atenção para as causas ambientais que envolvem essas áreas, visando
contribuir para a elaboração de políticas públicas de preservação dos recursos
hídricos e a mitigação dos impactos ambientais (MEGIATO, 2020).
Por sua vez, os Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs) têm, como objetivo,
promover fóruns para que os interesses comuns quanto ao uso da água sejam
pautados. Trata-se de um espaço em que representantes da comunidade de uma
bacia hidrográfica discutem e deliberam a respeito da gestão dos recursos hídricos,
compartilhando responsabilidades de gestão com o poder público.
37
se, portanto, que a busca pelo desenvolvimento sustentável é um desafio quando se
trata do gerenciamento dos recursos hídricos.
Atender aos interesses dos segmentos que necessitam de água como recurso
para a produção agropecuária, industrial e comercial ao mesmo tempo que se
promove o acesso à água de qualidade para 100% da população é o desafio a ser
superado em meio a tantos (e divergentes) interesses econômicos e sociais.
A bacia hidrográfica é essencial para os seres humanos, pois nela ocorre toda
a dinâmica da água que utilizamos. Entre os usos das bacias estão (MEGIATO, 2020):
Consumo humano: é dos rios que a água para consumo é captada. Os usos
da água são o uso doméstico, o gasto público, através de edifícios públicos,
fontes ornamentais e proteção contra incêndios, o consumo comercial e o
industrial.
Criação de animais: a água é utilizada para cultivar as plantas que alimentam
o gado e também na hora do abate e produção da carne.
Uso agrícola e agroindustrial: na agricultura a água é utilizada para irrigar a
plantação e o futuro processamento dos produtos.
Uso energético: a água é utilizada para produção de energia por meio de
hidrelétricas.
Industrial ou mineração: o uso da água nas indústrias é feito desde a
incorporação do recurso nos produtos até a lavagem de materiais,
equipamentos e instalações, além da utilização em sistemas de refrigeração e
geração de vapor.
38
4 OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL
A água tem uma série de significados para a sociedade. Representa vida para
muitos, visto que na composição do ser humano integra aproximadamente dois terços
do corpo humano e atinge até 98% para certos animais aquáticos, legumes, frutas e
verduras, sendo considerado o constituinte inorgânico mais abundante na matéria viva
(LIBÂNIO, 2010).
Além disso, a água é um solvente universal e essencial para a manutenção da
vida no planeta, modificando-as e modificando-se em função destas. Um solvente é a
denominação dada a uma substância que pode dissolver outros compostos,
chamados de solutos. Ressalta-se a importância da água como solvente universal,
visto que a maioria das reações químicas ocorrem em soluções ou meios aquosos,
ou seja, é essencial para que essas reações ocorram. A água também pode ser
considerada um bem mineral, proveniente de fontes naturais ou de fontes
artificialmente captadas. Essas águas têm componentes químicos, como sais e gases,
dissolvidos nela.
Por fim, a água cobre 75% da superfície do nosso planeta e sua distribuição
nos continentes ocorre, conforme Libânio (2010), da seguinte forma:
a) Américas = 46%;
b) Ásia = 32%;
c) África = 9%;
d) Europa = 7%, e;
e) Austrália e Oceania = 28%.
39
Fonte de: www.sitedecuriosidades.com
40
terrestre e tem potencial para receber recarga direta de água por intermédio da
infiltração (AGÊNCIA..., 2017).
41
Os recursos hídricos podem estar apresentados, ainda, na forma de águas
subterrâneas. Conforme ANA (AGÊNCIA..., 2017), as águas subterrâneas
desempenham um papel importante no abastecimento de água para diversos usos,
em especial nos períodos de estiagem, sendo uma alternativa para a escassez hídrica.
Como vimos, a água pode ser classificada conforme a salinidade, sendo este
conceituado como a medida da quantidade de sais dissolvidos nas águas. De acordo
com Braga et al. (2005), a salinidade é o conjunto de sais dissolvidos na água, formado
por bicarbonatos, cloretos, sulfatos e, em menor quantidade, outros sais, que pode
conferir sabor salino e características incrustantes.
Esse índice é uma relação entre a quantidade de sal e uma medida de água
que pode ser expressa na forma de porcentagem (%), g/kg ou até mesmo por ppm
(partes por milhão), ppb (partes por bilhão) e ppt (partes por trilhão).
42
A Resolução Conama nº 357 (CONAMA, 2005) apresenta a classificação das
águas da seguinte forma:
Águas doces: apresentam salinidade igual ou inferior a 0,5%. Exemplos de
água doce são as contidas nos rios, nos lagos e na maioria dos lençóis
subterrâneos.
Águas salobras: apresentam salinidade superior a 0,5% e inferior a 30%. As
águas salobras ocorrem principalmente em estuários e lagunas.
Águas salinas: apresentam índices de salinidade igual ou superior a 30%. O
principal exemplo de água salina é a contida nos oceanos.
43
coliformes/100 mL em 80% ou de seis amostras coletadas em um ano, exceto
para o caso de uso da água para recreação de contato primário que deve
atender à legislação específica. Os padrões de qualidade devem atender ao
disposto na Resolução Conama nº 357 (CONAMA, 2005).
Classe 3: tem como principais condições de qualidade a ausência de efeitos
tóxicos agudos a organismos; ausência de materiais flutuantes, espumas, óleos
e graxas, substâncias que causem gosto e odor e resíduos sólidos objetáveis.
Os corantes de origem antrópica devem ser removidos por processos de
coagulação, sedimentação e filtração convencionais. A concentração de
DBO5,20 não deve exceder 10 mg/L; OD não pode ser inferior a 4 mgO2 /L;
turbidez de até 100 UNT; cor verdadeira de até 75 mg Pt/L; pH entre 6 e 9; e a
concentração de coliformes termotolerantes variará conforme o uso pretendido.
Para uso em recreação de contato secundário e dessedentação são
estabelecidos limites específicos. Para os demais usos, não exceder 4.000
coliformes/100 mL em 80% ou de seis amostras coletadas em um ano. Na
Resolução Conama nº 357 (CONAMA, 2005) constam os padrões de qualidade
para as demais substâncias.
Classe 4: as condições de qualidade de água para essa classe devem atender
ausência de materiais flutuantes e espumas, odor e aspecto não objetáveis.
Além disso, para óleos e graxas, são toleradas iridescências. No que se refere
a substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento
de canais de navegação, estas devem ser virtualmente ausentes. OD deve
estar em uma concentração superior a 2 mgO2 /L e pH deve estar na faixa de
6 a 9. Assim como as demais classes, deve-se consultar a Resolução Conama
nº 357 (CONAMA, 2005) para verificar os padrões de qualidade para as águas.
44
na Figura apresentada a seguir. Verificamos que para usos mais nobres da água,
como abastecimento humano e dessedentação animal, as condições e os padrões de
qualidade da água devem ser mais restritivos, uma vez que envolvem critérios de
saúde pública. Entretanto, usos como lançamento de efluentes devem se atentar aos
critérios que constam não só nas legislações estaduais e municipais, mas também
nas políticas definidas pelos Comitês de Bacias Hidrográficas.
45
tem um grande impacto na saúde pública e, de modo mais abrangente, na vida da
população, sendo essencial para o equilíbrio e o funcionamento dos ecossistemas.
A poluição hídrica é dividida em duas categorias, de acordo com suas
características, sendo elas: poluição pontual e poluição difusa. A poluição pontual é
aquela ocorrida por meio de lançamentos individuais, como esgotos sanitários ou
efluentes industriais. Segundo Tomaz (2006), a poluição pontual é quando o
lançamento em um curso d’água é proveniente de uma única fonte. Essas fontes são
de fácil identificação e monitoramento, sendo possível, ainda, prever o impacto
ambiental e responsabilizar o causador pela poluição (ROSA; FRACETO; MOSHINI-
CARLOS, 2012).
Já a poluição difusa é mais difícil de ser identificada, pois não tem uma fonte
definida de poluição, por exemplo, a poluição advinda das plantações agrícolas, do
chorume de resíduos, etc. Diferentemente da poluição pontual, tem características
diferenciadas e afetam diversos locais e abrangentes áreas (ROSA; FRACETO;
MOSHINI-CARLOS, 2012). Ainda, nesse tipo de poluição, é mais difícil identificar o
causador pelo dano ambiental. Conforme Tomaz (2006), a poluição por fontes difusas
ainda se divide em urbana e rural, sendo a rural causada principalmente pela utilização
de fertilizantes agrícolas.
A poluição hídrica também pode ser classificada conforme sua origem e seus
efeitos. A seguir, são descritos alguns tipos principais de poluição.
46
presente no meio disponível aos organismos aeróbios acaba tendo sua concentração
reduzida, acarretando mortandade desses seres.
47
As principais fontes desse tipo de poluição são decorrentes do lançamento de
esgotos domésticos provenientes de residências e empresas sem tratamento
adequado, ou seja, em virtude da carência de infraestrutura de esgotamento básico.
48
A poluição química envolve, muitas vezes, o efeito cumulativo decorrente da
exposição a pequenas concentrações de poluentes por longos períodos, o que
caracteriza efeitos crônicos sobre os seres. Importante destacar que essas
substâncias, por serem sintéticas ou metais pesados, acabam acumulando-se nos
organismos, não sendo eliminadas e provocando danos a longo prazo com extensa
amplitude (CONAMA, 2005).
Além disso, a poluição hídrica por substâncias químicas afeta primeiramente
aos organismos aquáticos, mas podem interagir com todos os demais da cadeia
alimentar em virtude da magnificação biológica.
49
A poluição sedimentar é resultante de erosão do solo, remoção da cobertura
vegetal, extração de minérios e disposição de resíduos sobre o solo de forma
inadequada.
50
4.5 Instrumentos para minimização dos impactos
51
Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos: esse instrumento tem
como principais objetivos (AGÊNCIA..., 2018):
Reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação
quali-quantitativa dos recursos hídricos;
Atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda
de recursos hídricos;
Fornecer informações para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.
Até aqui, observou-se que a poluição pode ser advinda de diferentes fontes,
como biológica, térmica, química e sedimentar. Os poluentes, que constituem os
quatro tipos de poluição que estudamos, de forma isolada ou conjunta, resultam em
fenômenos que degradam a qualidade dos recursos hídricos. A seguir, vamos
visualizar os impactos causados por esses eventos de poluição dos recursos hídricos.
4.6.1 Eutrofização
52
equilíbrio do meio, em especial no que se refere à fotossíntese. Dessa forma, diminui
a concentração de oxigênio no meio, o que pode acarretar a morte de espécies de
animais e vegetais presentes no ecossistema aquático. Rocha, Rosa e Cardoso
(2009) afirmam que, em concentrações baixas de oxigênio, bactérias anaeróbias
passam a oxidar a matéria orgânica, podendo causar mau cheiro em virtude dos
compostos formados.
Exemplo de Eutrofização
Fonte de: www.infoescola.com
53
4.6.2 Assoreamento
Exemplo de Assoreamento
Fonte de: www.infoescola.com
54
resultando na formação de bancos de areia, que prejudicam a navegação e as
mudanças no seu curso e o habitat de espécies.
5 CICLO HIDROLÓGICO
55
A Figura acima apresenta uma representação do ciclo hidrológico. Observando
essa figura você pode ver que na atmosfera formam-se as nuvens, que, quando
carregadas, provocam precipitações, na forma de chuva, granizo, orvalho ou neve. Já
nos continentes, a água precipitada pode seguir diferentes caminhos, acompanhe:
Infiltrar e percolar (passagem lenta de um líquido através de um meio) no solo
ou nas rochas, podendo formar aquíferos, ressurgindo na superfície em forma
de nascentes, fontes, pântanos, ou alimentar rios e lagos.
Fluir lentamente entre as partículas e espaços vazios dos solos e das rochas,
podendo ficar armazenada por um período muito variável, formando os
aquíferos.
Escoar sobre a superfície, nos casos em que a precipitação for maior do que a
capacidade de absorção do solo.
Evaporar e retornar à atmosfera. Em adição a essa evaporação da água dos
solos, rios e lagos, uma parte da água é absorvida pelas plantas, que, por sua
vez, liberam a água para a atmosfera através da transpiração. Esse conjunto
de evaporação mais transpiração é chamado de evapotranspiração.
Congelar, formando camadas de gelo nos cumes de montanha e geleiras.
56
Principais processos do ciclo hidrológico. Iniciando pela precipitação (1), quando a água atinge a
superfície terrestre, pode haver infiltração no solo (2) e interceptação pela cobertura vegetal (3). O
excedente não infiltrado escoará pela superfície do solo (4) e então, ao longo do seu armazenamento,
poderá ser evapotranspirada (5) e/ou evaporada (6), sendo transformada em vapores d’água que
formarão novamente nuvens que possibilitam a reinserção da água em forma de precipitação,
reiniciando a circulação no sistema.
Fonte: Adaptada de Robinson e Ward (2017).
A água está presente na Terra em três fases: líquida, fluindo superficial e/ou
subterraneamente em nossos compartimentos ambientais; sólida, em forma de neve
e retida nas geleiras dos polos da Terra; e em forma de vapor d’água, sendo uma fase
imprescindível à formação das nuvens e consequentemente à precipitação. Porém, é
em sua forma líquida que água, na forma de precipitação, atende às necessidades
mais básicas de humanos, animais e plantas. Seu escoamento em riachos sustenta
ecossistemas e, junto com a percolação em aquíferos, garante armazenamento e
abastecimento de longo prazo para uso humano, ainda que os oceanos sejam a
principal fonte mundial de vapor d´água que alimenta a precipitação (ROBINSON;
WARD, 2017).
58
Podemos considerar que o tempo de residência da água nos reservatórios
subterrâneos é longo, mas que a água acaba retornando à superfície em nascentes
que alimentam rios e lagos, desaguando finalmente nos oceanos (GROTZINGER;
JORDAN, 2014). Indiretamente, portanto, a mesma água precipitada é submetida ao
fluxo da água subterrânea infiltrada subsuperficialmente e/ou em profundidade e
retorna à superfície terrestre, onde mais rapidamente pode se locomover, quando
comparado ao escoamento subsuperficial.
Aqui, vale observar que o primeiro passo para determinar a vazão de um projeto
de drenagem é justamente calcularmos a fração da precipitação que se transforma
em escoamento superficial. Para tanto, diversos métodos podem ser aplicados, e a
partir dos dados de precipitação, torna-se possível estimar uma aproximação do
escoamento, sendo, portanto, muito mais fácil e confiável sua previsão em bacias
instrumentadas com equipamentos pluviométricos (PRUSKI; BRANDÃO; SILVA,
2004).
Dentre os fatores que influenciam a taxa de infiltração da água no solo,
podemos destacar variáveis e parâmetros agroclimáticos como tipos de solos e
coberturas superficiais das áreas, uma vez que interferem diretamente na
interceptação, armazenamento no meio poroso e infiltração da água em um terreno.
Pruski, Brandão e Silva (2004) destacam ainda os seguintes fatores fisiográficos: a
área de contribuição e o formato da bacia, a declividade do terreno e estruturas de
drenagem já existentes. Quanto maior a bacia, maior a área de contribuição e maior
a probabilidade de ocorrência de diferentes tipos de solo. A topografia, assim como o
formato da bacia, influencia na velocidade dos escoamentos superficiais, que, de
forma geral, é maior em bacias mais circulares (o tempo de concentração é
aproximadamente o mesmo em toda a bacia) e também em terrenos mais íngremes,
59
com menor detenção e retenção subsuperficial, quando comparados a terrenos mais
planos.
Apenas uma parte do volume precipitado atinge a seção de desague de uma
bacia sob forma de escoamento superficial. Outra parte será a interceptada, outra
poderá se depositar em depressões e se infiltrar no solo e, finalmente, uma parte do
volume total precipitado será escoada superficialmente. Dessa forma, definimos um
coeficiente de escoamento. O coeficiente de escoamento é um valor adimensional que
pode ser calculado da seguinte forma:
60
coeficientes podem ser testados de acordo com a cobertura presente na bacia, e
dessa forma, um cálculo proporcional às áreas das diferentes coberturas superficiais
acaba conferindo um coeficiente médio e mais representativo da área total:
Desenho esquemático para exemplificar a distribuição heterogênea das coberturas do solo em uma
bacia hidrográfica, com a nítida variação do coeficiente de escoamento gerado (C1 , C2 , C3 e C4 ,
nesse caso hipotético). Em destaque temos: as áreas de proteção permanente ao redor dos cursos
hídricos (incluindo as nascentes, representadas pelos círculos verdes) e o ponto do exutório (círculo
cor-de-rosa), que concentra toda a água drenada pela área contribuinte.
62
compreender e quantificar a ocorrência, a distribuição e o movimento da água em uma
área específica (PELISON, 2020).
A unidade natural de estudo costuma ser uma bacia de drenagem ou sub-
bacias hidrográficas, áreas de captação que recebem a água da precipitação dentro
do seu limite topográfico (divisores d’água) e da qual as principais saídas são
evaporação, evapotranspiração e vazão dos escoamentos (superficiais e
subterrâneos). No modelo esquemático da Figura abaixo, podemos perceber que a
acumulação e/ou retenção de água precisa ser contabilizada nos cálculos do balanço
hídrico.
Processos do ciclo hidrológico são peças essenciais no balanço hídrico de uma área de drenagem.
Fonte: Adaptada de danylyukk1/Shutterstock.com.
63
experimental de poucos metros quadrados, que numa grande bacia hidrográfica ou
grupo de bacias integradas, seguindo a seguinte fórmula:
De uma forma direta, se essa equação puder ser resolvida, uma avaliação
quantitativa da movimentação da água na bacia de drenagem torna-se possível.
A primeira determinação que precisamos fazer é obviamente da área de
drenagem para a qual pretendemos realizar o balanço hídrico. Collischonn e Dornelles
(2013) explicitam que a área de drenagem é a característica mais importante de uma
bacia hidrográfica, provavelmente por reunir todos os outros elementos necessários
para tais estimativas: uso e cobertura do solo, construções e/ou outras formas de
impermeabilização da superfície e, claro, a água precipitada a ser drenada.
Se antes precisávamos de instrumentos mecânicos para mensurar as áreas de
uma bacia ou sub-bacia hidrográfica, como o planímetro, agora podemos utilizar
software simples como de desenho auxiliado por computador (CADs) ou com mais
funcionalidades de localização, como os Sistemas de Informação Geográfica (SIGs).
Numa segunda etapa, precisamos determinar as características das chuvas.
Comumente, consideramos métodos para a determinação das precipitações máximas
médias, ou seja, uma média dos valores extremos de precipitação observada para
uma dada duração.
A equação a seguir, mais conhecida como equação de intensidade, duração e
frequência, ou simplesmente IDF, é desenvolvida para chuvas intensas (PRUSKI;
BRANDÃO; SILVA, 2004):
64
precipitação efetiva, infiltração e perdas podem ser relacionados à intensidade das
precipitações (Figura abaixo).
65
Retomando o cálculo do balanço hídrico, podemos discretizar as variáveis a
serem consideradas da seguinte forma: de entrada (precipitação P); perdas iniciais e
proporcionais (captação e/ou armazenamento [Ac ], umedecimento do solo [Sw] e
interceptação pela vegetação [ICV]) e de saída (escoamento superficial [ES],
evaporação [E], evapotranspiração [ET], infiltração da água em superfície [I] e
percolação da água em profundidade [DP]). Observe a substituição das variáveis na
equação a seguir, resultando em um balanço hídrico genérico:
6 LIMNOLOGIA
67
Monographie Limnologique, de autoria do Prof. François Alphonse Forel, da
Universidade de Lausanne, Suíça, que com ele ganhou o título de pai da limnologia e
marcou o início do estudo científico dos lagos e águas interiores de um modo geral.
6.2 Definição
68
A Limnologia faz parte da ecologia, ciência que tem por fim o estudo das
relações entre os seres vivos e o meio ou ambiente em que vivem, bem como as suas
recíprocas influências.
Com base nos conceitos ecológicos, a limnologia clássica criada por Forel e
desenvolvida por outros importantes limnologistas, evoluiu ao ponto de cada vez mais
tender para uma especialidade, devido à grande complexidade dos fenômenos que
ocorrem nos ambientes aquáticos. Sob este aspecto, as seguintes especializações
podem ser assim consideradas:
a) Limnologia física - quando trata apenas do estudo dos parâmetros físicos
da água (temperatura, cor, condutividade elétrica)
b) Limnologia química - que diz respeito somente ao estudo dos parâmetros
químicos da água (pH, oxigênio dissolvido, DBO – Demanda bioquímica de
oxigênio, DQO – Demanda química de oxigênio, dentre outros);
c) Limnologia aplicada - que se volta para o estudo da biologia da pesca, da
aquicultura, da produtividade pesqueira, da produtividade primária, etc.
d) Limnologia paleontológica - que trata do estudo dos fósseis existentes nos
sedimentos dos lagos.
e) Limnologia de reservatórios - que é a mais nova especialização desta
ciência, surgida em razão da construção de barragens para diferentes
propósitos, como produção de energia elétrica, navegação, controle de
enchentes, pesca, etc. e que tem por fim o estudo do impacto ambiental
provocado tanto sobre os seres vivos, como na qualidade e quantidade da
água.
69
posteriormente denominada Diretoria de Pesca e Piscicultura do DNOCS, cujo
primeiro chefe foi o naturalista paulista Rodolpho von Ihering, cognominado - o pai da
piscicultura nacional.
Ao longo de mais de 65 anos têm sido inúmeros os trabalhos desenvolvidos,
não somente nessa na Região Nordeste, mas também em outras partes do país, tanto
no campo da limnologia regional, como no da engenharia sanitária, da aquicultura, da
pesca em reservatórios, do controle da poluição etc.
70
doméstico e industrial, o lazer e a irrigação entre outras. O uso na irrigação se constitui
hoje como um dos principais aspectos que contribuem para que a água seja hoje um
recurso estratégico. Basta lembrar que 70% de toda a produção de alimento do mundo
provém de apenas 17% das áreas cultiváveis.
A Limnologia é uma ciência de grande alcance social uma vez que fornece
inúmeros subsídios para a conservação, o manejo e a recuperação dos ecossistemas
aquáticos continentais. Desta forma, o limnólogo passa a ter um papel cada vez mais
importante na sociedade moderna.
71
terrestre, formaria um tapete de 3.000 m de espessura, mas, deste total, apenas uma
camada de 40 m corresponderia às águas subterrâneas e de 40 cm, as águas doces
da superfície - rios, lagos, lagoas, açudes, represas, etc. Esta comparação tem por
objetivo mostrar a diminuta fração da massa líquida de interesse limnológico.
72
6.5 Qualidade da água
73
Desta forma para que sua utilização possa ser feita sem comprometimento da
finalidade a que se destina, há necessidade de ser caracterizada quanto aos critérios
de qualidade, cuja amostra envolve cuidados especiais na coleta, preservação e
armazenamento.
a) Lênticas
São as águas paradas, como a dos lagos, lagoas, açudes e represas. Embora
possam existir correntes subaquáticas, elas não são fatores dominantes, enquanto a
densidade vertical e as estratificações térmicas e químicas constituem as suas
principais características. Apresentam ainda uma instabilidade do pH e baixa
concentração de oxigênio dissolvido.
74
Construção de um açude
Fonte de: www.estado.rs.gov.br
b) Lóticas
São as águas correntes, como a dos rios, riachos, arroios, igarapés, etc., que
se caracterizam por uma contínua corrente, seguindo sempre uma única direção, com
água nova vindo continuamente de cima. A velocidade da corrente é um fator positivo
e certos organismos aquáticos mostram uma adaptação à mesma, cada vez que está
vai se tornando mais violenta ESTEVES (1988).
Outras características são a elevada turbidez, pois são capazes de transportar
grandes quantidades de material em suspensão, temperatura homogênea, saturação
de oxigênio dissolvido, uniformidade do pH, pobreza em sólidos dissolvidos, escassez
de fitoplâncton e de macrófitas, exceto do tipo flutuante que pode formar verdadeiras
ilhas móveis, conhecidas por camalote e presença de algas aderentes.
75
b) Artificiais: São aquelas resultantes do represamento ou controle pelo
homem para atender a múltiplos propósitos, como sejam, açudes, represas,
reservatórios, aguadas, canais, viveiros, tanques, etc.
a) Permanentes
Aquelas coleções d’água que nunca secam, permanecendo sempre na
superfície terrestre. Tal tipo de água interior ocorre principalmente em regiões onde a
precipitação pluvial é maior que a evaporação.
b) Temporárias ou Periódicas
São as coleções d’água que desaparecem da superfície terrestre em
determinadas épocas, por não resistirem às prolongadas estiagens ou quando
passam do estado líquido para o sólido, como nas regiões temperadas.
As coleções d’água localizadas nas regiões desérticas e semiáridas tendem a
acumular sais dissolvidos em excesso devido a elevada evaporação, algumas vezes
alcançando concentrações superiores à dos oceanos, como no Great Salt Lake, nos
Estados Unidos, no Mar Morto, em Israel, e em muitos açudes do Nordeste brasileiro.
76
Solos arenosos não conseguem reter a água durante o período de chuvas e
por isso as coleções d’água se tornam temporárias. Açudes e viveiros para a criação
de organismos aquáticos construídos neste tipo de solo secam completamente,
principalmente na época do verão.
Os organismos que ocorrem nestas águas possuem um ciclo de vida bastante
curto, embora alguns possam adquirir formas de resistência, ESTEVES (1988).
Por lago se entende uma coleção de água lêntica confinada em uma bacia e
que não apresenta ligação com o mar. Esta definição foi dada por Forel, em 1892,
com a finalidade de diferenciar os lagos verdadeiros daqueles que são pequenos
braços do mar.
Sob o ponto de vista morfométrico são chamados de lagos as extensas
coleções de águas paradas, de grandes profundidades, larguras e comprimentos. A
mesma definição pode ser aplicada para açudes, reservatórios e represas, com a
única diferença de serem construídos pelo homem com múltiplos propósitos,
ESTEVES (1988).
Quanto à lagoa, se trata de uma coleção de água natural, de pouca
profundidade e características temporárias, muito embora possam existir com essa
mesma definição extensas coleções de águas naturais, permanentes e de grandes
profundidades, como as lagoas de Patos, no Rio Grande do Sul.
77
Estuário da Lagoa dos Patos
Fonte de: www.peld.furg.br
a) Construtivas
Quando o homem interfere diretamente para a sua formação, mediante a
construção de uma barragem no vale de um rio, riacho, igarapé. São os açudes, as
represas, reservatórios, viveiros, etc.
b) Destrutivas
Quando resulta do efeito de fenômenos da natureza, os quais formam
depressões na crosta terrestre, dando origem à formação de coleções de águas
lênticas naturais, como os lagos, lagunas, lagoas, etc.
c) Obstrutivas
Quando estes mesmos fenômenos da natureza provocam o barramento de
vales formando uma bacia lacustre. Uma mesma causa obstrutiva pode ser destrutiva
ao mesmo tempo.
78
6.8 Agentes da natureza formadores de águas lênticas
79
Face o regime hidrológico dos rios do Nordeste brasileiro, os efeitos da
açudagem têm sido mais benéficos que negativos, quer sob o ponto de vista social,
econômico, climático e biológico. ESTEVES (1988) destaca um elenco de quinze
efeitos prejudiciais aos ecossistemas aquático e terrestre com a construção de
açudes, os quais jamais poderão ser levados em conta em se tratando da região
nordestina, que tem neste tipo de coleção d’água razões para a sobrevivência de sua
população.
Na verdade, para uma política racional de açudagem no Nordeste, tem que se
levar em consideração antes de tudo, a melhor distribuição e aproveitamento da água
represada, com preferência para as áreas carentes desse recurso hídrico e não,
simplesmente, atender interesses pessoais e muitas vezes escusos.
Sob o ponto de vista limnológico a alteração no regime hidrológico e da
qualidade da água até certo ponto favorece o melhor aproveitamento dos açudes
nordestinos, como comprovam os estudos bioecológicas realizados em muitos deles,
fazendo com que, na média geral, sejam considerados como os de maior
produtividade da pesca no mundo.
80
Fonte de: www.blog.brkambiental.com.br
Estudos indicam que entre 3.000 a 2.300 anos antes do presente (AP) a
temperatura na Terra era mais fria; posteriormente, entre 1.000 a 709 anos AP,
passamos por um período chamado de clima óptimo, com temperatura terrestre média
81
variando entre 20 a 24°C. Mais recentemente, entre 478 a 101 anos AP, a Terra
vivenciou a conhecida Pequena Idade do Gelo, que, apesar de não ser um evento
climático global, apresentou uma significativa expansão das geleiras na América do
Norte e na Europa (BARRY; CHORLEY, 2017).
Entretanto, apesar desse aquecimento e resfriamento naturais, a partir da
Revolução Industrial, a Terra passou a registrar índices altíssimos de emissões de
dióxido de carbono (CO2) na atmosfera (Figura abaixo). Esse gás é um dos principais
responsáveis pelo efeito estufa, que impede que a energia solar refletida pelo planeta
se dissipe. Esse fato faz com que haja um aquecimento gradual das temperaturas
médias do planeta, o que pode causar impactos irreversíveis. Esse processo é
conhecido como aquecimento global Grotzinger e Jordan (2013, p. 673).
82
Quando a superfície terrestre é aquecida pelo Sol, ela irradia calor de volta para a atmosfera. O CO2
e outros gases de efeito estufa absorvem parte dessa radiação infravermelha e a irradiam para todas
as direções, inclusive para a superfície da Terra. Dessa maneira, a atmosfera armazena calor, como
um vidro em uma estufa. Fonte: Grotzinger e Jordan (2013, p. 417).
83
Portanto, as emissões humanas de carbono estão intensificando o efeito estufa
pelo aumento da concentração de CO2 na atmosfera, e parte desse CO2 dissolve-se
nos oceanos, onde se combina com a água para formar ácido carbônico. Essa
acidificação oceânica está reduzindo a capacidade que os crustáceos e os corais têm
de calcificar suas conchas e esqueletos, e pode afetar de modo adverso muitos outros
tipos de organismos marinhos, prejudicando os ecossistemas marinhos. De acordo
com Grotzinger e Jordan (2013), a biodiversidade de ecossistemas continentais está
em declínio em razão da perda de hábitat e dos efeitos do aquecimento global, de
forma que a rápida taxa atual de extinção de espécies pode, por fim, levar a uma
redução da biodiversidade equivalente às extinções em massa do passado.
Dessa forma, as mudanças climáticas afetam, sobremaneira, os recursos
hídricos. Por exemplo, com relação ao uso do solo, o desmatamento pode afetar o
escoamento superficial de uma bacia hidrográfica, alterando a vazão e a qualidade da
água, o que impacta a sobrevivência dos animais no hábitat, o fornecimento para
consumo, etc. Assim, de forma genérica, a associação entre desmatamento e
aquecimento global ameaça a sobrevivência das comunidades de peixes, que
necessitam de um hábitat com temperatura adequada para sobreviver. Segundo Val
e Almeida-Val (2008), se mantidas as taxas atuais de desmatamento, entre 2% e 8%
das espécies poderiam desaparecer nas próximas duas décadas. Além disso, o
aquecimento global influencia diretamente o regime pluviométrico, provocando
inundações em diversos locais e secas severas em outros, como comentamos na
introdução deste capítulo.
84
Mas não é só isso. As várias consequências do efeito estufa incluem
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2018):
O derretimento das calotas polares e o consequente aumento do nível do mar;
O comprometimento da segurança alimentar, prejudicando as colheitas e a
pesca;
A extinção de espécies e danos a diversos ecossistemas;
Perdas de terras em decorrência do aumento do nível do mar, que provocará,
também, ondas migratórias;
A escassez de água em algumas regiões;
Inundações nas latitudes do Norte e no Pacífico Equatorial;
Riscos de conflitos em virtude da escassez de recursos naturais;
Problemas de saúde provocados pelo aumento do calor.
1O termo hotspots é utilizado para designar lugares que apresentam uma grande riqueza natural e
uma elevada biodiversidade, mas que, no entanto, encontram-se ameaçados de extinção ou que
passam por um corrente processo de degradação. Trata-se dos lugares do planeta onde a conservação
de suas feições naturais faz-se mais urgente.
85
demonstram como o aquecimento global afeta no regime pluviométrico e traz impactos
severos à biodiversidade (AMAZÔNIA..., 2020).
86
ou aquáticos, ajuda a diminuir consideravelmente a quantidade de CO2 na atmosfera
(NASCIMENTO, [2017]).
Além dos oceanos, áreas costeiras como mangues e marismas fornecem
inúmeros benefícios e serviços essenciais para a adaptação às mudanças climáticas
ao longo das costas em todo o mundo, incluindo proteção contra inundações e o
aumento do nível do mar, prevenção da erosão costeira, manutenção da qualidade da
água costeira, fornecimento de hábitat para pescas comerciais e espécies marinhas
ameaçadas, e segurança alimentar para muitas comunidades costeiras. Além disso,
esses ecossistemas sequestram e armazenam quantidades significativas de carbono
azul costeiro da atmosfera e do oceano, e, portanto, agora são reconhecidos por seu
papel na mitigação das mudanças climáticas.
O carbono azul (blue carbon) se refere a todo carbono que é capturado da
atmosfera e é armazenado nos ecossistemas costeiros (ECYCLE, c2017). Estima-se
que áreas oceânicas e costeiras apresentem taxas significativamente mais altas de
absorção de carbono do que as florestas terrestres. Os depósitos de carbono
acumulados dentro desses sistemas são armazenados acima do solo na biomassa
das plantas (troncos de árvores, caules e folhas), abaixo do solo na biomassa da
planta (sistemas radiculares e rizomas) e nos solos orgânicos ricos em carbono,
típicos desses ecossistemas (Figura abaixo).
Manguezais e pântanos salgados ao longo de nossa costa “capturam e retêm” carbono, agindo como
sumidouros de carbono. Esses sistemas costeiros, embora muito menores que as florestas,
sequestram o carbono em um ritmo muito mais rápido e podem continuar a fazê-lo por milhões de
anos. A maior parte do carbono absorvido por esses ecossistemas é armazenada abaixo do solo.
Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration (2019, documento on-line).
87
Entretanto, apesar da importância desses ambientes no sequestro de carbono,
nos últimos 50 anos, entre 30–50% dos manguezais foram perdidos e continuam a
ser perdidos a uma taxa de 2% ao ano (ECYCLE, c2017). As principais causas de
destruição dos ecossistemas de mangue incluem o desmatamento e o aterro para a
inserção urbana e industrial, a criação de tanques de aquicultura e outras formas de
desenvolvimento costeiro insustentável.
Macreadie et al. (2019) descrevem três abordagens amplas de gestão para a
conservação desses ambientes e a garantia do sequestro de carbono como método
mitigador das mudanças climáticas:
1. preservação;
2. restauração;
3. criação.
88
7.4 A dinâmica dos mares e a ocupação de áreas litorâneas
A urbanização excessiva em Balneário Camboriú, Santa Catarina, vem diminuindo a faixa de areia da
praia central.
Fonte: Passaporte Oficina (2019, documento on-line).
De fato, durante o século XX, o nível do mar subiu em torno de 200 mm e está
atualmente aumentando a uma taxa aproximada de 3 mm por ano. O aumento do nível
do mar é uma ameaça grave à sociedade humana, pois poderia inundar deltas, atóis
e outros terrenos baixos costeiros, além de erodir praias, aumentar as cheias costeiras
e ameaçar a qualidade da água em estuários e aquíferos, comprometendo a
segurança de 745 milhões de pessoas em todo o mundo (NASCIMENTO, [2017]).
89
A verdade é que mudanças lentas no meio ambiente, como a acidificação dos
oceanos, a desertificação e a erosão costeira, também estão afetando diretamente os
meios de subsistência das pessoas e sua capacidade de sobreviver em seus locais
de origem. Essas populações são chamadas de refugiados climáticos, grupos que
acabam migrando para locais de podem ofertar subsídios para a manutenção da vida.
No Brasil, por exemplo, devido à escassez de água, muitos povos migram do
interior nordestino para cidades do Sudeste, fugindo das secas. A pouca incidência
ou, mesmo, a ausência de chuvas torna os solos improdutivos e inviabiliza a criação
de animais. Políticas públicas ineficazes também agravam essa situação:
90
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil). Sobre a ANA. Brasília, DF: ANA, [201-].
Disponível em: https://www.ana.gov.br/regulacao/institucional/sobre-a-ana. Acesso
em: 7 dez. 2020.
91
BORSATO, F.H; MARTONI, A.M. Estudo da fisiografia das bacias hidrográficas
urbanas no município de Maringá, estado do Paraná. Acta Scientiarum, v. 26, nº 2, p.
273-285, 2004. Disponível em:
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/ article/view/1391.
Acesso em: 30 out. 2020.
92
http://www.cprm.gov.br/publique/Geologia/Sensoriamento- -Remoto-e-
Geofisica/RADAM-D-628.html. Acesso em: 4 nov. 2020.
FETTER, C. W. Applied Hydrogeology. 4th ed. New Jersey, USA: Prentice Hall, 1999.
GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Para entender a Terra. 6. ed. Porto Alegre: Bookman,
2013.
GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Understanding Earth. 7th ed. New York: Freeman and
Company, 2014.
93
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico. 2008. Disponível em: . Acesso em: 14 jun. 2018.
MARTINS, W. IBGE apresenta ranking dos 10 rios mais poluídos do Brasil. 2013.
Disponível em: http://www.ciespjacarei.org.br/noticias/ibge-apresenta-ranking-dos-
10-rios- -mais-poluidos-do-brasil/. Acesso em: 4 nov. 2020.
MILITANTES consideram inútil Alckmin oficializar crise hídrica sem propor ações.
COATI, 20 ago. 2015. Disponível em: https://www.coati.org.br/militantes-consideram-
-inutil-alckmin-oficializar-crise-hidrica-sem-propor-acoes/. Acesso em: 30 out. 2020.
94
NOWACKI, C. C. B.; RANGEL, M. B. A. Química ambiental: conceitos, processos e
estudo dos impactos ao meio ambiente. São Paulo: Érica, 2014.
96