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(ORG)

Joice Aglae Brondani


Robson Carlos Haderchpek
Saulo Vinícius Almeida
Título Original
Práticas Decoloniais nas Artes da Cena

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

P912

Práticas decoloniais nas artes da cena / organizado por Joice Aglae Brondani,
Robson Carlos Haderchpek, Saulo Vinícius Almeida. - São Paulo : Giostri, 2020.
274 p. : 17cm x 24cm.
Inclui índice e bibliografia. ISBN: 978-65-87182-32-2
1. Teatro. 2. Estudos Teatrais. 3. Artes da cena. I. Brondan, Joice Aglae .
II. Haderchpek, Robson Carlos. III. Almeida, Saulo Vinícius. IV. Título.
CDD 792
CDU 792

Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949


Índice para catálogo sistemático:
1. Teatro 792
2. Teatro 792

Editor Responsável Alex Giostri


Coordenadora Editorial Isabela Delambert
Designer Gráfico André Ximene
Conselho editorial Hugo Possolo, Ivam Cabral e Segio Roveri
Revisão de texto Patrícia Azevedo Gonçalves
(org.)
Joice Aglae Brondani
Robson Carlos Haderchpek
Saulo Vinícius Almeida

Práticas Decoloniais nas Artes da Cena

1ª Ed. São Paulo: GIOSTRI, 2020 Aos povos que habitavam essas terras antes do execrável genocídio
1 - Teatro que sofreram frente ao colonizador, que roubou, matou, estuprou,
1ª Edição e tentou silenciar um saber e uma diversidade cultural.
Giostri Editora LTDA.
E aos/às artistas da cena que lutam para existir em tempos sombrios.
giostrieditora.com.br
Giostri Editora
Rua Rui Barbosa, 201 /giostrieditora
Bela Vista - SP / CEP: 01326-010 GiostriTV
Tel.: (11) 2309.4102 / 2729.0201
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Práticas Decoloniais nas Artes da Cena Práticas Decoloniais nas Artes da Cena

para cirurgias, uma tortilladora123 e um colete de coluna estilizado com pregos. Violeta
P OÉT I CAS D EC OLON IA IS N AS ARTES DA CEN A: Luna entra em cena vestida com uma saia feita com muitas palhas de milho, chapéu e
U MA R EFLEXÃO SO BR E A S COL ONIA LIDA DES duas longas tranças que caem ao longo do seu corpo, uma imagem forte em referência
DA N ATU R EZA E DE GÊ N ERO às mulheres indígenas do México. Traz nas mãos uma trouxa com sabugos de diferentes
tipos e cores de milho, originários da região, e um machete. Ocupa o primeiro palco,
Stela Fischer 120 e, com o facão, debulha as espigas de milhos. Amarra no rosto a tela na qual está sendo
projetado o vídeo, compondo com o seu corpo o espaço de projeção. Traz o tronco nu,
I inteiramente pintado de roxo, e, ao virar-se de costas para o público, exibe nas costas o
desenho de um grande maíz. Faz seu ritual de abertura e celebração aos povos da terra,
Rio de Janeiro, Espaço Tom Jobim, setembro de 2015: a convite da performer mexi- colando, em seu colo e em torno dos seios à mostra, grãos de milho de diferentes tama-
cana Violeta Luna, faço uma participação no seu trabalho cênico “NK 603: Action for nhos e cores. Tira um frasco do embornal que carrega transversalmente no corpo. Bebe
performer and e-maíz”. Minha segunda participação nessa peça acontece durante o seu conteúdo venenoso e “sangra” pela boca. Inicia agora a sua transformação cyborg:
Multicidade – Festival Internacional de Mulheres nas Artes Cênicas121. O espaço de cena amarra as tranças em volta da boca, veste luvas plásticas e dirige-se ao palco onde estou
é composto por dois tablados. O primeiro é um pequeno palco com destaque para a tela como se estivesse dopada. Com as pinças cirúrgicas, arranca um a um os grãos de milho
ao fundo, na qual são projetados, continuamente, vídeos que intercalam áudios e imagens colados a seu corpo. Eu cubro violentamente seus seios com várias voltas de silver tape.
(criados pelo músico David Molina), como: ações de empresas multinacionais de biotecnologia de Em seguida, coloco-lhe o colete e saio de cena. Luna realiza uma prática de sacrifício
manipulação genética de grãos no México; noticiários com recortes dos acordos estabelecidos pelos do seu próprio corpo, utilizando cada um dos objetos cirúrgicos dispostos sobre a mesa,
então presidentes Carlos Salinas de Gortari (do México entre 1988-1994) e George Bush incluindo o afastador cirúrgico de pele que instala em sua boca, mantida aberta em uma
(dos Estados Unidos entre 2001-2009); e palavras de ordem do levantamento zapatista situação de vulnerabilidade. Prepara uma injeção com conteúdo azul que é injetado – de
e depoimentos de campesinos, trabalhadores rurais e do movimento Sin maíz no hay verdade – no próprio braço. Tira de dentro de uma bolsa cirúrgica uma massa também
país122, que sofrem com a tirania do capital dos transgênicos. No segundo tablado, estou azul, deposita-a na tortilladora e faz inúmeras tortillas azuis “transgênicas”. Com a boca
diante de uma mesa repleta de equipamentos e instrumentos cirúrgicos. Visto um jaleco forçosamente aberta, come as tortillas e usa os aparelhos cirúrgicos para empurrá-las para
branco típico de uma trabalhadora de laboratório. Enquanto o público entra, esterilizo dentro à força. Em seguida cospe, vomita em uma bolsa na qual se lê “Made in USA”.
todos os objetos: tesouras, pinças, agulhas, seringas, cubas, estiletes, afastadores de pele Desce até o público e lhe oferece as tortillas azuis. Depois, acalma-se, desamarra suas
120 Stela Fischer é pós-doutoranda em Artes da Cena na Universidade Estadual de Campinas (UNI- tranças, tira o colete e corta, verticalmente, a fita colada ao corpo, na qual, devido ao
CAMP/CAPES). É doutora em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo e mestre em Artes/Teatro pela contato com o desenho nas suas costas, ficou impressa a imagem do maíz. Exibe-a para
UNICAMP. É autora do livro Processo Colaborativo e Experiências de Companhias Teatrais Brasileiras (2010) e do-
cente do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR/ o público. Amarra um lenço, um paliacate, no rosto, em menção aos zapatistas, risca o
FAP), no curso de Bacharelado em Artes Cênicas. Em 2018, sua tese de doutorado, Mulheres, performance e
chão com o seu machete e sai.
ativismo: a ressignificação dos discursos feministas na cena latino-americana, ganhou o Prêmio CAPES de melhor tese
em Artes do Brasil. Em São Paulo, é responsável pelo Coletivo Rubro Obsceno, agrupamento de mulheres
artistas com a finalidade de tratar ativismos feministas nas artes da cena.
121 O Multicidade – Festival Internacional de Mulheres nas Artes Cênicas – teve sua segunda edição
em 2018, no Rio de Janeiro. Teve direção e curadoria de Eveline Costa, Jadranka Andjelic e Paola Vellucci.
O festival faz parte da Rede Internacional de Mulheres nas Artes Cênicas Contemporâneas – The Magdalena
Project (MULTICIDADE, 2019).
122 Movimento criado em 2007, impulsado por mais de 300 organizações campesinas, indígenas e
grupos ambientalistas e de direitos humanos contra os monopólios agroalimentários e em favor da transfor-
mação democrática do México (SIN MAÍZ NO HAY PAÍS, 2019). 123 Máquina manual de fazer tortillas, alimento feito à base de milho, muito popular no México.

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Figuras 1 e 2 – Violeta Luna e Stela Fischer, em “NK 603: Action for performer and e a cultura dos indígenas e dos campesinos. A performance denuncia as alianças feitas
e-maíz”. Rio de Janeiro, 2015 entre as grandes empresas de biotecnologia transnacionais e os interesses econômicos
dos Estados, que levam em consideração o lucro acima da natureza e da vida.
Empresas como a então Monsanto (comprada, em 2018, pela Bayer, por 63 bilhões
de dólares)125, ao impor suas sementes transgênicas, fertilizantes e herbicidas em solo
mexicano, coloca em risco a prática milenar dos povos maias, que tem o milho como,
além de um meio de sobrevivência, algo sagrado em sua cosmovisão. “Para nós, mexi-
canos, o milho não só representa um alimento. É a nossa cultura e a nossa identidade.
Sempre dizemos: somos homens e mulheres de maíz. Não só nossa mitologia, mas parte
do nosso conhecimento se sustenta nessa tradição”, relata Violeta Luna126.
O contexto social que inspirou a criação desta performance/manifesto, primeiramente,
foi o início da vigência do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (North American
Free Trade Agreement, ou NAFTA), em 1994, entre o México, os Estados Unidos e o
Canadá, que resultou na devastação do campo e na emigração em massa de muitos
mexicanos rumo ao Norte. Em contrapartida, o levante revolucionário do Exército
Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), em Chiapas – a partir do mesmo ano em que
o tratado passou a vigorar – restaurou a força da causa indígena e campesina, que reclama
para si os direitos à terra e ao cultivo do milho, em defesa dos direitos das comunidades
Fonte: Renato Mangolin (2015).
que vivem da economia rural. Diante desse acordo, uma onda de violência recaiu sobre
o México sob várias formas, desde o deslocamento forçado de comunidades inteiras
II
devido às ocupações de terras, até o desaparecimento de pessoas, torturas e assassinatos.
Tanto os indígenas como os campesinos – homens e mulheres de maíz – são um entrave
“NK 603: Action for performer and e-maíz” é um dos trabalhos da performer mexicana
para o projeto desenvolvimentista das corporações transnacionais.
Violeta Luna124 que trata de temas sobre a dominação da cultura mexicana e de seus
recursos naturais pelos mecanismos da colonização da natureza. “NK 603” é o nome
dado a uma das muitas variedades de milho transgênico disponíveis no mercado. A ação
aborda a problemática do milho transgênico no México, que afeta diretamente a vida
124 Violeta Luna é atriz, performer e ativista mexicana radicada em São Francisco (EUA). Graduou-se
em teatro pela Universidade Autônoma do México (UNAM). Trabalhou com La Pocha Nostra, grupo mul-
ticultural de performance e ativismo criado originalmente em 1993, no México, e depois sediado em São 125 Empresa multinacional agroquímica de agricultura e biotecnologia criada em 1901 nos Estados
Francisco (EUA) e liderado por Guillermo Gómez-Peña. Atualmente, conduz o grupo Secos & Mojados, Unidos. Foi uma das empresas líderes na produção do herbicida glifosato (vendido sob a marca Roundup)
juntamente com o diretor e dramaturgo argentino Roberto Gutierrez e o músico salvadorenho David Moli- e na produção de sementes geneticamente modificadas, com lucros exorbitantes. No México, a Monsanto
na. Também desenvolve trabalhos solos e é membro do The Magdalena Project, rede internacional de artistas foi a principal beneficiária das licenças para a plantação experimental de sementes de milho transgênico. No
mulheres do teatro, por meio da qual viaja, levando o seu trabalho a diversos países. E dirige a Coletiva de Brasil, teve sede em São Paulo, e adquiriu o controle da empresa Agroceres no comércio de agrotóxicos e de
Mujeres, dando voz às trabalhadoras imigrantes latino-americanas em solo estadunidense. Entre suas ações, sementes transgênicas de milho, soja, algodão e canola no país. Em 2018, a Bayer, empresa alemã de produtos
destacam-se: “Frida” (2006), “Apuntes sobre la Frontera” (2009), “Requiem for a lost land/Requiem para una farmacêuticos e agroquímicos, comprou a Monsanto.
tierra perdida” (2012) e “Para aquelas que não mais estão” (2015), realizado em parceria com o Coletivo Rubro 126 Depoimento durante a mesa de debate “O corpo como território político”, com Ileana Diéguez,
Obsceno (SP), grupo do qual eu faço parte (VIOLETA LUNA, 2019). na II Bienal Internacional de Teatro da USP, em 14 de dezembro de 2015.

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Figura 3 – Performance “NK 603: Action for performer and e-maíz” com a linguista decolonial Catherine Walsh, um processo dinâmico sempre sendo feito
e refeito, dada a permanência e a capacidade de reconfiguração das colonialidades todas,
principalmente a do poder (WALSH, 2012).
As epistemologias e as ações sociais decoloniais estão em consonância e colados aos
movimentos indígenas, populares e campesinos da América Latina, que resistem e reivin-
dicam o direito à terra. Nessa luta, protagonizam, também, as mulheres racializadas e
subalternizadas pelo sistema capitalista/patriarcal. Violeta Luna, em sua performance,
veste uma saia feita de palha de milho e tem o corpo todo pintado de roxo em referência
ao maíz morado128, com uma grande espiga pintada nas costas. Na cabeça, leva um chapéu
campesino de onde caem duas tranças de cabelos indígenas. De machete na mão, ela é a
representação de todas as mulheres indígenas e/ou trabalhadoras rurais do México que
sobrevivem do cultivo e lutam pelo milho. A performer manifesta a força dessa mulher
que é “como muitas em toda a América Latina, que luta não apenas para dar de comer
à sua comunidade, mas para que se mantenha e cresça a memória cultural de toda a sua
Fonte: Renato Mangolin (2015). gente” (LUNA, 2010, p. 7).

Contra essas guerras difusas da violência privatizada (ZIZEK, 2006), ergue-se dos solos Figuras 4 e 5 – Violeta Luna em “NK 603: Action for performer and e-maíz”
da nossa Abya Yala127 o pensamento decolonial. Com vertentes marxistas e interculturais,
o decolonialismo (ou descolonialismo) lança luz às discussões sobre as colonialidades
do poder, do conhecimento, do ser, do gênero e da natureza. Essas colonialidades são
impostas pelos processos de dominação dos países latino-americanos, ainda perpetrados
no sistema-mundo pelo capitalismo, neoliberalismo, racismo e patriarcado. De acordo
com o sociólogo peruano Aníbal Quijano, a colonialidade implica na continuidade do
uso do poder, o que reforça ainda mais a hierarquização das relações que expropriam
e promovem processos discriminatórios (raciais, de gênero, de sexualidade e assim por
diante), nos quais alguns (“superiores”) prevalecem sobre os outros (“inferiores”) para
atender aos objetivos econômicos e políticos em torno do capital e do mercado mundial
(QUIJANO, 2010, p. 84). O pensamento decolonial protagoniza rearticulações ainda
necessárias nos discursos emancipatórios. Afinal, o decolonialismo não é um estado fixo,
um status ou uma condição; também não denota um ponto de chegada. É, de acordo

127 Expressão utilizada pelos teóricos e ativistas decoloniais para renomear o continente americano,
especialmente a América Latina. O termo tem origem pré-colonial, na língua Kuna, nação indígena da região
Fonte: Renato Mangolin (2015).
do Panamá, e significa “terra de vida, terra madura”. A retomada da denominação foi sugerida pelo líder
aimará Takir Mamani, ao propor que todos os indígenas utilizassem Abya Yala como um ato de resistência à 128 Variedade de milho cujos grãos são da cor roxa. Crescem principalmente nos Andes (Peru, Bolívia,
dominação dos invasores, que submeteram a identidade dos nossos povos originários. Colômbia, Equador), mas também é muito comum no México.

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A ação conversa com os princípios do ecofeminismo, proveniente dos movimentos trocada pela transgênica devido à suposta facilidade de acesso e cultivo, o que nada mais é
feministas, do ativismo ambiental, ecológico e dos estudos pós-coloniais dos anos 1970129. do que uma estratégia de dominação das empresas de veneno e biotecnologia.
O ecofeminismo é um pensamento crítico, com reverberações em movimentos sociais
ambientalistas, que conecta fundamentalmente a dominação da natureza à dominação das Figuras 6, 7 e 8 – Violeta Luna em “NK 603: Action for performer and e-maíz”
mulheres, em termos do sistema hierárquico, capitalista, colonial e patriarcal. Propõe-se
a rever as relações com a natureza como um território explorado, dominado e violado,
assim como os corpos e as existências das mulheres e de grupos subalternizados. A prática
do ecofeminismo tem sido empregada como resistência, por exemplo, na conservação de
sementes nativas e crioulas. Mulheres indígenas e campesinas de toda a América Latina
estão em luta pelo cultivo e pelo uso respeitosos da terra, e elas questionam e resistem
aos embates gerados pelas economias que submetem a natureza através da biotecnologia
e da biogenética, das monoculturas e das patentes. Segundo a filósofa ecofeminista
indiana Vadana Shiva, para promover o fim da violência contra as mulheres, é necessário
abdicar a economia violenta implementada pelo patriarcado capitalista e substituí-la por
economias não violentas, sustentáveis e pacíficas que respeitem o planeta e as mulheres
(MIES; SHIVA, 2007).
É importante ressaltar, também, que os ataques à natureza e aos recursos naturais têm
maior impacto e repercussão na vida das mulheres e das crianças de uma forma inter-
seccional, ou seja, considerando as categorias de dominação que atuam conjuntamente
na opressão às mulheres, como o gênero, a classe e a raça. Empobrecimento, desem- Fonte: Renato Mangolin (2015).
prego, trabalhos informais, forçados e/ou mal remunerados, precarização da saúde (por
exposição a substâncias tóxicas), falta de acesso ou uso desigual do território, racismo e E, como uma semente crioula que sofre mutações, Violeta Luna, no andamento da sua
violência de gênero afetam de forma mais abrupta a vida das mulheres e são realidades performance, decompõe-se. Os efeitos da dominação das corporações biotecnológicas
que precisam ser evidenciadas e erradicadas em todos os âmbitos. desfazem a figura da mulher/maíz e a transforma em uma “aberração” mutante. Tal
E, mesmo sendo uma ameaça para ambos – trabalhadores e trabalhadoras da terra –, mesmo qual as mutações do milho, que passa pelos processos de manipulação genética, ela se
diante da série de adversidades causadas pela perda da autonomia diante da biodiversidade envenena e sangra. Dirige-se para o segundo palco, um laboratório de genética. Nele,
das sementes, como a contaminação das águas doce e o empobrecimento do solo, muitos compartilho a cena com Violeta. Eu represento, além da presença de classe que traduz
tornam-se inclinados ao uso de sementes transgênicas, de agrotóxicos e de fertilizantes. Isso o trabalho exploratório das multinacionais e dos laboratórios de engenharia genética,
gera dependência do mercado no processo: desde o fornecimento de sementes, passando a mulher branca. Aqui configura-se a dominação da mulher branca, que invisibiliza a
pela produção, até o comércio dos alimentos cultivados. A semente nativa tende a ser existência da mulher indígena – a “outra”. Evidencia-se a violência histórica, os saberes
129 A origem da produção teórica do ecofeminismo surge nos anos 1970, a partir dos escritos críticos negados, o aculturamento e o cerceamento dos modos de existir das mulheres indígenas
da feminista francesa Françoise d´Eaubonne, que passou a utilizar o termo pela primeira vez para enunciar
grupos feministas que relacionavam o patriarcado à usurpação da natureza e à dominação masculina. Consoli-
do “Sul”, dominadas de acordo com as “verdades” impostas pelo pensamento hegemô-
dou-se nas décadas seguintes enquanto movimento social e teoria crítica, a partir da intersecção entre as lutas nico das mulheres brancas do “Norte”. É a perpetuação dos processos de colonialidade
ecológicas, ambientalistas e feministas. Mary Daly, Karen J. Warren, Vandana Shiva são alguns nomes que se
destacam no ecofeminismo. de gênero exercidos pelas próprias mulheres.

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Há, na representação da mulher indígena da cena de Luna, uma interlocução com de construir categorias representativas dos “não ditos” da colonialidade em relação às
o feminismo decolonial. A filósofa argentina María Lugones (2014) complexifica a pautas das mulheres latino-americanas. Sendo assim, Lugones incentiva um feminismo
ideia de Aníbal Quijano sobre colonialidade do poder, do saber e do ser, ampliando o contra-hegemônico voltado às pautas das mulheres silenciadas pelos sentenciamentos
sentido dos termos para a “colonialidade de gênero” como um dos construtos centrais históricos. Grupos invisibilizados e inferiorizados de mulheres indígenas, negras, latinas,
do sistema de poder. Para ela, gênero, raça e classe são categorias indispensáveis para mestiças, imigrantes e periféricas da Abya Yala aparecem no pensamento decolonial como
a constituição da colonialidade do poder, com o objetivo de racializar e engendrar as categorias fundamentais no enfrentamento às colonialidades, pois elas não são atendidas
sociedades colonizadas. Abre-se uma fissura teórica para a articulação das ideias sobre pelos feminismos regulados no modelo universalista que visibilizam apenas as questões
gênero na teoria decolonial, historicizando o patriarcado nos processos de dominação das mulheres brancas, heterossexuais, de classe média e no contexto urbano/centro.
e propondo um feminismo latino-americano: No momento final da performance/manifesto de Luna, no qual retoma a presença de
resistência da mulher indígena do início da performance, amarra um paliacate zapatista
Descolonizar o gênero é necessariamente uma práxis. É decretar uma crítica da opressão sobre o rosto e reaviva a esperança da luta dos povos originários do México. Essa cena
de gênero racializada, colonial e capitalista heterossexualizada, visando uma transfor- remete à ideia de “consciência mestiça” (chicano, índio, ameríndio, imigrante latino),
mação vivida do social. [...] Minha intenção é enfocar na subjetividade/intersubjetividade proposta pela teórica cultural Gloria Anzaldúa em seu manifesto autobiográfico Border-
para revelar que, desagregando opressões, desagregam-se as fontes subjetivas-intersubje- lands/La frontera (1987). Ela defende um pensamento de “fronteira” feito pelas mulheres
tivas de agenciamento das mulheres colonizadas. [...] Chamo a possibilidade de superar e homens mestiços a partir de seus lugares, saberes, cosmovisões, em oposição às colo-
a colonialidade do gênero de “feminismo descolonial”. (LUGONES, 2014, p. 941) nialidades e ao pensamento hegemônico:

Figuras 9, 10 e 11 – Violeta Luna e Stela Fischer em “NK 603: Action for performer and e-maíz” A cultura branca dominante está nos matando devagar com sua ignorância. Ao nos
destituir de qualquer autodeterminação, deixou-nos fracas/os e vazias/os. Como um
povo, temos resistido e ocupado posições cômodas, mas nunca nos foi permitido desen-
volver-nos sem restrições, nunca nos foi permitido sermos nós mesmas/os completa-
mente. Os brancos no poder querem que nós, povos de cor, construamos barricadas
atrás dos muros separados de nossas tribos, de maneira que possam nos apanhar um de
cada vez com suas armas escondidas; de maneira que possam caiar e distorcer a história.
A ignorância divide as pessoas, cria preconceitos. (ANZALDÚA, 2005, p. 713)

Aqui tem-se a intersecção entre a teoria decolonial e o feminismo latino na voz de


Fonte: Renato Mangolin (2015). mulheres que pensam os seus lugares a partir da realidade de fronteira. A cena de Luna
traz o corpo da mulher indígena, rural e subalterna como ponto nuclear a respeito
A partir do feminismo “descolonial”, Lugones também lança reflexões sobre as teorias das traduções indenitárias que fundamentam os discursos decoloniais feministas. O
feministas eurocentradas que universalizam as diferenças entre as mulheres, com recorte corpo da artista e sua ação imperialista levantam um questionamento sobre os limites
para o contexto latino-americano. Ela encaminha sua crítica em direção à desarticulação e a resistência da modernidade globalizada. Da mesma forma que Anzaldúa sublinha
dos feminismos hegemônicos e aos padrões eurocêntricos que, segundo a autora, são conceitualmente, Luna lembra o quanto se faz necessário que as mulheres racializadas
excludentes em relação à raça e à classe. Defende um feminismo “descolonial” capaz busquem alternativas no combate da cultura e da prática de dominação corporativa.

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Só assim será possível tornar visíveis as perpetuações das colonialidades na atualidade e “NK 603: Action for performer and e-maíz” rompe, como diz Ileana Diéguez (2008,
articular outras possibilidades de questionar os processos de interdição do poder capital p. 28), em suas análises sobre ativismo, “as fronteiras entre arte e vida, entre ator,
massificados sobre os povos subjugados. performer e cidadão, entre ficção e realidade, destacando a dimensão ética do ato esté-
tico e a realização de práticas artísticas como forma de ativismo social”. E é no espaço
Figura 12 – NK 603: Action for performer and e-maíz multidimensional e fronteiriço entre teatro, performance e ativismo que Luna opera
o seu corpo político como um lugar de resistência, memória e ativismo conectados ao
pensamento decolonial. O corpo é o seu “território político”, estabelecendo uma zona
de confronto sensível entre o espectador e a cena, na qual agita o seu manifesto cênico
poético contra as colonialidades da natureza e de gênero.

III

Como conclusão, ressalto a importância de ações poéticas decoloniais que agem no


contrafluxo das colonialidades. Assim, a opção decolonial como recurso epistemoló-
gico e a postura crítica diante da feitura artística articulam e/ou validam outros modos
possíveis de se pensar, ser e agir. Há um compromisso com o global, com a justiça, com
o meio ambiente, com a liberdade de todas/os. É uma aposta, um projeto de vida de
reexistir, sentir-pensar e denunciar a ordem dominante – que insiste em desrespeitar
Fotos: Renato Mangolin (2015).
a natureza e saberes originários –, para então criarmos espaços arejados para a emer-
gência de outras formas de existir feitas de fissuras e aporias. Trata-se de “reconhecer o
Por fim, sobre o seu processo criativo, Luna vem desenvolvendo a pesquisa
colonialismo como uma estrutura, um ethos e uma cultura que se reproduzem dia a dia
sobre o entrecruzar de fronteiras estéticas e conceituais entre o teatro e a perfor-
em suas opressões e silenciamentos, apesar das sucessivas tentativas de transformação
mance. Em suas palavras:
radical” (CUSICANQUI, 2018, p. 25).
A temática tratada em “NK 603: Action for performer and e-maíz” infelizmente
Meu trabalho basicamente é resultado de um diálogo entre a performance e um teatro perfor-
estende-se e se atualiza nos nossos dias. No intervalo de tempo entre a apresentação da
mativo, num espaço multidimensional que envolve a dança, o ritual, o vídeo, a música, a inter-
venção em espaço público e ações para a criação de narrativas. E trabalho com as identidades
performance relatada neste texto até o momento em que este foi redigido – ou seja,
híbridas. Quando cruzo as fronteiras estéticas, também cruzo as fronteiras geográficas. [...] de 2015 até o final de 2019 – acompanhamos o Brasil diante de uma, segundo Suely
Como artista, tenho a preocupação e a responsabilidade em assumir o processo criativo não só de Rolnik (2018, p. 32), “paulatina diluição da forma Estado democrático e de direito”;
maneira contestatória, mas também com uma proposta de denúncia. Considero o ato de decisão ou, para Rita Laura Segato, uma “fase apocalíptica do capital” (2018, p. 75). Assistimos
criativa uma ação política em si mesma e que os espaços para se construir a arte são espaços de a vários episódios de tragédias e crimes ambientais, muitas vezes com omissão do Estado,
construção de pessoas como indivíduos, como seres sociais.130 declarando uma contínua ação predatória de colonialidade da natureza.
Em janeiro de 2019, mal havíamos saído do luto pelo rompimento da barragem do
130 Em depoimento no debate “O corpo como espaço da objetivação da dor”, II Bienal Internacional
de Teatro da USP, dezembro de 2015. Fundão e Santarém, em Mariana, que afetou toda a bacia do Rio Doce em 2015 – até

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então um dos maiores desastres ambientais envolvendo a exploração da mineração131 –, nós plantações de soja, milho, café, arroz, entre outras. Segundo um estudo do Instituto
choramos pelas vidas soterradas na lama e nos rejeitos de Brumadinho (MG). Novamente, Nacional de Câncer (INCA, 2019), cada brasileiro ingere, em média, cinco litros de
as responsáveis por mais este ecocídio são as mineradoras brasileira Vale e anglo-australiana pesticida por ano, devido aos vestígios nos alimentos. Não seria mais adequado – e
BHP Billiton. O rompimento da barragem na Mina do Feijão é o maior acidente mundial inteligente – fazer um investimento em outras alternativas de controle de pragas com
entre mineradoras em número de mortes. Até o momento, foram encontrados 252 corpos biotecnologia e defensivos biológicos? Ou a criação de plataformas e alternativas de
e outros 18 continuam desaparecidos ( JORNAL NACIONAL, 2019). Sem falar no efeito agroecologias como prática integrada ao movimento social e produção agrícola familiar
destrutivo do impacto ambiental da fauna e flora da região, com assoreamento de cursos ou de pequenos agricultores que reconfigurem a ideia de desenvolvimentismo preda-
d’água, soterramento de nascentes e poluição do Rio Paraopeba, um dos afluentes do rio tório? Seria – mas a lógica do modelo de exploração econômica predatória pautada na
São Francisco. monocultura industrial, inclusive com manipulação transgênica de sementes e fertili-
zantes de solos, não permite outras alternativas de agroecologias.
O que é feito de nossos rios, nossas florestas, nossas paisagens? Nós ficamos tão As áreas de cultivo caminham cada vez mais em direção à nossa Amazônia, que sofre
perturbados com o desarranjo regional que vivemos, ficamos tão fora do sério com com o desmatamento e com a queima para a limpeza e o preparo da área para plantação de
a falta de perspectiva política, que não conseguimos nos erguer e respirar, ver o que sementes transgênicas de soja e milho. Sem falar no impacto alarmante da ação pecuária,
importa mesmo para as pessoas, os coletivos e as comunidades nas suas ecologias. que transforma áreas de mata tropical em pasto para dar conta da demanda mundial de
[...] Quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles os seus uma alimentação – obsessiva! – com base na carne, com efeitos catastróficos, também,
sentidos, considerando que isso é atributo exclusivo dos humanos, nós liberamos na emissão de gás carbônico e na crise climática mundial. E, ainda, as queimadas e os
esses lugares para que se tornem resíduos da atividade industrial e extrativista. Do
desmatamentos deliberadamente deflagrados para a exploração madeireira e grileira.
nosso divórcio das integrações e interações com a nossa mãe, a Terra, resulta que ela
O mês de agosto de 2019 trouxe notícias e fatos alarmantes sobre o desmatamento
está nos deixando órfãos, não só aos que em diferentes graduações são chamados
da Amazônia (a área com alertas de desmatamento foi de 1.394 km2, um valor 120%
de índios, indígenas ou povos indígenas, mas a todos. (KRENAK, 2019, p. 23; 50)
maior do que o referente ao mesmo mês em 2018), acompanhado de 30.901 focos de
queimadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), fato que teve
Diante desses crimes ambientais, é mais do que hora de haver uma obrigatoriedade de
repercussão mundial.132 A falta de regularização fundiária cria cadeias criminosas que
revisão e asseveramento de leis que atestem a responsabilidade ambiental e/ou a inter-
incluem invasão, posse e venda de terras, extração ilegal de madeira e desmatamento,
dição de empresas de exploração de recursos naturais. Não podemos mais permitir a
ameaçando áreas protegidas de conservação e demarcação indígenas. Não seria dever do
flexibilização das concessões para o funcionamento de barragens no Brasil e no mundo.
governo manter fortalecidos os órgãos de proteção da Amazônia e estimular a ciência
Vivemos continuamente em processos de colonização e exploração dos nossos bens
e a tecnologia, o uso sustentável da biodiversidade e o respeito aos povos indígenas e às
naturais: o corpo/território/Terra.
comunidades tradicionais? Mas, ao invés disso, acompanhamos declarações que desprezam
Na continuidade, outro alerta vermelho: em menos de um ano de governo Bolsonaro,
a pauta ambiental e indígena proferidas pelo próprio presidente Jair Bolsonaro em
foram liberados 325 pesticidas com nível extremo de toxicidade, sendo que a maioria
discursos falaciosos, como o conferido na abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU,
tem uso proibido na União Europeia (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019). O tipo
de agrotóxico mais utilizado no Brasil é o herbicida à base de glifosato, aplicado em 132 Uma análise feita pela equipe do WWF-Brasil, sobre focos de queimadas no bioma, com base
em imagens de satélite e em dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), revela que “aproxi-
131 Uma notícia recente, em 26 outubro de 2019: “A mineradora Samarco recebeu nesta sexta-feira madamente um em cada três focos de queimadas registrados em 2019 não tiveram relação com a limpeza de
(25) licença para voltar a operar. A licença foi dada para o complexo de Germano, em Mariana (MG), onde pastagens, mas sim com queimadas que sucederam o corte de áreas de floresta, no ciclo tradicional de corte e
ficava a barragem de Fundão que, em 5 de novembro de 2015, se rompeu, deixando 18 mortos, um desapare- queima. Historicamente, na Amazônia, o uso do fogo é um dos estágios finais do desmatamento após o corte
cido e um rastro de destruição ao longo do rio Doce até o litoral do Espírito Santo” (CANOFRE, 2019). raso da floresta” (WWF, 2019).

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Práticas Decoloniais nas Artes da Cena Práticas Decoloniais nas Artes da Cena

em setembro de 2019, durante o qual se posicionou abertamente contra a demarcação Entretanto, várias ações, decretos e portarias realmente estão “passando” sem o conhe-
de terras indígenas e a favor da extinção de reservas já estabelecidas. cimento da maioria dos brasileiros.
E, por último, assistimos o maior ecocídio socioambiental envolvendo derramamento Entre elas, a regularização de propriedades rurais em terras indígenas ainda não homo-
de óleo na costa brasileira, comprometendo ecossistemas marinhos e costeiros singulares, logadas, permitindo a invasão, a exploração e comercialização; a diminuição entre a
arruinando a fauna marinha, recifes corais, manguezais e colocando em risco a vida distância de pulverização de agrotóxicos e áreas rurais povoadas; os cortes de gastos e
humana e a produção pesqueira. Até o momento, 101 municípios foram atingidos pela demissões de profissionais que atuam em unidades de conservação ambiental; o cresci-
toxicidade do óleo cru, e a prática da pesca artesanal como meio de vida também foi mento das queimadas e desmatamento da Amazônia; a anistia a desmatadores e grileiros;
afetada. O plano de contingência não tem sido colocado em prática como prevê a lei de as alianças entre inúmeras multinacionais e a bancada ruralista do agronegócio que
emergência ambiental, e há falta de transparência pública nas investigações. aprovam a pasta de “passar a boiada” em benefício de seus negócios.
Estamos em guerra! Uma guerra difusa da violência privatizada que perpetua as dinâ- Ou seja, a expansão desenfreada de uma série de políticas parasitárias a contrafluxo
micas de colonização e colonialidades a partir do instante da ocupação da nossa Abya do desenvolvimento socioambiental do país que se aceleram em meio à tragédia da
Yala. Um tipo de dominação arcaica, no modelo desenvolvimentista exploratório, de pandemia. Mais informações, disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2020-
caráter colonial, capitalista e patriarcal. Estamos em guerra contra a natureza, ou seja, 06-05/entidades-ambientais-fazem-ofensiva-judicial-contra-politicas-do-governo-bol-
uma guerra que se volta contra nós mesmas/os. sonaro.html>. Acesso em jun. 2020.

É importante destacar que este texto foi escrito meses antes da chegada da epidemia
da Covid-19 no Brasil.
A partir de então, temos assistido a cenas estarrecedoras do governo Bolsonaro, enquanto
o país registra recordes de mortes por coronavírus.
Uma delas foi a fala do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante reunião
ministerial, no dia 22 de abril de 2020. Salles defendeu a “tranquilidade” do momento
enquanto a atenção e a mídia do Brasil estão voltadas para o coronavírus para “passar a
boiada” e mudar regras ligadas à proteção ambiental e ao agronegócio que normalmente
poderiam ser barradas nas instâncias da Justiça.
Entidades ligadas ao meio ambiente (como o Greenpeace Brasil, WWF-Brasil, SOS
Mata Atlântica) criticaram as declarações de Salles e encaminharam uma ofensiva judicial,
denunciando o Ministério do Meio Ambiente por omissão, questionando a autori-
zação de exportação de madeira sem fiscalização e reivindicando a retomada de fundos
ambientais paralisados.

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