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Arthur Bispo do Rosário

Alunos: Ivone, Laryssa e Pedro.


Quem foi?

 Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba, Sergipe, 1911 e faleceu em 1989. O passado de Arthur Bispo do Rosário é
praticamente desconhecido. Sabe-se apenas que era negro, marinheiro, pugilista, lavador de ônibus e guarda-costas. Nas
vésperas do Natal de 1938 é internado no Hospital Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, após um
delírio místico.

 Este delírio se deu pela sua postura em se configurar como sendo Jesus Cristo de volta a terra, poucos antes de ser internado
no hospital nacional, em entrevista declarou com os médicos, eu vim para julgar os vivos e os mortos. Eles perceberam  e
mandaram eu vir para o hospício. Que antes mesmo, eu lá na Ilha do Governador (...) já dizia que vinha para o hospício a fim
de julgar os vivos e os mortos. Isso pra quem enxerga, quem conhece. Um médico, por exemplo, que é psiquiatra, eu quando
cheguei na Praia Vermelha, com dois dias fui chamado por uma junta médica. Dr. Odilon Galotti. Tinha uma junta médica a
fim de me interrogar e todos eles perceberam que eu tinha vindo representar a sua santidade. Dentro dessa santidade, me
permitiam uma casa forte. A casa forte pertence a Cristo e assim eu passei a residir na casa forte, a fim de fazer miniaturas,
porque eles perceberam a minha visão.

 Com diagnóstico de paranóico-esquizofrênico, é transferido no ano seguinte para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá.
Entre muitas permanências e saídas, vive mais de 40 anos na instituição, onde executa a maior parte de sua obra.

 No começo da década de 1960, trabalha na Clínica Pediátrica Amiu, onde vive em um quartinho no sótão.

 Artista visual que se destacou por ter desenvolvido, com objetos cotidianos da instituição em que viveu internado, uma
produção em artes visuais reconhecida nacional e internacionalmente.
Quem foi?

 Os trabalhos de Bispo variam entre justaposições de objetos e bordados. Nas obras do
primeiro tipo, geralmente usa itens de seu cotidiano na Colônia, como canecas de
alumínio, botões, colheres, madeira de caixas de fruta, garrafas de plástico, calçados e
materiais comprados por ele ou pessoas amigas. Para os bordados, usa tecidos
disponíveis, como lençóis ou roupas, e obtém os fios ao desfiar o uniforme azul de
interno.

 Prepara com seus trabalhos uma espécie de inventário do mundo para o dia do Juízo
Final. Nesse dia, ele se apresentaria a Deus com um manto especial, enquanto
representante dos homens e das coisas existentes. O manto bordado traz o nome das
pessoas conhecidas, para não se esquecer de interceder junto a Deus por elas. Também
faz estandartes, fardões, faixas de miss, fichários, entre outros, nos quais borda
desenhos, nomes de pessoas e lugares, além de frases referentes a notícias de jornal ou
episódios bíblicos, reunindo-os em uma espécie de cartografia. A criação das peças,
para ele, é uma tarefa imposta por vozes que diz ouvir.
Quem foi?

 No início da década de 1980, com as questões levantadas pela arte contemporânea, a
antipsiquiatria e as novas teorias sobre a loucura, os trabalhos de Bispo começam a ser
valorizados e integrados ao circuito das artes. Em 1980, uma matéria de Samuel
Wainer Filho (1955-1984) para o programa Fantástico, da TV Globo, revela a produção
de Bispo ao mostrar a situação da Colônia Juliano Moreira. A reportagem exibe as
obras que o artista agrupa em seu quartinho. No mesmo ano, o psicanalista e
fotógrafo Hugo Denizart (1946) dirige o filme O Prisioneiro da Passagem ⎼ Arthur
Bispo do Rosário.

 Com a divulgação, surge o reconhecimento artístico das obras. O crítico Frederico


Morais (1936) inclui seus trabalhos na exposição À Margem da Vida, realizada
no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), em 1982, com obras de
presidiários, menores infratores, idosos e internos da Colônia. Posteriormente, realiza-
se a primeira exposição individual do artista, também no MAM/RJ. Morais, ao
escrever sobre o trabalho de Bispo, relaciona-o à arte de vanguarda, à arte pop, ao
novo realismo e especialmente à obra de Marcel Duchamp (1887-1968).
Quem foi?

 O artista recebe foco em filmes de curta e média-metragens; em livros,
como Arthur Bispo do Rosário: o Senhor do Labirinto (1996), de Luciana Hidalgo
(1965); e em peças teatrais. Em 1989, é fundada a Associação dos Artistas da
Colônia Juliano Moreira, que visa à preservação de sua obra, tombada em
1992 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural (Inepac). Sua
produção está reunida no Museu Bispo do Rosário, denominado
anteriormente Museu Nise da Silveira, localizado na antiga Colônia Juliano
Moreira. Em 1995, com uma vasta seleção de peças, Bispo representa o Brasil
na Bienal de Veneza e obtém reconhecimento internacional.

 Além de ter se tornado uma das referências para as gerações de artistas


brasileiros dos anos 1980 e 1990, a obra de Bispo lega ao Brasil um fazer
artístico que retrata e ressignifica, com uma estética e temática particulares,
os objetos e experiências do mundo e da vida cotidiana.
Bispo do Rosário

 Arte bruta: produções atípicas/impulsivas;
inventário do mundo(ressignificação ou
reinterpretação singular do mundo e de si mesmo)

 "O artista não vê as coisas como elas são, mas como


ele próprio é" (Alfred Tunnelle).
Labirinto...

 Um labirinto de signos: a reconstrução do mundo,
mundo este abalado pelas crises psicóticas. Sua obra
cumpre uma função positiva, ao operar no
"restabelecimento" do artista. Obra repleta de miniaturas,
produzidas numa cela minúscula... um labirinto de signos
 Bispo produziu ou reinventou objetos com os materiais
que encontrava em seu cotidiano. Sua arte baseava-se na
criação de esculturas, faixas e bandeiras, quase sempre
reinterpretações desses mesmos objetos, produzidos com
materiais algumas vezes recolhidos do lixo.
Reinauguração do mundo

 Sua missão era a de recriar o universo, mostrando a sua
percepção de mundo ao Pai. Para isso, deveria estar
portando um uniforme, uma espécie de manto que ele
também se dedicou a realizar. Esse manto, com o qual
pediu para ser enterrado, aproxima-se em muito dos trajes
da nobreza, com suas próprias dragonas e condecorações.
O manto é um arquétipo social: imitação de uma peça do
vestuário da nobreza/ peça da roupa de um rei, ou de um
general do exercito real. Aqui evidencia-se elementos
simbólicos ostentatórios de poder e nobreza, como
bordados e enfeites que traduzem riqueza, beleza e nobreza.
Manto da Apresentação:

Manto...

 Este manto da Apresentação seria a vestimenta para o
Juízo Final. Com este manto, Bispo pretendia marcar a
passagem de Deus na Terra. Deus: pai simbólico:
necessidade de suporte para o desamparo em que se
encontra. Através da sua criação, Bispo pode passar
do singular para o coletivo, coletivo do qual ele foi
excluído durante toda a vida. Interessante notar que o
apelo místico da obra de Bispo não se ancorou na
reprodução de símbolos caricatos já existentes... ela
reinventa o sagrado já estabelecido.
Resistência interna...

 Sua obra parece ser o seu espaço de resistência interna à
homogeneização proposta à loucura: À margem da vida em
sociedade, Bispo se ilhava num pedaço de cela e se
esforçava para construir um outro mundo, onde era rei.
Evidencia-se, portanto, a figura simbólica do herói,
devidamente vestido em sua "túnica“; o salvador, aquele
que reconstituirá o mundo, eliminando o mal que dele se
apodera... O rei- herói, incorporado pelo Bispo e expresso,
especialmente na obra "Manto da Apresentação", terá a
função de salvar o mundo, é uma figura que exerce a função
paterna; ao salvar o mundo, extirpa o mau pela raiz.




Signos e símbolos...

 As cores, sempre muito fortes, tem muitos significados, com
destaque para o vermelho, que pode representar  sentimentos ou
pulsões violentas, a cor da atração,  sinaliza algo relacionado a
sexualidade. Jesus é  o "salvador da pátria"; o herói; o sábio, a
própria encarnação do bem... no dia do Juízo final, ele, incorporado
em Bispo, deve aparecer como se fosse o príncipe de outros contos;
 O mundo, que precisa ser salvo, representa a "sombra", o mal oculto,
aquele que ameaça à todos e todas, mal que pode estar alojado nele
próprio(no artista); os barcos sempre presentes em várias de suas
obras, por exemplo, além de remeterem a sua história de vida - na
marinha - podem indicar insegurança, medo, solidão, falta de
controle, enfim, várias questões profundas então encobertas.
Signos e Símbolos...

 Bispo demonstrou sempre uma certa "obrigação com o seu dever", na
missão de expressara "a verdade", fazer "justiça", cumprir a sua tarefa de
resgatar o mundo, restabelecendo-o na sua inteireza, restituindo-o de
amor, o amor que, aparentemente lhe faltava. Assim, seguia método em
sua produção e na escolha dos objetos mumificados com os fios de seu
uniforme de interno desbotado e esse método foi seguido à risca ao longo
dos 50 anos de produção de sua obra e de mais de mil peças produzidas.
 Trata-se de uma produção de objetos com diversos tipos de materiais
oriundos do lixo e da sucata: navios (tema recorrente devido à sua relação
com a Marinha na juventude), estandartes, faixas de mísses e objetos
domésticos. A partir da Psicanálise, podemos afirmar que Bispo utilizava
os "significantes" como elemento pulsante em sua obra. Seu recurso à
linguagem manipula signos e brinca com a construção de discursos,
fragmentando a comunicação em códigos privados.
Lacan - Psicanálise

 Inserido em um contexto excludente, Bispo driblava a
instituição o todo tempo, recusando-se a receber tratamentos
médicos. Todavia, dela retirava subsídios para elaborar sua
obra e, assim, mesmo sendo marginalizado e excluído, é
consagrado como referência da Arte Contemporânea brasileira.
 Teoria lacaniana(Lacan,1985) de "dissolução imaginária" do
psicótico: desencadeamento da crise de Bispo do Rosário
produz, em compensação, uma "hipertrofia da imaginação".
Conforme o psicanalista, essa forma de reconstrução
promovida pelo delírio, quando da emergência de
manifestações psíquicas inusitadas e ameaçadoras, é
produzida em função da carência de amarras simbólicas.
Inclusão/alteridades

Delírios místicos de alguém situado à margem ... que
tenta se reconstruir da avalanche provocada pelos
rótulos dos estigmas, exclusões e marginalidade
social; a obra de Bispo chama a atenção para a
necessidade de redimensionamento dos valores, de
inclusão, de multiplicidades de discursos, que
contemple as diversas alteridades.
Obra e Projeções

 Obras e ideias megalomaníacas;
 Conteúdo místico/religioso;
 Influência do Catolicismo;
 Nos devaneios recebe a visita de anjos, tem uma
missão importante, uma espécie de escolhido, tem o
poder da criação de um novo mundo em miniatura;
 (Deus do seu próprio mundo - característico da
esquizofrenia).
Túnica

Túnica

 Confeccionou durante 30 anos, com o objetivo de
vesti-lo no dia do juízo final;
 Trabalho de bordar e costurar as franjas e símbolos;
 Tentativa de afirmar sua individualidade frente à
finitude humana;
 Revela sua maneira de “transgredir” a morte
Projeções na túnica

 Mandalas: aparecem, enquanto fenômeno psicológico, em
sonhos; em algumas situações de conflito e em casos de
Esquizofrenia (que é o caso do artista)
 quando a visão de mundo torna-se confusa pela invasão dos
conteúdos inconscientes (Jung, 2008; Silveira, 1981).
 No centro desta mandala há um pequeno círculo, do qual partem
algumas pontas. De acordo com Silveira (1981), mandalas com
pontas representam um tipo de autoproteção contra as ameaças
do mundo externo;
 Arthur Bispo do Rosário comunica através da linguagem artística
uma forte necessidade existencial, proteger-se das ameaças
apresentadas pelo seu mundo interno e externo.
Projeções na túnica

 Presença de vários elementos que remetem à viagens
e se colocar em movimento como: bicicleta, trilhos de
trem, avião, navios.
 Pode indicar o desejo de liberdade frente á sua
condição de estar institucionalizado em um hospital
psiquiátrico;
 Globo Terrestre: remete ao arquétipo do Aventureiro
e aos anos que passou na Marinha.
Projeções na túnica

 Ringue de boxe: se relaciona diretamente à sua
história de vida, já que o artista costumava praticar o
esporte.
 O elemento pode ter surgido de modo a retomar um
tempo em que se sentia viril e forte.
 Cadeado: Profundamente relacionado à sensação de
prisão, enclausuramento que a institucionalização
provoca no artista.
Naus dos loucos

Naus dos loucos

 Navios são bem presentes na obra de Bispo do
Rosário, inclusive bordados na Túnica;
 Existem várias projeções possíveis deste elemento
com sua a história de vida do artista;
 A 1ª delas se refere aos anos que o artista passou na
Marinha. Pode indicar tanto o início do sofrimento
psíquico quanto um período de sua vida em que se
sentia mais livre.
Naus dos loucos

 A 2ª se refere ao termo “Naus dos Loucos” da
Renascença comum em cidades europeias;
 A água e a navegação tem realmente esse papel.
Fechado no navio, de onde não se escapa, o louco é
entregue ao rio de mil braços, ao mar de mil
caminhos, a essa grande incerteza exterior a tudo.
 Um prisioneiro no meio da mais livre, da mais aberta
das estradas: solidamente acorrentado à infinita
encruzilhada. É o passageiro por excelência, o
prisioneiro da passagem (Foucault, 1978, p.12).
Naus dos loucos

 A 3ª delas se refere aos Navios Negreiros,
considerando que o artista é um homem preto e
descendente direto de escravos.
Museu Bispo do Rosário

Instagram: @museubispodorosario
Referências

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