Você está na página 1de 11

Dinâmica de apresentação de trabalhos em eventos científicos

DINÂMICA DE APRESENTAÇÃO DE

artigo de revisão
TRABALHOS EM EVENTOS CIENTÍFICOS *

Maria das Graças Targino **


Osvaldo Nilo Balmaseda Neyra***

RESUMO Dentre as formas de divulgação da ciência, está a comunicação


científica semiformal. Os cientistas, para difusão das suas
pesquisas, sobretudo os resultados parciais, não optam, de
imediato, por meios convencionais, mas recorrem a pré-
edições (preprints), versões provisórias (prepapers) e
comunicações em congressos. No caso dos congressos ou
eventos similares, estes mantêm, simultaneamente,
características informais na forma de apresentação oral dos
trabalhos e nas discussões que provocam, e características *
Texto fundamentado em paper
formais na sua divulgação via cópias impressas ou eletrônicas apresentado ao Núcleo de Pesquisa
de anais. Objetiva-se, assim, discutir as vantagens ou Comunicação Científica e Ambiental,
XIX Congresso Brasileiro da Sociedade
desvantagens desses encontros, na atualidade, com enfoque Brasileira de Estudos Interdisciplinares
generalista, dissertando sobre as modalidades de da Comunicação (Intercom), 2006.

apresentações e de apresentadores, acrescentando reflexão **


Doutora em Ciência da Informação,
sobre os eventos científicos como recurso para a Universidade de Brasília. Docente-
pesquisador Universidade Estadual do
comunicação científica. Piauí / Universidade Federal do Piauí.
E-mail: gracatargino@hotmail.com
Palavras-chave EVENTOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS E COMUNICAÇÃO ***
Doutor em Ciências Pedagógicas,
CIENTÍFICA Ministério de Educação Superior, Cuba.
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA SEMIFORMAL Assessor da Direção de Pós-Graduação
do Ministério de Educação Superior,
CONGRESSOS E COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA Cuba.

1 INTRODUÇÃO legitimá-los. Ao contrário do que ocorre em outras


áreas da vida social, na atividade científica

O
s tempos mudaram e as mudanças prevalece a desconfiança e / ou a suspeição do
prosseguem. Alcançam todos os setores julgamento, até que as evidências sejam
da vida humana, incluindo, com força devidamente comprovadas. Tal cepticismo
total, as atividades científicas e tecnológicas, sistemático, segundo o qual a ciência não legitima
imprescindíveis ao processo desenvolvimentista novos conhecimentos de forma dogmática, concorre
das diferentes nações. Mais do que antes, o homem para o estabelecimento de disciplina intelectual
contemporâneo percebe a ciência não somente rígida e padrões críticos elevados para os cientistas,
como soma dos conhecimentos humanos diante dos próprios resultados. O sistema de
historicamente acumulados ao longo dos séculos, avaliação a que os originais propostos à publicação
mas, essencialmente, como processo que visa à na literatura científica são invariavelmente
produção de novos saberes, estruturados com
submetidos, o julgamento de solicitações junto às
métodos, teorias e linguagens próprias, que visam
agências de financiamento, a formação de bancas
a compreender e, portanto, a orientar a natureza e
para análise de trabalhos acadêmicos, sobretudo,
as atividades humanas.
Ora, se a ciência está a serviço da sociedade, de pós-graduação stricto sensu, e a forma de
a divulgação de resultados das pesquisas condução dos debates nos eventos científicos têm
empreendidas constitui etapa fundamental e não nítida vinculação com essa prescrição.
complementar às suas ações, tanto para permitir que Como decorrência, cientistas e
a população tire proveito dos avanços, como para pesquisadores lançam mão de variados recursos

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006 13
Maria das Graças Targino; Osvaldo Nilo Balmaseda Neyra

dentro dos preceitos da denominada comunicação definições construtivistas. Uma considera a


científica. Esta propicia a soma dos esforços comunicação científica como ação ou atitude que
individuais dos membros da comunidade permite e incentiva a troca de informações entre
científica, graças ao intercâmbio de informações, os indivíduos. A segunda diz respeito à estrutura
dentro de um ciclo inesgotável de recepção e da comunicação como conjunto das relações
transmissão de dados. É a ciência comunicada no existentes entre indivíduos que compartilham
próprio âmbito. É a ciência filtrada dentro da sua objetivos comuns e informações do mesmo nível.
estrutura. Portanto, a comunicação científica A partir de então, a autora representa o ciclo de
fundamenta-se na informação científica, que, por comunicação em três estágios subseqüentes:
sua vez, gera o conhecimento científico, o qual concepção, documentação e popularização.
consiste em acréscimo à “verdade” vigente sobre Na primeira fase, os cientistas aprofundam
fatos ou fenômenos. Isto porque, a ciência é as suas idéias no âmbito de grupo restrito, de forma
infinitamente evolutiva e mutável (não há nem bastante informal. São os correios eletrônicos (vistos
haverá ciência “pronta”), o que faz da pesquisa como informais ou como recursos eletrônicos), além
científica o seu instrumento central e da de telefonemas, encontros casuais em corredores e
comunicação científica, o seu elemento básico. / ou em laboratórios, dentre outros itens. Neste
Sob tal perspectiva, a comunicação científica caso, a estrutura comunicacional está representada
configura-se como sistema global e sinérgico, que por pesquisadores individuais, que compartilham
reúne medidas, facilidades, ocasiões, publicações, dúvidas e experiências com profissionais próximos,
recursos e diretrizes, que determinam como as como colegas, amigos, orientandos / orientadores,
mensagens científicas circulam. O cientista lança co-autores, membros da mesma equipe.
mão de recursos diversificados para difusão das No estágio da documentação, ainda
suas descobertas, que vão desde os mais informais segundo Lievrouw (1992), o processo
aos eletrônicos, preferencialmente, de forma comunicacional é mais complexo. Os cientistas
concomitante, porquanto eles não são antagônicos, registram as suas pesquisas com maior precisão e
mas sim, complementares. Daí resulta a completeza, graças à elaboração de papers,
categorização sintetizada por Targino, em sua tese capítulos de livros, artigos de periódicos,
de doutorado e revista posteriormente, em 2006, a comunicações em eventos técnico-científicos e
partir de autores, como Le Coadic (1998), outros meios. Isto requer estruturas abrangentes,
McMurdo (1995) e Meadows (1999), referente à entre as quais estão associações profissionais,
comunicação científica: (a) formal; (b) informal; (c) programas universitários de pós-graduação,
semiformal; (d) eletrônica. docentes da mesma disciplina e membros dos
Não se trata de segmentação universal, haja colégios invisíveis. Quando da popularização dos
vista que não é aceita por todos os estudiosos da conhecimentos gerados, os esforços empreendidos
comunicação e comunidades científicas, face às pretendem tornar a ciência acessível ao grande
especificidades das áreas e subáreas do saber. público, por meio de intermediários, como
Ademais, o avanço e a expansão veloz dos meios jornalistas e editores, os quais se posicionam como
eletrônicos, com destaque para a internet, modifica, mediador entre pesquisador e sociedade.
a cada dia, de forma substancial, o processo de No entanto, a autora ora referenciada
difusão informacional e a atuação e concepção dos reconhece que muitas idéias não alcançam o
canais de comunicação. Por outro lado, tal terceiro estágio, salvo temas de impacto midiático
categorização privilegia mais a produção do mais expressivo, como, nos dias atuais, eutanásia,
documento em si do que os aspectos transgenia, fenômeno do tsunami, clonagem etc.
comportamentais presentes no processo de Admite, ainda, que há semelhança entre os
comunicação em sua amplitude, tal como ressalta binômios concepção e documentação x
Lievrouw (1992), em seu artigo, intitulado comunicação informal e formal, e também que o
Communication, representation, and scientific knowledge. modelo por ela defendido prioriza o aspecto cíclico
Além da sua confirmação por teóricos e progressivo do fluxo informacional. Assim,
clássicos, dentre os quais se destaca Meadows descarta a relevância da prioridade científica e dos
(1999), contestadores, como a citada L. Lievrouw, critérios externos de cientificidade, que
não consegue ela mesma suprir as deficiências compreende a avaliação pelos pares, que é, em sua
apontadas. O seu modelo se baseia em duas essência, a prática do ceticismo sistemático.

14 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006
Dinâmica de apresentação de trabalhos em eventos científicos

Por conta de tudo isto, ou seja, face à jornadas, workshops e outros, além dos tipos de
inexistência de categorizações satisfatórias, a maior participantes-apresentadores, o que conduz a
parte da comunidade científica aceita a sugestões, ou, no mínimo, à reflexão sobre os
compartimentação da comunicação nas quatro eventos como recurso para a divulgação da ciência.
classes mencionadas. Afinal, os cientistas, para
difusão das suas pesquisas, sobretudo no caso dos
resultados parciais, não optam, de imediato, por
2 COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E CATEGORIZAÇÃO
meios convencionais. Recorrem a pré-edições IDEALIZADA
(preprints), versões provisórias (prepapers) e
Qualquer modalidade da comunicação
comunicações em eventos. Estes mantêm, ao
científica possui (des)vantagens. Em termos
mesmo tempo, traços informais, quando da
conceituais, a comunicação científica formal ou
apresentação oral dos trabalhos e nas discussões
estruturada ou planejada se dá por diferentes
que provocam, e traços formais na sua divulgação
meios de comunicação escrita, com destaque para
via anais impressos ou eletrônicos. A sua franca
livros, periódicos, obras de referência em geral,
expansão, nos diferentes campos, se dá em meio a
relatórios técnicos, revisões de literatura,
uma série de mutações, alusivas, à passagem de
bibliografias de bibliografias e outros materiais,
um ciclo de vida tradicional em papel para outro,
motivo pelo qual Le Coadic (1998, p. 34) a
com base eletrônica.
denomina de comunicação escrita. Compreende
Ainda que as colocações de Lievrouw datem
principalmente as publicações primárias, “onde se
da década de 90, sobrevivem independente da
apresentam pela primeira vez perante o público,
emergência do movimento de livre acesso,
sob a forma de produto da informação, os
documentado pela Conferencia Internacional de
resultados das pesquisas, e as publicações
Software Libre e por outros eventos. Isto porque, os secundárias e terciárias, muito dependentes das
estágios concepção, documentação e popularização primárias, uma vez que as resumem e indexam.”
sobrevivem, ainda que o livre acesso acelere, A comunicação científica informal ou não
sobremaneira, o segundo e o terceiro estágios. estruturada ou não planejada consiste na utilização
Lembramos que o movimento de livre acesso se de canais informais, em que a transferência da
inicia com a criação de repositórios de preprints. E, informação ocorre graças a contatos interpessoais
no âmbito dos congressos e similares, nos últimos e a quaisquer instrumentos destituídos de
três a cinco anos, vêm utilizando softwares de gestão, formalismo, como reuniões científicas,
que interligam a sua página de divulgação com as participação em associações profissionais e
comunicações depositadas, por sua vez, colégios invisíveis. São os correios eletrônicos
interconectadas (via mesma plataforma) aos (vistos como informais ou como recursos
avaliadores, os quais acessam links previamente eletrônicos), além de telefonemas, dentre outros
definidos para que analisem e enviem as suas itens. É a comunicação direta pessoa a pessoa.
considerações finais, também, pela internet. Os Chamada por Le Coadic (1998) de comunicação
papers avaliados integram repositório, objeto de oral, incorpora formas públicas de troca de
coleta de mecanismos que os indexam e permitem informações, tais como conferências, colóquios,
o acesso a eles, em qualquer parte do mundo, seminários e congêneres, e particulares ou
respeitando-se, durante todo o processo, as normas privadas – conversas, telefonemas, cartas, fax,
e os padrões internacionais em vigor. encontros casuais em corredores, visitas in loco a
Diante do exposto, objetivamos discutir as centros de pesquisa e laboratórios. Meadows
(des)vantagens dos eventos técnico-científicos ou (1999) também adota tal terminologia, com o
simplesmente, científicos, na atualidade, com argumento de que a oralidade e a conseqüente
enfoque generalista. Para a consecução do efemeridade são seus traços mais fortes, salvo as
proposto, apresentamos de início, de forma falas registradas em vídeos ou fitas. Mas, a troca
sucinta, a diferenciação macro entre as quatro informal inclui tanto recursos orais (conversas,
categorias, tão-somente para inclusão desses telefonemas etc.), como recursos escritos – cartas,
eventos no âmbito da comunicação semiformal. A fax, mensagens eletrônicas etc.
seguir, com base em experiência empírica, Contudo, se a categorização de fontes em
discutimos as modalidades de atividades mais primárias, secundárias e terciárias é típica do
usuais nos encontros, sejam congressos, simpósios, domínio formal de comunicação, isto não relega a

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006 15
Maria das Graças Targino; Osvaldo Nilo Balmaseda Neyra

um plano inferior o informal. Afinal, como visto, pesquisadores apresentam particularidades


os cientistas, para difusão dos resultados parciais intrínsecas às áreas em que transitam à tipologia
de seus estudos, recorrem a recursos que, como as dos trabalhos que desenvolvem, ao estágio em que
pré-edições, as versões provisórias e as o próprio grupo se encontra o que consistem em
comunicações em eventos científicos, guardam, ao elementos determinantes para estabelecer a
mesmo tempo, características informais na forma natureza das informações de que necessitam as
de apresentação oral e características formais na fontes prioritárias e os veículos de comunicação.
divulgação por meio de cópias ou da edição de Quer dizer: as variações interindividuais refletem
anais, independente do suporte. Surge, assim, a nos grupos de pesquisa, segundo fatores
idéia de comunicação científica semiformal, como diversificados, a exemplo dos cientistas físicos x
a que guarda, simultaneamente, aspectos formais cientistas sociais; cientistas adeptos da pesquisa
e informais, possibilitando discussão crítica entre pura x cientistas adeptos da pesquisa aplicada;
os pares, o que conduz a modificações ou cientistas experientes x cientistas iniciantes;
confirmações do teor original. cientistas voltados para um mesmo tema em
A comunicação científica eletrônica, por sua diferentes facetas x cientistas ecléticos.
vez, é a transmissão de informações científicas por
intermédio de meios eletrônicos. É vista sob duas
perspectivas: como processo de mudanças
3 DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E EVENTOS TÉCNICO-
estruturais induzidas tecnologicamente, isto é, CIENTÍFICOS
como resultante das novas tecnologias de
Diante da força da comunicação científica
informação e de comunicação; e ainda, como
para o avanço da ciência e tecnologia (C&T),
recurso para incrementar e aperfeiçoar o contato
resgatamos a relevância dos eventos científicos
entre cientistas. No entanto, como antes enunciado,
para a divulgação dos resultados de pesquisas
a comunicação via meios eletrônicos, magnéticos
científicas e o intercâmbio semiformal.
ou óticos, pode ser inserida no âmbito da
Promovidos, em sua maioria, por instituições de
comunicação informal (e-mails, bate-papos, grupos
ensino superior, institutos de pesquisa, órgãos
de discussão, por exemplo) ou formal (periódicos
governamentais ou sociedades científicas e
científicos eletrônicos, obras de referência associações de classe, são imprescindíveis para
eletrônicas etc.). Assim sendo, como antes atualização profissional, contatos pessoais e
enunciado, a classificação quádrupla é passível de avaliação de trabalhos inéditos. No entanto, na
constatações. Afinal, o processo de comunicação atualidade, em todas as áreas, inclusive em ciência
compreende traços das culturas oral, escrita, da informação, carecem de reestruturação, por
impressa e eletrônica, cada uma das quais com uma série de fatores.
suas peculiaridades, sem que isto represente A princípio, nem todos os profissionais que
necessariamente exclusão. A cultura impressa participam das modalidades de atividades mais
pode guardar marcas concomitantes da cultura freqüentes em eventos científicos de naturezas
oral, escrita e eletrônica, da mesma forma que a distintas, sejam elas conferências, mesas redondas,
eletrônica conserva características das demais e painéis, apresentação de comunicações / papers,
assim por diante. simpósios, fóruns, seminários ou palestras, estão
Assim, sem detalhar vantagens e devidamente treinados e / ou possuem habilidade
desvantagens inerentes a cada um dessas formas para lidar com o universo da comunicação oral.
de comunicação, como o faz Targino (2006), Por conta disto, muitas vezes, perdem o objetivo
reiteramos que se trata de categorização central das suas exposições, e não conseguem
idealizada, vez que as formas e os canais de transmitir aos pares, no tempo previsto, a
comunicação não são estanques. Ao contrário. relevância das informações que desejam repassar.
Constituem espécie de “rede” ou ciclo, no qual A bem da verdade, não são apenas os
pesquisadores e produtos fluem, segundo o estágio expositores que falham. Com mais freqüência do
das pesquisas e o fluxo informacional que esses que a desejada, os organizadores dos eventos
estágios pressupõem. Isto porque, os também incorrem em descuidos, como contactar
pesquisadores são fundamentalmente distintos especialistas com pouca antecedência, convidá-los
nas suas demandas informacionais e na apreensão para temas que já não despertam interesse,
de conhecimentos. De forma similar, grupos de empregar incorretamente certas modalidades de

16 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006
Dinâmica de apresentação de trabalhos em eventos científicos

apresentação, e, sobretudo, selecionar papers ou de trabalhos se expandem e se confundem. Há de


temas de pouca utilidade para a comunidade tudo.
científica ou profissional. Isto mostra que falham E mais, ainda segundo Targino (2001), a
tanto no que diz respeito à programação em si triagem dos papers via resumos e não textos
como na seleção dos papers. integrais, se é ágil, prática e menos onerosa, é
Em relação à montagem da programação, o bastante falha. Garante aos que possuem domínio
que parece óbvio, na prática, muitas vezes, é na elaboração de resumos vantagem injusta, sem
relegado a um plano inferior. É essencial que os contar com os resumos que são pura ficção:
organizadores do encontro mantenham pesquisas inexistentes ou em fase bem inicial ou
entrosamento e disponibilidade, que lhes tão-somente “idealizadas”, até porque
permitam desenvolver em conjunto, e, sobretudo, pesquisadores não podem ser elevados à falsa
dentro do planejado, as ações previstas. De forma condição de deuses ou semideuses... E o que dizer
similar, é essencial a divisão de tarefas para cada de um mesmo trabalho apresentado à exaustão em
uma das modalidades dos trabalhos de grupo diferentes eventos, com a troca de títulos, de
inseridas no evento. São imprescindíveis um introdução ou mediante o uso de outros artifícios?
coordenador, um relator e um avaliador para cada E o que dizer do texto elaborado às pressas, sem
uma delas. Ao coordenador, cabe a tarefa de cuidados mínimos, para conseguir liberação e
decidir sobre as diretrizes genéricas, exercendo a auxílio financeiro das instituições?
função de facilitador e supervisor. Do relator, São inferências que colocam os eventos
esperamos, sempre, anotações sistemáticas que científicos como comércio e não como dispositivo
permitam a elaboração dos relatos parciais e finais. a favor da comunicação científica semiformal,
O avaliador comanda “oficialmente” o processo envolvendo neste “jogo de culpa” os dois segmentos
avaliativo no sentido de mensurar os pontos fortes – organizadores e público. Assim sendo, com a
e fracos do evento, embora cada um dos ressalva de que inexiste consenso terminológico
organizadores, tais como os participantes, deva entre os estudiosos da educação, citamos, a seguir,
participar dessa etapa, mediante o preenchimento modalidades de atividades mais usuais nos
de formulários-padrão ou mesmo informalmente. eventos e os equívocos mais freqüentes que nelas
Em relação às falhas concernentes à seleção se cometem, embora, se devidamente planejadas,
todas possam ser utilizadas em prol da divulgação
dos trabalhos, de início, a inclusão de número
científica.
excessivo de papers, e, portanto, de apresentações,
além de introduzir carga excessiva de informações,
algumas das quais, de qualidade questionável, 4 MODALIDADES DE ATIVIDADES DOS EVENTOS
acarreta a redução do tempo das exposições e, CIENTÍFICOS
portanto, impossibilita debates mais
esclarecedores. Outro tópico que merece a atenção
é o excesso de atividades paralelas. Representam-
se maior chance de opções, determinam a
4.1Conferência
fragmentação dos eventos, sendo cada vez mais Entre elas, destacam-se conferência, mesa
comum, o “entra-e-sai” dos recintos onde as redonda, painel, apresentação de papers e pôsteres.
reuniões acontecem, como forma de o indivíduo No caso da conferência, hoje, é comum o uso de
“descobrir” o que há de mais interessante no diferentes designações para distinguir uma
momento, prejudicando os interessados. conferência de outra. Porém, muitas vezes, tais
E o que é pior, ferindo frontalmente a terminologias têm mais a ver com a importância
tendência inevitável à especialização (e não estamos ou hierarquia do conferencista convidado ou com
falando da atomização dos conhecimentos, mas da o momento previsto do que com o conteúdo per
especialização sem perder de vista o contexto onde se, conforme experiência empírica dos autores
a temática está inserida), temos, cada vez mais, em deste texto comprova. Há conferências magnas,
nível nacional e internacional, congressos que se especiais, de encerramento etc., como também,
transformam em megaeventos. A temática é conferências de abertura.
excessivamente abrangente, comportando quase Em qualquer caso, a conferência proporciona
infinita possibilidade de inserção. Os públicos são ao expositor certa liberdade para abordar a temática.
também variados. As modalidades de apresentação Geralmente, trata do “estado da arte” de certa área

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006 17
Maria das Graças Targino; Osvaldo Nilo Balmaseda Neyra

ou subárea, razão pela qual se espera que o (ou rodadas) de perguntas e respostas, emitir
expositor, além de suprir as expectativas do síntese final.
auditório, estimule as inquietações intelectuais e Vemos, pois, como traços característicos da
científicas, provoque questionamentos e assinale as mesa redonda os expositores se ajustarem às
linhas de pesquisa mais avançadas sobre o tema em indicações do moderador, a discussão ser sempre
questão, reforçando a rapidez e a atualização a conjunta e se dar quando todos finalizam as suas
menor custo, como vantagens incontestáveis da falas. Exemplificando: uma mesa redonda sobre
comunicação semiformal. Ética na política brasileira permite aos expositores
Para tanto, em geral, o tempo é de uma hora, colocarem a sua visão sobre o assunto. Por outro
mas não é recomendável que seja consumido, na lado, em seu todo, a mesa não deve exceder a duas
íntegra, com a fala, porque a atenção e o poder de horas, e como o tempo disponível para cada
concentração do ser humano se reduzem ao convidado é menor do que o dos conferencistas,
máximo de 30 ou 45 minutos. Logo, ao contrário deve-se consumir tempo mínimo com saudações
do que habitualmente ocorre, não se deve e agradecimentos iniciais.
extrapolar esse limite e deixar intervalo razoável Mesmo assim, salvo exceções, face ao
para colóquio entre conferencista e interlocutores, planejamento ineficiente, com freqüência, os
a partir de perguntas e posicionamentos. Trata-se componentes da mesa confundem o seu papel, e
de momento bastante importante, embora, intervêm com longas apresentações em power point,
lamentavelmente, a prática dos eventos nacionais transformando as falas numa seqüência de
seja a de não permitir o diálogo nessa ocasião, palestras isoladas. Em decorrência, consomem
calando a voz da audiência. Isto gera, no lugar da tempo demais. Cada um começa repetindo
agradável sensação de “quero mais”, desejo imenso palavras rotineiras (mais que ritualísticas), tais
de ver o fim do “interminável monólogo”. como: “agradeço o convite para participar desta
mesa redonda etc. etc.” É o comprometimento da
dinamicidade e fluidez citadas sempre como
4.2 Mesa redonda
pontos positivos da comunicação semiformal.
A mesa redonda, como modalidade dos
eventos científicos, pretende conhecer elementos 4.3 Painel
diversos ou pontos de vista distintos sobre um
mesmo tema. É uma técnica grupal que requer, No caso do painel, ao contrário do que se
como o painel, preparação adequada para delinear pensa, mantém nítidas diferenças em confronto com
com precisão o tema, repassando tal informação, a mesa redonda: aqui, os expertos não expõem, e
com detalhes, aos especialistas convidados. sim, discutem um tema ou conversam sobre ele ante
Demanda ação coordenada entre organizadores e o público, a partir de pontos de vista particulares e
expositores, para definir a operacionalização das especializados. Cada convidado (quatro a seis)
atividades, estabelecendo a ordem de exposição, representa faceta a ser explorada dentro da temática.
o tema, subtemas e demais detalhes. De início, o Logo, esta modalidade permite desenvolver os mais
moderador / mediador (coordenador da mesa variados aspectos de um mesmo tema, para que o
redonda) introduz a temática, explica a realização público obtenha visão suficientemente relativa e
da atividade, apresenta os expositores e comunica plural, dentro do prescrito como um dos traços da
a seqüência das intervenções ao grande público comunicação semiformal, isto é, possibilitar
(GOMES; POZZEBON, 1988). discussão crítica entre os pares, o que conduz a
Os expositores (não mais de quatro) modificações ou confirmações do teor original.
dispõem de tempo predeterminado para a sua fala. Exemplificando: um painel sobre fotografia, pode
Concluídas todas as colocações, o moderador incluir especialistas em fotojornalismo; fotografia
apresenta breve resumo, destacando diferenças ou na publicidade; fotografia como arte; fotografia
semelhanças entre os pontos de vista relatados, como expressão de vida; ensino da fotografia nos
passando a palavra ao auditório, para que este cursos de comunicação etc.
formule questões. Nessa ocasião, os expositores Gomes e Pozzebon (1988) sugerem que os
esclarecem, complementam ou defendem os seus painéis podem apresentar informações e análises
posicionamentos, dentre de tempo também fixado complementares ou divergentes, mediante três
pelo moderador, a quem compete, finda a rodada alternativas: (1) painel de especialistas –

18 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006
Dinâmica de apresentação de trabalhos em eventos científicos

expositores apresentam posicionamentos acerca pensamento de cada expositor e com as conclusões


do mesmo tema; a seguir, graças à intervenção de do moderador. E ainda que o painel não objetive,
um moderador, debatem entre si os pontos necessariamente, a participação do auditório, caso
identificados, em comum ou em oposição; (2) se queira e haja tempo, o público pode externar
painel de interrogação – aqui, após as opiniões e questionamentos.
apresentações, os expositores ficam à disposição
de outros especialistas para sanar questionamentos
4.4 Apresentação de papers
surgidos; (3) painel de oposição – dois especialistas
ou duas equipes expõem posições divergentes e No que concerne à apresentação de
se questionam reciprocamente. comunicações ou papers, consiste em atividade
Em qualquer das situações descritas, o comum aos eventos científicos, praticamente em
painel pode manter certa informalidade, mas, sem todas as áreas. É a modalidade mais favorecida,
perder racionalidade e coerência, pontos essenciais por ser a que atrai o maior número de profissionais
à formulação e apresentação dos conhecimentos e pesquisadores. Isto se justifica porque oferece
científicos. Se necessário, cada participante possibilidades para difundir, quase de imediato,
complementa ou amplia a opinião dos demais, e, resultados de pesquisas recém-finalizadas ou
neste caso, o moderador desempenha, entre outras, ainda em andamento, assegurando autoria e
as seguintes funções: apresentar os membros do visibilidade acadêmica aos estudiosos, tanto em
painel; ordenar as exposições, intercalar perguntas âmbito nacional como internacional, uma das
esclarecedoras e controlar o tempo. vantagens do sistema semiformal.
Eleito o tema e selecionados o moderador e No entanto, a preparação incipiente de
os painelistas, de acordo com o estágio de alguns autores na elaboração e apresentação oral
desenvolvimento da comunidade científica a que se das comunicações científicas reduz os benefícios
destina, os organizadores do painel podem planejar que, teoricamente, podem proporcionar. Não nos
reunião prévia entre toda a equipe. O encontro referimos à versão impressa ou eletrônica do paper,
destina-se à troca de idéias e ao planejamento sobre uma vez que o formato já está padronizado em
a seqüência da sessão, esclarecendo os objetivos, numerosos eventos, inclusive nos congressos
distribuindo temas e ordenando os subtemas anuais da Intercom. Só são aceitos trabalhos em
correspondentes a cada expositor, para que cada um estrutura predeterminada segundo padrões de
cumpra o seu papel, de forma a mais primorosa planilha web, que estipula todos os detalhes, como
possível, fixando o tempo de participação, entre tipo e tamanho de letra, espaço, margens.
outros itens. Quanto aos expositores, como é de se Retomando a questão do relato oral dos
esperar, além de sólidos critérios acerca da área e do trabalhos de eventos científicos, os modernos
tema, devem ter facilidade de expressão e capacidade recursos audiovisuais têm influenciado, com vigor
de análise e síntese. e rigor, o planejamento das sessões, a ponto de
Quando esses aspectos são desconsiderados, rechaçar quem ainda não utiliza power point e / ou
há deformação da modalidade, e os convidados data show como antiquado ou não devidamente
tendem a atuar como numa mesa redonda mal preparado para a missão de expositor. No
organizada. E o mais lamentável é que se assim momento atual, cada vez mais, é raro alguém
acontecer, os objetivos propostos não são apresentar a sua pesquisa de forma tradicional,
alcançados, desfigurando a oportunidade de empregando a palavra, a leitura do texto ou o
divulgação de conhecimentos, dentro do ciclo da retroprojetor. As novas tecnologias assumem tal
comunicação científica. importância que os pesquisadores, em vez de
O moderador ou mediador inicia o painel, dominarem o funcionamento dos artefatos
com a apresentação dos expositores e formulação ultratecnológicos para empregá-los a seu favor,
da primeira pergunta. Qualquer painelista (ou um tornam-se dependentes deles. Há tendência
antes indicado) dá início à fala e estabelece o crescente para que as pessoas julguem a qualidade
diálogo, que avança segundo plano flexível, mas do expositor e do seu trabalho, tendo como
também previsto. Ao moderador é permitido referencial a qualidade dos eslaides expostos, em
intervir para formular novas questões e orientar o visível e inaceitável inversão de valores.
diálogo, com base em pontos não abordados. É O docente ou pesquisador consome muito
habitual que os painéis terminem com síntese do tempo para elaborar e “adornar” a apresentação em

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006 19
Maria das Graças Targino; Osvaldo Nilo Balmaseda Neyra

power point. Como resultado, nos eventos palavras, orações e parágrafos. Lê cada palavra,
científicos, assistimos, agora, e de forma como se o auditório não pudesse ou não
progressiva – mais do que a um momento voltado soubesse fazê-lo.
à divulgação científica – a um caleidoscópico leque Em ambos os casos, como previsível, quase
de exposições, que reúne as muito coloridas frente sempre, o expositor ultrapassa o tempo,
às mais discretas, as extremamente animadas e as constrangendo a coordenação dos trabalhos, que
seriamente “sagradas” e / ou sisudas. não consegue pará-lo, além de causar irritação
à platéia, que não capta o essencial da fala.
z O expositor-artista trata de suprir a carência
5 MODALIDADES DE EXPOSITORES DOS EVENTOS de conteúdo com apresentação excessivamente
CIENTÍFICOS multicolorida. O objetivo central é mostrar
perfeição estética e cromática. Para ele, utilizar
Se é possível distinguir os tipos de
imagens, mesmo quando não suprem
apresentação, de forma similar, tentamos
informações relevantes nem as complementam,
categorizar os expositores. Isto pode fornecer aos
é suficiente. Às vezes, as ilustrações são
organizadores dos eventos científicos idéia acerca
extremamente pueris, sem sentido e a sua
dos interessados, evitando ou reduzindo a
inserção obedece somente a um conceito
participação daqueles que se limitam a aspectos
totalmente desvirtuado de estética. As telas
estéticos dos relatos, sem acrescentarem nada em
recebem movimentos tão exageradamente
termos de novos conteúdos.
Resultante não de exame exaustivo, mas de “atrativos”, tantas dissolvências e transições,
tentativa de aproximação, indicamos os quatro que no lugar de atraírem os pares, dispersam-
perfis mais comuns, com a ressalva de que não são lhes a atenção. É a comunicação semiformal em
eles excludentes. Manifestam-se de forma sua face negativa, porquanto ao tempo que
combinada ou mesclada, mas o resultado é sempre fortalece o controverso lema publish or perish,
o mesmo: o consumo de um tempo que poderia gera a expressão salami science, introduzida por
ser mais bem aproveitado na análise e no debate Okerson (2003), para designar a tendência de
de questões de especial interesse para a contribuições superficiais, inconsistentes e
comunidade acadêmica ou profissional envolvida. fragmentárias.
Afinal, livros, revistas, relatórios etc., ainda que z O expositor-teórico. Este pode ser de tipo
indispensáveis ao aprimoramento profissional, intranscendente, porque não produz novos
não são suficientes. São fundamentais a correção, conhecimentos, mas está sempre presente nos
a revisão, a retroalimentação e o estímulo que só o eventos científicos, muitas vezes, a custos
contato pessoal oferece. É ele que cria laços elevados para o órgão ao qual está vinculado.
humanos, propiciando confidências, trocas de Com freqüência, busca ganhar créditos para
opinião e fortalecimento do espírito de grupo, atender às exigências institucionais ou ao
dentro do previsto pelo sistema informal e programa de pós-graduação a que está
semiformal da comunicação científica, mormente matriculado, mas não aporta contribuição à
em se tratando dos eventos científicos. comunidade científica. Restringe-se a transmitir
Os perfis mais comuns são: informações compiladas, verdades conhecidas,
z O expositor-leitor. Pode ser de dois tipos: extraídas de livros, da internet ou de artigos
imperturbável ou ansioso. Para o primeiro, digitalizados, copiados daqui e dali. Esse
tanto faz usar ou não power point. Quando não expositor consome muito tempo e, às vezes,
o faz, lê pacientemente folha por folha, sem mais do que o delimitado, para expor
respeitar o tempo nem os pares. Não separa o princípios, leis e categorias vinculadas ao objeto
fundamental do complementar. Precisa recitar de estudo ou para explicar “verdades de
tudo, e parece incapaz de desprender-se do Perogrullo”, ou seja, o óbvio.
texto escrito. O expositor-leitor ansioso, como z O expositor-ambicioso, habitualmente, é bom
o imperturbável, quer repassar o conteúdo na comunicador e domina o tema. Porém, como o
íntegra, mas se preocupa com o tempo expositor-leitor, pretende comunicar tudo, vez
estipulado. Conseqüentemente, inicia leitura que considera as informações que detém como
acelerada contra o relógio, e mesmo quando de suma importância, de tal forma que os
recorre a recursos audiovisuais, os enchem de outros não podem deixar de escutá-lo. Na sua

20 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006
Dinâmica de apresentação de trabalhos em eventos científicos

pretensão, passa horas frente ao computador comunicações científicas. É a “oficina de debates”.


para preparar material de boa qualidade, Inclui palestra introdutória, que inicia as discussões
geralmente discreto, mas com muitos gráficos, sobre certo tema. Delas participam, de forma
tabelas e esquemas. Como resultado, uma sistemática, os autores de trabalhos que abordam a
quantidade excessiva de eslaides (é mesma temática. Esta estratégia permite a
recomendável não elaborar mais de um, por intervenção de um número maior de profissionais
cada minuto previsto de fala), o que e / ou pesquisadores do que o procedimento
impossibilita a sua exibição. tradicional de relato de comunicações ou papers.
Afora isto, uma introdução bastante longa, em Em contraposição, exige dos organizadores
que detalha objetivos, origem e outros dados preparação mais cuidadosa. Pode ocorrer que o
da sua pesquisa, faz com que, ao iniciar a parte palestrante inicial não consiga explorar as
central da sua fala, já tenha consumido vários múltiplas facetas de interesse da coletividade. De
minutos. Mesmo assim, passa devagar as início, é indispensável estudar cada um das
projeções. Com o avanço da hora, se sente exposições encaminhadas ao Comitê Científico do
coagido a acelerar o ritmo, até que o evento com o intuito de estruturar as comissões
coordenador dos trabalhos comunica que o distintas que vão abordar os diferentes assuntos
tempo se esgotou. É preciso tomar uma decisão das comunicações. Uma vez agrupadas, é preciso
e escolhe uma das alternativas: pára ou identificar qual delas trata o tema de forma mais
descumpre a promessa de terminar em poucos abrangente, pondo à tona os aspectos essenciais.
segundos. Em qualquer das opções, sente-se Graças ao caráter generalista, vai servir como fio
duplamente frustrado. Primeiro, por não condutor para análise do objeto de estudo, de
comunicar aos ouvintes todos os resultados, modo que os demais expositores se sintam
como gostaria de fazê-lo. Segundo, por haver contemplados de uma ou de outra forma na fala
desperdiçado tempo no esmero da introdutória, cujo autor terá pouco mais de 10
apresentação. Em qualquer das decisões, não minutos para expor.
obtém feedback significativo para o Logo em seguida, cabe ao coordenador dos
aprimoramento da sua produção, trabalhos (necessariamente, estudou e conhece
desperdiçando um dos trunfos da comunicação todos os textos) declarar os eixos transversais dos
informal e semiformal. debates. Esses eixos não devem ser mais de três e
devem refletir os demais papers encaminhados. Os
5.1 Novas modalidades de atividades dos seus autores, num intervalo de tempo
eventos científicos devidamente fixado pela coordenação, com base
na quantidade de participantes, expõem
A prática mais comum para organizar a contribuições e pontos de vista, mas não via
modalidade de apresentação de comunicações ou apresentações formais em power point. Expressam
palestras é o agrupamento temático, reservando opiniões com base nas suas investigações
vários minutos para cada uma das apresentações científicas, experiências e vivências. Como nem
e reduzindo o tempo para a troca de opiniões e os todos da audiência podem intervir, a preferência
questionamentos do público. Dentro de uma hora, é para os autores dos papers.
se a cada expositor cabe 10 minutos e mais cinco Esta modalidade permite melhor
para discussão do seu texto, a apresentação limita- aproveitamento de tempo e o envolvimento de
se a quatro falas por cada hora. Como na mais participantes do que a apresentação de
atualidade os eventos reúnem mais e mais pessoas, comunicações ou papers nos moldes atuais. Ajuda
inclusive expositores, este procedimento resulta a eliminar o estresse e a ansiedade dos expositores.
ineficiente. Alternativa viável, já adotada em Transfere o peso da comunicação unidirecional
alguns encontros, é a exposição de todas as falas para a sinergia; da recepção passiva para a
da sessão, seguida de debates entre autores e produção participativa; da mediocridade para a
interessados, mas só é viável, quando há poucos inteligência presente na produção de uma
participantes por sessão. aprendizagem grupal e enriquecedora, dentro de
Para reaver a eficiência dos eventos no uma das premissas mais interessantes da
processo de divulgação científica, está ganhando construção do conhecimento – a sua construção
força um novo tipo de apresentação de coletiva.

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006 21
Maria das Graças Targino; Osvaldo Nilo Balmaseda Neyra

Por outro lado, os eventos científicos estão seleções frágeis e inconsistentes. Tais deficiências
retomando os pôsteres como modalidade de comprometem esses encontros e o seu propósito
atividades, embora não constituam novidade. central, qual seja, a difusão dos novos
Como antes, enfrentam resistências dos que julgam conhecimentos, até porque, como Cunha e
abrigarem produção intelectual de segundo Crivellari (2005, p. 42) chamam a atenção, “a força
escalão, não obstante favorecerem apresentações e o sucesso de uma profissão são [...] legitimadas
mais prolongadas, discussões com os interessados (sic) pela delimitação clara de seu campo de
e distribuição de material impresso, num tempo competência, pela delimitação de um espaço
mais elástico do que as outras modalidades próprio de ação [...]”
(MEADOWS, 1999). No entanto, mais do que Novas informações e novas concepções só
antes, são adotados para escoar a produção se transformam em contribuições científicas
crescente e abrigar número mais alto de inscritos reconhecidas e aceitas, se comunicadas de forma
nos congressos ou similares. Em outras palavras, a permitir comprovação e verificação, e posterior
os pôsteres estão de volta por conta da abrangência aplicação. Nada mais promissor do que a
temática e da pluralidade de audiência que organização de eventos, em que a qualidade dos
caracterizam os eventos, na atualidade. trabalhos e a credibilidade dos pesquisadores
prevalecem sobre o montante dos recursos obtidos
e / ou sobre a quantificação dos participantes-
6 FINALIZANDO autores. Logo, a organização eficiente dos eventos
O que fica evidente em toda a discussão é a e a sua adequada execução são indispensáveis para
relevância dos congressos ou eventos similares de o seu êxito, o que demanda algumas proposições,
natureza técnico-científica, dentro do consenso de a fim de que estes retomem a função primordial
que o compartilhamento dos resultados das de recurso valioso na divulgação científica:
pesquisas entre crescente número de z os pesquisadores de qualquer campo do
pesquisadores, acadêmicos ou não, é essencial ao conhecimento carecem de rever a sistemática
desenvolvimento dos países, possível somente organizacional dos seus eventos científicos;
graças ao investimento em C&T. E este binômio z os eventos científicos devem resgatar a
prevê a atividade científica mais e mais especificidade das áreas e subáreas, como
sociabilizada, isto é, o cientista isolado dá lugar forma de reunir membros da comunidade
ao pesquisador inserido na comunidade científica, científica, expressão que designa os partícipes
em contato permanente com os pares, que dele de uma comunidade, que, de fato,
exigem competitividade e produtividade. compartilham paradigmas idênticos, possuem
Ademais, os recursos informais não interesse em torno de uma especialidade,
pretendem substituir ou excluir os canais submetendo-se à iniciação profissional e a
convencionais. O seu fortalecimento decorre tanto processo de educação similares, além de acessar
do permanente esforço dos especialistas na busca a mesma literatura técnica;
contínua de informação atualizada, quanto da z os organizadores dos eventos científicos
demanda inerente à ciência moderna: rápida e precisam, também, reformular o processo de
acurada comunicação. Reiterando Kuhn (2003), seleção dos papers encaminhados, tanto no que
para quem a estrutura e a dinâmica da ciência concerne à quantidade como à qualidade, com
assemelham-se a um imenso quebra-cabeça, onde o intuito de permitir maior aprofundamento
cada peça simboliza nova unidade do dos novos conhecimentos (maior tempo para
conhecimento, o sistema informal e semiformal os relatos) e descartar, de imediato, textos rasos,
atuam como estágio em que os indivíduos sem originalidade e consistência;
reunidos em torno de objetivos comuns refletem z os organizadores dos eventos científicos podem
sobre os mesmos problemas na busca de soluções, e devem recorrer a técnicas diferenciadas, vez
até que nova peça do quebra-cabeça seja que estas possuem caráter tão-somente
adicionada de forma consistente. instrumental. O intuito dos eventos deve ser
Nada disto nega as deficiências dos eventos sempre suprir as demandas da comunidade
de hoje, por sua abrangência temática e de público científica a que se destinam, o que não invalida
e por sua comercialização, que favorece a inclusão a conjunção de diferentes técnicas ou a
de papers rasos e sem caráter científico, graças a introdução de novas experiências.

22 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006
Dinâmica de apresentação de trabalhos em eventos científicos

THE DYNAMICS OF PRESENTATIONS IN SCIENTIFIC EVENTS

ABSTRACT Semiformal scientific communication is among the many possible ways of scientific
communication. The scientists use non-conventional ways to publish their research results,
such as preprints, prepapers and congress presentations, mainly for preliminary results.
Communications in congresses and similar events are made either in a semiformal way,
which includes oral presentation and consequent discussion ,or using the formal format that
includes printed and electronic publications. Therefore, this work aims to discuss advantages
and disadvantages of these scientific meetings nowadays. It also approaches, in a generalist
way, the different types of presentations and presenters in order to promote further reflection
about the relevance of these scientific events as communication resources.

KEYWORDS TECHNO-SCIENTIFIC EVENTS AND SCIENTIFIC COMMUNICATION


SEMIFORMAL SCIENTIFIC COMMUNICATION
CONGRESSES AND SCIENTIFIC COMMUNICATION

Artigo recebido em 18.08.2006 e aceito para publicação em 22.12.2007

REFERÊNCIAS LIEVROUW, L. A. Communication,


representation, and scientific knowledge: a
CONFERENCIA INTERNACIONAL DE conceptual framework and case study.
SOFTWARE LIBRE, 2, 2006, Málaga. Disponível Knowledge and Policy, New Brunswick, v. 5, n.
em <http:// 1, p. 6-28, 2003.
www.opensourceworldconference.com>. Acesso
McMURDO, G. Changing contexts of
em: 13 abr. 2006.
communication. Journal of Information Science,
CUNHA, M. V. da; CRIVELLARI, H. M. T. O mundo Sussex, v. 21, n. 2, p. 140-146, 1995.
do trabalho na sociedade do conhecimento e os
MEADOWS, A. J. A comunicação científica.
paradoxos das profissões da informação. In:
Brasília: Briquet de Lemos, 1999.
VALENTIM, M. L. P. (Org.). Atuação profissional na
área de informação. São Paulo: Polis, 2005. p. 39-54. OKERSON, A. Electronic journals: current issues.
IAALD Quarterly Bulletin, [s. l.], v. 37, n. 1/2, p.
GOMES, P. de T.; POZZEBN, P. M. G. Técnicas de 46-54, 2002.
dinâmica de grupo. In: CARVALAHO, M. C. M.
TARGINO, M. das G. Divulgação de resultados
de. Construindo o saber: técnicas de metodologia
como expressão da função social do pesquisador.
científica. Campinas, SP: Papirus, 1988. p. 141-148.
Revista Brasileira de Ciências da Comunicação,
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo, v. 24, n.1, p.11-35, jan./jun. 2001.
7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. 257 p.
______. Olhares e fragmentos: cotidiano da
LE COADIC, Y.F. A ciência da informação. biblioteconomia e ciência da informação. Teresina:
Brasília: Briquet de Lemos / Livros, 1998. 119 p. EDUFPI, 2006. 266 p.

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.13-23, jul./dez. 2006 23

Você também pode gostar