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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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Caro(a) aluno(a),

A Faculdade Anísio Teixeira (FAT), tem o interesse contínuo em


proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes
que conduzem ao conhecimento.

Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional


para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento
intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm
acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo,
produzem cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito
às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções.

Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo,


totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construtor melhor
para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso.

Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita
dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe
docente da Faculdade Anísio Teixeira (FAT).

Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio
de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e
síntese dos saberes.

Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o


equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos!

Atenciosamente,

Setor Pedagógico

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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4

1. A QUESTÃO AMBIENTAL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS ..........................................................5


1.1 UM NOVO ESTADO E OUTROS ESPAÇOS................................................................................. 5
1.2 OS ENTORNOS ECO-SÓCIO-TERRITORIAIS COMO CENÁRIOS EMERGENTES .........11
1.3À GUISA DAS PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES ........................................................................ 13

2. METODOLOGIAS DE EDUCAÇÃO PARA OS CUIDADOS COM O MEIO AMBIENTE ....15


2.1 PRÁTICAS DE ENVOLVIMENTO COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................ 17

3. GESTÃO AMBIENTAL PARTICIPATIVA ....................................................................................27


3.1 A CENA ATUAL: ATRÁS DA FÁBULA, A PERVERSIDADE .............................................. 27
3.2 GLOBALIZAÇÃO E DIVERSIDADE CULTURAL ................................................................. 29
3.3 DO CONHECIMENTO EMPÍRICO DA NATUREZA AO CUIDADO COM ELA ............ 300
3.4 AUMENTAR A AUTONOMIA PARA CONSOLIDAR O TERRITÓRIO........................... 333
3.5 TROCA DE SABERES NA BAÍA DO IGUAPE ........................................................................35

4. OS MÉTODOS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS


............................................................................388
4.1 SOCIEDADE X AMBIENTE OU EDUCAÇÃO AMBIENTAL? ........................................... 411

5. IMPORTÂNCIA DA SOCIEDADE DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL


GLOBAL.................533
5.1 DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E PRÁTICAS EDUCATIVAS ...................... 533
5.2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ATORES, PRÁTICAS E ALTERNATIVAS ............................56
5.3 SUSTENTABILIDADE, MOVIMENTOS SOCIAIS E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ....... .64

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 69

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APRESENTAÇÃO

Como resposta à preocupação da sociedade com o futuro da vida surge a


EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA), que tem como principal proposta estimular o surgimento
de uma cultura de ligação entre a natureza e a sociedade, através da formação de uma atitude
ecológica nas pessoas. Um dos fundamentos da EA é a visão socioambiental, que concebe o
meio ambiente como um espaço de relações, um campo de interações culturais, sociais e
naturais com dimensão física e biológica dos processos vitais.
Esse material didático será o alicerce com atividades essenciais para sua formação
durante o Curso de Especialização. Busque conhecê-lo e explorá-lo de maneira profunda.
Vale ressaltar que este é um material básico, especialmente preparado para lhe oferecer
uma visão ampliada do conteúdo da disciplina “Educação Ambiental”. Assim, outras fontes
deverão ser consultadas a fim de um melhor suporte das ideias aqui contidas e aproveitamento
do curso. Em hipótese alguma ele deve ser o seu único material de estudo. Durante o texto, são
colocadas referências para leituras adicionais com as quais será possível o aprofundamento, a
verticalização e a construção de um olhar diferenciado sobre a temática.
A reflexão sobre Educação Ambiental e seu contexto na sociedade exige bastante
dedicação a fim de que conexões sejam estabelecidas entre as diversas áreas do conhecimento
que estão envolvidas nessa temática tão instigante e atual.

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1. A QUESTÃO AMBIENTAL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

Novos Cenários Das Políticas Públicas Na Questão Ambiental - Os Entornos Eco-


Sócio-Territoriais1
O que os homens querem aprender da natureza é como aplicá-la para dominar
completamente sobre ela e sobre os homens. Fora disso, nada conta (HORKHEIMER
e ADORNO).

Esse artigo tem como objetivo evidenciar algumas reflexões decorrentes dos novos
cenários a partir dos quais são concebidas, implementadas, acompanhadas e avaliadas as
políticas públicas no que se refere à questão ambiental. Parte-se de início da concepção de que
o próprio Estado e os espaços com os quais interage vêm sofrendo – ultimamente – um conjunto
de modificações. Especificamente no que se refere à questão do tratamento da política
ambiental, pretende-se evidenciar uma dinâmica entre esses distintos espaços e a forma de
regulamentação do Estado. Para tanto, caracteriza-se – inicialmente – esse novo Estado para,
então, tipificar as políticas públicas e/ou sociais que deixam margem para o surgimento de um
novo espaço que, pelas características que o delineiam, passa a ser definido, nesse artigo, como
entornos eco-sócio-territoriais.

1.1 UM NOVO ESTADO E OUTROS ESPAÇOS


Toma-se como o princípio, neste artigo, a condição de que o Estado e os espaços
sociais, políticos, econômicos e geográficos vem sendo caracterizados por mudanças paralelas.
Tratando inicialmente das transformações pelas quais o Estado vem passando, nota-se que nos
anos 90, especificamente, novas formas de relação com a sociedade civil passaram a reificar,
por um lado, um processo de reorganização do Estado face às necessidades criadas pela nova
etapa de reorganização ou reestruturação do modelo capitalista, que vem se delineando desde a
Primeira Revolução Industrial e o advento do Estado Moderno. Assim, o Estado que hoje temos
como resposta à ocorrência do Estado de Bem-Estar Social, tem transferido parte da
responsabilidade de suas ações para a iniciativa privada e tem reformado seus quadros e sua
estrutura de funcionamento com vistas a tornar-se um Estado de mínima atuação frente às
questões sociais. Por outro lado, essas novas relações são frutos das lutas empreendidas por

1
ARAUJO, P.R.R. Novos cenários das políticas públicas na questão ambiental Revista Civitas – Revista de
Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 5. n. 1, p. 185-196, jan./jun. 2005. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/viewFile/40/1612>.

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movimentos e organizações sociais das décadas anteriores, que reivindicavam direitos e
espaços de maior participação social (GOHN, 2000).
Nessa relação Estado-Sociedade Civil, passa a ser construído um espaço ocupado por
uma série de instituições entre o mercado e o Estado, denominado esfera pública não-estatal,
que abarca um conjunto de organizações da sociedade civil, entre elas ONGs. Sobretudo no que
se refere às questões ambientais, essas instituições da contemporaneidade, vêm atuando no
desenvolvimento de projetos de cunho ambientalista, na prestação de serviços sociais e
assessoria a organizações populares de defesa de direitos e se relacionam diretamente ao
processo de desregulamentação do papel do Estado, seja em relação à economia ou mesmo em
relação à sociedade civil. O Estado transfere parcelas de responsabilidades para as comunidades
organizadas, em ações de parceria com as ONGs de modo significativo.
Em apelo à participação da comunidade na resolução dos problemas ambientais as
proposições lembram o que já havia sido feito nos anos 50 como marco da ideologia
desenvolvimentista. O novo apelo dos anos 90 vem, contudo, com algumas nuances que
diferenciam esse Estado por sua incapacidade de responder ao volume da intensidade das
demandas sociais. Dentre essas, pode-se destacar, por exemplo, a parceria com a comunidade
na realização de projetos de enfrentamento da pobreza. Essa mesma perspectiva fundamentaria,
ainda, a criação dos Comitês de Bacia que, em seus processos de implementação, chegam a
contar com programas governamentais financiados pelas agências de cooperação – algumas
delas, multinacionais.
Essa nova forma de caracterização do Estado surge no bojo da redução dos
investimentos públicos nas áreas sociais e do deslocamento das responsabilidades estatais no
âmbito das políticas sociais. Trazem um pouco do estigma do assistencialismo, empregado para
amenizar o impacto das políticas de ajuste econômico nas camadas populares promovidos pela
opção por uma política neoliberal. Contraditoriamente, no entanto, trazem a marca das novas
experiências dos movimentos sociais no processo de democratização social e política do país.
Seria essa dupla determinação que faria com que, na literatura, convivam distintas
análises sobre a natureza dessa nova esfera pública não estatal e o significado das políticas de
parceria. Se para alguns, essas novas relações não seriam nada além que a consolidação do
projeto neoliberal que conta com a instrumentalização e a funcionalidade do terceiro setor, não
se pode deixar de considerar outros fatores constituintes da sociedade civil. Para Habermas
(1997, p. 28), por exemplo: “a sociedade civil compõe-se de movimentos e associações, os
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quais captam os ecos dos problemas sociais que ressoam nas esferas privadas, condensam-nos
e os transmitem, a seguir, para a esfera pública. O seu núcleo institucional é formado por
associações e organizações livres, não estatais e não econômicas, as quais ancoram as estruturas
da comunicação da esfera pública nos componentes sociais do mundo da vida”. A esfera pública
seria apontada por Habermas como ponto de encontro e local de disputa entre os princípios
divergentes de organização da sociabilidade e os movimentos sociais, que se constituiriam nos
distintos espaços que reagem à retificação e burocratização dos domínios da ação estruturados
comunicativamente, em defesa da restauração das formas de solidariedade postas em risco pela
racionalidade sistêmica. Para Habermas (op. cit.), os movimentos sociais são fatores dinâmicos
na criação e expansão dos espaços da sociedade civil.
Seria possível, então, a distinção de cinco espaços com os quais esse novo Estado terá
seus grandes embates: cultural (caracterizado pelos valores, costumes e práticas de uma
determinada sociedade), econômico (entende-se, nesse artigo, como todo o aparato de
funcionamento do capital na sociedade moderna), político (entendido aqui como o espaço
regulador das decisões a serem tomadas e cumpridas pelos setores da sociedade), cibernético
(espaço que contempla a terceira revolução industrial, a saber, a revolução da informação por
meios eletrônicos) e o espaço, propriamente dito, caracterizado pelo território no qual têm seu
lugar os anteriores. Esses espaços estariam em processo contínuo de interação sendo que, a
opção feita pelo Estado e a hegemonia de uns sobre os outros veem à tona quando da concepção,
implementação e gestão das políticas públicas.

NESSE OUTRO CONTEXTO, O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS?

Num Estado que passou de Teocrático a Laico e, sobretudo, abdicou da sua condição
hegemônica de concepção, implementação e gestão das ações de cunho mais abrangente, os
espaços assumidamente sagrados passam a ser objeto e fim de pesquisas científicas tornando-
se, assim, secularizados pelo uso e implementação de novas tecnologias. O meio ambiente passa
a ser exemplo privilegiado para tais análises, afinal dentre os espaços caracterizados nesse
artigo, seria o meio ambiente aquele espaço que, de modo mais significativo permite mensurar
as mais recentes transformações: desde a atual desigualdade verificada na distribuição dos
habitantes pelas cidades brasileiras, bem como passando pelas mudanças de uma área
anecúmena para uma região intensamente povoada. Constituem esse cenário, ainda, o

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crescimento vertical das cidades ao número de computadores conectados em rede em
determinados centros urbanos transpondo antigas fronteiras entre países. Esse espaço – o meio
ambiente propriamente dito – passa a ser objeto de análise, pois dentre os espaços já citados,
será acrescido o espaço científico-tecnológico que, de forma decisiva, contribui para o processo
de mundialização da economia.
No processo dinâmico/dialético de elaboração de políticas, vem se tornando evidente
que as próprias políticas inspiradas pela temática ambiental constituem-se em ordenamento
planetário a serviço das forças hegemônicas do capital mundial. Tome-se como exemplo a Lei
da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) que permite contextualizar interações
da sociedade brasileira com o Meio Ambiente. Constam ainda como exemplos, degradação e
poluição (Art. 3º, I e II), e também que “é o poluidor obrigado, independente da existência de
culpa, a indenizar ou repassar os danos causados ao meio ambiente e terceiros, efetuados por
sua atividade...” (Art. 14, IV, § 1º). O primeiro parágrafo do Artigo 4º dessa lei visa “à
compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do
meio ambiente e do equilíbrio ecológico”.
Interessante ainda é perceber que essa lei é inspirada em ideários desenvolvimentistas:
“continuar produzindo, porém, com uso racional e controlado dos recursos naturais, isto é, um
sistema de exploração mais racional dos recursos naturais, que preserve o equilíbrio ecológico,
reduzindo os danos ao meio ambiente” (MOURÃO, 2004, p. 4).
Mesmo com a tutela constitucional assegurada na Constituição de 1988 – “todos têm
direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo, para as presentes e futuras gerações” (caput do art. 225), no seu artigo
5º LXXIII – a Constituição faz referência ao meio ambiente ao dispor de ação popular para
anular o ato lesivo ao meio ambiente. Anuncia-se, dessa forma, uma reforma do Estado no
sentido de aumentar sua “governança” voltada para cidadania. Busca-se a construção de
espaços de sobrevivência cultural.
Em princípio, sabe-se que o Estado contemporâneo e suas práticas se afirmariam na
pluralidade. Nesse sentido, os atores sociais resgatam a potencialidade política de espaços e
tempos como representação única da representação política (Galimbert, 2003). Como
instrumentos de defesa ambiental foram editadas, por exemplo, a “Lei da Vida” (A Lei de
Crimes Ambientais, Lei nº 9.605 de dezembro de 1988), e a Lei das Águas (Lei nº 9.433/97)
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que engloba em seu texto a presença dos movimentos sociais nos colegiados diretivos dos
interesses coletivos. Inspira-se o processo de construção de “espaços” no paradigma de
desenvolvimento sustentável, que com seu apelo transgeracionalmente moralizante, ganha
status de verdade universal na Eco-92 sem, contudo, questionar a ordem e a dinâmica social
vigente da estrutura capitalista: a regulamentação do uso do meio físico não prevê a
transformação das relações entre trabalho e capital mas busca, explicitamente, a regulação de
tais práticas econômicas.
No entanto, pelo fato de que essa prática econômica tenha gerado relações cada vez
mais assimétricas e articulações entre os indivíduos – pautadas em fatores sociais de distinção
– caberia buscar a revisão de preceitos relativos à distribuição de renda, justiça ambiental e
diminuição da pobreza. Por outro lado, o desenvolvimento econômico contemporâneo – embora
busque legitimar-se com discursos apelativos de respeito a limites éticos e de sustentabilidade
ambiental, tampouco significaria a melhoria das condições de vida da população, pois “o que
tira da pobreza são as políticas sociais e para isso, é preciso ter uma boa retaguarda econômica.
A luta contra a pobreza está no orçamento e não na política econômica que tem pouco a ver
com a redução da pobreza, mas muito a ver com o aumento da riqueza. O Brasil precisa
aumentar a riqueza, mas que ninguém se iluda que sem política social essa riqueza acabe com
a pobreza” (PRIMEIRA LEITURA, 2003, p. 36-43). Convivem, desse modo, as angústias de
macrocatástrofes ecológicas eminentes como, por exemplo, mudanças climáticas globais, a
escassez de água potável, o inchaço das megacidades e analfabetismo cultural e ecológico.
Outro exemplo de processos de implementação de políticas públicas ambientais e sua
relação dialética com outros espaços seria a constituição do Zoneamento Ecológico-Econômico
(ZEE). Essa prática surge corroborando o caráter de ‘verdade universal’ cujo sentido
paradigmático do ideário do Desenvolvimento Sustentável toma a partir da ECO-92 – um cunho
marcante das políticas públicas. Como tal, passa a ditar formas e estruturas dos projetos
governamentais (e até mesmo de algumas organizações não-governamentais), parece impregnar
os espíritos, os consumismos e os mercados deste limiar do século XXI.
No entanto, esse mesmo ideário traz consigo um conjunto de fatores contraditórios
quando toma o caráter de paradigma hegemônico. Assim, a possibilidade de ruptura dessa
forma de imposição pode ser contextualizada a partir da instituição de metas para o
aperfeiçoamento e aceleração da metodologia de ‘zoneamento ecológico-econômico’(ZEE).
Anterior à própria ECO-92 – uma vez que data do III Plano Básico de Desenvolvimento
9
Científico e Tecnológico (1980-85) – essa prática é analisada por Antunes (1992) como “uma
forte intervenção estatal no domínio, organizando a produção, alocando recursos, interditando
áreas, destinando outras para estas e não para aquelas atividades, incentivando e reprimindo
condutas” (ANTUNES, 1992, p. 57). Importante ressaltar o caráter de que, havendo passado
cinco séculos da Carta de Pero Vaz de Caminha, o Brasil, das belezas exuberantes e potencial
incomparável, levou quatrocentos e oitenta anos para criar a sua primeira política ambiental.
O Zoneamento ecológico, por sua vez, surgiu no Brasil como um novo instrumento de
ordenação territorial – concebido pelo IBGE em 1986. Instrumento que era basicamente o
modelo de tomada de decisões federal governamental. No início da década de 90, ele passou a
ser um modelo coordenado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, caracterizando-se como
um modelo ainda governamental, mas já descentralizado. A partir de meados de 1995 tem início
as discussões sobre um modelo de tomada de decisões de modo compartilhado, envolvendo não
só entidades governamentais como também entidades não-governamentais ligadas à iniciativa
privada, aos movimentos sociais, comunitários, entre outros. Este arranjo político-institucional
fala da necessidade de participação social, de um novo modo de planejar – o planejamento
estratégico, de uma nova geopolítica dos territórios – como acontecem as relações de poder em
um determinado território e como se expressam no processo de zoneamento ecológico-
econômico. Trata-se de avaliar o grau de representatividade dos colegiados, o discurso dos
atores sociais, a legitimidade de decisões tomadas.
Dentre as fases de implantação que caracterizam um ZEE, cabe lembrar que a
avaliação ambiental estratégica assegura que à ação e suas consequências estejam plenamente
incluídas e devidamente encaminhadas na fase inicial e mais apropriada do estágio de tomada
de decisão, para considerações econômicas e sociais. Frente a essa característica, um diálogo
com os autores críticos do movimento ambientalista, pode ser feito a partir da seguinte questão:
Os critérios técnicos fornecidos pelo ZEE esvaziariam o debate político? O antropólogo
Roberto Araújo – Museu Goeldi – acredita que, ao contrário, o zoneamento constitui espaço de
debates e enfrentamento políticos. Isso porque, para que as políticas a serem implementadas
pelo zoneamento tenham o sentido de realizar o bem público, é fundamental que assegurem a
participação democrática das populações (GUNN, 2002).
De modo resumido, observa-se o processo de polarização de dois dos espaços já
citados: o território e o econômico. Como pôde ser visto o território quando apropriado pelo
uso econômico dá sinais de esgotamento de seu valor de uso e de troca em meados do pós-
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guerra no século XX – chuvas ácidas, por exemplo. Em função desse esgotamento, o Estado se
instrumentaliza como regulador de políticas públicas que objetivam, prioritariamente, a
manutenção da ordem vigente naquelas condições – o território deve apresentar plenas
condições de uso que venham a manter os mesmos níveis de lucro. Com isso, o Estado parece
abdicar de uma de suas funções sociais, a saber, a redistribuição de condições para a qualidade
de vida, entre elas, a redistribuição dos espaços.
Será na tentativa de perpetuar os mesmos interesses geoestratégicos de lucro e
apropriação, que serão promovidas as principais transformações nos cenários como o Estado e
outros setores da sociedade. Ao mesmo tempo, será a intenção – contrária a essa – que
incentivará o conjunto de mudanças na ordem social vigente, incluindo-se para tanto, os espaços
como ONGs, associação de cidadãos, movimentos sociais que – ao mesmo tempo – passam a
ser redimensionados. Essa reformulação não significa, necessariamente, uma mudança
estrutural na ordem vigente. Significa, sobretudo, a introdução de novos fatores para a
manutenção das relações assimétricas típicas do capitalismo num espaço que passa a ser
definido como entornos eco-sócio-territoriais.

1.2. OS ENTORNOS ECO-SÓCIO-TERRITORIAIS COMO CENÁRIOS EMERGENTES

A temática ambiental surge como locus propulsor de resistência nos interstícios do


espaço econômico hegemônico e homogeinizante. A revalorização de culturas e fazeres
ambientais em espaços de cunho comunitário que se configuram como entornos eco-sócio-
territoriais parecem agregar uma série desses fatores que são historicamente determinados e
dependem da forma como as sociedades se organizam, e como se organizam para produzir bens
materiais e simbólicos, entre outros, a própria leitura da paisagem e sua função social. Esse
locus parece complexificar ainda mais o conflito existente entre políticas públicas de
zoneamento capitalista de espaços e territórios e questões de equidade cultural e eficiência
ecológica característico do Zoneamento Ecológico-Econômico, ou Econômico-Ecológico.
A resistência contemporânea articulando-se em redes de ativismo cibernético seria
uma das tendências das sociedades em rede – racionalidade do sistema financeiro cada vez mais
irracional, imprevisível e destrutivo – (Schwartz, Folha de São Paulo, 1º/06/2003, p. B-02) que
é contraposta ao ativismo ambiental cibernético típico da contemporaneidade como uma “Idade
Mídia” (RUBIM, Interface, 2000, p. 25-36).
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A construção de novos espaços públicos e redes intermunicipais é um processo de
(re)valorização dos governos locais, fato esse que pode ser evidenciado na realidade brasileira
desde os anos 80, assim como na América Latina e em países de capitalismo avançado. Assim,
vem ocorrendo uma complexificação da gestão que se articula horizontalmente nos âmbitos
regional e nacional a partir das comunidades que passam a desempenhar o papel de
negociadores e formadores de políticas e programas sócio-governamentais. Com isso, os
espaços e redes de sobrevivência cultural passam a atestar as densas relações da gestão local.
O reconhecimento de identidades regionais inspira a função social de espaços, territórios e
paisagens na construção de políticas públicas de planejamento e gestão ambiental. Essa prática,
contudo, se contrapõe frontalmente à geoestratégia neoliberal e caracterizaria um dos aspectos
dos entornos eco-sócio-territoriais pela condição de uma resistência a um discurso hegemônico.
A assinatura da Medida Provisória 131 que estabelece normas para o plantio e comercialização
da produção de soja da safra de 2004 e dá outras providências, editada pelo governo federal em
setembro de 2003, contextualizaria um exemplo recente sobre a necessidade de estabelecimento
e apropriação de espaços público-políticos nos quais a comunidade venha a assumir o papel de
delineamento do desenho de programas sócio-governamentais. Essa Medida Provisória, ao
suspender a exigência de estudo prévio de impacto ambiental, desrespeita o artigo 225 da
Constituição. Além de ilegal, essa lei reconheceria também o quadro de anomia nas relações
agrárias favorecida pelo Estado brasileiro que, desde meados da década de 1990, tem se omitido
da condição de assegurar a inviolabilidade das fronteiras nacionais. Nesse sentido, prevaleceria
a ordem de um discurso neoliberal e homogeneizante para o qual a soberania dos Estados
Nacionais representa uma ameaça. Para dizer com palavras do procurador-geral da República,
Claudio Fonteles, essa Medida Provisória violaria também o princípio da razoabilidade,
“conferindo primazia a um critério estritamente econômico, ou seja, viabilizar o cultivo de
grãos de soja transgênica já em poder de produtores rurais, notadamente no Rio Grande do Sul,
onde o ingresso de sementes foi favorecido pela proximidade com países que não impõem
restrições ao seu uso” (JORNAL DO BRASIL, 04/10/03, p. A5).
Ao confluir distintas características em um espaço de resistência passam a ser
necessário à caracterização da possibilidade de uma dimensão plural e diferenciada no que
refere às políticas públicas do meio ambiente. Sem dúvida, atuam de forma distinta das
organizações não-governamentais ou de outros movimentos sociais, pois podem ser
compreendidos como ‘não-lugares’ das brechas deixadas pela prática hegemônica de alguns
12
setores da sociedade. Note-se, por exemplo, que especificamente no caso da MP131 o que se
observa é um movimento em cadeia, com distintos interlocutores que construirão formas de
resistência não previstas até então.

1.3 À GUISA DAS PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES


De início, sem a pretensão de esgotar o tema, cabe considerar que esse artigo permite
observar que o ativismo movido pelos movimentos ambientalistas estaria seriamente obsoleto
sem o entendimento reflexivo-crítico do capitalismo e outros sistemas de dominação. Caberia
ainda considerar que qualquer movimento radical ambientalista deve conceber e implementar
projetos de redistribuição de recursos como condições para dirimir as injustiças sociais e a
internalização da consciência dos limites que essa ação representa numa sociedade com o nível
de complexidade atual.
Pode-se, ainda, considerar a natureza como uma categoria social, sabendo-se que cada
um dos fatores que intervêm na sua variedade de significações são construídos a partir de um
particular contexto histórico e político. Explorar os vários entendimentos do conceito de
natureza requer tipificar as diferentes correntes ambientalistas chegando a algumas
contradições. Inicialmente isso seria uma rica fonte de conhecimento da história e
consequências do ambientalismo como um tipo bastante específico de movimento social.
Haveria, assim, um ambientalismo que foi reduzido ao falso dilema entre interagir
conservando ou preservar. Nessa concepção, a questão norteadora é a manutenção das
condições atuais do meio ambiente – já inviabilizada pelo processo histórico da humanidade.
Outra corrente do ambientalismo, por sua vez, prima pela melhoria das condições sanitárias,
acesso à água tratada, nutrição, poluição industrial, revisão das condições de trabalho, a
participação das minorias definidas por critérios de gênero, raça e cor.
O cenário histórico-social atual parece ser caracterizado pelo movimento de um
ambientalismo proativo e outro, reativo. Enquanto o primeiro chega a estruturar ações junto ao
Estado com vistas à redistribuição das condições de vida e justiça ambiental, o outro tende a
buscar conseqüências imediatas não considerando as causas político-econômicas das distorções
no que se refere ao uso ético dos recursos do meio ambiente.
Certamente haverá traços de luta pela interação e preservação nos movimentos sociais
de cunho ambientalista atuais. Por isso, haverá ainda uma preocupação com a minimização das
consequências das desigualdades sociais em projetos de políticas públicas e organizações não-
13
governamentais. O que esse artigo pretendeu foi considerar a inovação nas formas de interação
com as questões cruciais à preservação das condições de sobrevivência do próprio homem a
partir do estabelecimento de práticas diferenciadas de um Estado – menos Provedor e,
minimamente, Regulador – e os espaços que se constituem na complexa sociedade
contemporânea. Dentre esses espaços, consideram-se como emergentes, os entornos eco-sócio-
territoriais que constituem uma das evidências da resistência os cenários e atores na construção
das políticas públicas que dizem respeito ao meio ambiente.

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2. METODOLOGIAS DE EDUCAÇÃO PARA OS CUIDADOS COM O MEIO
AMBIENTE
Práticas De Educação Ambiental2

O presente trabalho relata nossa experiência com Educação Ambiental, desenvolvida


a partir do Projeto Práticas de Formação, implantado em 2000 na estrutura didático-pedagógica
de uma Instituição de Ensino Superior Comunitária, particular, localizada na Bacia
Hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, na região sudeste do Estado de São Paulo,
por meio do qual ministramos a disciplina Educação Ambiental: envolvimento ou
adestramento, com 34 horas-aula por turma, num total 68 horas-aula semestrais, no período de
2001 a 2005.
É importante destacar que o Projeto Práticas de Formação é parte da matriz curricular,
ligado ao Núcleo de Integração2, que oferece disciplinas obrigatórias eletivas para os discentes
dos cursos de graduação, independentemente da área de concentração, visando a uma formação
integral do aluno.
Neste contexto do projeto citado, consideramos oportuno levar para o Ensino Superior,
ainda que a partir de uma disciplina eletiva, as diferenças de conceitos sobre a Educação
Ambiental3, das metodologias utilizadas para seu desenvolvimento e de como as questões
políticas e educacionais influenciam a sua promoção. Tal consideração tem base no fato de que
um quarto dos projetos ou atividades de EA desenvolvida por agências públicas, estatais e
organizações não governamentais brasileiras privilegia uma leitura reducionista da temática,
baseada, exclusivamente, nos aspectos biológicos do meio ambiente, desconsiderando o ser
humano e as relações sociais (BRASIL, 2000; BRASIL, 2001). Bem como, pela constatação,
na dissertação EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO INICIAL DE
PROFESSORES4, de que a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999) é
parcialmente entendida, em específico, sobre a promoção da EA em todos os níveis e
modalidades de ensino.
Supomos, a partir desses dados, que há divergências sobre a operacionalização da EA
no Ensino Superior e julgamos que ela está vinculada à forma como as questões ambientais
foram inseridas na Educação.

2
THOMAZ, C.E. Práticas de educação ambiental. Revista Eletrônica do mestrado em educação ambiental.
Campinas, v. 19., p. 70-87, jul./dez. 2007. Disponível em:
<http://www.remea.furg.br/edicoes/vol19/art05v19a6.pdf>.

15
Essa suposição possibilitou as adaptações e pesquisas para a construção das práticas,
nas quais buscamos propiciar vivências para estimular a criticidade (MORAES, 2000) e a
percepção ambiental e, nesse caso, aprimorar a sensibilidade da audição, do olfato, da visão e
do tato em atividades individuais e em grupo, estimulando as operações mentais5 dos alunos.
Buscamos subsídios em autores como Anastasiou e Alves (2004), Mendonça e Neiman
(2003), Tomazello e Ferreira (2001) para o desenvolvimento das práticas e os dados coletados
com os alunos participantes, através do relato de experiência, foram analisados tendo como
referência teórica nosso entendimento de Noronha (2002), o que nos permitiu refletir acerca da
reconstrução noção tempo-espaço na sala de aula e da construção de outros espaços com fins
pedagógicos atrelados a um saber fazer político, na defesa de interesses comuns.
Esclarecendo elementos com os quais trabalharemos e que julgamos importantes do
ponto de vista conceitual, entendemos por Educação Ambiental o processo educativo de busca
de novos valores, sensações e percepções, no e para o ambiente natural e social, com base em
autores como Guattari (1990) e Tomazello e Ferreira (2001). Em outros termos, defendemos
que a EA extrapola a esfera da escola, não se restringe apenas à educação formal, objetiva
transformar valores e comportamentos, possibilitando a construção do saber fazer humano,
político e ambiental em defesa do bem comum, ou seja, entende os elementos naturais como
bens coletivos e procura refletir e, se possível, mudar o pensar e o agir que vem distanciando
as relações homem/sociedade/meio natural.
Utilizamos o termo questões ambientais, em razão de sua citação abrangente nas
produções acadêmicas consultadas que discorrem sobre meio ambiente e/ou EA. Entendemos
que é uma forma ampla de referência aos problemas gerados, em sua maioria, pela intervenção
humana no ambiente natural. Contudo, concordamos com Chesnasi e Serfati (2003), ao
mencionarem que palavras como ecologia, meio ambiente, questões ambientais, estão
relacionadas à reprodução social de classes, de povos ou mesmo de países que disseminam que
a degradação das condições físicas da vida social é um mal natural a que alguns povos seriam
chamados a submeter-se, notadamente aqueles situados nos países identificados como em
desenvolvimento.
Entendemos por percepção ambiental a ampliação da consciência dos sentidos (visão,
audição, olfato, tato) conforme compreensão das obras de Mendonça e Neiman (2003) e Cornell
(1996). Completa nosso discernimento as palavras de Oliveira (2006) ao mencionar que cada
indivíduo tem sua interpretação de espaço de acordo com a realidade em que vive e que não há
16
uma percepção errada ou inadequada e sim entendimentos diferentes, condizentes com o espaço
vivido (p.35).
Relato de experiência é nosso instrumental para verificação da hipótese, ou seja, de
que as práticas propiciaram vivências que estimularam a percepção ambiental, ampliaram a
sensibilidade da relação homem-meio e instigaram a criticidade. As informações registradas
nele oferecem dados passíveis de serem estudados, combinados, comparados. Buscamos, assim,
uma ação pedagógica participante.
Adotamos três etapas para o desenvolvimento da disciplina. Inicialmente, trabalhamos
com umas das práticas, antecipando a interação que pretendíamos entre os alunos e o conteúdo
programado e realizamos um levantamento com a finalidade de conhecer os diferentes saberes,
experiências e vivências dos alunos. Constatamos que o maior número de alunos era
proveniente, respectivamente, das graduações de Ciências Biológicas, Engenharia Ambiental,
Química Tecnológica, Educação Física, Geografia e Turismo. Trabalhamos, também, com os
alunos dos cursos de Pedagogia, Teologia, Filosofia, Odontologia, Arquitetura e Urbanismo,
Matemática, Medicina, Direito, Fisioterapia, Nutrição, Ciências Sociais, Enfermagem,
Administração, Economia, Relações Públicas, Artes Visuais, Biblioteconomia e Letras.
Com o diagnóstico dos saberes dos alunos, reorganizamos os conteúdos que foram
desenvolvidos, juntamente com as práticas, nas atividades em sala de aula e em espaços
externos à sala de aula.
No terceiro momento, propusemos um relato, no qual o aluno descrevia e comentava
qual experiência foi significativa, entre as atividades realizadas. Procuramos, assim, estimular
a reflexão sobre uma ou mais experiências vivenciadas em sala de aula ou em ambientes
externos.

2.1 PRÁTICAS DE ENVOLVIMENTO COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL


É preciso que não ensinemos apenas as pegadas de caminhos conhecidos, mas que
tenhamos a coragem também de saltar sobre o desconhecido, de buscar a construção
de novos caminhos, criando novas pegadas (CASTANHO, 2000, p.77).

Utilizamos como elemento norteador para a construção das práticas de envolvimento


com a EA as estratégias para a efetivação da ensinagem entendidas como a “arte de aplicar ou
explorar os meios e condições favoráveis e disponíveis, visando à efetivação da ensinagem”
(ANASTASIOU e ALVES, 2004, p.68,79-98). Todo o trabalho se desenvolveu de forma que,

17
sob nossa orientação, os alunos refletiram sobre suas experiências vivenciadas em grupo, tanto
em sala de aula como em ambientes externos.
Portanto, as práticas pressupõem um estímulo para os alunos na interação com seres
humanos e não humanos no meio natural e no urbano em que vivemos (GUATTARI, 1991) e
são um exercício à criticidade, na tentativa de que novos valores sejam socialmente construídos
(MORAES, 2000).
As práticas completam os conteúdos da disciplina, desenvolvida no Projeto Prática de
Formação, durante as atividades em sala de aula, bem como são utilizadas em espaços externos
com fins pedagógicos.
Especificamente, quando visualizamos que as práticas podem contribuir para a
formação no Ensino Superior, quer dos cursos de licenciatura ou de bacharelado, pensamos em
um processo dialético, articulando saber e fazer dos sujeitos agentes do conhecimento. Neste
sentido, selecionamos e propomos com as práticas caminhos para o entendimento histórico das
questões ambientais, que só se obtém através da produção de conhecimento (NORONHA,
2002).
Trata-se de um processo que, conforme Camargo (2000), exige cautela, estudo e
reflexão por parte do docente, em busca de suportes teórico-práticos cada vez mais sólidos e
diversificados para atender às expectativas e às necessidades dos alunos. Acrescentamos que se
deve considerar ainda as vivências dos alunos com a temática, para que essa construção de
conhecimento adquira efetividade.
Passamos a apresentar, portanto, as práticas para o envolvimento com a EA, seguidas
de texto explicativo e citações de autores as quais reforçam sua construção. Nessa apresentação,
as práticas são expostas como foram desenvolvidas no decorrer da disciplina EA: envolvimento
ou adestramento, o que não significa que estão em ordem sequencial, principalmente aquelas
práticas desenvolvidas em ambientes externos, porque não se garante a relação tempo/conteúdo,
diferentemente do que ocorre, normalmente, nas tradicionais aulas expositivas. Neste caso,
retomamos o conteúdo em sala de aula buscando a elaboração de síntese. Os nomes atribuídos
às práticas foram criados no contexto de execução da disciplina mencionada; contudo
continuamos pesquisando identificações simples para facilitar o envolvimento que
intencionamos.

18
PRÁTICA MÍDIA E CONSCIENTIZAÇÃO

Nossa intenção, com a estratégia Mídia e Conscientização, foi a de verificar o


conhecimento dos alunos sobre questões ambientais.
Utilizamos, para o desenvolvimento da prática jornais e revistas diversos, porque é
através destes que as primeiras informações sobre o assunto meio ambiente são, na maioria das
vezes, absorvidas. Durante a aplicação dela, separamos os alunos em grupos para efetivar uma
maior integração, que, no nosso caso, foi importante principalmente para aproximar as diversas
pessoas, de diferentes graduações, que optaram pelo curso. Para tanto, distribuímos números
(1, 2, 3...) para cada aluno e depois os agrupamos de acordo com a mesma numeração recebida,
para, na sequência, distribuir os jornais, ou revistas. Cada aluno escolheu no material recebido
uma reportagem ou artigo, leu (10 minutos) e se posicionou: se a matéria tinha relação direta
ou não com o que se entende por meio ambiente. Após o tempo determinado para a escolha e
leitura de uma matéria, separamos e orientamos para uma troca de ideias entre as duplas ou
trios no grupo. Nessa troca de ideias, os alunos coletaram dados gerais (nome, curso, onde
reside, diversão predileta, data de aniversário, entre outros), dialogaram sobre a matéria
escolhida e lida individualmente e sobre as possíveis relações com as questões ambientais.
Na sequência, após um tempo determinado (cerca de 12 minutos), os grupos formaram
um único círculo, apresentaram as informações trocadas durante o bate-papo para a sala, sobre
a matéria escolhida e as relações identificadas. Os dados gerais serviram para uma descontraída
interação. Discutimos sobre a noção tempo-espaço frente às informações coletadas.
Concomitantemente, alocamos na lousa palavras-chave (ou frases), que capturamos durante a
apresentação dos integrantes de um determinado grupo para a sala de aula, e, em uma tabela à
parte (previamente desenhada na lousa, com a identificação dos grupos, em ordem alfabética),
19
registramos numericamente se o assunto mencionado estava diretamente relacionado com a
questão ambiental, de acordo com a posição do aluno.
Ao final da apresentação, interligamos as palavras-chaves capturadas, estabelecendo
relação com a EA. Esta ação possibilita a construção de uma outra atividade que foi
desenvolvida em grupo11, a partir do exemplo do mapa de relações alocado na lousa.

PRÁTICA MAPA DE RELAÇÕES

Utilizamos a prática mencionada em sala de aula, para iniciar uma discussão e


construir possíveis relações a partir de uma temática. Em atividade externa estimulamos a
reflexão, indagando aos alunos se acrescentariam, ou não, ao mapa uma nova relação.
Respaldamos esta intenção em Anastasiou e Alves (2004) que mencionam “(...) o fundamental
é a identificação dos conceitos básicos e das conexões entre esses conceitos e os deles
derivados: isso leva à elaboração de uma teia relacional” (p.83-84).
A prática Mapa de Relações pode ser utilizada antecedendo a prática pedagógica Visita
de Campo, apontando as relações que inicialmente os alunos possuem sobre o local que será
visitado. Está vinculada à prática Mídia e Conscientização, pois é durante o desenvolvimento
desta que apresentamos a metáfora do conhecimento como rede de significados (MACHADO,
1996), relacionando e unindo palavras-chave mencionadas durante as apresentações em sala de
aula. Esta prática guarda relação, também, com a estratégia Interações Tecnológicas, que
objetiva propiciar um olhar mais crítico sobre o ambiente urbano.

20
PRÁTICA INTERAÇÕES TECNOLÓGICAS:

Durante as discussões em sala de aula foi possível identificar que os alunos perceberam
que não há fronteiras entre cidades, estados ou países, quando o assunto, por exemplo, é o
aumento da poluição do ar, como expõe o documentário Poluição por Dioxina (vídeo
documentário da TV Cultura de São Paulo, exibido em 2001). Palomino & Meyer (1995) tratam
desta questão ao abordarem o problema de poluição do ar por aerosóis.
No documentário Ilha das Flores, de Jorge Furtado, é possível visualizar diversos
conceitos como liberdade, desigualdade social, consumismo, lucro e história, pautados pela
lógica capitalista. A utilização do computador para a exposição deste documentário serve,
também, como assunto a ser questionado, durante o qual recordamos que este deve ser utilizado
como uma “ferramenta de emancipação e não de neutralização”12 do cidadão, ou seja, como
instrumento para fortalecer a visão crítica à medida que rompe as fronteiras do acesso à
informação. Durante a síntese que procuramos construir, instigamos os alunos a pensarem na
noção tempo-espaço que os documentários indiretamente abordaram.

21
PRÁTICA TROCANDO IDEIAS

Durante a exposição do conteúdo programático e, especificamente, a partir das redes


construídas durante a prática Mapa de Relações é que os alunos acabam por interessar-se por
assuntos específicos.
Incentivamos, portanto, que explorem, investiguem e exponham uma determinada
temática para a sala de aula. Quando temos um assunto de interesse coletivo, convidamos
profissionais da nossa comunidade acadêmica ou outros profissionais, para exporem suas
ideias, pesquisas e vivências, sobre uma determinada temática. Durante nossa experiência, em
2001 e 2002, tivemos a oportunidade de receber esclarecimentos sobre a “Conferência
Municipal de Saneamento de Campinas”, o que nos forneceu subsídios para organizar uma
palestra sobre o consumo de água na cidade mencionada, para os alunos do curso, no dia
29/09/2001.
A Conferência Municipal de Saneamento de Campinas foi realizada pela Sociedade de
Abastecimento de Água e Saneamento S.A – SANASA, em 1999 e 2000, e as principais diretrizes
do evento foram expostas pelo coordenador de Saneamento e Meio Ambiente da Instituição
citada, para os alunos integrantes do curso, nas atividades em sala de aula, além da visita de campo
às Estações de Tratamento de Água e Esgoto da cidade de Campinas, em 2001 e 2002.

22
PRÁTICA VISITAS DE CAMPO

Essa estratégia contribui para comparar e ampliar as ligações da prática Mapa de


Relações e Interações Tecnológicas.
Procuramos propiciar vivências em ambientes naturais a partir das atividades do
aprendizado sequencial e posteriormente discutindo problemáticas que estão relacionadas a
área visitada. Conforme entendimento de Mendonça e Neiman (2003), o aprendizado
sequencial é uma técnica que consiste no oferecimento de dinâmicas, jogos e frases reflexivas,
desenvolvida pelo Prof. Joseph Cornell presidente da Sharing Nature Foundation, conhecida
por desenvolver educação ao ar livre, representada no Brasil pelo Instituto Romã13.
Exploramos pequenas áreas verdes, como por exemplo, um Bosque, nas dependências
do Campus da Instituição citada, e optamos por visitar a Serra do Japi (Jundiaí/ SP), porque
outros cursos14 do projeto exploram a cidade e a região de Campinas.
Nas Visitas de Campo em áreas urbanas, escolhemos especificamente o Aterro
Sanitário Municipal de Campinas e, ocasionalmente, visitamos as Cooperativas de reciclagem
para, inclusive, abordar a questão do consumo diversificado e desigual, instigando reflexões
sobre nossa utilização de embalagens para os mais diversos produtos alimentícios, limpeza,
estética, até recordar que há hoje um descarte considerável de equipamentos tecnológicos de
uso cotidiano, que vão juntos com as embalagens para os aterros sanitários controlados, entre
outras questões.

23
Nossa intenção ao decidirmos por lugares aparentemente diversos, visitados em datas
diferentes, foi a de estimular reflexões e interações possíveis entre ambientes aparentemente
diferentes. No relato de experiência que os alunos foram instigados a construir, surgiram
apontamentos sobre as semelhanças e diferenças destes locais visitados, bem como percepções
sobre tempo-espaço discutidas durante as visitas.
Reforçam a construção da estratégia as palavras de Balzan (1987) que menciona
“(...) O estudo do Meio pode contribuir para esclarecer, fixar, rever e principalmente
vivenciar aquilo que já fora, está sendo ou será visto na sala de aula” (p.115). Em Mendonça
(2003), encontramos que “Percorrer uma área natural significa entrar em contato com o mundo
não-humano. Significa esquecer, provisoriamente, os espaços modificados” (p.79).

PRÁTICA KRONOS & KAIRÓS (noção de tempo)

Objetivamos, com a prática intitulada Kronos & Kairós, introduzir e/ou retomar a
percepção do tempo-espaço, tentando mostrar que ela deveria ir para além de um processo
cronológico, sequenciado e de um espaço, apenas físico ou estrutural. Assim, com o apoio de
material previamente selecionado, instigamos os alunos a perceberem como o ser humano vem
impondo seu ritmo à natureza, à sociedade, criando instrumentos para sua sobrevivência, num
tempo cronológico que não considera os ritmos cíclicos do ambiente natural.
Louro (1996) esclarece que tempo e espaço são conceitos que parecem existir
independentes de nossa ação, da nossa vontade, surgem e na maioria das vezes são
inquestionáveis. Talvez não seja simples pensar que o espaço é construído socialmente, que
dependemos de sua definição para resolvermos onde viver, trabalhar ou estudar, por onde andar
ou não andar. O mesmo ocorre com o tempo, pois nos parece difícil pensar, mas o tempo é uma
construção, uma invenção (p.121). Mendonça (2003), ao mencionar que cumprimos horários
sem normalmente questioná-los, diz que “(...) vivemos hoje o extremo de decompor o tempo

24
de um dia em tantos fragmentos e nos esforçamos para encaixar neles inúmeras ações
cotidianas” (p.90). Aguiar (2003), definindo uma possibilidade de se trabalhar com o conceito
de tempo, diz que a “construção da noção de tempo só é possível através de uma metodologia
dialética (...) feita por diferentes sujeitos dotados de vontades convergentes ou conflitantes,
situados em diferentes espaços e concepções de tempo” (p.94-95).

CONSIDERAÇÕES POSSÍVEIS

Nossas vivências pesquisando práticas, didáticas e/ou estratégias para o envolvimento


da EA no Ensino Superior foram fontes primordiais para a exposição deste trabalho. Contudo,
não procuramos definições de certo ou errado, até porque, diante da diversidade social,
econômica, política e cultural do nosso bairro, município, estado, do nosso país seria um
equívoco.
Entre os itens que compõem as práticas para o envolvimento com a EA (descrição,
operação do pensamento, dinâmica da atividade, avaliação), buscamos, especificamente no
item avaliação, mais um envolvimento do que uma apropriação quantitativa, porque a
entendemos como facilitadora de uma interpretação feita pelos próprios participantes. Com
Sordi (2003, p.76), aprendemos que a avaliação “promove a compreensão da distância entre o
pretendido e o executado”. Portanto, cada aluno integrante dos diferentes grupos que
procuramos construir, principalmente nas atividades em sala de aula, tem suas próprias
considerações e todos são diferentes cidadãos, que compõem este cenário diverso do cotidiano
da sala de aula universitária brasileira. Nossas certezas, mesmo que provisórias, de que as
práticas oportunizaram envolvimento dos alunos com as questões ambientais estão centradas
no instrumento específico de avaliação que optamos por utilizar, ou seja, o relato de
experiência.
Nele há depoimentos que permitem mencionar um envolvimento pessoal e reflexivo
dos participantes à medida que apresentam a experiência que foi significativa, quer seja aquela
vivenciada nas interações em grupo na sala de aula, ou nas vivências e contatos possibilitadas
em espaços com fins pedagógicos.
Sintetizando as falas dos relatos há, entre outras tantas observações, aquelas que
apontam que as práticas que possibilitaram experiências de percepção no meio natural através
dos órgãos do sentido (tato, olfato, paladar, visão) foram úteis na medida em que se pode
25
aprender através dos vários sentidos e, inclusive, que as práticas poderiam ser aplicadas no dia
a dia, ampliando, assim, os sentidos para o reparo nas pequenas coisas.
Observamos que, nos relatos, os alunos demonstram olhar mais aguçado, crítico, frente
aos assuntos que inerentemente surgem durante as visitas de campo, tais como aqueles
relacionados ao lixo doméstico, os ligados à degradação de ambientes naturais, à poluição
atmosférica. Contudo, uma ligação da EA com questões políticas, sociais e educacionais surge
tímida, o que consideramos estar vinculado à ausência de formação de educadores que possam
contribuir para a conscientização dos cidadãos no que se refere à questão ambiental.
Procuramos, portanto, com as práticas, dialogar com as possibilidades de
transformação, de criatividade, de criticidade, as quais acreditamos serem pertinentes a uma
educação de pretensões ambientais. E, nesse sentido, fazer frente aos resquícios do modelo
científico racionalista que encontra atualização na imposição do desenvolvimento econômico
que hierarquiza e define diretrizes, inclusive para a educação, impedindo a formação do sujeito
histórico ciente de que vem contribuindo para a degradação do Planeta.
Conforme palavras de Tozoni-Reis (2004), a transformação social, ou seja, uma nova
sociedade, pressupõe o fim da exploração do homem pelo homem.
Entendemos que a autora menciona que a nossa compreensão dos problemas
ambientais é parcial e que encaminhamentos possíveis só aconteceriam na medida em que a
sociedade eliminasse a exploração do homem pelo homem. Isso, obviamente, reflete na forma
como se concebem e se entendem as questões socioambientais e culturais e, consequentemente,
a EA.
Consideramos, também, que essa ação transformadora, elemento comum nas
conceituações descritas e normalmente relacionadas à EA, está ligada a um saber fazer humano,
político e profissional na defesa dos interesses comuns, possibilitado, também, pela pesquisa,
desenvolvimento e prática de metodologias e estratégias que trabalhem com a sensibilidade, as
quais contribuem e podem ser aproveitadas para a inserção das questões ambientais na
formação em nível superior.

26
3. GESTÃO AMBIENTAL PARTICIPATIVA
Troca de saberes tendo em vista uma gestão ambiental participativa3

O presente trabalho é fruto de reflexões atiçadas no grupo de pesquisa e de estudo


Costeiros, a partir da pesquisa desenvolvida no âmbito do projeto MARENA - Manejo
comunitário de recursos naturais na baía do Iguape, que busca analisar a organização e a
dinâmica socioespacial na reserva extrativista marinha baía do Iguape, Bahia. Diante da
constatação de um potencial social pouco efetivado na reserva, a equipe de pesquisa fomentou
discussões internas acerca do conceito de poder e planejou uma série de oficinas de trocas de
saberes tendo em vista a transmissão de uma proposta concreta para aumentar o poder das
populações locais. A primeira das oficinas foi realizada em 2007 em São Roque do Paraguaçu,
no município de Maragojipe.

3.1 A CENA ATUAL: ATRÁS DA FÁBULA, A PERVERSIDADE

O século XX apresenta-se como um marco na história da humanidade por representar


uma aceleração do tempo e da apropriação do espaço e de seus recursos, modificando
sobremaneira o meio natural através de mudanças no modo de produção, iniciadas na primeira
revolução industrial. Milton Santos (1996) evidencia que a globalização, essa aceleração dos
fluxos de toda ordem no planeta desde a década de 1970, pode ser apreendida de três formas.
O sistema capitalista apresenta a primeira delas como uma fábula, em nome do avanço das
técnicas e tecnologias ao longo do século passado, que se traduziu por estupendos ganhos de
produtividade e um considerável aumento de riqueza. A partir dos anos 1980, a ideologia do
pensamento único divulga o neoliberalismo como panacéia socioeconômica, veiculada em
escala global por atores influentes como cúpulas e instituições internacionais, Estados e a
grande mídia, esta cada vez mais concentrada e menos plural.
A evolução das tecnologias sem dúvida favoreceu a impressão humana de dominar a
natureza. Esta visão remete ao que Arendt (2007) sintetiza na figura do homo faber, o homem
que produz e se considera construtor do mundo a partir de objetos da natureza. Aos olhos do

3
PROST, C. Troca de saberes tendo em vista uma gestão ambiental participativa. GeoTextos, vol. 5, n. 1, jul
2009. C. Prost 165-179. Disponível em:
<http://www.portalseer.ufba.br/index.php/geotextos/article/view/3573/2628>.

27
mesmo, a natureza só adquire valor através de seu trabalho. Nesta perspectiva dicotômica entre
homem e natureza, a segunda proporciona um conjunto de recursos naturais a ser – cada vez
mais – transformado e explorado pelo primeiro.
Contudo, os efeitos do sistema capitalista de produção sobre a natureza – a chamada
questão ambiental – se voltam contra o bem-estar dos homens, em extensões e intensidades
variadas, alcançando a escala global e trazendo de volta nossa “condição de espécie”, como
declara Harvey (2006). Observa-se que até nos países de regime comunista, a opção pelo
desenvolvimentismo provoca danos ambientais sensíveis como atesta, por exemplo, a poluição
atmosférica por fumaça de carvão (e agora de carros) na China. Mas, no capitalismo, além das
técnicas e das ciências serem utilizadas para a dominação do homem sobre a natureza, elas
também servem a uma dupla dominação dos homens através de subordinação entre eles e da
submissão a um sistema excludente, que favorece a produção e a troca de bens em vez do usufruto
dos dons da natureza (BRANDÃO, 1994). Com isso, à marginalização social e econômica, se
acrescenta também a exclusão crescente de setores populares de um ambiente saudável.
Mas, em resposta, crescem as manifestações para o reconhecimento e o respeito de
direitos ambientais, denunciando a globalização pelo que ela realmente é: uma perversidade
(SANTOS, 1996). Diante das críticas, o capitalismo procura perpetuar a fábula, renovando e
modernizando seu discurso ao integrar elementos das reivindicações populares em suas
diretrizes de planejamento. A importância do discurso cresceu por vários fatores, entre os quais
se frisa dois. O progresso das telecomunicações e o aumento exponencial dos fluxos de
informações em escala global, que favorecem a amplitude dos debates sobre questões
polêmicas. Paralelamente, entre os valores ocidentais defendidos pelos países mais ricos do
planeta, a democracia é apontada como princípio universal, implicando também a liberdade de
opinião e de expressão, condição para a existência de um debate contraditório.
Em virtude disso, até os agentes hegemônicos devem apresentar uma justificativa de
seus atos para assentar sua legitimidade. Assim sendo, tanto empresas transnacionais como
instituições financeiras internacionais se apropriam da variável ecológica em nome do
desenvolvimento sustentável.
Esse conceito, definido no relatório Bruntland da ONU, expressa um avanço no sentido
de contemplar os efeitos diacrônicos do atual modo de produção. Todavia, o desenvolvimento
sustentável não questiona o sistema como um todo e suas crescentes desigualdades sociais e
geográficas e se limita a procurar soluções “realistas”, capazes de serem absorvidas pelo
28
mercado. A implementação de Agendas 21, a adoção de novas tecnologias “limpas” ou o
surgimento de novos mercados como o de carbono ilustram a visão da proposta. Na verdade, a
origem do conceito na arena diplomática – encarregada por essência de criar consensos – já
prenunciava uma fragilidade inerente. As necessidades de realismo político não condizem com
o rigor dos conceitos científicos e diluem-nos no campo normativo. O uso da expressão
desenvolvimento sustentável por inúmeros atores com interesses diferentes e até antagônicos
levou a uma polissemia do termo, criando ambiguidades políticas. Ambientalistas,
conservacionistas e preservacionistas divergem sobre os meios de proteção ambiental. Os
primeiros vêem a presença humana apenas como capaz de gerar “impactos antrópicos”,
implicitamente negativos. Esta visão conforta a visão dicotômica entre sociedade e natureza e
pode levar a conclusões malthusianas. Pior: ao negar as potencialidades positivas nas relações
entre populações tradicionais e natureza, o preservacionismo elimina, em consequência, a
participação – imprescindível – de todos na gestão ambiental (YÁZIGI, 1994) e aplica medidas
favoráveis aos mais ricos (GONÇALVES, 2001). Nota-se que, nos projetos de
desenvolvimento sustentável, a participação popular é defendida, mas, nesse contexto, deve ser
avaliado com cuidado seu grau de efetividade.
Nesse mar de incertezas, desigualdades e exclusões, que crescem em número e
intensidade, existem, todavia, elementos de esperança.

3.2 GLOBALIZAÇÃO E DIVERSIDADE CULTURAL

Milton Santos afirma que uma terceira globalização é possível. Apesar da


concentração crescente dos meios de comunicação e da consequente redução da pluralidade de
opinião, as novas tecnologias reconfiguram o acesso à informação, ampliando-o a grupos
populares. Multiplicam-se as lan houses, que oferecem a internet em banda larga a tarifas
acessíveis. Além disso, a produção e a difusão de informações alternativas são muito facilitadas
através da criação de uma página (site ou blog) ou a divulgação por outras vias (vídeos no site
do You Tube) na rede internacional, a um custo irrisório. Assim, como evidenciam autores
como Harvey, com os “espaços de esperança” (2006), ou Santos (1996), com o período popular
da história, uma profusão de grupos marginalizados social, econômica e politicamente dispõem
hoje em dia de maiores oportunidades de criar canais de informação independentes.

29
Assim, o quadro é propício à afirmação de diversidade cultural, de diferentes crenças
e matrizes de racionalidade, entre as quais as culturas tradicionais ganham destaque e
reconhecimento. Na esfera normativa, o Conselho da ONU propõe o princípio do respeito às
diferenças de culturas sem julgamento de valor, uma vez que não se pode compará-las
quantitativamente. Na esfera acadêmica, muitas disciplinas e pesquisas científicas se dedicam
há décadas aos estudos sobre culturas locais, modos de vida, relações sociais e de trabalho,
técnicas, cosmovisão, alimentando um debate no tocante ao lugar e sua construção. Muitas
obras questionam o atual modo de produção e de consumo, podendo chegar a defender o retorno
a uma vida mais simples. Em vez de um retorno, concorda-se aqui com Harvey quando ele
define o desafio de:
encontrar formas de ampliar e amplificar o alcance dos direitos humanos de maneira
que sejam o máximo possível simpáticas ao direito a ser diferente ou ao ‘direito à
produção do espaço diferente’ (2006, p. 122).

A afirmação inclui o direito a produzir espaço segundo outros moldes que não os
capitalistas e em diferentes ritmos. Por que isso é importante?

3.3 DO CONHECIMENTO EMPÍRICO DA NATUREZA AO CUIDADO COM ELA

Parte-se do pressuposto que, na gestão territorial, a opinião das populações tradicionais


deve ser contemplada, embora acuse divergências de interpretações com os planejadores
técnicos.
Entende-se tradicional por um modo de vida estreitamente associado ao uso social dos
recursos naturais e com baixo impacto negativo sobre os ecossistemas, assim como o
conhecimento de saberes ambientais empíricos, construídos ao longo de uma duradoura
convivência com o meio natural. As populações tradicionais consideram a natureza geralmente
como a grande provedora das coisas boas, disponíveis a todos, sem apropriação individual
(BRANDÃO, 1994). Isso é particularmente verdadeiro para populações pesqueiras costeiras,
cujos territórios usados são fluidos e não exclusivos. A natureza é o lugar da vida, do que é
gratuito e dado a todos no suprimento das necessidades básicas. Ela possui então um valor de
uso com o objetivo primeiro de sustento da família. Ela pode permitir também a extração de
um excedente que permitirá a aquisição de demais bens e serviços mediante circulação de
dinheiro.

30
Em trabalho de campo na baía do Iguape2, várias marisqueiras declararam ter
conseguido criar seus filhos “graças à maré”. Em oficina de troca de saberes realizada em São
Roque do Paraguaçu em 2007, a percepção da natureza pelos participantes foi
predominantemente de base do sustento familiar. A natureza surgiu também como símbolo de
vida, pois ela é e dá vida; ela é as comunidades biológicas e seus habitats, assim como a
sociedade e sua base de sustento social. Ao reconhecer esses serviços, as populações locais
expressam gratidão para com a natureza. Esta representa mais um patrimônio coletivo do que
apenas um amontoado de recursos naturais, tal como vista sob uma perspectiva utilitarista pelo
modo de produção capitalista. Para os pescadores e marisqueiras, a natureza não é vista como
distinta do ser humano, mas englobando este e seu grupo social no todo maior que ela é, uma
imensa teia de relações.
A relação afetiva com a natureza se forma através da história resgatada na memória
transmitida pela via oral, assim como da experiência corporal, apreendendo a realidade através
dos sentidos. Esse processo cognitivo se circunscreve em um espaço local, pois se origina na
convivência com a natureza através da inserção física do corpo e prescinde de tecnologia que
afaste o homem dos elementos naturais. Assim, o espaço local é o terreno das relações sociais
de proximidade, base da consciência e da ação política graças à troca de informações e opiniões
(HARVEY, 2006). A proximidade das relações das populações tradicionais com a natureza leva
a uma apropriação simbólica através dos sentidos.
Na baía do Iguape, paisagens culturais estão presentes; vários elementos as assinalam,
como o sinal da cruz ao entrar no mangue ou a associação deste com a entidade sagrada da
Vovó do Mangue (ou Nanã). Na oficina de troca de saberes, a equipe do MARENA pediu aos
participantes para formular o que a natureza significava para eles. Muitas respostas citaram a
definição de natureza como produto de Deus. Notou-se que, tanto no encontro com pescadores
na baía do Iguape, como em outras oficinas realizadas no Pará (PROST, 2007), os pescadores
que mais enxergam o meio natural como um produto de Deus são os que mais estão em contato
corporal com os elementos naturais, em decorrência de fraca mediação tecnológica. Outra
representação da natureza na oficina foi de algo a ser preservado, em decorrência das razões
previamente citadas. Destaca-se que uma das respostas se deu sob forma de desenho; foi a forma
mais completa de conceituar a natureza, uma vez que reuniu todas as razões acima citadas. A
expressão por meio desse mapa mental se revelou, portanto, como uma ferramenta interessante

31
para aprofundar a análise do olhar dos participantes e incentivá-la no decorrer das futuras
oficinas.
Por formar o ambiente de vida das populações tradicionais, tanto em termos de
moradia como de sustento socioeconômico e de referencial cultural, a natureza deve, logo,
receber cuidados para sua conservação. Brandão (1994) lembra que, ao cuidar da natureza com
“zelo e carinho”, libera-se dela apenas o que ela pode dar sem explorá-la além de sua potência
de liberação de produtos. Isso significa para a sociedade moderna o dever de mudar de atitude
para com a natureza: não mais tratá-la como algo inferior mas sim trocando gestos recíprocos
com ela, não enquanto “senhor absoluto mas um ser-da-vida-dada-por-Deus”. As populações
pesqueiras, por suas relações cotidianas e estreitas com o meio ambiente e seus conhecimentos
ambientais em escala ecossistêmica, têm perfeita consciência de que cuidar de seu ambiente
significa cuidar delas mesmas. O governo brasileiro integra esses saberes ambientais de
variadas formas em suas políticas. Exemplo disso é a lei do salário-defeso, cujo princípio reside
no reconhecimento do valor central da natureza para a sociedade e na socialização da
responsabilidade da conservação ambiental. Ao legislar sobre o salário-defeso3, a sociedade
paga o pescador para interromper a captura da espécie protegida durante o período estipulado.
Os defesos são criados após estudos biológicos, todavia os saberes dos pescadores estão na
origem do processo. Hoje em dia, existem defesos para poucas espécies, principalmente
comerciais, como ilustra o caso do camarão, único na baía do Iguape. No entanto, em campo,
várias marisqueiras consideraram haver uma pressão demasiadamente elevada da mariscagem
sobre o meio ambiente e propuseram um período de suspensão da atividade para deixar o
manguezal “descansar”, ou seja, permiti-lo se regenerar.
A criação das reservas extrativistas expressa o reconhecimento do papel das
populações tradicionais e de sua cultura na proteção ambiental. Isso ocorre após numerosas
criações de áreas protegidas de preservação permanente no mundo, implicando a expulsão de
populações rurais locais, se concluírem em fracasso, tanto do ponto de vista socioeconômico
para as populações como do ponto de vista ambiental nas unidades de conservação. Evidenciou-
se a posteriori o quanto o homem pode exercer impactos positivos sobre o meio ambiente. Mas
vale lembrar que o reconhecimento da sociedade para com as populações tradicionais foi e está
sendo construído também por movimentos sociais. No Brasil, o movimento dos seringueiros
aderiu à causa ecológica e conquistou mais cidadania. As resex florestais e marinhas, assim
como outras áreas, tais como terras indígenas e remanescentes de quilombolas, são fruto de
32
lutas sociais em favor do reconhecimento de territorialidades específicas. Na mobilização
social, os atores se tornam cidadãos, como ressalta Gonçalves (2001, p. 136), não só enquanto
“portadores mas também protagonistas de direitos em base em práticas sociais culturalmente
enraizadas, inscritas no habitus”.
Na oficina de troca de saberes, o MARENA ressalta a importância dos saberes
ambientais para a gestão da resex. Mas o projeto procura também transmitir a importância de
consolidar a organização social para a conservação da natureza e do grupo social. Para tal, uma
proposta de ação concreta foi apresentada e discutida com o grupo.

3.4 AUMENTAR A AUTONOMIA PARA CONSOLIDAR O TERRITÓRIO

A baía do Iguape forma o território usado, segundo o conceito de Santos, ou seja, o


espaço geográfico usado pelos grupos sociais locais, o lócus de suas práticas sociais. Ele sofre,
todavia, de efeitos provenientes de outras atividades econômicas da região do entorno da baía
e de seu afluente principal, o rio Paraguaçu. O efeito de maior impacto para os pescadores se
manifesta pela central hidrelétrica da barragem Pedra do Cavalo, a montante do rio, onde se
localizam as sedes municipais de Cachoeira e São Felix do Paraguaçu, gerenciada pela firma
Votorantim, do grupo Odebretch. Contemplar a firma na elaboração do planejamento ambiental
da resex se evidencia como necessário, por ela ser um importante usuário dos recursos hídricos
e que influencia muito a vida dos extrativistas a jusante. Por isso, as reservas extrativistas
preveem a constituição de um Conselho deliberativo formado por uma metade – mais um voto
– de delegados extrativistas e de outra metade – minoritária – de outros agentes sociais,
presentes na área da resex, ou usuários dos recursos hídricos, dentre eles a Votorantim. O
Conselho foi formado em agosto de 2005, cinco anos após a criação da resex, mas ainda não
foi plenamente implementado, já que duas comunidades, de Nagé e Enseada4, não elegeram
conselheiros em protesto contra a resex. Apesar disso, o IBAMA – agora o Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – realiza assembleias regulares do
Conselho e organizou, em 2007, um curso de conselheiros comunitários para membros de várias
resex do litoral baiano.
Outra etapa recomendada seria criar uma organização social que gerencie os recursos
naturais através da organização coletiva do trabalho. Em outras palavras, os pescadores e

33
marisqueiras da baía do Iguape devem se voltar agora a potencializar seu poder, entendido aqui
na perspectiva de Arendt (2007).
O poder existe em potencial onde os homens se reúnem, ou seja, é um fenômeno
sempre coletivo e não individual, ao contrário da força. Sua mobilização, expressa em discurso
e ação, em torno de um objetivo comum, não é condição suficiente. O poder só se efetiva
“quando as palavras não são vazias e os atos não são brutais” (ARENDT, 2007, p. 212) e no
que a autora chama de “espaço da aparência”, onde se expressam os homens que falam e que
agem, ou seja, a esfera pública submetida potencialmente a um debate. O poder, por sua
essência, é ilimitado, mas ele pode ser dividido, ao contrário da força. Suas limitações provêm
da existência de outras pessoas, remetendo, portanto, à condição humana da pluralidade.
Nas reservas extrativistas (resex), o Conselho deliberativo traduz uma pluralidade de
membros. Todavia, a frequência de suas assembleias não permite planejamento e gestão
ambientais verdadeiros. Para tal, o ICMBio recomenda que as populações criem um
instrumento mais ágil, com tomada de decisão mais adequada ao ritmo cotidiano das práticas
sociais, o que reforçaria o peso e a defesa dos interesses das populações pesqueiras no seio do
Conselho deliberativo. Na oficina realizada em São Roque do Paraguaçu, a criação de uma
associação de usuários enquanto espaço de decisão, ou seja, de poder, foi apresentada às
populações pesqueiras. Foi ressaltado que isso implica assumir a responsabilidade de criar uma
organização autônoma sem esperar por projetos verticais, frequentemente com lógicas
exógenas, inadequadas ou assistencialistas. A mobilização deve se construir em torno de um
objetivo comum: a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões, socioeconômica, ambiental,
cultural. Para garantir esse objetivo, uma das principais metas previstas no Sistema Nacional
de Unidades de Conservação (SNUC) é a elaboração e a implementação de um plano de uso
dos recursos naturais. Esse plano deve ser elaborado exclusivamente com base nos saberes
ambientais tradicionais, contando apenas com a assessoria técnica do ICMBio. Pode-se ler
nesse plano o objetivo do “poder de prometer” citado por Arendt (2007, p. 256), que ocorre
quando as pessoas se reúnem e “agem em concerto” pela força da promessa. Assim, se assenta
a soberania do grupo; ela “se torna superior a dos indivíduos livres graças à capacidade de
dispor do futuro como se fosse o presente” (ARENDT, 2007, p. 257).
Com a criação de uma associação de usuários e a elaboração de um plano de uso dos
recursos naturais, populações, que historicamente são excluídas dos processos políticos, passam
a decidir não só o que fazer no território da resex, mas igualmente como, com quem, quando e
34
para que agir. A atuação do ICMBio deve ser conduzida de modo a aumentar a autonomia
(SOUZA, 2002) individual e coletiva, em outros termos, o poder de decidir em plena
consciência e liberdade. A consciência é alimentada pelas informações às quais se tem acesso
e que são debatidas de modo crítico; a liberdade é garantida pelos princípios de democracia e
de transparência, que orientam a atuação dos responsáveis pela resex. O papel do ICMBio em
favor da coesão e da autonomia social é fundamental em unidades onde estas são deficientes.
Na baía do Iguape, o potencial de poder se efetiva entre as comunidades quilombolas. Elas são
articuladas por um Conselho que reúne mensalmente os representantes de todas as comunidades
para debater livremente, após consulta das bases, e decidir por voto as ações de interesse
coletivo. Uma vez tomada uma decisão, o grupo pode valer-se de engajamento e solidariedade
do coletivo. Contudo, no resto da baía do Iguape o potencial de poder é subutilizado por falta
de coesão e dinamismo em torno da resex, o que enfraquece o território da resex enquanto
unidade de conservação. A equipe do projeto MARENA se propõe a contribuir para o fomento
da organização social da resex através de uma série de oficinas nas localidades de estudo.

3.5 TROCA DE SABERES NA BAÍA DO IGUAPE

O projeto MARENA realizou uma oficina de troca de saberes em 2007 em São Roque
do Paraguaçu e duas na sede de Maragojipe em 2009. Outras são planejadas em Coqueiros e
em Nagé, assim como nas comunidades quilombolas situadas no município de Cachoeira, com
o objetivo de salientar a utilidade da construção social para reforçar o poder das populações
pesqueiras.
A oficina iniciou-se com a apresentação do projeto MARENA e em seguida o repasse
dos principais resultados e recomendações oriundos da pesquisa de doutorado de Genz (2008),
referentes às alterações da água na baía do Iguape. De fato, as frequentes e irregulares vazões
de água para geração de energia hidrelétrica alteram os ecossistemas a jusante e, em
consequência, as atividades de pesca e mariscagem. A oficina foi uma oportunidade de
confirmar as opiniões de pescadores e marisqueiras levantadas em campo e indicar as
recomendações de defesa dos seus interesses por um estudo científico e independente de
qualquer interesse de agentes do capital. O evento permitiu também compreender os olhares
dos participantes sobre a natureza, como apresentado anteriormente, e debater os principais

35
problemas enfrentados com atores externos à pesca, como a Votorantim, e com atores internos,
como a colônia de pescadores ou praticantes de técnicas predatórias (ex.: pesca com bomba).
A necessidade de resolver essas questões foi utilizada como um motivo para apresentar
a criação de uma associação de usuários. O Instituto Chico Mendes está incumbido de dar apoio
e assessorar os extrativistas, mas a mobilização das comunidades é condição imprescindível.
Em São Roque do Paraguaçu, a proposta da associação foi bem recebida e o projeto deve
repassar, na ocasião das futuras oficinas, um modelo de estatuto de associação. Através do
exercício concreto do planejamento e da gestão, de forma comunitária e com a assessoria do
ICMBio, almeja-se promover a autonomia das populações; o órgão ambiental deve agir
segundo o paradigma do que Diegues (1994) chama de “novo profissionalismo”, incentivando
o poder das populações decidirem elas mesmas sobre o uso dos recursos naturais, as alternativas
de geração de renda e outros assuntos de seu interesse.
Na baía do Iguape, a estrutura social da resex continua carente de associação de
usuários, uma vez que não existe, dentro do ICMBio em escala estadual, uma prioridade
afirmada sobre o andamento efetivo da resex. Essa falta de prioridade é manifesta nos cinco
anos e na pressão da sociedade civil organizada, necessários para se criar o Conselho
deliberativo, órgão pouco operacional para o cotidiano dos pescadores. Caso uma das partes
co-gestoras falhe no processo de construção da resex, entende-se útil municiar a segunda parte
com as informações necessárias para fomentar a criação desse instrumento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cenário atual de degradação ambiental e aumento de catástrofes naturais,


frequentemente provocado pelo modo de produção desenvolvimentista capitalista, requer
medidas de gestão ambiental em resposta. O sistema capitalista procura se beneficiar dessas
novas exigências com a adoção de novas tecnologias rentáveis no mercado, mas sem atacar o
problema pela raiz. A proposta das reservas extrativistas se insere em uma lógica na qual a
sustentabilidade ambiental se conjuga com aprendizagem e consolidação da cidadania em
várias dimensões: política, através do exercício do poder nas instâncias comunitárias e no
Conselho Deliberativo; socioeconômica, pelo manejo comunitário dos recursos naturais e
outros projetos de geração de emprego e renda; cultural com a promoção e valorização de
manifestações e práticas locais.
36
Para facilitar a coesão social, a homogeneidade das condições socioespaciais e dos
interesses é favorável; para tal recomenda-se a criação de resex de pequena extensão territorial.
Além disso, quando o órgão ambiental desempenha seu papel no sentido de promover a
autonomia comunitária, os resultados observados em várias resex do país são promissores em
termos de construção social, embora os desafios ainda continuem importantes. A promoção de
mais resex marinhas no litoral baiano é recomendada com a condição de que o Instituto Chico
Mendes se empenhe em uma missão de promoção da autonomia das populações pesqueiras,
assessorando-as na tarefa de governar pelo intermédio de uma associação dos usuários.
A emergência de cidadãos mais conscientes de seu papel na presente sociedade e de
seu poder é um incentivo à multiplicação dessas experiências. Seu sucesso pode imprimir uma
contra-lógica ao modelo hegemônico de produção na região costeira, ilustrado, por exemplo,
na carcinicultura ou no turismo. Não se trata aqui de propor a volta a um tipo de economia
artesanal pré-capitalista como solução aos problemas atuais, mas de associar populações que
não se enquadram na lógica dominante aos interesses de todos, ou seja, à proteção ambiental.
Assim sendo, ao propor alternativas de renda às jovens gerações, se mantêm vivos o campo, os
conhecimentos e a identidade das populações locais e uma integração menos agressiva com o
sistema capitalista.

37
4. OS MÉTODOS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS

Prática De Educação Ambiental No Ensino Público Formal4

Atualmente nos deparamos com graves problemas ambientais, não apenas de ordem
das catástrofes naturais, assim como daquelas consequentes da ação do homem sobre a
natureza, as quais os meios de comunicação nos apresentam ou ate mesmo presenciamos.
Em nosso cotidiano, esses problemas apresentam impactos negativos que se refletem
diariamente em problemas sociais, econômicos e culturais e são causados pela ética
antropocêntrica preconizada pela modernidade que coloca em xeque as relações entre sociedade
e natureza, provocando desequilíbrios muitas vezes irreversíveis. Neste sentido, considera - se
a questão ambiental como fator essencial para a qualidade de vida, onde os problemas
ambientais devem ter prioridade na gestão pública social e individual da população.
Segundo Jacobi (1998), a população, de um modo geral, não sabe muito bem como
agir, uma vez que o exercício da cidadania como caminho para construir uma consciência
ambiental sempre esteve marcado pela omissão do poder publico e, sobretudo, pelo excesso de
individualismo, que contribuem para agravar o cotidiano das pessoas.
Desta maneira, a presença do homem concretamente como ser natural e, ao mesmo
tempo, como alguém oposto a natureza promoveu/promove profundas transformações na
natureza em si mesma e na sua própria natureza. Desta forma, o homem, por meio de seu
desenvolvimento técnico e capaz de, não só intensificar processos naturais, como também
produzir novos. A natureza, então, recria-se em novas formas tecnificadas/artificializadas, cuja
presença na superfície da Terra já são evidentes.
Diversos autores e cientistas tem destacado a grande influência que a tecnociência e
os meios de comunicação de massa exercem no âmbito cultural da sociedade industrial. Neste
sentido, Brugger (1994) afirma que “por onde se espraia a cultura ocidental–industrial substitui
a natureza por espaços urbanos, e as cores vibrantes que antes estavam na natureza entram nas
telas de computadores e tevês.

4
SILVA, M.F.D. & Jadoski, S.O. Prática De Educação Ambiental No Ensino Público Formal. Revista
Eletrônica Lato Sensu – Ano , nº1, março de 2008. ISSN 1980-6116. Ciências Agrárias. Disponível em:
<http://web03.unicentro.br/especializacao/Revista_Pos/P%C3%A1ginas/3%20Edi%C3%A7%C3%A3o/Agrarias
/PDF/3-Ed3_CA-PraticaEduc.pdf>.

38
Desta maneira, Marcuse (1982) na década de 1960, defende a ideia de uma cultura
unidimensional, podemos dizer que esta concepção de unidimensionalização está longe de ser
ultrapassada. Muito pelo contrário, pois, para Ramonet (1998) atualmente há uma estéril
uniformidade que caracteriza a modernidade e que conduz a um estilo de vida semelhante que
se impõe de um extremo ao outro do planeta, divulgado pela mídia e prescrito pela intoxicação
da cultura de massa: mesmos filmes, mesmas séries de televisão, mesmas informações, mesmas
canções, slogans publicitários, roupas, carros, arquitetura e apartamentos decorados de maneira
idêntica. Na história da humanidade, nunca praticas características de uma cultura tinham
chegado a se impor, de uma forma tão rápida, como modelos universais, que são também
políticos e econômicos.
Neste contexto, pode-se afirmar com clareza que a mídia padroniza o comportamento
humano, sem considerar que é impossível toda população viver em um mesmo padrão de vida.
Estes problemas não teriam tanta gravidade se não existissem tantas desigualdades sociais e um
grande contingente populacional, isto e, se não fosse preciso transformar cada vez mais recursos
naturais em mercadorias, que não serão consumidas por todos, mas, que todos sofrerão suas
consequências ambientais.
Segundo LEFF (2001), a crise ambiental suscitou novas direções para o processo de
desenvolvimento e novas demandas para os movimentos sociais/ambientais. Onde, faz-se
necessário incorporar uma “dimensão ambiental” ao âmbito do planejamento econômico,
científico, tecnológico e educativo, induzindo novos valores no comportamento dos agentes
sociais e problematizando todo um conjunto de disciplinas cientificas que é o suporte da
racionalidade econômica e tecnológica dominantes.
Desta forma, para a real transformação do quadro de crise estrutural e conjuntural em
que vivemos a Educação Ambiental, por definição, e elemento estratégico na formação da
ampla consciência crítica das relações sociais e de produção que situam a inserção humana na
natureza (LOUREIRO, 2000).
A educação ambiental assume um papel importante no sistema educacional, com o
objetivo de discutir a ética, a moral, a harmonia e o respeito dos homens com a natureza e entre
eles próprios.
Segundo Cascino (1999) as questões ambientais, atualmente, são alvos de debates e
preocupações das comunidades, já que, há a consciência de que a fragilidade da natureza coloca
em risco a sobrevivência humana. Este fato propiciou nas últimas décadas a formação de
39
movimentos ambientalistas, que favorecido pelo crescimento das preocupações ecológicas e
ambientais, criou condições para o aparecimento e o desenvolvimento de um currículo referente
a estas questões.
Desta maneira, deve-se priorizar um currículo que proporcione a relação de ligação
entre teoria e prática cotidiana, relação esta, necessária para a visão e compreensão do aluno
sobre a realidade social e ambiental do mundo moderno. Neste contexto, Cascino (1999),
enfatiza esta relação propondo novos meios educacionais, onde o currículo não deve ser voltado
apenas a disciplinarização de conteúdos destinados a compreensão dos ecossistemas naturais e
os estágios de destruição, conservação ou recuperação; não podemos mais nos restringir a
sistematização de práticas pedagógicas que se destina quase que exclusivamente a transmitir
conhecimentos frios, que tomam o meio como algo distante, cuja existência humana e
dependente, mas apenas no âmbito de relação material e mecânica de sobrevivência.
Neste sentido, o trabalho pretende contribuir para as discussões pertinentes a educação
ambiental no ensino público formal. A importância deste trabalho está no fato de promover uma
educação ambiental que contemple a realidade dos educandos e que, ao mesmo tempo valorize
suas práticas e seu cotidiano, no sentido de que eles são sujeitos sociais que recebem e exercem
influências sobre o ambiente.
Atualmente, há a necessidade de se discutir a importância para a educação para a
construção de uma nova ética Ambiental, já que, considera-se não haver melhor meio de
transmissão que o sistema educacional, que em síntese, exerce a função de promover a
socialização de indivíduos e a construção do cidadão.
Neste sentido, o Meio Ambiente deve ser entendido e utilizado como instrumento
necessário para a formação de cidadãos conscientes, aptos e capazes de tomar decisões e
promover ações sobre a realidade socioambiental, devendo estar comprometido com a vida,
com o bem estar individual e coletivo, tanto a nível local, como global.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), relatam que para alcançar estes
objetivos, faz-se necessário que o sistema educacional, especialmente, a escola, além de
trabalhar com teoria/conceitos e informações sobre os temas socioambientais, se comprometa
a trabalhar com atitudes, com a formação de valores, com as habilidades e os procedimentos do
processo ensino-aprendizagem.

40
O objetivo do trabalho foi trabalhar a teoria e informações com os educandos, aliando
esses conceitos teóricos ao seu cotidiano, possibilitando assim, uma visão mais crítica sobre as
relações socioambientais a nível local e global, presentes em seu dia a dia.

4.1 SOCIEDADE X AMBIENTE OU EDUCAÇÃO AMBIENTAL?

A visão dicotômica entre sociedade e natureza pela sociedade moderna tem provocado
uma crise ambiental nunca vista anteriormente. A cada dia deparamo-nos com inúmeros e
variados problemas ambientais, basta observar as fontes de informações para perceber que os
impactos ambientais estão diariamente nos noticiários, e que muitas vezes não os percebemos,
já que, tornaram-se, ou melhor, os tornamos, fatos corriqueiros do nosso cotidiano.
Segundo Andrade (1987), a natureza entendida como um recurso natural passa a
justificar a expansão da produção de mercadorias e, consequentemente, a sua exploração
“inconsequente”. Este fato decorrente da visão de que o homem, para satisfazer suas inúmeras
e infinitas necessidades, disputa os recursos finitos da natureza.
Além disso, o modelo de desenvolvimento dos países se baseia na exploração dos
recursos naturais vitais, fato que acarreta a deterioração das condições ambientais em ritmo e
escala nunca vistos anteriormente.
A paisagem natural da Terra está cada vez mais ameaçada pela redução da cobertura
vegetal, dos minérios, das condições atmosféricas favoráveis, pela intensificação do
esgotamento dos solos e a qualidade das águas, entre outros problemas ambientais. Estes
problemas são decorrentes dos avanços tecnológicos que exigem elevados padrões de produção
e consumo.
Neste sentido, à Agenda 21, proposta durante a realização da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio – 92 julgam os padrões de consumo e
produção exigidos de recursos naturais incessantes e inviáveis para uma sociedade dependente
de recursos naturais finitos, essencialmente, nos países industrializados, além de considerar
esses índices os principais causadores dos desequilíbrios ambientais e sociais a nível mundial.
Desta forma, o desenvolvimento, representado através dos avanços tecnológicos e
científicos, aparece de um lado como a salvação para o mundo moderno, e do outro, a maldição,
para um mundo desenvolvido.

41
As disparidades nos índices de produção e consumo agravam ainda mais a exclusão
social e a pobreza, visto que, os recursos naturais, finitos, foram transformados em mercadorias
pelo mundo moderno. Desta forma, a escassez de um determinado produto reflete diretamente
no aumento de seu valor comercial, limitando o acesso de muitos a esse produto.
A publicidade exerce um papel fundamental para o crescente aumento do consumismo,
essencialmente, pelos meios de comunicação de massa, que nos instigam ao consumo excessivo
e gradativo, já que, vivemos em uma sociedade que valoriza a boa aparência, associada ao
sucesso, ao dinheiro e à informação.
Desta forma, torna-se de fundamental importância discutir as influências da mídia
sobre a sociedade de consumo, visto que, ela padroniza o comportamento humano sem
considerar que a maior parcela da população não pode usufruir dos produtos e serviços
ofertados pelo mundo moderno.
O crescente aumento da sociedade de consumo intensificou o ritmo das atividades
econômicas, o que, por sua vez, ampliou de maneira considerável a interferência do ser humano
sobre a natureza e, indiretamente, afetou a própria saúde humana. Parta atender a grande
demanda de produtos foi preciso explorar uma quantidade cada vez maior de recursos naturais.
Deste modo, a natureza passou a ser entendida como uma fonte de matéria-prima, o que
deflagrou um intenso processo de degradação.
Quando falamos em consumismo, esta, diretamente, atrelada a ideia oposta a
preservação e conservação ambiental. Entretanto, faz-se necessário rever esta relação, pois a
oposição do consumo a preservação, torna-se inviável pelo fato de que somos biologicamente
dependentes destes recursos. Desta forma, a única e eficaz maneira para consumir e preservar
o ambiente seria o chamado Consumo Sustentável.
Segundo a United Nations Environment Programme (apud SODRE, 1998):

Consumo sustentável significa o fornecimento de produtos e serviços que atendam às


necessidades básicas, proporcionando uma melhor qualidade de vida, enquanto
minimizam o uso dos recursos naturais e materiais tóxicos, como também a produção
de resíduos e a emissão de poluentes, no ciclo de vida do serviço ou do produto, tendo
em vista não colocar em risco as necessidades das futuras gerações.

A agenda 21 possui mais de 2.500 recomendações quanto a melhoria das condições


sociais e conservação do meio ambiente, compatibilizando atividades econômicas, os recursos
naturais e, a qualidade de vida, sendo este um modelo de desenvolvimento, o sustentável.

42
Esta conferência alerta sobre a importância da educação ambiental e,
consequentemente, a conscientização da sociedade na busca do desenvolvimento sustentável,
em conjunto com os fundamentos legais, econômicos e tecnológicos. Entretanto, ha também a
necessidade de um grande empenho para a coordenação e integração em setores cruciais, além
de uma mudança rápida e radical em comportamentos e estilos de vida, essencialmente, nos
padrões de consumo e produção.
Neste sentido, a Agenda 21 prevê que toda população tenha acesso ao ensino básico,
e que no mínimo 80% da população em idade escolar conclua o ensino primário, a redução dos
níveis de analfabetismo entre adultos, objetivos estes, que deverão ser concretizados por meio
do ensino formal e não – formal.
Desta forma, vê-se a importância de se conscientizar, urgentemente, a sociedade
quanto ao meio ambiente e o desenvolvimento, em todos os níveis de escolaridade, idades e
grupos sociais.
Segundo a Agenda 21, a educação para o desenvolvimento sustentável dá-se através
da integração de processos pedagógicos complementares:
- Conscientização, entendida como compreensão das relações entre sociedades
humanas e a natureza, entremeio ambiente e desenvolvimento, entre os níveis local e
global.
- Comportamento, visto como desenvolvimento de atitudes menos predatórias e de
habilidades técnicas e cientificas orientada para a sustentabilidade. (LEITE e
MEDINA, 2001).

A educação deve orientar para a sustentabilidade, porém, faz-se necessário um


redirecionamento nos conceitos e na metodologia proposta atualmente. Alguns teóricos
acreditam que este termo pode assumir um caráter fundamentalista, então, sugerem o termo
“Sociedades Sustentáveis”, na qual, subentende – se que uma sociedade voltada para a
sustentabilidade redefinira suas relações com o ambiente.
Desta maneira, a sustentabilidade deve ser entendida como um equilíbrio dinâmico
entre as necessidades das sociedades humanas e a capacidade da natureza de satisfazê-las, onde
sejam respeitados os processos metabólicos e cultural - simbólicos implicados nesta relação
(BRITO e CAMARA,1999).
O papel da educação ambiental nas sociedades que ainda não são sustentáveis e o de
propiciá-las e instiga-las a este intento, transformando as práticas sociais e o domínio da
educação, ainda entendida como a socialização de indivíduos e a construção de cidadãos.

43
Para a plena e eficaz concretização destes propósitos não ha melhor meio de
transmissão que o sistema escolar e a educação sistemática, que tem a capacidade de promover
novos valores éticos e construir juntamente com pais, alunos, professores e comunidade,
alternativas viáveis de sustentabilidade, aspiradas pela Educação Ambiental.
Reforçando os objetivos da Educação Ambiental propostos pela Agenda 21, a Política
Nacional de Educação Ambiental Brasileira, em seu art. 225, § 1°, VI, estabelece a obrigação
do Poder Público de “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização publica para a preservação do meio ambiente”. Enquanto, a Política Nacional
do Meio Ambiente, pela Lei 6.938/81, art. 2°, X, decreta a “educação ambiental a todos os
níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação
ativa na defesa do meio ambiente”.
Além disso, os avanços na Legislação Brasileira acerca do tema Educação Ambiental,
através da Lei 9.795/99, consagraram o Brasil como o primeiro país latino-americano a possuir
uma política nacional especifica para a Educação Ambiental. Onde:

Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e da sustentabilidade (MILARE, 2001).

Desta forma, a educação ambiental torna-se um elemento imprescindível e constante


da educação nacional, devendo participar, de maneira articulada, em todos os níveis e
modalidades do processo educativo formal e não – formal.
A Educação Ambiental deve estar presente em todos os graus de escolaridade, tanto
nas escolas públicas, como nas escolas privadas, onde, estas devem propor e colocar em prática
seu currículo, considerando suas características locais, e as especificidades e especialidades dos
alunos e da própria escola.

METODOLOGIA

Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico no que diz respeito a


Educação Ambiental em seu caráter formal, considerando-se que, a pesquisa está baseada nas
atividades de educação ambiental realizadas na Escola Pública Estadual, com a oitava série

44
“A”, do Ensino Fundamental. Assim como pesquisas acerca das questões socioambientais a
nível global e local.
Desta maneira, as atividades de educação ambiental na escola pública foram realizadas
por meio de dois principais métodos de ensino, primeiramente, foram trabalhados alguns
conceitos e, em seguida, foram realizadas saídas de campo no bairro da escola, centro do
município de Prudentópolis.
Na sequência foram realizadas aulas expositivas em sala de aula, onde os alunos
tiveram espaço aberto para expor seus conhecimentos e pontos de vista acerca dos temas como
o desperdício, consumismo, desigualdades sociais, globalização, as relações humanas e
ambientais, apropriação dos recursos naturais e os problemas ambientais, assim como, a
importância da Educação Ambiental para a sustentabilidade.
Posteriormente, os alunos receberam um questionário (QUADRO 1) no intuito de
avaliar a compreensão e o entendimento, repassados por meio de aulas expositivas sobre os
temas já mencionados.

QUADRO 1 – Questionário avaliativo sobre as questões ambientais.

Em seguida, foram feitas as análises dos resultados obtidos com o referido


questionário.

45
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Primeiramente, foi perguntado (QUADRO 1) aos alunos sobre sua concepção de


meio ambiente, dentre as respostas destacam-se (QUADRO 2):

QUADRO 2 – Principais concepções sobre o Meio Ambiente.

Segundo a Lei 6.938/81 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, o termo se


caracteriza como:
O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (MILARE,
2.001, apud, CARAVITA, 1.990).

Nestas afirmações, percebe-se que, cientificamente ou não, estas concepções não


fogem do significado, pois, integram o homem com a natureza.
A respeito da concepção sobre os problemas ambientais, a maioria dos alunos acredita
que os problemas ambientais são causados pelo homem, que busca incessantemente o lucro,
através das indústrias que utilizam recursos naturais como matéria – prima e causam inúmeros
problemas, como a poluição das águas, do ar, do solo, entre outros. Alguns alunos apenas citam
alguns problemas ambientais, como o desmatamento, a destruição da camada de ozônio,
queimadas, o lixo, a questão da água, etc.
Sobre os problemas ambientais globais que eles acreditam serem mais sérios são quase
unanimes em dizer que são o desmatamento e a poluição, (FIGURA 01). Desta forma, percebe-
se que os alunos tem certa facilidade em descrever os problemas ambientais, porém, sentem
dificuldades para compreender e explicar as causas e consequências destes problemas, deixando
clara a visão precária que tem em relação à questão ambiental.

46
FIGURA 01 – Respostas dos alunos com relação aos problemas ambientais globais.

Em relação aos problemas ambientais locais – Cidade e Bairro da Escola, expresso na


FIGURA 02, todos são unânimes em dizer que os principais problemas são: o desmatamento
na área rural do município, a poluição do Rio Xaxim, localizado na Bacia do Alto Ivaí, que
sofre com a poluição por agrotóxicos na zona rural, e a poluição promovida pelo lixo e pelo
lançamento de esgoto, predominantemente, na zona urbana.
Alguns alunos citam as queimadas como causadores de poluição atmosférica no
município.

FIGURA 02 – Respostas dos alunos com relação aos principais problemas ambientais.

A respeito do papel da escola em relação às questões ambientais, as opiniões dos


alunos estão divididas, onde alguns acreditam que ela deva conscientizar e ensinar como
preservar e cuidar do meio ambiente, para se ter uma vida melhor. Outros relatam que a escola
deva ensinar a não poluir e não desmatar, enquanto outros, acham que a escola deva promover
palestras e passeatas sobre as questões ambientais.

47
Sobre a Educação Ambiental, grande parcela dos alunos, acreditam que a escola deva
ensinar como cuidar do meio ambiente e deva conscientizar as pessoas de que é importante
preservar a natureza para viver em um ambiente melhor. Outros alunos acham que a educação
ambiental é aquela que ensina como ser cidadãos, como zelar pelo seu habitat, enfim, é educar-
se para a vida.
Desta forma, percebe-se que os alunos não têm uma visão equivocada quanto a
Educação Ambiental, já que:
Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e da sustentabilidade (MILARE, 2001).

Pode-se perceber através da FIGURA 03, a respeito dos profissionais que trabalham a
educação ambiental em sala de aula que os alunos são unanimes em dizer que, apenas as
professoras de geografia e de ciências falam sobre as questões ambientais. Alguns alunos
mencionaram que a professora de Educação Artística sempre fala sobre o lixo em sala de aula.

FIGURA 03 – Resposta dos alunos com relação aos profissionais que trabalham com Educação Ambiental em sala
de aula.

Desta forma, podemos perceber a visão equivocada dos professores e alunos em


relação à Educação Ambiental, visto que, apenas algumas disciplinas tratam das questões
ambientais. Segundo a Lei 9.795/99, em seu art. 10, § 3º,“educação ambiental não deve ser
implantada como disciplina especifica no currículo de ensino”. Neste sentido, Grun (1996)
afirma que abordagem ambiental na escola não requer uma disciplina específica denominada
de “Educação Ambiental” ou de uma vinculação da Educação Ambiental a uma determinada
matéria de ensino. Tal procedimento seria um reducionismo às questões ambientais.

48
Desta forma, deve-se haver um planejamento participativo das ações de Educação
Ambiental, onde, professores, alunos, comunidade e agentes sociais de uma prática social,
compartilhem experiências, visões de mundo e expectativas, facilitando a compreensão e a ação
integrada e integral sobre a realidade. Portanto, e possível a “ação pedagógica direcionada de
forma a se integrar dialeticamente ao concreto do educando, buscando transformá-lo”
(GUIMARAES, 1995, op.cit. LOPES, 1990).
Na etapa prática, realizada com saída a campo com os alunos no bairro central do
município de Prudentópolis – PR, próximo à escola, foram observados alguns problemas de
ordem ambiental, e também de ordem social. Dentre os principais, de ordem social, pode ser
salientada, a locomoção, em especial, de pessoas com deficiência física, que necessita do apoio
de cadeira de rodas, pois, as calcadas encontram-se quebradas devido as raízes das arvores e,
em alguns locais há depósitos de lixos, impossibilitando, assim, a utilização das mesmas, e nos
“obrigando” a utilizar a via pública.
Durante a saída optou-se por não se efetuar comentários, visando aguçar a percepção
dos alunos, porém, em discussões e em relatórios apresentados, surgiu a questão dos problemas
dos deficientes físicos versus a questão ambiental. Considerando a questão legal que ordena a
preservação de áreas verdes no perímetro urbano dos Municípios, como objetivo de ordenar a
ocupação espacial, visando contribuir para o equilíbrio do meio onde o homem vive e trabalha.
Por outro lado, a questão social, um portador de deficiência física, que, necessariamente, precise
de calcadas e vias em perfeito estado para sua locomoção, enfrenta alguns problemas quando a
legislação ambiental vem de encontro a questão social.
Entretanto, a legislação ambiental prevê total autonomia aos municípios, quanto as
normas que disciplinam, no ambiente urbano, a preservação de áreas verdes, que devem estar
contidas no Plano Diretor, na lei de uso do solo. No qual, “a supressão de arvores ou formações
arbóreas isoladas em áreas urbanas, que não se enquadrem em qualquer das situações de
proteção ambiental, pode ser feita mediante simples autorização do Poder Público local, quando
a lei assim o exigir.” (MILARE, 2001).
Desta forma, cabe ao Poder Público municipal usar de bom senso para resolver esta
visão dicotômica, elaborando seu Plano Diretor com cautela, com o intuito de aliar a questão
ambiental e social e não de criar uma situação de contraposição entre as mesmas.
No que diz respeito aos problemas de ordem ambiental, durante e após a saída a campo
foram discutidos problemas como: a questão do lixo em terrenos baldios e em calcadas; a
49
poluição do Rio Xaxim que corta o centro da cidade, ocasionada por dejetos lançados
diretamente no rio por empresas comerciais e residências situadas nas proximidades; e a
inexistência de mata ciliar.
Além disso, foram discutidas as causas que levaram essas empresas e as residências a
lançar esses dejetos diretamente no rio, sejam elas, por questões econômicas, sociais, ou de
infraestrutura pública. Assim como as consequências que essas ações promovem para o meio
físico-natural, ou seja, um desequilíbrio ambiental da fauna e flora.
Chegou-se ao consenso de que a inexistência de mata ciliar que e uma das principais
responsáveis por enchentes e alagamentos na área central da cidade. Assim como os intensos
processos erosivos nas margens do rio, que, consequentemente, acabam ocasionando o
assoreamento do mesmo.
A questão do lixo em suas diversas interpretações, como transmissor de doenças, as
causas de estar jogado nas ruas e em terrenos baldios, a questão do desperdício e do
consumismo.
Verificou-se a grande importância de se aliar em sala de aula a teoria vista e discutida
em sala de aula com a realidade presenciada na saída a campo. Visto que a orientação presente
no processo educacional de ter como ponto de partida a busca da percepção da realidade mais
próxima, relacionando-se com as preocupações comunitárias, e uma constante nos projetos que
participam desta pesquisa. Do mesmo modo, a Educação Ambiental no contexto Escolar
reafirma os dados anteriores nas inter-relações que estabelecem, assim como a incidência tão
importante do tema Lixo / Reciclagem relaciona-se com a quantidade de projetos que se
desenvolvem em áreas urbanas. (CASCINO, apud MEC / MMA, 1.997).
Com estas atividades acreditamos ter dado o primeiro passo junto aos alunos para
alcançar os objetivos da Educação Ambiental, que é um processo longo e contínuo, pois, nas
discussões em sala de aula e nas saídas a campo, foi amplamente discutido a questão do
desperdício, poluição e do consumismo exacerbado prejudicial ao meio ambiente, e,
principalmente, as relações entre homem e natureza.
No que diz respeito a estes temas, durante a confecção dos trabalhos para a Feira das
Ciências realizada pela escola, os alunos utilizaram materiais recicláveis, especialmente,
garrafas pet para a confecção de roupas. Elaboraram maquetes de indústrias, com o objetivo de
demonstrar que podem existir diferentes visões em um mesmo local, sejam elas, de ordem
ambiental, econômica e / ou social.
50
Desta forma, as aulas expositivas, as discussões em sala de aula, a saída a campo e os
trabalhos elaborados para a Feira de Ciências do Colégio oportunizaram aos educandos a
obtenção de uma base mais solida acerca das questões ambientais, assim como, num futuro
próximo, tornarem-se multiplicadores ambientais.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

Constata-se a importância da Educação Ambiental, devido a sua capacidade de


sensibilizar o ser humano a respeito dos problemas ambientais que o cercam, e que, muitas
vezes são ocasionados pelos mesmos. Neste sentido, a Educação Ambiental auxilia e contribui
para uma conscientização voltada a prevenção e a correção de algumas barbáries realizadas
pelo próprio homem, e desta forma, busca a interação homem - meio ambiente em uma relação
mais harmônica e equilibrada.
Sendo assim, o Meio ambiente deve ser entendido e utilizado como instrumento para
formar cidadãos conscientes, e aptos para decidir e agir na realidade socioambiental, e deve
estar comprometido com a vida, e com o bem estar individual e coletivo, seja a nível global ou
local. Desta forma, a escola, em sua concepção de ensinar e formar cidadãos, além de trabalhar
informações e conceitos teóricos, necessita-se dispor a trabalhar com atitudes, com a formação
de valores dos educandos, e com as habilidades e procedimentos do processo ensino–
aprendizagem.

CONCLUSÃO

Neste sentido e possível realizar atividades de Educação Ambiental na escola pública,


mesmo quando não se tem uma infraestrutura de qualidade, sem recursos financeiros para
viagens, ou deslocamentos que precisem de auxílio transporte ou mesmo com materiais, exceto
giz, quadro e livro didático.
É possível sim, trabalhar a educação ambiental através de levantamentos
bibliográficos, pesquisas e, principalmente, através de discussões com os alunos sobre as
relações existentes entre sociedade e meio ambiente, a partir da sua própria escola, seu bairro
ou de sua cidade, ou seja, do cotidiano, do lugar onde vivem e conhecem, possibilitando a eles

51
uma visão mais crítica sobre as relações ambientais e sociais que ocorrem em seu próprio dia a
dia.
Para que se possam alcançar os objetivos da Educação Ambiental no âmbito escolar,
faz-se necessário esclarecer os objetivos, os meios e os modos para se fazer a Educação
Ambiental, para desta forma, haver uma interação entre educadores e educandos, aliando a
teoria e a prática, e a partir daí cada ser humano comece a fazer a sua parte, para que possamos
viver em um ambiente mais saudável.

52
5. IMPORTÂNCIA DA SOCIEDADE DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL GLOBAL

Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade5


Pedro Jacobi

5.1 DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E PRÁTICAS EDUCATIVAS

A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação


permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, envolve uma necessária articulação com a
produção de sentidos sobre a educação ambiental. A dimensão ambiental configura-se
crescentemente como uma questão que envolve um conjunto de atores do universo educativo,
potencializando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de
profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar. Nesse sentido, a
produção de conhecimento deve necessariamente contemplar as inter-relações do meio natural
com o social, incluindo a análise dos determinantes do processo, o papel dos diversos atores
envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das ações alternativas de
um novo desenvolvimento, numa perspectiva que priorize novo perfil de desenvolvimento, com
ênfase na sustentabilidade socioambiental.
Tomando-se como referência o fato de a maior parte da população brasileira viver em
cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo uma crise
ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios para mudar as formas
de pensar e agir em torno da questão ambiental numa perspectiva contemporânea. Leff (2001)
fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e
reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos
valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no
aspecto econômico do desenvolvimento.
A partir da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em
Tsibilisi (EUA), em 1977, inicia-se um amplo processo em nível global orientado para criar as
condições que formem uma nova consciência sobre o valor da natureza e para reorientar a
produção de conhecimento baseada nos métodos da interdisciplinaridade e nos princípios da

5
JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, mp.
a1rç8o9/-220050,3 mar. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/n118/16834.pdf>.

53
complexidade. Esse campo educativo tem sido fertilizado transversalmente, e isso tem
possibilitado a realização de experiências concretas de educação ambiental de forma criativa e
inovadora por diversos segmentos da população e em diversos níveis de formação. O
documento da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, Educação e
Consciência Pública para a Sustentabilidade, realizada em Tessalônica (Grécia), chama a
atenção para a necessidade de se articularem ações de educação ambiental baseadas nos
conceitos de ética e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização e
participação e práticas interdisciplinares (SORRENTINO, 1998).
A necessidade de abordar o tema da complexidade ambiental decorre da percepção
sobre o incipiente processo de reflexão acerca das práticas existentes e das múltiplas
possibilidades de, ao pensar a realidade de modo complexo, defini-la como uma nova
racionalidade e um espaço onde se articulam natureza, técnica e cultura. Refletir sobre a
complexidade ambiental abre uma estimulante oportunidade para compreender a gestação de
novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza, para um processo
educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a participação, apoiado numa
lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber. Mas também
questiona valores e premissas que norteiam as práticas sociais prevalecentes, implicando
mudança na forma de pensar e transformação no conhecimento e nas práticas educativas.
A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos linear, e isto se produz na inter-
relação dos saberes e das práticas coletivas que criam identidades e valores comuns e ações
solidárias diante da reapropriação da natureza, numa perspectiva que privilegia o diálogo entre
saberes. A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de
garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que
sustentam as comunidades.
A complexidade desse processo de transformação de um planeta, não apenas
crescentemente ameaçado, mas também diretamente afetado pelos riscos socioambientais e
seus danos, é cada vez mais notória. A concepção “sociedade de risco”, de Beck (1992), amplia
a compreensão de um cenário marcado por nova lógica de distribuição dos riscos.
Os grandes acidentes envolvendo usinas nucleares e contaminações tóxicas de grandes
proporções, como os casos de Three-Mile Island, nos EUA, em 1979, Love Canal no Alasca,
Bhopal, na Índia, em 1984 e Chernobyl, na época, União Soviética, em 1986, estimularam o
debate público e científico sobre a questão dos riscos nas sociedades contemporâneas. Inicia-se
54
uma mudança de escala na análise dos problemas ambientais, tornados mais frequentes, os quais
pela sua própria natureza tornam-se mais difíceis de serem previstos e assimilados como parte
da realidade global.
Ulrich Beck identifica a sociedade de risco com uma segunda modernidade ou
modernidade reflexiva, que emerge com a globalização, a individualização, a revolução de
gênero, o subemprego e a difusão dos riscos globais. Os riscos atuais caracterizam-se por ter
consequências, em geral de alta gravidade, desconhecidas a longo prazo e que não podem ser
avaliadas com precisão, como é o caso dos riscos ecológicos, químicos, nucleares e genéticos.
O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da “sociedade de risco”.
Isso implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no fortalecimento
do direito ao acesso à informação e à educação ambiental em uma perspectiva integradora. E
também demanda aumentar o poder das iniciativas baseadas na premissa de que um maior
acesso à informação e transparência na administração dos problemas ambientais urbanos pode
implicar a reorganização do poder e da autoridade.
Existe, portanto, a necessidade de incrementar os meios de informação e o acesso a
eles, bem como o papel indutivo do poder público nos conteúdos educacionais, como caminhos
possíveis para alterar o quadro atual de degradação socioambiental. Trata-se de promover o
crescimento da consciência ambiental, expandindo a possibilidade de a população participar
em um nível mais alto no processo decisório, como uma forma de fortalecer sua co-
responsabilidade na fiscalização e no controle dos agentes de degradação ambiental.
Há uma demanda atual para que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para
assumir um papel mais propositivo, bem como seja capaz de questionar, de forma concreta, a
falta de iniciativa do governo na implementação de políticas ditadas pelo binômio da
sustentabilidade e do desenvolvimento num contexto de crescente dificuldade na promoção da
inclusão social.
Nessa direção, a problemática ambiental constitui um tema muito propício para
aprofundar a reflexão e a prática em torno do restrito impacto das práticas de resistência e de
expressão das demandas da população das áreas mais afetadas pelos constantes e crescentes
agravos ambientais. Mas representa também a possibilidade de abertura de estimulantes
espaços para implementar alternativas diversificadas de democracia participativa, notadamente
a garantia do acesso à informação e a consolidação de canais abertos para uma participação
plural.
55
A postura de dependência e de desresponsabilização da população decorre
principalmente da desinformação, da falta de consciência ambiental e de um déficit de práticas
comunitárias baseadas na participação e no envolvimento dos cidadãos, que proponham uma
nova cultura de direitos baseada na motivação e na co-participação da gestão ambiental.

5.2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ATORES, PRÁTICAS E ALTERNATIVAS

Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante,
ciberespaço, multimídia, internet, a educação para a cidadania representa a possibilidade de
motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas for, mas de participação na defesa
da qualidade de vida. Nesse sentido cabe destacar que a educação ambiental assume cada vez
mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um
objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento
sustentável. Entende-se, portanto, que a educação ambiental é condição necessária para
modificar um quadro de crescente degradação socioambiental, mas ela ainda não é suficiente,
o que, no dizer de Tamaio (2000), se converte em “mais uma ferramenta de mediação necessária
entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a construção
das transformações desejadas”. O educador tem a função de mediador na construção de
referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma
prática social centrada no conceito da natureza.
A problemática da sustentabilidade assume neste novo século um papel central na
reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se configuram. O quadro
socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas revela que o impacto dos
humanos sobre o meio ambiente tem tido consequências cada vez mais complexas, tanto em
termos quantitativos quanto qualitativos.
O conceito de desenvolvimento sustentável surge para enfrentar a crise ecológica,
sendo que pelo menos duas correntes alimentaram o processo. Uma primeira, centrada no
trabalho do Clube de Roma, reúne suas ideias, publicadas sob o título de Limites do crescimento
em 1972, segundo as quais, para alcançar a estabilidade econômica e ecológica propõe-se o
congelamento do crescimento da população global e do capital industrial, mostrando a realidade
dos recursos limitados e indicando um forte viés para o controle demográfico (ver MEADOWS
et al., 1972).
56
Uma segunda está relacionada com a crítica ambientalista ao modo de vida
contemporâneo, e se difundiu a partir da Conferência de Estocolmo em 1972. Tem como
pressuposto a existência de sustentabilidade social, econômica e ecológica. Estas dimensões
explicitam a necessidade de tornar compatível a melhoria nos níveis e qualidade de vida com a
preservação ambiental. Surge para dar uma resposta à necessidade de harmonizar os processos
ambientais com os socioeconômicos, maximizando a produção dos ecossistemas para favorecer
as necessidades humanas presentes e futuras. A maior virtude dessa abordagem é que, além da
incorporação definitiva dos aspectos ecológicos no plano teórico, ela enfatiza a necessidade de
inverter a tendência auto destrutiva dos processos de desenvolvimento no seu abuso contra a
natureza (JACOBI, 1997).
Dentre as transformações mundiais das duas últimas décadas, aquelas vinculadas à
degradação ambiental e à crescente desigualdade entre regiões assumem um lugar de destaque
no reforço à adoção de esquemas integradores. Articulam-se, portanto, de um lado, os impactos
da crise econômica dos anos 80 e a necessidade de repensar os paradigmas existentes; e de
outro, o alarme dado pelos fenômenos de aquecimento global e a destruição da camada de
ozônio, dentre outros problemas.
A partir de 1987, a divulgação do Relatório Brundtlandt, também conhecido como
“Nosso futuro comum”6, defende a ideia do “desenvolvimento sustentável” indicando um ponto
de inflexão no debate sobre os impactos do desenvolvimento. Não só reforça as necessárias
relações entre economia, tecnologia, sociedade e política, como chama a atenção para a
necessidade do reforço de uma nova postura ética em relação à preservação do meio ambiente,
caracterizada pelo desafio de uma responsabilidade tanto entre as gerações quanto entre os
integrantes da sociedade dos nossos tempos. Na Rio 92, o Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global coloca princípios e um plano de ação para
educadores ambientais, estabelecendo uma relação entre as políticas públicas de educação
ambiental e a sustentabilidade. Enfatizam-se os processos participativos na promoção do meio
ambiente, voltados para a sua recuperação, conservação e melhoria, bem como para a melhoria
da qualidade de vida.

6
Este relatório é o resultado do trabalho da comissão da ONU World Comission on Environment and
Development, presidida por Gro Harlem Brundtlandt e Mansour Khalid, daí o seu nome. O documento parte de
uma abordagem da complexidade das causas que originam os problemas socioeconômicos e ecológicos da
sociedade global.

57
É importante ressaltar que, apesar das críticas a que tem sido sujeito, o conceito de
desenvolvimento sustentável representa um importante avanço, na medida em que a Agenda 21
global, como plano abrangente de ação para o desenvolvimento sustentável no século XXI,
considera a complexa relação entre o desenvolvimento e o meio ambiente numa variedade de
áreas, destacando a sua pluralidade, diversidade, multiplicidade e heterogeneidade.
As dimensões apontadas pelo conceito de desenvolvimento sustentável contemplam
cálculo econômico, aspecto biofísico e componente sociopolítico, como referenciais para a
interpretação do mundo e para possibilitar interferências na lógica predatória prevalecente. O
desenvolvimento sustentável não se refere especificamente a um problema limitado de
adequações ecológicas de um processo social, mas a uma estratégia ou um modelo múltiplo
para a sociedade, que deve levar em conta tanto a viabilidade econômica como a ecológica.
Num sentido abrangente, a noção de desenvolvimento sustentável reporta-se à necessária
redefinição das relações entre sociedade humana e natureza, e, portanto, a uma mudança
substancial do próprio processo civilizatório, introduzindo o desafio de pensar a passagem do
conceito para a ação. Pode-se afirmar que ainda prevalece a transcendência do enfoque sobre o
desenvolvimento sustentável radical mais na sua capacidade de ideia força, nas suas repercussões
intelectuais e no seu papel articulador de discursos e de práticas atomizadas que, apesar desse
caráter, tem matriz única, originada na existência de uma crise ambiental, econômica e também
social (JACOBI, 1997).
O desenvolvimento sustentável somente pode ser entendido como um processo no
qual, de um lado, as restrições mais relevantes estão relacionadas com a exploração dos
recursos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e o marco institucional. De outro, o
crescimento deve enfatizar os aspectos qualitativos, notadamente os relacionados com a
equidade, o uso de recursos – em particular da energia – e a geração de resíduos e
contaminantes. Além disso, a ênfase no desenvolvimento deve fixar-se na superação dos
déficits sociais, nas necessidades básicas e na alteração de padrões de consumo, principalmente
nos países desenvolvidos, para poder manter e aumentar os recursos-base, sobretudo os
agrícolas, energéticos, bióticos, minerais, ar e água.
Assim, a ideia de sustentabilidade implica a prevalência da premissa de que é preciso
definir limites às possibilidades de crescimento e delinear um conjunto de iniciativas que levem
em conta a existência de interlocutores e participantes sociais relevantes e ativos por meio de
práticas educativas e de um processo de diálogo informado, o que reforça um sentimento de co-
58
responsabilidade e de constituição de valores éticos. Isto também implica que uma política de
desenvolvimento para uma sociedade sustentável não pode ignorar nem as dimensões culturais,
nem as relações de poder existentes e muito menos o reconhecimento das limitações ecológicas,
sob pena de apenas manter um padrão predatório de desenvolvimento.
Atualmente, o avanço para uma sociedade sustentável é permeado de obstáculos, na
medida em que existe uma restrita consciência na sociedade a respeito das implicações do
modelo de desenvolvimento em curso. Pode-se afirmar que as causas básicas que provocam
atividades ecologicamente predatórias são atribuídas às instituições sociais, aos sistemas de
informação e comunicação e aos valores adotados pela sociedade. Isso implica principalmente
a necessidade de estimular uma participação mais ativa da sociedade no debate dos seus
destinos, como uma forma de estabelecer um conjunto socialmente identificado de problemas,
objetivos e soluções. O caminho a ser desenhado passa necessariamente por uma mudança no
acesso à informação e por transformações institucionais que garantam acessibilidade e
transparência na gestão. Existe um desafio essencial a ser enfrenta do, e este está centrado na
possibilidade de que os sistemas de informações e as instituições sociais se tornem facilitadores
de um processo que reforce os argumentos para a construção de uma sociedade sustentável.
Para tanto é preciso que se criem todas as condições para facilitar o processo, suprindo dados,
desenvolvendo e disseminando indicadores e tornando transparentes os procedimentos por
meio de práticas centradas na educação ambiental que garantam os meios de criar novos estilos
de vida e promovam uma consciência ética que questione o atual modelo de desenvolvimento,
marcado pelo caráter predatório e pelo reforço das desigualdades socioambientais.
A sustentabilidade como novo critério básico e integrador precisa estimular
permanentemente as responsabilidades éticas, na medida em que a ênfase nos aspectos extra-
econômicos serve para reconsiderar os aspectos relacionados com a equidade, a justiça social e
a própria ética dos seres vivos.
A noção de sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça
social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de
desenvolvimento (Jacobi, 1997).
Nesse contexto, segundo Reigota (1998), a educação ambiental aponta para propostas
pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de
competências, capacidade de avaliação e participação dos educandos. Para Pádua e Tabanez
(1998), a educação ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudança de valores e
59
aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior integração e harmonia
dos indivíduos com o meio ambiente.
A relação entre meio ambiente e educação para a cidadania assume um papel cada vez
mais desafiador, demandando a emergência de novos saberes para apreender processos sociais
que se complexificam e riscos ambientais que se intensificam.
As políticas ambientais e os programas educativos relacionados à conscientização da
crise ambiental demandam cada vez mais novos enfoques integradores de uma realidade
contraditória e geradora de desigualdades, que transcendem a mera aplicação dos
conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis.
O desafio é, pois, o de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora,
em dois níveis: formal e não formal. Assim a educação ambiental deve ser acima de tudo um
ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva
holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo em conta que os
recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem.
Para Sorrentino (1998), os grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o
resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança, respeito mútuo,
responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa) e de outro, o estímulo a uma visão
global e crítica das questões ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que
resgate e construa saberes.
Quando nos referimos à educação ambiental, situam-na em contexto mais amplo, o da
educação para a cidadania, configurando-a como elemento determinante para a consolidação de
sujeitos cidadãos. O desafio do fortalecimento da cidadania para a população como um todo, e
não para um grupo restrito, concretiza-se pela possibilidade de cada pessoa ser portadora de
direitos e deveres, e de se converter, portanto, em ator co-responsável na defesa da qualidade de
vida.
O principal eixo de atuação da educação ambiental deve buscar, acima de tudo, a
solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de atuação
baseadas em práticas interativas e dialógicas. Isto se consubstancia no objetivo de criar novas
atitudes e comportamentos diante do consumo na nossa sociedade e de estimular a mudança de
valores individuais e coletivos (JACOBI, 1997).
A educação ambiental é atravessada por vários campos de conhecimento, o que a situa
como uma abordagem multirreferencial, e a complexidade ambiental (Leff, 2001) reflete um
60
tecido conceitual heterogêneo, “onde os campos de conhecimento, as noções e os conceitos
podem ser originários de várias áreas do saber” (TRISTÃO, 2002).
Portanto, utilizando como referencial do rizoma, a dimensão ambiental representa a
possibilidade de lidar com conexões entre diferentes dimensões humanas, propiciando,
entrelaçamentos e múltiplos trânsitos entre múltiplos saberes. A escola participa então dessa
rede “como uma instituição dinâmica com capacidade de compreender e articular os processos
cognitivos com os contextos da vida” (TRISTÃO, 2002). A educação insere-se na própria teia
da aprendizagem e assume um papel estratégico nesse processo, e, parafraseando Reigota,
podemos dizer que:
...a educação ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical
de educação, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento educacional
contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança histórica e ecológica
exigem alternativas radicais, justas e pacíficas. (1998, p.43)

E o que dizer do meio ambiente na escola? Tomando-se como referência VIGOTSKY


apud TAMAIO, 2000) pode-se dizer que um processo de reconstrução interna (dos indivíduos)
ocorre a partir da interação com uma ação externa (natureza, reciclagem, efeito estufa,
ecossistema, recursos hídricos, desmatamento), na qual os indivíduos se constituem como
sujeitos pela internalização de significações que são construídas e reelaboradas no
desenvolvimento de suas relações sociais. A educação ambiental, como tantas outras áreas de
conhecimento, pode assumir, assim, “uma parte ativa de um processo intelectual,
constantemente a serviço da comunicação, do entendimento e da solução dos problemas”
(VIGOTSKY, 1991). Trata-se de um aprendizado social, baseado no diálogo e na interação em
constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados, que
podem se originar do aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal do aluno. Assim,
a escola pode transformar-se no espaço em que o aluno terá condições de analisar a natureza
em um contexto entrelaçado de práticas sociais, parte componente de uma realidade mais
complexa e multifacetada. O mais desafiador é evitar cair na simplificação de que a educação
ambiental poderá superar uma relação pouco harmoniosa entre os indivíduos e o meio ambiente
mediante práticas localizadas e pontuais, muitas vezes distantes da realidade social de cada
aluno. Cabe sempre enfatizar a historicidade da concepção de natureza (CARVALHO, 2001),
o que possibilita a construção de uma visão mais abrangente (geralmente complexa, como é o
caso das questões ambientais) e que abra possibilidades para uma ação em busca de alternativas
e soluções.

61
E como se relaciona educação ambiental com a cidadania? Cidadania tem a ver com a
identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação ambiental como formação e
exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a
natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente
de ver o mundo e os homens.
A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem
que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e
planetária.
E o que tem sido feito em termos de educação ambiental? A grande maioria das
atividades é feitas dentro de uma modalidade formal. Os temas predominantes são lixo,
proteção do verde, uso e degradação dos mananciais, ações para conscientizar a população em
relação à poluição do ar. A educação ambiental que tem sido desenvolvida no país é muito
diversa, e a presença dos órgãos governamentais como articuladores, coordenadores e
promotores de ações é ainda muito restrita.
No caso das grandes metrópoles existe a necessidade de enfrentar os problemas da
poluição do ar, e o poder público deve assumir um papel indutor do processo. A redução do uso
do automóvel estimula a co-responsabilidade social na preservação do meio ambiente, chama
a atenção das pessoas e as informa sobre os perigos gerados pela poluição do ar. Mas isso
implica a necessidade de romper com o estereótipo de que as responsabilidades urbanas
dependem em tudo da ação governamental, e os habitantes mantêm-se passivos e aceitam a
tutela.
O grande salto de qualidade tem sido feito pelas ONGs e organizações comunitárias,
que tem desenvolvido ações não formais centradas principalmente na população infantil e
juvenil. A lista de ações é interminável e essas referências são indicativas de práticas inovadoras
preocupadas em incrementar a co-responsabilidade das pessoas em todas as faixas etárias e
grupos sociais quanto à importância de formar cidadãos cada vez mais comprometidos com a
defesa da vida.
A educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as
pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais caminhos de
dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade baseada na
educação para a participação.

62
O complexo processo de construção da cidadania no Brasil, num contexto de
agudização das desigualdades, é perpassado por um conjunto de questões que necessariamente
implica a superação das bases constitutivas das formas de dominação e de uma cultura política
calcada na tutela. O desafio da construção de uma cidadania ativa configura-se como elemento
determinante para constituição e fortalecimento de sujeitos cidadãos que, portadores de direitos
e deveres, assumam a importância da abertura de novos espaços de participação.
Atualmente o desafio de fortalecer uma educação ambiental convergente e
multirreferencial é prioritário para viabilizar uma prática educativa que articule de forma
incisiva a necessidade de se enfrentar concomitantemente a degradação ambiental e os
problemas sociais. Assim, o entendimento sobre os problemas ambientais se dá por uma visão
do meio ambiente como um campo de conhecimento e significados socialmente construído, que
é perpassado pela diversidade cultural e ideológica e pelos conflitos de interesse. Nesse
universo de complexidades precisa ser situado o aluno, cujos repertórios pedagógicos devem
ser amplos e interdependentes, visto que a questão ambiental é um problema híbrido, associado
a diversas dimensões humanas. Os professores(as) devem estar cada vez mais preparados para
reelaborar as informações que recebem, e dentre elas, as ambientais, a fim de poderem
transmitir e decodificar para os alunos a expressão dos significados sobre o meio ambiente e a
ecologia nas suas múltiplas determinações e intersecções. A ênfase deve ser a capacitação para
perceber as relações entre as áreas e como um todo, enfatizando uma formação local/global,
buscando marcar a necessidade de enfrentar a lógica da exclusão e das desigualdades. Nesse
contexto, a administração dos riscos socioambientais coloca cada vez mais a necessidade de
ampliar o envolvimento público por meio de iniciativas que possibilitem um aumento do nível
de consciência ambiental dos moradores, garantindo a informação e a consolidação
institucional de canais abertos para a participação numa perspectiva pluralista. A educação
ambiental deve destacar os problemas ambientais que decorrem da desordem e degradação da
qualidade de vida nas cidades e regiões.
À medida que se observa cada vez mais dificuldade de manter-se a qualidade de vida
nas cidades e regiões, é preciso fortalecer a importância de garantir padrões ambientais
adequados e estimular uma crescente consciência ambiental, centrada no exercício da cidadania
e na reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos, numa perspectiva
orientada para o desenvolvimento sustentável.

63
A educação ambiental, como componente de uma cidadania abrangente, está ligada a
uma nova forma de relação ser humano/natureza, e a sua dimensão cotidiana leva a pensá-la
como somatório de práticas e, consequentemente, entendê-la na dimensão de sua potencialidade
de generalização para o conjunto da sociedade.
Entende-se que essa generalização de práticas ambientais só será possível se estiver
inserida no contexto de valores sociais, mesmo que se refira a mudanças de hábitos cotidianos.
A problemática socioambiental, ao questionar ideologias teóricas e práticas, propõe a
participação democrática da sociedade na gestão dos seus recursos atuais e potenciais, assim
como no processo de tomada de decisões para a escolha de novos estilos de vida e a construção
de futuros possíveis, sob a ótica da sustentabilidade ecológica e a equidade social.
Torna-se cada vez mais necessário consolidar novos paradigmas educativos, centrados
na preocupação de iluminar a realidade desde outros ângulos, e isto supõe a formulação de
novos objetos de referência conceituais e, principalmente, a transformação de atitudes.

5.3 SUSTENTABILIDADE, MOVIMENTOS SOCIAIS E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Talvez uma das características mais importantes do movimento ambientalista seja a


sua diversidade. Esse amplo espectro de práticas e atores confere-lhe um caráter multissetorial
que congrega inúmeras tendências e propostas orientadoras de suas ações, considerando valores
como equidade, justiça, cidadania, democracia e conservação ambiental. Nesse amplo universo
de ONGs, algumas fazem trabalho de base, outras são mais voltadas para a militância, outras
têm um caráter mais político e outras implementam projetos demonstrativos. Embora ocorra
certa queda na capacidade mobilizatória dos movimentos ambientalistas, observa-se também
um grau de amadurecimento das práticas e a consolidação de um perfil de atuação de
instituições numa perspectiva proativa e propositiva, dentro de moldes de sustentabilidade. O
que representa a marca da atuação das ONGs? Seus pontos fortes estão na sua credibilidade e
capital ético; na sua eficiência quanto à intervenção na microrrealidade social (grupos e
comunidades), o que lhes permite formular aspirações e propor estratégias para atendê-las; na
maior eficiência quanto à aplicação de recursos e agilidade na implementação de projetos que
têm a marca da inovação e da articulação da sustentabilidade com a equidade social.

64
O ambientalismo ingressa nos anos 90 constituindo-se como um ator relevante que,
embora carregue consigo as marcas do seu processo de afirmação, assume um caráter ampliado,
baseado num esforço cada vez mais claramente planejado de diálogo com outros atores sociais.
As questões que o ambientalismo suscita estão hoje muito associadas às necessidades
de constituição de uma cidadania para os desiguais, à ênfase dos direitos sociais, ao impacto da
degradação das condições de vida decorrentes da degradação socioambiental, notadamente nos
grandes centros urbanos, e à necessidade de ampliar a assimilação, pela sociedade, do reforço
a práticas centradas na sustentabilidade por meio da educação ambiental.
O salto de qualidade do ambientalismo ocorre na medida em que se cria uma
identidade crescente entre o significado e dimensões das práticas, com forte ênfase na relação
entre degradação ambiental e desigualdade social, reforçando a necessidade de alianças e
interlocuções coletivas.
Apesar de a maior parte das entidades ser baseada na militância voluntária não
remunerada, observa-se, nos últimos anos, um crescente esforço de profissionalização, ainda
que isso ocorra em um número muito restrito de entidades. Um aspecto bastante polêmico está
relacionado com a representatividade de entidades nos diversos tipos de conselhos e comissões.
O que se nota é a existência de organizações que praticamente concentram suas atividades
associadas à participação em espaços de representação. Trata-se de uma lógica bastante
perversa, gerada pela dinâmica de institucionalização de entidades centradas em poucas
pessoas, que têm muita capacidade de ocupar espaços e que, mesmo sem trabalho de base e
inclusive pouca legitimidade no próprio movimento ambiental, articulam a manutenção de sua
presença.
As coalizões na sociedade civil vêm-se fortalecendo, explicitando escolha de temas e
questões a serem enfrentadas em nome da busca de objetivos comuns, de modo a configurar a
inflexão de uma dinâmica reativa para uma dinâmica propositiva, que aproxima as ONGs e
movimentos da mídia e que centra a atuação na coleta, sistematização e disseminação de
informações.
Nessa direção, as articulações têm possibilitado o crescente fortalecimento de um polo
político interno que integra as ONGs no centro do processo de pressão e gestão, representando,
portanto, uma inflexão importante numa agenda até recentemente trazida de fora para dentro.

65
Apesar do pequeno reconhecimento do papel das ONGs, do que decorre reduzido
interesse da sociedade brasileira em financiar de forma voluntária suas organizações da
sociedade civil, observa-se um aumento da sua legitimidade e da sua institucionalidade.
O ambientalismo do século XXI tem uma complexa agenda pela frente. De um lado,
o desafio de uma participação cada vez mais ativa na governabilidade dos problemas
socioambientais e na busca de respostas articuladas e sustentadas em arranjos institucionais
inovadores, que possibilitem uma “ambientalização dos processos sociais”, dando sentido à
formulação e implementação de uma Agenda 21 no nível nacional e subnacional. De outro, a
necessidade de ampliar o escopo de sua atuação, mediante redes, consórcios institucionais,
parcerias estratégicas e outras engenharias institucionais que ampliem seu reconhecimento na
sociedade e estimulem o envolvimento de novos atores.
Se o contexto no qual se configuram as questões ambientais é marcado pelo conflito
de interesses e uma polarização entre visões de mundo, as respostas precisam conter cada vez
mais um componente de cooperação e de definição de uma agenda que acelere prioridades para
a sustentabilidade como um novo paradigma de desenvolvimento. Não se devem esquecer, no
caso, das determinações estruturais decorrentes de um sistema globalizado, de um padrão de
consumo que promove o desperdício naquelas sociedades e segmentos que dele fazem parte,
bem como a dualidade entre os que “têm” e os que “não têm”.
O desafio que está colocado é o de não só reconhecer, mas estimular práticas que
reforcem a autonomia e a legitimidade de atores sociais que atuam articuladamente numa
perspectiva de cooperação, como é o caso de comunidades locais e ONGs. Isto representa a
possibilidade de mudar as práticas prevalecentes, rompendo com as lógicas da tutela e da
regulação, definindo novas relações baseadas na negociação, na contratualidade e na gestão
conjunta de programas e atividades, o que introduz um novo significado nos processos de
formulação e implementação de políticas ambientais.
Trata-se, portanto, de repensar o público por meio da sociedade e de verificar as
dimensões da oferta institucional e a criação de canais institucionais para viabilizar novas
formas de cooperação social. Os desafios para ampliar a participação estão intrinsecamente
vinculados à predisposição dos governos locais de criar espaços públicos e plurais de
articulação e participação, nos quais os conflitos se tornam visíveis e as diferenças se
confrontam como base constitutiva da legitimidade dos diversos interesses em jogo, ampliando
as possibilidades de a população participar mais intensamente dos processos decisórios como
66
um meio de fortalecer a sua co-responsabilidade na fiscalização e controle dos agentes
responsáveis pela degradação socioambiental.
O momento atual exige que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para
assumir um caráter mais propositivo, assim como para poder questionar de forma concreta a
falta de iniciativa dos governos para implementar políticas pautadas pelo binômio
sustentabilidade e desenvolvimento num contexto de crescentes dificuldades para promover a
inclusão social. Para tanto é importante o fortalecimento das organizações sociais e
comunitárias, a redistribuição de recursos mediante parcerias, de informação e capacitação para
participar crescentemente dos espaços públicos de decisão e para a construção de instituições
pautadas por uma lógica de sustentabilidade.
Diversas experiências, principalmente das administrações municipais, mostram que,
havendo vontade política, é possível viabilizar ações governamentais pautadas pela adoção dos
princípios de sustentabilidade ambiental conjugada a resultados na esfera do desenvolvimento
econômico e social.
Nessa direção, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e
sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais fatores
de dinamização da sociedade e de ampliação do controle social da coisa pública, inclusive pelos
setores menos mobilizados. Trata-se de criar as condições para a ruptura com a cultura política
dominante e para uma nova proposta de sociabilidade baseada na educação para a participação.
Esta se concretizará principalmente pela presença crescente de uma pluralidade de atores que,
pela ativação do seu potencial de participação, terão cada vez mais condições de intervir
consistentemente e sem tutela nos processos decisórios de interesse público, legitimando e
consolidando propostas de gestão baseadas na garantia do acesso à informação e na
consolidação de canais abertos para a participação, que, por sua vez, são precondições básicas
para a institucionalização do controle social.
Concluímos, afirmando que o desafio político da sustentabilidade, apoiado no
potencial transformador das relações sociais que representam o processo da Agenda 21,
encontra-se estreitamente vinculado ao processo de fortalecimento da democracia e da
construção da cidadania. A sustentabilidade traz uma visão de desenvolvimento que busca
superar o reducionismo e estimula um pensar e fazer sobre o meio ambiente diretamente
vinculado ao diálogo entre saberes, à participação, aos valores éticos como valores
fundamentais para fortalecer a complexa interação entre sociedade e natureza. Nesse sentido, o
67
papel dos professores(as) é essencial para impulsionar as transformações de uma educação que
assume um compromisso com a formação de valores de sustentabilidade, como parte de um
processo coletivo.
A necessidade de uma crescente internalização da problemática ambiental, um saber
ainda em construção, demanda empenho para fortalecer visões integradoras que, centradas no
desenvolvimento, estimulem uma reflexão sobre a diversidade e a construção de sentidos em
torno das relações indivíduos-natureza, dos riscos ambientais globais e locais e das relações
ambiente-desenvolvimento. A educação ambiental, nas suas diversas possibilidades, abre um
estimulante espaço para repensar práticas sociais e o papel dos professores como mediadores e
transmissores de um conhecimento necessário para que os alunos adquiram uma base adequada
de compreensão essencial do meio ambiente global e local, da interdependência dos problemas
e soluções e da importância da responsabilidade de cada um para construir uma sociedade
planetária mais equitativa e ambientalmente sustentável.

68
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VIGOTSKY, L. A Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

DICAS DE SITES

http://pga.pgr.mpf.gov.br/pga/educacao-ambiental
http://www.cnpma.embrapa.br/projetos/index.php3?sec=eduam:::98
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao3.pdf

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DICAS DE LIVROS
Educação Ambiental - Abordagens Múltiplas - 2ª Ed. Ruscheinsky, Aloísio / Penso.
Amigos do Planeta - Meio Ambiente e Educação Ambiental Berna, Vilmar Sidnei
Demamam / PAULUS.
Educação Ambiental No Brasil: Formação, Identidades e Desafios Ferreira da Costa
Lima, Gustavo / PAPIRUS.
Educação Ambiental - Sobre Princípios, Metodologia e Atitudes Barcelos, Valdo /
VOZES.

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