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ANALEPSE INICIAL
A ação inicia-se em 1875, quando Afonso da Maia se instala no Ramalhete.
Casa-se com ela contra a vontade do pai e os dois fogem para Itália e
depois para França. Têm dois filhos: Maria Eduarda e Carlos Eduardo.
Maria apaixona-se por um italiano e foge com este e com a filha. Pedro,
desesperado, refugia-se na casa do pai em Benfica com o filho bebé,
suicidando-se nessa mesma noite.
AS PERSONAGENS PRINCIPAIS
Afonso da Maia:
Não se lhe conhecem defeitos;
Adere ao liberalismo e é adepto da educação inglesa;
É generoso para os amigos e os necessitados;
Ama a natureza e tem altos e firmes princípios morais.
Pedro da Maia:
Era belo, mas fraco psicologicamente;
Teve uma educação católica;
Viveu obsessivamente o seu amor por Maria Monforte;
É moralmente cobarde, suicidando-se face à fuga da mulher.
Carlos da Maia:
Parecido ao pai fisicamente, muito belo;
Culto, bem-educado (à inglesa) e de gostos requintados;
Maria Eduarda:
Muito bela, loira, sensual;
Simples na maneira de vestir;
Nunca é criticada, apenas servindo como personagem na intriga
amorosa, desaparecendo discretamente depois da verdade ser
descoberta.
Maria Monforte:
Bela, com cabelos loiros e olhos azuis;
Veste de uma forma demasiado extravagante para a sociedade
portuguesa conservadora;
É dada a caprichos e aborrece-se de tudo depressa;
Morre quase na miséria.
AS PERSONAGENS TIPO
João da Ega:
Vive tudo intensa e exageradamente, e valoriza a sua honra – carácter
romântico, apesar não ser nada patriótico.
Conde de Gouvarinho:
Antigo ministro que representa a incompetência do poder político, não
tendo cultura nenhuma e sendo demasiado voltado para o passado.
Condessa de Gouvarinho:
Casada com o conde de Gouvarinho, que trai com Carlos sem remorsos.
Revela-se apaixonada e impetuosa, sem qualquer interesse e muito fútil.
Dâmaso Salcede:
Filho de um agiota, cobarde (admite ser bêbado só para não entrar em
duelo com Carlos), sem dignidade. Escreve a carta anónima enviada a
Castro Gomes e que manda as cartas para o jornal sobre Carlos e Maria.
Representa o novo-riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do
século XIX.
Sr. Guimarães:
Tio do Dâmaso, a quem se deve a destruição da felicidade de Carlos e de
Maria Eduarda, revelando toda a verdade com o cofre da mãe de ambos.
Alencar:
Poeta, que simboliza o romantismo piegas;
Amigo de Pedro e depois de Carlos, mostrando-se como uma ligação
entre o romantismo da geração de Pedro e o realismo da geração de
Carlos.
Vive tudo muito intensamente (ex: paixão de Pedro e Maria).
Cruges:
Amigo de Carlos, pianista desmotivado devido ao meio lisboeta, que não
apreciava as suas óperas;
Craft:
Inglês rico que representa a educação britânica e o protótipo do que
deve ser um homem;
Defende a arte como idealização do que há melhor na natureza.
Eusebiozinho:
Representa a educação retrógrada portuguesa;
Cresceu tristonho e corrupto, enviuvando cedo e procurando bordéis e
prostitutas espanholas para se distrair.
ESPAÇOS DA OBRA
O Ramalhete:
Exterior: simples e austero, sem ornamentos ou decoração; comparado a
uma igreja jesuíta.
Interior: Mais rico, com uma disposição de um palácio e frescos nas paredes.
O cedro e o cipreste são árvores que pela sua longevidade, significam a vida
e a morte, foram testemunhas das várias gerações da família. Simbolizam
também a amizade inseparável de Carlos e João da Ega.
Carlos ainda consegue ver a suíte de Maria, notando uma atmosfera íntima e
sensual, com a presença de objetos estranhos e excessivos, que anunciam
uma certa irregularidade que vai dominar a relação entre as personagens.
Depois, quando Carlos vai dormir, sonha com o cenário onde viu Maria, e
percebe-se que este ficou com uma impressão dela muito marcante, visto
que surge como uma deusa, com uma altura sobrenatural, caminhando
sobre as nuvens, ou seja, é vista como um ser superior com características
divinas.
Carlos fica atento ao físico de Maria, não ouvindo o que esta lhe estava a
dizer e fixando-se apenas na imagem dela.
Maria é de tal modo perfeita que a imagem dela se torna inacessível,
fazendo Carlos sentir-se inferior e inibido à frente dela, como alguém
que não estaria à altura daquela perfeição. Nenhum defeito lhe é
apresentando – aliás, cada vez que Carlos olha para ela, encontra mais
uma qualidade que não tinha visto antes.
INTRIGA PRINCIPAL
Pedro e Maria Monforte:
Maria Monforte era a filha de um “negreiro” (homem que vendia escravos).
Era uma mulher muito bela, de cabelos loiros, olhos azuis, muito pálida e
com as "formas de uma estátua”. Também se vestia de uma forma diferente
àquela que era habitual na sociedade conservadora portuguesa, com
vestidos de cores vivas e uma abundâncias de acessórios de todos os tipos e
feitios (que “ofendia” Lisboa).
Pedro e Afonso deixam-se de falar devido ao facto de Pedro ter casado com
Maria Monforte sabendo que o pai não apoiava o casamento.
Quando vai caçar, Pedro acerta acidentalmente num italiano, e deixa-o ficar
a repousar na sua casa. Maria, mais tarde, apaixona-se por ele e fogem os
dois mais a filha mais velha.
Pedro vai ter com o pai e conta-lhe tudo. Nessa noite, Pedro suicida-se, o
que é esperado devido ao carácter romântico deste, que viva do seu amor
por Maria.
Carlos não tem, mais tarde, acesso a nenhum retrato da mãe, visto que
Pedro pediu, na carta de suicídio, que os retratos desta fossem destruídos,
assim como pede a Afonso para não lhe contar como a mãe fugiu. Estes
pedidos têm abrem caminho para que o incesto se realize.
Apesar das precauções que os dois tinham, o romance era conhecido entre
os amigos. Mais tarde, o marido de Raquel descobre da traição e expulsa Ega
de casa destes. Ega exprime o seu desejo de o querer desafiar e até matar,
mostrando o seu carácter romântico em querer defender a sua honra.
A certo ponto, Carlos confronta Maria sobre o seu passado e esta conta-lhe
tudo aquilo que sabe, incluindo a prostituição da sua mãe, o nascimento da
sua filha Rosa de um irlandês e a pobreza que passou e que a obrigou a
prostituir-se em troco do sustento de Castro Gomes. Ele perdoa-a e pede
para casar com ela. Resolvem fugir, mas ficam sempre a adiar, pois Carlos
tem medo de magoar o avô.
Carlos começa a ver Maria como uma “guerreira”, com várias imperfeições:
antes ela parecia-lhe delicada, agora era grotesca. No entanto, este envolve-
se mais uma vez com ela, apesar de saber que é sua irmã.
Carlos comtempla a hipótese do suicídio, mostrando um carácter um
pouco romântico.
Carlos pede a Ega que entregue uma carta a Maria onde lhe explica tudo, e
diz-lhe para partir para Paris, onde pode seguir em frente com a filha com o
dinheiro que esta legalmente herdou por ser uma Maia.
Corrida de Cavalos:
Este episódio tem como objetivos:
O contacto de Carlos com a sociedade lisboeta e com o Rei que vai estar
a ver as corridas;
Esta crítica é feita através das conversas entre as personagens, onde se pode
observar:
A degradação dos valores sociais, com a discussão da escravatura e do
papel da mulher na sociedade.
O atraso intelectual e cultural do país, posto como uma consequência da
incapacidade e da falta de cultura da classe política dirigente e do facto
de se dar demasiada importância à importação de modas estrangeiras,
uma vez que isto impede o progresso e a renovação de mentalidades.
Geral mediocridade mental de algumas figuras das altas classes sociais,
vista nas conversas pouco ricas do ponto de vista intelectual da
Condessa, que se encontra apenas preocupada com a sua relação com
Carlos, e no facto de Sousa Neto não conseguir argumentar as suas
opiniões, dizendo apenas que aceita tudo o que lhe dizem, mesmo
achando absurdo.
A futilidade e a ociosidade/preguiça da alta burguesia e aristocracia
lisboeta.
Imprensa:
Neste episódio, Eça critica:
Os jornais escandalosos e sem bom senso algum (O próprio nome “A
Corneta do Diabo” tem uma conotação negativa, mostrando que tal
jornal seria indecente e maléfico);
Carlos e Ega assistiram então à oratória de Rufino que discursou “Tudo sobre
a caridade, sobre o progresso!”. Através da oratória oca, balofa e banal que
é caracterizada pelos que ouvem como “sublime”, este homenageia a família
real, que não se encontrava presente.
Este representa assim a orientação mental e pouca sensibilidade
daqueles que o ouviram.
Tanto Carlos como Ega eram homens de grande ambição. Desde da altura da
faculdade que ambos tinham grandes planos e projetos para o futuro mas, à
medida que a ação deste capítulo se desenrola, percebemos que nenhum
deles os conseguiu realizar.
Apesar de concluírem que não vale a pena viver, visto que já estava tudo
predestinado e não haveria mais nada a fazer, Carlos e Ega ainda
demonstram uma certa esperança de que a sua vida irá mudar, vista no
facto de a obra acabar com as duas personagens a correrem para ainda
conseguirem apanhar um táxi.
Educação: A educação de Carlos valorizou apenas o físico, o que fez com que
não lhe fossem transmitidos princípios e valores que lhe permitissem a
estruturação de uma “consciência”. Assim, este evoluiu de idealista para
parasita social sem ter consciência de que estava a evoluir num sentido
negativo.
Impressionismo: Quando algo é descrito não com muito detalhe mas que
valoriza a impressão pura e a perceção imediata.