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OS MAIAS – RESUMO DA OBRA

ANALEPSE INICIAL
 A ação inicia-se em 1875, quando Afonso da Maia se instala no Ramalhete.

 É feita uma analepse:


 Afonso da Maia casa com Maria Eduarda Runa e exila-se em Inglaterra
por razões políticas. Têm um filho, Pedro da Maia, que é educado à
maneira religiosa, por um padre de Lisboa, pelo que este cresce muito
fraco a nível emocional e físico. Mais tarde, regressam a Lisboa e Pedro
conhece Maria Monforte, por quem se apaixona intensa e
obsessivamente.

 Casa-se com ela contra a vontade do pai e os dois fogem para Itália e
depois para França. Têm dois filhos: Maria Eduarda e Carlos Eduardo.
Maria apaixona-se por um italiano e foge com este e com a filha. Pedro,
desesperado, refugia-se na casa do pai em Benfica com o filho bebé,
suicidando-se nessa mesma noite.

 Afonso da Maia educa o neto em Santa Olávia à maneira inglesa, que


valoriza “mente sã em corpo são”, pondo de parte a educação religiosa.
Esta educação é oposta à de Eusebiozinho, sobrinho de umas vizinhas.

 Carlos torna-se médico e monta um luxuoso consultório e um laboratório,


que depois nunca chega a utilizar.

AS PERSONAGENS PRINCIPAIS
 Afonso da Maia:
 Não se lhe conhecem defeitos;
 Adere ao liberalismo e é adepto da educação inglesa;
 É generoso para os amigos e os necessitados;
 Ama a natureza e tem altos e firmes princípios morais.

 Pedro da Maia:
 Era belo, mas fraco psicologicamente;
 Teve uma educação católica;
 Viveu obsessivamente o seu amor por Maria Monforte;
 É moralmente cobarde, suicidando-se face à fuga da mulher.
 Carlos da Maia:
 Parecido ao pai fisicamente, muito belo;
 Culto, bem-educado (à inglesa) e de gostos requintados;

 Maria Eduarda:
 Muito bela, loira, sensual;
 Simples na maneira de vestir;
 Nunca é criticada, apenas servindo como personagem na intriga
amorosa, desaparecendo discretamente depois da verdade ser
descoberta.

 Maria Monforte:
 Bela, com cabelos loiros e olhos azuis;
 Veste de uma forma demasiado extravagante para a sociedade
portuguesa conservadora;
 É dada a caprichos e aborrece-se de tudo depressa;
 Morre quase na miséria.

AS PERSONAGENS TIPO
 João da Ega:
 Vive tudo intensa e exageradamente, e valoriza a sua honra – carácter
romântico, apesar não ser nada patriótico.

 Conde de Gouvarinho:
 Antigo ministro que representa a incompetência do poder político, não
tendo cultura nenhuma e sendo demasiado voltado para o passado.

 Condessa de Gouvarinho:
 Casada com o conde de Gouvarinho, que trai com Carlos sem remorsos.
 Revela-se apaixonada e impetuosa, sem qualquer interesse e muito fútil.

 Dâmaso Salcede:
 Filho de um agiota, cobarde (admite ser bêbado só para não entrar em
duelo com Carlos), sem dignidade. Escreve a carta anónima enviada a
Castro Gomes e que manda as cartas para o jornal sobre Carlos e Maria.
 Representa o novo-riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do
século XIX.
 Sr. Guimarães:
 Tio do Dâmaso, a quem se deve a destruição da felicidade de Carlos e de
Maria Eduarda, revelando toda a verdade com o cofre da mãe de ambos.

 Alencar:
 Poeta, que simboliza o romantismo piegas;
 Amigo de Pedro e depois de Carlos, mostrando-se como uma ligação
entre o romantismo da geração de Pedro e o realismo da geração de
Carlos.
 Vive tudo muito intensamente (ex: paixão de Pedro e Maria).

 Cruges:
 Amigo de Carlos, pianista desmotivado devido ao meio lisboeta, que não
apreciava as suas óperas;

 Craft:
 Inglês rico que representa a educação britânica e o protótipo do que
deve ser um homem;
 Defende a arte como idealização do que há melhor na natureza.

 Eusebiozinho:
 Representa a educação retrógrada portuguesa;
 Cresceu tristonho e corrupto, enviuvando cedo e procurando bordéis e
prostitutas espanholas para se distrair.

ESPAÇOS DA OBRA
O Ramalhete:
 Exterior: simples e austero, sem ornamentos ou decoração; comparado a
uma igreja jesuíta.

 Interior: Mais rico, com uma disposição de um palácio e frescos nas paredes.

 Jardim: Estátua de Vénus; cipreste e cedro (árvores); cascatazinha

 Três perspetivas diferentes:


1. Posto ao abandono, devido à tragédia que aí se sucedeu: O jardim
encontra-se ao abandono, com a estátua a ganhar ferrugem da
humidade, a cascata seca e as duas árvores.
2. Habitada por Carlos da Maia e o avô, em 1875: O interior é decorado à
maneira inglesa, com muitos tapetes e luxo, e o jardim é renovado –
simboliza o novo começo da vida de Carlos, assim como reflete a sua
educação inglesa. Também simboliza uma nova oportunidade, uma
reforma da casa (ou do país) para uma nova etapa.

3. Dez anos depois, novamente ao abandono, em 1887: O interior está


todo coberto de panos, sem vida, o jardim encontra-se abandonado de
novo – simboliza a separação da família com a casa e a decadência da
família Maia, que ali sofreu tragédia atrás de tragédia.

 O cedro e o cipreste são árvores que pela sua longevidade, significam a vida
e a morte, foram testemunhas das várias gerações da família. Simbolizam
também a amizade inseparável de Carlos e João da Ega.

Hotel Central (Carlos e Maria Eduarda – I):


 Carlos, acompanhado de Craft e à porta do Hotel Central onde iriam jantar,
vê Maria pela primeira vez a sair de uma carruagem.
 Vem vestida com um casaco justo e branco de veludo e botas de verniz –
Maria Eduarda vestia-se elegante e discretamente, enquanto que Maria
Monforte vestia-se uma maneira extravagante.
 “E no silêncio (…)”: O momento foi tão fascinante, como se não se
pudesse deixar de olhar para ela, que tudo fez silêncio – contribui para a
suspensão da ação.

 Dâmaso é apresentado como sendo “baixote”, gordo, saloio e tendo o


cabelo frisado. Este tem um enorme interesse por Carlos – interesse este
que é retribuído quando Carlos percebe que Dâmaso conhece Maria
Eduarda, fingindo que se interessava pela sua pessoa, quando na verdade só
queria saber da senhora Castro Gomes.
 Dâmaso é um novo-rico, não sendo de uma família nobre de nome
(como Carlos) e que é associado a uma condição mais baixa, a uma
ausência de elegância natural e a uma pobreza educacional e social, algo
que é visto na maneira como se veste, por exemplo.
 Existe uma caracterização temporal (fim de tarde de inverno) e espacial
(linhas 22-28), marcada pela sinestesia, que transmite a este final de tarde
uma grande suavidade e tranquilidade, para proporcionar o ambiente de
harmonia para Maria Eduarda aparecer.

 Carlos ainda consegue ver a suíte de Maria, notando uma atmosfera íntima e
sensual, com a presença de objetos estranhos e excessivos, que anunciam
uma certa irregularidade que vai dominar a relação entre as personagens.

 Depois, quando Carlos vai dormir, sonha com o cenário onde viu Maria, e
percebe-se que este ficou com uma impressão dela muito marcante, visto
que surge como uma deusa, com uma altura sobrenatural, caminhando
sobre as nuvens, ou seja, é vista como um ser superior com características
divinas.

A Toca/Casa dos Olivais:


 Carlos e Maria Eduarda estão aqui escondidos e protegidos dos olhos
julgadores de Lisboa, como se fosse o seu esconderijo – daí o nome “A
Toca”. Este nome também revela o carácter animalesco da relação (devido
ao incesto).

 O sítio é marcado por diversos apontamentos decorativos excessivos que


anunciam a anormalidade que vai caracterizar a relação incestuosa de Carlos
e Maria:
 No quarto de Maria Eduarda, na Toca, o quadro com a cabeça degolada
é um símbolo e presságio de desgraça. Os seus aposentos simbolizam o
carácter trágico, a profanação das leis humanas e cristãs.

 As cores predominantes são o amarelo e o dourado, cores que


representam a luxúria, as sensações fortes e proibidas, assim como
serve para comparar o quarto a um altar e a algo precioso/valioso –
profanação de algo sagrado.

 A tapeçaria representando os amores proibidos de Vénus e Marte


simboliza a relação proibida e incestuosa de Carlos e Maria Eduarda.

 A coruja simboliza os maus presságios, nomeadamente o fim trágico da


história de amor, tendo os olhos postos na cama que Carlos e Maria
iriam partilhar.
Casa de S. Francisco:
 Ideia de que todos os objetos de bom gosto e conforto com que Maria
decora um espaço inicialmente nú representam uma tentativa de esconder o
engano em que as duas personagens estão envolvidas.

 Primeiro contacto pessoal entre Carlos e Maria, na sequência de Carlos ter


sido chamado pela governanta na ausência de Maria para curar Rosa, a filha.

 Repara-se na coincidência dos nomes, que é inicialmente visto por parte de


Carlos como um sinal de que eles estavam destinados a cruzarem-se.

 Carlos fica atento ao físico de Maria, não ouvindo o que esta lhe estava a
dizer e fixando-se apenas na imagem dela.
 Maria é de tal modo perfeita que a imagem dela se torna inacessível,
fazendo Carlos sentir-se inferior e inibido à frente dela, como alguém
que não estaria à altura daquela perfeição. Nenhum defeito lhe é
apresentando – aliás, cada vez que Carlos olha para ela, encontra mais
uma qualidade que não tinha visto antes.

INTRIGA PRINCIPAL
Pedro e Maria Monforte:
 Maria Monforte era a filha de um “negreiro” (homem que vendia escravos).
Era uma mulher muito bela, de cabelos loiros, olhos azuis, muito pálida e
com as "formas de uma estátua”. Também se vestia de uma forma diferente
àquela que era habitual na sociedade conservadora portuguesa, com
vestidos de cores vivas e uma abundâncias de acessórios de todos os tipos e
feitios (que “ofendia” Lisboa).

 Pedro apaixona-se por ela completamente, e devido ao seu carácter de


homem romântico (devido à sua educação), é alguém que se deixa levar
pelas suas emoções, sendo frágil e obcecado por Maria.
 Afonso não concorda com este namoro, devido ao passado do pai de Maria,
e até percebe que esta mulher será a desgraça do filho, antecipando a
tragédia do suicídio de Pedro.

 Pedro e Maria casam-se contra a vontade de Afonso, e partem para Itália,


por desejo de Maria. Esta vai-se então revelar caprichosa e inconstante,
dada a impulsos e a desejos que espera serem cumpridos. Isto vê-se na
mudança de Itália para França, e depois na vontade desta de ter um
apartamento decorado ricamente na parte mais cara de França.

 Pedro e Afonso deixam-se de falar devido ao facto de Pedro ter casado com
Maria Monforte sabendo que o pai não apoiava o casamento.

 No entanto, quando o segundo filho nasce, Pedro sente a necessidade de


voltar a falar com o pai, e escolhe o momento em que Maria se encontra
mais fraca (meses depois de ter dado à luz) para lhe falar sobre reconciliar-se
com o pai.
 Pedro segue Maria em todas as suas decisões, não gostando de a
contrariar mesmo nos planos mais absurdos.

 Quando vai caçar, Pedro acerta acidentalmente num italiano, e deixa-o ficar
a repousar na sua casa. Maria, mais tarde, apaixona-se por ele e fogem os
dois mais a filha mais velha.

 Pedro vai ter com o pai e conta-lhe tudo. Nessa noite, Pedro suicida-se, o
que é esperado devido ao carácter romântico deste, que viva do seu amor
por Maria.

 Carlos não tem, mais tarde, acesso a nenhum retrato da mãe, visto que
Pedro pediu, na carta de suicídio, que os retratos desta fossem destruídos,
assim como pede a Afonso para não lhe contar como a mãe fugiu. Estes
pedidos têm abrem caminho para que o incesto se realize.

Ega e Raquel Cohen:


 Raquel era uma mulher muito bonita e frágil, a quem era atribuída uma
certa inteligência e cultura. Era casada com um banqueiro.
 Ega era apaixonado por ela, vivendo dramática e drasticamente o seu amor,
como vivia tudo na vida, tomando sempre posições extremas. Este tem,
assim, um carácter parcialmente romântico.

 Apesar das precauções que os dois tinham, o romance era conhecido entre
os amigos. Mais tarde, o marido de Raquel descobre da traição e expulsa Ega
de casa destes. Ega exprime o seu desejo de o querer desafiar e até matar,
mostrando o seu carácter romântico em querer defender a sua honra.

Carlos e Maria Eduarda:


 Após várias aventuras românticas, inclusive com a Gouvarinho, com quem se
acaba por aborrecer, Carlos conhece Maria Eduarda como Miss Castro
Gomes, por quem se apaixona. Estes tornam-se amantes, não sabendo que
são irmãos, visto que Carlos pensa que a sua mãe e irmã morreram (ordens
da carta do pai) e Maria Eduarda apenas se lembra de uma irmãzinha que
tinha e que morreu em Londres.

 Durante um jantar no Ramalhete, Maria interessa-se particularmente pelo


retrato de Pedro da Maia. Depois, diz a Carlos que o acha parecido com a
mãe dela, algo que faz uma preparação para a tragédia do incesto. No
entanto, Carlos leva esta informação como algo que os aproximava mais,
pelo que fica satisfeito.

 A certo ponto, Carlos confronta Maria sobre o seu passado e esta conta-lhe
tudo aquilo que sabe, incluindo a prostituição da sua mãe, o nascimento da
sua filha Rosa de um irlandês e a pobreza que passou e que a obrigou a
prostituir-se em troco do sustento de Castro Gomes. Ele perdoa-a e pede
para casar com ela. Resolvem fugir, mas ficam sempre a adiar, pois Carlos
tem medo de magoar o avô.

 A verdade descobre-se quando o tio de Dâmaso, o Guimarães, revela a Ega


que tem uma caixa para dar a Maria que comprova que esta é irmã de Carlos
da Maia. Este conta a Vilaça e juntos contam a Carlos, que não acredita e
continua a ser seu amante.

 Ao descobrir isto, Afonso morre de uma apoplexia no Ramalhete. Carlos


manda Ega com uma carta a Maria Eduarda, não conseguindo dizer-lhe cara
a cara a tragédia. Os dois separam-se, e os dois amigos vão dar uma volta ao
mundo durante 10 anos.
 Passados esses 10 anos, Carlos volta a Lisboa de visita e constata que nada
mudou. O romance acaba de uma forma ambígua: embora ambos afirmem
que "não vale a pena correr para nada" e que tudo na vida é ilusão e
sofrimento, acabam por correr desesperadamente para apanhar um
transporte público que os leve a um jantar para o qual estão atrasados.
O cofre:
 Guimarães é aquele que revela a relação familiar entre os irmãos/amantes a
Ega. Este depois vai ter com Vilaça, e os dois contam a verdade toda a Carlos

Afonso da Maia, Carlos e Maria Eduarda:


 Quando Carlos descobre, confronta o avô sobre isto, com esperança de que
este pudesse negar a história. No entanto, Afonso fica chocado e resignado,
dizendo que apenas sabia que Maria tinha fugido com uma neta que tinha
mas que esta supostamente tinha morrido em Paris.

 Carlos apercebe-se que nada pode refutar a história bem comprovada de


Guimarães, e que Maria é mesmo sua irmã.

 Carlos começa a ver Maria como uma “guerreira”, com várias imperfeições:
antes ela parecia-lhe delicada, agora era grotesca. No entanto, este envolve-
se mais uma vez com ela, apesar de saber que é sua irmã.
 Carlos comtempla a hipótese do suicídio, mostrando um carácter um
pouco romântico.

 No dia seguinte, Afonso morre de desgosto (devido a saber que Carlos


participou no incesto conscientemente) no quintal da casa.

 Carlos pede a Ega que entregue uma carta a Maria onde lhe explica tudo, e
diz-lhe para partir para Paris, onde pode seguir em frente com a filha com o
dinheiro que esta legalmente herdou por ser uma Maia.

A CRÍTICA DOS COSTUMES


 Lisboa é onde decorre praticamente toda a vida de Carlos ao longo da ação.
 É neste ambiente monótono, amolecido e de clima rico, que Eça vai fazer a
crítica social, em que domina a ironia, materializada em certos tipos sociais,
representantes de ideias, mentalidades, costumes, políticas, conceções do
mundo, etc.

 É através do paralelo entre duas personagens, Pedro e Carlos da Maia, que


Eça concretiza a sua intenção crítica. Ambos, apesar de terem tido
educações totalmente diferentes, falharam na vida. Assim, estas
personagens representam os males de Portugal e o fracasso sucessivo das
diferentes correntes estético-literárias.

Jantar do Hotel Central:


 Utiliza-se a ironia para descrever a ideia de que, para os românticos, o mal
do realismo estava na exagerada análise e na mostra daquilo que se
encontra “podre” na sociedade portuguesa.

 Refere-se ainda o facto de o povo não se importar com a gravidade da


situação económica em que o país estava, caminhando lentamente para a
bancarrota (“o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.”). Nem
os ministros se preocupavam com isso.

 Ega mostra-se um republicano, e defende que o país estaria melhor se


houvesse uma república. Também afirma que Portugal precisava de uma
revolução, para dar cabo desses ministros que não sabiam nada, chamando-
os de grotescos e bestas. Por fim, com uma ideia muito extremista típica
desta personagem, Ega afirma que o que faria bem a Portugal era ter uma
invasão espanhola, algo que irrita Alencar, um patriota apaixonado.

Corrida de Cavalos:
 Este episódio tem como objetivos:
 O contacto de Carlos com a sociedade lisboeta e com o Rei que vai estar
a ver as corridas;

 A visão, a nível panorâmico, da sociedade lisboeta sob o olhar de Carlos


da tentativa falhada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo
Paris;

 Criticar o cosmopolitismo artificial da sociedade;

 A possibilidade de Carlos encontrar novamente a mulher que viu à


entrada do Hotel Central.
 Eça pretende, assim, criticar:
 O oportunismo e a cupidez dos que se pretendem aproveitar o facto de
Carlos apostar no cavalo menos favorito;
 O desejo português de ser o primeiro em tudo;

 O patriotismo provinciano que se vê na corrida de cavalos e o prestígio


do nosso país: como «Minhoto» era um cavalo português, a sua vitória
seria um ato patriótico;

 O não saber perder, patente na reação das personagens quando o cavalo


em que apostaram perdeu;

 O desinteresse, a incultura, a falta de educação e a improvisação.

Jantar dos Gouvarinho:


 Este põe em evidência a ignorância, a falta de cultura e a superficialidade
das camadas sociais mais elevadas (nobreza e alta burguesia) e da camada
política do país, através das suas opiniões sobre variados assuntos.

 Esta crítica é feita através das conversas entre as personagens, onde se pode
observar:
 A degradação dos valores sociais, com a discussão da escravatura e do
papel da mulher na sociedade.
 O atraso intelectual e cultural do país, posto como uma consequência da
incapacidade e da falta de cultura da classe política dirigente e do facto
de se dar demasiada importância à importação de modas estrangeiras,
uma vez que isto impede o progresso e a renovação de mentalidades.
 Geral mediocridade mental de algumas figuras das altas classes sociais,
vista nas conversas pouco ricas do ponto de vista intelectual da
Condessa, que se encontra apenas preocupada com a sua relação com
Carlos, e no facto de Sousa Neto não conseguir argumentar as suas
opiniões, dizendo apenas que aceita tudo o que lhe dizem, mesmo
achando absurdo.
 A futilidade e a ociosidade/preguiça da alta burguesia e aristocracia
lisboeta.

Imprensa:
 Neste episódio, Eça critica:
 Os jornais escandalosos e sem bom senso algum (O próprio nome “A
Corneta do Diabo” tem uma conotação negativa, mostrando que tal
jornal seria indecente e maléfico);

 O jornalismo barato, escandaloso e sem consciência, nomeadamente


com o diretor (“Cavalão”) a aceitar subornos e até a violar um dos
princípios do jornalismo que é nunca revelar as fontes;

 O meio jornalístico decadente lisboeta, que influencia politicamente os


seus leitores (através da personagens de Neves não aceitar inicialmente
a carta de Dâmaso por pensar que era um deputado do mesmo partido
que ele).

Sarau do Teatro da Trindade:


 Realizou-se para angariar fundos para as vítimas de umas cheias, pelo que as
pessoas que estavam lá eram de altas classes que não tinham real interesse
na peça.

 Carlos e Ega assistiram então à oratória de Rufino que discursou “Tudo sobre
a caridade, sobre o progresso!”. Através da oratória oca, balofa e banal que
é caracterizada pelos que ouvem como “sublime”, este homenageia a família
real, que não se encontrava presente.
 Este representa assim a orientação mental e pouca sensibilidade
daqueles que o ouviram.

 De seguida, ouviram o recital de Crudges, que tocou no piano a “Sonata


Patética” de Beethoven. No entanto, a sua atuação não conseguiu captar a
atuação dos presentes, devido à falta de cultura destes, que nem sabiam
que aquela peça era de Beethoven e pensando que se chamava “Sonata
Pateta”.

 Eça de Queirós critica, assim, a sociedade portuguesa, devido ao


provincianismo do país e ao atraso do mesmo, a nível da cultura.

Passeio de Carlos e João da Ega:


 Carlos volta para Portugal depois de ter feito uma viagem pela Europa
durante dez anos e, ao regressar, repara que nada mudou nem na sociedade
nem na própria cidade de Lisboa.
 Carlos e Ega percebem que falharam na vida pois tomaram más decisões e
cometeram grandes erros – “Falhámos a vida, menino!”.

 Tanto Carlos como Ega eram homens de grande ambição. Desde da altura da
faculdade que ambos tinham grandes planos e projetos para o futuro mas, à
medida que a ação deste capítulo se desenrola, percebemos que nenhum
deles os conseguiu realizar.

 Apesar de concluírem que não vale a pena viver, visto que já estava tudo
predestinado e não haveria mais nada a fazer, Carlos e Ega ainda
demonstram uma certa esperança de que a sua vida irá mudar, vista no
facto de a obra acabar com as duas personagens a correrem para ainda
conseguirem apanhar um táxi.

 Na utilização das palavras romântico e racional, existe uma relação de


contraste, pois o romântico é uma pessoa impulsiva, que mete a sua paixão
à frente de tudo sem pensar nas possíveis consequências. Ega até refere que
os dois são românticos, pois são indivíduos inferiores que se deixaram
governar pelos sentimentos e não pela razão. Isto contrasta com os
racionais, pois estes ponderam antes de agir, dando especial importância ao
pensamento e à razão.

RAZÕES PORQUE CARLOS FALHA NA VIDA


 Hereditariedade: O pai era cobarde e a mãe era indecisa e dada à vida
boémia – tendência para o diletantismo (que o leva para uma dispersão de
atividades lúdicas e boémias que em nada o aproxima da vida profissional) e
para o sentimentalismo (os sentimentos sobrepõem-se sempre a todos os
projetos profissionais).

 Meio: Inicialmente, Carlos pretendia alterar Lisboa, através dos seus


projetos e práticas profissionais, mas acaba por se conformar e deixar
influenciar pela fraqueza típica e crónica que o cercava, entregando-se à
inutilidade e à preguiça que caracterizavam a vida social, económica e
cultural da época.

 Educação: A educação de Carlos valorizou apenas o físico, o que fez com que
não lhe fossem transmitidos princípios e valores que lhe permitissem a
estruturação de uma “consciência”. Assim, este evoluiu de idealista para
parasita social sem ter consciência de que estava a evoluir num sentido
negativo.

RECURSOS EXPRESSIVOS PRESENTES NA OBRA:


 Hipálage: Atribuição a um ser ou coisa de uma de uma qualidade ou ação
que logicamente pertence a outro ser ou coisa com eles relacionados
(“Fumava o cigarro pensativo”).

 Sinestesia: Junção de perceções relativas a dados sensoriais correspondentes


a sentidos diferentes (“transparentes novos de um escarlate estridente”).

 Ironia: Quando significa o contrário do que se diz literalmente.

 Animismo: Atribuir vida a coisas inanimadas (“as três janelas do escritório


abertas bebendo a tépida luz do belo dia”).

 Uso expressivo do advérbio de modo: Supervaloriza os atributos do nome,


conseguindo uma maior expressividade e evidenciando a interpretação mais
do que a descrição (“Cabelos magnificamente negros.”)

 Adjetivação expressiva: Recorre à dupla ou à tripla adjetivação, por vezes


com carácter gradual, para caracterizar pessoas, ideias e objetos.

 Uso expressivo do verbo: Recorre ao gerúndio para reforçar a ideia de


prolongamento no tempo; Utiliza formas verbais seguidas para ilustrar a
sequência rápidas das ações; Intenção de caricaturar a personagem, criando
a desproporção entre o que se diz e como se diz.

 Uso expressivo do diminutivo: Intenção irónica e humorística, com valor


afetivo e carinhoso, gracioso e delicado ou irónico e depreciativo.

 Neologismos: Criação de novas palavras.


 Estrangeirismos: Intenção de criticar certas personalidades ou grupos sociais
que pretendiam dar-se “ares” de cosmopolitas, cultos e viajados.

 Impressionismo: Quando algo é descrito não com muito detalhe mas que
valoriza a impressão pura e a perceção imediata.

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