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Vida e obra
• 1825 (16 de março): nasce Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, em Lisboa.
• 1827: morre a sua mae.
-1835: morre o seu pai. o que o leva a mudar-se para Vila Real, para morar com uma tia.
• 1859: rapta Ana Plácido e os dois vivem uma relação tão intensa quanto possível, até serem presos
por adultério {Ana era casada com Pinheiro Alves): na prisão, escreve, em 15 dias. Amor de Perdição;
segue-se a absolvição e mudam-se os dois para S. Miguel de Ceide (Vila Nova de Famalicão).
• 1885: é tornado Visconde de Correia Botelho.
*1890 (Ide junho): estando Já cego, suicida-se em São Miguel de Ceide.
• Simão Botelho é filho de Domingos Botelho, cor * Simão é preso e condenado à morte, pena suavi
regedor (juiz), e de Rita. zada pela intervenção do pai, que consegue que o
• Simão causa desgosto à sua família por se rela filho vá degredado para a India. durante 10 anos.
cionar apenas com pessoas sem escrúpulos e * Teresa sofre e perde a vontade de viver.
levar uma vida boémia. * Simão e Teresa veem-se uma última vez antes da
• Porque se apaixona por Teresa de Albuquerque, partida para a India, mas logo a seguir Teresa de
filha de Tadeu de Albuquerque, muda de compor Albuquerque morre.
tamento e passa a levar uma vida mais regrada. * Mariana vai para a India com Simão, ficando res
• Os Botelho e os Albuquerque são inimigos, o que ponsável por ele e pelas cartas que ele trocara
dificulta a relação de amor entre Simão e Teresa, com Teresa.
que passam a odiar as suas famílias, namorando •Simão, sabendo da morte da amada, desiste de
às escondidas, embora as famílias desconfiem. viver; para seu descanso, relê as cartas de Teresa,
• Tadeu de Albuquerque decide prometer em casa mas as febres e os delírios de uma doença que já
mento a filha, Teresa, ao seu sobrinho Baltasar trazia intensificam-se.
Coutinho. Teresa recusa o casamento, enfren * Depois de morrer a bordo, o comandante decide
tando o pai; Tadeu, revoltado, promete deserdá- atirar, em cerimónia respeitosa e honrada, o
-la e enviá-la para um convento. cadáver ao mar; nesse momento. Mariana atira-
• Domingos Botelho, também desagradado com a -se também e morre junto do corpo de Simão.
paixão dos dois, envia Simão para Coimbra.
• Simão, desesperado de saudades de Teresa, vai a
Viseu visitá-la e fica em casa de João da Cruz, pai
de Mariana.
•Teresa vai para um convento em Viseu, aguar
dando a sua entrada num convento do Porto.
• Simão, furioso por Teresa já se encontrar no con
vento, tenta raptá-la, mas, num duelo inesperado
com Baltasar Coutinho, dá-lhe um tiro fatal.
Francis Danby,
Desgosto Amoroso, 1821
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TEORIA
• Camilo, preso na Cadeia da Relação do Porto, encontra documentos que atestam a história
de um seu antepassado. Simão Botelho, desterrado para a índia a 17 de março de 1807;
Introdução • Camilo reflete sobre a desgraça e o infortúnio que recaíram sobre este jovem, na flor da
(integral) sua juventude, e conclui: Amou, perdeu-se e morreu ornando;
* Submetendo-se ao julgamento do leitor. Camilo (narrador, familiar do jovem desterrado e
morto) prepara-se para contar toda a história de um Amor de Perdição.
* Domingos Botelho; fidalgo de Vila Real de Trás-os-Montes, em 1779. juiz de fora em Cascais,
casa com D. Rita Preciosa (dama do paço real em Lisboa);
•Simão nasce em 1784 e a família muda-se para Vila Real; depois. Domingos consegue
Capítulo I
transferência para Lamego e, finalmente, mudam-se para Viseu;
• Adolescência de Simão. belo, mas irreverente e arruaceiro, por isso o pai o manda para
Coimbra.
• Diálogo entre Teresa e Tadeu de Albuquerque: Teresa recusa casar-se com Baltasar Cou-
tinho. seu primo de Castro Daire;
Capítulo IV • Teresa escreve a Simão e conta-lhe tudo; em Simão fervilham a «fúria e o ódio», muda-se
para Viseu secretamente e fica em casa de um ferrador. João da Cruz, e dali troca cartas
com Teresa.
• Já no barco para a índia, todos estão atentos e preocupados com a doença de Simão;
• Simão ainda tem forças para reler a carta de Teresa, na qual ela se despede, revelando um
sentimentalismo tipicamente romântico e trágico;
• Simão delira pela última vez, ao recitar as palavras de esperança que trocara com Teresa
de Albuquerque sobre a sua casinha e a intentada felicidade de ambos;
Conclusão • Simão despede-se de Mariana e esta dele;
• 0 comandante, com a ajuda dos marujos, lança o cadáver de Simão ao mar;
• Mariana. com as cartas presas no avental, atira-se também, suicidando-se abraçada ao
cadáver de Simão;
• Os marinheiros recolhem toda a correspondência entre Simão Botelho e Teresa de Albu
querque.
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NEMUII EXAME NACIINAL
Sugestão • 0 narrador, Camilo Castelo Branco, afirma ser sobrinho do herói do seu Amor de Perdi
biográfica ção. Simão Botelho, cuja história de amor infeliz leu enquanto estava preso na Cadeia da
(Si mão Relação, no Porto.
e narrador) • Pelas informações da vida e da morte do seu tio direito. Simão Botelho. Camilo propõe
e construção ao leitor contar esta história, mostrando Simão como um herói verdadeiramente român
do herói tico que «Amou, perdeu-se e morreu amando».
romântico
• Pelo conhecimento da biografia de Camilo e de Simão. cedo os leitores se apercebem da
semelhança entre estes dois heróis românticos - apaixonados fervorosamente (Simão
- Teresa e Camilo - Ana Plácido), perseguidores da sua felicidade amorosa contra as
adversidades, sofredores das respetivas consequências, mas continuamente ao serviço
do verdadeiro Amor-Paixão.
A obra • Intervenções do narrador sobre a própria sociedade e também sobre os factos narrados;
como crónica • Crítica às injustiças e martírios de Simão, Teresa. Mariana;
de mudança
•Reflexão sobre a coragem de desobedecer às intenções duvidosas dos pais - Teresa
social
recusa casar com o pretendente que o pai quer, Baltasar Coutinho;
• Crítica ao seguimento da vida consagrada a Cristo (conventos) por via da força e da obri
gação e não da livre vocação e intenção deliberada;
• Crítica à vida clerical das religiosas dos conventos, cortejadas por homens influentes e
corruptas, ao aceitar jovens castigadas por desobediência aos pais;
• Reflexão sobre a morte desnecessária de quatro pessoas por causa da obsessão doen
tia de um pai que proíbe a filha de casar com o homem que ama;
•Reflexão sobre as condições deploráveis de navegação dos degredados para terras
ultramarinas, neste caso, a 1 ndia;
• Reflexão sobre o degredo de jovens (Simão tinha 18 anos), tão úteis à sociedade portu
guesa, como ativos no desenvolvimento e progresso a todos os níveis.
Relações • Tadeu e Rita Preciosa: ele, obstinado com a justiça e ausente; ela. sempre descontente
entre com a vida fora da corte;
personagens •Tadeu e Teresa: pai tirano e manipulador, quer vê-la casada, por interesse, com um seu
primo, Baltasar Coutinho; envia-a para conventos, pois, se não casa com quem ele quer,
morrerá para o mundo;
• Tadeu e Baltasar: Tadeu respeita Baltasar e vê nele o marido perfeito para Teresa;
• Tadeu e Simão: ódio profundo por antigas contendas entre as famílias:
• Teresa e Baltasar: Teresa não o ama. recusando-se a casar; Baltasar é obstinado e quer a
todo o custo casar-se com a prima;
• Simão e João da Cruz: amizade sincera e recíproca;
• Simão e Mariana: ele, amizade sincera; ela, amor-paixão, não correspondido por Simão,
e que a levará à morte.
0 amor-paixão • A paixão romântica, ou seja, o sentimentalismo quase obsessivo, ou paixão como sofri-
mento/desgraça.
• Simão eTeresa: amor impossível por causa da família e do degredo de Simão para a índia,
que a ela leva à morte espiritual no convento e, posteriormente, à morte física, e a ele à
morte física.
• Mariana e Simão: amor impossível de Mariana por não ser correspondido, que culmina
com a morte física dos dois (morte de Simão por doença e suicídio de Mariana).
Linguagem, 0 Narrador
estilo • é omnisciente, subjetivo e opinativo.
e estrutura
m
Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco
■ Verificação de leitura (introdução)
PRÁTICA
□ Camilo tem a certeza de que os seus leitores sentirão pena e compaixão deste
rapaz de «dezoito anos».
i) O narrador submete a avaliação dos seus sentimentos perante a história lida nos
documentos tanto à sua família como aos demais críticos.
0 O O narrador termina a sua Introdução tecendo diretas críticas aos «feitos bárbaros»
que os homens da sociedade do seu tempo cometem para seu próprio benefício.
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Amor de Perdíçfio, Camilo Castelo Branco
- Construção do herói romântico • Linguagem, estilo e estrutura
* Relações entre personagens
Capitulo X
— Dê um abraço cm seu pai, M ariana — disse-lhe Simào — c adeus... ate logo, ou ...
— Até ao Juízo Final... — atalhou ela.
— O Destino há de cumprir-se... Seja o que o Céu quiser. (...)
Era uma hora, c estava Simào defronte do convento, contemplando uma a uma as
5 janelas. (M)as cada vez que lhe acudia à mente a imagem odiosa de Baltasar Coutinho,
instintivamente as màos do académico se asseguravam da posse das pistolas. (...)
Às quatro horas c meia, ouviu Simào o tinido dc liteiras, dirigindo-se àquele ponto.
Mudou dc local, tomando por uma rua estreita, fronteira ao convento. (...)
Momentos depois, viu Simào chegar á portaria Tadcu de Albuquerque, encostado ao
I braço dc Baltasar Coutmho. (...)
— Nada de lamúrias, meu tio! — dizia ele. — Desgraça seria vê-la casada! Eu prometo-
-Ihe antes dc uni ano restituir-lha curada. (...)
— Teresa... — disse o velho.
— Aqui estou, senhor — respondeu a filha, sem o encarar.
II — Ainda é tempo — tornou Albuquerque. (...)
— Nào, meu pai. O meu destino é o convento. Esquccc-lo nem por morte. Serei filha
desobediente, mas mentirosa é que nunca. (...)
Este diálogo correu rapidamente, enquanto Tadcu dc Albuquerque cortejava a prio-
resa c outras religiosas. As quatro senhoras, seguidas dc Baltasar, tinham saído do átrio
1 do convento, e deram dc rosto cm Simào Botelho, encostado à esquina da rua fronteira.
Teresa viu-o... Adivinhou-o, primeiro dc todas, c exclamou:
— Simào!...
O filho do corregedor nào se moveu.
Baltasar, espavorido do encontro, fitando os olhos nele, duvidava ainda.
5 — E crível que este infame aqui viesse! — exclamou o dc Castro Dairc.
Simào deu alguns passos, c disse placidamente:
— Infame... eu! c porquê?
— Infame, c infame assassino! — replicou Baltasar. — Já fora da minha presença!
— E parvo este homem! — disse o académico. — Eu nào discuto com sua senhoria...
1 Minha senhora — disse ele a Teresa, com a voz comovida c o semblante alterado unica
mente pelos afetos do coração —, sofra com resignação, da qual cu lhe estou dando um
exemplo. Leve a sua cruz, sem amaldiçoar a violência, c bem pode ser que a meio do
seu calvário a misericórdia divina lhe redobre as torças.
— Que diz este patife?! — exclamou Tadcu.
S — Vem aqui insultá-lo, meu tio! — respondeu Baltasar. — Tem a petulância dc se apre
sentar a sua filha a confortá-la na sua malvadez! Isto é dc mais! Olhe que cu esmago-o
aqui, seu vilão.
— Vilão é o desgraçado que me ameaça, sem ousar avançar para mim um passo —
redarguiu o filho do corregedor.
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0 — Eu nào o tenho feito — exclamou, enfurecido, Ililtasar — por entender que me avilto, cas-
tigando-o, na presença de criados de meu tio, que tu podes supor meus defensores, canalha!
— Se assim é — tomou Simào sorrindo —, espero nunca me encontrar de rosto com
sua senhoria. Reputo-o tào covarde, tào sem dignidade, que o hei de mandar azorragar
pelo primeiro mariola das esquinas.
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por-se entre os dois, Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala, que lhe entrara
na fronte. Vacilou um segundo, e caiu desamparado aos pes de Teresa. (...)
— Está perdido! — tornou João da Cruz.
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Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco
- Verificação de leitura (conclusão)
a) Macau. c) India.
b} Angola. d) Brasil.
a) caiu sobre o selo de uma adúltera c|D morreu nos braços de um marujo.
degredada.
7. Os marinheiros conseguem
8. 0 narrador informa que a última irmá, a predileta de Simáo, Rita, ainda vive em
a) Viseu. c) Lisboa.
HB
Leia atentamente o seguinte excerto e responda às questões.
Conclusão
Oh! Simào, de que céu tão lindo caímos? Ã hora que tc escrevo, estás tu para entrar
na nau dos degredados, e eu na sepultura.
Que importa morrer, se nào podemos jamais ter nesta vida a nossa esperança de há
três anos?! Poderias tu com desesperança c com a vida, Simào? Eu nào podia. Os íns-
5 tantes do dormir eram os escassos benefícios que Deus me concedia; a morte é mais que
uma necessidade; é uma misericórdia divina, uma bem-aventurança para mim.
E que fanas tu da vida sem a tua companheira de martírio? Onde irás tu aviventar o
coração que a desgraça tc esmagou, sem o esquecimento da imagem desta dócil mulher,
que seguiu cegamente a estrela da tua malfadada sorte?!
U Tu nunca hás de amar, nào, meu esposo? Tenas pejo de ti mesmo, se uma vez visses passar
rapidamente a minha sombra por diante dos teus olhos enxutos? Sofre, sofre ao coração da tua
amiga estas derradeiras perguntas, a que tu responderás, no alto-mar, quando esta carta leres.
Rompe a manhã. Vou ver a minha última aurora... A última dos meus dezoito anos!
Abençoado sejas, Simào! Deus tc proteja, c tc livre duma agonia longa. Todas as minhas
15 angústias Lhe ofereço em desconto das tuas culpas. Sc algumas impaciências a justiça divina
me condena, oferece tu a Deus, meu amigo, os teus padecimentos, para que eu seja perdoada.
Adeus! À luz da eternidade parece-me que já tc vejo, Simâol
1. Indique momento específico da ação a que diz respeito esta parte da carta. Transcreva
do texto uma sequência que o confirme.
2. Mostre que Teresa é uma típica heroína romântica. Transcreva do excerto sequências que
o confirmem.
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