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Simbologia na obra Amor de Perdição

Alguns elementos relacionados com os espaços que adquirem uma simbologia


importante nesta obra:
· as grades: além das grades materiais que impressionam Simão, simbolizam os
obstáculos sociais que motivam o seu encarceramento.
· a janela: é a ligação entre o interior e o exterior; é conotada, simbolicamente, com a
interioridade de Simão e de Teresa e com a sociedade. Funciona, ainda, como a
separação entre as personagens e o espaço social onde estão inseridas. Associada aos
olhos, que são o “espelho da alma”, refletem o interior psíquico das personagens que
se situa a outros níveis presentes na obra, através dos sentimentos dos protagonistas.
· os fios: simbolizam a ligação eterna dos amantes (as cartas) que não se desfaz após a
morte, é uma união total do par amoroso. Os próprios amantes acreditam nessa união
eterna (as cartas são testemunhas dessa teoria). Com a morte esse fio quebra-se,
Mariana antes de se suicidar, embrulha as cartas no seu avental e lança-se ao mar,
reatando de novo os amantes.
· o mar: é fonte de vida, para onde foi lançado o corpo de Simão, metaforicamente o
lugar de renascimento. O mar espelha o céu, o espaço onde os amantes poderiam
consumar o seu amor puro, pois na terra eram condenados pelos homens.
· o avental: assume um valor polissémico, ligado à condição social de Mariana e ao seu
sofrimento; ela limpa as suas lágrimas quando chora por Simão. Referências ao seu
estado de loucura, quando Simão está na prisão, num caixote encontram-se as cartas
de Teresa e o avental de Mariana. A sua simbologia reúne o trabalho e o martírio,
significando o percurso de Mariana na terra que é uma
forma de purificação.
Desta forma, continua presente, simbolicamente, a tragédia do triângulo amoroso,
vitimado por um destino que os conduz à morte, única solução para a realização de
uma vida cujos anseios mais profundos das personagens eram irrealizáveis.
As cartas cumprem as funções seguintes:

 Servir de elo entre os dois amorosos;


 Informar o destinatário sobre os acontecimentos;
 Comunicar decisões tomadas;
 Persuadir o destinatário a adotar determinadas atitudes;
 Autojustificar os atos do destinador;
 Exprimir sentimentos;
 Introduzir a poeticidade romântica na narrativa.

1.ª carta: comunicação da hipótese de Teresa vir a ser encerrada no


convento; promessa de fidelidade.
2.ª carta: informação de que Teresa já sabe o que se passou com os criados de Baltasar
(emboscada); pedido de confiança nela.
3.ª carta: relata a sua entrada no convento, mostra-se firme e faz um apelo ao amor
de Simão.
4.ª carta: apelo à fidelidade do amor e à fuga do convento.
5.ª carta: pede a Simão que vá para Coimbra e desabafa sobre a corrupção que reina
no convento.
6.ª carta: pede a Simão que não vá para Coimbra, com receio de ser transferida para
outro convento mais rigoroso. 
7.ª carta: escreve esta carta como se fosse à última da sua vida, comunica o desejo de
matar Baltasar e despede-se de Teresa.
8.ª carta: informa que está à par dos acontecimentos, fala da morte como o fim
terreno mas também como a possibilidade de se encontrarem no Céu.
9.ª carta: Simão informa Teresa de que há possibilidade de salvação, pois não vai ser
enforcado. Alude ao destino que os une e pede-lhe para não morrer.
10.ª carta: monólogo em que Simão se auto-analisa. Aumenta a qualidade da prosa
poética.
11.ª carta: Teresa pede a Simão que aceite os dez anos de cadeia.
12.ª carta: Simão informa Teresa de que aceita o degredo.
13.ª carta: Teresa informa Simão de que vai morrer e pede-lhe perdão. Despede- se
dele até ao Céu.
14.ª carta: escrita nos últimos momentos da vida, Teresa recorda os projetos
passados. Alude ao fatal destino e confessa que já o vê no Céu.

A distância que sempre separou Simão e Teresa levou à invenção de uma forma de
comunicação entre os dois, essas cartas. O narrador resolveu o problema, mas
aproveitou esta presença para lhes conferir funções diversas. E aí está como um
registo discursivo pode alcançar relevância funcional. As cartas são de extensão
diferente, não são regulares e o seu discurso não é sempre do mesmo tom.
Elas demonstram através da escrita um sentimento próprio do Romantismo, usado
pelos personagens da obra aqui referenciada no decorrer do enredo literário. Elas
constituem-se como os registos do que os corações de ambos querem para as suas
vidas. Um amor que ultrapassa sofrimentos e usa a renúncia como arma poderosa
para fortalecer os desejos mais ardentes do coração humano: o amor. Uma luta contra
si mesmo e contras as atrocidades externas para conservar o mais puro desejo da
alma, muito embora haja obstáculos sentimentais. 

É interessante destacar, também, que encontramos nesta novela passional um


exemplo de um verdadeiro grito literário que rompeu com a maneira de pensar e
escrever dos estilos literários existentes da época.   

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