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ATO SEGUNDO

O ato segundo inicia-se, tal como o primeiro, com uma didascália que nos fornece
indicações acerca do espaço. A ação deste ato ocorre, assim, no “palácio que fora de D. João de
Portugal, em Almada”, sendo este local apresentado como sendo “melancólico e pesado”,
repleto de retratos antigos, entre eles, D. Sebastião, Luís Vaz de Camões e D. João de Portugal.
Este espaço, ao contrário do anterior é mais fechado, o que é, desde logo, um indício da tragédia
iminente – o espaço parece fechar-se, aprisionando as personagens. Este ato ocorre após o
incêndio da casa de Manuel de Sousa Coutinho, daí a troca de espaços.
Inicialmente, Maria pretende conversar com Telmo na sala onde estão os retratos de D.
Sebastião, Luís de Camões e do antigo proprietário da casa- D. João de Portugal. Maria começa
por pedir a Telmo que não faça barulho pois a sua mãe está a dormir, algo raro desde que se
mudaram há oito dias atrás. Com efeito, Madalena tem dificuldade em dormir pois não
consegue esquecer a destruição da sua casa e do retrato do marido, Manuel de Sousa Coutinho,
que ela acredita ser presságio de uma desgraça ainda maior. Maria parece concordar com a mãe.
Telmo tenta acalmá-la, dizendo que o seu pai é um “português às direitas”, demonstrando que
a sua consideração por Manuel aumentou quando este mandou incendiar a sua própria casa
para que os governadores espanhóis não a tomassem. Durante a conversa de ambos, percebe-
se que Manuel Coutinho está escondido, “nessa quinta tão triste d'além do Alfeite”, e que o seu
irmão – Frei Jorge – tem intercedido por ele junto do Arcebispo. Mais ainda, Telmo afirma que
Manuel já poderia estar a salvo se tivesse dito que o incêndio tinha sido um acidente mas, este
recusou-se a fazer isso, o que mostra o caracter forte do pai de Maria.
Contudo, enquanto conversam, Maria mostra-se intrigada acerca de um dos retratos e
pergunta a Telmo que é aquele homem. Telmo tenta desviar a conversa, dizendo que é “um da
família destes senhores da casa de Vimioso” como tantos outros retratos que ali estão mas
Maria não acredita e pede-lhe que não lhe minta pois bem viu a reação da mãe quando, ao
entrar no palácio, viu aquele retrato (A minha mãe, que me trazia pela mão, põe de repente os
olhos nele e dá um grito.”). De seguida, a menina fala sobre os outros retratos: D. Sebastião,
ficando bem claro que é sebastianista pois recusa-se a acreditar que o seu rei morreu na Batalha
de Alcácer-Quibir e Luís de Camões, mostrando admirá-lo por ser, ao mesmo tempo, um
guerreiro e um poeta – “Numa mão sempre a espada e noutra a pena.”. Contudo, novamente
se fixa no terceiro retrato admirando o homem que nele se vê e dizendo que ele tem “aquele
aspeto tão triste, aquela expressão de melancolia tão profunda. Aquelas barbas tão negras e
cerradas. E aquela mão que descansa na espada, como quem não tem outro arrimo, nem outro
amor nesta vida.”.
Enquanto estão a olhar para os retratos, entra em cena Manuel de Sousa Coutinho e
responde diretamente à pergunta da filha, afirmando que o homem do retrato é D. João de
Portugal, confirmando assim as suspeitas de Maria. A menina fica feliz por ver o pai mas, ao
mesmo tempo, preocupada por este se ter arriscado a sair à luz do dia. Contudo, Telmo acalma
ambos, afirmando que falou com Frei Jorge, tendo este assegurado que o problema com os
governadores estava resolvido e que Manuel podia voltar para casa. Este pretende ir ver
Madalena mas Maria diz-lhe que a mãe ainda dorme. Manuel, ao dar as mãos à sua filha
apercebe-se que esta está muito quente – “Tens as mãos tão quentes! (Beija-a na testa.) E esta
testa, esta testa! Escalda! Se isto está sempre a ferver!”, dando mais um indicio de que a jovem
estará gravemente doente.
Manuel Coutinho mostra-se feliz por estar no palácio de D. João, principalmente porque
fica perto do convento onde vive o seu irmão, Frei Jorge. De seguida, detêm-se de novo junto
do retrato de D. João e Manuel elogiá-lo, dizendo que o pintor capturou bem as feições mas não
conseguiu colocar na tela “as nobres qualidades de alma, a grandeza e valentia de coração, e a
fortaleza daquela vontade, serena, mas indomável, que nunca foi vista mudar”.
Entretanto, entra em cena Frei Jorge e aconselha Manuel a ir a Lisboa agradecer ao
Arcebispo a ajuda que lhe deu ao convencer os governadores a perdoá-lo. Manuel aceita o
conselho e refere que também necessita de ir ao convento de Sacramento, falar com a abadessa.
Maria, ao ouvir as palavras do pai, pede para ir também pois gostaria de ver a tia Joana de Castro.

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