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Ato III

O Ato Terceiro inicia-se com uma didascália que localiza a ação no tempo e no espaço.
A ação passa-se na parte inferior da casa de D. João de Portugal – “Parte baixa do palácio de D.
João de Portugal, comunicando, pela porta à esquerda do espectador, com a capela da Senhora
da Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínicos d’Almada; é um casarão sem ornato algum” –
durante a noite (“É alta noite.”). Ao longo da obra, os espaços vão-se “fechando”, tornando-se
mais pequenos e escuros, o que é um indício da tragédia.
Na primeira cena, Manuel de Sousa Coutinho mostra já saber que o Romeiro é, na
verdade, D. João de Portugal, o que torna a sua filha Maria, ilegítima (“Desgraçada filha, que
ficas órfã!”). Manuel sente-se o homem mais infeliz da terra (“Mas eu que mereci ser feito o
homem mais infeliz da terra, posto de alvo à irrisão e ao discursar do vulgo?”), culpando-se pela
tragédia que se abateu sobre a família (“Mas fui eu, eu que lho preparei, eu que lho dei a beber,
pelas mãos!”). Durante o diálogo entre os dois irmãos, percebemos que Manuel e Madalena
decidiram entrar para um convento (“Eu tenho fé neste escapulário (tocando o hábito em cima
da mesa) para ti e para ela. Foi uma resolução digna de vós, foi uma inspiração divina que vos
iluminou a ambos”) pois viveram em pecado mortal e pretendem salvar as suas almas, obtendo
o perdão de Deus. Mais ainda, percebemos que Maria está gravemente doente e que sangra
frequentemente (“Quando ontem a arranquei d’ao pé da mãe e a levava nos braços, não mo
lançou todo às golfadas aqui no peito?”).
Entretanto, Telmo entra em cena, dizendo que esteve com Maria e que ela “está muito
abatida, isso sim; muito fraca, a voz lenta, mas os olhos serenos (…)”. Jorge leva, então, Telmo
para que este converse com D. João de Portugal, que o espera. Enquanto espera pelo seu antigo
amo, Telmo percebe que vai saber informações sobre D. João e entende que, apesar de ter
desejado o seu regresso, agora preferia que tal não tivesse acontecido. Tal acontece, pois, Telmo
sente um amor mais profundo por Maria do que sentida por D. João (“É que o amor destoutra
filha, desta última filha, é maior, e venceu.”). Termina o seu monólogo, pedindo a Deus que
poupe Maria e que o leve em vez dela (“Meu Deus, meu Deus (ajoelha), levai o velho que já não
presta para nada, levai-o, por quem sois!”).
Nesse momento, o Romeiro entra em cena. Telmo reconhece-o pela voz (“Esta voz. Esta
voz! Romeiro, quem és tu?”), mas comenta que apenas a voz e o rosto se mantêm – tudo o resto
está diferente devido aos anos de “cativeiro e miséria” por que passou o Romeiro. Durante o
diálogo, D. João pergunta a Telmo se realmente D. Madalena o procurou após o
desaparecimento na batalha. Telmo confirma os atos de D. Madalena, “Como é certo estar Deus
no céu, como é certo ser aquela a mais honrada e virtuosa dama que tem Portugal!”. D João, ao
ouvir as palavras de Telmo, pede-lhe que vá dizer que o Romeiro era um impostor, uma
armadilha dos inimigos de Manuel e que nada do que dissera era verdade (“Basta: vai dizer-lhe
que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas dele; que
tudo isto foi vil e grosseiro embuste de inimigos, de inimigos desse homem que ela ama. E que
sossegue, que seja feliz. Telmo, adeus!”). Telmo admite, então, amar mais a Maria do que a D.
João e, este, ao perceber que Maria existe, admite ter sido injusto e pede a Telmo que vá fazer
o que lhe pedira anteriormente. Telmo duvida, no entanto, que a situação se resolva.
Entretanto, D. Madalena bate à porta, pedindo “Esposo, esposo, abri-me, por quem
sois!” e, por momentos, D. João pensa que ela se refere a ele. Contudo, logo percebe que se
enganou quando ela grita “Meu marido, meu amor, meu Manuel!”. D. João abandona a cena,
decidido a ir embora.
De seguida, Madalena entra e mostra ainda não saber a verdade toda. Aliás, coloca em
causa as palavras do Romeiro, dizendo que não podem dar crédito às palavras de um
desconhecido. Mas, Manuel sabe a verdade e diz-lhe “Não tenho mais nada que te dizer. Crê-
me que to juro na presença de Deus: a nossa união, o nosso amor é impossível.”. Telmo conta a
Frei Jorge o que D. João lhe pediu para fazer, mas este diz que já não há salvação possível,
pedindo-lhe que faça companhia a Maria e impedindo-o de falar com Madalena. Madalena tem
esperança que o que o Romeiro disse seja mentira, mas Frei Jorge e Manuel dizem-lhe que tem
de aceitar a tragédia e a decisão de entrar para o convento. Madalena resigna-se e começa a
cerimónia de entrada para o convento.
A cena X inicia-se com uma descrição do espaço onde decorre a cerimónia, a igreja de S.
Paulo. Estão presentes D. Madalena, Manuel, Frei Jorge, o Arcebispo, o Prior de Benfica e alguns
clérigos. Manuel toma o nome de Frei Luís de Sousa e Madalena passa a ser “Sóror Madalena”.
De repente, a cerimónia é interrompida por Maria que entra em cena, “em estado de
completa alienação”. Esta faz um longo discurso onde demonstra a sua revolta contra Deus e a
sociedade que impõem certas regras, tirando-lhe os pais. O Romeiro faz uma última aparição,
dizendo a Telmo que salve aquela família, mas Maria, ao ouvir a voz de D. João afirma “É aquela
voz, é ele, é ele! (…) A minha mãe, meu pai, cobri-me bem estas faces, que morro de vergonha.”.
Com estas palavras, cai morta, pela doença e pela vergonha. Após alguns minutos, Manuel pede
que prossigam com a cerimónia e o Prior assim o faz, dizendo: “Meus irmãos, Deus aflige neste
mundo àqueles que ama. A coroa de glória não se dá senão no céu.”.
E, assim, cai o pano e termina a peça.

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