1) O documento caracteriza as principais personagens da peça Frei Luís de Sousa, incluindo Madalena de Vilhena, Manuel de Sousa Coutinho, Maria de Noronha e D. João de Portugal.
2) As personagens são marcadas por conflitos internos devido ao seu passado e crenças como o sebastianismo.
3) Há vários indícios trágicos ao longo da peça que apontam para um desfecho infeliz, como os pressentimentos de Madalena e as visões de Maria.
1) O documento caracteriza as principais personagens da peça Frei Luís de Sousa, incluindo Madalena de Vilhena, Manuel de Sousa Coutinho, Maria de Noronha e D. João de Portugal.
2) As personagens são marcadas por conflitos internos devido ao seu passado e crenças como o sebastianismo.
3) Há vários indícios trágicos ao longo da peça que apontam para um desfecho infeliz, como os pressentimentos de Madalena e as visões de Maria.
1) O documento caracteriza as principais personagens da peça Frei Luís de Sousa, incluindo Madalena de Vilhena, Manuel de Sousa Coutinho, Maria de Noronha e D. João de Portugal.
2) As personagens são marcadas por conflitos internos devido ao seu passado e crenças como o sebastianismo.
3) Há vários indícios trágicos ao longo da peça que apontam para um desfecho infeliz, como os pressentimentos de Madalena e as visões de Maria.
É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo passado. Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõem-se à razão e é uma mulher em constante sofrimento. Crê em agoiros, superstições e dias fatais (a sexta-feira). É uma sofredora, tem um amor intenso e uma preocupação constante com a filha Maria, contudo coloca acima de tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel de Sousa, mesmo o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel.
Manuel de Sousa Coutinho (personagem principal)
É o típico herói clássico, dominado pela razão, que se orienta por valores universais, como a honra, a lealdade e a liberdade. É um patriota, um velho português às direitas, forte, corajoso e decidido (relembrando o incêndio), bom marido, pai terno, não sente ciúmes do passado e não crê em agoiros. O incêndio e a decisão violenta de o concretizar é um traço romântico.
Maria de Noronha (personagem principal)
É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil; psicologicamente é muito forte). Nobre, de inteligência precoce, é muito culta, intuitiva e perspicaz. Muito curiosa, quer saber tudo... É uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa, patriota, crente em agoiros e uma sebastianista.
D. João de Portugal (personagem principal e central)
Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II ato da peça. Contudo, está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na consciência de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de Maria. É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte e fiel ao seu rei. Quando regressa, na pele do Romeiro, é austero e misterioso, representa um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade, mas acaba por ser, também ele, vítima desse destino. D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos; representa também o presente, a pátria morta e sem identidade na mão dos espanhóis/e é a imagem da pátria cativa.
Telmo Pais (personagem secundária)
Telmo é um velho aio que não é nobre apesar da sua convivência lhe dar todas as características de um nobre (postura, fala, educação, cultura...). É o confidente de Madalena e de Maria. Fiel, dedicado, é o elo e ligação entre as duas famílias (os dois maridos de Madalena), é a chama viva do passado que alimenta os terrores de Madalena. Não consegue perdoar Madalena pela infelicidade a D. João e mostra o maior desprezo por Manuel, apesar de ser o confidente de Madalena e Maria. É muito critico, cria juízos de valor e é através dele que a consciência das personagens fragmentada vive num profundo conflito interior pois sente-se dividido entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer. É um sebastianista e sofre muito pela sua lealdade.
Frei Jorge (personagem secundária)
Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja. É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu “terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É uma figura moderadora, que procura harmonizar o conflito, modera os sentimentos trágicos. Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita. Primeiro ato - decorre no palácio de D. Manuel de Sousa Coutinho - O ambiente leve e exótico revela o estado de espírito da família (feliz no geral); - Inicia-se um ato com um excerto d’Os Lusíadas, mas precisamente o excerto de Inês de Castro, em que afirma que o amor cega e condena a alma ao sofrimento; este excerto é lido por D. Madalena de Vilhena, mulher de Manuel de Sousa Coutinho; - Telmo, o fiel escudeiro da família, entra em cena e ambos discutem sobre Maria, filha de D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho; - Os medos de D. Madalena em relação ao regresso do ex-marido (D. João de Portugal, que nunca regressou da batalha de Alcácer-Quibir) refletem-se na proteção da sua filha em relação ao Sebastianismo (se D. Sebastião voltasse, o seu ex-marido também podia), um tema na altura muito discutido; - Maria é considerada muito frágil (doente; possui tuberculose não diagnosticada), e Telmo, que já fora escudeiro de D. João, incentiva-a a acreditar no Sebastianismo, o que ela abraça fortemente apesar do o desaprovar sua mãe; - Por fim chega com D. Manuel, um cavaleiro da nobreza, que informa as personagens da necessidade de movimentação daquela casa, porque os “governantes” (na altura Portugal estava sob o domínio espanhol) viriam e desejavam instalar-se em sua casa; - O ato acaba com D. Manuel a incendiar a sua própria casa, como símbolo de patriotismo, incendiando também um retrato seu (simboliza o inicio da destruição da família), movendo-se a família para o palácio de D. João de Portugal (apesar dos agouros de D. Madalena). Segundo Ato - decorre no palácio de D. João de Portugal - O ambiente fechado, sem janelas, com os quadros grandes das figuras de D. João, Camões e D. Sebastião revelam uma presença indesejada e uma família mais abatida (algo está para vir); - D. Madalena apresenta-se muito fraca; com a chegada de D. Manuel (que teve de fugir devido à afronta aos governantes) e a indicação de que estes o tinham perdoado, D. Madalena fica mais descansada, mas ao saber por Frei Jorge, um frei do convento dos Domínicos, que este terá que partir para Lisboa para se apresentar, fica de novo desassossegada; - D. Manuel parte para Lisboa na companhia de Maria e Telmo, deixando em casa D. Madalena e Frei Jorge. Concentração do tempo e espaço: Ato I: Palácio de D. Manuel de Sousa (luxuoso, janelas abertas sobre o Tejo – felicidade aparente) Final da Tarde Ato II: Palácio de D. João de Portugal (melancólico, pesado, escuro – peso da fatalidade, a desgraça) Anoitecer As didascálias são constituídas pelas indicações cénicas sobre a ornamentação do palco, os adereços, a luz, a movimentação e os gestos das personagens, etc. A informação sobre o espaço é dada ao leitor através das didascálias, sobretudo as que se encontram em início de ato, mas também através das falas das personagens. Antecedentes da ação: D. Madalena casa com D. João de Portugal. D. João de Portugal desaparece na Batalha de Alcácer Quibir. D. Madalena procura D. João de Portugal durante sete anos. D. Madalena casa com D. Manuel de Sousa Coutinho. Nasce Maria. Telmo, antigo escudeiro de D. João de Portugal, serve a família de D. Madalena. Os governadores decidem ir para o palácio de D. Manuel para se afastarem da peste que há em Lisboa. D. Manuel incendeia o próprio palácio e muda-se com a família para o palácio de D. João. D. Manuel e Maria vão a Lisboa, deixando D. Madalena sozinha com Frei Jorge. Chega o Romeiro, que transmite a D. Madalena o recado de que D. João de Portugal está vivo – o seu primeiro marido. O sebastianismo No Frei Luís de Sousa, o mito sebastianista alimenta, desde o início, o conflito vivido pelas personagens, na medida em que a admissão do regresso de D. Sebastião implicava idêntica possibilidade da vinda de D. João de Portugal, que combatera ao lado do rei na batalha de Alcácer Quibir, o que, desde logo, colocaria em causa a legitimidade do segundo casamento de D. Madalena. Defendido por Maria de Noronha como forma de devolver a independência ao povo português. Patriotismo e nacionalismo – além do que decorre do Sebastianismo, deve ter-se em conta o comportamento de Manuel de Sousa Coutinho ao incendiar o seu próprio palácio para impedir que fosse ocupado pelos Governadores ao serviço de Castela. Indícios trágicos: Leitura que D. Madalena realiza do episódio de Inês de Castro (Os Lusíadas), que motiva a sua reflexão (ato I), o que alia o seu destino ao final trágico da figura histórica. Os pressentimentos de D. Madalena de que um acontecimento funesto atingirá a sua família, o que não a deixa viver o seu amor por Manuel de Sousa Coutinho de uma forma tranquila, motivando a sua insegurança, a sua angústia e impedindo a sua felicidade. Os agouros de Telmo, que não crê na morte de D. João de Portugal, colocando a hipótese do seu regresso, e que afirma que uma situação ocorrerá que deixaria claro quem nutria maior amor por Maria naquela casa. O facto de Manuel de Sousa Coutinho, antes de pegar fogo ao próprio palácio, por considerar a resolução dos governadores espanhóis uma afronta, evocar a morte de seu pai, que caíra «sobre a sua própria espada», indicando o destino funesto da sua família; por outro lado, o seu ato irá motivar a aproximação da família de um espaço que pertencera a D. João de Portugal e que a ele está ligado metonimicamente. Leitura que Maria faz do início da obra de Bernardim Ribeiro Menina e Moça, «Menina e moça me levaram da casa de meu pai», que indicia a sua separação da família. O sebastianismo de Maria indica a hipótese de regresso de D. João de Portugal que, tal como D. Sebastião; desaparecera na Batalha de Alcácer Quibir. As visões de Maria (motivadas pelo seu temperamento romântico, pela imaginação e aguçadas pela tuberculose), dado o seu carácter negativo e o facto de a impedirem de dormir, remetem, igualmente, para a ocorrência de um acontecimento funesto; às visões da personagem, acrescenta-se a sua intuição e a sua compreensão precoce das coisas). A visita que Maria e Manuel de Sousa Coutinho fazem a Soror Joana que fora casada com D. Luís de Portugal – o casal decidira, em determinado momento da sua vida, abandonar o mundo e recolher-se num convento. Os elementos simbólicos ao nível do espaço físico, com relevância para os retratos de Manuel de Sousa Coutinho e de D. João de Portugal – a substituição do primeiro pelo segundo, aliada à substituição de espaço, é um sinal que a própria D. Madalena interpreta como fatal; a família muda- se para o palácio de D. João de Portugal, que anuncia a presença do primeiro marido de D. Madalena, apagando, simbolicamente, a presença do segundo (cujo retrato é consumido pelo fogo, apesar das tentativas desesperadas de D. Madalena para o salvar). O facto de a ação decorrer ao início da noite ou de noite. A carta enviada por D. João de Portugal a Madalena de Vilhena, que dizia que este ia voltar. As papoulas que Maria usa para apaziguar os sonhos tormentosos, e que acabam por murchar devido às suas mãos estarem bastante quentes devido à sua doença. A escolha do retrato de Camões demonstra um gosto pela exaltação nacional, tipicamente romântico, visível em Os Lusíadas. A escolha do retrato de D. João de Portugal remete para o mito sebastianista. A escolha do retrato de D. Sebastião tem como objetivo representar a ideia do sebastianismo latente da época. Linguagem e estilo As falas das personagens de Frei Luís de Sousa são marcadas por uma grande emotividade, fruto do seu estado de espírito quando confrontadas com os acontecimentos intensos ou com os seus receios. No texto abundam marcas linguísticas que traduzem os sentimentos das personagens: as interjeições (e as locuções interjetivas), as frases exclamativas e os atos ilocutórios expressivos. Os melhores exemplos estão nas falas de D. Madalena e revelam a influência dos melodramas românticos com uma linguagem demasiado retórica e emotiva. Associados aos sentimentos e ao estado de espírito das personagens estão as frases suspensas (ou seja, interrompidas), que pontuam as falas de diferentes personagens, exprimem as suas inquietações, perplexidades e hesitações. Por vezes, deixam no ar alguns subentendidos cujo significado é partilhado pelas personagens (ver o diálogo da Cena II do Ato Primeiro). Telmo e D. Madalena deixam por terminar as frases por não quererem mencionar o que receiam (o regresso de D. João, a desonra ou a doença de Maria) ou por hesitarem em verbalizar certos factos (a possibilidade de D. João não ter morrido). As frases interrogativas, frequentes nas falas mais tensas, dão igualmente conta dos anseios e do desassossego das personagens, mas também da sua desorientação ou da incerteza em relação ao futuro. Por outro lado, a frase curta (por vezes constituída por uma única palavra: «Ninguém!») confere um tom incisivo aos diálogos e contribui para fazer crescer a tensão dramática. Diálogos e monólogos, ainda que marcados pelo tom elevado a que a posição social das personagens conduz, são sempre acessíveis e mesmo quando o estilo é grandiloquente, arrebatado, erudito (como acontece com Manuel de Sousa Coutinho), ressumbra sempre dele uma coloquialidade deveras notável. Os discursos de Telmo, de Maria e Madalena exploram abundantemente os subentendidos, os silêncios (por vezes longos) e as hesitações, tornando-se, assim, variados, ricos, vivos, sentidos e revestindo um tom declamatório, tão de acordo com os processos românticos!