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Auto de Gil Vicente

Almeida Garrett
Estudo das personagens
Esquema resumo da peça
ACTOS ESPAÇO TEMPO ACÇÃO/ARGUMENTO
Três dias: cada dia
corresponde a um
acto
I Sintra “crepúsculo” D. Beatriz, filha de D. Manuel
Palácio “terá amanhecido” casa com o Duque de Sabóia.
Escadaria Referência à partida de D.
Fontes Beatriz e do cortejo que a
Tanques acompanhará.
Preparação da representação.
II Lisboa “Começo da noite” As cortes de Júpiter
Paços da Ribeira Cena X – início da
Sala do Trono representação
Palco (representação
das Cortes de Júpiter)
III Recâmra do Galeão Noite, mas começo A partida de D. Beatriz e a
de Santa Catarina de um novo dia separação dos amantes (D.
Camarim da Infanta Beatriz e Bernardim Ribeiro).
Bernardim “arremessa-se pela
varanda do Galeão, ao mar. D.
Beatriz desmaia (“Caí sem
sentidos”).
Estrutura dramática e ideológica de Um Auto de Gil Vicente

Centro da acção:
 A representação de um Auto de Gil Vicente, na corte de D. Manuel, por
ocasião do casamento de D. Beatriz com o duque de Sabóia.

Elemento aglutinador dos vários conflitos que compõem a acção:


 A intriga dos amores de Bernardim e da infanta.

O teatro como metáfora da própria vida:


 O drama da Garrett é a própria representação do auto de Gil Vicente – As
cortes de Júpiter – desde o respectivo ensaio, iniciado logo na primeira cena
do I acto, até à representação da última cena.

Estatuto duplo das personagens – Simultaneamente actores e


personagens:
 Pêro Safio, Paula Vicente, Bernardim Ribeiro, espectadores do espectáculo;
 D. Manuel, D. Beatriz, membros da corte e convidados.
Simbologia das personagens:
Simbologia das personagens:

 Gil Vicente – é evocado na peça como criador do teatro português - o


homem que vive para a sua arte, portador da pureza da única classe social
que está ainda próxima da natureza: o povo.

 Bernardim Ribeiro – homem da corte, desajustado da sociedade (corte)


refugia-se na natureza (Sintra) levando consigo um conflito: natural verus
artificial/social – símbolo do próprio poeta romântico.

 D. Manuel – é o centro da corte, ao redor do qual gira a artificialidade


social. Contudo, o gosto pela natureza, a bondade de pai, a tolerância como
governante, a rejeição da Inquisição. A protecção às artes e à ciência
(personificadas em Gil Vicente, Bernardim Ribeiro e Garcia de Resende)
aproximam-no do “homem natural”, colocando-o acima dessa artificialidade.
 Paula Vicente e D. Beatriz (personagens femininas) – ambas vivem en
função do amor.

 Pêro Safio e Paula Vicente – consciência da distância que existe entre o


sonho e a realidade.
O drama romântico:

 O amor (votado, logo à partida ao insucesso, em virtude de as razões


ordem social se sobreporem aos apelos do coração) surge como o valor
supremo e móvel determinante da conduta das personagens principais.

Características românticas:

 recorrência à noite;
 o amor-paixão;
 amor e saudade;
 o isolamento do mundo;
 a fuga do real;
 a solidão;
 a mulher anjo.
III acto – cena XI – monólogo de Paula Vicente

Neste monólogo, Paula mostra todo o seu tormento, a sua luta interior, dividida
entre os seus sentimentos por Bernardim Ribeiro e a sua fidelidade de amiga e
confidente do amor deste para com D. Beatriz.
Apesar de mencionar que detesta D. Beatriz, num momento de desespero e
ciúme, depressa toma o partido de sua amiga e caracteriza-a como sendo boa,
inocente, tímida, desgraçada por amores (o seu amor é impossível).
Numa frase dura, caracteriza Bernardim ribeiro Como um infeliz que sofre por
um amor impossível que vai acabar por o matar: “Mas aquele infeliz que não tem
outra glóriaque esse funesto amor que o mata”.
Neste monólogo, Paula Vicente divulga sem sombra de dúvida quem ama,
quando diz: “Todas as delícias deste adeus derradeiro – a mim mas devem! A
mim que o amo”. Este homem é Bernardim Ribeiro.
Ainda, nesta fala, Paula diz que D. Beatriz acabará por esquecer os amores a as
belezas de Sintra e arredores, uma vez que estiver em Itália rodeada de jardins
artificialmente desenhados e das riquezas. Deitar-se-á com um homem que não
ama e com quem se sentirá mal: “para longe te levam aos braços de outrem –
Reclinada no peito do estrangeiro, mesquinha! – tu estremecerás com as
aborrecidas carícias de um esposo indiferente; e o asco dos beijos de um marido
que não amas, que em teu coração traíste já.E acabarás por te acostumar”

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