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INSPEÇÃO DE OBRAS DE ARTE ESPECIAIS – PROCEDIMENTOS E

PATOLOGIAS ASSOCIADAS

BRIDGES INSPECTIONS – ASSOCIATESD PROCEDURES AND PATHOLOGIES

João Pedro Vilela de Oliveira1, Antônio Neves de Carvalho Júnior2


Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG
1
Graduando em Engenharia Civil, E-mail: j_pedrovilela@outlook.com
2
Doutor em Engenharia Metalúrgica e de Minas, Professor Associado, Departamento de
Engenharia de Materiais e Construção, E-mail: ancjunior@gmail.com

RESUMO
O objetivo deste trabalho visou o fornecimento de aspectos conceituais e características
inerentes à correta inspeção preventiva de obras de arte especiais. Para tal, foco especial foi
dado às peculiaridades presentes em estruturas como pontes e viadutos, visando as patologias
e demais anomalias que podem vir a se manifestar nas mesmas. Dessa forma, baseando-se nos
manuais e normas do DNIT e na evolução dos Sistemas de Gerenciamento de Obras de Arte
Especiais brasileiro, foram estabelecidos os procedimentos associados às inspeções
preventivas atualmente adotados. Assim, de modo a corroborar com todo o exposto
anteriormente, foi realizado um estudo de caso abrangendo uma obra em concreto armado,
cujas manifestações patológicas identificadas são comuns em tais estruturas, revelando a
dinamicidade encontrada em campo a cada inspeção e a necessidade de um acompanhamento
sistemático de cada estrutura.
Palavras Chave: Inspeção Preventiva; Obras de Arte Especiais; Patologias; Sistema de
Gerenciamento de Obras de Arte Especiais.

ABSTRACT
The objective of this work was to provide conceptual aspects and characteristics in the correct
preventive inspection of bridges. For this, special focus was given to the peculiarities present
in structures such as bridges and viaducts, aiming at the pathologies and other anomalies that
may appear in them. Thus, based on the DNIT manuals and norms and the evolution of the
Brazilian Bridge Management Systems, the procedures associated to the preventive
inspections currently adopted were established. Therefore, in order to corroborate all of the
above, two case studies were carried out covering bridges with different structures as well as
identified pathological manifestations, revealing the dynamicity found in the field at each
inspection and the need for systematic monitoring of each structure.
Keywords: Preventive Inspection; Bridges; Pathologies; Bridge Management System.

1
João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

1 INTRODUÇÃO de recuperação, de reforço ou de


reabilitação (DNIT 010-PRO, 2004).
Datadas desde os primórdios da engenharia
civil, as obras de arte especiais (OAE) Ao longo das inspeções realizadas, é
foram determinantes ao longo dos tempos comum a observação em pontes e viadutos
no desenvolvimento da sociedade. Seja de patologias decorrentes de projetos que
pela transposição de obstáculos ou pelo não levam em consideração os agentes de
encurtamento de distâncias, estas estruturas intemperismo nos quais as estruturas
evoluíram de tal forma que hoje se faz estarão submetidas, procedimentos
possível a interligação entre ilhas, cidades executivos equivocados, ou mesmo a
e até mesmo países. Dada a grande ausência de manutenção adequada
importância destas obras na infraestrutura dispendida às mesmas. Não obstante, em
rodoviária, as mesmas necessitam de se tratando de obras projetadas há tempos,
especial eficiência, segurança e o controle tecnológico dos materiais
durabilidade para manter o propósito ao utilizados apresenta-se como fator de
qual se destinam. Desse modo, mostra-se destaque na ocorrência das patologias
de suma importância o acompanhamento observadas. Mendes (2009) cita a esse
periódico das OAE por profissionais respeito, uma vez que oito em cada dez
habilitados para a sua avaliação, bem como pontes de concreto brasileiras, com devido
a realização de manutenções que se façam registro da data de sua construção, foram
necessárias ao perfeito funcionamento da construídas antes de 1984.
estrutura.
Paralelamente ao que se observa em
De forma a organizar e padronizar as campo, a metodologia aplicada no Brasil
inspeções preventivas das OAE, a para as inspeções de obras de arte especiais
engenharia civil, por intermédio da (OAE) constitui tema ainda pouco
Associação Brasileira de Normas Técnicas explorado na literatura da engenharia civil,
(ABNT) e do Departamento Nacional de carecendo de estudos aprofundados no
Infraestrutura Terrestre (DNIT), dispõe das âmbito acadêmico. Dessa forma, mostra-se
normas 010/2004-PRO e NBR 9452:2016, necessária maior elucidação acerca das
bem como dos manuais IPR-709/2004 e potencialidades que a supervisão periódica
IPR-744/2010, que tratam da supervisão, e eficaz pode vir a refletir tanto na
manutenção e classificação das obras de segurança aos usuários, quanto na maior
arte especiais em âmbito nacional. economia aos órgãos competentes,
evitando-se reparos e reforços
No caso das inspeções realizadas no Brasil, extraordinários nas estruturas.
a Norma DNIT 010/2004-PRO classifica
cinco modelos básicos: Cadastral, Diante desse contexto, o presente trabalho
Rotineira, Intermediária, Especial e propôs a exposição de forma clara e
Extraordinária. Cada qual com sua objetiva dos procedimento adequados nas
metodologia específica, as inspeções tem inspeções de obras de arte especiais. Por se
como principal viés a avaliação técnica tratarem de avaliações essenciais e
especializada, de modo a abranger a coleta frequentes a todas as obras de arte, especial
de elementos, de projeto e de construção, o atenção foi dada às inspeções cadastrais e
exame minucioso da ponte, a elaboração de rotineiras. Foi realizado ainda o estudo de
relatórios, a avaliação do estado da obra e uma inspeção do tipo cadastral e rotineira
as recomendações, que podem ser de nova de uma obra de arte especial, visando-se
vistoria, de obras de manutenção, de obras atentar aos aspectos anteriormente

2
Inspeção de Obras de Arte Especiais – Procedimentos e patologias associadas

mencionados, bem como os detalhes que se cada OAE. Intencionou-se enriquecer este
destacam como mais importantes para uma trabalho destacando o que deve conter uma
correta execução da inspeção. inspeção técnica, além de identificar
elementos e sugestões que permitam uma
2 OBJETIVOS E correta leitura por parte dos órgãos
METODOLOGIA competentes.

O objetivo geral deste trabalho foi a Inspeção Cadastral


realização de um estudo sobre inspeções
em obras de arte especiais, com ênfase nas Entende-se por inspeção Cadastral aquela
patologias que comumente acometem tais destinada à identificação das características
estruturas. estruturais e funcionais da OAE, definição
do método construtivo adotado e detalhes
Foram considerados variados aspectos, executivos, sendo esta preferencialmente
entre os quais se incluem os materiais realizada após a construção da estrutura.
utilizados, a sequência executiva, os Deve-se também realizar a alteração
agentes do intemperismo físico-químico e cadastral em casos em que ocorram
biológico a que as estruturas estão mudanças bruscas tais como alargamentos,
submetidas e análise das patologias mais reforços, ou até alteração na própria
comuns. estrutura. Nestas inspeções as equipes de
vistoria devem ser comandadas por um
Especificamente, almejou-se com a engenheiro civil, auxiliado por técnico
abordagem elaborada: quando necessário, com experiência de no
mínimo cinco anos em projeto de pontes,
 Descrever sobre os procedimentos para pontes de até 200 metros de extensão.
de identificação, registro e Para pontes com mais de 200 metros, é
classificação das patologias necessária a experiência de pelo menos
encontradas; cinco anos em projeto, execução,
 Proceder uma análise das diversas recuperação, reforço e reabilitação de
patologias que decorrem de pontes (DNIT 010-PRO, 2004).
equívocos no momento da
execução e da ausência de Para a realização da inspeção cadastral
manutenção das Obras de Arte procedeu-se segundo as recomendações do
Especiais, bem como as medidas Manual de Inspeção de Pontes 709 (2004),
cabíveis para solucionar essas juntamente com a Norma 010/2004-PRO,
disfunções; ambos do DNIT. Para tal, realizou-se
amplo registro fotográfico com a finalidade
Apresentação de estudo de caso de identificar os elementos componentes
envolvendo a inspeção Cadastral e da OAE, bem como a presença de
Rotineira de uma Obra de Arte Especial e Deficiências Funcionais e Aspectos
proceder à análise do mesmo destacando Especiais que venham a afetar o correto
os principais aspectos a serem observados funcionamento da estrutura.
para a adequada execução.
A análise se inicia com o registro da
A metodologia utilizada para o sinalização vertical da OAE. Compara-se a
desenvolvimento do projeto proposto placa de identificação da obra com a
consistiu no estudo de caso de uma Obra denominação recebida oficialmente pelo
de Arte Especial. Procedeu-se à análise de órgão gestor. Tal comparação é possível
uma inspeção Cadastral e Rotineira para mediante consulta à plataforma VGEO,
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João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

desenvolvida pelo DNIT, cuja base de acompanhamento rotineiro (DNIT, IPR-


dados inclui os nomes do corpos d’água 709/2004). Tendo em vista o
transpostos pelas pontes. Nessa etapa desconhecimento por parte dos órgãos
também é aferida a localização geodésica regionais e federal acerca das OAEs no
da OAE, com o auxílio de equipamentos país, a Norma 010-PRO do DNIT ressalta
GPS, de modo a obter a latitude e que na inexistência de cadastro prévio da
longitude da mesma. estrutura avaliada, deve-se realizar
simultaneamente tanto a inspeção
Em seguida, foi realizada a aferição de Cadastral quanto a Rotineira, de modo a
medidas da OAE como comprimento, coletar o máximo de informações da OAE
largura, distância entre vãos, espessura de inspecionada. Para as inspeções em
vigas, pilares e transversinas, gabaritos questão, as exigências na formação da
vertical e horizontal, além de largura de equipe de análise são as mesmas das
cada faixa de rolamento. inspeções cadastrais.
Após, realizou-se a identificação dos Uma vez realizada as inspeções rotineiras,
elementos presentes no tabuleiro e na são atribuídas notas a cada elemento
região inferior da OAE. presente na obra de arte, sendo a nota geral
de estabilidade da estrutura decorrente da
Uma vez identificados os Elementos
menor nota atribuída a um elemento
Componentes da OAE, foram identificadas
estrutural e a nota de conservação da
a presença de Deficiências Funcionais e
mesma atribuída à menor nota dos
Aspectos Especiais inerentes à mesma.
elementos não estruturais. Para auxiliar os
Com base no registro fotográfico e
inspetores na determinação das notas a
medidas aferidas por meio de trena
serem consideradas, a ABNT dispõe da
eletrônica.
NBR 9452:2016 que trata dos
Finalizada a inspeção cadastral, as procedimentos executados nas inspeções
informações coletadas são então inseridas de obras de arte especiais e da forma
segundo modelo de inspeção preconizado correta de apresentação de seus resultados.
pela ABNT NBR 9452:2016. Nela, definem-se as condições
Posteriormente, tais informações são consideradas em cada estrutura mediante
também registradas no Sistema de parâmetros:
Gerenciamento de Obras de Arte
• Estruturais: referentes à segurança
Especiais, plataforma exclusiva para o
estrutural da OAE (estabilidade e
armazenamento de informações referentes
capacidade portante)
à gestão de tais estruturas pelo DNIT.
• Funcionais: referentes à adequação
Inspeção Rotineira
geométrica, de conforto e de segurança
Nas Inspeções Rotineiras, por sua vez, preventiva
tem-se como principal motivação a
• Durabilidade: referentes às
identificações de patologias presentes nas
características inerentes à vida útil da
estruturas, sejam elas decorrentes de
estrutura.
desgaste por envelhecimento, acidentes
ocasionais ou falhas de projeto e execução. Dessa forma, a norma visa englobar tanto
São inspeções visuais com periodicidade aspectos sintomáticos visíveis que
de um a dois anos, relatadas através de necessitam de intervenção com maior
registros fotográficos e fichas de urgência, quanto padrões de indicadores de
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Inspeção de Obras de Arte Especiais – Procedimentos e patologias associadas

qualidade da obra executada de modo que classificar os mesmos segundo sua


a função a qual a mesma se destina seja condição, podendo ser excelente, boa,
cumprida com eficiência e segurança. regular, ruim ou crítica (ABNT, NBR-
9452:2016). Assim, avalia-se as estruturas
Na determinação das notas atribuídas aos com notas de 1 a 5, conforme problemas
elementos e às OAEs em geral, deve-se detectados e compilados na tabela abaixo.

Tabela 1 – Classificação da condição de OAE segundo os parâmetros estrutural, funcional e


de durabilidade.

Nota de Caracterização Caracterização Caracterização de


Condição
classificação estrutural funcional durabilidade

A OAE apresenta-
A estrutura apresenta-
se em perfeitas
se em condições A OAE apresenta
condições,
satisfatórias, segurança e
5 Excelente devendo ser
apresentando defeitos conforto aos
prevista
irrelevantes e usuários.
manutenção de
isolados.
rotina.

A OAE apresenta A OAE apresenta


A estrutura apresenta pequenos danos pequenas/poucas
danos pequenos e em que não chegam anomalias, que
4 Boa áreas, sem a causar comprometem sua
comprometer a desconforto ou vida útil, em
segurança estrutura. insegurança ao região de baixa
usuário. agressividade.

A OAE apresenta
Há danos que podem pequenas e
vir a gerar alguma poucas anomalias,
deficiência estrutural, que
mas não há sinais de A OAE apresenta comprometem sua
comprometimento da desconforto ao vida útil, em
estabilidade da obra. usuário, com região de
3 Regular moderada a alta
Recomenda-se defeitos que
acompanhamento dos requerem ações agressividade
problemas. de médio prazo ambiental ou a
Intervenções podem OAE apresenta
ser necessárias a moderadas e
médio prazo. muitas anomalias,
que
comprometem sua
5
João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

vida útil, em
região de baixa
agressividade
ambiental.

Há danos que OAE com


A OAE apresenta
comprometem a funcionalidade
anomalias
segurança estrutural visivelmente
moderadas a
da OAE, sem risco comprometida,
abundantes, que
iminente. Sua com riscos de
2 Ruim comprometam sua
evolução pode levar segurança ao
vida útil, em
ao colapso estrutural. usuário,
região de alta
A OAE necessita de requerendo
agressividade
intervenções a curto intervenções de
ambiental.
prazo. curto prazo.

Há danos que geram


grave insuficiência
estrutural na OAE. Há
elementos estruturais
em estado crítico, com
risco tangível de A OAE encontra-se
colapso estrutural. A A OAE não em elevado grau
OAE necessita apresenta de deterioração,
1 Crítica intervenção imediata, condições apontando
podendo ser funcionais de problema já de
necessária restrição utilização risco estrutural
de carga, interdição e/ou funcional.
total ou parcial ao
tráfego, escoramento
provisório e associada
instrumentação, ou
não.

Fonte: ABNT NBR 9452:2016

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João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

A partir de amplo registro fotográfico, danos sérios a estrutura, recebendo a


em ambas as inspeções buscou-se mesma nota 1 para estabilidade,
identificar tanto patologias já registradas conforme normas e manuais vigentes à
em inspeções anteriores, quanto novas época. No entanto, não há sinais de que a
patologias desenvolvidas durante o estrutura tenha sido recuperada até a
período. inspeção realizada em 2019.
De forma análoga à Inspeção Cadastral,
após a avaliação de cada elemento as
informações coletadas foram então
transcritas para as fichas de inspeção
rotineira conforme recomendação da
ABNT NBR 9456:2016 e,
posteriormente, foram registradas no
Sistema de Gerenciamento de Obras de
Arte Especiais do DNIT.
Para elementos estruturais cuja nota fora
inferior a 3, foram-lhes atribuídas
insuficiências estruturais que afetem a Figura 1 – Ponte sobre o Rio Igarassú (LD).
estabilidade da estrutura. Por sua vez, Fonte: Strata Engenharia, 2019
elementos estruturais com nota igual ou
inferior a 2 necessitam da elaboração de Inspeção Cadastral
laudo especializado com o detalhamento
dos principais danos identificados e Após a aferição de informações acerca
recomendações para sua remediação. Por das características geométricas e de
questões de sigilo e segurança, não foi localização da OAE, realizou-se a
possível o compartilhamento do laudo identificação dos elementos presentes no
elaborado para as presentes OAEs tabuleiro, sendo identificados: Guarda
avaliadas. Corpo de Concreto Armado, Barreira
New Jersey e Pavimento Asfáltico.
3 RESULTADOS E Atenta-se ainda para a possível presença
DISCUSSÕES de Juntas de Dilatação encobertas nas
extremidades da OAE, sendo portanto
Ponte sobre o Rio Igarassú (LD) incluídas no registro da inspeção.
Localizada no km 41,59 da BR-101, no
estado de Pernambuco, a presente OAE
foi inspecionada no dia 14 de maio de
2019 pela empresa Strata Engenharia,
vencedora do Lote 01 do edital 0539/17-
00 do DNIT.
A estrutura é composta em sua totalidade
por concreto armado, padecendo devido a
patologias associadas à infiltração e
percolação contínua de água por entre a Figura 2 – Juntas de Dilatação Encobertas.
estrutura. Em inspeção anterior, realizada
Fonte: Strata Engenharia, 2019.
em 2014 já haviam sido identificados
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João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

Na parte inferior da estrutura foram Uma vez identificados os Elementos


identificados os seguintes elementos: Componentes da OAE, foram
Aparelho de Apoio tipo Pêndulo, Vigas identificadas a presença de Deficiências
Longarinas, Vigas Transversinas Funcionais e Aspectos Especiais
Portantes, Laje, Encontro Parede Frontal inerentes à mesma. Com base no registro
Portante e Pilar Parede, todos em fotográfico e medidas aferidas por meio
concreto armado. de trena eletrônica, identificou-se que a
estrutura avaliada não possuía Barreiras
New Jersey em ambos os lados da via,
características obrigatória por norma,
além da instalação de tubulação na lateral
esquerda da estrutura, o que poderia
gerar sobrecarga não prevista em projeto,
e as ausências de calçada para pedestres,
acostamento e defensa metálica nos
acessos.
Não obstante, segundo Manual 709:2004
Figura 3 - Vista Inferior da OAE do DNIT, preconiza-se que estruturas em
abrangendo o Apoio Central. concreto armado cuja seção transversal
Fonte: Strata Engenharia, 2019 apresente largura de 8,30 metros são
caracterizadas como construídas entre os
anos de 1950 e 1960, sendo-lhes
atribuída, portanto, a classe de carga
móvel do tipo TB-24. Dessa forma,
constata-se a deficiência funcional da
OAE, uma vez que as vias federais
devem contar com dimensionamento
mínimo de TB-45, de modo a garantir a
passagem segura de cargas pesadas.
.
Figura 4 – Vista Inferior da OAE Finalizada a inspeção cadastral, obtém-se
abrangendo o Encontro juntamente com o a seguinte tabela resumo apresentada
Aparelho de Apoio.
abaixo.
Fonte: Strata Engenharia, 2019.

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João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

Tabela 2 – Tabela Resumo de Inspeção Cadastral da Ponte sobre o Rio Igarassu (LD).

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João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

Inspeção Rotineira

Desde 2014 o lado direito da ponte sobre o


Rio Igarassu apresenta condição crítica,
sobretudo devido ao rompimento dos
estribos e das armaduras de flexão nas
Vigas longarinas. No entanto, mesmo após
a última inspeção realizada, constatou-se
que não foram realizados reparos na
mesma, apresentando iminente risco ao
usuário.
(a)
A partir de amplo registro fotográfico, a
presente inspeção buscou identificar tanto
patologias já registradas em inspeções
anteriores, quanto novas patologias
desenvolvidas durante o período.
Vigas Longarinas

Constatou-se situação crítica em ambas as


vigas longarinas de concreto armado,
incluindo entre as patologias:

 Desagregação do concreto com (b)


exposição e oxidação das Figura 6 – Armaduras de Cisalhamento e de
armaduras principais do elemento, Flexão Rompidas ou com perda de Seção
apresentando inclusive ruptura das Superior à 20% (a) e (b).
mesmas em alguns casos; Fonte: Strata Engenharia, 2019.

 Lixiviação, Manchas de Umidade e


Infiltração no Concreto,
decorrentes, sobretudo da
percolação de água na laje,
observada a partir da presença de
fissuras na mesma;

Figura 5 – Viga de Concreto Armado:


Desagregação no Concreto devido à Infiltração
de Água, Expondo e Oxidando as Armaduras
de Flexão.
Fonte: Strata Engenharia, 2019.

(a)
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Inspeção de Obras de Arte Especiais – Procedimentos e patologias associadas

Segundo orientação normativa da NBR


9452:2016, para elementos ditos
secundários com a presença de fissuras em
elementos de concreto armado com
abertura dentro dos limites previstos
conforme ABNT NBR 6118:2014, 13.4,
deve ser atribuída nota 4. No entanto, dada
a extensão do dano, que acomete o
elemento em questão em sua quase
totalidade, aliado à presença de
(b) deterioração biológica e intensa percolação
Figura 7 – Lixiviação, Infiltração e Manchas de água, foi atribuída nota 2 ao elemento.
de Umidade decorrentes da Percolação de Ressalta-se que a medida visou uma
Água na Estrutura (a) e (b). análise crítica da estrutura como um todo,
Fonte: Strata Engenharia, 2019. atuando a favor da segurança.

 Degradação do concreto e do aço


acelerada pela ação biológica de
morcegos.

Figura 9 – Infiltração e Manchas de Umidade


nos Balanços Transversais da Laje de Concreto
Armado.
Fonte: Strata Engenharia, 2019.
Figura 8 – Presença de Biodeterioração do
Concreto devido à Ação de Morcegos.
Fonte: Strata Engenharia, 2019.

Tendo em vista o rompimento das


armaduras de cisalhamento e de flexão em
pontos localizados das vigas longarinas,
atribuiu-se nota 1 ao elemento, amparando-
se na norma NBR 9452:2016.
Laje
A principal patologia identificada na laje
(a)
associava-se à livre percolação de água na
estrutura, tanto na região central do
elemento, quanto em seus balanços
transversais.

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João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

(b) Figura 12 – Manchas escuras devido à Ação


Figura 10 – Ocorrência de Fissuras Profundas metabólica de Morcegos.
Finas na Laje, permitindo a Infiltração no Fonte: Strata Engenharia, 2019.
Concreto (a) e (b).
Fonte: Strata Engenharia, 2019. Aparelho de Apoio tipo Pêndulo

Transversinas Portantes No segundo encontro da OAE observou-se


para o Aparelho de Apoio sob a Viga 1 a
Assim como identificado nas vigas ocorrência de Desagregação do Concreto
longarinas, observou-se a presença da ação com Exposição e Oxidação da Armadura.
metabólica de morcegos nas transversinas. Ocorre porém perda de seção inferior à
Em alguns casos, observou-se inclusive o 20% para o aço, acarretando nota 3 para o
contato do excremento com as armaduras elemento, segundo preconizado pela norma
do elemento, acelerando seu processo NBR 9452:2016.
oxidativo.
Tendo em vista a exposição de armadura
com perda de seção inferior à 20%,
aliando-se à presença de deterioração
biológica, atribui-se ao elemento nota 3,
conforme norma NBR 9456:2016.

Figura 13 – Aparelho de Apoio tipo Pêndulo


com Desagregação do Concreto e Oxidação da
Armadura.
Fonte: Strata Engenharia, 2019.

Encontro Parede
Como observado na Figura abaixo, fora
identificado no 1° Encontro a presença de
Manchas de umidade e Infiltração. Tais
anomalias se apresentaram devido à ação
Figura 11 – Danos à Armadura e Deterioração
Biológica devido à Ação de Morcegos. conjunta de percolação de água através das
Fonte: Strata Engenharia, 2019. fissuras desenvolvidas na laje e ausência
de dispositivos de drenagem nos aterros de
acesso. Uma vez que não se dispõe de
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Inspeção de Obras de Arte Especiais – Procedimentos e patologias associadas

orientações por parte da NBR 9452:2016 Os Guarda Corpos possuem grande


para patologias associadas à infiltração dos atuação na segurança dos usuários, uma
elementos, atribuiu-se ao mesmo nota 4, vez que cabe a eles a manutenção dos
levando-se em consideração a abrangência veículos nas vias quando necessário.
visual do dano, bem como o estado de Tendo em vista que o elemento
deterioração da estrutura pontualmente. encontrava-se destruído, oferecendo risco
ao usuário na região do primeiro encontro,
atribui-se ao elemento nota 3.

Figura 14 – Infiltração e Manchas de Umidade


no 1° Encontro.
Fonte: Strata Engenharia, 2019.

Juntas de Dilatação

Observou-se para a junta de dilatação o seu


encobrimento devido ao recapeamento Figura 15 – Guarda Corpo Destruído, com
incorreto no tabuleiro. Este fato além de Desagregação da base e Armaduras
prejudicar o funcionamento do elemento, Danificadas.
Fonte: Strata Engenharia, 2019.
acarretará futuramente no aparecimento de
fissuras no asfalto, devido às tensões De forma análoga à Inspeção Cadastral,
desenvolvidas em ambos os acessos. Dado após a avaliação de cada elemento as
que a norma NBR 9452:2016 não abrange informações coletadas foram então
o encobrimento de juntas de dilatação, transcritas para as fichas de inspeção
atribuiu-se nota 4 ao elemento, tendo em rotineira conforme recomendação da
vista que a patologia não está gerando risco ABNT NBR 9456:2016 e,
iminente ao usuário. posteriormente, foram registradas no
Sistema de Gerenciamento de Obras de
Guarda Corpo
Arte Especiais do DNIT.
Por fim, identificou-se no primeiro Guarda Para elementos estruturais cuja nota fora
Corpo do Lado Esquerdo, no sentido inferior a 3, foram-lhes atribuídas
crescente da via, próximo ao 1° Encontro, insuficiências estruturais que afetem a
que o mesmo encontrava-se destruído, com estabilidade da estrutura. Os dados
suas bases completamente desagregadas e inseridos estão abaixo representados.
armaduras danificadas.
Tabela 3 – Insuficiências Estruturais dos Elementos com nota inferior a 3. Ponte sobre o Rio Igarassu
(LD).

Elemento Insuficiência Estrutural Causa Provável


Deterioração acentuada dos
Aparelho de apoio pêndulo Erosão
materiais de construção
Viga T ou I de concreto Viga ou barra metálica principal
Infiltração de águas
armado com forte corrosão
Laje de concreto armado Quadro fissuratório intenso Infiltração de águas
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João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

Não obstante, uma vez que a OAE com recomendações embasadas nas
analisada apresentou nota inferior à 2 para normas técnicas vigentes.
elementos estruturais, foi desenvolvido um
laudo técnico especializado de modo à Finalizada a presente inspeção, obteve-se a
reforçar as patologias mais críticas seguinte tabela resumo com as notas
identificadas e elaborar um plano de atribuídas aos elementos, bem como a nota
recuperação ou substituição da estrutura, geral de estabilidade e conservação da
OAE.
Tabela 4 – Tabela Resumo de Inspeção Rotineira da Ponte sobre o Rio Igarassú (LD).

Ponte sobre o Rio Igarassú (LD)


Condição de Estabilidade: 1 - Precária
Data da Inspeção: 14/05/2019
Condição de Conservação: 1 - Precária
Elemento Nota
Viga T ou I de concreto armado 1 - Crítica
Laje de concreto armado 2 - Problemática
Aparelho de apoio pêndulo 3 - Em observação
Guarda corpo de concreto armado 3 - Em observação
Encontro - Parede frontal portante de concreto armado 4 - Boa
Junta de dilatação 4 - Boa
Transversina portante de concreto armado 4 - Boa
Aterro de acesso 5 - Excelente
Barreira new jersey 5 - Excelente
Laje de Transição 5 - Excelente
Pilar parede de concreto armado 5 - Excelente

Discussão acerca dos resultados obtidos tempos, conforme exposto, uma vez que se
observaram as armaduras rompidas,
Através de exemplo bastante abrangente apresentando sério risco aos usuários,
tanto na composição dos elementos das premeditando tragédias que podem ser
OAEs quanto nas patologias identificadas, evitadas com a correta gestão das OAEs.
buscou-se apresentar as peculiaridades
encontradas nas diversas situações ao Ainda assim, por meio dos procedimentos
longo de um trecho de rodovia. apresentados foi possível demonstrar os
ganhos de eficiência que a correta
Não raramente são encontradas obras de realização das inspeções preventivas em
arte com ausência de acostamento e obras de arte especiais podem vir a trazer
calçada para pedestres, caso observado no no aumento da vida útil das estruturas,
lado direito da Ponte sobre o Rio Igarassú. gerando economia aos responsáveis pela
No entanto, observa-se com maior manutenção das mesmas, quando realizada
preocupação a falta de manutenção das periodicamente, além da garantia de
estruturas que beiram ao colapso já há segurança aos seus usuários, alertando os
14
Inspeção de Obras de Arte Especiais – Procedimentos e patologias associadas

órgãos competentes acerca dos riscos rica as informações acerca da temática, em


inerentes à cada OAE. se tratando de estruturas de tamanha
importância e magnitude.
4 CONCLUSÃO
A manutenção preventiva por muitos anos
O objetivo deste trabalho visou o foi tratada, e ainda há certa resistência
fornecimento de aspectos conceituais e acerca de sua importância, como uma
características inerentes à correta inspeção despesa onerosa da estrutura. No entanto,
preventiva de obras de arte especiais. Para conforme demonstrado no presente estudo,
tal, foram apresentados os principais o custo dessas atividades na verdade está
manuais e normas indispensáveis ao atrelado ao empreendimento e quando
correto planejamento, execução e executado em conformidade com as
gerenciamento das inspeções preventivas recomendações normativas é fator gerador
em OAEs. Reitera-se a importância de tais de grande economia, uma vez que evitam-
atividades tanto no que tange ao ganho de se futuras falhas, cujas despesas são muito
vida útil das estruturas; na economia mais onerosas aos responsáveis pela gestão
decorrente de inspeções bem planejadas e da OAE. Como resultado, há um aumento
executadas; nas peculiaridades das OAEs de rendimento por parte da mesma.
no que se refere ao comportamento
estrutural e à singularidade nas patologias A metodologia empregada na inspeção e
manifestadas; e na evolução dos Sistemas monitoramento das OAEs é simples, do
de Gerenciamento de OAEs, os quais ponto de vista executivo, e ao mesmo
otimizaram a relação entre planejamento tempo eficiente pois engloba grande parte
de manutenções, acompanhamento dos aspectos indispensáveis à
sistemático e execução de medidas determinação do atual estado da estrutura.
corretivas de modo eficaz e econômico. Através de uma inspeção visual, é possível
traçar um diagnóstico e, assim, uma
Apesar de ainda faltar no Brasil a cultura avaliação detalhada, munindo os gestores
da periodicidade nas manutenções, de informações importantes que auxiliarão
associando estas como parte integrante dos nas tomadas de decisão. Não obstante, o
projetos de infraestrutura, existem amplo conhecimento dos elementos
mecanismos que possibilitam boas técnicas constituintes das obras de arte, bem como
de inspeção preventiva, a exemplo dos suas variações e peculiaridades se mostram
manuais e normas desenvolvidos pelo de suma importância, uma vez que assim
DNIT, os quais abrangem todas as etapas torna-se facilitada a identificação de como
de um sistema de gestão da manutenção. É se deram as manifestações patológicas, e,
abordado como é feita cada etapa da por conseguinte, a sua remediação.
inspeção e monitoramento, além de
descrever com grande detalhamento cada O estudo de caso explicitou a grande
item a ser inspecionado (Manual importância das inspeções periódicas em
709:2004). Aborda-se também os tipos de todas as OAEs ao mostrar a precariedade
manutenção que podem ser feitas e de algumas estruturas, com seus mais
também exemplifica detalhadamente como diversos problemas estruturais e de
efetuar de fato a manutenção em cada conservação. Durante a análise das OAEs
elemento da OAE (Manual 744:2010). não foi possível realizar os registros das
Logo, os manuais, em conjunto com as inspeções através do SGO por questões de
normas 010-PRO/2004 do DNIT e a NBR segurança e sigilo, impossibilitando o
9452:2016 fornecem de maneira bastante aprofundamento do estudo de caso com

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João Pedro Vilela de Oliveira; Antônio Neves de Carvalho Júnior

dados mais detalhados, o que geraria um Planejamento e Pesquisa. Coordenação do


nível maior de entendimento da Instituto de Pesquisas Rodoviárias. Manual
metodologia adotada pelo DNIT. Ainda de inspeção de pontes rodoviárias. 2. ed.
assim, foi possível observar que por meio Rio de Janeiro, 2004. (IPR. Publ., 709).
de um monitoramento contínuo das
estruturas é claramente viável o BRASIL. Departamento Nacional de
acompanhamento da evolução das Infraestrutura de Transportes. Diretoria de
patologias, planejando reparos imediatos e Planejamento e Pesquisa. Coordenação do
assegurando a vida dos usuários. Os Instituto de Pesquisas Rodoviárias. Manual
estudos realizados revelaram, contudo, a de recuperação de pontes e viadutos
necessidade de integração entre os rodoviários. 2. ed. Rio de Janeiro, 2010.
programas de inspeção e o planejamento (IPR. Publ., 744).
de manutenções imediatas por parte dos
BRASIL. Departamento Nacional de
responsáveis pelas OAEs, no que diz
Infraestrutura de Transportes. Diretoria de
respeito à recuperação de estruturas em
Planejamento e Pesquisa. Coordenação do
situação crítica.
Instituto de Pesquisas Rodoviárias.
REFERÊNCIAS Inspeção em pontes e viadutos de concreto
armado e protendido. DNIT 010/2004 –
BIBLIOGRÁFICAS PRO. Rio de Janeiro, 2004.
ABNT-NBR 9452. Inspeção de pontes, MENDES, P. T. C. Contribuição para um
viadutos e passarelas de concreto – Modelo de Gestão de Pontes de Concreto
Procedimento. Rio de Janeiro: 2016. aplicado à Rede de Rodovias Brasileiras
(Tese de Doutorado). São Paulo: Escola
BRASIL. Departamento Nacional de Politécnica da Universidade de São Paulo,
Infraestrutura de Transportes. Diretoria de 2009.

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