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CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO

EM
REABILITAÇÃO DO PATRIMÓNIO EDIFICADO

ESTRUTURAS DE ALVENARIA DE PEDRA

Aníbal Costa

Apontamentos da disciplina relativos ao ano lectivo 2008-09

Outubro 2008
CAPÍTULO II - METODOLOGIAS DE INTERVENÇÃO

2.1. INTRODUÇÃO

As metodologia de intervenção em construções devem seguir alguns princípios básicos,


salientando-se entre as várias cartas internacionais sobre o assunto e sobre os
procedimentos a adoptar defendidos por diversos autores, os princípios estabelecidos
nas “Recomendações para a Análise, Conservação e Restauro Estrutural do Património
Arquitectónico” [1], nomeadamente tendo em conta que “a especificidade das estruturas
do património, com a sua história complexa, requer a organização de estruturas e
propostas em fases semelhantes às que são utilizadas em medicina. Anamnese,
diagnóstico, terapia e controlo correspondem, respectivamente à análise da informação
histórica, identificação das causas dos danos e degradações, selecção das acções de
consolidação e controlo da eficácia das intervenções.
A compreensão completa do comportamento estrutural e das características dos
materiais é necessária a qualquer projecto de conservação e restauro. É essencial
recolher informação sobre a estrutura no seu estado original, sobre as técnicas e
métodos utilizados na sua construção, sobre as alterações posteriores e os fenómenos
que ocorreram e, finalmente, sobre o seu estado presente.
O diagnóstico é baseado em informações históricas e em abordagens qualitativas e
quantitativas. A abordagem qualitativa é baseada na observação directa dos danos
estruturais e degradações dos materiais, como também na investigação histórica e
arqueologia, enquanto que a abordagem quantitativa requer ensaios das estruturas e dos
materiais, monitorização e análise estrutural.
Antes de se tomar uma decisão sobre a intervenção estrutural, é indispensável
determinar anteriormente as causas dos danos e degradações, e em seguida, avaliar o
nível de segurança actual da estrutura.
A avaliação da segurança, constitui a etapa seguinte ao diagnóstico, é a fase em que a
decisão sobre a possível intervenção é definida, sendo necessário conciliar a análise
qualitativa com a análise quantitativa.

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Toda a informação adquirida, o diagnóstico (incluindo a avaliação da segurança) em
qualquer decisão sobre a intervenção, deve ser discutida em detalhe no Relatório de
Avaliação”.
Este relatório deve conter uma análise crítica e cuidada da segurança da estrutura, de
forma a justificar as medidas de intervenção e facilitará o juízo sobre as decisões a
tomar.
Essas medidas deverão ser dirigidas à raiz das causas que provocaram os danos e
nenhuma acção deverá ser empreendida sem se demonstrar que é indispensável. Todo e
qualquer projecto de intervenção deverá “ser baseado numa compreensão clara dos tipos
de acções que foram a causa dos danos ou degradações e das acções que irão actuar no
futuro” [1].

2.2. METODOLOGIAS DE INTERVENÇÃO


A metodologia de intervenção que tem sido usada em diversos trabalhos procura
respeitar os princípios referidos anteriormente, começando na generalidade dos casos
por uma ou várias inspecções à construção que, frequentemente, ultrapassam bastante o
foro estritamente estrutural. De facto, a fim de respeitar a história que confere um
carácter por vezes único à edificação em apreço, as inspecções devem ser
acompanhadas de um levantamento histórico que permita datar a estrutura, analisar a
sua trajectória, as alterações e outras intervenções sofridas no tempo, de modo a melhor
compreender o seu estado actual [2]. Esse levantamento inclui visitas ao local,
conversas com os proprietários e/ou pessoas ligadas à edificação, recolha de elementos
históricos escritos ou fotográficos e consultas de especialistas [3].
A investigação de uma construção requer uma abordagem interdisciplinar que ultrapassa
simples considerações técnicas por isso é fundamental, em muitas situações, formar
uma equipa de investigação, que inclua um leque diferenciado e transversal de
conhecimentos apropriados às características da construção e dirigida por um membro
com experiência adequada.
As intervenções sobre estruturas existentes, alvo de qualquer das situações atrás
descritas, englobam, geralmente, as seguintes etapas fundamentais:
• Avaliação do estado da estrutura
• Conceptualização da intervenção

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• Definição dos procedimentos de intervenção.
A avaliação do estado da estrutura é, como facilmente se compreende, uma etapa
basilar, uma vez que fornece todos os elementos que permitirão fundamentar a
intervenção a efectuar (urgência, concepção, meios técnicos e humanos necessários,
viabilidade técnica e económica,…) e passar, posteriormente, à fase de projecto
(avaliação das acções e da capacidade resistente das peças, análise estrutural,
redimensionamento das secções, especificações técnicas, procedimentos de controlo de
qualidade,…).
Na figura 2.1, apresenta-se, sob a forma de um diagrama de fluxo, um modelo possível
de sequência das fases de intervenção numa estrutura existente. Por seu turno, o
diagrama da figura 2.2 esquematiza também uma sequência possível a seguir na tomada
de decisão relativamente ao tipo de intervenção a efectuar.

Figura 2.1- Sequência das fases de intervenção numa construção existente

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Figura 2.2- Sequência do tipo de intervenção

A avaliação do estado de uma estrutura, compreende:


- a caracterização das anomalias existentes com a definição da sua importância e da
extensão e intensidade da deterioração ou dos danos verificados;
- a identificação das causas das anomalias, particularmente quando se está em presença
de processos de deterioração progressivos;
- a avaliação das características residuais da estrutura e das condições de segurança
existentes.
Em relação ao primeiro item, e quando a situação existente diz respeito a uma estrutura
que foi alvo de um dano severo ou se depara com um processo de deterioração em
elevado estado de desenvolvimento, é de referir a eventual necessidade de, à partida, se
ter de proceder à definição de medidas urgentes, tais como aplicação de escoramentos,
alívio de cargas, evacuação de pessoas e bens, execução de demolições parciais, ou
outras.
Naturalmente, dependendo do maior ou menor grau de actuação, quer de análise para
avaliação de segurança, quer de efectiva intervenção de reabilitação e/ou reforço
estrutural, assim a inspecção e diagnóstico deverão cobrir uma maior ou menor gama de

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aspectos. Independentemente de serem (ou não) todos considerados num dado caso
específico apresentam-se os procedimentos a que têm sido adoptados nos diversos
trabalhos realizados ao longo dos últimos anos:
1. Recolha e análise histórica
2. Danos observados
3. Caracterização geométrica da construção existente
4. Caracterização mecânica
5. Identificação e estabelecimento de modelos estruturais adequados
6. Calibração do modelo numérico
7. Análise e interpretação dos resultados
8. Avaliação da Segurança
9. Técnicas de reforço a aplicar

Os aspectos mencionados, não sendo exaustivos da prática de inspecção e diagnóstico,


configuram um conjunto de etapas importantes a ter em conta e que, em larga medida,
constituem a metodologia adoptada nos diversos casos práticos que se tem tratado ao
longo dos últimos anos. De realçar que um aspecto fundamental a ter em conta neste
tipo de trabalhos é o que se refere à monitorização das construções, que deverá ser
sempre implementado, se possível logo no início do estudo, para que os resultados dessa
monitorização possam ajudar na decisão a tomar e possam no futuro aquilatar a
qualidade da intervenção realizada.
A execução da obra deverá ser sempre realizada por pessoal qualificado. Este tipo de
intervenção exige empresas vocacionadas para este tipo de trabalhos, que estejam
habituados a usar tecnologias apropriadas e que possam interactuar com a equipa
projectista, já que no decorrer da obra surgem normalmente situações que obrigam a
medidas especiais ou a alterações importantes que devem ser explicadas e apreendidas
de uma forma célere e eficiente pela pessoas responsáveis pela obra.
Iremos procurar clarificar e discutir cada um dos procedimentos referidos associando-os
a casos práticos e procurando mostrar que em qualquer um desses casos o respeito e a
preocupação pelas Recomendações do ICOMOS deverá estar sempre presentes no
trabalho a desenvolver.

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2.2.1- Recolha e análise histórica
O conhecimento dos critérios de projecto inicial (quando disponíveis) e de eventuais
sucessivas fases de construção ou intervenções estruturais, assim como das técnicas de
construção e características dos materiais usados, pode ser de grande utilidade para a
interpretação do comportamento estrutural e para a definição de pesquisas adicionais de
maior especificidade [4]. Nas figuras 2.1 e 2.2 apresentam-se alguns exemplos de
elementos recolhidos na pesquisa histórica. No caso da figura 2.1 apresentam-se
fotografias relativas ao estudo desenvolvido para a Igreja do Mosteiro da Serra do Pilar
[5], e na figura 2.2 a) uma fotografia alusiva à construção da Ponte Luiz I e obtida no
âmbito de um estudo que teve como principal objectivo avaliar as consequências da
passagem do metro na referida ponte e ao mesmo tempo efectuar um levantamento das
anomalias que a obra apresentava, já que as últimas intervenções de manutenção
decorreram nos anos 80 [6]. Na figura 2.2 b) apresentam-se pormenores de armaduras
do sistema Hennebique, recolhidas no trabalho de avaliação da segurança estrutural do
edifício Palladium, sito no gaveto das ruas de Stª Catarina e de Passos Manuel e onde
foi possível verificar que na perspectiva da Engenharia Civil o edifício teve muitos
motivos de interesse, uma vez que se tratava de um dos primeiros, se não mesmo o
primeiro edifício construído no Porto inteiramente em betão armado, [7].
Ao tempo esta tecnologia, então nascente, era exclusivo de certos "engenheiros-
construtores" detentores de patente como é o caso de Coignet, Hennebique e outros.
A consulta de tratados da época (C. Berger e V. Guillerme - La Construction en Ciment
Armé - 1909; M.-A. Morel - Le Ciment Armé et ses Applications - 1913; M. G.
Espitallier - Béton Armé - 1913) que descrevem os vários sistemas então utilizados,
permitem uma provável atribuição da construção a Hennebique cuja pormenorização de
armaduras é muito idêntica aquela que se encontrou na pesquisa bibliográfica efectuada.
Destes pormenores refiram-se como mais característicos, a utilização de estribos em
chapa de ferro, abraçando cada um apenas um varão inferior ao seu correspondente na
face superior, quando existe, e a utilização de varões de momentos negativos que, muito
próximo ainda dos apoios, são baixados em direcção aos terços de vão, transpondo para
o interior do betão o esquema de "viga armada", ou seja com tirante exterior, figura 2.2
b).

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Figura 2.1 – Recolha de informação histórica

a) Pormenor da construção da b) Pormenores de armaduras do


Ponte Luíz I sistema Hennebique
Figura 2 – Recolha de informação histórica

2.2.2- Danos observados


A identificação de todas as patologias (estruturais em particular) e a elaboração de um
registo fotográfico detalhado e adequadamente localizado nas peças desenhadas da
construção é um dos aspectos essenciais no desenvolvimento deste tipo de trabalhos.
Em particular, o levantamento das fendas observáveis na estrutura, a sua distribuição e
abertura são elementos importantes para uma avaliação qualitativa primária do
equilíbrio e da segurança estrutural, bem assim como o reconhecimento de possíveis
causas de instabilidade [8]. Especial atenção deve ser devotada à eventual presença de
água no interior das construções, frequentemente resultante de problemas de infiltrações
ou de deficiente drenagem das águas pluviais e que estão na origem de muitas avarias
estruturais. Em regra, uma inspecção visual pode já fornecer informações preciosas
sobre o estado de conservação e sobre as medidas a adoptar na fase de reabilitação. No
caso da ocorrência de uma catástrofe natural, por exemplo um sismo, situação mais ou

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menos frequente nos Açores, os danos podem ser significativos e distribuídos pelas
diversas construções históricas das ilhas, afectando de um modo muito significativo o
património português. Nas figuras 2.3 a) e 2.3 b) apresentam-se dois aspectos da
destruição causada pelo sismo de 9 de Julho de 1998 numa Igreja da Ilha do Pico, figura
2.3 a) e numa moradia da Ilha do Faial, figura 2.3 b), (para mais informação ver [9] e
[10]). Na figura 2.3c) apresenta-se um aspecto dos danos verificados na Igreja de St.
António de Viana do Castelo [11], atribuíveis a um assentamento na base das colunas
tendo-se recomendado um plano de monitorização, que foi efectuado e que irá permitir
compreender o tipo de movimentos que as colunas estão a sofrer e a partir da análise
desses resultados a intervenção a efectuar.

(a) Igreja da Ilha do Pico (b) Moradia na Ilha do Faial (c) Igreja de St. António
Figura 2.3 – Danos Observados

2.2.3- Caracterização geométrica da construção existente


A definição geométrica da construção existente, recorrendo a elementos já existentes ou
baseada (ou complementada) em levantamentos com meios topográficos tradicionais ou
com técnicas fotogramétricas é fundamental num trabalho desta natureza. Um estudo
geométrico rigoroso permite desde logo detectar eventuais irregularidades, tais como
desvios verticais e horizontais relacionados com as avarias estruturais [8]. No caso da
Igreja de Vimioso, figura 2.4 a) [12] esse levantamento permitiu detectar irregularidades
ao nível da nave da cobertura, em contrafortes e no arco do altar. No caso da Ponte Luiz
I, figura 2.4 b), teve-se acesso ao projecto original, cuja memória descritiva era assinada
por Gustave Eiffel e foi possível verificar que o projecto não correspondia ao que tinha
sido efectivamente construído. Os desenhos disponíveis do projecto original, Figura 2.5,
permitiram quase na totalidade definir a geometria geral da obra, a menos de algumas
questões levantadas, quando se depararam com desenhos que continham correcções

APONTAMENTOS – ESTRUTURAS DE ALVENARIA DE PEDRA


feitas à posteriori. Houve assim necessidade de analisar a obra real de modo a despistar
as dúvidas que surgiram no levantamento da geometria.
A confrontação da informação disponível com a obra real, permitiu concluir que a zona
central compreendida entre os dois maiores pilares metálicos é a única que se encontra
em conformidade com o projecto original.

Tramo 1 Tramo 2 Tramo 3 Tramo 4 Tramo 5 Tramo 6 Tramo 7 Tramo 8 Tramo 9 Tramo 10 Tramo 11 Tramo 12 Tramo 13
GAIA PORTO

Pilar 1
Pilar 2 Pilar 3

a) Levantamento topográfico da b) Caracterização geométrica da


Igreja de Vimioso Ponte Luiz I
Figura 2.4 – Caracterização Geométrica

Os restantes tramos do tabuleiro superior, quer do lado de Gaia quer do lado do Porto,
apresentam comprimentos diferentes. Verificou-se ainda que as vigas do 1º tramo do
lado de Gaia se encontram divididas em 8 aspas, em vez das 9 de projecto, e as vigas do
2º tramo constituídas por 10 aspas em vez das 11 de projecto. Aspa é a porção de viga
entre dois montantes consecutivos [6].

Figura 2.5 – Alçado de montante, reprodução do projecto original

2.2.4- Caracterização mecânica

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No desenvolvimento do trabalho é fundamental a definição de eventuais ensaios a
realizar para caracterização dos materiais e da estrutura, incluindo os elementos das
fundações. Os ensaios sobre materiais de diversas partes da estrutura e das fundações,
através da recolha de amostras para análise em laboratório ou mediante ensaios não-
destrutivos (ou até ligeiramente destrutivos) realizados in-situ, destinam-se
essencialmente à sua caracterização física e mecânica e, eventualmente à identificação e
calibração de relações constitutivas a usar nos modelos estruturais [13]. Por seu turno,
os ensaios estáticos ou dinâmicos envolvendo a construção no seu todo ou em partes,
são destinados a validar o seu comportamento estrutural quer em termos das suas
prestações em serviço (ex.: ensaios de carga) quer em termos de resultados
comparativos para calibração do modelo estrutural [6].
No caso de estruturas de alvenaria de pedra, podem-se extrair carotes de pedra e de
pedra e junta de modo a ser possível realizar uma série de ensaios, por exemplo,
resistência à compressão e tracção da pedra, ensaios de carga normal e de deslizamento
em juntas, etc, por outro lado devem ser efectuados outros ensaios in situ, por exemplo
medição da velocidade de ultra-sons, tomografias, etc. Na figura 2.6 apresenta-se os
ensaios realizados na Igreja do Mosteiro da Serra do Pilar, situada em Vila Nova de
Gaia, num estudo desenvolvido no âmbito de uma tese de mestrado [5].
A extracção das amostras a ensaiar, que foi realizada em duas paredes da fachada da
igreja, com recurso a uma máquina de corte rotativo com coroa diamantada, permitiu ter
uma ideia da disposição das pedras ao longo do interior das paredes, bem como dos
vazios das mesmas.

(a) extracção de carotes (b) amostra de material (c) interior dos orifícios
Figura 2.6 – Extracção de carotes na Igreja do Mosteiro da Serra do Pilar
A partir das carotes extraídas no local é possível realizar uma série de ensaios, de que se
apresentam alguns na figura 2.7, que permitem obter a resistência à compressão, à
tracção, ao corte e o módulo de elasticidade.

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(a) compressão (b) tracção (c) corte
Figura 2.7 - Ensaios sobre carotes de pedra
As construções históricas são normalmente realizadas em paredes de alvenaria com
juntas secas ou com junta com argamassa, sendo importante quantificar a resistência a
cargas normais e ao deslizamento dessas juntas. Na figura 2.8 apresentam-se alguns
ensaios realizados.

(a) provete de junta (b) fase inicial do ensaio (c) provete após ensaio de
corte
Figura 2.8 - Ensaios de caracterização das junta
A partir dos ensaios de carga normal e de deslizamento [5] pode-se estimar a rigidez
normal e tangencial das juntas, o que permite definir a lei de comportamento das juntas.
Além de ensaios a provetes extraídos nas construções é possível avaliar as
características de elementos estruturais, recorrendo a outro tipo de ensaios.
No estudo já referido [5] determinou-se o módulo de elasticidade das paredes da Igreja
(referido à zona ensaiada) com recurso à utilização de um dilatómetro, que através da
aplicação de uma pressão do tipo hidrostática exercida pelo dilatómetro (nomeadamente
na zona da membrana do aparelho) sobre as paredes de furos realizados na estrutura,
figura 2.9, e com recurso à medição dos deslocamentos resultantes da pressão aplicada
permite determinar o módulo de elasticidade da zona em análise [5].

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(a) equipamento (b) colocação do dilatómetro (c) ensaio
Figura 2.9 - Ensaio de dilatómetro
Também é frequente recorrer-se a ensaios experimentais, no local ou em laboratório
para caracterizar mecanicamente elementos estruturais. Na figura 2.10 apresenta-se dois
exemplos de ensaios, que permitiram avaliar a capacidade resistente das paredes à acção
dos sismos mas também permitem a obtenção do módulo de elasticidade das paredes
[14] e [15].

a) Ensaios no Faial em paredes b) Ensaio em laboratório numa


de alvenaria de moradias parede de alvenaria proveniente dos
Açores
Figura 10 – Ensaios em elementos estruturais

2.2.5- Identificação e estabelecimento de modelos estruturais adequados


A identificação e estabelecimento de modelos estruturais adequados, baseados em
premissas coerentes com a observação da estrutura e com os resultados dos ensaios
experimentais (caso existam) é um ponto essencial na avaliação da segurança das
construções existentes. Esta avaliação da segurança é uma tarefa difícil, uma vez que os
métodos de análise estrutural utilizados para construções novas podem não ser precisos
nem fiáveis para as estruturas históricas, podendo resultar em decisões inadequadas. Isto
deve-se a diversos factores, tais como a dificuldade em entender correctamente a
complexidade de uma construção antiga ou monumento, as incertezas relativas às

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características dos materiais, a representação imperfeita do comportamento estrutural,
associada às simplificações adoptadas. A essência do problema é identificar modelos
numéricos que descrevam adequadamente a estrutura e os fenómenos associados com
toda a sua complexidade, tornando possível a aplicação das teorias disponíveis.
A análise estrutural é uma ferramenta indispensável mas a compreensão dos aspectos -
chave e a fixação correcta dos limites para o uso das técnicas matemáticas depende da
utilização que o especialista faz do seu conhecimento científico. Qualquer modelo
deverá ter em conta três aspectos fundamentais na avaliação da segurança: o esquema
estrutural, as características dos materiais e as acções a que a estrutura está submetida.
Na definição dos modelos estruturais convém ainda ter em conta o objectivo da
modelação, já que tal poderá influenciar a configuração dos modelos. Estes podem ser
concebidos com o objectivo de reproduzir e interpretar as avarias estruturais
encontradas, ou de prever a resposta estrutural sob condições ainda não experimentadas
ou ainda de simular os efeitos resultantes de intervenções de reabilitação e/ou reforço
[4].
Nos trabalhos realizados têm sido usados diversos programas de cálculo automático,
salientando-se o programa, NLDYNA, que foi desenvolvido na FEUP [16] e permite
utilizar elementos sólidos tridimensionais e elementos de barra, entre outros, tendo sido
adoptado para realizar as modelações e análises de construções em alvenaria. Com os
elementos sólidos tridimensionais modelam-se as paredes de alvenaria, escadas, pilares,
vigas, etc. Os elementos de barra serviram para modelar os barrotes de madeira que
constituem o pavimento e o tecto.
Outro programa bastante usado é o CASTEM2000, [17] que é uma ferramenta mais
geral de modelação e análise estrutural e está disponível na FEUP e noutras instituições
universitárias nomeadamente UA, LNEC e IST através de protocolos de utilização e
desenvolvimento estabelecido com a sua instituição de origem, o CEA (Centro de
Energia Atómica francês) em Paris. Em estreito contacto com o Laboratório ELSA
(European Laboratory for Safety Assessment) da Comissão Europeia em Ispra, Itália,
que é uma instituição com forte experiência na utilização de CASTEM2000, este
programa tem vindo a ser usado de forma intensiva nas diversas instituições no âmbito
do estudo de estruturas antigas de alvenaria de grandes dimensões [5], [18]. Na figura
2.11 apresentam-se os modelos numéricos da Igreja do Mosteiro da Serra do Pilar sita

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em Vila Nova de Gaia e o da Igreja das Bandeiras da Ilha do Pico, Açores, modeladas
com recurso ao CASTEM2000, na figura 2.12 a) o modelo estrutural de uma moradia
da Ilha do Faial, Açores modelada com recurso ao NLDYNA e na Figura 2.12 b) o
modelo da Ponte Luiz I que foi modelada com recurso ao programa FEMIX [19]
desenvolvido na FEUP e que foi usado em alguns casos.

a) Igreja do mosteiro da Serra do b) Igreja dos Açores


Pilar
Figura 2.11 – Modelos numéricos

a) Moradia dos Açores b) Ponte Luíz I


Figura 2.12 – Modelos Numéricos

2.2.6- Calibração do modelo estrutural


A calibração dos modelos numéricos e o ajuste criterioso dos parâmetros de
comportamento (eventualmente sustentado por análises de sensibilidade), de forma a

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reproduzir o melhor possível a resposta estrutural obtida dos ensaios experimentais
assumem particular importância na avaliação da segurança de uma construção existente.
Esta calibração é normalmente efectuada com recurso à comparação das frequências
numéricas com as experimentais, assim, numa primeira fase são calculadas as
frequências próprias das estruturas das construções, usando-se para as propriedades dos
materiais os valores obtidos nos ensaios realizados in situ [14] e numa segunda fase e
sempre que possível, são medidas experimentalmente as frequências nos locais,
procedendo-se em seguida à comparação dos valores obtidos no cálculo com os
experimentais, permitindo assim realizar uma calibração mais sustentada dos valores
adoptados para essas propriedades dos materiais (basicamente, o módulo de elasticidade
da alvenaria). A medição experimental das frequências tem sido realizada de uma forma
sistemática em quase todas as construções em que se tem intervido, para calibrar as
propriedades dos materiais, muitas vezes procurando obter só a primeira frequência
[14], [15], [20] e noutras procurando-se fazer uma identificação modal de modo a ser
possível a obtenção das primeiras frequências e dos respectivos modos de vibração,
[18], [21], [22]. Na figura 2.13 apresenta-se os registos obtidos na campanha
experimental realizada na Igreja do Mosteiro da Serra do Pilar e na figura 2.14 os
modos de vibração obtidos numericamente.
4,0 1.E+02
4.44 Hz

6.79 Hz
3,0
1.E+01
2,0
Acceleration (mg)

Explosion
1.E+00
1,0
S ((cm/s2)2/Hz)

0,0
1.E-01
-1,0
9.96 Hz
9.52 Hz
8.64 Hz
3.08 Hz

Ambient vibration 1.E-02


0.63 Hz

-2,0
3.52 Hz

-3,0 1.E-03

-4,0
4 4,5 5 5,5 6 1.E-04
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0
T im e (seg.)
frequência (Hz)

a) Instalação de sensores b) Registos e cálculo de correlações


Figura 2.13 – Calibração de modelos numéricos

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a) 1º modo de vibração b) 2º modo de vibração
Figura 2.14 – Modos, numéricos, de vibração da Igreja da Serra do Pilar

2.2.7- Análise e interpretação dos resultados


A análise estrutural é uma ferramenta indispensável. Mesmo quando os resultados do
cálculo e a análise não são exactos, é possível obter distribuições das tensões e
isostáticas de tracção e compressão que permitem identificar possíveis zonas críticas,
figura 2.15 [10]. Os modelos numéricos, devidamente calibrados, como se referiu no
ponto anterior, permitem a comparação dos danos teóricos produzidos pelos diferentes
tipos de acções com os danos efectivamente observados, ver figura 2.16 relativa ao
estudo efectuado para o reforço da Igreja das Bandeiras, na Ilha do Pico, [9]. È evidente
que a compreensão do comportamento estrutural da construção e a análise e
interpretação dos resultados, bem como a correcta definição dos limites de validação
dos modelos numéricos depende da utilização que o especialista faz do seu
conhecimento científico e da sua experiência prática. Um programa apropriado de
investigação, com vários técnicos envolvidos, a experiência de vários casos
acompanhados, ao longo dos tempos e sempre que possível, monitorizados, podem
aumentar a fiabilidade da análise e da interpretação dos resultados.

APONTAMENTOS – ESTRUTURAS DE ALVENARIA DE PEDRA


(a) Esforços normais (b) Momentos flectores
Figura 2.15 – Tensões máximas na fachada principal

(a) Fachada Principal e Torres (b) Torre direita e alçado lateral


direito
Figura 2.16 – Isóstáticas de tracção e compressão e fendas verificadas
no local

2.2.8- Avaliação da Segurança


A avaliação da segurança é efectuada com base na análise dos resultados obtidos na
modelação estrutural e da sua comparação com a capacidade resistente dos elementos
estruturais que compõem o edifício, com base em princípios e regras pré-definidas,
serão identificados os diversos elementos a reforçar.
A avaliação da segurança é um passo essencial na análise e interpretação dos danos
observados e na conclusão do diagnóstico, dado que permitirá tomar decisões sobre a
necessidade e extensão das medidas de intervenção. No entanto esta tarefa é
extremamente difícil uma vez que a dificuldade em entender correctamente a

APONTAMENTOS – ESTRUTURAS DE ALVENARIA DE PEDRA


complexidade de uma construção antiga ou monumento, as incertezas relativas às
características dos materiais (apesar da calibração dos modelos já referida) e o
conhecimento deficiente da história correcta da construção levanta dificuldades, que,
por vezes, só a realização de ensaios de carga ajuda a ultrapassar [23] e a monitorização
e a experiência da equipa permite contornar.
A análise combinada de toda a informação obtida, em cada um dos pontos descritos
anteriormente e o estabelecimento de determinados princípios [7] podem conduzir à
melhor decisão sobre as medidas a tomar. Por exemplo, no trabalho já referido sobre a
Ponte Luíz I, elaborou-se um programa que gerava o desenho da ponte, colorindo as
barras conforme a tensão nelas instalada. Os intervalos de tensão correspondentes a
cada cor, idênticos para tracção e compressão, foram adoptados segundo o esquema
seguinte:
σ instalado σ instalado σ instalado
0.5 ≥ 0.875 < ≤ 1.0 1.125 < ≤ 1.25
(preto) σ rd σ rd σ rd
(azul claro) (amarelo)

σ instalado σ instalado σ instalado


0.5 < ≤ 0.875 1.0 < ≤ 1.125 > 1.25
(azul escuro) σ rd (verde) σ rd (vermelho) σ rd

A tensão σrd, usada para tensão de referência, foi obtida por majoração da tensão que,
de acordo com a literatura especializada, é considerada como tensão admissível para
aços de obras com idade idêntica à Ponte Luiz I, ou seja, a tensão de 105 MPa. Os
ensaios experimentais efectuados com os provetes retirados da ponte confirmaram este
valor.
σrd = 1.5×105 = 157.5 MPa
A apresentação dos resultados revelou-se muito sugestiva e a sua interpretação resulta
bastante simplificada, tornando evidentes as barras cujas tensões estão próximas ou
excedem o máximo admissível. A figura 2.17 exibe para uma dada combinação das
acções, conforme notação utilizada, a coloração da ponte conforme a tensão instalada
nas barras, de acordo com os intervalos anteriormente apresentados e donde é possível
concluir quais as barras a reforçar.

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Figura 2.17 – Coloração dos elementos estruturais da Ponte Luíz I em função da tensão
instalada
2.2.9 Técnicas de reforço a aplicar
A decisão e a escolha das técnicas de reforço devem ser o resultado da análise global e
de investigação. Em primeiro lugar, deve-se avaliar a segurança presente e depois os
níveis esperados ou que podem ser alcançados como resultado da acção; a análise
matemática, especialmente com respeito ao comportamento sísmico de construções
antigas é frequentemente só parcialmente fidedigna e a análise teórica deveria ser
sempre interpretada em função do comportamento da estrutura ao longo do tempo e
com observação no local precisa e com muita experiência prática [1].
As intervenções em construções, são um compromisso entre a execução de um pequeno
trabalho de conservação, tentando não interferir com o conceito original da construção e
a necessidade de uma intervenção de reforço para assegurar as exigências de segurança;
assim, o trabalho deve ser determinado e deve ser levado a cabo conforme uma análise
detalhada das técnicas específicas e tecnologias que eram originalmente usadas na
construção.
As técnicas de reforço em construções podem ser essencialmente de dois tipos:
preventivas ou interventivas; referindo-se as primeiras às técnicas a usar para prevenir,
evitar ou atenuar os danos e o colapso e as segundas às técnicas de intervenção a
realizar após a ocorrência dos danos. Qualquer uma destas técnicas passa
essencialmente por duas metodologias de intervenção: actuação ao nível global da
construção ou intervenção ao nível dos elementos estruturais.

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2.2.9.1 – Actuação ao Nível Global da Construção

Nas construções antigas a actuação ao nível global deverá consistir em: assegurar a
continuidade entre os diversos elementos estruturais (nestes casos paredes, pisos e
coberturas); assegurar as conexões (ligações) entre esses elementos e introduzir apoios
(ligações) entre os mesmos. Uma técnica de reforço bastante antiga (implementada na
Ilha do Faial, na sequência do sismo de 1927) e que se tem revelado bastante eficiente,
consiste na introdução de tirantes ao nível dos pisos, figura 2.18,que permitem ligar os
panos de parede opostos de alvenaria e que no caso das empenas soltas (paredes
orientadas na direcção dos barrotes que realizam o soalho) são fundamentais.

Figura 2.18 – Utilização de tirantes para ligar paredes


Esta técnica está amplamente difundida e tem vindo a ser aplicada de uma forma
sistemática ao longo dos tempos, figura 2.19 e também em intervenções recentes nos
Açores, figura 2.20.

Figura 2.19 - Utilização de tirantes para ligar paredes

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Figura 2.20 – Utilização de tirantes para ligar paredes

Muitas vezes a colocação desses tirantes poderá colocar problemas estéticos e


arquitectónicos, que terão de ser equacionados e resolvidos na altura da execução. Uma
solução possível, principalmente para monumentos (igrejas) será a utilização de uma
estrutura de cobertura, que poderá desempenhar diversas soluções estruturais: tirante a
unir a cabeça dos contrafortes; tirantes de sustentação das pedras do arco, de modo a
evitar o seu desprendimento e o alívio das cargas no arco (ver figura 2.21).

Figura 2.21 – Reforço dos arcos e atirantamento dos contrafortes (Igreja do Bonfim –
Projecto do Prof. J. Sarmento)

Outras técnicas, com os mesmos objectivos, têm vindo a ser aplicadas em obras de
reforço, nas figuras 2.22 e 2.23, apresentam-se alguns exemplos de reforços de
construções de alvenaria de pedra, com vista a melhorar o seu comportamento global.
Estas técnicas têm como finalidade assegurar as ligações entre paredes opostas,
obrigando-as a trabalhar em conjunto e conferindo-lhes apoios ao longo da sua altura.

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Muitas destas intervenções poderiam ser facilmente aplicadas na reabilitação das
construções das cidades de Portugal, nomeadamente em zonas onde a probabilidade de
ocorrência de sismos de grande magnitude é maior, principalmente na realização das
denominadas obras de “Reabilitação Urbana” e outras do mesmo tipo.

Figura 2.22 – Estrutura metálica para assegurar a ligação entre todas as paredes da
construção

Figura 23 – Cantoneira usada em toda a envolvente da construção para assegurar a


ligação entre todas as paredes [20]
Em resumo, poderemos referir que, normalmente, as técnicas de reforço a usar,
consistem em assegurar o funcionamento correcto de todas as conexões estruturais e
melhorar a tensão de tracção nas zonas críticas, sendo as acções de reforço mais
frequentes as seguintes:

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• As paredes devem ser ligadas umas às outras, ligando os elementos individuais,
tijolos ou pedras, ou reforçando-os, usando elementos horizontais adicionais ou
outros elementos de aço ou fibras, figura 24. A solução final deste tipo de
reforço estará sempre dependente de se conhecer a constituição e o modo
construtivo das paredes da construção.
• Deve-se assegurar que a força nos cantos aos níveis de topo onde as forças de
compressão são mais baixas devido ao peso reduzido é bem absorvida, podendo
em alguns casos obrigar a amarrar a parede a outros elementos construtivos,
figura 25.
• Deve-se assegurar uma boa transmissão dos esforços dos arcos e das abóbadas
para os contrafortes e paredes e a estabilidade desses contrafortes, que são muito
sensíveis à ocorrência de assentamentos. É importante tentar anular as
componentes horizontais dos impulsos que são transmitidos na cabeça das
paredes ou dos contrafortes, podendo usar-se para o efeito tirantes ou outras
soluções que procurem minimizarem estes esforços, figura 26.
• Abóbadas e arcos realizadas em alvenaria radial não necessitam, normalmente,
de reforço especial. É diferente com abóbadas construídas com “reboco e
argamassa pobre”. Nestes casos, pode-se usar capas de betão em cima do
extradoso ou superfície de topo para reforçar a abóbada ou arco, mas este tipo de
solução só deverá ser usado como uma medida de emergência e só depois de
perceber bem a constituição da abóbada e quando nenhuma outra solução seja
possível para estabilizar a estrutura.
• A conexão entre as paredes com os pisos e o telhado deve ser satisfatória, para
prevenir a separação completa da fachada; soluções como a que se apresenta na
figura 27, pode ser muito efectiva, especialmente ao nível de telhado mas, como
sempre, o uso deles deve ser avaliado no contexto geral da história da
construção. A eficiência das conexões entre a cobertura e as paredes, que estão
sujeitas a forças perpendiculares horizontais é importante para a estabilidade das
paredes, já que troca o desfavorável comportamento em consola para o
"comportamento de viga" apoiada, figura 28.

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Figura 2.24 – Ligações entre elementos estruturais [9]

Figura 2.25 – Esquemas de ligação entre paredes [24]

Figura 2.26 – Tirantes para absorver as componentes horizontais dos impulsos

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a) Perspectiva b) Planta
Figura 2.27 – Amarração da parede na extremidade das paredes [10]

Figura 2.28 – Apoios das paredes ao longo da sua altura [10]

2.2.9.2 – Intervenção ao Nível dos Elementos Estruturais

A intervenção ao nível dos elementos estruturais, no caso das estruturas de alvenaria,


está relacionada com os materiais, que nestes casos são: a argamassa que pode ser
consolidada ou fortalecida através de diversas tecnologias, que são conhecidas; a
alvenaria que pode ser melhorada de modo a evitar-se a separação de pedras únicas e de
paredes de revestimento em alvenaria dupla, podendo para o efeito serem usadas
injecções e em alguns casos usadas barras adicionais de reforço para assegurar conexões

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adequadas entre as paredes e portanto nestes casos as técnicas estão associadas ao
melhoramento do comportamento da argamassa e das paredes de alvenaria. Uma técnica
que tem sido bastante usada nos Açores e testada em laboratório, com ensaios
experimentais realizados em paredes originárias do Faial, Açores, tem sido a aplicação
de redes de aço inox em ambas as faces da parede, sendo estas ligadas por conectores
metálicos, para realizar os chamados “travadouros” das paredes de alvenaria. Nas
figuras 2.29 e 2.30 apresentam-se imagens deste tipo de reforço, cuja eficácia foi
comprovada em laboratório, [15].

Figura 2.29 – Reforço de paredes de alvenaria com malhas de aço inox [15]

Figura 2.30 – Reforço de paredes de alvenaria com malha de aço inox [15]

Uma outra técnica consiste na injecção do interior da parede, de modo a haver um


preenchimento dos vazios internos da parede e uma homogeneização do material, figura
2.31.

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Figura 2.31 – Injecção em paredes de alvenaria de pedra

2.3- Conclusões
Os principais procedimentos a adoptar numa avaliação de segurança e reforço de uma
construção existente, foram apresentados e discutidos, procurando-se para cada um
deles apresentar casos práticos, essencialmente aplicados a monumentos e a construções
em alvenaria, mas que podem e devem ser usados para outras construções e para outros
materiais. Na aplicação destes procedimentos procurou-se seguir os princípios
estabelecidos nas “Recomendações para a Análise, Conservação e Restauro Estrutural
do Património Arquitectónico” [1].
Uma outra finalidade deste capítulo é procurar contribuir para a discussão dos
procedimentos usados de modo a ser possível, no futuro, o estabelecimento de
metodologias comuns, nas diversas instituições, devidamente aferidas e calibradas, para
o estabelecimento de normas e princípios que possam servir de base regulamentar e que
possam ser usadas nas instituições do estado que tutelam o património português,
nomeadamente a DGEMN e o IPPAR, bem como nas Câmaras Municipais e outras
instituições que têm a seu cargo preservar e conservar o património.

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Foram também apresentadas diversas técnicas de reparação e reforço, quer ao nível de
um reforço global quer ao nível do reforço dos elementos estruturais, que têm vindo a
ser usadas e que podem servir de ponto de partida para o estabelecimento de um manual
de reparação e reforço que poderá no futuro dar origem ao estabelecimento de uma
normativa neste domínio.

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