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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Aula: Racionalização, industrialização e inovações


tecnológicas na construção civil

Disciplina: Gerenciamento de Obras


Profa. Débora de Gois Santos

São Cristóvão, Sergipe


Versão 3

Prof. Débora de Gois Santos 1


Racionalização de Obra

1. Racionalização

A racionalização surgiu a partir do momento em que os profissionais e


pesquisadores verificaram que para reduzir os custos era necessário eliminar os
desperdícios na produção, mas para que isto acontecesse era necessário ter um
padrão para comparar o que foi produzido e medir seu desvio. Deste modo, a
racionalização nada mais é do que a padronização de elementos e componentes de
construção, bem como o uso de ferramentas que auxilie no cumprimento destes
padrões.
Neste contexto, a racionalização inicia na fase de concepção dos projetos e
passa por planejamento e execução da construção, para que o produto edificado
seja entregue conforme o especificado pelo cliente.

2. Coordenação de projetos em edificações

Na construção civil são vários os projetos e profissionais envolvidos na


materialização de uma edificação. Assim, torna-se necessário para garantir um
padrão especificado na coordenação desses projetos. Os objetos são:
• Garantir a perfeita comunicação entre os participantes do projeto.
• Garantir a comunicação e a troca de informações entre os diversos
integrantes do empreendimento.
• Garantir a comunicação e integração entre as diversas etapas do
empreendimento.
• Coordenar o processo para solucionar as interferências entre as partes do
projeto.
• Conduzir as decisões a serem tomadas.
• Controlar a qualidade das etapas de desenvolvimento do projeto.

Estes objetivos podem ser aplicados para:


• Racionalização das soluções técnicas
• Racionalização do custo do trabalho – tratam de decisões de projeto
relacionadas à forma, dimensões, configurações de planta baixa,
posicionamento de elementos, componentes e materiais, que estão
relacionados com operações dos processos, condições de transporte,
circulação na obra e qualidade e habilidade requerida pela mão-de-obra.
• Racionalização dos custos de operação e manutenção – trata da durabilidade
de materiais e componentes, ocorrência de manifestações patológicas e
alterações nas necessidades dos usuários.

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3. Implementação da racionalização construtiva na fase de projeto

A fase de concepção é onde os resultados para os problemas de construção


são mais eficientes. É também onde se inicia a racionalização construtiva. A
racionalização construtiva quando aborda o projeto e sua relação com o processo de
construção recai sobre a construtibilidade.
“As mudanças ocorridas no decorrer do processo histórico de civilização
levaram o homem a viver e trabalhar em abrigos artificiais por ele construídos,
gerando assim um ramo básico da atividade humana: a construção de edifícios.
Essa atividade sofreu algumas alterações desde sua origem e, particularmente, a
partir da introdução da tecnologia em substituição parcial ao empirismo, bem como
da especialização profissional crescente, pôde-se perceber que as mudanças não
foram adequadamente absorvidas pela construção civil. Dentro desse enfoque, a
concentração da atividade de projeto, distorcido o papel do mesmo pelas mudanças
ocorridas ao longo dos tempos, apresenta-se hoje incoerente e inadequada, com
reflexos negativos sobre a qualidade”.
Para se atingir este objetivo de racionalização da fase de projeto é essencial a
coordenação de projetos, normalmente associada aos princípios de
construtibilidade. Deste modo, os princípios de racionalização nesta fase, são:
• Construir numa mesma seqüência.
• Reduzir o número de operações na construção.
• Simplificar o projeto dos elementos.
• Padronizar os componentes da construção.
• Coordenar dimensionalmente os materiais.

4. Construtibilidade

Muitos autores entendem que a fase de projeto é a mais propícia para tomar
medidas que visam a racionalização, através de incrementos da construtibilidade.
Segundo CII (1987), construtibilidade “é o uso otimizado do conhecimento das
técnicas construtivas e da experiência nas áreas de planejamento, projeto,
contratação e da operação em campo para atingir os objetivos globais do
empreendimento”.
É o envolvimento das pessoas com experiência e conhecimento em execução
de construções, desde as etapas iniciais do empreendimento. É importante a
participação de todos os envolvidos com a execução e com a elaboração dos
projetos.
A construtibilidade é uma diretriz para se atingir uma maior racionalização dos
processos porque ela: “integra projeto e construção dentro de uma visão holística,
adotada prioritariamente em todas as etapas os dados provenientes das operações
construtivas e considera que a solução ótima é a de maior construtibilidade”
(SABBATINI, 1989).

5. A construtibilidade é efetivada no processo executivo através de:


a) Planejamento e programação orientando às necessidades da construção.

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b) Simplificação dos projetos.
c) Padronização.
d) Modulação e pré-montagem.
e) Acessibilidade (“manuseabilidade”).
f) Projeto orientado para condições ambientais adversas.
g) Especificações.

6. Racionalização da construção

A racionalização da construção “é uma ação ou um conjunto de ações


praticadas com objetivo de tornar racional a atividade construtiva”. É uma ferramenta
da industrialização, onde:
INDUSTRIALIZAÇÃO = RACIONALIZAÇÃO + MECANIZAÇÃO

O objetivo é a otimização do uso dos recursos disponíveis em um dado instante


e em certo local. Os locais de atração são: formação de recursos humanos;
indústrias de materiais de construção e de maquinário e equipamentos;
normalização e controle da qualidade; legislação de uso do solo e atos normativos;
pesquisas tecnológicas; processos e sistemas construtivos.
Por sua vez, a racionalização construtiva “é um processo composto pelo
conjunto de todas as ações que tenham por objetivo otimizar o uso dos recursos
materiais, humano, organizacionais, energéticos, tecnológicos, temporais e
financeiros disponíveis na construção em todas as suas fases”.

7. Técnicas, métodos, processos e sistemas construtivos

É possível racionalizar um elemento construtivo ou etapas de uma construção.


Como verificado anteriormente, a racionalização é parte da industrialização. Logo,
diz-se que um sistema é mais industrializado quando ele possui etapas completas ou
mesmo todo o produto edificado resolvido. Deste modo, podemos racionalizar
elementos de construção, técnicas, métodos, processos e o próprio sistema
construtivo, onde:
a) Técnica construtiva – “é o conjunto de operações empregadas por um
particular ofício para produzir parte de uma construção” (elevar uma parede, montar
uma fôrma, desforma) (SABBATINI, 1989).
b) Método construtivo - “é um conjunto de técnicas construtivas,
interdependentes e adequadamente organizados, empregado na construção de uma
parte, subsistema ou elemento, de uma edificação”. (SABBATINI, 1989). Cita-se
como exemplo: montar a estrutura com técnicas de fôrmas, dobras do aço; cura;
desforma.
c) Processo construtivo - “é um organizado e bem definido modo se construir
um edifício. Um específico processo construtivo caracteriza-se pelo seu particular
conjunto de métodos utilizados na construção da estrutura e das vedações do
edifício (invólucro)” (SABBATINI, 1989). Cita-se como exemplo: processo construtivo
em alvenaria estrutural, de paredes maciças de concreto.

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Técnica → método → processo

Operários equipe de engenharia (planejamento)

d) Sistema construtivo - “é um processo construtivo de elevados níveis de


industrialização e de organização, constituído por um conjunto de elementos e
componentes inter-relacionados e completamente integrados pelo processo”
(SABBATINI, 1989). Cita-se como exemplo componentes, na forma de hardware,
software e orgware; banheiros prontos.

8. Exemplos de racionalização retirados de publicações técnico/científicas e em


revistas técnicas

a) Laje de concreto armado


• Objetivo: reduzir espessura de revestimento do piso.
• Como: a racionalização baseia-se na minimização de desperdícios com a
coordenação do processo de projeto, adoção de procedimentos claros de execução
e controle, bem como realização de ‘projeto para produção’, detalhamento da
execução dos serviços.
O projeto para produção garante que as soluções adotadas sejam abrangentes,
integradas e detalhadas, para que a execução ocorra de forma contínua, sem
alterações e imprevistos. Ele determina a forma como o processo de produção será
conduzido.
• Solução: projeto para produção com definição do sentido de concretagem,
delimitação e sentido dos panos de concretagem, posicionamento das caixas de
passagem e gabaritos, definição do caminho de concretagem, definição da posição
das taliscas ou mestras metálicas.

b) Estratégias de canteiro
• Objetivo: organizar movimentações no canteiro. Neste caso, a racionalização
dá-se por meio das estratégias adotadas pela empresa.
• Como: estudo do sistema de transporte e dos locais de abastecimento,
procedimentos e planejamento detalhamento da obra, canteiro limpo.
• A solução passa por estratégias que utilizam, por exemplo: grua para
abastecimento de todos os materiais que chegam no canteiro e transporte interno
todo paletizado.
Um exemplo são sistemas construtivos cujas etapas construtivas são
desvinculadas e cada etapa é cumprida de uma vez, para evitar tocar várias frentes
de trabalho ao mesmo tempo. No caso de uma obra da empresa Impar/SP foi usada
laje nervurada e paredes de gesso acartonado para fazer esta quebra.

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c) Execução da alvenaria
• Objetivo: eliminar desperdícios e ineficiências no nível de produção.
• Como: para esta racionalização foram desenvolvidos equipamentos para
auxiliar o processo produtivo.
• Solução: primeiro identificaram-se os problemas da execução da alvenaria, e
em seguida foram desenvolvidos pallets para o transporte de blocos, assim como
carrinhos e porta-masseiras para a argamassa.

d) Movimentação de materiais em canteiro de obras.


Neste caso, a racionalização de processos é buscada pela implantação de
processos inovadores e pela implantação de medidas de aperfeiçoamento do próprio
processo convencional. O último tipo se encaixa no exemplo, onde a otimização deu-
se pelo transporte de materiais em canteiro de obras. Como justificativa tem-se que
na construção civil 100% das obras tem layout posicional e os recursos
movimentam-se em volta do produto.
• Objetivo: uso de pallet para transportar tijolos cerâmicos e sacos de cimento.
• Como: usar o pallet para transportar insumos como sacarias, tijolos, materiais
entregues em lata, azulejos, lajota e outros. Ele traz consigo a possibilidade de
mecanização com empilhadeiras e uso de paleteiras manuais.
• Solução: para usar o pallet os elementos têm que considerar irregularidades,
estudo do layout de canteiro, implantação de processos inovadores, implantação de
medidas de aperfeiçoamento do próprio processo convencional.

e) Aplicação de argamassa de assentamento


Outra forma de racionalização é através do estudo do processo para
conhecer as atividades constituintes, seria a racionalização do método. Neste caso,
a proposta foi a racionalização de uma bisnaga para a aplicação da argamassa, em
uma só camada, ainda racionalização de carrinhos de masseira e de blocos, o que
reduz o tempo de transporte, propicia posições de trabalho ergonômicas e possibilita
um fluxo contínuo de materiais.
• Objetivo: aplicar a argamassa de assentamento em uma só camada sobre a
superfície do bloco.
• Como: racionalização do método de aplicação da argamassa.
• Solução: desenvolvimento de bisnaga que aplique a argamassa em uma só
camada ao invés de duas; desenvolvimento de carrinho de masseira para reduzir
tempo de transporte e possibilitar economia e fluxo contínuo dos materiais.

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Industrialização

1. O que significa para a construção civil

Para a construção civil industrializar-se é sinônimo de evoluir. Neste caso, é


resultado da racionalização e do uso de mecanização. Ela, muitas vezes, traz
inovações tecnológicas para proporcionar esta industrialização. Porém, o uso destas
inovações esbarra na falta de conhecimentos técnicos a respeito das novas
tecnologias.

2. Como técnicas, métodos, processos e sistemas se enquadram na evolução da


industrialização.

Para Sabbatini o desenvolvimento de métodos, processos e sistemas


construtivos é uma atividade integralmente incorporada ao processo de
industrialização. O desenvolvimento de técnicas, métodos, processos e sistemas
construtivos; materiais e componentes e de técnicas de planejamento, controle e
organização das operações construtivas, contribuiu para a industrialização da
construção civil.

3. Racionalização como principal ferramenta

A principal ferramenta da industrialização é a racionalização, uma vez que a


construção civil é uma indústria que apresenta peculiaridades se comparada à
indústria tradicional, de posição fixa, não sujeitas a intempéries.

4. Diferenças de industrialização e pré-fabricação (fábrica fora do canteiro)

Por estarmos tratando da industrialização na construção de edificações


habitacionais, muitas vezes, a industrialização é confundida com pré-fabricação.
Porém, este último termo significa uma fábrica industrial, fora do canteiro, de partes
da construção, capazes de serem utilizadas mediante ações posteriores de
montagem. Ou pode ser definitivo, tratando-se de elementos que na construção
tradicional se realizariam in loco.
Ao se falar em industrialização, o foco é o canteiro de obas, ou seja, onde são
montados e/ou produzidos os elementos de construção.

5. Quais são os produtos industriais para a construção civil?

As formas de construção sempre utilizam produtos industriais, como blocos,


pregos, vidros, cimento, tubos etc. A evolução para a industrialização passa pelo
desenvolvimento de modos de se construir e utilizar estes materiais.

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6. Conceito

Segundo Sabbatini (1989), “industrialização da construção é um processo


evolutivo, que através de ações organizacionais e da implementação de inovações
tecnológicas, métodos de trabalho e técnicas de planejamento e controle, objetiva
incrementar a produtividade e o nível de produção e aprimorar o desempenho da
atividade construtiva”.

7. Grau de industrialização

A industrialização acaba sendo uma atitude natural, ou seja, um processo


inevitável, pois as empresas caminham na direção de maior eficiência e
desempenho da sua atividade fim, com um menor investimento de recursos.
Os processos construtivos podem ser classificados de acordo com seu grau de
industrialização. Este grau pode ser medido pela relação percentual entre o volume
da obra pré-fabricada e o volume total, relação percentual entre a quantidade de
mão-de-obra empregada em fábrica (ou em canteiro) e a mão-de-obra total, índice
de produtividade da mão-de-obra (número de horas trabalhadas por m2 construído),
etc.
Estes índices surgiram em um momento específico da industrialização,
representado pelo auge da pré-fabricação à base de grandes painéis, logo tem
interesse entre o tempo transcorrido na obra em relação à fábrica.
Normalmente os índices de desempenho só atendem a critérios de
produtividade, não levam em conta as relações entre custo-desempenho, custo-
benefício, qualidade, volume e natureza dos investimentos, qualidade da mão-de-
obra, etc.
Com relação à classificação dos processos construtivos quanto ao grau de
industrialização, eles podem ser:
a) Tradicionais – são processos baseados na produção artesanal, uso intenso de
mão-de-obra; baixa mecanização; elevado desperdício de mão-de-obra, material e
tempo; descontinuidade e fragmentação da obra.
b) Racionalizados – são processos que incorporam na construção técnicas
organizacionais da indústria manufatureira, sem mudanças radicais nos métodos
construtivos em uso. Ou seja, incorporam princípios de planejamento e controle para
eliminar desperdícios de mão-de-obra e material, ainda para aumentar a
produtividade, planejar o fluxo de produção, bem como centralizar e programar as
decisões (ex: alvenaria estrutural).
Ao investigar técnicas, métodos, processos e sistemas construtivos em
alvenaria estrutural, busca-se aperfeiçoar a construção para que esta seja
racionalizada. Isto representa uma evolução das formas tradicionais de se construir,
ou seja, é um avanço no sentido de aumentar o grau de industrialização da
construção de edifícios.
c) Industrializados - são processos baseados no uso intensivo de componentes e
elementos produzidos em instalações fixas e acopladas no canteiro. Utilizam
técnicas industriais de produção, transporte e montagem.

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8. Exemplo de processos construtivos segundo a classificação anterior

a) Racionalizados – alvenaria estrutural; paredes maciças moldadas no local (com


fôrmas metálicas).

Os componentes podem ser inteiramente racionalizados no seu projeto e na


produção industrial, mas se as operações de montagem no canteiro não forem
adequadamente planejadas e organizadas, o processo poderá ter um baixo nível de
industrialização.

b) Industrializados

- Processos pré-fabricados com produção fechada, eles podem ser


de estrutura laminar, estrutura reticulada ou volumétrica;
- Processos modulares (de componentes e de produção aberta).
Esta é uma meta para nosso mercado pela grande necessidade
de habitações, pois precisam para serem viáveis de uma grande
demanda, além de produção em grande escala.
O uso de processos modulares na construção habitacional (processos de
industrialização de ciclo aberto) seria a meta em mercados como o brasileiro, dada a
necessidade de milhões de habitações por ano.
As características básicas de um processo modular é que suas peças sejam
substituíveis, intercambiáveis, combináveis e permutáveis. Para que sejam
realmente “aberto”, é necessária uma política normalizadora em termos de
coordenação modular, padronização e tipificação dos componentes; e
- Monolíticos leves.

9. Os processos industrializados são classificados ainda em abertos e fechados

a) Abertos – a produção limita-se a um único fabricante e os componentes de


diferentes fabricantes são intercambiáveis entre si. As construções moduladas são
processos abertos, como exemplo tem o brinquedo lego (blocos).
b) Fechados – o processo inicia-se com o edifício acabado, quebrado em partes.
Estas partes são produzidas na fábrica e levadas ao canteiro de obras para
montagem, segundo uma seqüência ordenada.

10. Situação no Brasil

Segundo estudo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio


Exterior e da Escola Politécnica da USP, a construção não se industrializa mais por
causa de entraves na sua cadeia produtiva. O setor se caracteriza por ser disperso,
desorganizado e composto de outras indústrias como química, metalúrgica e

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plástico. O objetivo do estudo é ambicioso e procura os pontos fracos para
melhorias.
A industrialização está fora da realidade de boa parte do setor. Neste caso, o
mais recomendável é a racionalização de processos, o que já requer certa evolução
tecnológica, a industrialização seria o passo seguinte.
Os problemas acentuados em várias cidades são, por exemplo, a dificuldade de
acesso a equipamentos (caso das cidades menores) e o alto custo do terreno
(cidades maiores).
Dentro do projeto de desenvolvimento de um novo processo construtivo em
alvenaria estrutural, por exemplo, conforme estudos da Poli/USP em convênio com a
ENCOL, foi criado um processo construtivo em alvenaria estrutural ao desenvolver e
aperfeiçoar blocos e elementos pré-moldados (vergas e contravergas). Para isto, foi
desenvolvida toda uma sistemática de produção destes elementos com a criação de
usinas de produção e detalhes para a seleção dos materiais envolvidos e dos
detalhes construtivos. Como as peças são pequenas, a mecanização se reduz a
existência de fôrmas metálicas para produzir os elementos pré-moldados, que são
bem detalhados para a padronização e para permitir encaixes perfeitos.
No Brasil, a industrialização está mais relacionada com o desenvolvimento ou
aperfeiçoamento de sistemas com elementos pré-moldados ou todas as partes pré-
moldadas.
Em uma reportagem técnica, é apresentado o exemplo da construção de uma
unidade penitenciária. Nela as peças pré-fabricadas permitiram a entrega da obra
em 6 meses. Os blocos de detenção são todos de concreto. Os demais prédios são
de estrutura pré-fabricada (pilares, vigas, lajes e telhas) e o fechamento foi com
blocos de concreto estrutural. Neste caso, as fôrmas foram metálicas.

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Inovações Tecnológicas

1. Evolução na construção civil (década de 80, qualidade)

A partir da década de 1980, quando a construção civil começou a industrializar-


se, através da chegada no país de processos construtivos mais racionalizados e até
com certo grau de industrialização, foram introduzidos nos canteiros de obras
inovações tecnológicas para darem suporte a este nível de industrialização. Elas são
na forma de elementos construtivos e até mesmo de processos construtivos.
Quando servem para apoiar o processo estão na forma de máquinas,
ferramentas e equipamentos, desenvolvidos no país ou importados. Este apoio nada
mais é do que garantir a qualidade do que está sendo elaborado. Isto é necessário
para que a empresa possa cumprir os padrões de exigências pré-determinados.

2. Através da racionalização e da industrialização

A inovação tem vez na indústria da construção civil quando se compara a


indústria pelo seu atraso tecnológico, quando as empresas construtoras buscam a
racionalização e quando em um processo mais evolutivo busca a industrialização.
Para que isto ocorra, é necessário que a empresa procure estratégias competitivas
que valorizem o produto, o que está sendo construído, ou seja, a atenção é voltada
para a gestão e para as técnicas de produção empregadas. Felizmente é uma
tendência do mercado construtor.

3. Tendência do mercado construtor

No passado, a empresa estava mais ligada aos financiamentos


governamentais, não tinha a atenção em critérios técnicos e de gestão e sim no alto
valor financeiro ganho decorrente da especulação imobiliária.
Aliado a isto, no presente, o Código de defesa do consumidor, que entrou em
vigor em março de 1990, forneceu subsídios para o cliente se conscientizar de seus
direitos e passar a fazer exigências quanto ao produto a ser adquirido.

4. Mais o que é Inovação Tecnológica?

“Inovar é descobrir, imaginar, criar ou melhorar, prever, analisar, programar e


orçamentar, depois investir e correr riscos, ou ainda convencer, motivar, organizar,
negociar, ultrapassar os obstáculos, enfrentando as resistências mesmo psicológicas
ou burocráticas, contra a inércia ou a concorrência desleal, e mesmo se expor às
mesquinharias; enfim, é aproveitar a vantagem que representa a introdução da
novidade” (Barreyre, 1975).
Neste quadro, a inovação tecnológica destaca-se como um instrumento
decisivo para garantir a competitividade das empresas.

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De forma geral, a inovação está ligada a uma nova mentalidade, onde se
entende que todos os métodos e processos são suscetíveis de serem melhorados e,
portanto, são provisórios e transitórios.
“As inovações tecnológicas caracterizam-se pela criação e introdução de
soluções originais para necessidades anteriormente ou recentemente identificadas
na empresa”.
Ela envolve mudanças no nível de produtos e serviços, como também de
rotinas e procedimentos, que são elementos que caracterizam a verdadeira inovação
gerencial ou organizacional.
Isto significa que a capacidade inovativa de uma empresa está diretamente
relacionada a sua capacidade de perceber ou de antecipar as necessidades da
sociedade, mantendo assim, o alinhamento dos seus valores com os valores da
sociedade.

5. Classificação das inovações tecnológicas

Segundo Vargas, “a inovação tecnológica envolve tanto mudanças na


tecnologia de projeto/produto, como na fabricação e gestão, entendendo inovação
tecnológica como as mudanças ocorridas em quaisquer dessas formas de
tecnologia”.
Elas podem ser classificadas em:
a) Tecnológicas – são as inovações predominantemente tecnológicas. Este tipo é
um processo que vai desde a concepção de uma idéia técnica até o uso de um novo
produto ou processo, estando freqüentemente associada com a utilização de novos
produtos, sistemas, procedimentos, equipamentos e componentes.
b) Comerciais – esta inovação refere-se à nova apresentação do produto, novo
modo de distribuição, nova aplicação, novo meio de promoção ou nova sistemática
comercial.
c) Organizacionais – ocorre no sistema social da organização, criando novos modos
de organização da empresa, de seus procedimentos e novas modalidades de
desenvolvimento, onde as inovações de gestão tecnológica/produtiva representam
as de caráter administrativo ou organizacional, aperfeiçoam a programação e
controle da produção, a alocação e controle dos recursos físicos e os padrões
estabelecidos.
d) Institucionais – esta inovação caracteriza-se pela instauração de novos sistemas e
novas formas de promover o progresso econômico e social, ao nível do poder
público.
e) De processo – elas decorrem da utilização de novos procedimentos de produção
e podem conduzir a mundialização. Estão relacionadas com o aperfeiçoamento dos
métodos de trabalho.
f) De produto – elas buscam adequar os produtos às exigências dos clientes. Têm
como objetivo a melhoria da qualidade de projeto, a diversificação de produtos, a
facilidade de uso e manutenção, a padronização, a simplificação do processo de
produção e a agitação da elaboração dos projetos.

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Muitas invenções históricas foram ridicularizadas por não se enquadrarem no
espírito da época na qual foram criadas.

6. Riscos da introdução da inovação

Normalmente as inovações são feitas em empresas que ocupam uma posição


de destaque nas regiões em que atuam. Os riscos de sua implantação podem ser:
a) Econômicos – compra de tecnologias sem o amplo conhecimento das suas
limitações, compra de equipamentos importados, que não têm manutenção no país
ou mão-de-obra sem qualificação para operar o equipamento.
b) Sociais – introdução pelas empresas de forma abrupta, sem um período de
transição, para que a mão-de-obra possa se adaptar, o que leva aos acidentes de
trabalho. Outro ponto é o nível do emprego. No início, a inovação gera crescimento
econômico com emprego, mas a partir do momento que ocorre a padronização dos
produtos e a continuidade do fluxo de produção ocorre a redução do nível de
emprego.

7. Onde são desenvolvidas e por quem?

As inovações podem ser desenvolvidas:


- Na própria empresa – pelos operários, gerentes, diretores. Apresentam-se na
forma de ferramentas simples.
- Em instalações de pesquisa (segundo novos e ensaios) – construção de protótipos.
- Trazidos pela indústria (fabricantes).

8. As inovações podem ser já consolidadas em outras indústrias, mudam de


empresa para empresa e de região do país

Para coletar dados nestas empresas são utilizados questionários, entrevistas,


observação direta, filmagem, registros fotográficos e consultas a documentos
elaborados pelas empresas inovadoras. Isto resultou na elaboração de uma lista de
verificação por pesquisadores, para identificação em canteiros de obras.
As melhorias identificadas em mais de uma empresa são de domínio público,
não objeto de patentes industriais. Assim, muitas vezes, os exemplos são inovações
para nós, mas são mudanças já consolidadas em outras indústrias.

9. Muitas melhorias estão relacionadas com os princípios da qualidade total

Assim, as inovações que se desenvolveram a partir da implantação nas


empresas do Sistema de Gestão da Qualidade (NBR ISO9000) foram agrupadas
em:

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- Aspectos organizacionais e de gestão (cultura, estratégia, metodologia de
implantação de programas de qualidade e sistemas de comunicação).
- Recursos humanos (fixação na empresa, educação e treinamento, motivação e
participação e diminuição do risco de acidente no canteiro).
- Desenvolvimento e integração de projetos (planejamento, concepção e
detalhamento).
- Programação, planejamento e venda do empreendimento.
- Organização do canteiro e da produção (gestão de processos gerenciamento de
materiais, controle de qualidade e produtividade no canteiro, organização do
canteiro, planejamento e organização da produção, máquinas, equipamentos e
ferramentas).

Estas classificações surgiram já na dissertação de Picchi (1993) para facilitar a


e identificação das inovações.

10. Vantagens das empresas inovadoras

Nas obras de uma empresa inovadora tudo é mais limpo, o canteiro é


racionalizado, poucos serventes, maior grau de mecanização e melhoria no clima
organizacional.
Um ponto positivo é o uso de centrais de pré-fabricação e montagem de
componentes, como uma das fontes de transformação da organização do trabalho
nas últimas décadas. As condições de trabalho nas centrais se assemelham às
condições oferecidas pela indústria em geral, bastante superior às condições dos
canteiros de obra.
São fabricados elementos como armaduras de vigas e painéis de fôrma
(47,9%); montagem, pré-pintura e colocação das ferragens das esquadrias (14,6%);
componentes de concreto como vergas, peitoris, caixas de inspeção e tampas
(58,3%); argamassa pré-misturada (12,3%); kits hidro-sanitários (31,2%); gabaritos
metálicos para marcação de lajes (11,7%); elementos de gesso; kits de ferragem de
esquadrias; kits de instalações elétricas.

11. Exemplo de checklist

Foi elaborado na UFSC um Checklist (lista de verificação) para avaliação de


inovações em canteiros de obra, dividido nas áreas:
1 - Apoio e dignificação da mão-de-obra;
2 - Organização de canteiro;
3 - Movimentação de materiais e deslocamento internos;
4 - Ferramentas, máquinas e técnicas especiais;
5 - Segurança do trabalho;
6 - Comunicações internas;

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7 - Outras informações não listadas.

Através desta lista de verificação é possível verificar como uma empresa está
em termos de inovações e quais os pontos em que ela está sendo falha. Estas áreas
têm correspondência com a classificação apresentada anteriormente segundo o
sistema de gestão da qualidade.
A partir do momento que a inovação deixa de ser novidade e passa a ser
incorporada na empresa ela deixa de ser inovação.
Como citado anteriormente, a racionalização e a industrialização trazem junto
de si uma série de ferramentas desenvolvidas para acompanhar e facilitar a
padronização dos elementos.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
1. Borges, A C. Prática das pequenas construções.
2. Chaves, R. Manual do construtor.
3. Boletins técnicos para Construção Civil/USP.
4. Gehbauer, F., Eggensperger, M., Alberti, M. E., Newton, S. A. Planejamento e
gestão de obras: um resultado prático da cooperação técnica Brasil - Alemanha.
Curitiba: Editora CEFET-PR, 2002, 529p.
5. Sabbatini, F. H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas
construtivos – formulação e aplicação de uma metodologia. Tese (Doutorado em
Engenharia) – Pós-graduação em Engenharia Civil, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1989. 321 p.
6. Revista Téchne. PINI.
7. Rodriguez, Marco Antonio Arancibia. Coordenação de projetos em edificações,
Joinville, 2001, 47p.
8. Vieira Netto, Antônio. Construção civil e produtividade: ganhe pontos contra o
desperdício.
9. Yazigi, Walid. A técnica de edificar. PINI.

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