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ARTHUR CLEMENTE DA CRUZ

JOÃO TAVARES PINI

MÁRCIO SARTORELLI VENÂNCIO DE SOUZA

PROJETO E ANÁLISE DE ESTRUTURAS DE MADEIRA


LAMINADA COLADA UTILIZANDO MODELAGEM
PARAMÉTRICA

Trabalho de Formatura do Curso de Engenharia Civil

apresentado à Escola Politécnica da Universidade de


São Paulo

Orientador: Prof. Dr. Pedro Wellington Teixeira

São Paulo

2018
AGRADECIMENTOS

O grupo agradece o grande auxílio dado pelo orientador Pedro Wellington, motivado em elevar o
nível do trabalho, e das empresas ITA Construtora, Carpinteria Estruturas de Madeira, YCON
Engenharia e CROSSLAM Brasil, pela gentil disponibilidade de todos os dados sobre os projetos
estudados, assim como auxílio no entendimento deles e dos materiais envolvidos.

Agradecemos também a atenção nos dada pelos avaliadores da banca, Ruy Pauletti e Hélio Olga,
um grande professor na área de estruturas paramétricas e um engenheiro de grande nome na área
de estruturas de madeira.
RESUMO

O trabalho propõe a execução de extensões para o software Grasshopper que aplique a verificação
de elementos estruturais de madeira pelo Eurocode 5. As verificações são feitas para o
dimensionamento tanto dos perfis dos elementos estruturais, quanto das ligações entre estes.

Em um primeiro momento, é realizado o estudo da aplicação da madeira como componente


estrutural, buscando compreender suas vantagens e desvantagens em aspectos técnicos e
ambientais.

Em seguida, apresenta-se um comparativo entre as normas americana (ASCE 16-95), brasileira


(NBR7190) e europeia (Eurocode 5) visando entender as diferenças entre os processos de
dimensionamento de perfis propostos em cada uma. Para o caso do dimensionamento de ligações,
traz-se um estudo focado nos métodos contido no Eurocode 5.

A partir da revisão bibliográfica, são elaborados componentes que realizam os cálculos


estabelecidos pela norma europeia. Para validação dos modelos voltados à verificação de perfis e
melhor compreensão das estruturas de madeira, faz-se a análise de cinco estudos de caso. Já para
o emprego de todas as extensões desenvolvidas e o aproveitamento das vantagens da modelagem
paramétrica, foi feita a modelagem e estudo de uma cúpula parametrizada.

Palavras-chave : engenharia-civil; estruturas de madeira; modelagem paramétrica.


ABSTRACT

This paper proposes the development of plug-ins for Grasshopper that applies the verification of
timber structural element according to Eurocode 5. Such verifications are done for the designing
of structural elements’ cross-sections as much as for connection between them.

At first, it is done the study of the application of timber as a structural component, looking to
comprehend its advantages and disadvantages on both technical and environmental aspects.

Next, it is presented a comparison between the american (ASCE 16-95), brazilian (NBR7190) and
european (Eurocode 5) standards for the design of timber cross-sections. On the other hand, for the
design of connections between timber elements, a summary of the Eurocode 5 methods is
presented.

From the literature revision made, Grasshopper components that perform the calculation propose
by the European standard were elaborated. In order to validate the models related to the verification
of cross-sections and for better comprehension of timber structures, a total of five case studies
were made. As to the usability of all the extensions developed and to take advantage of parametric
design, the modeling and study of a parametric dome is done.

Key-words : civil-engineering; timber structures; parametric modeling.


SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................................... 1
1.1 METODOLOGIA E OBJETIVOS.................................................................................................................................................................... 1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................................................................................... 3
2.1. PROPRIEDADES DA MADEIRA E MLC...................................................................................................................................................... 3
2.2 AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E SUA RELAÇÃO COM A CONSTRUÇÃO CIVIL ...................................................................................... 7
2.2.1 Justificativa do Emprego da Madeira na Construção Civil .......................................................................................... 7
2.2.2 Uma breve análise comparativa dos impactos ambientais de três materiais estruturais: o Concreto, o
Aço e a Madeira. ...................................................................................................................................................................................... 9
2.3 NORMAS DE PROJETO............................................................................................................................................................................. 12
2.3.1 Propriedades da Madeira ....................................................................................................................................................... 13
2.3.2 Fatores de Influência sobre as Propriedades de Resistência .................................................................................... 14
2.3.2.1 Coeficiente de Minoração ................................................................................................................................................... 14
2.3.2.2 Coeficiente de Modificação ................................................................................................................................................ 14
2.3.3 Coeficiente de Influência sobre a Deformação............................................................................................................... 15
2.3.4 Estado Límite Último (ELU) .................................................................................................................................................. 16
2.3.4.1 Combinação de ações estruturais para o ELU ............................................................................................................ 16
2.3.4.2 Avaliação de segurança estrutural para o ELU ....................................................................................................... 17
2.3.4.3 Especificidades do ELU para Madeira Laminada Colada .................................................................................... 21
2.3.5 Estado Limite de Serviço (ELS) ............................................................................................................................................ 22
2.3.5.1 Combinação de ações estruturais para o ELS ............................................................................................................ 22
2.3.5.2 Avaliação dos Limítes para o ELS ................................................................................................................................... 23
2.4 LIGAÇÕES EM ESTRUTURAS DE MADEIRA ............................................................................................................................................ 25
2.4.1 Modos de falha dúctil por cisalhamento .......................................................................................................................... 25
2.4.1.1 Resistência de embutimento .............................................................................................................................................. 28
2.4.1.2 Momento de resistência....................................................................................................................................................... 29
2.4.1.3 “Rope-efect” .............................................................................................................................................................................. 29
2.4.1.4 Número Efetivo de Conectores.......................................................................................................................................... 30
2.4.2 Modos de falha dúctil por força axial ................................................................................................................................ 31
2.4.3 Modos de falha frágil ............................................................................................................................................................... 32
2.5 MODELAGEM PARAMÉTRICA DE ESTRUTURAS .................................................................................................................................. 33
3. DESENVOLVIMENTO ...........................................................................................................................................................38
3.1 EXTENSÕES: BEAVER ............................................................................................................................................................................. 38
3.1.1 Verificação de perfis ................................................................................................................................................................. 40
3.1.2 Verificação de ligações ............................................................................................................................................................ 44
3.2 ESTUDOS DE CASO .................................................................................................................................................................................. 52
3.2.1 Casa da Praia Vermelha ......................................................................................................................................................... 53
3.2.2 Casa Grelha .................................................................................................................................................................................. 60
3.2.3 Casa Felix ...................................................................................................................................................................................... 67
3.2.4 Haras Polana ............................................................................................................................................................................... 70
3.2.5 Pavilhão HMF .............................................................................................................................................................................. 78
3.3. PROJETO DE UMA CÚPULA .................................................................................................................................................................... 83
3.3.1 Modelo de elementos finitos .................................................................................................................................................. 86
3.3.1.1 Hierarquia estrutural .......................................................................................................................................................... 86
3.3.1.2 Ações e combinações consideradas ................................................................................................................................ 87
3.3.1.3 Avaliação da flambagem global ...................................................................................................................................... 91
3.3.1.4 Verificação do ELU e ELS .................................................................................................................................................... 94
3.3.1.5 Concepção e dimensionamento das ligações .............................................................................................................. 96
3.3.2 Modelo geométrico ................................................................................................................................................................. 104
3.3.2.1. Dupla curvatura .................................................................................................................................................................. 104
3.3.2.2 Detalhamento das ligações .............................................................................................................................................. 105
3.3.2.3 Modelo final ........................................................................................................................................................................... 105
4. CONCLUSÃO ........................................................................................................................................................................ 108
5. REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................................................... 109
ANEXO A. PROCEDIMENTO PARA VERIFICAÇÃO DE PERFIS E LIGAÇÕES PELO EUROCODE5 ................... 112
Figura 1 – Fluxograma da análise estrutural e verificação pela norma. .......................................... 2
Figura 2 – Peça de MLC .................................................................................................................. 5
Figura 3- Finger-joint. ..................................................................................................................... 5
Figura 4 – Contribuição de combustíveis fosseis na emissão de carbono e evolução do nível total
de gases doe feito estufa. ................................................................................................................. 7
Figura 5 – Influência humana sobre o clima e relação entre a temperatura global e CO2 na
atmosfera. ........................................................................................................................................ 8
Figura 6 – Consumo energético na produção de materiais estrutural.............................................. 8
Figura 7 – Influências em condições climáticas na produção de madeira, aço e concreto. ............ 9
Figura 8 – Composição do entulho brasileiro. ............................................................................... 10
Figura 9 – Relação entre o consumo energético de produção e impacto ambientais de diversos
materiais......................................................................................................................................... 10
Figura 10 – Modos de falha clássicos (Johansen, 1949) ............................................................... 26
Figura 11 – Modos de falha para cisalhamento duplo (Johansen, 1949) ...................................... 27
Figura 12 – Modos de falha entre madeiras (EC5 Seção 8.2.2) .................................................... 27
Figura 13 – Modos de falha entre madeira e aço (EC5 Seção 8.2.3) ............................................ 28
Figura 14 – Força de embutimento de um conector genérico, solicitado a um ângulo  em
relação a direção da fibra (Porteous et al, 2007). .......................................................................... 28
Figura 15 – “Rope-effect” (Porteous et al, 2007) .......................................................................... 30
Figura 16 – Imagens tratadas para visualização da ruptura frágil (Think Up, Materials Lab
Online: Timber Failure Mechanisms, 2015 )................................................................................. 32
Figura 17 - Palazzo dello Spoto, Pieri Nervi e Multihaeim Hall, Frei Otto. ................................. 33
Figura 18 - Processo paramétrico para projeto executivo do Morpheus Hotel, Zaha Hadid
Architects. ...................................................................................................................................... 34
Figura 19 - Componentes do Grasshopper e variabilidades de formas ao se alterar parâmetros
(Souza, Pauletti, 2016)................................................................................................................... 35
Figura 20 - Interface geral do Grasshopper. Componentes se conectam para gerar desenhos
atrelados a parâmetros. .................................................................................................................. 35
Figura 21 – Exemplo de parametrização da geometria atrelada à analise estrutural no Karamba. 36
Figura 22- Nine Bridges Country Club, Shigeru Ban. .................................................................. 36
Figura 23 – Fabricação e montagem do Landesgartenschau Exibition Hall, ICD. ....................... 37
Figura 24: Solução estrutural proposta removendo pilares. .......................................................... 53
Figura 25 – Concepção estrutural, Casa da Praia Vermelha. ........................................................ 54
Figura 26 – Disposição dos travamentos da estrutura. .................................................................. 55
Figura 27 – Definição em Grasshopper para análise e verificação estrutural ............................... 56
Figura 28 – Disposição estrutural e diagramas de esforços e deslocamentos. .............................. 57
Figura 29 – Modos de vibração da estrutura ................................................................................. 58
Figura 30 – Planta do pavimento térreo......................................................................................... 61
Figura 31 – Planta da cobertura. .................................................................................................... 62
Figura 32 - Disposição estrutural e diagramas de esforços e deformadas. .................................... 63
Figura 33 – Unifilar 1º pavimento. ................................................................................................ 64
Figura 34 – Unifilar 2º pavimento ................................................................................................. 64
Figura 35 – Vista frontal. ............................................................................................................... 64
Figura 36 – Memorial de cálculo ................................................................................................... 65
Figura 37 – Deformada da viga vagão. .......................................................................................... 66
Figura 38 – Casa Félix, Carpinteria Estruturas. ............................................................................. 67
Figura 39 – Disposição estrutural e diagrama de esforços e deformadas. ..................................... 68
Figura 40 – Memorial de Cálculo para MLC de Pinus .................................................................. 69
Figura 41 – Memorial de Cálculo para Cumaru ............................................................................ 69
Figura 42 – Haras Polana, ITA Construtora .................................................................................. 70
Figura 43 – Corte e disposição dos perfis em balanço................................................................... 70
Figura 44 – Direção e ações do vento. ........................................................................................... 72
Figura 45 – Memorial de Cálculo para pressão de vento. .............................................................. 72
Figura 46 – Determinação paramétrica da altura da viga a partir dos referenciais x e y. .............. 73
Figura 47 – Seções transversais para os elementos da análise 2D. ................................................ 73
Figura 48 – Propriedades do material e diagramas de esforços e deslocamentos na análise 2D. .. 74
Figura 49 – Memorial de Cálculo .................................................................................................. 74
Figura 50 – Esquema da ligação entre as vigas primárias e secundárias, com as terças se apoiando
sobre elas. ....................................................................................................................................... 75
Figura 51 – Disposição estrutural e diagramas de esforços da análise 3D. ................................... 75
Figura 52 – Memorial de Cálculo da análise 3D. .......................................................................... 76
Figura 53 – Modos de vibração da estrutura. ................................................................................. 77
Figura 54 – Planta e corte do pergolado. ....................................................................................... 78
Figura 55 – Disposição estrutural do pergolado. ........................................................................... 79
Figura 56 – Interface do Galapagos em processo iterativo. ........................................................... 80
Figura 57 – Disposição estrutural e diagrama de esforços e deslocamentos. ................................ 81
Figura 58 – Memorial de Cálculo. ................................................................................................. 82
Figura 59 – Belledune Coal Storage Dome e Gymnassium Dome (Western Wood Structures). .. 83
Figura 60 – Uso de OSB e mantra impermeabilizante para cobertura da Casa Félix (Carpinteria)
........................................................................................................................................................ 83
Figura 61 – Processo de geração das curvas unifilares da cúpula ................................................. 84
Figura 62 – Extensão curvas meridionais e de borda .................................................................... 84
Figura 63 – Dimensões gerais da estrutura .................................................................................... 85
Figura 64 – Exemplos de orientação e subdivisão a partir dos parâmetros definidos ................... 85
Figura 65 – Geração de terças com orientação aleatória e geração da borda superior .................. 86
Figura 66 – Hierarquia estrutural da cúpula. ................................................................................. 87
Figura 67 - Método aproximado para interpolação de coeficientes de pressão em cúpulas (EC1
Seção 7.2.8) .................................................................................................................................... 90
Figura 68 – Algoritmo e distribuição de cargas de vento dentro do Karamba. ............................. 90
Figura 69 – Gráfico relacionando a carga com o deslocamento no ponto Q com determinação da
carga P crítica para análise linear e não linear considerando sistema perfeito e imperfeições.
(IASS, 2014) .................................................................................................................................. 92
Figura 70 – Lista (em rosa) contendo o indexador i. ..................................................................... 93
Figura 71 – Linha temporal das soluções encontradas pelo Galapagos da primeira à 115º geração.
....................................................................................................................................................... 93
Figura 72 – Fator de flambagem e nova situação de equilíbrio para i=0, i=1 e distribuição
otimizada. ...................................................................................................................................... 94
Figura 73 – Verificação do ELS para terças. ................................................................................. 95
Figura 74 – Verificação do ELU para todos os elementos. ........................................................... 95
Figura 75 – Campo de deslocamentos e diagramas de esforços solicitante da cúpula sob ações
verticais e de vento. ....................................................................................................................... 96
Figura 76 – Sequência de montagem com as chapas pré instaladas nas vigas principais e
secundárias..................................................................................................................................... 96
Figura 77 – Detalhes gerais das chapas de conexão. ..................................................................... 97
Figura 78 – Identificação dos tipos de conexões ........................................................................... 97
Figura 79 – Solicitação combinada sob a conexão 5 (compressão em azul e tração em laranja) . 98
Figura 80 – Encontro de terciárias com secundárias em cisalhamento duplo. .............................. 99
Figura 81 – Encontro de terciárias com secundária em cisalhamentos simples. ......................... 100
Figura 82 – Detalhe de conexão da borda com a viga principal .................................................. 101
Figura 83 – Detalhe de encontro de viga secundária e terciária na principal. ............................. 102
Figura 84 – Detalhe de encontro de duas secundárias na viga principal. .................................... 103
Figura 85 – Detalhe da conexão com o chão ............................................................................... 104
Figura 86 – Viga com eixo da altura orientada à normal da calota esférica. ............................... 104
Figura 87 – Vetor normal (n), tangente (t) e o produto vetorial formando uma base para
operações de extrusão das ligações. ............................................................................................ 105
Figura 88 – Perspectiva geral ...................................................................................................... 106
Figura 89 – Detalhe dos pés. ....................................................................................................... 106
Figura 90 – Perspectiva com a cobertura em OSB. ..................................................................... 106
Figura 91 – Detalhe das conexões. .............................................................................................. 107
Figura 92 – Vista frontal .............................................................................................................. 107
Figura 93 – Vista lateral .............................................................................................................. 107
Tabela 1 – Combinações de ações para ELU. ................................................................................ 16
Tabela 2 – Combinações de ações para ELS. ................................................................................ 22
Tabela 3 – Carregamentos considerados na análise. ...................................................................... 56
Tabela 4 – Casa Grelha, YCON Engenharia. ................................................................................ 60
Tabela 5 - Valores de carga e coeficientes de modificação considerados. .................................... 63
Tabela 6 – Características do MLC de Pinus e do Cumaru. .......................................................... 69
Tabela 7 – Carregamentos considerados na análise. ...................................................................... 71
Tabela 8 – Combinações consideradas para ELU. ......................................................................... 87
Tabela 9 – Combinações consideradas para ELS .......................................................................... 88
Tabela 10 – Cargas permanentes da cúpula ................................................................................... 88
Tabela 11 – Fatores de modificação da velocidade básica do vento. ............................................ 89
Tabela 12 – Velocidade característica e pressão dinâmica do vento. ............................................ 89
Tabela 13 – Dimensões gerais e coeficientes pontuais para interpolação linear. .......................... 90
Tabela 14 – Seções transversais das vigas da cúpula. ................................................................... 92
1

1. Introdução

1.1 METODOLOGIA E OBJETIVOS

Este trabalho propõe, através do estudo das normas de madeira vigentes no Brasil e afora,
desenvolver componentes para Grasshopper (McNell) que verifiquem perfis de estruturas de
madeira e detalhem ligações dando como entrada as informações geométricas e os resultados do
programa de elementos finitos Karamba (Preisinge, 2018).

Após os estudos das normas estudadas, o grupo optou pelo uso da metodologia do Eurocode 5. Tal
escolha se decorreu do fato da norma brasileira ainda ser muito simples, não abordando certos
aspectos da Madeira Laminada Colada, e do EC5 ser mais semelhante a NBR7190 do que a norma
americana ASCE, que apesar de ser muito completa utiliza coeficientes muito distintos dos
brasileiros. Na norma europeia, os coeficientes são muito semelhantes à nomenclatura dos
coeficientes de resistência utilizados no Brasil.

Os componentes serão desenvolvidos em linguagem C# sendo que o programa para verificação de


seções foi avaliado em 5 estudos de casos, para também gerar conhecimento sobre o tópico do
projeto em madeira. Para as ligações foram realizados alguns benchmarks para validação do
código, mas seu uso se concentrou no projeto de uma cúpula.

Para avaliação dos estudos de caso, serão utilizados desenhos em Rhinoceros3D de diagramas
unifilares tridimensionais das estruturas, cujos desenhos foram gentilmente cedidos pelos
escritórios de engenharia citados. A geometria é importada ao Grasshopper e constrói-se uma
definição para o cálculo estrutural com o Karamba, permitindo a parametrização dos parâmetros
estruturais como condições de contorno, seções transversais, materiais, etc.
2

Figura 1 – Fluxograma da análise estrutural e verificação pela norma.

Primeiro foi proposta a revisão bibliográfica da madeira e das suas normas técnicas (brasileira,
americana e europeia), com o desenvolvimento de componentes para Grasshopper que calculem a
razão entre o esforço solicitante e esforço resistente (Rd/Rsd) para tração, flexo-compressão
(generalizado para flexão simples e compressão), cortante, compressão paralela à fibra e variações
envolvendo curvatura e chanframento de vigas. As informações geométricas e de esforços
solicitantes vem do cálculo estrutural realizado no Karamba, e pretende-se explorar as
possibilidades que essa parametrização pode trazer ao processo de dimensionamento estrutural.

Depois foi realizada uma revisão bibliográfica nas ligações dos elementos. Como o universo das
ligações de madeira é muito grande, não foram abordados todos os tipos de ligações existentes.
Esta etapa procurará gerar componentes para o Grasshopper que dimensionem as ligações e gerem
os desenhos dos detalhes, explorando as capacidades de manipulação geométrica do programa.

Para finalização e teste final das ferramentas desenvolvidas, foi realizado o projeto e
dimensionamento de uma cúpula parametrizada de madeira laminada colada. Neste momento as
ferramentas utilizadas são parametrizadas também com a geometria da arquitetura, permitindo
analisar em tempo real consequências estruturais de se alterar a geometria da estrutura.
3

2. Revisão Bibliográfica

2.1. PROPRIEDADES DA MADEIRA E MLC

A madeira como elemento estrutural se encontra em diferentes formas: serrada, em tora,


compensada, reconstituída, ou, como no caso do material de estudo deste trabalho, laminada
colada. Esses diferentes tipos de forma possuem comportamentos estruturais distintos, o que está
diretamente relacionado com a estrutura interna do material, ampliando ou reduzindo o seu grau
de anisotropia. Dessa forma, o conhecimento do material utilizado e de suas propriedades
estruturais é crucial e serve como base para o dimensionamento de qualquer estrutura.

A árvore da qual a madeira empregada se origina possui ligação direta com as suas propriedades
internas. Em geral, os tipos de madeira são divididos em dois grupos, conforme sua origem:
coníferas ou dicotiledôneas.

Quimicamente, a madeira possui três componentes orgânicos principais: celulose, hemicelulose e


lignina. A celulose, formada por uma cadeia de glucoses, forma as paredes das fibras e vasos da
madeira, enquanto a lignina age como um cimento, ligando as cadeias de celulose e conferindo
rigidez e dureza ao material.

De acordo com Calil (1998), por conta de sua estrutura, a madeira é um material ortotrópico, tendo
suas propriedades variando de acordo com três eixos ortogonais entre si: paralelo, perpendicular
ou tangente às fibras do material. As propriedades relativas aos dois últimos eixos tendem a ser
menores, quando comparadas as do primeiro.

Outra propriedade importante da madeira é o seu teor de umidade, definido pela razão entre a perda
de massa da madeira seca em relação à úmida; e a sua massa seca. Ao ser cortada, a madeira tende
a perder a água que se encontra em seu interior, até que entre em equilíbrio com a umidade do
ambiente em que se encontra.

O ponto de saturação das fibras da madeira é definido pelo teor de umidade correspondente à
situação onde existe o mínimo de água livre e o máximo de água de impregnação. Segundo Calil
(1998), esse está em torno de 25% para as madeiras brasileiras. Reduções além desse ponto causam
retração no material e traz a possibilidade de ocorrência de problemas estruturais.
4

Umas das vantagens do emprego da madeira como elemento estrutural é a sua resistência contra o
fogo. Embora em um primeiro momento o material orgânico da madeira atue como combustível
em uma peça exposta ao fogo, a sua combustão cria uma camada protetora na superfície da peça,
o que ajuda a manter a sua integridade. Além disso, a madeira não apresenta distorção em situação
de incêndio, o que contribui para que não haja a ruina da estrutura.

Embora a madeira apresente deformação residual após ser solicitada, na maioria das aplicações,
ela pode ser considerada um material elástico ideal.

Como já mencionado, a madeira se comporta como um material ortotrópico, de forma que sua
rigidez varia de acordo com o sentido da solicitação. A NBR7190, por exemplo, define que o
módulo de elasticidade do material no sentido normal às fibras é um vigésimo do no sentido
paralelo às fibras.

Ao receber esforços de compressão, na direção paralela às suas fibras, a madeira apresenta uma
resistência maior quando comparada à direção normal. De acordo com Calil (1998), a resistência
no sentido paralelo às fibras é cerca de quatro vezes maior que no sentido normal.

Ao ser solicitado por esforços de tração, o comportamento do material é semelhante, apresentando


maior resistência no sentido paralelo às fibras. Contudo, a tendência de que haja separação das
células do material durante solicitações normais às fibras faz com que a resistência do material
nesse caso seja baixíssima e este deva ser evitado.

O cisalhamento nas peças de madeira pode ocorrer basicamente de três maneiras. O primeiro é
verticalmente, com a carga atuando da direção perpendicular, o que normalmente não é levado em
conta, pois a peça tende a apresentar problemas por esforços de compressão. O cisalhamento
horizontal é qual a solicitação ocorre paralelamente às fibras do material e tende a ocorrer o
deslizamento das células da madeira na direção longitudinal. Por último, o cisalhamento do tipo
perpendicular é quando os esforços causam a tendência das células da madeira rolarem uma sobre
as outras.

Outra característica da madeira como material estrutural é a sua resistência ao choque. O material
possui grande capacidade de absorver rapidamente energia pela deformação.
5

 MADEIRA LAMINADA COLADA

A madeira laminada colada (MLC) é um produto manufaturado, que consiste na colagem de duas
ou mais laminas de madeira, de modo que suas fibras sejam paralelas ao eixo longitudinal da peça
estrutural sendo produzida. Esse método permite a formação de peças com as mais variadas formas
e dimensões.

Figura 2 – Peça de MLC

Para se produzir peças de MLC com grandes comprimentos, normalmente é necessário executar de
emendas nas lâminas. Tradicionalmente, utiliza-se a emenda dentada, também chamada de
fingerjoint, composta por dentes de aproximadamente 28mm. Essas emendas ao longo do
comprimento das peças de MLC nos permite dizer que suas dimensões passam a ser limitada
apenas pela capacidade dos processos de manufatura e dos sistemas de transporte, o que confere a
MLC uma grande vantagem

Figura 3- Finger-joint.

MIOTTO & DIAS (2009) descrevem o processo de fabricação da MLC através da caracterização
de quatro etapas. Na primeira, as lâminas são submetidas a um processo de secagem, para aliviar
as modificações dimensionais do produto acabado, além de se beneficiar da melhoria nas
6

capacidades estruturais da madeira com um menor teor de umidade. Posteriormente, as lâminas


são classificadas mecanicamente, usualmente pelo processo MSR (Machine Stress Rated) e em
seguida passam por inspeção e classificação visual.

A segunda etapa do processo é a execução das emendas dentadas. Com elas, é possível a criação
de elementos com diferentes comprimentos, superando aqueles disponíveis comercialmente na
madeira serrada.

Posteriormente, é feita disposição das lâminas ao longo da altura das peças, bem como a sua
colagem, o que constitui a terceira etapa do processo. Para tanto, as lâminas devem ser aplainadas
e para garantir que o adesivo seja aplicado em uma limpa e com o mínimo de irregularidades. Após
a colagem, as peças são prensadas até a ação do adesivo, o que pode levar até 24 horas, embora
existam métodos para encurtar esse prazo, como os processos de cura por radiofrequência.

A quarta e última etapa é a finalização das peças. Nela, o excesso de cola que naturalmente escorre
durante a prensagem é removido. Em seguida, são feitos os cortes finais e também são executados
os furos que receberão as ligações. Todos esses processos, bem como a transformação da madeira
em lâminas resultam em um processo cujo custo final supera o da madeira serrada. Contudo, Miotto
& Dias (2009) destacam as seguintes vantagens da MLC em relação à madeira serrada:

 Praticamente todas as espécies de madeira podem ser utilizadas na sua produção, bastando
que possuam propriedades físicas necessárias.

 A MLC permite a criação de peças com as mais variadas formas e dimensões.

 Como consequência do processo de secagem pelo qual a madeira é submetida, existe a


redução da ocorrência de rachaduras e outros defeitos comuns em peças com grandes
dimensões.

 A disposição das lâminas pode ser feita alocando as com maior qualidade na região de
maior solicitação, racionalizando o uso da madeira.

 A homogeneização da peça, decorrente da dispersão dos defeitos de volume da peça,


confere maior resistência e rigidez ao material.
7

2.2 AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E SUA RELAÇÃO COM A


CONSTRUÇÃO CIVIL

2.2.1 Justificativa do Emprego da Madeira na Construção Civil

Cientistas confirmaram na conferência sobre o aquecimento global realizada em Estocolmo, 2013,


que existe uma probabilidade de 95% de que o homem é a maior influência pelas causas do
aquecimento global, e que a temperatura do planeta deve ser estabilizada em menos de 2ºC relativos
do período pré-industrial para garantir impactos severos e irreversíveis no sistema climático do
planeta (Crawford, 2011). Com relação à isso, é notável que a indústria da construção é
responsável, predominantemente através da construção e operação de edifícios, por até 40% do uso
de energia global, assim como 25% do consumo de água potável, e por volta de 30% das emissões
globais de gases contribuintes para o efeito estufa (Gandini, 2016). Observa-se que o aumento da
queima de combustíveis fósseis nos últimos 100 anos está diretamente associado ao aumento da
presença de gases contribuintes para o efeito estufa na atmosfera, que por sua vez são responsáveis
por aumentos significativos na temperatura global (Sandanayake, 2017).

Figura 4 – Contribuição de combustíveis fosseis na emissão de carbono e evolução do nível total de gases doe feito
estufa.
8

Figura 5 – Influência humana sobre o clima e relação entre a temperatura global e CO2 na atmosfera.

Em meio à questões climáticas delicadas, o aumento populacional continua a impulsionar a


indústria e o mercado da construção civil em todos os aspectos. A organização UN habitat, por
exemplo, estima que a construção de 3 bilhões de unidades habitacionais nos próximos 20 anos
seria necessária para conter as demandas sociais pela moradia. Além disso, estima-se que em um
futuro próximo, com as novas tecnologias de eficiência energética de operação de edifícios, os
processos atrelados à construção (incluindo o transporte, a produção dos materiais de construção,
a construção propriamente dita e a demolição) chegarão a ser responsáveis por 40% a 50% do
consumo energético total da vida útil dos edifícios (Crawford, 2011).

O uso da madeira engenheirada em oposição ao concreto e ao aço como elemento estrutural de


edificações tem sido enfatizado por diversas pesquisas mundialmente, e tem ganho uma
popularidade crescente nos últimos anos. Isso estaria associado às vantagens construtivas do
material no que se refere principalmente ao seu baixo impacto ambiental, às suas vantagens
técnicas como material construtivo estrutural, que serão abordadas mais profundamente em
seguida, e à considerável economia energética oriunda da sua utilização em oposição aos materiais
convencionais (Langer, 2013).

Figura 6 – Consumo energético na produção de materiais estrutural.


9

2.2.2 Uma breve análise comparativa dos impactos ambientais de três materiais estruturais:
o Concreto, o Aço e a Madeira.

Tendo em vista o panorama geral enunciado acima, é evidente a importância da busca de


alternativas para os materiais convencionais utilizados para estruturas na construção civil. Alguns
autores defendem que este é um imperativo ambiental, acima de tudo, pois consideram que
atualmente não estão consolidadas no mundo a indústria e a tecnologia necessárias para equivaler
a madeira ao concreto e ao aço no que se refere à custo e eficiência estrutural, que poderiam
justificar o uso deste material em processos de construção civil de larga escala estufa (Gandini,
2016). Abaixo encontra-se um gráfico que relativiza o impacto ambiental do concreto e do aço em
relação à madeira em seis frentes de impacto da construção civil.

Figura 7 – Influências em condições climáticas na produção de madeira, aço e concreto.

Com relação ao concreto, a produção de cimento é a maior fonte de use energético e emissões de
CO² correspondentes à sua produção, sendo aproximadamente 50% dessas emissões é relativa à
combustíveis fósseis (Gandini, 2016). Além disso, estão associados à este material outros impactos
ambientais de difícil mensuração decorrentes da produção e do uso dos agregados utilizados para
a constituição do concreto, dentre eles: mudanças no ecossistema e topografia locais onde é
realizada a mineração; as vibrações e a poeira oriundas das detonações programadas semanalmente,
os impactos nas águas terrestres e superficiais, e os impactos derivados do transporte deste material
de alto peso próprio (Asif, 2014). Por ser um material de difícil reciclagem, o concreto e a
argamassa em geral também são responsáveis por grande parte do entulho oriundo da construção
civil e demolição no Brasil.
10

Figura 8 – Composição do entulho brasileiro.

O aço, por sua vez, é responsável por aproximadamente 27% das emissões do setor produtivos de
materiais para construção civil. Os processos redução, refino e laminação para a produção de aço
virgem requerem altíssimas quantidades de energia que é principalmente oriunda da queima de
carvão mineral, que também está associada ao seu processo de reciclagem. Assim como o concreto,
o aço está fundamentado em uma indústria mineradora que também é responsável por outros
impactos ambientais desfavoráveis, em aspectos diversos, que não necessariamente estão
diretamente associados ao aquecimento global.

A madeira na construção civil, por sua vez, está atrelada à baixo consumo energético e baixo
impacto ambiental. Alguns estudos indicam que a madeira supera todos os seus competidores no
que se diz respeito à impactos ambientais e performance no quesito sustentabilidade (Skullestad,
2016).

Figura 9 – Relação entre o consumo energético de produção e impacto ambientais de diversos materiais.
11

A madeira é recorrentemente vista como um material de emissões neutras, assim como outros
materiais ou combustíveis provenientes de biomassa. Porém, se considerarmos a madeira como
material estrutural, dada a amplitude do mercado da construção civil no mundo e tendo em vista
que a durabilidade das edificações pode tender a ser maior do que o tempo de replantio, com a
gradual substituição de outros materiais estruturais pela madeira, é possível que a madeira implique
em uma pegada negativa de carbono na atmosfera até que o crescimento relativo do uso desse
material como estrutura se estabilize (Gandini, 2016).
12

2.3 NORMAS DE PROJETO


Foram analisadas três normas de estruturas vigentes: a NBR7190:1997 - “Projeto de Estruturas de
Madeira”, ASCE 16-95 - “Standard for Load and Resistance Factor Design (LRFD) for Engineered
Wood Construction” e Eurocode 5 - “Eurocode 5 - Design of Timber Structures” (2008). Embora
cada uma contenha suas particularidades, todas definem a segurança da estrutura a partir de
conceitos básicos de projeto em madeira. A seguir, serão apresentados esses conceitos com base
nas definições gerais das normas, especificando as diferenças entre cada em caráter descritivo, sem
detalhar as equações envolvidas para não sobrecarregar a leitura deste tópico. Em contrapartida,
caso o leitor se interesse em ir mais a fundo, serão referenciados os capítulos e seções os quais são
definidos os parâmetros e equações em cada norma. Adicionalmente, por considerarmos algo
fundamental para compreensão do plugin executado no trabalho, está no Anexo A um resumo dos
procedimentos incluídos no programa, com maior detalhamento recorrente aos parâmetros e
equações da norma europeia.

A escolha do Eurocode 5 (EC5) para execução do programa de dimensionamento se deu por se


assemelhar mais a norma brasileira do que a americana. Embora a priori faça mais sentido para o
trabalho utilizar a norma brasileira, ela se trata de uma norma defasada, com pouca referência a
madeira laminada colada. Porém, outro motivo que levou à escolha do EC5 está no fato que a
última revisão da NBR7190 (2013), ainda não oficial, tende a seguir os procedimentos europeus.

Durante a análise, é preciso atenção a algumas características específicas do material. A madeira


apresenta um aumento de deformação e uma redução de resistência ao longo prazo, ambos
associados à umidade e temperatura. Por isso as propriedades mecânicas utilizadas devem ser
controladas a partir do tempo de duração das ações na estrutura e a classe de serviço onde será
implantada a estrutura, que depende da umidade média e da temperatura média locais. Sendo assim,
devem ser considerados estes efeitos sobre o módulo de elasticidade e as propriedades de
resistência mecânica da madeira em geral.

É preciso também estar atento à estabilidade global na estrutura. Assim como em estruturas de aço,
as ligações na madeira são de modo geral articuladas, o que exige o correto travamento da estrutura
e a adoção das hipóteses adequadas durante a análise estrutural.

O dimensionamento de perfis de madeira está fundamentado dos critérios do método dos Estados
Limites. Uma estrutura alcança um estado limite quando ela deixa de atender algum critério de
13

funcionalidade. Em geral os principais estados limites em estruturas são os estados limites de


utilização (ELU) e de serviço (ELS). Para esses estados são definidos critérios de combinação de
ações relevantes à cada um.

2.3.1 Propriedades da Madeira


A norma brasileira define que é necessário considerar quatro propriedades da madeira. A primeira
é a sua densidade, caracterizada pela sua “densidade básica”, que equivale à razão entre sua massa
seca e volume saturado. A segunda propriedade a ser definida é a umidade da madeira, que tem
por finalidade ajustar as outras duas propriedades a serem definidas: resistência e rigidez. As
propriedades de rigidez da madeira são caracterizadas pelos módulos de elasticidade do material,
definidos por meio de ensaios de compressão paralela e perpendicular às fibras.

As propriedades de resistência, que indicam as máximas tensões resistidas pelo material, são as
que possuem um maior número de parâmetros a serem definidos. Segundo a NBR, no mínimo três
devem ser conhecidos: resistência à compressão paralela, à tração paralela e ao cisalhamento
perpendicular às fibras. Em se tratando da madeira laminada colada, outros três parâmetros devem
ser estudados: resistência ao cisalhamento na lâmina de cola, à tração na lâmina de cola e das
emendas dentadas.

As mesmas propriedades abordadas pela norma brasileira são também pelo Eurocode. Embora o
EC5 não englobe os procedimentos para quantificação dos valores das propriedades, é feita
referência à outra norma europeia (BS EN 338:2003), que define os valores das propriedades das
madeiras, agrupando-as em classes e explicando o como enquadrar cada espécie dentro de uma
classe.

Ambas as normas permitem a correlação de valores de resistência ou de rigidez, a fim de obter


valores desconhecidos a partir de parâmetros conhecidos, seguindo cada uma o seu
equacionamento.

A norma americana não especifica detalhes sobre a determinação das propriedades da madeira,
porém determina as condições de referência para os ensaios a serem realizados na determinação
dos dados característicos (ASCE16-95 Seção 2.5). Porém, a norma descreve as propriedades
mecânicas relevantes no decorrer do texto, deixando evidente as verificações à tração, compressão,
cisalhamento e outros esforços solicitantes.
14

2.3.2 Fatores de Influência sobre as Propriedades de Resistência


As propriedades de resistência da madeira estão atreladas à fatores correlacionados à propriedade
da madeira empregada, à classe de duração das ações consideradas e à classe de serviço do
ambiente onde encontra-se a estrutura (dependente da temperatura e umidade locais). Estes três
parâmetros de influência determinam as resistências de cálculo através da relação seguinte:

Equação 1

Sendo o valor de cálculo de uma propriedade e o valor característico dessa propriedade.

2.3.2.1 Coeficiente de Minoração


Na norma brasileira, o Coeficiente de Minoração é nomeado γw, e seu valor varia de acordo com
os esforços aplicados e suas direções em relação à seção da peça (NBR7190 Seção 6.4.5). Nos
casos em que ocorre compressão paralela às fibras, o fator de ponderação possui menor valor,
enquanto nos casos onde ocorre tração paralela às fibras ou cisalhamento perpendicular às mesmas,
o coeficiente utilizado possui um valor maior, por exemplo.

Já no Eurocode 5, as propriedades de resistência da madeira são reduzidas a partir de um fator


parcial denominado γM, cujo valor depende do tipo de carregamento atuante, da análise feita e da
madeira empregada (EC5 Seção 2.3.2.2). Para carregamentos acidentais, o coeficiente tem valor
1,0, não sendo considerada, portanto, uma redução na resistência do material. Já nos carregamentos
fundamentais, o valor de γM varia se a análise feita for referente às peças de madeira ou às conexões,
e, no primeiro caso, conforme o tipo de madeira empregada, tendo um valor de redução menor para
madeira laminada colada do que para peças sólidas.

Na norma americana é utilizado um fator de resistência Φ, cujo valor, assim como na norma
brasileira, varia de acordo com o tipo de carregamento estudado. A redução da resistência é menor
nos casos em que ocorre compressão e maior naqueles onde há cisalhamento ou torção (ASCE16-
95 Seção 1.4.3 e Tabela 1.4-1).

2.3.2.2 Coeficiente de Modificação


Tanto para a norma brasileira quanto para a norma europeia, o Coeficiente de Modificação é
determinado pelo efeito do tempo de duração da respectiva combinação de ações considerada no
cálculo, através da “Classe de Duração da Ação” ou “Load-Duration Class”; e pela umidade média
15

relativa ao local onde será implantada a estrutura, considerada através da “Classe de Umidade” ou
“Service Class”.

KPara a norma brasileira, o Coeficiente de Modificação é chamado de Kmod e encontra-se definido


como (NBR7190 Seção 6.4.4), sendo Kmod,1 o coeficiente parcial
que leva em conta a classe de carregamento e o tipo de material empregado, Kmod,2 o coeficiente
que leva em conta a classe de umidade e o tipo de material empregado, e Kmod,3 o coeficiente parcial
que leva em conta se a madeira é de primeira ou segunda categoria.

De forma análoga, para norma europeia o coeficiente também é nomeado Kmod e encontra-se
determinado por uma tabela (EC5 Seção 3.1.3) que relaciona “Material”, “Service class” e “Load-
Duration class”.

A norma americana também determina um fator de efeito do tempo com proposta igual às das
outras normas, porém ela é definida para considerar apenas este fenômeno, sendo as condições
ambientais e de material destinadas a outros fatores a serem adicionados de acordo com cada
situação apontada pela norma (ASCE95-16 Seção 1.4.3 e 2.6). A sua escolha também difere por
não apresentar classes de carregamentos, mas sim definir um fator para cada combinação de ações
estruturais que ela determina.

2.3.3 Coeficiente de Influência sobre a Deformação


O efeito de fluência da madeira sob combinação de ações de longa duração está atrelado, também,
à umidade local, e portanto, à Classe de Serviço da estrutura. Segundo a norma europeia, é
considerado o efeito de fluência da madeira sob impacto da combinação de carga quasi-permanente
através do coeficiente , definido por uma tabela que relaciona “Material” e “Service Class”
(EC5 Seção 3.1.4).

Esse coeficiente deve ser considerado nas deformações de longo prazo da estrutura através de
minoração dos valores médios do módulo de elasticidade paralelo à fibra (Emean), do Módulo de
Elasticidade transversal à fibra (Gmean) e do Módulo de Escorregamento da conector metálico (Slip
Modulus, Kser) conforme as equações abaixo:

Equação 2
16

A norma brasileira determina que o Kmod seja multiplicado ao módulo de elasticidade característico
para obtenção de um módulo de elasticidade efetivo, o qual deve ser utilizado para avaliação de
cargas de longa duração (NBR7190 Seção 6.4.9). Já a norma americana não entra em detalhes
sobre o assunto de deformações, deixando isso a cargo de anexos estaduais.

2.3.4 Estado Límite Último (ELU)


O ELU de uma estrutura é satisfeito se não houver perigo à segurança da estrutura sob condições
extremas de carregamento que venham a implicar na ruptura, instabilidade ou perda de equilíbrio
da estrutura. Em geral as normas definem uma resistência e uma solicitação de projeto aos
elementos estruturais. A resistência característica é minorada por coeficientes que levam em
consideração efeitos da variabilidade do material e do tempo de ação das solicitações na estrutura.
A solicitação por outro lado é majorada considerando a incerteza da intensidade das ações. O ELU
também engloba a análise de tempo de ruptura da estrutura sob condições de incêndio, a qual deve
respeitar o tempo requerido de resistência ao fogo (TRRF), estabelecido pelo corpo de bombeiros.

2.3.4.1 Combinação de ações estruturais para o ELU


As combinações das ações nas estruturas de madeira são diversas, e definem-se através de classes
de ações que recebem ponderações diferentes para cada verificação nos estados limites. Em geral
são definidas cargas permanentes, como peso próprio e materiais de revestimento fixos na
estrutura, e cargas acidentais que possuem um escopo bem mais amplo que contempla ações de
pessoas, vento, chuva entre outros.

As normas brasileira e europeia se assemelham muito neste quesito. Para o ELU são definidas duas
classes de combinação: fundamentais e acidentais. Embora a europeia também cite combinações
para cargas de terremoto, não se trata de uma combinação relevante ao caso brasileiro. (NBR7190
Seção 5.7, EC0 Seção 6.4).

Combinação Fundamental

Combinação Transitória ou Acidental

Tabela 1 – Combinações de ações para ELU.


17

Os coeficientes correspondem a majorações relevantes a cargas permanentes (G) e acidentais (Q)


e os parâmetros se referem a reduções nas cargas acidentais decorrentes da probabilidade de
atuação simultânea delas com a carga acidental principal , dada a improbabilidade de essas ações
raras ocorrerem em sua maior intensidade simultaneamente. O indexador deste parâmetro refere-
se, respectivamente, às combinações características (0), frequentes (1) e quase-permanentes (2).
Na decisão da ação principal, duas ou mais ações acidentais importantes podem levar a adoção de
mais de uma ação principal e consequentemente mais combinações para análise do ELU.

Combinações fundamentais se referem à situações recorrentes para a estrutura, enquanto as


combinações acidentais se referem à condições de ocorrência especiais, como etapas de construção
e situações de fogo. Na madeira, as situações fundamentais a serem consideradas devem ser mais
que uma, pois de acordo com a duração de ocorrência das ações acidentais principais (ou
permanente sozinha, se for o caso) são aplicadas penalizações cada vez maiores aos parâmetros de
resistência, conforme será explicado mais adiante.

A norma americana trabalha sobre os mesmos princípios, com a diferença que ao invés de
introduzir parâmetros como a brasileira e europeia ela estabelece uma série de combinações
considerando cargas permanentes, de vento, neve, terremotos, entre outros, sendo necessário a
avaliação de um total de 7 ou mais combinações diferentes (ASCE16-95 Seção 1.3). Observa-se
que neste quesito a norma americana fornece menos margem de interpretação do que as outras, por
definir mais claramente os tipos de ações envolvidas.

2.3.4.2 Avaliação de segurança estrutural para o ELU


Definidas as propriedades de resistência aos esforços solicitantes, as normas determinam os
critérios de satisfação do ELU para cada tipo de solicitação. Embora em geral deva-se considerar
a tensão atuante nos elementos contra a tensão máxima de resistência definidas pelas propriedades
do material minoradas pelos fatores de ponderação discutidos até então, dado o fato de a madeira
ser um material ortotrópico, algumas considerações específicas decorrentes de fenômenos de
estabilidade estrutural referentes à cada tipo de solicitação devem ser considerados neste tópico. A
seguir apresenta-se um panorama geral de como cada norma define os critérios de avaliação do
estado limite último para cada tipo de esforço solicitante, de forma a aliar observações
experimentais à teoria da elasticidade, fundamental para o emprego do método dos estados limites.
18

Nas equações apresentadas, todos os parâmetros de solicitação e resistência são os de projeto, ou


seja, já tendo sido considerado todas as ponderações discutidas em 2.3.2 (Fatores de Influência
sobre as Propriedades de Resistência).

 Tração Paralela à Fibra

Em todas as normas a resistência à tração é definida por uma equação genérica do tipo:

Equação 3

Onde corresponde a tensão paralela limite de resistência, ao esforço solicitante de tração


paralela e à área da seção.

Apesar da importância de considerar a influência dos conectores metálicos e perfurações em


elementos sob tração, as normas brasileira e europeia não vão a fundo sobre considerações da perda
de seção bruta decorrente das conexões (EC5 Seção 6.1.2 e NBR7190 Seção 7.3.1). A norma
americana, por sua vez, determina uma perda de área útil da ordem do diâmetro das ligações e de
uma folga aplicada a elas (ASCE95-15 Seção 3.2).

 Tração Perpendicular à Fibra

A tração perpendicular à fibra deve ser evitada no projeto de estruturas de madeira pelo fato de o
material ter pouca resistência à esta solicitação dado ao eventual descolamento das fibras. Para
calcular seu efeito, de forma análoga à tração paralela, teremos:

Equação 4

Onde corresponde a tensão paralela limite de resistência, ao esforço solicitante de


tração perpendicular e à área de influência relativa à aplicação dessa tração. Para determinar a
tensão paralela de resistência ( ) a altura da parte solicitada será considerada, pois ela terá
influência direta sobre o descolamento da fibra (EC5 Seção 6.1.3, NBR7190 Seção 7.2.9 e
ASCE16-95 Seção 3.3).

Este caso de solicitação está relacionado majoritariamente à conexões, dado que o posicionamento
e a solicitação gerada por conectores metálicos podem gerar esforços de tração perpendicular à
19

fibra, porém esta análise não está incluída na verificação do ELU das seções, e sim nas verificações
específicas aos conectores, que serão abordadas posteriormente neste trabalho.

 Compressão Paralela à Fibra

A resistência à compressão a priori é igual à de tração, por ser um esforço solicitante normal.
Porém, elementos à compressão estão sujeito a perda de estabilidade por flambagem, o que pode
acarretar em acréscimo de tensão. O efeito de flambagem está diretamente relacionado à rigidez da
seção transversal assim como o comprimento livre do elemento.

Todas as normas definem um fator de ponderação de estabilidade, que reduz a resistência do


material considerando o momento de inércia da seção transversal (I), o comprimento de flambagem

efetivo ( ) e o módulo de elasticidade percentil do material. O momento de inércia deve ser


considerado nos dois eixos principais da seção transversal e o módulo de elasticidade percentil é
um valor que considera o mínimo valor do intervalo de confiança de 5% do valor médio medido.

O comprimento de flambagem efetivo é resultado do produto , onde corresponde ao


comprimento livre da viga ou pilar. Na norma brasileira vigente, é recomendado sempre o uso de

(NBR7190 Seção 7.5), enquanto nas normas europeia e americana o coeficiente é dado pelas
condições de suporte do elemento, que podem ser maiores ou menores que 1 (EC5 Seção 6.1.4,
ASCE16-95 Seção 4).

 Compressão Perpendicular à Fibra

Na norma europeia, por sua vez, apresenta um método de verificação da a resistência à compressão
perpendicular à fibra através da determinação de uma área efetiva sobre a qual os esforços desta
tensão serão distribuídos (EC5 Seção 6.1.5)

Equação 5

Esta área efetiva é apresentada em função da área de aplicação direta da tensão de compressão
relacionada às propriedades geométricas do membro comprimido, e majora a resistência à
compressão perpendicular através de uma relação entre a geometria dessas solicitações e do
posicionamento dos apoios da peça comprimida. As normas brasileira e americanas aponta relação
20

semelhante, porém sem consideração do coeficiente de majoração da resistência (NBR7190 Seção


7.3.2, ASCE16-95 Seção 4.5).

 Flexão, Flexo-Compressão e Flexo-Tração

Em condições de flexão nas vigas, as normas estabelecem a resistência a partir da combinação das
ações de momento fletor nos dois eixos da seção transversal (NBR7190 Seção 7.3.4, EC5 Seção
6.1.6, ASCE16-95 Seção 5) devendo obedecer a inequação a seguir, com o eixo x sendo do sentido
longitudinal da viga

Equação 6

Onde corresponde ao momento fletor atuante e o momento elástico.

Porém, vigas esbeltas e altas são sujeitas à efeitos de instabilidade lateral, podendo torcer em torno
do eixo. Para tal as normas definem procedimentos semelhantes ao caso de compressão, porém
com formulações específicas a este fenômeno e em relação ao comprimento livre de flexão, que é
determinado pela contenção lateral ao eixo perpendicular à altura.

Ao avaliar a flexão e esforços normais atuando juntos, se adiciona ao termo da inequação a razão
entre a tensão solicitante normal e a tensão de resistência (NBR7190 Seção 7.3.6 e 7.5, EC5 Seção
6.3, ASCE16-95 Seção 6). Porém no caso específico de flexo-compressão, as normas europeia e
americana determinam o uso de análise não-linear ou de métodos aproximados que considerem os
efeitos de segunda ordem da combinação dessas ações, decorrente da perda de estabilidade por
compressão. A norma americana é a única que especifica uma metodologia aproximada para
determinação dos esforços sob condições de segunda ordem, conhecida no Brasil pelo método B1
e B2, semelhante ao recomendado na norma brasileira de estruturas metálicas (NBR8800:2008).
Neste trabalho, utilizou-se um método aproximado alternativo de avaliação de segunda ordem
presente no programa de elementos finitos Karamba 3D.

 Cisalhamento

Em todas as normas a avaliação das seções sob esforços cisalhantes ocorre de forma análoga
a:
21

Equação 7

A norma europeia (EC5 Seção 6.1.7), de forma mais específica, aponta que em geral a resistência
ao cisalhamento rolante é aproximadamente duas vezes a resistência ao cisalhamento perpendicular
à fibra, e também aponta que para membros sujeitos à flexão e cisalhamento é necessário considerar

na avaliação de cisalhamento uma seção com .

A norma americana trabalha com o mesmo princípio, mas traz considerações específicas para casos
de seções retangulares, vigas chanfradas e em região de nós e conexões (ASCE16-95 Seção 5.4).

 Torção

De acordo com a norma brasileira (NBR7190 Seção 7.4.4), recomenda-se evitar a torção de
equilíbrio em peças de madeira, em virtude do risco de ruptura por tração perpendicular às fibras
decorrente do estado múltiplo de tensões atuante. No caso de esta ser inevitável, a norma brasileira
aponta para a relação entre torção e resistência ao cisalhamento na presença de tensões tangenciais
paralelas às fibras:

Equação 8

A norma europeia aponta relação semelhante, porém agrega à relação um fator responsável por
majorar a resistência ao cisalhamento (kshaoe) a depender da configuração geométrica da seção
analisada (EC5 Seção 6.1.8).

Equação 9

A norma americana apenas especifica a verificação para o caso de vigas retangulares (ASCE16-95
Seção 5.5).

2.3.4.3 Especificidades do ELU para Madeira Laminada Colada


A madeira laminada colada possui particularidades a serem consideradas na avaliação estrutural
decorrentes das possibilidades que ela permite, entre elas a formação de arcos, vigas muito altas
e/ou chanfradas.
22

Sob este aspecto a norma brasileira apenas indica dentro do coeficiente kmod3 uma redução na
resistência da madeira decorrente do raio de curvatura de uma viga curva.

Já as normas europeia e americana possuem seções específicas sobre a MLC onde, além de
especificarem coeficientes de redução em vigas curvas, também especificam efeitos de ganho de
resistência decorrentes do aumento do volume de peças coladas e procedimentos para avaliação do
comportamento de vigas chanfradas e arcos (EC5 Seções 3.3 e 6.4, ASCE16-95 Anexo A2 e Seção
2.6).

2.3.5 Estado Limite de Serviço (ELS)


O Estado Limite de Serviço é condicionado à requerimentos funcionais da construção, que são
afetados por deformações excessivas e vibrações. A seguir serão apresentadas apenas
considerações das normas brasileira e europeia, devido ao fato da americana não estipular nada em
específico para este estado limite, apenas dirigindo o leitor à busca por normas regionais de cada
estado americano para avaliação do ELS.

2.3.5.1 Combinação de ações estruturais para o ELS


No Estado Limite de Serviço, as normas brasileira e europeia seguem os mesmos princípios que
para o ELU, porém trabalham com diferentes tipos de combinações (NBR7190 Seção 5.8, EC0
Seção 6.5).

Combinação Característica

Combinação Frequente

Combinação Quasi-Permanente

Tabela 2 – Combinações de ações para ELS.

As combinações característica e frequente são utilizadas para avaliação da deformação instantânea


da estrutura. Em geral utiliza-se as combinações frequentes, porém, caso a ação aja em regiões que
seguram elementos sensíveis a deslocamentos e situações que há interesse em evitar a deformação
instantânea da estrutura recomenda-se o uso da combinação característica. Ao avaliar efeitos de
longa duração da madeira, conforme detalhado a seguir, é utilizada a situação quasi-permanente,
23

levando em consideração a probabilidade das ações variáveis se manterem durante a vida útil da
estrutura. Porém, caso se trate novamente de elementos sensíveis, utiliza-se para esse fim a
combinação frequente.

2.3.5.2 Avaliação dos Limítes para o ELS


Como mencionado, o estado limite de serviço diz respeito às deformações e vibrações causadas
nas estruturas. Deformações excessivas podem gerar danos não-estruturais devido a deformações
de elementos de fachada, parede, entre outros. Vibrações podem levar ao desconforto dos usuários,
e sua análise deve garantir o conforto sob os deslocamentos dos usuários na construção e no caso
de maquinário presente na estrutura, sua influência na vibração também deve ser considerada. A
seguir, apresenta-se o como cada um desses efeitos deve ser considerado de acordo com as normas
brasileira e europeia.

 Deformações

Tanto a norma brasileira quanto a europeia determinam valores limite de deslocamento, que são
uma função do comprimento do vão ou do balanço da viga sendo analisada. Nos casos em que uma
viga está em balanço, existe uma tolerância maior para os deslocamentos.

Para a determinação do valor da flecha efetiva de um elemento estrutural, a norma brasileira


considera a somatória dos deslocamentos causados pelas ações permanentes e pelas acidentais. A
norma prevê, ainda, a possibilidade de utilização de contra-flecha, mas limita seu valor à parcela
do deslocamento causado por ações permanentes (EC5 Seção 9.2).

O Eurocode, por outro lado, determina limites para três valores de deslocamento: flecha
instantânea, flecha total em relação a configuração indeformada, e flecha total, contando contra-
flecha aplicada.

 Vibrações

A norma brasileira é bastante simplista nas considerações relativas às vibrações, trazendo restrições
de caráter mais qualitativo (EC5 Seção 9.3). A única restrição quantitativa que a norma traz é para
as análises em estruturas, onde pessoas caminharão regularmente, determinando a frequência de
vibração natural mínima que a estrutura deve ter.

Já a norma europeia traz mais detalhes neste tópico. Além das considerações que a norma brasileira
trás, o Eurocode, nos casos onde o valor mínimo de frequência natural de vibração seja atendido,
24

também requer que seja verificado o valor da razão entre o deslocamento máximo durante a
vibração e a forma estática aplicada e o valor da velocidade de vibração (EC5 Seção 7.3).

Buscando verificações a favor da segurança, a norma europeia determina que o estudo seja feito
considerando que não há carregamentos no piso, que não seu peso próprio, ou outros carregamentos
permanentes.
25

2.4 LIGAÇÕES EM ESTRUTURAS DE MADEIRA


A madeira, assim como o aço, depende de ligações para conexão entre elementos. Apesar desta
inicial semelhança, no aço essas conexões resumem-se principalmente em parafusos e solda,
podendo ser articuladas ou rígidas. O universo da madeira, por sua vez, oferece as mais variadas
soluções. Tendo em vista, esse trabalho procurou focar-se nas conexões articuladas (que
teoricamente não transmitem momento) mais utilizadas - compostas fundamentalmente de pregos,
parafusos e barras roscadas, aliadas ou não à placas de aço. Outras ligações conhecidas são por
cavilhas de madeira, grampeamento por placa de aço ou encaixe, sendo o último conhecido por seu
amplo uso na arquitetura oriental tradicional.

Como para ligações a literatura de cálculo também é muito vasta, dado que há muitas variabilidades
e condições de contorno possíveis, optou-se por explorar a fundo apenas a norma europeia, que
demonstrou ter abordagem semelhante à brasileira - porém de forma mais aprofundada - e também
por ter sido escolhida como referência para execução do programa de cálculo como um todo,
produto deste trabalho.

Para o dimensionamento de ligações de madeira deve-se considerar os diversos modos de falha que
podem ocorrer na interface madeira-conector-madeira. Em geral são consideradas as possibilidades
de cisalhamento na madeira e flexão do conector, sendo o caso de projeto o menor valor de
resistência. Outros aspectos incluem a direção da força aplicada com a direção paralela às fibras da
madeira pois, como já mostrado, a madeira possui propriedades anisotrópicas onde a sua resistência
varia de acordo com a orientação da solicitação.

A seguir são apresentados os fundamentos do processo de dimensionamento de ligações e os


principais parâmetros envolvidos no processo. Detalhes acerca do cálculo dos parâmetros e dos
procedimentos utilizados no programa deste trabalho estão descritos no Anexo A.

2.4.1 Modos de falha dúctil por cisalhamento


K. W. Johansen, em Copenhagen, por volta de 1949, foi o pioneiro a formalizar uma teoria a
respeito de modos de falha dúcteis para conexões carregadas lateralmente em madeira. Em seu
principal artigo, Johansen atesta que a resistência de uma conexão do tipo cavilha - prego, parafuso
ou barra roscada - depende parcialmente da resistência da madeira à força de embutimento, e
parcialmente da resistência do conector ao dobramento. Segundo ele, a capacidade de resistência
de uma conexão deste tipo pode ser formulada matematicamente com base no fato de ambos os
26

fenômenos ocorrem devido à plastificação da madeira ou do aço. Para entender o comportamento


das conexões consideremos os exemplos elucidativos abaixo, apresentados por Johansen como
fundamentos de sua formulação, que propõe análise de todos os tipos de modo de falha possível de
uma conexão para determinar o modo de falha aponta capacidade mínima de carga para uma
determinada configuração de conexão, sendo esta, então, a capacidade de carga da conexão à
solicitação lateral.

Figura 10 – Modos de falha clássicos (Johansen, 1949)

A primeira análise corresponde à uma conexão de cisalhamento simples com uma cavilha de
rigidez suficiente, nota-se a rotação da cavilha dentro dos perfis de madeira, plastificação da
27

madeira e não da cavilha. A segunda análise apresenta uma cavilha que não é suficientemente
rígida, apresentando então plastificação anteriormente à madeira, ocorrendo plastificação da
madeira apenas no ponto de rotação da cavilha. A terceira análise demonstra flexão central da
cavilha sob duplo cisalhamento, associada a rotação rígida da cavilha nos perfis laterais - que por
sua menor dimensão não apresentam rigidez suficiente para plastificá-la. E a quarta, por fim,
apresenta a dupla plastificação da cavilha sob influência de perfis laterais mais grossos. São
apresentadas também análises do embutimento puro da madeira central e lateral sob cisalhamento
duplo.

Figura 11 – Modos de falha para cisalhamento duplo (Johansen, 1949)


A formulação de Johansen foi, com o passar do tempo, desenvolvida e ampliada para demandas
modernas, e é até hoje a base fundamental da análise das conexões deste tipo. O Eurocode 5
considera os modos de falha tipo apresentados a seguir, também incluindo os casos de ligações de
aço de chapa grossa ou fina com relação ao diâmetro do conector. A resistência ao embutimento
simples da chapa de aço, por sua vez, deve ser verificada segundo a norma de aço.

Figura 12 – Modos de falha entre madeiras (EC5 Seção 8.2.2)


28

Figura 13 – Modos de falha entre madeira e aço (EC5 Seção 8.2.3)

No que se refere ao dimensionamento, teremos portanto como parâmetros principais o


embutimento da madeira atrelado à força de embutimento fh,k, e a flexão do conector associada
ao momento de resistência do conector My,RK., ambos determinados principalmente pelo
diâmetro do conector e pelas espessuras úteis da madeira. Somando-se à estes fatores, em todos
modos de falha em que ocorre flexão do conector metálico é observada uma resistência adicional
denominada “rope-effect”.

2.4.1.1 Resistência de embutimento


A força de embutimento (fh,k) equivale ao esforço resultante gerado pelo contato entre um elemento
de conexão à madeira. Embutimento, por sua vez, é a profundidade em que a conexão afunda na
peça de madeira. Dessa forma, a resistência de embutimento é o máximo valor de tensão suportado
pela peça que é solicitada por um conector. A figura 14 esquematiza a condição onde a máxima
força de embutimento é aplicada, se distribuindo ao longo do diâmetro e do comprimento da
conexão por dentro da peça.

Figura 14 – Força de embutimento de um conector genérico, solicitado a um ângulo  em relação a direção da fibra
(Porteous et al, 2007).

Devido à complexa natureza celular da madeira, pelo fato de não ser um material isotrópico como
o aço, a resistência ao embutimento da peça não é uma propriedade puramente material, pois
depende de diversos fatores como a distribuição geométrica dos conectores e o ângulo de
solicitação com relação à fibra. A seguir serão descritos os fundamentos para o cálculo da
resistência de embutimento para cada tipo de ligação segundo o Eurocode 5.
29

 Pregos (diâmetro menor que 8mm) e parafusos (diâmetro menor que 6mm):

Neste caso, a resistência de embutimento a ser considerada irá variar de acordo com o diâmetro do
conector sendo utilizado, da madeira utilizada e se serão utilizados pré-furos. De maneira geral, o
valor será diretamente proporcional à densidade característica da madeira e inversamente ao
diâmetro do conector.

 Barras roscadas, pregos (diâmetro maior que 8mm) e parafusos (diâmetro maior que
6mm):

Já nesta situação, o valor da resistência de embutimento além dos parâmetros citados acima,
também dependerá do ângulo em relação às fibras da madeira sob o qual as conexões serão
carregadas. A resistência de embutimento terá maior módulo nos casos em que a direção da força
aplicada às conexões for paralela às fibras da madeira e menor quando o esforço for perpendicular
à estas.

2.4.1.2 Momento de resistência


O momento de resistência (My, RK) é o momento resistido pelo conectores e seu valor depende do
material e do diâmetro destes, não importando o tipo de madeira sendo utilizado. O
equacionamento que o Eurocode 5 traz leva em conta análises no regime elastoplástico, a rotação
em diferentes conectores no momento da falha, a resistência do material do conector.

O seu valor depende do tipo de conector utilizado, do tensão de sua ruptura e de seu diâmetro,
sendo diretamente proporcional a estes dois últimos parâmetros.

2.4.1.3 “Rope-efect”
Rope effect é o nome dado à combinação de forças de atrito e de arranque em uma ligação. No
EC5, a contribuição deste efeito é reduzido ao termo Fax, Rk/4, onde Fax, Rk é a capacidade de
resistência ao arrancamento característica que um conector possui em uma dada ligação.

Para compreender este efeito, consideremos uma uma ligação entre duas peças de madeira
conectadas por um prego, conforme a figura 15. Supondo que sob a ação de força lateral, o prego
entre em plastificação dentro das peças, permitindo que haja um rotação 𝛳. Nessa situação o
conector será submetido à uma força de tração, Nd, que possuirá uma componente vertical e uma
horizontal. Na condição de falha, Nd será a capacidade de resistência ao arrancamento do conector
e sua componente horizontal Nd sen 𝛳 tem, no EC5, o valor Fax, Rk/4.
30

Figura 15 – “Rope-effect” (Porteous et al, 2007)


Para que essa resistência seja levada em consideração, deve-se obedecer a valores mínimos de
penetração nas peças de madeira. O Eurocode5 determina ainda um limite superior para o valor de
Fax, Rk/4. Esse limite também varia de acordo com o tipo de conector sendo utilizado e é tão maior
quanto for a aderência do conector às peças de madeira. Os fundamentos para a determinação de
Fax, Rk estão detalhados na seção 2.4.2.

2.4.1.4 Número Efetivo de Conectores


Considerando uma conexão com apenas um conector sendo solicitado de forma paralela à fibra,
teremos que a capacidade máxima de resistência desta conexão equivale à capacidade máxima
deste conector, calculada através dos modos de falha dúctil por cisalhamento. Consideremos agora
uma linha de conectores posicionados de forma paralela à fibra da madeira: segundo o Eurocode
5, a capacidade desta conexão não equivale à somatória das capacidades de cada um dos seus
conectores.

Pelo fato de os conectores estarem alinhados à fibra e serem solicitados também paralelamente à
fibra, a capacidade de resistência desta linha de conectores deve ser considerada como
; sendo N ef uma função de pré definida particularmente para o caso

específico de pregos, parafusos e barras roscadas (EC5, equações 8.17, 8.34). Vale considerar que,
para uma solicitação paralela à fibra, o efeito deste fenômeno deve ser considerado separadamente
para cada linha, somando-se os respectivos números efetivos de conectores por linha para obter-se
o N ef total da conexão, dado que uma linha não exerce influência sobre a outra.

Deste modo, para proceder com o dimensionamento de uma conexão, é necessário considerar a
projeção paralela e perpendicular da força atuante nos conectores, sendo que sobre a força paralela,
especificamente, se houverem linhas de conectores paralelos à fibra, é devido considerar a
31

respectiva minoração de sua resistência, enquanto para a projeção perpendicular da força solicitante
não é necessário realizar minoração alguma.

2.4.2 Modos de falha dúctil por força axial


Nas ligações também deve ser considerar as forças axiais, que determina a resistência de
arrancamento ou de perfuração indesejável do conector, para os casos de tração e compressão
respectivamente. Embora seja um caso não muito presente nas ligações de madeira, a determinação
de sua resistência é essencial pela existência do “rope-effect”, que adiciona resistência ao
cisalhamento a partir de seu valor. Apesar do seu uso não tão rotineiro, hoje em dia estão se
desenvolvendo diversos conectores atuando sobre esses princípios com parafusos cruzados, que
oferecem resistência ao cisalhamento de perfis de madeira a partir da solicitação axial das
conexões.

Para pregos a capacidade de transmitir força axial só existe caso ele seja rosqueado e a resistência
axial é definida pelo valor mínimo entre a resistência de arrancamento da madeira penetrada e
resistência de penetração da cabeça, em função do diâmetro do prego , a penetração no membro
do lado da ponta , espessura do membro do lado da cabeça e o diâmetro da cabeça do parafuso
e a densidade característica.

Para barras roscadas a norma não recomenda seu uso para esforços axiais de tração, e determina
a resistência axial a compressão a partir de 3 vezes a resistência à compressão perpendicular a fibra
da madeira, sob a área da arruela da porca. No caso de ligações com chapas de aço, a resistência a
compressão é dada pela resistência da chapa limitada a valores de espessura da chapa e diâmetro
da barra.

Em parafusos a força axial deve ser determinada pela possibilidade de falha tanto no arrancamento
do corpo e cabeça do parafuso, quanto na sua resistência à tração e a flambagem sob compressão.
A norma estabelece equações empíricas para determinação da resistência a penetração da cabeça e
ao arrancamento do corpo em função da densidade da madeira, diâmetro e penetração do parafuso,
e é interessante notar que conforme maior o ângulo de inclinação do parafuso em relação a direção
paralela a fibra maior a resistência axial, o que leva a norma a recomendar inclinações entre 30º e
60º. Tal propriedade também permite ligações de cisalhamento sob atuação de esforço axial nos
parafusos, como no caso de uma conexão pilar-viga.
32

2.4.3 Modos de falha frágil


Segundo o Eurocode 5, as verificações de resistência dúctil são válidas apenas se houver garantia
de que não ocorrerá ruptura frágil, através da fissuração ou corte da madeira provocados pelos
conectores. Para eliminar o risco de ruptura frágil foi estabelecido um critério de espaçamento de
borda e entre conectores (tabelas 8.3 a 8.6, EC5), obtido através de uma ampla gama de
mensurações empíricas.

Figura 16 – Imagens tratadas para visualização da ruptura frágil (Think Up, Materials Lab Online: Timber Failure
Mechanisms, 2015 )

A definição dos espaçamentos para cada tipo de conector - pregos, parafusos ou barras roscadas -
é variável conforme o tipo de conector, o ângulo da solicitação aplicada pelo conector em relação
à fibra, e o diâmetro do conector. Nota-se que o espaçamento independe do valor do esforço
transmitido pelos conectores, este valor é apenas implicante na definição do número de conectores
através da verificação dúctil explicitada anteriormente.

Além disso, também é recomendado o procedimento de pré-perfuração da madeira para pregos e


parafusos com diâmetro maior do que 6mm ou para madeira com densidade maior do que 500
kg/m3 (EC5, 8.3.1.1).
33

2.5 MODELAGEM PARAMÉTRICA DE ESTRUTURAS

Um dos avanços mais interessantes da arquitetura recente foi a introdução de softwares de


modelagem paramétrica no processo de design. Embora tal conceito seja em si um conceito
matemático (muito utilizado por arquitetos e engenheiros do século XX, como Pieri Nervi e Frei
Otto), foi com a introdução de processadores potentes que tal ferramenta se difundiu em uma
interface amigável.

Figura 17 - Palazzo dello Spoto, Pieri Nervi e Multihaeim Hall, Frei Otto.

O conceito da modelagem paramétrica é facilmente explicado a partir de seu nome: define-se as


geometrias através de parâmetros associados à operadores matemáticos. Assim pode-se
condicionar formas complexas a informações reduzidas, tornando-se viável a exploração
geométrica de soluções arquitetônicas com a simples alteração de alguns números, pontos, linhas
e superfícies. Porém, este conceito não é exclusivo para o desenvolvimento de geometrias, mas
também para linhas de cálculo, que podem, através da parametrização, automatizar processos
inerentes às profissões de arquitetura e engenharia: como os detalhamentos, a geração de desenhos
para construção e também as análises técnicas, como estudos de iluminação, eficiência energética
e estruturais, tanto de edificações complexas como de edificações simples.
34

Figura 18 - Processo paramétrico para projeto executivo do Morpheus Hotel, Zaha Hadid Architects.

Os pioneiros das ferramentas modernas de modelagem paramétrica atuam na empresa de softwares


McNeel, que introduziu ao seu renomado software de modelagem tridimensional Rhinoceros3D
(Rhino3D) a extensão Grasshopper, que apresenta uma interface para programação de geometrias
paramétricas, que são exibidas na interface gráfica do Rhino3D. Seu funcionamento baseia-se em
uma linguagem de programação gráfica, onde a extensão conta com diversos componentes de bloco
que recebem informações de parâmetros, aplicam uma rotina de cálculo sobre eles e então retornam
um ou mais resultados. É possível utilizar as respostas de um componente como dado de entrada
em outro, permitindo um sequenciamento de componentes que abrem um leque enorme de
manipulações geométricas dentro do programa. Outros aspectos interessantes são a
compatibilidade com diversas entidades geométricas - como malhas, curvas e superfícies NURBS,
BReps, etc - e a disponibilidade de toda a biblioteca base do Rhino3D e Grasshopper a partir de
programação orientada a objetos, o que permite a execução em C# e Python de inúmeras extensões
personalizadas dentro do Grasshopper, fator determinante para consolidação dessa ferramenta no
mercado de softwares de modelagem. Dentro da Escola Politécnica da USP, já foi desenvolvida
uma extensão em C# para a busca da forma de estruturas de membrana e casca (Souza, Pauletti,
2016).
35

Figura 19 - Componentes do Grasshopper e variabilidades de formas ao se alterar parâmetros (Souza, Pauletti, 2016)

Dentre as inúmeras extensões já desenvolvidas está o Karamba, que atrela os parâmetros do


Grasshopper à um programa de elementos finitos contendo elementos de viga, treliça e casca. Sua
função é permitir o condicionamento de uma dada geometria à uma análise estrutural, que também
possui seus parâmetros (dimensões de seção transversal, condições de suporte, materiais, etc). A
partir da definição de um modelo estrutural, o Karamba disponibiliza uma série de solvers, os quais
serão utilizados para este trabalho a análise estática elasto-linear e análise linear modal de vibração.
A parametrização de uma análise estrutural traz inúmeras vantagens seja em projetos simples ou
complexos, pois ela permite a alteração dos parâmetros com a resposta estrutural em tempo real,
acelerando o processo para se achar a estrutura mais econômica e viável.

Figura 20 - Interface geral do Grasshopper. Componentes se conectam para gerar desenhos atrelados a parâmetros.
36

Figura 21 – Exemplo de parametrização da geometria atrelada à analise estrutural no Karamba.

A madeira se encontra como um ótimo material para construção de projetos paramétricos, por sua
fácil maleabilidade em processos industriais e pela necessidade de ligações personalizadas a
depender do projeto. Como a fabricação dentro de projetos paramétricos muitas vezes depende do
uso de máquinas CNC, a facilidade e o baixo custo energético de se usinar a madeira permite um
grande processo criativo dentro da concepção de estruturas paramétricas, como é o caso das obras
do arquiteto Shigeru Ban e de experimentos do ICD (Institute for Computational Design) da
Universidade de Stuttgart.

Figura 22- Nine Bridges Country Club, Shigeru Ban.


37

Figura 23 – Fabricação e montagem do Landesgartenschau Exibition Hall, ICD.


38

3. Desenvolvimento

3.1 EXTENSÕES: BEAVER

Baseados nos procedimentos da norma Eurocode 5, construiu-se uma série de extensões para
Grasshopper, que recebem os esforços solicitantes e informações geométricas das seções de uma
dada estrutura, e respondem a relação entre destes esforços solicitantes e os esforços resistentes.
Seguindo a tradição da nomenclatura do reino animal nas extensões realizadas em Grasshopper,
ela foi nomeada de Beaver (Castor), em homenagem à habilidade natural deste animal em lidar
com a madeira.

A programação de extensões dentro do Grasshopper pode ser feita em linguagem C#, a partir de
um template fornecido pelos desenvolvedores. Cada componente é definido por uma classe, que
possui 6 métodos: O primeiro é a definição do componente em si, caracterizando nome e descrição.
A seguir aparecem dois métodos para as entradas e saídas dos componentes, onde são determinados
o tipo dos parâmetros (número, caractere, objeto geométrico, entre outros) e seus nomes e
descrição. O quarto método refere-se ao solver, que executa as ações sobre a entrada e responde os
parâmetros de saída. Por fim, temos 2 métodos de classificação do componente, sendo o primeiro
para determinar a imagem de ícone do componente e o último seu endereço virtual.

Figura 24 – Métodos de entrada e saída de parâmetros para a extensão em C#.


39

Figura 25 – Métodos de solução da extensão, ícone gráfico e identificação.

Figura 26 – Exemplo de entrada e saída de parâmetros para a extensão de verificação em tração.

Ao longo deste trabalho, foi criada uma série de componentes, sendo seis destes voltados à
verificação de perfis de madeira e sete à verificação de ligações. Alguns destes, possuem embutidas
neles opções para a definição do material utilizado, cujas propriedades mecânicas são puxadas de
um arquivo com formato .csv.

A seguir, será feito o detalhamento de cada um dos componentes, dividindo-os em dois grupos:
verificação de perfis e verificação de ligações.
40

3.1.1 Verificação de perfis


Os componentes que serão explicados nesta seção têm como objetivo verificar o atendimento de
seções adotadas aos requisitos estruturais propostos pelo Eurocode 5.

 Tração

Figura 27 – Extensão para verificação de tração

Seguindo as recomendações da Eurocode 5, o componente da figura 27 faz a verificação de


resistência à tração utilizando a equação 6.1 (EC5, ), tendo como dado de entrada a força normal
(N), a área útil (A) e o coeficiente de modificação (Kmod ). O dado de saída, DIV, corresponde à
razão entre a solicitação de tração e a resistência para a análise feita.
 Flexo-compressão Generalizado

Figura 28 – Extensão para verificação de flexocompressão

Neste componente foi decidido embutir em uma só formulação à avaliação de compressão e flexão
simples considerando instabilidade local tanto por flambagem à compressão quanto flambagem
lateral à torção. As equações 6.23 e 6.24 (EC5) atrelam as equações 6.2, 6.11 e 6.12 (EC5) em uma
única formulação e incluem considerações de instabilidade. A rotina de cálculo do componente
segue o fluxograma da figura 29 a seguir.
41

Figura 29 – Fluxograma para verificação de elementos sob flexocompressão

Nos parâmetros de entrada, Nd é a força normal de compressão, Myd a flexão no eixo principal da
viga, Mzd a flexão no eixo secundário da viga, h a altura, b a base, l o comprimento de flambagem
para o esforço dominante, kflam a relação entre lef/l, Kmod o coeficiente de modificação. A condição
para a esbeltez relativa à flexão (λrel,m < 0.75) vem da recomendação feita por Porteous (2007).

Este componente retorna três valores. DIVy é a razão entre a momento solicitante e o resistente no
eixo principal da viga e DIVx no eixo secundário e lamm é a esbeltez à flexão das vigas.
 Cortante

Figura 30 – Extensão para verificação à força cortante.

Aqui, utiliza-se a equação 6.13 e 6.13 do Eurocode 5 para verificar o comportamento do perfil à
força cortante, onde V é a solicitação à cortante, h a altura do perfil, b a base, Kmod o coeficiente de
modificação e DIV a razão entre a solicitação cortante e a resistência do perfil.
42

 Compressão perpendicular às fibras

Figura 31 – Extensão para verificação de compressão perpendicular às fibras

Neste componente é verificada as solicitações de compressão perpendicular às fibras do elemento.


Para isso foi programada uma rotina que considera de modo generalizado as análises apresentadas
nos capítulos 6.1.5 (compressão perpendicular à fibra) e 6.2.2 (compressão em ângulo relativa à
fibra) (EC5)

Deste modo, Fcad é a força resultante de compressão perpendicular à fibra, acomp é o seu ângulo de
aplicação (sendo considerado de 0 a 90 graus apenas para casos de chanfros na peça comprimida
perpendicularmente. No caso de apoios angulares sem chanfro considera-se acomp = 90 e a projeção
perpendicular de Fcad apenas). LFcad é o comprimento paralelo à fibra de aplicação de Fcad.

d1 é a distância do ponto mais à esquerda do perímetro comprimido e uma outra força de


compressão perpendicular (opção 0) ou o fim do elemento comprimido (opção 1), sendo válida a
mais próxima dentre elas. A entrada de d1,tipo é igual a 0 para opção 0, ou a 1 para opção 1. De
forma análoga, d2 e d2,tipo correspondem ao lado direito do perímetro comprimido
perpendicularmente. À partir destas referências, a Extensão pode calcular o comprimento efetivo
de distribuição das forças de compressão perpendicular à fibra sobre e elemento comprimido.

As propriedades b e h são a base e a altura correspondentes ao elemento comprimido


perpendicularmente à fibra. DIV é a relação entre a força de compressão solicitante e a resistência
a este esforço.
43

 Flexo-compressão para vigas curvas

Figura 32 – Extensão para verificação de flexo-compressão em vigas curvas.

Para avaliação de perfis curvados sob flexo-compressão, este componente repete o procedimento
da flexo-compressão generalizada (3.1.1.3), porém incluindo o coeficiente de minoração relativo à
questão da curvatura da viga, conforme equação 6.49 (EC5). Os parâmetros adicionais nesta
verificação são a curvatura máxima da viga (rin) e a espessura da lâmina da viga (t).
 Flexo-compressão para vigas chanfradas

Figura 33 – Extensão para verificação de flexo-compressão em vigas chanfradas.

Para o caso de vigas chanfradas, é realizado o procedimento descrito pelas equações 6.37 à 6.40
(EC5). Apesar da norma não prever minoração relativa à instabilidade lateral à torção da viga,
44

Porteous (2007) recomenda que se aplique o coeficiente kcrit relativo à maior altura da viga, que é
uma simplificação conservadora, mas atende os requisitos relativos à esse fenômeno.

3.1.2 Verificação de ligações


Foram produzidos ao todo sete componentes referentes à ligações. Destes, um realiza a verificação
para falha frágil e outro para parafusos inclinados carregados axialmente. Os outros cinco se
referem à verificação da capacidade de carga das conexões.

Embora a intenção inicial fosse criar um componente que realizasse as verificações para qualquer
tipo de conector tanto em sistemas madeira-madeira, quanto em madeira-aço, a complexidade dos
cálculos referentes a esse tema propostos pelo Eurocode 5 fez com que se tornasse mais viável criar
componentes específicos para cada conector, em cada sistema.

 Componentes para conexões em sistema madeira-madeira

Para conexões em sistemas madeira-madeira foram criados componentes para três tipos de
conectores: parafusos (figura 34), barras roscadas (figura 35) e pregos (figura 36).

Figura 34 - Componente para verificação de parafusos em sistema madeira-madeira.


45

Figura 35 - Componente para verificação de barras roscadas em sistema madeira-madeira.

Figura 36 - Componente para verificação de pregos em sistema madeira-madeira.

Os dados de entrada que esses componentes possuem em comum são:

 Força cortante de cálculo (VRd);


 Espessuras dos elementos 1 e 2 (t1 e t2);
 Ângulo de FV, Rd em relação às fibras dos elementos 1 e 2 (𝛼1 e 𝛼2);
 Número de conectores paralelos e perpendiculares às fibras do elemento 1 (npar e npep);
 Diâmetro dos conectores (d);
 Tipo da madeira utilizada (wtype);
 Conector em cisalhamento simples ou duplo (S/D);
 Coeficiente de modificação (Kmod);
 Espaçamento dos conectores paralelos às fibras do elemento 1 (a1);
46

 Menor espaçamento entre conector e borda (a4)

Os dados de entrada específicos para conexões com parafusos ou pregos são:

 Força axial no conector (NRd);


 Diâmetro da cabeça do conector (dh);
 Comprimento do conector (l);
 Utilização ou não de pré-perfuração (pdrill);

Já os dados de entrada exclusivos para conexões com parafusos são:

 Ângulo dos parafusos em relação às fibras do elemento 1 (𝛼fast);


 Comprimento da região roscada do parafuso (l_th);

Para barras roscadas, o único dado de entrada exclusivo é:

 Diâmetro da bucha (dw)

As rotinas de cálculo de todos esses componentes são semelhantes e de maneira geral seguem a
lógica apresentada no fluxograma da figura 37. A partir desta rotina, os componentes retornam os
seguintes dados de saída:

 Capacidade de carga do conector (FV, Rd);


 Resistência ao arrancamento (Fax, Rd);
 Razão entre a solicitação e capacidade de carga reduzida (DIV);
 Modo de falha crítico para a ligação (Fail. Mode)

Figura 37 - Lógica da rotina de cálculo dos componentes para sistema maderia-madeira

 Componentes para conexões em sistema madeira-aço

Para conexões em sistemas madeira-aço foram criados componentes para dois tipos de conectores:
parafusos (figura 38) e barras roscadas (figura 39).
47

Figura 38 - Componente para verificação de parafusos em sistema madeira-aço.

Figura 39 - Componente para verificação de parafusos em sistema madeira-aço.

Os dados de entrada que esses componentes possuem em comum são:

 Força cortante de cálculo (VRd);


 Força normal no conector (NRd);
 Espessura do elemento de madeira (t);
 Espessura do elemento de aço (tsteel);
 Ângulo de FV, Rd em relação às fibras do elemento de madeira (𝛼);
 Número de conectores paralelos e perpendiculares às fibras do elemento de madeira (npar
e npep);
 Diâmetro dos conectores (d);
 Tipo da madeira utilizada (wtype);
48

 Conector em cisalhamento simples, duplo com elemento central de aço ou duplo com
elemento central de madeira, (St);
 Coeficiente de modificação (Kmod);
 Espaçamento dos conectores paralelos às fibras do elemento 1 (a1);
 Menor espaçamento entre conector e borda (a4)

Já os dados de entrada exclusivos para conexões com parafusos são:

 Ângulo dos parafusos em relação às fibras do elemento 1 (𝛼fast);


 Comprimento da região roscada do parafuso (l_th);
 Utilização ou não de pré-perfuração (pdrill)

Para barras roscadas, o único dado de entrada exclusivo é:

 Diâmetro da bucha (dw)

A lógica da rotina de cálculo dos componentes para sistemas madeira-aço é muito semelhante à
ilustrada na figura 37. A principal diferença nesse caso é que também é necessário verificar a
resistência da(s) placa(s) de aço utilizada(s). A figura 40 ilustra a lógica seguida para este caso.

Figura 40 - Lógica da rotina de cálculo dos componentes para sistema madeira-aço

Após a aplicação das rotinas de cálculo, os parâmetros retornados pelos componentes são os
seguintes:

 Capacidade de carga do conector (FV, Rd);


 Resistência ao arrancamento (Fax, Rd);
 Razão entre a solicitação e capacidade de carga de projeto (DIV);
 Razão entre a solicitação e capacidade de carga projeto das placas de aço (DIVsteel);
49

 Modo de falha crítico para a ligação (Fail. Mode)

 Falha frágil

O componente voltado para verificação de falha frágil das ligações (figura 41) tem como finalidade
informar os espaçamentos mínimos que devem ser adotados entre os conectores para satisfazer as
condições propostas pelo Eurocode 5.

Figura 41- Componente para cálculos de espaços mínimos para evitar falha frágil.

Os parâmetros recebidos pelo componente de falha frágil são:

 Tipo de conector adotado (Ftype);


 Diâmetro do conector (d);
 Tipo de madeira (wtype);
 Ângulo da força cortante em relação às fibras da madeira (𝛼);
 Utilização ou não de pré-perfuração (pdrill);

A partir desses dados, executa-se uma rotina de cálculo, a partir do tipo de conector adotado. Para
prego e parafusos com diâmetro menor ou igual a 6mm, são adotados os espaçamentos segundo a
tabela 8.2 (EC5). Já para barras roscadas ou para parafusos com diâmetro maior que 6mm, os
espaçamentos serão adotados segundo tabela 8.4 (EC5). Deste procedimento obtêm-se os seguintes
parâmetros:

 Espaçamento horizontal mínimo entre conectores (a1);


 Espaçamento horizontal ideal entre conectores (a1, best);
 Espaçamento vertical mínimo entre conectores (a2);
 Espaçamento entre conectores e a extremidade do elemento (a3,c e a3,t);
 Espaçamento entre conectores e as bordas do elemento (a4,c e a4,t);
50

 Parafusos inclinados carregados axialmente

O último componente programado para a verificação de ligações foi para parafusos inclinados
carregados axialmente (figura 42). Neste caso, foram consideradas três possíveis configurações:
parafusos paralelos em sistema madeira-madeira, parafusos cruzados em sistema madeira-madeira
e parafusos paralelos em sistema madeira-aço.

Figura 42 - Componente para verificação de parafusos inclinados.

O componente recebe os seguintes parâmetros:

 Força de projeto aplicada na conexão paralela às fibras do elemento (FRd);


 Número de pares de parafusos na conexão (Npar);
 Espessura do elemento externo (madeira ou aço) (t1);
 Espessura do elemento interno (madeira) (t2);
 Penetração do conector no membro interno (tpen);
 Configuração dos parafusos e sistema adotado;
 Ângulos do parafuso em relação às fibras dos elementos 1 e 2 (𝛼fast, 1 e 𝛼fast, 2);
 Diâmetro do parafuso (d);
 Diâmetro da cabeça do parafuso (dh);
 Resistência da cabeça do parafuso à penetração (fhead);
 Comprimento do parafuso (l);
 Comprimento da região roscada do parafuso (lt);
 Tipo da madeira (wtype);
 Coeficiente de modificação (Kmod);
51

Com os parâmetros acima, o componente realiza uma rotina de cálculo seguindo os procedimentos
descritos no Eurocode 5 (Seção 8.7.2). Com isso, o programa retorna os seguintes parâmetros:
 Capacidade de carga dos conectores (FV, Rd);
 Razão entre a solicitação e capacidade de carga de projeto (DIV);
52

3.2 ESTUDOS DE CASO

Os estudos de caso apresentados a seguir tiveram como objetivo a validação das extensões
desenvolvidas e a construção de um entendimento maior sobre os fundamentos de projeto e o
comportamento de estruturas de madeira através do estudo de obras relevantes, realizadas pelos
escritórios de projeto em madeira mais renomados no Brasil.

Não é o objetivo redimensionar as estruturas estudadas, e sim compreender o comportamento


estrutural dos sistemas estruturais e como eles respondem em aos verificadores desenvolvidos,
assim como em outras análises em modelo tridimensional, como estudo de vibrações, cargas de
vento e travamentos das estruturas. Tomarão atenção também os critérios de resistência mecânica
dos perfis, os valores de resistência e os módulos de elasticidade característicos, assim como as
variações destes valores com relação à duração das ações nas estruturas.

Assim, com o estudo e imersão ao “estado da arte”, há embasamento para o desenvolvimento do


projeto da cúpula proposta, a ser ainda complementada com um estudo das ligações das construções
estudadas.

As propriedades das madeiras foram obtidas pelas empresas fabricantes no caso da Madeira
Laminada Colada, sendo a da ITA Construtora feita de eucalipto e a da CROSSLAM de pinus.
Madeiras serradas em algumas análises tiveram propriedades recolhidas do catálogo do Instituto
de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
53

3.2.1 Casa da Praia Vermelha

A residência, localizada na Praia Vermelha do Sul (Ubatuba, São Paulo), foi escolhida como
Estudo de Caso por alguns motivos interessantes. Conformada por uma estrutura totalmente em
madeira (laje de piso, forro e cobertura), a casa está elevada da cota de chegada do terreno e apoiada
em apenas seis pilares. Como nos relatou o engenheiro responsável, Hélio Olga, durante a
concepção da estrutura, juntamente com o escritório Nitsche Arquitetos, haviam inicialmente 5
pilares principais na elevação frontal, conforme os desenhos abaixo. Hélio sugeriu a retirada dos
pilares laterais por motivos majorar a proteção da estrutura contra a água da chuva, fator importante
no litoral paulista. Isso fez com que o pilar central também fosse convenientemente retirado da
estrutura, resultando em uma elevação frontal de dois pilares, com grandes balanços, que são
característica principal do projeto.

Figura 24: Solução estrutural proposta removendo pilares.

As vigas principais da laje de piso são contínuas (13.75 metros) e bi-apoiadas com duplo balanço
igual à metade do vão central para cada lado, sendo então a distância entre os eixos dos apoios de
6.80 metros e o duplo balanço de 3.40 metros.

Isso é interessante para, além da verificação de ELU para a estrutura como um todo, para duas
interessantes análises de ELS, as quais foram os motivos principais da escolha desse projeto como
estudo: a análise das deformadas das vigas principais, no meio do vão e no balanço, cujas contra-
flechas adotadas em projeto original são de 2,5cm no meio e na ponta dos balanços; e também para
análise da vibração nos balanços, que são passíveis de modos de vibração maiores do que as vigas
simplesmente bi-apoiadas, mais comumente encontradas para projetos deste tipo.

O sistema de contraventamento do piso térreo é realizado através da fixação de chapas em “X”


sobre os barrotes de piso, permitindo dessa forma a circulação plena no pavimento de chegada
(garagem). Já os outros travamentos foram realizados através de ligações rígidas em direções
específicas, as quais serão explicitadas em desenhos a seguir. Na próxima página, fotos e diagramas
retirados do site da ITA construtora, quem realizou a obra.
54

Figura 25 – Concepção estrutural, Casa da Praia Vermelha.


55

Concepção Estrutural e Análise

Para a análise estrutural, algumas hipóteses foram consideradas:

 Os elementos estruturais não possuem rigidez à torção ou tração perpendicular à


fibra.

 Todos os carregamentos na cobertura e piso são aplicados apenas nas terças da


estrutura.

 Devido à presença de muro de arrimo, foi adotado suporte horizontal na parte


traseira do modelo.

 Ligações que impedem a rotação dos elementos em alguma direção foram


consideradas rígidas neste eixo de rotação.

Os travamentos da casa foram em parte resolvidos com o uso de “X”s em aço, em parte com o uso
de ligações que impedem as rotações nos eixos desejados, explicitadas abaixo:

Figura 26 – Disposição dos travamentos da estrutura.


56

Os carregamentos acidentais considerados foram feitos de modo a respeitar a NBR6120, e


permanentes de forma coerente (à favor da segurança) com os revestimentos que foram utilizados.
Nota-se que a maioria dos acabamentos apresenta baixo peso próprio, devido ao emprego de forros,
piso e fechamentos laterais leves.

Tabela 3 – Carregamentos considerados na análise.

Segue abaixo a definição do Grasshopper utilizada para estabelecer o modelo de cálculos,


e em seguida, os resultados da análise.

Figura 27 – Definição em Grasshopper para análise e verificação estrutural


57

Figura 28 – Disposição estrutural e diagramas de esforços e deslocamentos.

Este estudo de caso é interessante pois, por motivos de economia de madeira, ele foi
dimensionado com 16 elementos tipo de seção diferente. Na próxima página, encontramos a tabela
final dos dimensionamentos em relação ao ELU e ELS do modelo. Cada classe de elementos está
indicada na primeira coluna da tabela, a qual está sendo dimensionada segundo o elemento crítico.
Nas segunda e terceira coluna encontram-se as suas dimensões de base e altura, conforme foram
especificados em projeto. Optamos por avaliar as seções projetadas e verificar o comportamento
do modelo.

Na terceira coluna temos a flecha diferencial máxima de cada classe, e na quarta coluna a sua
relação com o comprimento das peças, que deve ser maior do que 200 pela norma. Nota-se que nos
elementos mais solicitados, a viga principal central (VPRINC) e a viga principal lateral (VPRINL)
58

as peças não passariam no ELS de deformação sem contra-flecha. Lembramos que a contra-flecha
foi adotada pelo projetista em ambos os casos.

É notável, também, que as verificações de ELU (flexo-compressão e cortante) passaram


consideravelmente melhor do que o necessário, sendo todos verificadores muito menores do que
1. Isso demonstra comportamento esperado, de que o dimensionamento do ELS é mias crítico na
maioria dos casos para a madeira.

Em seguida, consideraremos a a análise do ELS dos possíveis modos de vibração da estrutura.


Nota-se que é ideal que pisos habitáveis tenham modo de vibração maior do que 4Hz. Acima,
obtivemos resultado de possíveis modos de vibração com frequência natural abaixo de 4Hz,
indicados nos primeiros 4 modos de vibração listados acima (organizados em ordem crescente com
relação à frequência de vibração).

Figura 29 – Modos de vibração da estrutura

Dentre as vibrações que apresentaram valores acima de 4Hz, pode-se perceber pelas imagens
apresentadas que todas elas apresentam vibrações da cobertura, que não é crítica para o uso por
não ser acessível. O primeiro modo de vibração que afetou as vigas do piso foi o modo 8,
explicitado na imagem acima, apresentando frequência de vibração de 6Hz, que consideramos
ótima, dadas as proporções do vão e dos balanços. Portanto, é notável que o dimensionamento está
adequado para o ELU e ELS, como esperado.
59

Em relação à contra-flecha, o projetista Hélio Olga relatou o uso de contra flechas de 2.5cm nos
balanços e no meio do vão das vigas principais. Abaixo, podemos verificar que a deformada na
ponta dos balanços é crítica, considerando uma carga atuante em todo o piso simultaneamente
(como indica o Eurocode 1 de ELS para flecha imediata). O resultado indica que o efeito das cargas
distribuídas sobre os balanços tende a anular a deformada do meio do vão, e nota-se uma pequena
diferença entre os dois lados, que é resultado principalmente da presença das cargas da cozinha no
lado que apresenta maior deformada.

Segundo o Eurocode 1, para a definição da deformada de longo prazo, através do Kdef majoramos
os deslocamentos referentes à combinação de cargas de G + φ2*Q (φ2 = 0.3 para residências).
Essa simplificação pode ser adotada pois a estrutura toda é composta de um material de mesmo
modo de elasticidade (foi adotada service class = 1). O resultando final obtido, portanto, indica
uma deformada imediata de 1.7cm nos balanços e uma deformada de longo prazo equivalente à
2.4cm nos balanços. Abaixo encontram-se os resultados obtidos e uma solução geométrica que
consideramos adequada para a execução dessas contra-flechas nas vigas principais.
60

3.2.2 Casa Grelha

Tabela 4 – Casa Grelha, YCON Engenharia.

A Casa Grelha, residência localizada na Serra da Mantiqueira, foi concebida através do trabalho
conjunto dos escritórios FGMF Arquitetos e YCON Engenharia.
A estrutura modular, cuja projeção ocupa pouco mais de 2000 m², se mostrou um estudo de caso
muito interessante. Apesar de simples, a estrutura conta com a interação de diversos elementos, o
que aumenta a complexidade de sua análise. Além disso, existe a interação de diferentes materiais
(madeira, aço e concreto), o que representa um maior desafio durante a modelagem do problema.

Um dos fatores que norteou a concepção do projeto foi a alta umidade na região, o que sugeriu uma
casa elevada em relação ao solo. Dessa forma, a estrutura modular tem suas cargas transferidas à
fundação através de pilares de concreto, que possuem diferentes alturas, possibilitando a
construção térrea, apesar do terreno acidentado.

Cada módulo da residência é composto por sistema viga-pilar, com pé-direito de 3 m e largura de
5,5 m. Em sua maioria, o sistema é composto por peças de madeira. Por outro lado, a fim de evitar
um número excessivo de pilares e ao mesmo tempo ampliar o espaço para utilização do subsolo,
optou-se pela execução de vigas-vagão em aço corten, formando um vão de 11m. Essas vigas
metálicas trabalham com auxílio de um sistema composto por tubo e tirantes de aço, conforme o
diagrama da figura 47.
61

Apesar do nome da construção, o sistema não trabalha como uma grelha estrutural. As ligações
entre os pilares e as vigas não permitem que as últimas se movimentem em relação às primeiras ao
longo do plano horizontal. Contudo, ainda existe a possibilidade de rotação no plano vertical, o que
caracteriza uma ligação do tipo rotulada.

As vigas de madeira possuem seção retangular, com altura de 40 cm e largura de 20 cm. Já os


pilares são quadrados, com seção de 20 cm x 20 cm. As vigas vagão possuem seção I, com 37,5
cm de altura e 20 cm de largura.

Nas áreas internas da residência, os vãos dos módulos, são preenchidos por uma pré-laje de
concreto com 14 cm de espessura, que se apoiam em apenas uma direção do vão. Essas áreas são
conectadas por decks de madeira, que se apoiam todos na mesma direção, conforme é possível
notar da planta da figura 42 abaixo. As setas indicadas sobre as lajes indicam a direção nas quais
elas se apoiam.

Figura 30 – Planta do pavimento térreo

A cobertura do apartamento, onde ficam as áreas comuns da residência, é circundada por espelhos
d’água e recebe um jardim que repousa sobre uma pré-laje de 15 cm de espessura, que por sua vez
se apoia no topo das vigas de madeira. A combinação das cargas das lajes e do solo sobre elas
possui um alto valor, cerca de 9,5 kN/m², e representaram um desafio durante a análise estrutural
do projeto. A figura 43 contém a planta da cobertura.
62

Figura 31 – Planta da cobertura.

Considerações e hipóteses:
 As ligações entre viga e pilar constituem rótulas, permitindo a rotação no plano vertical.
 O travamento horizontal da estrutura se da por meio da conexão com os muros de arrimo
nas laterais.
 Apesar de não ter sido o material utilizado na obra, a modelagem foi feita considerando a
utilização de madeira laminada colada de eucalipto, tendo, portanto, um coeficiente de
redução γM igual à 1,25.
 Os elementos estruturais não possuem rigidez à torção ou à tração perpendicular às fibras.

Os carregamentos considerados foram os da tabela 14 a seguir. Sobre as lajes do térreo, foi


considerado um acabamento com 6 cm de espessura, já sobre as da cobertura, uma camada com
30 cm de solo.
63

Valor característico das


Kmod
ações (kN/m²) Kdef
Permanentes Variáveis Permanentes Variáveis
Lajes Térreo 0,25 2 0,60 0,90 0,6
Decks 4,45 3 0,60 0,90 0,6
Lajes Cobertura 0,5 0,5 0,60 0,90 0,6
Pergolados 9,75 2 0,60 0,90 0,6
Tabela 5 - Valores de carga e coeficientes de modificação considerados.

Figura 32 - Disposição estrutural e diagramas de esforços e deformadas.


64

Figura 33 – Unifilar 1º pavimento.

Figura 34 – Unifilar 2º pavimento

Figura 35 – Vista frontal.

A figura 48 apresenta os resultados obtidos após a análise do modelo proposto. Aqui, vale
destacar que apenas os elementos de madeira presentes na estrutura foram verificados. Como
65

é possivel ver na tabela, todas a verificações de estado limite de utilização passaram com
folga.

Figura 36 – Memorial de cálculo

Como de se esperar, os elementos de madeira mais solicitados na estrutura são as vigas que
recebem as lajes de cobertura, que combinada com a carga do solo sobre ela, gera grandes
esforços na estrutura. O momento fletor máximo obtido na análise foi de 195 kN.m, o que,
combinado com um esforço de compressçao de aproximadamente 1.6 kN, faz com que o
elemento mais solicitado trabalhe com 75% de sua capacidade.

Em nenhum dos elementos os esforços de tração se mostraram preocupantes. Já quantos as


forças de cisalhamento, novamento os elementos mais solicitados foram as vigas bas
cobertura, embora estes ainda trabalhem com menos de 50% de sua capacidade para esse
esforço.

O mair preocupante no estudo é o valor dos descamentos que foram obtidos. No caso das
vigas de cobertura, o valor dos deslocamentos chegou 5,13 cm e para as vigas flutuantes no
66

andar térreo chegou a 4,42 cm. Na figura 49, é possivel observar mais de perto a região onde
estão presentes os elementos com maior deslocamento. Não por acaso, a de cobertura e a viga
flutuante com maior descolamento estão posicionadas uma acima da outra. O pilar na qual a
viga de cobertura se apoia e a viga flutuante transmitem suas cargas para uma das vigas-
vagão, bem no meio de seu vão, o que explica a grande deformação. Na obra, as vigas-vagão
foram instaladas com contra-flecha de 40mm, o que reduz esse deslocamento e permite que a
obra atenda aos requesitos de estado último de serviço.

Figura 37 – Deformada da viga vagão.


67

3.2.3 Casa Felix

Figura 38 – Casa Félix, Carpinteria Estruturas.

Localizada na Praia do Félix em Ubatuba-SP, a residência possui uma separação entre espaços
sociais, acima, e de serviços, abaixo. É uma das residências mais procuradas para aluguel de
viagem.

O sistema estrutural é de pilar e viga, com lajes realizadas com barrotes espaçados e cobertos com
uma placa de compensado. Os pilares variam de altura para se acomodarem ao terreno acidentado,
e no pavimento superior a estrutura se apoia no solo da encosta. A estrutura é feita com diferentes
tipos de madeira, sendo a viga curva produzida em MLC de Pinus, e o restante da estrutura em
Cumaru.

Para avaliar e comparar o comportamento do MLC feito com material de menor resistência do que
o material em madeira serrada, foram realizadas duas análises: uma considerando a estrutura inteira
de MLC de Pinus e outra considerando toda a estrutura em Cumaru, uma madeira nativa.

As hipóteses adotadas foram:

 Os apoios da estrutura à encosta são considerados suportes articulados em todos os graus


de liberdade, sem consideração de recalque.

 Os elementos estruturais não possuem rigidez à torção.

 Os carregamentos são aplicados apenas nos elementos secundário


68

Comparando os resultados das duas análises, a menor rigidez e resistência mecânica do MLC de Pinus
traz problemas ao atendimento do ELU e ELS da estrutura. Porém o uso maior de volume de madeira
pelo laminado colado pode trazer vantagens econômicas em relação a madeira nativa, considerando o
menor custo e crescimento mais rápido do Pinus. Tal análise será mais aprofundada para o próximo
semestre.

A estrutura original, em Cumaru, atende todos os requisitos de projeto para o Eurocode 5. O ELS
apareceu como o maior problema entre as vigas no quesito da deformação, mas apresentou um ótimo
comportamento em relação à vibrações, apresentando a frequência natural mínima de 1.36Hz e não
apresentando nenhuma vibração vertical em uma busca dos 15 primeiros modos, o último tendo
frequência natural de 9.39Hz

Figura 39 – Disposição estrutural e diagrama de esforços e deformadas.


69

Tabela 6 – Características do MLC de Pinus e do Cumaru.

Figura 40 – Memorial de Cálculo para MLC de Pinus

Figura 41 – Memorial de Cálculo para Cumaru


70

3.2.4 Haras Polana

Figura 42 – Haras Polana, ITA Construtora

O pavilhão do Haras Polana, localizado em Campos do Jordão, abriga o escritório, biblioteca e


centro de leilões de cavalos. Utilizando Madeira Laminada Colada de Eucalipto, produzida pela
própria ITA Construtora, a estrutura impressiona pelo seu vão de 12 metros, executado em um
sistema de vigas chanfradas duplas centrais, as quais apoiam outra viga chanfrada que se prolonga
ao meio, deixando o sistema mais leve ao longo do balanço.

Figura 43 – Corte e disposição dos perfis em balanço


71

Para a análise estrutural, algumas hipóteses foram consideradas:

 Os elementos estruturais não possuem rigidez à torção.


 Os travamentos horizontais serão desconsiderados na análise por apresentarem esforços de
compressão em todas as combinações possíveis. Para estabilidade do sistema, serão
aplicados suportes horizontais nos pontos de tração dos travamentos, que serão
dimensionados pela a resultante dos suportes.
 As seções transversais das regiões de ligação longitudinal serão consideradas totalmente
acopladas.
 Todos os carregamentos na cobertura são aplicados apenas nas terças da estrutura.

Para entender o comportamento da estrutura, foram realizadas uma análise 2D de um corte de um


dos balanços e uma análise tridimensional de todo o sistema. O motivo da análise bidimensional é
de obter mais segurança no cálculo da estrutura e calibrar possíveis ajustes no modelo 3D.

Tabela 7 – Carregamentos considerados na análise.

As cargas de vento foram determinadas a partir dos procedimentos da NBR 6123, com a inclusão
do efeito de telhado sem vedação da Eurocode 1-4 (Seção 7.3), que considera a possibilidade de
obstrução do vento no interior do telhado, efeito que ocorre no Haras pela presença da arquibancada
no pavilhão.

Foi considerada a condição mais crítica, que é o caso de vento em direção ao maior vão da estrutura,
pela presença de sobrepressão na região com pilar secundário e sucção no maior balanço, podendo
aumentar significativamente o momento fletor pela sucção apresentar carregamento desfavorável
em relação às cargas permanentes e acidentais.
72

Figura 44 – Direção e ações do vento.

Figura 45 – Memorial de Cálculo para pressão de vento.

As seções transversais foram definidas a partir da subdivisão dos elementos, cada um com uma
altura média relativa as equações abaixo. Assim, parametriza-se as vigas chanfradas com base em
suas alturas inicial e final, variando conforme as expressões em relação ao ponto médio do
elemento.
73

Figura 46 – Determinação paramétrica da altura da viga a partir dos referenciais x e y.

Figura 47 – Seções transversais para os elementos da análise 2D.

O memorial de cálculo demonstra coerência à resposta estrutural para o sistema estudado, atuando
completamente como dois balanços opostos, com momento positivo em todas seções das vigas.
Para cálculo do ELS foram previstos apenas carregamentos permanentes no cálculo de deformação
à longo prazo, enquanto o ELU foi testado para o caso de carga permanente e acidental e outro com
a adição da carga de vento, de curta duração. Em todos os casos os estados limites são respeitados,
com a observação de aplicação de contra-flecha no balanço.
74

Figura 48 – Propriedades do material e diagramas de esforços e deslocamentos na análise 2D.

Figura 49 – Memorial de Cálculo

A partir do estudo bidimensional, foi modelado um modelo tridimensional buscando uma análise
global da estrutura. Visando sofisticar os cálculos, os elementos principais e secundários foram
modelados separadamente, sendo conectados por elementos rígidos. Tal modelagem permite uma
melhor definição da rigidez ao longo do perfil, respeitando a variabilidade de ambas as vigas.
75

Figura 50 – Esquema da ligação entre as vigas primárias e secundárias, com as terças se apoiando sobre elas.

Como esperado, a análise tridimensional com considerações mais realistas da estrutura trouxe uma
flecha maior ao balanço, visto que a seção atua com menor rigidez que no caso bidimensional, onde
a seção é cheia em toda a largura. A análise também resultou em resultados favoráveis para o ELU
e ELS. A contribuição da sequência de vigas também mostrou uma variação no deslocamento
máximo ao longo do eixo de maior dimensão, e com a definição separada de elementos primários
e secundários de viga o diagrama de momentos sofre um “salto” de um elemento para o outro. O
momento máximo na análise bidimensional apresenta um valor muito superior, mas isso é devido
ao fato da análise considerar as seções atuando juntas, ao contrário da análise 3D.

Figura 51 – Disposição estrutural e diagramas de esforços da análise 3D.


76

Figura 52 – Memorial de Cálculo da análise 3D.

Em relação às vibrações da estrutura, foi identificado um modo de vibração com frequência menor
a 1Hz, o que levaria a necessidade de uma avaliação à resposta dinâmica no vento à estrutura (NBR
6123). Tal modo é referente a uma oscilação horizontal de torção na estrutura, mas pela análise
dinâmica envolver um estudo bem complexo à este trabalho, tal assunto não será aprofundado.
Também foram identificados modos harmônicos ocorrendo no maior vão da estrutura, a partir da
frequência de 3.88Hz (3º Modo).
77

Figura 53 – Modos de vibração da estrutura.


78

3.2.5 Pavilhão HMF

O pergolado HMF foi escolhido como estudo de caso por ser uma estrutura de concepção simples
que apresenta um problema especial. Formado por um grid de 0.68m x 0.68m, o pergolado tem
extensão de 13,62m x 5,36m, apoiando-se em apenas 3 pilares posicionados de forma irregular.
Considerando que as principais cargas atuantes no pergolado são permanentes e de peso próprio
da estrutura, o projetista, Hélio Olga, optou por otimizar a seção das vigas através da variação da
suas alturas, de modo a evitar pesos desnecessários e aumentar a eficiência da estrutura como um
todo. Abaixo podemos verificar a escala e configuração do projeto final em planta e em elevação
latera, assim como a ligação entre vigas e pilares adotada.

Figura 54 – Planta e corte do pergolado.

Devido ao posicionamento dos pilares, imposto pela arquitetura, estabeleceu-se uma situação de
projeto interessante, pois nenhum dos pilares se interliga diretamente através de vigas primárias.
Lembrando do princípio da rigidez das estruturas, que aponta o fato de as cargas tenderem a
caminhar proporcionalmente através do caminho mais rígido, e considerando que neste caso a
rigidez implica em massa (ou seja, na própria carga), dado que a carga acidental é muito baixa,
denotamos então a existência de mais de uma solução possível. A solução adotada é interessante e
79

lógica: foram dimensionadas seções com altura crescente a medida em que se aproxima dos apoios,
conforme vemos em seguida.

Figura 55 – Disposição estrutural do pergolado.

Devido à complexidade do problema, neste estudo propusemos buscar uma solução não
necessariamente idêntica à construída, de forma a analisar outras possibilidades de resolução do
problema. Definimos como proposta que poderíamos organizar como desejado as alturas das vigas
80

do pergolado, de modo a variá-las da altura mínima à máxima adotada pelo projetista; e fixamos
todas as outras variáveis geométricas.

Vale denotar que consideramos, durante a concepção da estrutura, dois apoios com deslizamento
horizontal livre e um completamente fixo, todos ligados articuladamente com as vigas. Isso nos
levou à uma solução à favor da segurança, posto que, como se percebe-se nos detalhes, os pilares
metálicos bloqueiam a rotação das vigas, agindo de forma análoga à engastes. A ligação entre as
vigas foi adotada como perfeitamente rígida.

Antes de prosseguir com o estudo, é necessário realizar uma apresentação introdutória do método
evolutivo utilizado para a busca da solução do problema colocado. Desenvolvido pela Mcnell, junto
ao Grasshopper está o Galapagos, um algoritmo evolutivo que abre espaço para a solução de vários
tipos de otimização como esta. Definindo para o componente qual é o objetivo a ser perseguido, o
seu primeiro passo é criar aleatoriamente uma população inicial, analisá-la conforme o objetivo
definido e selecionar os melhores “genes”. Após isso, o componente cruza os melhores “genes”
gerando uma nova geração, e assim repetindo o processo iterativamente. A idéia é copiar o processo
da seleção natural, de forma que vem sendo utilizado com frequência para a resolução de estruturas
paramétricas definidas por muitas variáveis e com funções objetivo complexas.

Figura 56 – Interface do Galapagos em processo iterativo.

Neste caso, foi estabelecido um “grid” nas dimensões dos entre-eixos do pergolado e dividido em
292 elementos tipo, de 0.68cm de comprimento. Tendo como fixas as ações e os apoios, assim
como definida ligação rígida entre os 292 elementos, foi deixado em aberto a definição da altura
da seção desses elementos. Tendo como objetivo a busca por três parâmetros ideais (a menor
81

deformada; a melhor distribuição de tensões, e a menor massa total) foi criada uma função objetivo
que orientou ao algoritmo a alterar o valor das alturas de modo a convergir para uma forma
obtivesse resultados positivos no sentido da função objetivo estabelecida. Os resultados obtidos à
seguir:

Figura 57 – Disposição estrutural e diagrama de esforços e deslocamentos.


82

Figura 58 – Memorial de Cálculo.

Acima temos em primeiro ligar os elementos primários, seguidos dos elementos secundários e da
estrutura final projetada. Na segunda linha os diagramas de normal, cortante e My respectivamente,
e ao final a comparação entre três análises.

Considerando que a ligação das vigas com os pilares tende a agir como um engaste, apesar de
termos considerado três apoios articulados isostáticos na determinação das seções, optamos por
realizar as análises de ELS e ELU de forma comparativa, mostrando em primeiro lugar os
resultados relativos ao uso de apoios articulados e isostáticos (apenas um apoio não deslizante), em
segundo lugar a análise com apoios fixos porém articulados, e em terceiro lugar a análise da
estrutura com apoios fixos e não articulados.

Nota-se que a estrutura desenvolvida passa no ELU e ELS para todos os casos, mas que a
deformada máxima varia altamente para as três soluções (de 49mm a 6mm no último caso).
Entendemos que os resultados obtidos através do processo de "form finding" tendeu a estabelecer
um eixo de resistência entre os pilares em forma de arco, como se percebe nas imagens. Essa
solução é interessante e coerente, pois libera as ações do peso próprio nos balanços e no vão, entre
três os pilares, e distribui bem as tensões através do grid sem sobrecarregar as ligações nos apoios,
que consideramos construtivamente como imperfeitamente rígidos e imperfeitamente
desarticulados.
83

3.3. PROJETO DE UMA CÚPULA

Para finalização do trabalho e validação do Beaver foi desenvolvido o projeto estrutural de uma
cúpula reticulada de madeira laminada colada. O projeto abordou o dimensionamento dos perfis e
das ligações e verificações das ações de vento e de estabilidade global da estrutura. Utilizou-se
como referência ao projeto as cúpulas desenvolvidas pela Western Wood Structures, com uma
modularização triangular para a discretização da calota esférica e terças distribuídas
perpendicularmente a um dos eixos de cada célula triangular.

Figura 59 – Belledune Coal Storage Dome e Gymnassium Dome (Western Wood Structures).

O material a ser utilizado para o material de cobertura é o OSB (Oriented Strand Board), que é uma
placa composta por tiras de madeira organizadas na mesma direção, o que a torna um produto
maleável e resistente, o que permite cobrir superfícies curvas com a correta modularização. Para
impermeabilizar a cobertura, é aplicado em cima dos painéis uma camada de manta
impermeabilizante.

Figura 60 – Uso de OSB e mantra impermeabilizante para cobertura da Casa Félix (Carpinteria)
84

O projeto foi realizado inteiramente dentro do software paramétrico Grasshopper, partindo de uma
superfície base de uma calota esférica com 20m de diâmetro na projeção no solo, com a altura da
calota podendo ser alterada em tempo real. A discretização se deu a partir de linhas, igualmente
espaçadas, paralelas aos lados de um hexágono inscrito na circunferência da projeção da calota, as
quais atuam em três direções rotacionadas entre 120º, onde cada direção foi condicionada a ter uma
das retas passando pelo seu centro. Definida essas linhas, foi realizado uma operação de projeção
das linhas na superfície da calota, originando as linhas bases para a estrutura proposta.

Figura 61 – Processo de geração das curvas unifilares da cúpula

A proposta inicial era de se estabelecer a calota esférica como elemento de cobertura para um
espaço com parede cilíndrica. Porém o estudo paramétrico revelou uma outra opção de remover as
curvas fora do hexágono inscrito para criar uma entrada em arco no espaço, onde a altura pode ser
ajustada prolongando linearmente as curvas de borda e as curvas meridionais. Primeiro essas
prolongações da curva foram feitas para seguir a curvatura do arco, porém análises estruturais
preliminares com o peso próprio mostrou uma melhor performance ao realizar um prolongamento
linear tangente aos finais dos arcos.

Figura 62 – Extensão curvas meridionais e de borda


85

Figura 63 – Dimensões gerais da estrutura

Para execução das linhas das terças foi feito um algoritmo para geração de células triangulares. A
partir dessas células gerou-se uma lista de valores i entre 0 e 2 para cada, onde cada valor se refere
a um dos lados do triângulo. O lado i é removido e os outros 2 subdivididos em n segmentos, cujos
pontos são utilizados para gerar as terças paralelas ao lado removido. Dentro do Grasshopper pode-
se alterar cada valor da lista individualmente, podendo gerar uma orientação única da distribuição
das terças para cada célula, gerando a priori uma distribuição aleatória. Esse parâmetro será
explorado mais adiante na busca de uma melhor distribuição referente a aspectos estruturais.

Figura 64 – Exemplos de orientação e subdivisão a partir dos parâmetros definidos


86

Figura 65 – Geração de terças com orientação aleatória e geração da borda superior

Pensando na ventilação do espaço e em evitar o encontro de 6 peças no topo da cobertura,


introduziu-se uma abertura hexagonal no meio da cúpula.

O modelo unifilar gerado parte então como base para a geração de outros dois modelos, um para o
programa de elementos finitos Karamba e outro para a geração da geometria com o
dimensionamento verificado pelo Beaver.

3.3.1 Modelo de elementos finitos

A partir da geometria unifilar geradas, as curvas foram divididas em suas intersecções, gerando
linhas discretizadas que serão utilizadas como elementos de viga dentro do Karamba. Para
avaliação estrutural foi considerado como caso crítico de falha a ocorrência de flambagem global,
o que levou a considerar o múltiplo de flambagem da estrutura como diretriz de dimensionamento,
sendo o ELU sob peso próprio e ação do vento verificados posteriormente.

3.3.1.1 Hierarquia estrutural

A disposição estrutural foi feita pensando nas etapas construtivas da cúpula, estabelecendo uma
hierarquia de elementos em classes que definem onde cada uma se apoia em outra. Foram definidas
as vigas meridionais principais e as radiais secundárias. As terciárias correspondem às curvas
geratrizes restantes e adiciona-se as classes das terças e da borda superior.
87

Figura 66 – Hierarquia estrutural da cúpula.

A disposição dos elementos durante a construção se dá pelo posicionamento das vigas meridionais
principais com escoras nos topos, com consequente estabilização na ponta com a fixação das vigas
de borda. A seguir são encaixadas as vigas secundárias de baixo para cima, a fim de estabilizar o
conjunto principalmente próximo aos apoios. Então estrutura é finalizada com o encaixe das
terciárias e por fim das terças, que receberão o elemento de cobertura. A orientação do eixo da
altura dos elementos no modelo seguiu a normal à calota esférica no ponto médio do elemento.

3.3.1.2 Ações e combinações consideradas

Foram consideradas 3 tipos de ações que atuam na estrutura: permanente (G), acidental (Q) e vento
(V). Utilizando as recomendações de ações da NBR7190 e Eurocode 0, definiu-se as seguintes
combinações de ações estruturais para avaliação do ELU:

Combinação Ponderação Duração

a 1.35G Permanente

b 1.35G + 1.5Q Curta-duração

c 1.35G + 1.5(Q + 0.6V) Curta-duração

d 1.35G + 1.5V Curta-duração

Tabela 8 – Combinações consideradas para ELU.


88

A combinação d representa tanto a ação do vento com a permanente sozinhas quanto quando
considerado também a ação acidental de telhados como ação acidental ponderada por
. Analogamente para o ELS temos:

Combinação Ponderação Duração Verificação

e G Permanente Longa duração

f G + 0.2V Curta-duração Deformação instantânea

Tabela 9 – Combinações consideradas para ELS

A verificação de longa duração se refere à combinação quasi-permanente e a de deformação


instantânea a combinação frequente.

 Ações permanentes (G)

Para as ações permanentes se considerou o peso próprio da estrutura e do material de cobertura


OSB.

Densidade

Peso Próprio 6 kN/m³

OSB 0.25kN/m²

Tabela 10 – Cargas permanentes da cúpula

 Ações acidentais (Q)

Para as ações acidentais tomou-se o valor recomendado pela NBR6120 (Cargas para o cálculo de
estruturas de edificações) para terraço inacessível a pessoas, que é de 0.5kN/m².

 Ações de vento (V)

Para ações de vento a pressão dinâmica do vento foi calculada conforme os procedimentos da
NBR6123 (Forças devidas ao vento em edificações) a partir da determinação do fator topográfico
(S1), fator de influência da rugosidade do terreno e dimensão da edificação (S2), fator baseado em
conceitos probabilísticos (S3) e velocidade básica do vento (V0) para determinação da velocidade
característica do vento (Vk) e a pressão dinâmica do vento (q)
89

Fator Classificação Valor

S1 Terreno plano 1.0

S2 Categoria III Classe B 0.92


5<h<10 (m)

S3 Edificações com alto fator de ocupação 1.00

Tabela 11 – Fatores de modificação da velocidade básica do vento.

V0 (São Paulo) 40m/s

Vk = S1xS2xS3xV0 36.8m/s

q = 0.613(Vk)² 0.85kN/m²

Tabela 12 – Velocidade característica e pressão dinâmica do vento.

Com a pressão dinâmica do local o próximo passo é calcular os coeficientes de pressão da cúpula
para distribuição das ações de vento. A NBR6123 fornece as linhas isobáricas para uma série de
combinações entre a altura da cúpula (f), diâmetro no plano do chão (d) e altura da parede está
apoiada (h), assim como indica os coeficientes de pressão máximos na cobertura. Porém, ao
explorar a norma europeia para ações de vento (Eurocode1) ela fornece um método aproximado
para determinação dos coeficientes de pressão considerando-os constantes ao longo do plano
perpendicular ao eixo da ação do vento e atribuindo uma interpolação de 3 valores de coeficientes
A, B e C, referentes respectivamente ao ponto inferior a sotavento, ponto superior e ponto inferior
a barlavento. Por ser uma cobertura vazada, aplicou-se também um coeficiente de pressão interna
de -0.3, conforme recomendação das normas europeia e brasileira caso sua adição resulte em
maiores esforços
90

Figura 67 - Método aproximado para interpolação de coeficientes de pressão em cúpulas (EC1 Seção 7.2.8)

Para aplicar este método dentro do programa de elementos finitos Karamba, gerou-se um algoritmo
para uma carga de superfície variável em função da interpolação gerada por A, B e C. Primeiro
associava-se o eixo x do programa CAD ao do eixo do vento, e em seguir era aplicada a função a
variável x do ponto central dos elementos da malha de superfície.

f(m) d(m) h(m) A B C

6 20 0 0.5 -0.8 0

Tabela 13 – Dimensões gerais e coeficientes pontuais para interpolação linear.

Figura 68 – Algoritmo e distribuição de cargas de vento dentro do Karamba.


91

3.3.1.3 Avaliação da flambagem global

Em estruturas de casca como o caso da cúpula, geralmente a instabilidade por flambagem é a


condição que leva a estrutura à ruína. A flambagem pode ser avaliada em nível global e local. Para
o nível local, as recomendações do Eurocode5 para ELU de peças comprimidas e flexo-
comprimidas já abordam o tema e sua satisfação já garante a segurança. Porém não há
considerações específicas da norma acerca da segurança à flambagem global. Dentro do programa
de elementos finitos Karamba, é possível realizar uma análise de segunda ordem (Rubin &
Schneider, 1996) para posterior análise do fator de flambagem , que corresponde ao quanto se
deve multiplicar as ações da estrutura para possibilidade de flambagem, que envolve tanto falhas
locais quanto globais a partir de métodos computacionais.

Portanto considerou-se necessário para segurança estrutural um fator que flambagem maior que 1
com atribuição de um coeficiente de segurança. Para determinação deste coeficiente procurou-se
referências dentro da recomendação da IASS (International Association for Shell and Spatial
Structures) “Guide to Buckling Load Evaluation of Metal Reticularet Roof Structures” (2014). Pela
falta de opções dentro das estruturas de madeira, tomou-se este guia baseado em estruturas
metálicas pelo fato das ligações em aço possuírem propriedades semelhantes a madeira de serem
articuladas ou semi-rígidas. Dentro do guia é demonstrado que estruturas de casca, em especial as
sem conexões perfeitamente rígidas, são extremamente sensíveis a imperfeições geométricas.
Estudos experimentais demonstram que pequenas alterações na posição dos nós da estrutura
reduzem o fator de flambagem consideravelmente, o que levou engenheiros do passado a adotarem
coeficientes de segurança de até 12, receosos da geração de imperfeições devido a variáveis
aleatórias envolvendo a fabricação e montagem da estrutura.
92

Figura 69 – Gráfico relacionando a carga com o deslocamento no ponto Q com determinação da carga P crítica para
análise linear e não linear considerando sistema perfeito e imperfeições. (IASS, 2014)

Atualmente, membros da IASS concordam que em geral um fator de segurança de 3 é satisfatório


para segurança à fenômenos de instabilidade por flambagem (Pauletti & Adriaenssens, 2016), caso
considerado hipóteses fortes e válidas. Nas análises efetuadas, considerou-se para o
dimensionamento apenas as cargas permanentes e acidentais, sendo o vento avaliado para
verificação. Foram utilizados os valores característicos das ações e os resultados apresentados já
envolvem a verificação com vento.

Com a distribuição das terças aleatórias, realizou-se o dimensionamento dos perfis avaliando a
influência das classes no fator de flambagem buscando um fator maior que 3.

Classe Principal Secundária Borda Terciária Terça

h(cm) 36 32 32 32 12

b(cm) 14 14 14 11 8

Tabela 14 – Seções transversais das vigas da cúpula.

Após essa verificação, foram organizadas as terças paralelas às vigas radiais, e percebeu-se uma
redução considerável para . A partir de então começou-se a explorar o parâmetro da
orientação das terças na avaliação da instabilidade da cúpula. Ao defasar a orientação de i=0 para
i=1, já se obteve um desempenho maior que o aleatório ( ), e decidiu-se usufruir do solver
evolutivo Galapagos dentro do Grasshopper para busca da distribuição de terças que resultem no
93

maior . Para tal atribuiu-se um índice i = 0, 1, 2 para cada célula triangular da estrutura, formando
uma lista que entra como parâmetros do Galapagos, sendo a função objetivo do problema.

Figura 70 – Lista (em rosa) contendo o indexador i.

Figura 71 – Linha temporal das soluções encontradas pelo Galapagos da primeira à 115º geração.
94

Figura 72 – Fator de flambagem e nova situação de equilíbrio para i=0, i=1 e distribuição otimizada.

Após 115 gerações obteve-se configurações com fator máximo de , e optou-se por escolher
a distribuição referente a este valor. Considerando as incertezas dentro do fenômeno de flambagem
global de cascas já abordadas, optou-se por não modificar as seções transversais já dimensionadas,
mantendo para a cúpula um fator de segurança à flambagem de 4,52.

3.3.1.4 Verificação do ELU e ELS

Para a verificação do estado limite último foram utilizados os plugins do Beaver do mesmo modo
que nos estudos de caso deste trabalho, com o uso do verificador de flexo-compressão para arcos,
utilizando um raio de curvatura igual ao da esfera ao qual pertence a calota, que no caso é de 15m.
Para os comprimentos de flambagem, considerou-se o pior caso para cada classe de perfis.
Verificou-se cada perfil aos esforços solicitantes críticos de cada combinação, e as razões DIV
entre a tensão de solicitação e a tensão resistente de cada perfil são listadas em ordem decrescente.

Por se tratar de um sistema estrutural rígido, foram registrados deslocamentos máximos de 1.8cm
sendo considerado às cargas de vento da combinação frequente. Portanto, observa-se que a
estrutura se deforma muito pouco dado seu tamanho e só é verificado o ELS para as terças, que são

os únicos elementos sob flexão pura. Mesmo assim foi verificado uma razão de 1563 na
condição de carga de longa duração em classe de serviço 2 (Eurocode5), muito maior que o mínimo
recomendado de 250 para casos de vigas bi-apoiadas.
95

Figura 73 – Verificação do ELS para terças.

Figura 74 – Verificação do ELU para todos os elementos.


96

Figura 75 – Campo de deslocamentos e diagramas de esforços solicitante da cúpula sob ações verticais e de vento.

3.3.1.5 Concepção e dimensionamento das ligações

As ligações da estrutura foram pensadas para facilitar sua montagem. Por isso, optou-se por
ligações com chapas de aço, de modo que as chapas possam ser parafusadas em seus elementos
principais já na fábrica. As chapas são compostas por uma chapa paralela à viga que apoia, com
outras chapas soldadas paralelas as vigas apoiadas. Exceção é dada as terças que serão ligadas as
vigas a partir de ligações de parafusos inclinados agindo axialmente.

Figura 76 – Sequência de montagem com as chapas pré instaladas nas vigas principais e secundárias.
97

Figura 77 – Detalhes gerais das chapas de conexão.

A partir desta concepção das ligações, foi realizado o dimensionamento das barras roscadas que
atravessam as chapas, sendo as chapas das vigas que recebem outras atuando em duplo
cisalhamento com madeira no centro e o resto como duplo cisalhamento com aço no centro. O
dimensionamento se deu em etapas, definindo primeiro os espaçamentos mínimos para evitar a
ocorrência de ruptura frágil e então o dimensionamento pela força resistente das ligações, com o
devido cuidado para respeitar na distribuição de barras os espaçamentos mínimos considerados.
Foram desenvolvidas 5 conexões as quais serão elencadas como indicado na planta geral:

Figura 78 – Identificação dos tipos de conexões


98

Foi respeitado o dimensionamento para garantir que não houvesse ruptura frágil. Para todas as
chapas que penetram os elementos axialmente foram consideradas separadamente as combinações
de ações críticas, que sempre associavam tração ou compressão à cortante. Já para os elementos
contínuos nos quais se conectavam dois ou quatro elementos ligantes, foi considerada a solicitação
crítica combinada dos ligantes. Para os casos das conexões 1, 2, 3 e 4, foi possível dimensionar
conexão padrão de duas barras roscadas de ½”, tanto para os elementos contínuos quanto para os
descontínuos. Mesmo considerando os casos críticos de compressão combinada à cortante, a
resistência dúctil da ligação foi suficiente para todas as solicitações críticas, e respeitou-se os
espaçamentos requeridos para resistência frágil. Nas Bases, para desconsiderar as altíssimas forças
de compressão, optou-se por apoiar as vigas sob placa metálica, tendo então como críticas apenas
as forças cortantes e de tração, as quais foram atendidas também com duas barras de ½”. A conexão
mais crítica foram a conexão 5, onde há alta solicitação combinada paralela à fibra, dado que as
vigas de borda do arco são altamente comprimidas, e os pés (sua continuação) ligados à base são
tracionados devido à tentativa de flexão da viga principal, como mostra o diagrama normais. Neste
caso foram empregadas 4 barras sob a viga principal, alinhadas perpendicularmente à fibra.

Figura 79 – Solicitação combinada sob a conexão 5 (compressão em azul e tração em laranja)


99

1. Terciária-secundária

Figura 80 – Encontro de terciárias com secundárias em cisalhamento duplo.


100

2. Terciária-secundária-B

Figura 81 – Encontro de terciárias com secundária em cisalhamentos simples.


101

3. Borda-principal

Figura 82 – Detalhe de conexão da borda com a viga principal


102

4. Terciária-secundária-principal

Figura 83 – Detalhe de encontro de viga secundária e terciária na principal.


103

5. Secundária-secundária-principal

Figura 84 – Detalhe de encontro de duas secundárias na viga principal.


104

6. Bases

Figura 85 – Detalhe da conexão com o chão

3.3.2 Modelo geométrico

Determinadas todas as seções e ligações, o modelo unifilar também serviu de base para o modelo
geométrico da cúpula, que representará a real geometria da estrutura pronta, considerando as vigas
curvas, já que houve uma simplificação por linhas no modelo de elementos finitos. Para
determinação desse modelo utilizou-se as curvas unifilares como guias para a extrusão dos sólidos,
tanto da madeira quanto das ligações metálicas.

3.3.2.1. Dupla curvatura

Durante o processo de extrusão das vigas de madeira, notou-se que a direção do eixo da altura da
viga não é constante ao longo das curvas. Caso se oriente a curva para apenas uma direção irão
surgir distorções nos encontros dos perfis, surgindo a necessidade de torcê-las em seu próprio eixo
para adaptar a variação da normal da calota esférica ao redor da curva.

Figura 86 – Viga com eixo da altura orientada à normal da calota esférica.


105

3.3.2.2 Detalhamento das ligações

Para parametrização do desenho tridimensional das ligações, subdividiu-se a curva de cada viga
em 3 segmentos, um maior de centro, representando a curva da viga de madeira, e outras duas
menores em cada extremo representando as chapas de aço. A partir das informações diferenciais
de cada curva, foi possível realizar operações de extrusão locais à bases cartesianas definidas
pela normal da circunferência, a tangente no início da curva e o produto vetorial entre os dois
vetores.

Figura 87 – Vetor normal (n), tangente (t) e o produto vetorial formando uma base para operações de extrusão das
ligações.

Os pontos de chegada de ligações em vigas que recebem outras são referenciados e utilizados para
geração das chapas metálicas de recepção, utilizando o mesmo conceito de bases cartesianas locais.

3.3.2.3 Modelo final

Com o uso dos processos mencionados anteriormente pode-se criar um algoritmo para geração do
modelo geométrico da estrutura parametrizando dados como as dimensões das chapas e das seções
transversais, orientadas em relação a calota esférica. Um algoritmo um pouco mais detalhado,
porém, trabalhando sob os mesmos princípios, foi utilizado para geração dos pés metálicos para a
estrutura, necessário para evitar o contato da madeira com o solo. A seguir é exibida uma série de
imagens do resultado final.
106

Figura 88 – Perspectiva geral

Figura 89 – Detalhe dos pés.

Figura 90 – Perspectiva com a cobertura em OSB.


107

Figura 91 – Detalhe das conexões.

Figura 92 – Vista frontal

Figura 93 – Vista lateral


108

4. Conclusão

A realização do Trabalho Final de Graduação foi de grande proveito para o grupo. O estudo das
normas brasileira, americana e europeia nos levou a perceber de forma geral como é encarado o
dimensionamento de estruturas de madeira pelo mundo. Isso não só fundamentou a nossa opção
por programar as extensões com base na norma européia, mas também nos fez perceber que, apesar
de os documentos serem distintos, os princípios de dimensionamento são muito semelhantes, assim
como a forma como deve ser encarada a concepção das estruturas em madeira.
Neste sentido, os estudos de caso foram muito importantes, como forma de consolidação da teoria
estudada, verificação das extensões programadas, e desenvolvimento de nossa compreensão de
projetos estruturais, de maneira que, durante o desenvolvimento desses estudos, houve um
progresso pessoal muito grande no que se refere à nossa maneira de pensar a madeira como material
estrutural.

Com o conhecimento adquirido por meio dos estudos de caso, o projeto da cúpula paramétrica nos
permitiu sentir na prática o como se dá o projeto de uma estrutura de madeira desde sua concepção,
até seu dimensionamento. Esse projeto também possibilitou tirar proveito das vantagens da
modelagem paramétrica.

O produto final de nosso trabalho, o Beaver, se mostrou uma ferramenta útil e que facilita muito
os processos de dimensionamento de estruturas de madeira. Sua programação também nos permitiu
compreender de maneira aprofundada os métodos de cálculo propostos pelo Eurocode 5, bem como
os pontos onde estes poderiam gerar dúvidas quando em prática. Foi observado uma qualidade e
velocidade na concepção estrutural e dimensionamento de estruturas com a modelagem
paramétrica, onde a metodologia de projeto realizada a partir da definição geométrica no
Grasshopper, análise estrutural no Karamba e verificação das peças no Beaver torna o processo de
projeto dinâmico e fácil de executar alterações após consolidação da programação das estruturas.

Foi atingido o objetivo do grupo de compreender estruturas diversas em madeira, e todos os


processos que envolvem o seu projeto, de forma a complementar a graduação na Escola Politécnica
que, apesar de sua excelência no departamento de estruturas, hoje não tem disciplina com foco na
madeira como material estrutural. Esperamos que isso mude com o tempo.
109

5. Referências

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 Mcnell. Rhino3D. Disponível em: <http://www.rhino3d.com>. Acesso em: 18 nov. 2017.
 Khabazi, M. Algorithmic modelling with grasshopper. Disponível em:
<http://s3.amazonaws.com/mcneel/grasshopper/1.0/docs/en/algorithmicmodelling.pdf>.
Acesso em: 03 nov. 2017.
 Davidson, S. Grasshopper. Disponível em: <http://www.grasshopper3d.com>. Acesso em: 18
nov. 2017.
 ITA Construtora. Disponível em: <http://www.itaconstrutora.com.br>. Acesso em: 21 jun,
2018.
 Carpinteria Estruturas de Madeira. Disponível em: <http://www.carpinteria.com.br>.
Acesso em: 21 jun, 2018.
 YCON Engenharia. Disponível em: <http://www.ycon.com.br>. Acesso em: 21 jun, 2018.
 IPT. Informações sobre madeiras. Disponível em:
<https://www.ipt.br/consultas_online/informacoes_sobre_madeira/busca>. Acesso em: 22 jun,
2018)
 Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira.
Rio de Janeiro, P. 75. 1997.
 Associação Brasileira de Normas Técnicas. Revisão não normativa da NBR 7190: Projeto
de Estruturas de Madeira. Rio de Janeiro, P. 75. 2013.
 Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6120: Cargas Para o Cálculo de Estruturas
de Edificações. Rio De Janeiro, P. 6. 1980.
 Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 6123: Forças Devidas ao Vento em
Edificações. Rio De Janeiro, P. 66. 1988.
 European Committe for Standardization. Eurocode 0: Basis of Structural Design. Bruxelas,
P. 119, 2002.
 European Committe for Standardization. Eurocode 1: Actions On Structures. Bruxelas, P.
126, 2009.
 European Committe for Standardization. Eurocode 5: Design of Timber Structures - Part 1-
1: General - Common Rules and Rules For Buildings. Bruxelas, P. 105, 2008.
110

 American Society of Civil Engineers. Standard for Load And Resistance Factor Design
(LRFD) For Engineered Wood Construction. Virginia, P. 56, 1996.
 Porteous, J. Kermani, A. Structural Timber Design to Eurocode 5. Oxford: Blackwell
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 Pfeil, W. Pfeil, M. Estruturas de Madeira. Rio De Janeiro: Ltc, 2003.
 Calil Junior, C. et al. Dimensionamento de Elementos Estruturais de Madeira. São Paulo:
Manole, 2003.
 Calil Jr., C. Set 406 - Estruturas De Madeira, 1998.
 Miotto, J. & Dias, A. Produção e Avaliação de Vigas De Madeira Laminada Colada
Confeccionadas Com Lâmina De Eucalipto. P.38, 2009.
 Crawford, R. H. et al. A Framework for Assessing the Environmental Benefits of Mass
Timber Construction. Faculty of Architecture, Building and Planning, The University of
Melbourne, Parkville, Victoria, 2011.
 Gandini, J.M. Aplicação De Conceitos De Sustentabilidade No Desenvolvimento De
Projeto De Componentes Estruturais Pré-Fabricados Com Emprego De Materiais De
Base Florestal. Dissertação De Mestrado, Universidade De São Paulo, São Carlos, 2016.
 Sandanayake, M. Greenhouse Gas Emissions During Timber and Concrete Building
Construction - A Scenario Based Comparative Case Study. Sustainable Cities and Society,
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 Langer, W. Sustainability of Aggregates in Construction. United States Geological Survey,
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- A Comparative LCA Of Structural System Alternatives. Energy Procedia, Vol.96, 2016.
 Olga, H. et al. Wooden Structures in Brazil: Present Situation And Perspectives. WCTE
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 Rubin, H., Schneider K. J. Baustatik Theorie I. Und Ii. Ordnung. 3ª Edição, Werner Verlag,
1996.
 Johansen, K.W. Theory of Timber Connections. IABSE Publications, 1949.
 Pauletti, R.M.O. Conversa Privada. 2016.
111

 Adriaenssens, S. Conversa Privada. 2016.


 Olga, H. Conversa Privada. 2018.
 IASS (International Association for Shell & Spatial Structures). Guide to Buckling Load
Evaluation of Metal Reticulated Roof Structures. IASS WG8 for Metal Spatial Structures,
2014.
 MetsäWood. Screwed Connections. Disponível em:
<https://www.metsawood.com/global/Tools/MaterialArchive/MaterialArchive/Kerto-manual-
lvl-screwed-connections.pdf>. Acesso em: 30 nov, 2018.
112

Anexo A. Procedimento para verificação de perfis e ligações pelo


Eurocode5

A.1 FATORES DE INFLUÊNCIA SOBRE AS PROPRIEDADE DA MADEIRA


Um propriedades de resistência qualquer da madeira terá seu valor de projeto ( ) calculado a
partir da redução de seu valor característico ( ) através da aplicação da equação 1, onde os
parâmetros (coeficiente de redução) (coeficiente de modificação) assumir os valores
explicados a seguir.

Equação A 1

A.1.1 Coeficiente de redução ( )


O coeficiente de redução das propriedades da madeira varia, segundo o Eurocode 5 (Seção 2.4.1),
a partir do tipo de combinação estudado, do tipo de madeira utilizado e se a verificação é referente
ao dimensionamento de perfis ou conexões; de acordo com a tabela 1 a seguir.

Combinações fundamentais

Madeira Maciça 1.30

MLC 1.25

Conexões 1.30

Combinações acidentais 1.00

Tabela A 1 - Coeficiente de redução para cada caso.

A.1.2 Coeficiente de modificação ( )


O coeficiente de modificação é determinado pela relação entre a Classe de Serviço (variável
conforme a umidade local) e a Duração da Ação (relativa à respectiva combinação de ações). É
necessário aplicar devido para cada combinação de ações no verificação do ELU.
113

Classe de Duração da Ação


Classe de
Material
Serviço
Permanente Longa Média Curta Instantânea

1 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10


Madeira Maciça ou

Madeira Laminada 2 0,60 0,70 0,80 0,90 1,10

Colada
3 0.50 0,55 0,55 0,70 0,90

Tabela A 2 - Valores do Coeficiente de Modificação ( )

Classe de Duração da Ação Duração da Ação Exemplos de Ações

Permanente mais de 10 anos Peso Próprio

Longa Duração 6 meses - 10 anos Depósito

Média Duração 1 semana - 6 meses Acidental Sobre Pisos, Neve

Curta Duração menos de 1 semana Neve, Vento

Instantânea Vento, Acidentais

Tabela A 3 – Classe de duração da ação

Classe de Serviço Umidade do Ar Relativa Umidade da Madeira

1 > 65% em poucas semanas do ano < 12% em geral

2 > 85% em poucas semanas do ano < 20% em geral

3 > 85% por maiores períodos > 20%

Tabela A 4 – Classes de serviço


114

A.2 COEFICIENTE DE INFLUÊNCIA SOBRE A DEFORMAÇÃO ( )


A.2.1 para Estado Limite de Serviço
A inflûencia da umidade e da duração das ações sobre a deformação relativa ao ELS, devem ser
consideradas através do coeficiente de fluência ( ).

Equação A 2

Sendo o valor médio do módulo de elasticidade, o valor médio do módulo de


cisalhamento e o módulo de escorregamento para conectores.

Classe de Valores do coeficiente


Material
Serviço de Fluência ( )

1 0,60
Madeira Maciça ou

Madeira Laminada 2 0,80

Colada
3 2,00

Tabela A 5 - Valores do coeficiente de Fluência ( )

A.2.2 para Estado Limite Último


Em casos em que a distribuição dos esforços seja consideravelmente afetada pela rigidez da
estrutura, é devido considerar os efeitos da fluência sob análise de segunda ordem. Neste caso
deve-se utilizar:

Equação A 3

Sendo o fator correspondente à ação responsável por maior relação solicitação/resistência na


combinação de cargas quasi-permanente. Se esta ação for a Ação Permanente, considerar .
115

A.3 DIMENSIONAMENTO DE PERFIS


O dimensionamento de perfis em madeira é feito a partir de verificações referentes ao estado
limite último ou ao estado limite de serviço das estruturas. Os procedimentos oferecidos pelo
Eurocode 5 são explicados a seguir.

A.3.1 Estado limite último (ELU)


A.3.1.1 Tração paralela à fibra
Para verificação de esforços de tração, a seguinte inequação deve ser satisfeita:

Equação A 4

Onde é a tensão de tração de projeto paralela a fibra e a resistência de projeto à tensão


paralela à fibra. (EC5 Seção 6.1.2)

A.3.1.2 Compressão perpendicular à fibra


Para verificação de compressão perpendicular à fibra a seguinte expressão deve ser satisfeita:

Equação A 5

Sendo a tensão de compressão perpendicular à fibra, é o fator que leva em


consideração a possibilidade de ruptura (equivalente à 1,25 para madeira maciça de conífera e 1,5

para madeira laminada colada), e a resistência da madeira para compressão perpendicular

ao grão. Adota-se como a força resultante aplicada perpendicularmente à fibra e a área


efetiva, que será determinada considerando-se o comprimento efetivo de distribuição da força (L ): ef

sendo L o comprimento de contato, acrescenta-se 30mm à cada lado, sendo esses 30mm limitados
pela distância até o fim do elemento comprimido ou pela metade da distância até outra área de
contato onde ocorre compressão perpendicular.

A.3.1.3 Compressão paralela à fibra


Na verificação da compressão paralela a fibra, deve-se estar atento ao fenômeno de instabilidade
por flambagem. O primeiro passo é checar a esbeltez do perfil em suas duas direções principais de
inércia.
116

Equação A 6

Onde e são parâmetros de esbeltez correspondentes à flexão no eixo j, a


resistência característica à compressão paralela à fibra e . Caso não há
necessidade de se considerar efeitos de instabilidade por flambagem e a condição de segurança se
dá pela seguinte inequação (EC5 Seção 6.1.4):

Equação A 7

Onde é a tensão de compressão de projeto e à resistência à compressão de projeto.


Caso contrário deve-se inserir um fator de redução de resistência devido à instabilidade a
flambagem na resistência de projeto (EC5 Seção 6.3.2):

Equação A 8

Onde:

Equação A 9
117

A.3.1.4 Flexão
Em vigas sujeitas à flexão, deve-se avaliar a possibilidade de instabilidade lateral à torção a partir
da esbeltez relativa à flexão (EC5 Seção 6.3.3):

Equação A 10

Onde é a esbeltez relativa à flexão, a resistência característica à flexão, a tensão


de flexão crítica, e os valores do quinto percentil do módulos de elasticidade e
cisalhamento paralelos ao grão, o momento de inércia à flexão no eixo de menor inércia z,
o momento de inércia à torção, o comprimento efetivo da viga, dependendo das condições de
suporte e carregamento (Tabela X), e o módulo de inércia em torno do eixo y, o eixo principal
de inércia ao qual é realizada à análise de estabilidade.

No caso de vigas retangulares, a expressão de pode ser simplificada para:

Equação A 11

Tipo de Viga Tipo de Ação

Bi-apoiada Momento concentrado 1.0

Carregamento distribuído 0.9

Força Pontual 0.8

Em balanço Carregamento distribuído 0.5

Força Pontual 0.8

Tabela A 6 – Relação do comprimento efetivo e real para diferentes situações.


118

Onde é a largura e a altura da viga. Caso não se considera os efeitos de


instabilidade lateral à torção e a verificação de segurança fica à critério das inequações (EC5 Seção
6.1.6):

Equação A 12

Onde e são, respectivamente, a tensão e a resistência à flexão nos dois eixos principais
de inércia e um fator que vale 0.7 para vigas retangulares e 1.0 para outros tipos.

Caso os efeitos de instabilidade devem ser considerados e a verificação passa a ser


(EC5 Seção 6.3.3):

Equação A 13

A.3.1.5 Flexo-Compressão
Em casos de flexo-compressão deve-se considerar efeitos de segunda ordem decorrentes da
deslocabilidade da estrutura e possibilidade de flambagem. Nos casos em que a instabilidade lateral
à torção devido à flexão e à instabilidade à compressão podem ser desprezadas, a seguinte
inequação deve ser satisfeita (EC5 Seção 6.2.4):

Equação A 14
119

Nos casos em que a instabilidade por compressão deve ser considerada, as inequações passam a
ser as seguintes (EC5 Seção 6.3.2):

Equação A 15

Nos casos de necessidade de verificação por instabilidade à flexão a satisfação do ELU é dada por
(EC5 Seção 6.3.3):

Equação A 16

A.3.1.6 Flexo-Compressão de vigas em arco e chanfradas


No caso de análise de vigas curvas, deve-se corrigir as resistências de projeto multiplicando-as
pelo fator k r

Equação A 17

Onde rin é o raio interno da curva e t a espessura da lamela da MLC.


No caso de vigas chanfradas deve-se calcular a tensão à flexão de projeto pelo procedimento:
6M
 m, ,d  2d
bh
Equação A 18

Onde M d é o momento fletor solicitante de projeto e  o ângulo do chanfro. Este valor possuí
um valor máximo delimitado pela inequação:
 m , ,d  km , f m ,d
Equação A 19
120

Onde, para quando as tensões de tração são paralelas ao lado chanfrado da viga:
1
km , 
2 2
 f md   f md 
1   tan     tan  
2

 0.75 f v , d   f t ,90, d 
Equação A 20

E para quando as tensões de compressão são paralelas ao lado chanfrado da viga:


1
km , 
2 2
 f   f 
1   md tan     md tan 2  
 1.5 f v ,d   f c ,90,d 
Equação A 21

A.3.1.7 Cortante
Para verificação de esforços por força cortante, deve-se satisfazer a inequação (EC5 Seção 6.1.7):

Equação A 22

Onde é a tensão de cisalhamento de projeto, a resistência ao cisalhamento de projeto,


a força cortante de projeto, a altura da viga e a largura efetiva dada pela ponderação da largura
com a influência de fissuras pelo fator , que vale 0.67 para madeira serrada e MLC.

A.3.2 Estado limite de serviço (ELS)


Os estados limites de serviço para estruturas em madeira podem ser referentes ao deslocamento ou
à vibração das estruturas. As verificações devem ser feitas a partir dos procedimentos a seguir.

A.3.2.1 Limite de deformação em vigas


O valor da flecha final de uma viga em madeira ( ) é dado pela equação (EC5 7.2):

Equação A 23
121

Onde é a deformação instantânea da viga, é a deformação a longo prazo, é a contra-


flecha (se aplicada) e é o deslocamento total da viga (incluindo a contra-flecha).

O valores de limites das flechas das vigas dependem da viga estar em balanço ou não e do
comprimento livre da viga ( ). Os valores são dados pela tabela X (EC5 tabela 7.2).

Vigas biapoiadas l/300 a l/500 l/250 a l/350 l/150 a l/300

Vigas em balanço l/150 a l/250 l/125 a l/175 l/75 a l/150

Tabela A 7 – Limites para diferentes deformações

A.3.2.2 Vibrações
O eurocode determina que vibrações por ações previamente conhecidas não venham a trazer
desconforto aos usuários. As determinações da norma são voltadas a dois casos: vibrações por
maquinaria e vibração em pisos residenciais (Seção 7.3).

Quando houver maquinaria que cause vibrações, os níveis de vibração contínua devem ser
estudados de acordo com o apêndice A da ISO2631-2. Já para o estudo das vibrações em pisos
residenciais, onde há a circulação frequente de pessoas, a norma traz o procedimento a seguir.

Nos casos em que os pisos tiverem um valor de frequência natural de vibração menor 8Hz, um
estudo específico para o caso deve ser feito. Já quando o valor for maior que 8Hz, as expressões a
seguir devem ser satisfeitas.

Equação A 24

Equação A 25

Onde:

 é o máximo valor de deslocamento causado por uma força F vertical em qualquer ponto
do piso, levando em conta os carregados distribuídos previstos.

 é o máximo valor inicial da velocidade de vibração do piso (em m/s) causada por um
impulso unitário (1 Ns) aplicado no ponto mais sensível do piso.
122

 é a frequência fundamental do piso.

 é a taxa de amortecimento do piso, considerada 1% quando for desconhecida.

A correlação dos parâmetros a e b é dada a seguir.

Figura A 1 - Correlação entre os parâmetros a e b (EC5, figura 7.2)

A.4 DIMENSIONAMENTO DE LIGAÇÕES


Os fundamentos do processo de dimensionamento das ligações em estruturas de madeira foram
discutidos na seção 2.4 do relatório. A seguir, apresenta-se os procedimentos de cálculo sugeridos
pelo Eurocode 5 (EC5 Seção 8.2).

A.4.1 Modos de falha dúctil por cisalhamento


Para ligações madeira-madeira com um plano de cisalhamento, a resistência unitária ao
cisalhamento da conexão é dada pelo menor valor dos modos de falha:
123

Figura A 2 – Modos de falha em conexões madeira-madeira com plano de cisalhamento simples (Porteous,2007).

Já para situações de ligações madeira-madeira com 2 planos de cisalhamento:

Figura A 3 - Modos de falha em conexões madeira-madeira com plano de cisalhamento duplo (Porteous,2007).
124

Em ligações aço-madeira com um plano de cisalhamento, deve-se escolher o menos dos modos de
falha a seguir. Em casos de ligações madeira-aço, deve-se atentar ao tipo de chapa de aço utilizada,
se fina ( ), onde a verificação deve ser feita entre os modos (a) e (b), ou grossa ( ) onde
os modos considerados são os (c), (d) e (e). Nos casos intermediários de espessura uma interpolação
linear entre os modos semelhantes deve ser feita.

Figura A 4 - Modos de falha em conexões madeira-aço com plano de cisalhamento simples (Porteous,2007)

No caso de ligações aço-madeira com duplo cisalhamento, verificação em relação a espessura da


chapa também deve ser feita, além de se considerar modos de falha tanto para duplo cisalhamento
com o aço e a madeira como elemento central.
125

Figura A 5 - Modos de falha em conexões madeira-aço com plano de cisalhamento duplo (Porteous,2007)

As variáveis apresentadas nas equações são apresentadas nos tópicos seguinte, exceto as espessuras

das peças e o fator de fricção .

A.4.1.1 Resistência de embutimento ( )


Os processos de cálculo para a resistência de embutimento variam de acordo com o tipo de conector
sendo utilizado. Os casos relevantes para desenvolvimento do trabalho podem ser divididos em
dois.

 Pregos (diâmetro menor que 8mm) e parafusos (diâmetro menor que 6mm)

Para pregos com diâmetro menor que 8mm (EC5, 8.3.1(5)) e para parafusos com diâmetro menor
6mm (EC5 8.7.1(5)), o valor da resistência de embutimento, , irá variar de acordo com o
diâmetro do conector e a densidade característica e expressão a ser utilizada caso pré-perfuração
seja ou não utilizada:

 Sem pré-perfuração (EC5, equação 8.15):

 Com pré-perfuração (EC5, equação 8.16):


126

Onde d é o diâmetro do conector e é a densidade característica da madeira utilizada.

 Barras roscadas, pregos (diâmetro maior que 8mm) e parafusos (diâmetro maior que
6mm)

Para barras roscada (EC5, 8.5.1(2)), parafusos com diâmetro maior que 6mm (EC5, 8.7.1(4)) e para
pregos (EC5, 8.3.1(6)), o ângulo da força de embutimento em relação às fibras da madeira ( ) irá
influenciar a resistência de embutimento que terá seu valor dado pela equação:

Equação A 26

Onde é a resistência de embutimento na direção paralela às fibras do material e tem seu


valor dado pela expressão (EC5, equação 8.32), onde d é o diâmetro
do conector e é a densidade característica da madeira. é um coeficiente que, para madeira
laminada colada, é igual a .

A.4.1.2 Momento de resistência ( )


O valor do momento de resistência a ser considerado varia de acordo com o tipo de conector sendo
utilizado e o seu diâmetro. A expressões relevantes ao trabalho para o cálculo de são
apresentadas pela tabela A8.

Tipo de conector

Pregos redondos

Pregos quadrados

Barras roscadas

Parafusos (d ≤ 6mm )

Parafusos (d > 6mm )

Tabela A 8 - Valores de momento de resistência para cada tipo de conector


127

Nas expressões, d é o diâmetro do conector, é a resistência à tração do prego ou parafuso e


é a resistência à tração característica da barra roscada ou do parafuso.

A.4.1.3 Rope effect


Como mencionado na seção 2.4.1.3 do relatório, a contribuição do rope effect é reduzido ao termo

, onde é a resistência ao arrancamento do conector, calculado conforme A.4.2. A


norma europeia considera a existência de um limite superior para este efeito (EC5, 8.2.2.2(2)), que
é uma porcentagem do valor da resistência de Johansen ( ), cujo valor varia de acordo com o
tipo de conector utilizado, conforme a seguir:

 Pregos redondos: 15%;

 Pregos quadrados: 25%;

 Outros pregos: 50%;

 Parafusos: 100%;

 Barras roscadas: 25%.

A.4.1.4 Numero efetivo de conectores


Para casos de solicitação paralela a direção da fibra da madeira o número efetivo de linhas de
conectores paralelos à fibra é nefpar  n par
k ef
para ligações com pregos e parafusos com diâmetro menor

que 6mm. Para barras roscadas e parafusos com diâmetro maior que 6mm o número efetivo é:


 a 
nefpar  min n par , n par 0.9 4 1 

 13d 

Equação A 27

Para casos de solicitação perpendicular à fibra, o número efetivo de linhas de conectores n efpar é
igual a n par e para ambos os casos o número efetivo de linhas de conectores perpendiculares à fibra
n efpep também é igual a ao valor real n pep . Para casos de solicitações em um ângulo  em relação
a direção paralela à fibra deve-se realizar uma interpolação linear de n efpar entre os dois casos (
 par  0º ,  pep  90º ). Por fim, a resistência total das ligações pode ser calculada como:
Fv ,n ,k  n efpar ( )n pep Fv ,1,k
Equação A 28
128

kef
Espaçamento Com pré-furação Sem pré-furação
a1  14d 1.0 1.0

a1  12d 0.925 0.925

a1  10d 0.85 0.85

a1  9d 0.8 0.8

a1  8d 0.75 0.75

a1  7 d 0.7 0.7

a1  4d 0.5 -
Tabela A 9 – Valores para diferentes espaçamentos paralelos à fibra.

Figura A 6 – Espaçamento paralelo de conectores

A.4.2 Modos de falha dúctil por força axial

As verificações relativas a conectores sujeitos falha por força axial são realizadas através da
avaliação da resistência ao arrancamento ( ) do conector sendo utilizado. O método de
obtenção deste parâmetro varia de acordo com o tipo de conector utilizado e os procedimentos para
cada tipo relevante ao trabalho são descritos a seguir.

A.4.2.1 Pregos carregados axialmente


Para pregos carregados axialmente, as equações para a obtenção do valor da resistência ao
arrancamento variam, dependendo de se o prego utilizado é liso ou não. No primeiro caso, o valor
de é dado por:

Equação A 29

Já no segundo caso, o valor será dado por:


129

Equação A 30

Onde,

 é a resistência característica ao arrancamento da ponta do prego;

 é a resistência à perfuração da cabeça do prego;

 d é o diâmetro do prego;

 é a penetração do prego no membro da ponta;

 t é a espessura do membro do lado da cabeça do prego;

 é o diâmetro da cabeça do prego.

Os valores de e podem ser obtidos experimentalmente, mas para pregos lisos com
maior ou igual 12d, as seguintes equação podem ser utilizadas:

Equação A 31

Equação A 32

Para pregos lisos, a resistência ao arrancamento terá seu valor integral considera quando a
penetração da ponta ( ) for no mínimo 12d. Caso contrário, o seu valor deverá ser reduzido

linearmente a partir do coeficiente , o que implica na desconsideração de resistência


axial quando não superar 8d (EC5, 8.3.2(7)).

Para pregos que não forem lisos, o procedimento será semelhante, mas a resistência ao
arrancamento terá seu valor integral considerado quando for maior ou igual a 8d e sendo

reduzida pelo coeficiente , devendo haver, portanto, uma penetração da ponta de


pelo menos 6d para que a resistência ao arrancamento seja considerada (EC5, 8.3.2(7)).
130

A.4.2.2 Barras roscadas carregadas axialmente


Nos casos em que forem utilizadas barras roscadas, a resistência ao arrancamento irá depender da
resistência à tração da barra, e capacidade da bucha e da placa metálica (em casos de sistemas
madeira-aço) (EC5, 8.5.2(1)).

A capacidade da bucha deverá ser avaliada, considerando, na área de contato, uma resistência
característica igual a (EC5, 8.5.2(2)).

Já a capacidade de uma placa de aço deverá ser considerada com a de uma bucha circular com
diâmetro igual ao mínimo entre 12t e 4d, onde t é a espessura da placa e d é o diâmetro da barra
(EC5, 8.5.2(3)).

A.4.2.3 Parafusos carregados axialmente


Para parafusos carregados axialmente, deverão ser analisadas as resistências referentes ao
arrancamento, ao desprendimento da cabeça e à resistência à tração do parafuso, conforme às
seções a seguir.

Em todos os casos, é levado em conta o número efetivo de parafusos, , que é igual a n , onde n
0,9

é o número de parafusos agindo em conjunto me uma conexão,

 Resistência ao Arrancamento

Para os parafusos que obedecerem às seguintes condições:

onde d é o diâmetro externo da região roscada do parafuso e d é o diâmetro interno da mesma


1

região, o valor da resistência em um dado ângulo ( ) será dado por:

Equação A 33
131

onde:

 é a tensão resistente ao arrancamento, perpendicular às fibras da madeira, sendo:

 é a densidade característica da madeira;

 é o ângulo entre o eixo do parafuso e às fibras da madeira, devendo ser superior a 30°;

 é o número efetivo de parafusos.

Nos casos em que a condição acima, referente aos diâmetros interno e externo do parafuso, não for
satisfeita, deverá ser utilizada a equação abaixo.

Equação A 34

onde passa a ser obtido conforme a norma EN 14592 e é a densidade associada a .

 Resistência ao desprendimento da cabeça


O valor da resistência característica ao desprendimento da cabeça do parafuso será dado pela
expressão abaixo.

Equação A 35

Onde:

 é a tensão resistente ao desprendimento da cabeça do parafuso, segundo EN 14592


e associada à densidade .

 d é o diâmetro da cabeça do parafuso.


h
132

 Resistência à tração
A resistência à tração do parafuso (F ) será dada pela equação abaixo, onde f é a tensão de
t,Rk t,k

resistência à tração do parafuso, conforme EN 1592.

Equação A 36

A.5 Modos de falha frágil em conectores solicitados lateralmente


Através de espaçamentos mínimos relativos ao posicionamento dos conectores, é possível evitar
a ruptura frágil da madeira. Apenas respeitando-se esses espaçamentos podemos dimensionar
uma conexão conforme a solicitação para ruptura dúctil.

Os conectores solicitados lateralmente devem ser espaçados conforme as tabelas abaixo. É


considerado a ângulo da força aplicada pelos conectores em relação à fibra. Através dele
determina-se a e a , e qual fim será tracionado (a ) e comprimido (a ); e se o canto será
1 2 4,t 4,c

tracionado (a ) ou comprimido (a ), conforme exemplos abaixo.


3,t 3,c

Figura A 7 - Organização dos espaçamentos de acordo com o ângulo da solicitação em relação à fibra.
133

Pregos
Espaçament
o sem pré-furação com pré-furação

Mínimo

a 1
d<5mm: (5+5|cos𝛼|)d
(7+8|cos𝛼|)d (4+|cos𝛼|)d
d5mm: (5+7|cos𝛼|)d

a 2 5d 7d (3+|sen𝛼|)d

a 3,t (10+5|cos𝛼|)d (5+15|cos𝛼|)d (7+5|cos𝛼|)d

a 3,c 10d 15d 7d

a 4,t
d<5mm: (5+2|sen𝛼|)d d<5mm: (7+2|sen𝛼|)d d<5mm: (3+2|sen𝛼|)d

d5mm: (5+5|sen𝛼|)d d5mm: (7+5|sen𝛼|)d d5mm: (3+4|sen𝛼|)d

a 4,c 5d 7d 3d

Tabela A 10 – Espaçamentos mínimos para pregos.


134

Espaçamento
Barras Roscadas
Mínimo

a 1 (4+|cos𝛼|)d

a 2 4d

a 3,t max (7d ; 80mm)

90 𝛼 <150 :
o o
(1+6sen𝛼)d

a3,c
150 𝛼 <210 :
o o 4d

210 𝛼 <270 :
o o
(1+6sen𝛼)d

a 4,t max [(2+2|sen𝛼|)d;3d]

a4,c 3d

Tabela A 11 – Espaçamentos mínimos para barras roscadas.

Para determinar o espaçamento mínimo para parafusos deve-se considerar seu diâmetro efetivo (def
- valor do diâmetro da sua haste). Se este diâmetro for menor do que 6mm, deve-se realizar
dimensionamento correspondente ao dado para pregos, e se este for maior do que 6mm deve-se
realizar dimensionamento correspondente às barras roscadas.

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