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KIT DE CONTEÚDO

OBRAS COM
ESTRUTURAS DE
MADEIRA
Produção
ÍNDICE
03 Estruturas de madeira evoluem e já
chegam à terceira geração

15 Madeira engenheirada é opção estrutural


para edificações

21 Madeira laminada colada vence grandes


vãos e permite estruturas curvas
Estruturas de madeira
evoluem e já chegam
à terceira geração
O sistema lamelar, resistente e belo com
seus alvéolos, é o ‘avô’ do gridshell, ainda
em desenvolvimento no Brasil. As estruturas
laminadas dominam o mercado, concorrendo
com as de aço e de concreto

Texto: Redação Portal AECweb / e-Construmarket


Publicado em 23/10/2018

As estruturas de madeira estão em constante evolução.


No último século, a tecnologia lamelar, desenvolvida entre
as duas grandes guerras mundiais, foi usada muito além
da construção civil, como na fabricação dos bombardeiros
ingleses. “Mesmo quando atingidos, esses aviões não des-
montavam, porque sua fuselagem era capaz de redistribuir
os esforços”, afirma o engenheiro Edmundo Callia Júnior,
proprietário da Callia Estruturas de Madeira.
Tecnologia de estruturas em madeira continua em constante evolução (foto: Nelson Kon)

OBRAS COM ESTRUTURAS DE MADEIRA


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A estrutura lamelar é construída por tábuas que
compõem alvéolos de madeira, semelhantes às
colmeias de abelhas. “Trata-se de uma solução
leve, bonita, que trabalha muito bem a compressão
e tem bastante flexibilidade”, explica Callia.

A mesma capacidade de redistribuir os esforços im-


pede que ela se desmanche ao sofrer impacto, ao
contrário do concreto que, quando atingido, pode
rachar ou desmoronar. Geralmente em formato
de arcos, a lamelar é usada em coberturas e está
presente em diversas obras no país construídas no
passado, como estações ferroviárias. Hoje, é pouco
empregada, tendo cedido espaço às estruturas la-
minadas de madeira.

(Foto: Shutterstock / 1267349857)

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ESTRUTURA LAMINADA

O período entre guerras também marca o desenvolvimento do sis-


tema laminado. Com pouca matéria-prima disponível e, sobretudo,
partida pelos constantes bombardeios, os alemães passaram a colar
pedaços de madeira. “Nesse processo, descobriram que era possível
conseguir vigas excelentes e moldáveis. Assim, começaram a criar ar-
cos, parábolas ou vigas retas com as madeiras coladas. A tecnologia
se desenvolveu e ganhou o mundo”, conta o engenheiro.

A solução laminada é constituída por lâminas de madeira “deitadas”


e coladas entre si, identificada como MLC. “Está evoluindo e se trans-
formando em uma estrutura fabulosa, com diversos formatos e capaz
de vencer grandes vãos, de até 100 m, o que era considerado impos-
sível no passado”, detalha Callia. Essas propriedades fizeram da lami-
nada uma opção para a construção de extensas passarelas e pontes,
como a da usina de lixo de Viena: um arco invertido com 120 m de
comprimento.

(Foto: Shutterstock / 1863643930)

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Com características de elemento pré-moldado, sua
montagem é limpa, pois as vigas chegam prontas no
canteiro. “Usinamos todo o nosso material em uma
máquina de comando numérico muito precisa. A mon-
tagem é a etapa mais tranquila e rápida. Cuidamos da
logística e fornecemos todo o equipamento necessário
à montagem. Nossas equipes montam cerca de 200
m² por semana”, relata Hélio Olga, sócio-diretor da Ita
Construções, empresa especializada na área.


O gridshell é, talvez, a estrutura
mais orgânica que pode ser
concebida, permitindo todas
as formas e curvas

- Edmundo Callia Júnior

(Foto: Shutterstock / 64626226)

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GRIDSHELL

A mais nova geração de estrutura de madeira, o gridshell, já está


em uso em vários países e guarda o DNA do lamelar. “O grisdhell
é, talvez, a estrutura mais orgânica que pode ser concebida, per-
mitindo todas as formas e curvas. Possui alvéolos que deslizam
entre si, responsáveis pelo formato orgânico”, diz Edmundo Callia
que, neste momento, pesquisa e desenvolve protótipos do siste-
ma. A solução trabalha sempre em arco, vencendo até 40 m de
vão. É possível, por exemplo, cobrir a largura de uma rua.

O segredo está na furação prévia das lâminas, ainda na fábrica.


Ao invés de redondos, são furos oblongos (um rasgo na madeira)
que permitem ao parafuso deslizar para que a estrutura atinja a
forma desejada – etapa executada no canteiro. “O principal desa-
fio é a precisão do dimensionamento dos furos, de maneira que o
parafuso não corra além ou aquém do necessário, desequilibran-
do a montagem”, explica Callia. O resultado é uma teia, similar a
tramas de tecido.
(Foto: Shutterstock / 1131630188)

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Existem várias maneiras de fixar a estrutura no piso. Se sua
base for contínua, a fixação é feita com canaleta de concreto,
ou chumbando a ferragem no chão. Nesse segundo caso, é
colocada uma saia de madeira na base, que será responsável
pela amarração da trama. “Com a barra pronta, ela é fixada
nas ferragens de chumbamento no chão. É comum preparar
uma parede com altura de 0,5 m para que a madeira não fi-
que em contato direto com o solo”, detalha Callia.

Enquanto o gridshell trabalha com a flexibilidade da madeira,


a estrutura laminada também pode ser projetada com efeito
de teia, porém utilizando peças rígidas, o que a torna mais pe-
sada do que o gridshell. O novo sistema dá ao arquiteto a pos-
sibilidade, por exemplo, de criar uma cobertura em formato
de cúpula ou de lona de circo. “É uma alternativa econômica,
pois usa madeira de dimensões bem pequenas, gerando co-
berturas leves”, diz. Até por isso não é recomendado revestir a
solução com telhas de barro ou semelhantes, pois assim seria
necessário aumentar a espessura da madeira, eliminando o
fator flexibilidade.

(Foto: Shutterstock / 713523754)

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O gridshell ainda está entrando no Brasil. A expectativa
de Callia é que o novo sistema revolucione, mais uma
vez, o setor de estruturas de madeira no país. Ele acre-
dita que, nos próximos anos, seu uso deve se impor,
principalmente, em estruturas de piscinas e coberturas
de quadras. “Antigamente, havia o conceito do quan-
to a obra custa. Hoje, essa ideia mudou para o quanto
pesa, porque, quanto mais leve for, menor o custo com
fundação e materiais. O gridshell traz isso, com um
consumo mínimo de madeira”, completa.

Lamelar, laminada ou gridshell, todas as estruturas


de madeira podem receber os mesmos materiais de
fechamento, como vidro e policarbonato. Como o
gridshell é mais flexível, depois que se travou a forma
da estrutura, é aplicada uma caixilharia. Outra opção é
o gridshell com forro de madeira, de maneira que des-
taque a malha da estrutura por baixo.

(Foto: Shutterstock / 376132498)

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PROTEÇÃO E
MANUTENÇÃO

Existem edificações de 400 anos de ma-


deira e ainda íntegras, porém protegidas


do sol e da chuva. Segundo Hélio Olga,
um beiral de 1,50 m, por exemplo, já é Se o projeto de arquitetura
‘meio caminho andado’ para a proteção prevê que o material ficará
de uma estrutura abaixo dele, que deve numa posição de extrema
exposição, então não se deve
ainda estar isolada da fundação para
usar madeira, mas outros
evitar a umidade ascendente. Edmundo
sistemas estruturais, porque
Callia concorda, alertando que, se expos-
vai pedir manutenção
ta integralmente, a madeira sofre por se
tratar de elemento vivo. “Em uma passa- - Hélio Olga de Souza Júnior
rela externa que vai tomar chuva e sol,
são usados produtos como os hidrorre-
pelentes, que a protegem. A manutenção
é essencial”, diz.

(Foto: Shutterstock / 1923978563)

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Daí a necessidade de cuidados com o detalhamento do projeto,
de maneira a minimizar a manutenção. “Eu não tenho garantia
alguma de que o proprietário da obra fará a manutenção ade-
quada, mas nossas estruturas são pensadas para durarem muito
mais do que uma garantia formal de 20 anos. Elas podem chegar
de 50 a 100 anos, mesmo sem uma manutenção adequada”, diz
Olga.

O conceito fica claro no case da obra do Colégio Vera Cruz, em


São Paulo, projeto de arquitetura da Base Urbana, Pessoa Arqui-
tetos e Kipnis Arquitetos Associados, executado pela Ita. Com ex-
ceção do brise em madeira nativa que obviamente fica exposto
ao tempo, o prédio tem duas paredes de alvenaria armada que o
isolam e “recheio” em madeira que, mesmo sem qualquer manu-
tenção, terá durabilidade infinita.

“Se o projeto de arquitetura prevê que o material ficará numa


posição de extrema exposição, então não se deve usar madeira,
mas outros sistemas estruturais, porque vai pedir manutenção”,
diz Olga. Mas, quando se trata de uma exigência do cliente, a
solução é preservar a madeira da estrutura utilizando sobre ela
uma madeira ‘de sacrifício’. (Foto: Shutterstock / 763498477)

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CUSTO E MERCADO

Dependendo do projeto, estruturas de Hoje, o principal concorrente da estrutu-


madeira são mais caras ou não quando ra de madeira é a metálica. O engenheiro
comparadas às de aço e concreto. “Uma prevê que quando a madeira para cons-
viga curva em madeira é mais barata do trução civil ganhar produção em grande
que em aço e em concreto. Já uma viga escala, o preço se tornará competitivo
reta de aço extrudado, por ser feita em para qualquer situação. “Isto ocorrerá
grande escala, terá preço menor. Porém, num prazo de 10 a 20 anos”, diz Olga,
a madeira torna-se mais vantajosa se for acrescentando que a madeira está con-
exigido aço especial, com secção eleva- quistando espaço em diversos segmentos
da e que precisa ser soldado. Por ser um de obras, sobretudo pelas vantagens am-
material mais leve, também tem menor bientais.
custo de frete”, expõe Olga.

(Foto: Shutterstock / 1191537130)

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SUSTENTABILIDADE

A madeira é material renovável e infinito. “Depen-


de apenas da energia solar e, enquanto houver
árvore, haverá madeira. Além disso, seu efeito co-
lateral é positivo ao retirar CO2 da atmosfera”, lem-
bra Olga. Para ele, é impossível construir sem aço e
concreto, porém, seu impacto ambiental é anulado
quando se utiliza madeira nas demais áreas do edi-
fício. Isto resultará num prédio zero carbono, o que
será uma exigência mundial em médio prazo.

(Foto: Shutterstock / 60026116)

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COLABORAÇÃO TÉCNICA

Edmundo Callia Júnior

Engenheiro Civil formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie


(1977). É proprietário da Callia Estruturas de Madeira.

Hélio Olga de Souza Júnior

Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da Universidade


de São Paulo (1978). É sócio-proprietário da Ita Construtora Ltda.,
especializada em projeto, fabricação e montagem de estruturas em
madeira.

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Madeira engenheirada
é opção estrutural para
edificações
Seja em sistemas híbridos, seja compondo
integralmente a estrutura, solução
industrializada começa a ser explorada no
Brasil, em edifícios e lojas

Texto: Juliana Nakamura


Publicado em 20/01/2021

A madeira engenheirada é uma solução estrutural que vem


se consolidando em países do hemisfério norte em função de
características como racionalidade, alta precisão e sustentabili-
dade. Diferente de outros materiais, como o concreto e o aço,
a madeira de reflorestamento pode capturar carbono e contri-
buir para a redução do efeito estufa. “Um metro cúbico dessa
tecnologia retira uma tonelada de gás carbônico da atmosfera”,
revela a arquiteta Ana Belizário, gerente de projetos e novos
Uso de madeira engenheirada no Brock Commons Tallwood House, no Canadá
negócios da Amata. (Crédito: Divulgação/Acton Ostry Architects)

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O QUE É A MADEIRA
ENGENHEIRADA?

O termo refere-se a uma série de pro-


O que explica o interesse por esse siste-
dutos fabricados a partir de pinus ou
ma estrutural, além da capacidade de su-
eucalipto que, após a extração, são sub-
portar cargas e da sustentabilidade, são
metidos a tratamentos e processos que
fatores como baixo peso, facilidade para
agregam qualidade e homogeneidade.
gerar sistemas industrializados, além da
Entre eles, destacam-se a madeira lami-
estética naturalmente nobre.
nada colada (MLC), utilizada para vigas


e pilares, e a madeira laminada cruzada
(CLT, do termo em inglês Cross Laminated Um metro cúbico
Timber), aproveitada na confecção de la- dessa tecnologia
retira uma tonelada
jes e paredes estruturais.
de gás carbônico da
atmosfera

- Ana Belizário

(Foto: Shutterstock / 1145110973)

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SEGURANÇA AO FOGO E DURABILIDADE

Resistência às intempéries e comportamento perante ao fogo Com relação à durabilidade, a normatização brasileira orienta
são aspectos que comumente despertam dúvidas com relação que toda madeira macia para uso estrutural passe por tratamen-
aos sistemas construtivos inovadores. to em autoclave com conservantes. “Associado a esse tratamen-
to, é recomendável que a estrutura de pinus seja projetada com
No caso das estruturas de madeira, a obtenção do TRRF (Tempo algum sistema de proteção, como beirais, rufos e revestimentos”,
Requerido de Resistência a Fogo) exigido pelo Corpo de Bom- diz Belizário. Segundo ela, quando inserida em um projeto que
beiros está relacionado ao desempenho mecânico do material. contemple alguma proteção, como um chapéu ou uma pele, a
A obtenção desse índice depende de um dimensionamento que estrutura de madeira engenheirada atinge durabilidade de 50, 60
considere a seção extra de madeira que pode, eventualmente, anos. “Mas em várias regiões do mundo há exemplos de constru-
carbonizar, e a seção estrutural que precisa ser mantida para o ções de madeira centenárias em operação”, destaca a arquiteta.
suporte das cargas.

“Em paralelo, há a questão da propagação de chamas. Para aten-


der às exigências, basta que a estrutura de madeira receba uma
aplicação superficial de verniz retardante de chamas”, comenta
Ana Belizário.

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NORMAS TÉCNICAS

Para impulsionar o uso da madeira engenheirada no Brasil, a in-


dústria, em conjunto com institutos de pesquisas e com a ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), vem desenvolvendo
um processo de atualização e ampliação do arsenal de normas
técnicas nacionais.

O trabalho em curso começou com a revisão dos textos de pro-


jeto de estruturas de madeira (NBR 7190) e de preservação de
madeira (NBR 16.143). O plano é, na sequência, elaborar normas
específicas de construção, proteção em caso de incêndio e pro-
dução industrial de madeira engenheirada, em um processo si-
milar ao que aconteceu com a estrutura metálica há alguns anos.

Ana Belizário lembra, porém, que a ausência desses textos técni-


cos não inviabiliza os projetos e as obras com CLT e MLC no país.
Isso porque o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, cujo
trabalho é referência para outros estados, aprova a construção
com esses produtos, desde que atendidos os requisitos da nor-
matização europeia (Eurocode).
(Foto: Shutterstock / 144635750)

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CASES NACIONAIS

Embora a madeira engenheirada ainda carregue


uma aura de novidade, gradativamente começam a
surgir aplicações dessa tecnologia no Brasil. A HTB,
por exemplo, vem desenvolvendo junto com os ar-
quitetos do escritório Kröner e Zanutto, um sistema
construtivo híbrido para edifícios de escritórios, com
núcleo de elevadores em concreto e o restante da es-
trutura em madeira engenheirada. Outro exemplo é
a loja conceito da marca de chocolates Dengo. Proje-
tada pelos arquitetos Matheus Farah e Manoel Maia,
a edificação de quatro pavimentos em operação em
São Paulo, tem lajes de CLT e vigas e pilares de MLC.

Projeto da loja conceito da marca de chocolates Dengo


(Crédito: Pedro Kok)

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COLABORAÇÃO TÉCNICA

Ana Belizário

Gerente de projetos e novos negócios da Amata, é arquiteta formada pela


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em
2006. Atuou por 10 anos no mercado imobiliário, especializando-se em
incorporação. Desde 2016, é gestora de projetos, liderando o novo negócio
da Amata, a Urbem, com foco em construção civil.

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Madeira laminada
colada vence grandes
vãos e permite
estruturas curvas
Pré-fabricado, material conhecido pela sigla
MLC se destaca pela alta capacidade de carga
e baixo peso próprio. Pouco usada no Brasil, a
solução apresenta custo elevado

Texto: Gabriel Bonafé


Publicado em 08/02/2017

A madeira laminada colada, conhecida pela sigla MLC, é um


material concebido a partir da técnica de colagem aliada à
laminação, no qual as ‘tábuas’ constituem a madeira. Em-
pregada desde o século XIX na construção civil, quando as
lamelas ainda eram unidas por ligações mecânicas, a MLC só
progrediu em seu campo de aplicação na década de 1940,
com o surgimento das colas sintéticas. Cobertura em estrutura de MLC
(Projeto: Casa Baroneza, por Candida Tabet Arquitetura – Foto: Rômulo Fialdini)

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Seu uso em estruturas varia de pequenas aplicação se estende para vales, praias,
passarelas, escadas e abrigos até grandes entre outros. “Detalhes definidos em pro-
estruturas concebidas sob as mais varia- jeto, como bases metálicas para afastar a
das formas estéticas. O material permite MLC da umidade do solo e distanciamen-
vencer grandes vãos, de até 100 m sem to de encaixes entre peças, para que não
apoio intermediário, desempenho supe- acumule água, fazem a diferença para
rior ao da madeira maciça. uma maior durabilidade nesses contex-
tos”, conta Paulo Bastos, sócio-diretor da
Carpinteria Estruturas de Madeira.
PROJETOS
Com o avanço da tecnologia de produção,
COM MLC controle tecnológico, processamento e
técnicas construtivas, a MLC tornou-se
muito indicada para concepção de es-
A MLC pode ser utilizada em qualquer truturas curvas e peças de alta repeti-
tipo de construção, como em projetos bilidade. “As peças precisam de menos
residenciais, comerciais, industriais, en- encaixes metálicos, menos parafusos e,
tre outros. Com os devidos tratamentos portanto, podem ser mais interessantes
e proteção contra umidade, o campo de que outras soluções”, aponta Bastos.

(Foto: Shutterstock / 544546372)

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MLC NO BRASIL
Embora venha crescendo a cada ano, o uso da MLC no Brasil
ainda é considerado baixo em comparação a países do hemis-
fério norte, que contam com madeira de fácil trabalhabilida-
de em abundância.

“Competem aos arquitetos, engenheiros, madeireiros e ou-


tros que trabalham com a madeira estabelecer o elo que fal-
ta entre as tecnologias avançadas no campo da construção
e as madeiras cultivadas no Brasil. Essa corrente é que vai
determinar realmente a tecnologia e o uso da madeira em
todo seu potencial”, estima o engenheiro Carlito Calil Neto,
responsável pelos departamentos de produção, controle de
qualidade e orçamentos da Rewood.

(Foto: Shutterstock / 1048452379)

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baixo nível de perda para sua manufatu-
VANTAGENS E ra e pode ser facilmente obtido de fonte
DESVANTAGENS renovável, de florestas plantadas ou ma-
nejadas.

Além dos benefícios da própria madeira, Entre outras vantagens, ainda se desta-
como valor estético e propriedades ter- cam a resistência a substâncias químicas
moacústicas, a MLC se destaca pela alta e agressivas e a baixa necessidade de ma-
capacidade de carga e baixo peso próprio, nutenção e pintura. Por ser industrializa-
permitindo grandes envergaduras e for- da, a MLC evita desperdícios de materiais
mas mais flexíveis. Além disso, apresenta e agiliza a montagem, acarretando um
alta resistência ao fogo e estabilidade di- menor tempo de canteiro de obra.
mensional, características decorrentes do (Foto: Shutterstock / 1728208456)
seu processo de fabricação. Já sua desvantagem consiste no preço


elevado comparado aos sistemas conven-
Por sua vez, o processo de fabricação da cionais, principalmente pela baixa cultura As peças precisam de
MLC consome pouca energia em rela- de uso da madeira no Brasil. “O grande menos encaixes metálicos,
ção aos outros materiais construtivos. “É obstáculo é identificar os fabricantes e menos parafusos e,
24 vezes menor do que o aço; 14 vezes verificar se eles seguem as normas vigen- portanto, podem ser mais
menor do que o vidro; e 5 vezes menor tes, já que não existe um selo de qualida- interessantes que outras
do que o cimento”, compara Calil, acres- soluções
de estrutural para a MLC como em outros
centando que o material ainda apresenta países”, constata Calil. - Paulo Bastos

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PROCESSO DE
FABRICAÇÃO

O processo de fabricação da MLC demanda alta precisão


em todos os seus estágios, com controle de qualidade
para assegurar as propriedades do material quanto à
resistência especificada e, ainda, atender aos requisitos
previstos em norma.

De acordo com Calil, as espécies de madeira mais reco-


mendadas para o emprego em MLC são as das coníferas
e algumas folhosas, como Pinus e Eucalipto. Como to-
das as madeiras podem ser coladas, não existe restrição
para a escolha das espécies, alterando apenas a especi-
ficação do tipo de cola para cada opção.

(Foto: Shutterstock / 33464866)

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Outro fator que influencia na especifica-
ção da cola para fabricação da MLC são as
condições a que a estrutura estará sub-
metida. “É preciso levar em consideração


se a mesma vai estar abrigada no interior
O grande obstáculo é
da edificação ou exposta à variação das
identificar os fabricantes
condições atmosféricas, como alternân-
e verificar se eles seguem
cia de sol e chuva”, afirma Calil.
as normas vigentes, já
que não existe um selo
A MLC é produzida em um grau de umi- de qualidade estrutural
dade no qual o comportamento de con- para a MLC como em
tração e inchamento se reduz ao mínimo, outros países
garantindo estabilidade dimensional ao
- Carlito Calil Neto
material. Por ser ensaiado em labora-
tórios específicos, o produto apresenta
características físico-mecânicas precisas,
facilitando o trabalho do calculista de es-
trutura de madeira.

(Foto: Shutterstock / 521018161)

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NORMAS

A norma específica de recomendações para projetos


de estrutura de madeira no Brasil é a NBR 7190:1997,
da ABNT. “Essa norma está em revisão e, em breve,
deve ser lançada uma versão que contemplará a nor-
ma de fabricação de MLC no Brasil”, revela Bastos.

Outro documento que serve como referência para fa-


bricação da MLC é a norma americana AITC 115-2009,
para controle de qualidade. “Com base nesse progra-
ma, é necessária a realização de ensaios diários, siste-
mas de avaliação em pontos estratégicos da produção
e inspeção constante durante o processo de produção
com inspetores credenciados”, aponta Calil.

(Foto: Shutterstock / 1780962968)

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COLABORAÇÃO TÉCNICA

Carlito Calil Neto


Possui mestrado em Ciências e Engenharia de Materiais pela Universidade de São Paulo
(USP) e doutorado em Engenharia Civil - Estruturas. Tem especialização em processo de
produção de madeira laminada colada, análise em adesivos estruturais de madeira e
ligações com parafusos autoatarraxantes. Também participou para a formação da norma
NBR para a fabricação de MLC. Na Rewood, é responsável pelos departamentos de
produção, controle de qualidade e orçamentos.

Paulo Bastos
sócio-diretor da Carpinteria Estruturas de Madeira LTDA. Trabalha com projetos, montagens
e acompanhamento de estruturas de madeira há mais de 30 anos. Foi o principal projetista
do SESC Pompéia, nos projetos de estrutura de madeira (portões, janelas, bancos,
restaurante e teatro), onde trabalhou com Lina Bo Bardi e Marcelo Ferraz. Executou
centenas de projetos de estruturas de coberturas, pergolados, escadas e decks em todo o
Brasil, bem como o acompanhamento técnico dos serviços. Executa levantamento técnico
estrutural para elaboração de laudos técnicos, notadamente em grandes galpões.

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Mantenha-se atualizado com conteúdo
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sob medida para arquitetos, engenheiros
e construtores. Com vídeos, palestras,
matérias e entrevistas a Revista Digital
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de Materiais, Gestão de Projetos, Compras
e Suprimentos, Obras e Investimentos,
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