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Génese e classificação das rochas sedimentares

 1.1. Génese das rochas sedimentares


As rochas sedimentares em Portugal encontram-se nas zonas centro ocidental e sul, tendo-se
formado nas Eras Mesozoica e Cenozoica, em bacias de sedimentação associadas à abertura
do Atlântico.

Estas rochas:

o formam-se na superfície ou na sua proximidade


o resultam da deposição de materiais provenientes de rochas preexistentes, (da
precipitação química de substâncias dissolvidas nas águas ou da transformação de
restos de seres vivos)

Ciclo sedimentar:

→Sedimentogénese:

 Meteorização
 Erosão
 Transporte
 Sedimentação

→Diagénse:

 Compactação
 Cimentação

Meteorização
As rochas, e os minerais que constituem as rochas sedimentares, são estáveis nas condições de
pressão e temperatura em que se formaram. Quando as rochas afloram, ficam expostas a
diferentes ambientes, tornando-se mais instáveis. Sofrem, então, um conjunto de processos
de alteração, que resultam da ação dos agentes da geodinâmica externa.

A meteorização pode ser: física ou química. Estes processos podem ocorrem em simultâneo,
dependendo das condições climáticas. Estas condições fazem com que predomine um ou outro
tipo de meteorização.

Processos de meteorização física/mecânica

Nesta ocorre uma progressiva desagregação das rochas através de fissuras, sem que se
verifique uma modificação química. Este processo é intensificado pelo aumento progressivo da
área da rocha exposta aos agentes da geodinâmica externa, (estes processos são visíveis nas
montanhas).

 Ação do gelo- Em áreas com temperaturas abaixo do ponto de congelação, a água infiltrada
nas fissuras das rochas congela e expande-se, provocando tensões que contribuem para a
formação de novas fraturas e para o alargamento das já existentes. Este processo designado
por crioclastia, é frequente em regiões de elevada altitude e latitude.
 Variação da temperatura- As rochas à superfície estão sujeitas a variações térmicas; estas
sendo más condutoras de calor, a parte exposta ao sol aquece e expande mais do que o seu
interior. Os minerais das rochas têm diferentes níveis de dilatação, dependendo das suas
propriedades (cor). Com as mudanças de temperatura, à medida que os minerais mais escuros
absorvem mais calor e se expandem mais do que os claros, criam-se tensões diferenciadas que
podem fragmentar a rocha, fenómeno- termoclastia. É frequente em regiões desérticas e em
locais afetados por incêndios.

 Ação dos sais minerais- A água que circula pelos interstícios das rochas contém sais
dissolvidos. Sob condições especificas, esses sais podem precipitar e iniciar um processo de
crescimento que provoca uma força expansiva nos minerais envolventes, contribuindo para o
seu afastamento e consequente desagregação das rochas. Este processo, haloclastia é
frequente em áreas costeiras e em sítios quentes e áridos, sujeitos a intensa evaporação.

 Atividade dos seres vivos- As rochas estão sujeitas a processos de alteração física causados
pela ação dos seres vivos. Exemplo: o crescimento das raízes das árvores em fraturas das
rochas provoca o seu alargamento, ou, a ação de pequenos animais sobre as rochas através da
escavação ou deslocação.

 Alívio de pressão- A remoção das rochas suprajacentes pelos agentes da geodinâmica externa
ou o levantamento causado pelos movimentos tectónicos expõem gradualmente os maciços
rochosos que se encontram em profundidade. Como resultado desse alívio de carga, as zonas
externas desses maciços expandem mais do que as suas regiões internas,
podendo originar fraturas- diáclases. Estas são um tipo de fraturação frequente
que resulta do alívio de pressão ou de tensões internas da crusta, visíveis nos
maciços graníticos. Em algumas situações, os blocos cúbicos ou paralelepípedos
fraturados pelos sistemas de diáclases evoluem, por sucessiva exfoliação
química, para a forma de esferoides→ disjunção esferoidal

Processos de meteorização química

Esta resulta da exposição das rochas aos agentes geodinâmica externa (água e ar), com os
quais reagem quimicamente. Nestas reações, alguns minerais são convertidos noutros mais
estáveis nas novas condições ambientais- minerais de neoformação. De igual importância são
as reações que conduzem à formação de substâncias químicas em solução. Estas alterações,
fragilizam as rochas, acelerando a sua desagregação.

Esta engloba processos que, normalmente, ocorrem em simultâneo.

 Dissolução→ A água é capaz de alterar alguns minerais (ex: halite), constituída por cloreto de
sódio. Sendo as moléculas de água polares, a região da água com a carga negativa interage com
o ião Na+ e a de carga positiva com o ião Cl-, removendo-os da rede cristalina neste processo.
→A maioria dos minerais é insolúvel em água. Para que este processo ocorra, é
necessário a presença de ácidos que, libertando iões H+, aumentam o poder solvente da água.
Ex: a água da chuva reage com o dióxido de carbono, formando ácido carbónico, que se
dissocia no ião hidrogénio e bicarbonato.
A reação da água acidificada com o mineral calcite, constituído por carbonato de cálcio, é um
processo de dissolução designado por carbonatação, uma forma de meteorização no calcário,
que é um rocha sedimentar constituída por esse mineral.

Em áreas calcárias, a meteorização química produz uma paisagem característica, modelado


cársico. Onde os calcários encontram-se fissurados, em resultado das reações de carbonatação
que alargaram as fraturas provocadas inicialmente pela meteorização física, dando origem a
um relevo sulcado denominado lapiás. A água infiltra-se pelas fraturas, provocando a
dissolução do calcário e a formação de estruturas e cavidades, como os algares e as grutas.
Quando as reações de carbonatação ocorrem sobre calcários margosos (fração calcária e
argilosa), a água remove o cálcio e o bicarbonato. A argila, insolúvel e rica em ferro, oxida em
contacto com o ar e adquire uma cor avermelhada, constituindo a terra rossa.

 Hidrólise→ Corresponde à reação de substâncias com os H+ ou OH- resultantes da dissociação


da água. Os iões H+ podem substituir átomos de carga positiva na estrutura dos minerais. No
granito verifica-se a substituição do K+ do feldspato de potássio pelo H+, formando-se um novo
mineral de argila- a caulinite. Para além deste mineral de neoformação, formam-se substâncias
solúveis na água. Este processo intensifica-se na presença de outras fontes de H+ como é o
caso dos ácidos.

 Oxidação→ Esta reação ocorre quando uma substância perde eletrões para outra. Uma das
reações de oxidação ocorre em minerais ricos em ferro. Em contacto com o ar, o ferro cede
eletrões ao oxigénio, ficando oxidado e originando óxido de ferro, como a hematite. Esta
reação é intensificada com a água.

 Hidratação→ Esta reação pode ocorrer de várias formas, destacando-se a incorporação de


moléculas de água diretamente na estrutura cristalina de um novo mineral, como na formação
de gesso a partir de anidrite.

Erosão
Corresponde ao processo de remoção de fragmentos e de solutos da rocha originária, causado
por agentes (água e o vento).

Os caos de blocos, em áreas graníticas, são exemplo do efeito de erosão sobre as rochas.
Nestes, a meteorização ocorre quando as rochas ainda não se encontram à superfície e é mais
intensa em vértices e arestas. A erosão remove das rochas as partes mais alteradas,
arredondando os blocos.
Transporte
Corresponde ao deslocamento dos materiais resultantes da erosão através dos agentes de
transporte (água e vento). A gravidade e a energia solar são as causas energéticas desse
movimento.

→O transporte nos glaciares, as massas de gelo


deslocam-se lentamente desde zonas de elevada altitude,
onde o gelo se acumula, arrancando fragmentos de
rochas e transportando detritos ao longo dos vales
glaciares. Estes têm uma grande capacidade de
transporte, transportando materiais de várias dimensões.

→Nos rios, os materiais são transportados de diferentes


modos: saltação, rolamento, suspensão e solução.

→O vento, transporta os clastos de forma equivalente ao rio. Como é, menos energético, o


tamanho dos materiais deslocados é menor. (regiões áridas- ação notória)

Ao longo do transporte, as formas dos vértices e das arestas tornam-se mais suaves.
Ocorrendo arredondamento gradual dos materiais transportados. À medida que a energia do
agente de transporte vai variando, ocorre uma seleção dos detritos em função do seu peso e
tamanho, processo designado por ganotriagem. Quanto mais prolongada for a ação do agente,
maior será a calibragem dos detritos, mais homogéneos serão nas suas dimensões.

Sedimentação
Ocorre quando a água ou o vento perdem energia, levando à deposição de parte das
partículas, que passam a constituir os sedimentos. À medida que ocorre a diminuição de
energia do agente transportador, as partículas sólidas mais pesadas iniciam a deposição
(+frequente em ambientes aquáticos).

→No transporte pelos glaciares, a sedimentação é simultânea e ocorre quando o gelo funde,
formando-se depósitos mal calibrados.

→Os sedimentos também podem resultar da precipitação de substâncias dissolvidas na água,


bem como da deposição de restos de organismos (conchas, ossos e fragmentos de plantas).

A deposição de sedimentos origina estratos (camadas com características litológicas distintas e


espessura variável). Cada estrato distingue-se dos demais pela cor, composição ou textura dos
sedimentos. Os estratos são delimitados por superfícies geralmente planas, designadas por
superfícies de estratificação (superfície superior, teto, e a superfície inferior, muro).

As variações nas características dos estratos devem-se a mudanças no ambiente de


sedimentação, no que diz respeito à energia dos agentes de transporte, ao clima e à atividade
biológica.

NOTA: A estratificação entrecruzada/oblíqua, associada a dunas eólicas, forma-se quando os


sedimentos se depositam num ângulo em relação à superfície no qual assentam. Originando,
folhetos de estratificação oblíqua em relação aos planos de estratificação quase horizontais e
paralelos entre si.
Diagénese
A sedimentação leva a que os sedimentos mais antigos sejam cobertos pelos mais recentes e
sofram afundamento, ficando sujeitos a um aumento da pressão e da temperatura. A
diagénese consiste na conversão de sedimentos soltos em rochas sedimentares.

→Durante a compactação, a pressão exercida pelos estratos comprime os sedimentos e reduz


o espaço intersticial entre eles, diminuindo o volume do estrato e tornando os sedimentos
mais compactos e densos. (libertação da água contida nos sedimentos-desidratação)

→A redução do teor de água favorece a precipitação de substâncias em solução nos


interstícios, conduzindo à cimentação. Estas substâncias como a sílica, carbonato de cálcio e o
óxido de ferro, atuam como um cimento natural, ligando os sedimentos, dando origem a
rochas sedimentares.

Argilas- argilitos; areias-arenitos; balastros-conglomerados (após a diagénese os sedimentos


tornam-se agregados coerentes).

 1.2. Classificação das rochas sedimentares


Esta classificação é baseada nas características observadas, porém os processos de formação
podem gerar características comuns, o que dificulta a classificação. É possível classifica-las em
3 grupos, consoante a origem dos sedimentos: detríticas, quimiogénicas e biogénicas.

Rochas sedimentares detríticas


São constituídas por fragmentos de rochas preexistentes (detritos)
resultantes da ação dos agentes de meteorização e erosão. Para
além dos detritos estas rochas podem integrar outros materiais
(restos de seres vivos ou materiais precipitados).

O tamanho dos clastos que constituem as rochas é um dos


critérios de classificação. Para tal é usada a escala granulométrica
simplificada de Udden-Wentworth.

→Os detritos de dimensão superior a 2mm têm a designação de


balastros, que estes após a consolidação formam conglomerados
ou brechas. (+angulosos-brechas) (mal calibrado)

→As areias (predominantes nos rios, praias ou desertos) têm dimensão entre 0.063-2mm. Na
maior parte das areias predomina o quartzo- mineral resistente. Os minerais menos
resistentes (feldspato e ferromagnesianos) tendem a escassear com um transporte longo.
Existe ainda areias calcárias e negras, constituídas por calcite e minerai ricos em ferro e
magnésio, quando o transporte é reduzido.

→Os siltes e as argilas são os sedimentos mais pequenos, associados em rochas de


granulometria fina. Estes uma vez que são menos pesados, são transportados a grandes
distâncias, podendo depositar-se em diferentes ambientes de sedimentação. (Argilas-argilitos
silte-silito)
NOTA:

Após a diagénese, ambos os detritos experimentam uma redução do volume, aquando da


compactação, devido a 80% do volume inicial dos sedimentos é ocupado por água.

O argilito e o silito caracterizam-se por ser suaves ao toque (desagregam-se com facilidade).
Fração argilosa predominante, o cheiro a barro é uma característica. Estas rochas são
caracterizadas pela sua impermeabilidade à água—paisagens com pouca cobertura vegetal

Rochas sedimentares quimiogénicas


Durante a meteorização, vários compostos e iões são libertados para água sendo depois
transportados em solução para oceanos, etc. Em determinadas condições ambientais, estas
substâncias dissolvidas reagem entre si, precipitando e formando minerais que irão constituir
este tipo de rochas. (processo de precipitação-influenciado pelos seres vivos)

Rochas carbonatadas
Estas são constituídas, essencialmente, por minerais com o ião carbonato na sua composição.
Estes minerais resultam da reação de vários iões com o ião bicarbonato, em meio aquoso,
formando-se um precipitado que se deposita no fundo da bacia de sedimentação.

Esta reação pode ocorrer em sentido inverso, este que depende das condições ambientais
(temperatura, pressão e ph da água), ocorrendo ciclos de precipitação (formação de calcários)
e dissolução (formação de grutas).

→Deste tipo de rochas, destacam-se os calcários, constituídos por calcite e formados nos
ambientes cársicos e em nascentes termais. Nas áreas calcárias, a água infiltra-se pelas
fraturas da rocha, provocando a dissolução (modelo cársico). Essa água, rica no ião
bicarbonato, circula depois nas grutas, permitindo a precipitação de carbonato de cálcio que
forma os travertinos, as estalactites e estalagmites.

→Nos oceanos, a precipitação de carbonato de cálcio ocorre como uma consequência de


variações ambientais (diminuição de CO2 na água e aumento da temperatura). A atividade
biológica modifica este ambiente, a ponto de induzir a precipitação de calcite, com posterior
formação de calcário.

Evaporitos
Estes resultam de precipitação de sais minerais em ambientes aquáticos de água salgada ou
salobra que se encontram em áreas quentes e áridas, de intensa evaporação. O sulfato de
cálcio hidratado e o cloreto de sódio são os precipitados que levam à formação dos minerais
gesso e halite.

Na formação dos evaporitos, os primeiros minerais a precipitar são os menos solúveis,


seguindo-se os mais solúveis. O gesso é o primeiro a precipitar, seguindo-se a halite.
A sequência de cristalização pode ser mudada caso haja variações no ambiente de
sedimentação, assim raramente é observada uma variação linear. Os evaporitos são
distinguíveis quanto ao ambiente de origem, os de sedimentação marinha são ricos em gesso e
halite.

Na diagénese, os sedimentos quimiogénicos sofrem modificações. No caso do gesso, a


compactação origina uma saída de água tão significativa que se considera a formação de uma
nova espécies mineralógica (anidrite). As rochas ricas em halite que passaram pela diagénese
designam-se sal gema. O aumento da pressão tem efeitos sobre depósitos de sal gema, este é
um material plástico, que tende a ascender em áreas de fraqueza de crusta terrestre,
constituindo domos salinos ou diápiros.

Quando as rochas evaporíticas se


encontram perto da superfície, ocorre a sua
dissolução, formando-se depressões (vale
tifónico).

Rochas sedimentares biogénicas


Os sedimentos que constituem este tipo de rochas provêm de restos de seres vivos ou
resultaram da sua atividade.

Muitos calcários resultam da acumulação de restos de seres vivos e distinguem-se de acordo


com os vestígios neles predominantes:

o calcário recifal- é um calcário formado pela acumulação de esqueletos de corais, que


fixaram carbonato de cálcio durante a vida
o calcário conquífero- é constituído pela união de restos de conchas, construídas por
invertebrados marinhos a partir de iões cálcio e carbonato extraídos da água do mar

Os carvões são o resultado da acumulação e evolução de sedimentos orgânicos, constituídos


por restos de plantas. Estes dependem de fatores como o conjunto de plantas que estão na
origem dos sedimentos, as características do ambiente de sedimentação e a evolução
termodinâmica dos sedimentos.

Em ambientes lacustres e lagunares, os restos de plantas podem ser depositados em


ambientes pouco oxigenados. Quando tal se verifica, ocorre uma decomposição parcial dessa
matéria orgânica pela ação de seres decompositores anaeróbios (bactérias), formando-se um
sedimento designado por turfa. Este sedimento, pode conter muito material orgânico e água,
não sendo um carvão.

Caso estes sedimentos orgânicos sejam continuamente


cobertos por outros materiais, ocorre o aumento gradual da
pressão e da temperatura, iniciando-se a diagénese, que
inclui o processo de incarbonização. Durante este processo
verifica-se um enriquecimento progressivo em carbono e
uma redução de água e de materiais voláteis. Desta
maneira formam-se sucessivamente diferentes carvões,
como lignite, o carvão betuminoso e a antracite.

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