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Sedimentação e rochas sedimentares

As rochas sedimentares formam-se à superfície terrestre, ou nas suas proximidades, a partir de


rochas preexistentes, através de processos como a deposição de detritos, a precipitação
química de substâncias dissolvidas na água ou a acumulação de restos de seres vivos. A
formação de rochas sedimentares engloba duas etapas fundamentais:

 Sedimentogénese – elaboração dos materiais que as vão constituir até à sua deposição –
meteorização, erosão e transporte;
 Diagénese – evolução posterior dos sedimentos, conduzindo à formação de rochas
consolidadas.

Meteorização

Quando as rochas ascendem à superfície (por remoção das camadas superiores, por erosão ou
reajustamento isostático da crosta terrestre) ficam sujeitas a diferentes condições de pressão e
temperatura e em contacto com a água e o mar, sofrendo desintegração e desagregação. A
meteorização pode ser química ou mecânica/física e não implica qualquer transporte de material.
► Meteorização mecânica

Corresponde á desintegração física de uma rocha em fragmentos mais pequenos que são
semelhantes à rocha original, ocorrendo em função das novas condições de pressão e
temperatura. Existem vários tipos de meteorização mecânica:

 Crioclastia – expansão de fraturas nas rochas devido à congelação de água nas


mesmas, normalmente em zonas de altitude;
 Haloclastia – formação e desenvolvimento de sais ou outros minerais que expandem
as fraturas. Ocorre em zonas litorais;
 Termoclastia – dilatações e contrações dos diferentes materiais constituintes da
rocha quando submetidos a variações de temperatura;
 Esfoliação mecânica – alívio de carga associado à erosão das camadas que
recobriam a rocha, o que provoca a sua descompressão, com consequente fratura.
Por vezes podem formar-se domos arredondados;
 Actividade biológica – as raízes das arvores de grande porte podem expandir as
fendas, assim como as galerias que são escavadas ou ampliadas por animais;
 Abrasão – as rochas e os minerais colidem numa corrente de movimento (por ex. o
vento).

► Meteorização química

A estrutura interna do mineral sofre alteração, com remoção ou adição de alguns elementos
químicos e a formação de novos minerais mais estáveis para as condições superficiais. Este
processo ocorre pela intervenção de um agente químico, normalmente a água ou gases
atmosféricos, como o dióxido de carbono ou oxigénio. A meteorização pode ocorrer por
cinco processos principais:

 Carbonatação – alteração e destruição química


de rochas carbonatadas (calcários). Este tipo de
meteorização conduz muitas vezes à libertação
de argilas ricas em ferro que nelas se
encontravam retidas, formando depósitos
insolúveis de cor avermelhada – Terra Rossa. É
ainda responsável pela formação do modelado
cársico através da dissolução da calcite, assim
como pela destruição de património edificado
em calcário e mármore.
 Hidrólise – é necessária a presença de água
ligeiramente acídica, que se deve à dissolução
de CO2 quando a água da chuva se forma na
atmosfera ou circula pelo solo e rochas,
dissolvendo o CO2 existente. Isto resulta na
formação de ácido carbónico que se ioniza para
formar o protão H+ e o ião bicarbonato:

𝐻2𝑂 + 𝐶𝑂2 → 𝐻2 𝐶𝑂3 → 𝐻 + + 𝐻𝐶𝑂3−

Os protões são muito reactivos e a sua reduzida estrutura permite que entrem nas
estruturas cristalinas e substituam outros iões, modificando a composição e formando
novos minerais. A meteorização de feldspato de potássio ocorre quando a água e o os
protões H+ interagem com a estrutura cristalina do mesmo, libertando lentamente o
alumínio e a sílica para a solução aquosa, que se combinam com a água e precipitam,
formando caulinite.
 Oxidação – um elemento químico perde um electrão e o seu estado de oxidação aumenta.
O mais comum é o ferro (biotite, olivina e piroxena, sob a forma de Fe 2+) libertar-se da
rede cristalina e ceder um electrão ao oxigénio. O ferro oxida de Fe2+ para Fe3+, reage com
a água e origina um óxido de ferro (hematite), insolúvel e origina um precipitado
avermelhado.

 Dissolução – alguns minerais solúveis dissolvem-se em água, como a halite (NaCl). Tende a
acompanhar os processos de hidrolise, quando se geram iões e minerais solúveis em água
que não precipitam.
 Hidratação – envolve a combinação de água com os minerais, levando a variações de
volume, como por exemplo a conversão de anidrite em gesso quando combinada com
água. Facilita outros processos como a hidrólise.

Erosão

Após a meteorização verifica-se a remoção de partículas, ou solutos, da rocha preexistente. Os


agentes mais comuns são a água, o vento e os seres vivos, sendo a gravidade um factor também
importante nos processos de erosão. Os sedimentos podem ser:

 Detríticos – ou sedimentos clásticos, correspondem à fracção sólida fisicamente


removida pelos agentes de transporte. A acumulação destas partículas origina
sedimentos detríticos não consolidados, sendo que a sua forma e dimensão variam ao
longo do transporte, assim como a sua composição.
 Químicos – resultam do material meteorizado das rochas e minerais e que permanece
dissolvido na água até ser transportado e precipitado noutro local, sob a forma de
minerais estáveis;
 Bioquímicos – formados a partir da actividade dos organismos, como os revestimentos
carbonatados (conchas) de alguns organismos, os tecidos ósseos que contribuem com
fosfatos e os depósitos de hidrocarbonetos, compostos a partir dos restos de seres
vivos.
Transporte

Existem diversos agentes de transporte, nomeadamente a gravidade, a água, o gelo (glaciares) e


o vento. Todos, à excepção do vento, transportam sempre os sedimentos no sentido
descendente, a favor da gravidade. Ao longo do transporte os fragmentos de rocha e os minerais
vão sendo modificados, sofrendo uma diminuição de tamanho e um arredondamento gradual
por desgaste. Apenas os minerais mais resistentes à meteorização química e mecânica e os que
se formam durante a meteorização são transportados para longas distâncias. As areias têm um
elevado conteúdo de quartzo – resistente à meteorização química e mecânica – e reduzidas
quantidades de feldspatos e micas.

Outro fenómeno que ocorre é a separação dos fragmentos em função do seu peso e do seu
tamanho, ou seja, ocorre uma triagem dos mesmos. Ao longo do curso a capacidade de
transporte diminui e os fragmentos de maiores dimensões sedimentam, quando a força gravítica
supera a capacidade do agente de transporte. Fragmentos com forma angular sofrem
arredondamento, tornando-se mais lisos. Os clastos transportados pelo vento são muito bem
calibrados, devido ao poder selectivo deste agente. Já os clastos transportados por glaciares são
mal calibrados, verificando-se o transporte de detritos com dimensões muito variadas.

Deposição ou sedimentação

Quando a energia do agente de transporte não é suficiente para transportar as partículas


detríticas, ocorre a sua deposição (ou sedimentação) sob o efeito da gravidade, de acordo com o
seu peso e em camadas sucessivas, originando estratos. Em ambientes aquáticos, a precipitação
de substâncias dissolvidas na água assim como a deposição de corpos e conchas de organismos
mortos também originam estratos. Os estratos estão separados por superfícies – juntas de
estratificação – que resultam de alterações no processo de sedimentação. Cada estrato está
coberto por outro mais recente – tecto – e recobre um estrato inferior mais antigo – muro. A
acumulação de sedimentos pode ocorrer em meio terrestre, mas é mais comum em ambientes
aquáticos (lacustres, fluviais e marítimos).
Entre as características que constituem os ambientes sedimentares
incluem-se: o tipo e a quantidade de água, o tipo e força dos agentes de
transporte, a topografia, a actividade biológica, o contexto tectónico e o
clima.

Diagénese

Os sedimentos depositados vão sofrer um conjunto de transformações


físicas e químicas que conduzem à sua transformação numa rocha
sedimentar consolidada. A acumulação sucessiva e contínua de
sedimentos provoca uma compactação das camadas inferiores e mais
antigas, que ficam sujeitas a uma maior pressão por efeito do peso das
camadas superiores. Os sedimentos não consolidados são sujeitos a
afundamento e o seu volume pode ser reduzido até 40%, expulsando
elevados volumes de água que se encontrava nos poros. Também as
elevadas temperaturas (4km são >120ºC) permitem a ocorrência de
reacções entre os minerais e a água presente nos interstícios dos
sedimentos, formando uma rocha sedimentar consolidada. Parte das
substâncias dissolvidas na água, ou em suspensão, precipitam e originam
um cimento que liga os sedimentos – cimentação.

Classificação das rochas sedimentares

As rochas sedimentares podem ser classificadas em três tipos: detríticas, biogénicas e


quimiogénicas.

 Rochas sedimentares detríticas – podem ser consolidadas ou não consolidadas,


dependendo se os clastos se encontram soltos (argila, silte, areia e balastros), ou ligados
por um cimento. O cimento pode apresentar várias naturezas químicas e mineralógicas,
como carbonato de cálcio, óxidos de ferro e sílica.
 Rochas sedimentares biogénicas – rochas formadas por sedimentos de origem
biogénica, ou seja, a partir de restos de seres vivos ou materiais por eles produzidos,
como conchas ou outros citoesqueletos.

CARACTERÍSTICAS
TIPO DE ROCHA
Composição Outros aspectos
Carbonato de cálcio Acumulação de esqueletos
Calcário recifal
(CaCO3) carbonatados de corais
Acumulação de conchas
Carbonato de cálcio carbonatadas de animais
Calcário conquífero
(CaCO3) marinhos que sofreram
cimentação
Acumulação de sedimentos
constituídos por grandes
quantidades de matéria
orgânica vegetal – turfa
Formam-se em bacias de
sedimentação lacustres ou
Carvões (lignite,
Compostos de lagunares costeiras, ficando os
carvão betuminoso,
carbono sedimentos apenas sujeitos à
antracite)
acção de bactérias anaeróbias.
O carvão é formado por
diagénese, devido ao aumento
de ºC e P, aumentando o teor
de C gradualmente
(incarbonização)

 Rochas sedimentares quimiogénicas – formadas por minerais de neoformação


resultantes da precipitação de substâncias dissolvidas na água, que ocorre por
evaporação da água salgada ou salobra, dando origem a rochas designadas por
evaporitos (sal-gema, gesso). A precipitação pode ocorrer também devido a alterações
das condições de solubilidade dessas substâncias (ex. aumento da temperatura, variação
das condições de agitação da água ou pressão). Isto pode levar á diminuição do teor de
CO2 na mesma, levando à precipitação do carbonato de cálcio que forma a calcite, o
mineral principal do calcário.
COMPOSIÇÃO COMPOSIÇÃO OUTROS
TIPO DE ROCHA
QUÍMICA MINERALÓGICA ASPECTOS
Sabor salgado.
Pouco denso, pode
ascender na crosta
Cloreto de
Sal-gema Halite formando massas
sódio (NaCl)
de sal – domas
Evaporitos salinos ou
diaspiros.
Sulfato de
Cor cinzenta,
cálcio
Gesso Gesso branca ou
hidratado
transparente.
(CaSO4∙2H2O)
Pode apresentar
diversas
colorações,
reagindo com
Carbonato de
Calcário Calcite substâncias ácidas.
cálcio (CaCO3)
Exemplos são o
travertino, as
estalactites e
estalagmites.

Fósseis

Correspondem a restos de seres vivos, ou simples vestígios da sua actividade. Para que ocorra a
fossilização é necessário que se verifiquem condições especificas que permitam a preservação
dos vestígios, ou seja, tem de ocorrer deposição de sedimentos finos (argilas e siltes) por cima
destes vestígios, que os isola dos agentes da geodinâmica externa, retardando a sua
decomposição. Existem vários tipos de fossilização:

 Mumificação – organismos completos ficam conservados quando são envolvidos por


um meio isolante, como o âmbar (resina fóssil), gelo, alcatrão, etc.;
 Moldagem – o organismo ou partes dele imprimem um molde em sedimentos finos que
o envolvem ou preenchem. O organismo pode ser posteriormente destruído, mas o
molde persiste. No caso de algumas peças ocas pode formar-se um molde interno e um
molde externo. Certos órgãos muito finos e achatados (folhas, asas) originam um tipo
especial de moldagem chamado impressão;
 Mineralização – os constituintes de partes duras (ossos, conchas, etc.) são substituídos
por minerais transportados em solução nas águas subterrâneas (sílica) e que precipitam.
A estrutura e a forma dos órgãos mantêm-se inalterada.
 Icnofósseis (marcas fosseis) – pegadas, marcas de reptação, ninhos, fezes, rastos que
constituem evidências da actividade do ser vivo.

Os fósseis permitem conhecer as condições ambientais e geológicas do passado. Se um estrato


apresentar fósseis, é possível utilizar esse registo como um indicador da idade relativa do
estrato. Este fósseis são designados por fósseis de idade e devem satisfazer duas condições:
devem corresponder a organismos que viveram num curto intervalo de tempo geológico,
apresentando baixa distribuição estratigráfica; e apresentar uma grande distribuição geográfica.

Princípios da estratigrafia

Ver 10 ano

Reconstituição de paleoambientes

As rochas sedimentares permitem inferir as condições e ambientes antigos associados à sua


formação – os paleoambientes. A textura, a composição mineralógica e química, bem como o
conteúdo fossilífero de uma rocha permitem definir o ambiente de sedimentação ou de
formação desta, constituindo o fáceis da rocha. Nesta caracterização assumem particular
importância os fósseis de fáceis ou de ambiente. Estes fósseis tendem a ser uma única espécie
ou género, limitada a fáceis ou ambientes restritos durante longos períodos de tempo, e
permitem, com base no princípio das causas actuais, correlacionar os ambientes actuais com os
ambientes antigos.

Variações no nível médio das águas do mar podem ser deduzidos a partir dos fáceis das rochas:

→ Numa transgressão marinha (avanço do mar para o continente) verifica-se um aumento


da coluna de água e uma diminuição da energia do ambiente sedimentar – deposição de
sedimentos mais finos por cima de outros mais grosseiros;
→ Numa regressão marinha (recuo do mar) observa-se uma diminuição da coluna e água e
um aumento da energia do ambiente sedimentar – deposição de sedimentos mais
grosseiros sobre outros de grão mais fino.

Minerais e suas propriedades

As rochas são constituídas por minerais, que são sólidos naturais, inorgânicos, com estrutura
cristalina e composição química bem definida, ou variável dentro de limites estabelecidos. Os
iões ou átomos dos minerais dispõem-se de forma ordenada e regular, formando redes
tridimensionais e diz-se que possuem estrutura cristalina, ao contrário de outros sólidos cujas
partículas estão dispersas de forma irregular e desordenada – estrutura vítrea ou amorfa.

Existem técnicas muito precisas de identificação dos minerais (raios-X, microscopia petrográfica)
mas é possível identificar macroscopicamente alguns minerais com recurso a um conjunto de
propriedades físicas, nomeadamente a dureza, a clivagem, o brilho, a cor, a densidade e o
magnetismo.

Dureza

Refere-se à resistência do mineral ao risco, e é medida segundo uma escala de termos com grau
crescente de dureza – escala de Mohs. Esta dureza relativa determina-se riscando uma amostra
num dos minerais da escala e vice-versa. A dureza de um mineral está associada à força das
ligações que o compõem, sendo que os minerais mais duros possuem uma rede cristalina
formada por ligações mais fortes do que os minerais com dureza inferior.
Clivagem e fractura

Propriedade segundo a qual o mineral se fractura por planos paralelos – planos de clivagem –
entre si com superfícies lisas e brilhantes. Estes planos de clivagem resultam de ligações mais
fracas em determinadas direcções da rede cristalina. A fratura, pelo contrário, é a tendência de
um cristal quebrar ao longo de planos irregulares que não correspondem a planos de clivagem
(por exemplo, o quartzo parte-se em fragmentos irregulares).

Brilho

Resulta da reflexão da luz nas suas superfícies frescas, sendo analisado à vista desarmada e
descrito comparativamente a amostras que se encontram categorizadas. O brilho é controlado
pela forma como os átomos se encontram organizados, que influencia a reflexão ou absorção da
luz.

Cor

Os minerais podem distinguir-se em:

 Idiocromáticos – apresentam cor constante (malaquite – verde, pirite – amarela);


 Alocromáticos – apresentam cor variável (quartzo pode ser incolor, branco, rosa, etc.).

Magnetismo

Apenas se conhecem dois minerais com propriedades magnéticas, a magnetite e a pirrotite, que
possuem ferro na sua estrutura cristalina. Pode ser constatado por um íman.

Magmatismo e rochas magmáticas


As rochas magmáticas ou ígneas resultam da solidificação ou cristalização de um magma, que é
uma mistura complexa de materiais rochosos, total ou parcialmente fundidos, de composição
essencialmente silicatada, e com uma componente gasosa variável. Existem três tipos de
magma:

 Basáltico ou básico;
 Andesítico ou intermédio;
 Riolítico ou ácido.

► Magmas basálticos – formam-se a partir da fusão parcial de rochas do manto (peridotito),


que resulta da diminuição de pressão experimentada pelos materiais em limites
divergentes e plumas mantélicas. A ascensão de materiais até zonas da superfície da
Terra está associada a processos de convecção no manto – a diminuição da pressão,
resultante dessa ascensão, provoca a fusão das rochas do manto no topo da
astenosfera. O volume do magma aqui produzido é o maior existente na Terra. Este tipo
de magma também pode ser proveniente de pontos quentes (hotspots), alimentados por
plumas mantélicas (materiais têm origem em zonas profundas do manto).

► Magmas andesíticos – formam-se normalmente em limites convergentes associados a


zonas de subducção, dependendo da quantidade e do tipo de materiais do fundo
oceânico que são subductados (rochas magmáticas básicas e sedimentos com origem
continental ou oceânica). Durante a subducção, o aumento da pressão e temperatura
conduz à libertação de água contida nos sedimentos, que faz baixar o ponto de fusão
das rochas, favorecendo a formação de magmas de natureza intermédia.

► Magmas riolíticos – formam-se em limites tectónicos convergentes associados a


contextos orogénicos. Devido à elevada percentagem de sílica das rochas da crosta
continental, considera-se que estes magmas se formam devido à fusão parcial dos seus
materiais. Admite-se que a água também influencie um importante papel na formação
destes magmas, já que a crosta se encontra a temperaturas que não são compatíveis
com a sua fusão. Em determinados contextos, os magmas basálticos podem fornecer
calor suficiente para a fusão parcial das rochas na base da crosta, formando-se então
magmas ácidos.

Minerais de rochas magmáticas

Os minerais de um magma formam-se por cristalização, que corresponde ao crescimento


ordenado de um sólido a partir de uma solução líquida ou gasosa. A agitação do meio, o tempo, o
espaço disponível e a temperatura são factores que condicionam o crescimento, o tamanho e a
forma final dos cristais. Por exemplo, cristais com faces bem desenvolvidas – euédricos – apenas
se desenvolvem quando os minerais se formam em ambientes com espaço livre que permita o
seu crescimento. Já os anédricos são cristais com faces imperfeitas, resultado dos minerais
estarem muito próximos uns dos outros (na maioria das rochas), o que restringe o crescimento.

Os silicatos constituem o principal grupo de minerais que compõem as rochas magmáticas,


sendo o ião (SiO4)4-, com forma tetraédrica, a unidade estrutural que se repete na rede cristalina
– motivo cristalino. Nos silicatos, os tetraedros ligam-se entre si de formas distintas, dando
origem a redes cristalinas diversas e a uma grande variedade de minerais:

→ Feldspatos (ortóclase, plagióclase);


→ Quartzo;
→ Piroxena;
→ Micas (biotite, moscovite);
→ Olivina.

Na matéria cristalina de um mineral pode ocorrer a substituição de iões, numa determinada


posição da estrutura cristalina, modificando a composição química. Os iões necessitam de
possuir uma dimensão semelhante, para que possam ocupar a mesma posição na estrutura – por
exemplo, nos silicatos, o ião Si4+ é por vezes substituído pelo ião Al3+. Os minerais formados
designam-se então por isomorfos, já que esta alteração origina dois silicatos com a mesma
estrutura cristalina, as mesmas formas externas, mas com composição química diferente.

Já outros minerais, apesar de possuírem a


mesma composição química, apresentam
malhas elementares e estruturas cristalinas
diferentes (por exemplo, o diamante e a
grafite, ou a calcite e a aragonite (CaCO3)).
Este fenómeno é chamado de polimorfismo.
Diferenciação magmática e cristalização fraccionada

Um só magma pode originar diferentes tipos de rochas, visto ser constituído por uma mistura
complexa que, ao solidificar, forma diferentes associações de minerais. Como a cristalização
desses minerais ocorre a temperaturas diferentes, formam-se diferentes associações de cristais e
um magma residual, sendo que a composição desse líquido residual vai-se modificando conforme
a temperatura vai baixando. Pode afirmar-se que existe uma diferenciação magmática por
cristalização fraccionada, realizada em tempos diferentes. Este fenómeno permite a formação
sequencial dos diferentes minerais. Durante o arrefecimento dos magmas, primeiro formam-se
os minerais com ponto de fusão mais elevado, e seguidamente, a partir da fracção magmática
restante, vão cristalizando outros, por ordem decrescente de pontos de fusão.

Norman Bowen (1887-1956) investigou a formação dos cristais e, em especial, a ordem pela qual
eles cristalizam em magmas em arrefecimento, estabelecendo a sequência de reacções que
ocorrem no magma durante a diferenciação.

No modelo sequencial que propôs, Bowen considerou a existência de duas series de minerais:

 Série descontinua – ou série dos minerais ferromagnesianos, corresponde a minerais


ferromagnesianos, cuja estrutura cristalina difere ao longo da sequência de cristalização.
Neste série a olivina, com maior ponto de fusão, é o primeiro mineral a cristalizar,
seguido das piroxenas, anfíbolas e por fim a biotite, com menor ponto de fusão;
 Série contínua – ou série das plagióclases, corresponde a minerais do grupo das
plagióclases que mantêm a mesma estrutura cristalina ao longo da sequência de
cristalização (minerais isomorfos). Neste série, o balanço de entre o cálcio e o sódio, vai-
se alterando ao longo da sequência, formando-se primeiramente plagióclases cálcicas e,
por último, plagióclases sódicas.

A temperaturas mais baixas, o magma residual formará feldspato potássico, moscovite e, por
último, quartzo, que cristaliza nos espaços existentes entre os cristais já formados. Neste
processo de cristalização fraccionada, uma parte dos minerais formados a altas temperaturas
reage com o magma remanescente, transformando-se noutros minerais (ex. olivina → piroxena,
piroxena → anfíbola, etc.). Isto também ocorre na série contínua.

Diversidade de rochas magmáticas

As rochas magmáticas podem ser plutónicas (ou intrusivas), ou vulcânicas (ou extrusivas),
dependendo se resultam de uma consolidação lenta em profundidade ou rápida na superfície
terrestre, respectivamente. A natureza e as diferentes condições de consolidação dos magmas
influenciam as características que as rochas magmáticas apresentam, nomeadamente a textura, a
cor e a composição química.
Textura

Resulta do processo de cristalização e caracteriza-se pela disposição, pela forma e pelas


dimensões relativas dos minerais que a constituem. A textura destas rochas depende do modo
como ocorreu o arrefecimento do magma na sua origem.

Cor

A cor da rocha está relacionada com a abundância relativa dos diferentes minerais que a
constituem. As rochas podem exibir:

 Minerais félsicos – coloração clara, com altos teores de sílica e alumínio (ex. plagióclases,
feldspato potássico, moscovite e quartzo);
 Minerais máficos – coloração escura, altos teores de ferro e magnésico, baixos teores de
sílica (ex. olivina, piroxena, anfíbola e biotite).

A maior ou menor abundância destes minerais nas rochas determina a sua cor, pelo que podem
classificar-se em:

 Rochas leucocratas – cor clara, predominância de minerais félsicos (ex. granito e riólito);
 Rochas melanocratas – cor escura, predominância de minerais máficos (ex. basalto e
gabro);
 Rochas mesocratas – cor intermédia, sem predominância de minerais félsicos ou máficos
(ex. diorito e andesito)

Composição química e mineralógica

A composição química das rochas magmáticas depende dos minerais que as constituem. À
semelhança do que acontece com os magmas, é o teor em sílica (SiO 2) que determina a
classificação das rochas em ácidas (alto teor em sílica), intermédias ou básicas (baixo teor em
sílica).

 Magmas basálticos – possuem teor reduzido em sílica (>50%). Incluem os basaltos, rocha
vulcânica, e os gabros, equivalentes plutónicos. Correspondem a 80% do volume de todo
o magma, sendo os mais abundantes e que se encontram a temperaturas mais elevadas.
Originam erupções efusivas.
 Magmas andesíticos – composição intermédia. São mais viscosos que os basálticos, e
originam os andesitos e os dioritos, quando solidificam à superfície ou em profundidade,
respectivamente. Constituem 10-20% do volume de magma, juntamente com o granito.
 Magmas riolíticos – ou ácidos, têm elevado teor em sílica (>70%). Muito viscosos, dão
origem a erupções violentas, formando riólitos. A temperatura ronda os 700/800ºC e
quando a solidificação ocorre em profundidade originam os granitos.
Deformação de rochas
As rochas estão sujeitas a tensões resultantes, sobretudo, dos movimentos tectónicos. Estes
movimentos são predominantemente horizontais e deformam as rochas nos limites das placas
litosféricas, dependendo da direcção e do movimento das placas. As rochas podem então estar
sujeitas a:

 Tensões distensivas – associadas a limites divergentes, as rochas sofrem estiramento;


 Tensões compressivas – associadas a limites convergentes, as rochas são comprimidas e
dobradas;
 Tensões cisalhantes – associadas a limites conservativos (falhas transformantes), as
rochas deslizam e deslocam-se umas em relação às outras em direcções opostas.

A deformação das rochas também depende das características estruturais e mineralógicas das
rochas, bem como da temperatura a que estas se encontram. Como resultado destes factores, as
rochas podem exibir:

 Comportamento frágil – quando estão mais próximas da superfície, e a temperaturas


inferiores ao ponto de fusão dos minerais. Como se verifica uma grande rigidez dos
materiais, a deformação tende a conduzir à fracturação dos blocos rochosos, originando
falhas;
 Comportamento dúctil – a maiores profundidades e temperaturas mais elevadas, como
resultado das forças de tensão exercidas sobre o material de menor rigidez, tendem a
adoptar um comportamento plástico, formando dobras.
1. Falhas

São fracturas da crosta terrestre, ao longo das quais ocorreu um movimento relativo dos blocos
rochosos que as constituem. A atitude da falha é um elemento importante para a compreensão
dos processos envolvidos na deformação que a originou, sendo obtida através da determinação
de dois parâmetros: a direcção e a inclinação.
As falhas são classificadas em função do movimento relativo entre os blocos, que acaba por
originar geometrias tipicamente associadas a três tipos fundamentais (obs: o tecto está sempre
por cima do plano da falha):

2. Dobras

Correspondem a alterações de forma e da dimensão dos blocos rochosos, que manifestam um


comportamento dúctil face às forças a que estão sujeitos. Os elementos de dobra são elementos
que permitem a sua caracterização e classificação.
As dobras podem ser classificadas quanto à disposição espacial dos seus elementos ou quanto à
idade dos materiais rochosos que os integram.

Metamorfismo e rochas metamórficas


Os processos metamórficos ocorrem quando as rochas preexistentes são submetidas a
condições termodinâmicas diferentes das existentes na altura da sua formação. Como resposta
às novas condições, os materiais geológicos instáveis modificam-se gradualmente até alcançarem
um estado de equilíbrio compatível com o novo ambiente.

Factores de metamorfismo

1. Tensão

As rochas estão sujeitas à carga da massa rochosa suprajacente que gera tensões que se fazem
sentir em todas as direcções – tensão litostática (não dirigida). Este tipo de tensão provoca,
sobretudo, uma diminuição de volume da rocha, aumentando a sua densidade. Por outro lado, as
rochas estão também sujeitas a tensões resultantes de movimentos tectónicos, que podem ser
compressivas, distensivas ou de cisalhamento, e que actuam com uma direcção bem definida.
Qualquer tensão orientada segundo uma dada direcção designa-se por tensão não litostática
(dirigida). Os minerais destas rochas costumam apresentar foliação – textura caracterizada pela
disposição orientada dos seus minerais segundo planos paralelos.

2. Calor

A exposição de rochas a fontes de calor (resultantes da profundidade ou contacto com intrusões


magmáticas) conduzem a um aumento progressivo da sua temperatura. Isto cria novos arranjos
na rede cristalina dos minerais que compõem a rocha, sem que ocorra fusão da mesma. Este
processo de recristalização permite a formação de novos minerais mais estáveis nas novas
condições, com a formação de novos tipos de rochas.

3. Fluidos

A circulação de fluidos nas rochas pode desencadear ou acelerar processos metamórficos. Estes
fluidos hidrotermais transportam não só CO2, mas também outras substâncias como sódio,
potássio, zinco, cobre ou sílica, e vão reagindo com os minerais da rocha, podendo originar novos
minerais por remoção ou introdução de determinados elementos químicos na sua rede cristalina.
Estes fenómenos conduzem a alterações na composição química e mineralógica da rocha sem
alteração da sua textura.

Tipos de metamorfismo

Definem-se em função da intensidade relativa dos factores de metamorfismo associados aos


diferentes ambientes metamórficos.

 Metamorfismo de contacto – ocorre nas proximidades da instalação de corpos magmáticos


intrusivos, sendo o calor e a circulação de fluidos os factores determinantes. As rochas são
metamorfizadas ao longo de uma área designada por auréola de metamorfismo, cuja
extensão depende da natureza da rocha metamorfizada bem como da dimensão e
temperatura da intrusão. As rochas formadas por este tipo de metamorfismo apresentam
uma textura não foliada.
As rochas designadas por corneanas são resultantes deste tipo de metamorfismo, podendo o
termo corneana ser utilizada num sentido mais restrito, dependendo da rocha que foi
metamorfizada:

→ Corneana pelítica – argilito;


→ Quartzito – quartzo;
→ Mármores – calcários.

 Metamorfismo regional – actua em extensas áreas, e é característico de limites


tectónicos convergentes associados a fenómenos orogénicos e à formação de aros
vulcânicos. Resulta da acção combinada do calor, fluidos e das tensões dirigidas.
Exemplos de rochas resultantes deste tipo de metamorfismo são a ardósia, a gnaisse e o
micaxisto. As rochas apresentam textura foliada.

Mineralogia das rochas metamórficas

Os minerais das rochas são estáveis nas condições de pressão e temperatura de formação das
mesmas, mas quando ocorre metamorfismo, estas condições alteram-se e os minerais
preexistentes tornam-se instáveis, podendo então sofrer transformações. A formação destes
minerais ocorre apenas quando a temperatura e a pressão atingem determinados valores. Alguns
minerais – minerais-índice – formam-se em condições termodinâmicas com limites bem
definidos, o que permite caracterizar as condições de pressão e temperatura em que uma rocha
que os apresenta se formou.
Os minerais-índice possibilitam, também, estabelecer os diferentes graus de metamorfismo, na
medida em que permitem tipificar condições de pressão e temperatura associadas à formação
das rochas.

A classificação de rochas metamórficas obedece a diversos critérios, sendo que se considera a


textura, a composição (mineralógica e química) e o tipo de metamorfismo.

Rocha Composição Características Tipo de


Textura Rocha(s)-mãe
metamórfica mineralógica das rochas metamorfismo
Grão fino
Foliação
Argilas, micas Argilitos, cinza
Ardósia evidente Regional
e clorite vulcânica
(clivagem
xistenta)
Argilitos,
Micas, clorite, Grão médio a
rochas
quartzo, talco, grosseiro
carbonatadas,
Micaxisto granada, Foliação Regional
rochas ígneas
estaurolite, evidente
máficas (ex.
Foliada grafite (xistosidade)
basalto)
Grão médio a
grosseiro
Argilitos, Foliação
Quartzo,
arenitos, evidente, com
feldspato,
Gnaisse rochas ígneas alternância de Regional
horneblenda,
félsicas (ex. faixas claras e
micas
granito) escuras
(bandado
gnaissico)
Micas,
Argilitos e
granadas,
rochas Grão fino
Corneana andaluzite, Contacto
carbonatadas, Elevada dureza
cordierite,
entre outras
quartzo
Não foliada
Arenitos Grão médio Regional ou de
Quartzito Quartzo
quartzosos Elevada dureza contacto
Grão médio
Calcite e Calcários e Regional ou de
Mármore Reage com
dolomite dolomitos contacto
ácidos (HCl)
Exploração sustentada de recursos geológicos
Recurso – tudo o que se encontra disponível na natureza e que pode ser utilizado pelo ser
humano para seu benefício.

Reserva – recursos com localização bem definida, passiveis de exploração numa perspectiva
economicamente rentável, e com valores de abundância relativa.

A exploração dos recursos tem vindo a aumentar, devido ao crescimento demográfico e da


industrialização, bem como de técnicas de exploração cada vez eficientes. A exploração
sustentada dos recursos geológicos deverá garantir que estes sejam aproveitados na medida da
sua capacidade de regeneração. isto é particularmente importante em relação aos recursos não
renováveis (a taxa de renovação é inferior à taxa de utilização). Menos ameaçados estão os
recursos renováveis.

Recursos geológicos

 Energéticos – utilizados na produção de energia, podem ser:


o Combustíveis fósseis – carvão, petróleo, gás natural. Libertam grandes
quantidades de CO2 para a atmosfera, contribuindo para o aumento do efeito de
estufa, que consequentemente levam ao aquecimento global e à queda de
chuvas ácidas;
o Energia nuclear – produção de calor a partir da cisão controlada de átomos de
urânio e plutónio. Produção de energia eléctrica. Um dos problemas deste tipo
de energia é a radioactividade dos elementos utilizados em caso de acidente;
o Energia geotérmica – utilização do calor interno da Terra, sobretudo onde o
gradiente geotérmico apresenta valores elevados (elevada entalpia), para a
produção de energia eléctrica. Quando a entalpia é baixa (<150ºC) é utilizada
para o aquecimento de infraestruturas.
 Minerais metálicos e não metálicos – ampla diversidade de materiais terrestes:
o Metálicos – encontram-se dispersos nas rochas da crosta, em concentrações
relativamente pequenas, de onde são extraídos. Num local onde existe em maior
quantidade do que o valor médio da sua [] na crosta, considera-se a existência
de um jazigo mineral. O material é extraído do mineiro, e a ganga é o material
sem valor económico que se descarta;
o Não metálicos – minerais e rochas industriais usadas na construção.

Etc.

Exploração de águas subterrâneas

Uma parte significativa da água que cai sobre a superfície continental inicia um trajecto de
infiltração fundamental para a alimentação de aquíferos, formações rochosas que permitem o
armazenamento e a circulação de água, bem como a sua exploração rentável. É extremamente
importante em locais onde a quantidade de água doce superficial é escassa.

Num aquífero é possível considerar três estruturas:

 Zona de aeração – zona onde os espaços vazios entre os grãos estão parcialmente
preenchidos por água e ar;
 Nível hidrostático ou freático – nível em que a água subterrânea se encontra numa dada
região num dado momento;
 Zona de saturação – região onde a água se encontra acumulada, ocupando todo o
espaço existente entre os grãos das rochas. Inferiormente a zona saturada está limitada
por rocha impermeáveis (ex. rochas argilosas).
Os aquíferos podem ser de dois tipos:

 Aquíferos livres;
 Aquíferos cativos ou confinados.

Permeabilidade – maior ou menor facilidade com que a rocha se deixa atravessar por água.

Porosidade – volume dos espaços vazios existentes relativamente ao volume total da rocha.

O armazenamento e a circulação de água num aquífero são tanto mais facilitados quanto maior
for a porosidade e a permeabilidade das formações geológicas que o integram.

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