Materiais de Construção

Estudo Inicial da Importância

das Classes dos Materiais

Desenvolvimento do material
Ana Luisa Tavares Torres
1ª Edição
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Sumário
Estudo Inicial da Importância das Classes dos Materiais
Para Início de Conversa... ................................................................................ 3
Objetivos .......................................................................................................... 3
1. Normatização .................................................................................................. 4
1.1 Importância das Normas ...................................................................... 5
1.2 Exemplos de Normas Associadas aos Materiais:
Concreto, Aço e Madeira ....................................................................... 6
2. Especificações Técnicas ............................................................................... 10
2.1 Metais e Ligas Metálicas ...................................................................... 11
2.2 Materiais Cerâmicos .............................................................................. 12
2.3 Polímeros .................................................................................................. 13
2.4 Materiais Compósitos ............................................................................ 14
3. Caderno de Especificações Técnicas ........................................................ 16
Referências .......................................................................................................... 20
Para Início de Conversa... Objetivos
O histórico do uso de materiais acompanhou o desenvolvimento da ▪ Classificar os materiais, baseando-se em normas e documentos
humanidade, iniciando com o emprego de materiais naturais, como normativos.
rochas e madeira, além do barro e tipos de cerâmicas que poderiam ▪ Classificar os materiais, baseando-se nas especificações técnicas de
ser moldadas para a criação de estruturas primitivas. À medida que foi acordo com a classe de material.
ocorrendo a evolução da tecnologia, consequentemente, novos materiais,
▪ Construir um caderno de especificações técnicas, comparando as
como o concreto, foram surgindo, e a fabricação e utilização de certos
materiais foram se aprimorando, por exemplo, a confecção do aço e classes dos materiais.
aplicação em estruturas substituindo o uso de ferro fundido.
Portanto, pensando no aspecto da construção civil, pudemos perceber,
ao longo das últimas décadas, um progresso do volume de construções
realizadas e de novos tipos de estruturas, como prédios cada vez mais
altos, pontes, estádios, túneis, museus etc. Ou seja, conforme o tamanho das
construções e, consequentemente, a capacidade de suportar carregamentos
foram crescendo, surgiu a demanda por materiais mais resistentes e duráveis
e/ou técnicas construtivas que atingissem os requisitos dos projetos.
Para assimilar melhor as características e propriedades dos diversos
materiais de construção, estes podem ser divididos por classes
específicas. As formas de classificação que empregaremos será a
categorização a partir das Normas Técnicas existentes e grupos de
acordo com as especificações técnicas. Com todas essas informações
estabelecidas, será possível selecionar os materiais (estruturais e não
estruturais) que melhor se adequem a cada projeto.

Materiais de Construção 3
1. Normatização
É de nosso conhecimento que existe uma gama de materiais construtivos
que podem ser empregados nos variados tipos de projetos associados à
Engenharia Civil. Esses materiais podem ter finalidade estrutural, sendo,
portanto, responsáveis por receber, suportar e transmitir os esforços em
segurança ao longo da estrutura, ou desempenhar função não estrutural,
estando presentes como elementos de vedação, revestimentos,
esquadrias, tubulações e demais funções, em que, apesar de atuarem
com certos esforços de utilização, as cargas não são tão elevadas.
A definição de cada um dos materiais que podem ser utilizados, seja
para fins estruturais ou não, tem como base uma série de critérios nos
quais os responsáveis pela execução podem se pautar, levando em conta
os requerimentos previstos para o projeto. Dentre os critérios de escolha
podem ser citados:
Custo: Está diretamente associado à disponibilidade de material e
quantidade requerida. Além disso, os gastos do processo construtivo
utilizando cada material deve ser levado em conta, incluindo o seu
transporte e armazenagem, mão de obra, equipamentos que precisarão
ser empregados e o tempo de execução ao utilizar certo material.
Impacto arquitetônico/estética: Quando os elementos estruturais —
como vigas, pilares, arcos e barras — estarão aparentes, a escolha de um
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material estrutural vai além do aspecto único de suportar os esforços,
passando a compor a identidade arquitetônica do projeto. Os materiais
empregados participam da transmissão de ideias e sensações.
Sustentabilidade: Cada vez mais, temos a preocupação com o uso de
recursos, redução dos resíduos gerados pelo desperdício e descarte
de materiais. Dessa forma, há uma busca por materiais e técnicas de
construção mais sustentáveis, reaproveitamento de materiais e atenção
com práticas que melhorem a eficiência energética e o reuso.
Mas atenção! Além desses critérios que podem ser considerados na
elaboração e execução do projeto em si, o fator primordial e que nunca
pode ser deixado de lado é a segurança! Portanto, propriedades como
estética, velocidade de execução, sustentabilidade, possuem importância
e devem ser consideradas na escolha, contudo, os critérios de segurança
devem prevalecer acima de todos!
Segurança: Os dois aspectos principais atrelados à segurança são a
garantia de obtenção da resistência necessária e haver a durabilidade
requerida. A resistência está ligada à determinação das propriedades
físicas e mecânicas do material e o correto dimensionamento do
elemento estrutural. Já a durabilidade está relacionada com a qualidade
da produção e da correta execução da construção, seguindo os
4
procedimentos e cuidados especificados para cada material. Além disso,
deve haver atenção às patologias que possam surgir e à integração
entre os materiais aplicados, para que o tempo de vida útil do material
seja respeitado e que durante, esse período, a construção e todos os
elementos que a compõem estejam dimensionados corretamente e
cumprindo as suas funções de forma segura e eficiente.
Podemos concluir, assim, que, em qualquer processo que envolva a
construção civil (confecção da construção, reformas, reparos etc.), são
aplicados diversos tipos de materiais. Dessa forma, tendo como base os
requisitos de projeto, o conhecimento das propriedades de cada material
e o desempenho que se espera do mesmo, é realizada a escolha de quais
integrarão a construção.
Cada material a ser utilizado deve seguir as especificações técnicas
previstas pela ABNT, como também as determinadas em projeto no seu
dimensionamento. Além disso, é possível classificar os materiais em
algumas categorias específicas cujas propriedades padrão associadas a
estes já são conhecidas, para, assim, analisar o comportamento esperado.
Veremos, inicialmente, ao longo deste tópico 1 deste capítulo, as
principais Normas da ABNT que regem as propriedades e requerimentos
de projeto exigidos para cada material e, em sequência, no tópico 2,
abordaremos a divisão desses materiais em tipos de grupos e como
podem ser classificados.
Materiais de Construção
1.1 Importância das Normas
As Normas são concebidas com o propósito de estabelecer critérios
de qualidade, que devem ser considerados na análise dos materiais a
serem empregados, requisitos que devem ser seguidos para a aplicação
desses insumos e seus produtos na obra, assim como a sua execução em
segurança. Portanto, todos os materiais a serem utilizados na construção
devem estar de acordo com os preceitos já estabelecidos e descritos
por cada norma em específico. Dessa forma, é muito importante os
engenheiros, arquitetos e, de modo geral, os responsáveis desde as
etapas iniciais do projeto até a sua fase de finalização estarem cientes
desses cuidados e requerimentos previstos em norma.
As normas têm por objetivo fornecer recomendações técnicas a serem
aplicadas visando padronizar os procedimentos de fabricação e uso
de cada material e verificar a classificação de certos materiais. Sobre
este último, é importante ressaltar que grande parte das normas indica
classes existentes para cada material, assinalando valores previstos
de serem atingidos associados às principais propriedades do material.
Veremos, mais à frente, algumas das principais Normas empregadas e as
classificações dos materiais contidas nelas.
Assim, a aplicação das Normas auxilia, também, na melhoria da
qualidade da execução da construção e na produtividade de modo geral.
Isso ocorre, pois, na Norma associada a cada material, são estabelecidos
5
padrões que devem ser observados e medidos na conferência do material
recebido e/ou produzido. Sendo assim, ao aferir se as propriedades
solicitadas foram atingidas, é verificado se tal material está apto para
o uso de acordo, principalmente, com os requisitos de segurança já
estabelecidos. Além disso, as normas especificam a forma de dimensão
dos componentes, suas propriedades químicas e físicas, além dos
ensaios a serem realizados para averiguá-las (por exemplo, os ensaios
de tensão/deformação).
De acordo com Bauer (2019) e Pinheiro e Crivelaro (2020), cada país
possui organizações responsáveis por elaborar e aplicar as Normas
Técnicas que estabelecem os padrões de referência e recomendações
que devem ser empregados para cada material respectivamente. No
Brasil, esse papel cabe à Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), e todas as normas vêm com a indicação Norma Brasileira
(NBR); dessa forma, uma norma no Brasil é identificada pela ABNT com
a sigla NBR seguida do número especificado para a norma e o ano de
publicação da mesma.
Após a confecção e publicação, as normas sofrem, de tempos em tempos,
algumas alterações para estar atualizadas com as mudanças ocorridas
nos materiais e/ou técnicas construtivas aplicadas. Isso é definido por
comissões específicas e tem como objetivo que as recomendações
contidas estejam acompanhando da forma mais atualizada possível as
evoluções do uso do material que venham a ocorrer.
Materiais de Construção
Ao longo dos últimos anos, várias normas foram revisadas, e novas
edições já foram publicadas e outras estão, no momento, passando por
processo de revisão. Destacam-se a norma de estruturas de madeira,
atualizada no último ano, e de execução em estruturas de aço e concreto,
sobre a qual espera-se que as atualizações sejam divulgadas em breve.
Além das NBRs, há outras comissões que produzem documentos
pautados em áreas específicas. Temos, por exemplo, a Associação
Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e o Instituto Brasileiro do Concreto
(Ibracon). Porém, o nosso foco maior será nas principais NBRs aplicadas
na construção civil associadas aos principais materiais empregados.
1.2 Exemplos de Normas Associadas aos Materiais:
Concreto, Aço e Madeira
Como exemplos de normas podemos iniciar citando a ABNT NBR
6118:2014 - Projeto de estruturas de concreto, procedimento que se
encontra em processo de revisão desde o final de 2022. Essa norma prevê
os métodos a serem aplicados no dimensionamento de estruturas em
concreto armado, incluindo as propriedades esperadas de acordo com as
classes de concreto, os critérios de segurança para o dimensionamento,
6
aspectos associados à durabilidade, além de procedimentos para a Classe de agressividade
aplicação das armaduras. Concreto a Tipo b, c
I II III IV
As classes de concreto e as resistências características à compressão Relação água/ CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45
(fck) associadas são especificadas pela ABNT NBR 8953:2015, como cimento em massa CP ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45
mostra a Tabela 1.
Classe de concreto CA ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40
Resistência Resistência (ABNT NBR 8953) CP ≥ C25 ≥ C30 ≥ C35 ≥ C40
Classe de Classe de
característica à característica à a
O concreto empregado na execução das estruturas deve cumprir com os requisitos
resistência Grupo I resistência Grupo II
compressão Mpa compressão Mpa estabelecidos na ABNT NBR 8953.
C20 20 C55 55 b
CA corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto armado.
C25 25 C60 60 c
CP corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto protendido.
C30 30 C70 70
Tabela 2: Correspondência entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto.
C35 35 C80 80 Fonte: Adaptada de ABNT (2014).

C40 40 CC90 90 A NBR 6118:2014 prevê que a resistência mínima estrutural para um
C45 45 concreto poder ser utilizado para esse fim é que possua um fck de,
C100 100
C50 50 pelo menos, 20 MPa. De acordo com o traço do concreto e dosagem
dos componentes, pode-se haver um ganho na resistência do
Tabela 1: Classes de resistência do concreto para fins estruturais.
Fonte: Adaptada de Parizotto (2017, p.45). material. Atualmente, com os avanços tecnológicos e necessidade de
grandes construções, são cada vez mais projetados concretos de alto
Já na própria ABNT NBR 6118:2014, há a correlação entre o ambiente desempenho, que, além de uma elevada resistência, podem apresentar
em que está inserida a construção com a resistência mínima necessária,
outras melhorias no seu comportamento físico e mecânico.
indicada pela classe de concreto, conforme a Tabela 2.

Materiais de Construção 7
A norma que dita os procedimentos de execução de construção com Grupo de perfila b ou
fy fu
aço é a ABNT NBR 8800:2008. Essa norma estabelece os requisitos Classificação Denominação Produto faixa de espessura Grau
Mpa Mpa
disponível
mínimos que devem ser cumpridos no processo de dimensionamento
Perfis 1, 2 e 3
dessas estruturas e contém os métodos de cálculo e verificação A36 - 250 400 a 550
dessas estruturas frente aos esforços previstos. No que diz respeito à Chapas e barras t ≤ 200 mm
c

Aços-carbono
classificação dos tipos de aço, a norma traz tabelados os principais tipos A500 Perfis 4
A 230 310

de aços e suas tensões de escoamento (fy) e tensões de ruptura (fu) B 290 400

projetadas para cada material. As duas classes mais utilizadas são o aço 42 290 415
MR 250 e AR 350, sendo que a sigla MR significa média resistência e a 1, 2 e 3 50 345 450
AR, alta resistência. A ASTM, que é um órgão americano de normatização, Perfis 55 380 485
também possui a indicação das classes de aço na NBR 8800. 60 415 520
1e2
Aços de baixa
Na Tabela 3, estão representadas as principais classes de aço definidas A572
65 450 550
liga e alta
pela ABNT e pela ASTM, em sequência. resistência
t ≤ 150 mm 42 290 415

mecânica t ≤ 100 mm 50 345 450

ABNT NBR 7007 ABNT NBR 6648 ABNT NBR 6649/ABNT NBR 6650
Chapas e barras t ≤ 50 mm
d
55 380 485
Aços-carbono e microligados para Chapas grossas de aço-carbono Chapas finas (a frio/a quente) de
60 415 520
uso estrutural e geral para uso estrutural aço-carbono para uso estrutural t ≤ 31,5 mm
65 450 550
fy fu fy fu fy fu
Denominação Denominação Denominação
Mpa Mpa Mpa Mpa Mpa Mpa A992 d
Perfis 1, 2 e 3 - 345 a 450 450

MR 250 250 4 0 0 - CG-26 255 410 CF-26 260/260 400/410

Tabela 4: Aços de uso frequente especificados pela ASTM para uso estrutural.
560
AR 350 350 CG-28 275 440 CF-28 280/280 440/440 Fonte: Adaptada de ABNT (2008).
450
AR 350 COR 350 CF-30 ---/300 ---/490
485 Por fim, podemos comentar sobre a ABNT NBR 7190:2022, norma recém-
AR 415 415
520 atualizada sobre estruturas de madeira. Essa norma estabelece as
Tabela 3: Aços especificados por Normas Brasileiras para uso estrutural.
especificações e condições para um adequado projeto utilizando a madeira,
Fonte: Adaptada de ABNT (2008). incluindo critérios de dimensionamento, construção e manutenção adequadas.

Materiais de Construção 8
Para realizar o dimensionamento, a madeira deve estar classificada pelo fabricante/fornecedor. Além dessas, normas existem várias outras que
A partir do conhecimento dessa classe, é possível verificar os valores de resistência e tratam da aplicação de diversos materiais, as
características previstas. quais iremos estudar ao longo da disciplina,
como a especificação do tamanho de grão
As madeiras são separadas em dois tipos: coníferas e folhosas (antes conhecidas como mínimo e máximo para a aplicação de
dicotiledôneas). Para peças estruturais obtidas a partir de madeiras extraídas de florestas agregados miúdos e graúdos, cuja especificação
plantadas, é utilizada a tabela abaixo: é definida na ABNT NBR 7211.

Coníferas Folhosas Além desta, existem várias normas atreladas à

Símbolo C14 C16 C18 C20 C22 C24 C27 C30 C35 C40 C45 C50 D18 D24 D30 D35 D40 D50 D60 D70 aplicação de revestimento cerâmico, exemplos
Propriedades de resistência MPa disso são as NBRs:
24 27 30 35 40 45 50 18 24 30 35 40 50 60 70
Flexão fb,k 14 16 18 20 22
▪ NBR 13753:1996 – Revestimento de piso
Tração paralela ft,0,k 8 10 11 12 13 14 19 18 21 24 27 30 11 14 18 21 24 30 36 42 interno ou externo com placas cerâmicas
Tração
ft,90,k 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6
e com utilização de argamassa colante –
perpendicular
Procedimento;
Compressão fc,0,k 16 17 18 19 20 21 22 23 25 26 27 27 18 21 23 25 26 29 32 34
paralela ▪ NBR 13754:1996 – Revestimento de
Compressão
perpendicular
fc,90,k 2,0 2,2 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3,1 3,2 7,5 7,8 8,0 8,1 8,3 9,3 11 13,5 paredes internas com placas cerâmicas
Cisalhamento fv,k 3,0 3,2 3,4 3,6 3,8 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 3,4 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,5 5,0 e com utilização de argamassa colante –
Procedimento;
Tabela 5: Classes de resistência definidas em ensaios para peças estruturais. ▪ NBR 13755:2017 – Revestimentos cerâmicos
Fonte: Adaptada de ABNT (2022).
de fachadas e paredes externas com utilização
Podemos perceber que, a partir da definição da classe da madeira empregada, é possível extrair de argamassa colante - Projeto, execução,
uma série de propriedades associadas ao material empregado. inspeção e aceitação – Procedimento;

Materiais de Construção 9
Dessa forma, as normas podem tratar desde a caracterização dos
materiais, padronizar e regulamentar procedimentos de ensaio para
verificação das propriedades até cuidados no uso e execução de Uma forma de agrupar materiais cujas composições e propriedades são
elementos a partir desses materiais. Portanto, ao utilizar um material, é similares é a partir da definição de classes de materiais levando em conta
suas especificações técnicas. Sendo assim, é possível analisar, para cada
importante a consulta às recomendações previstas em norma associada
conjunto, as vantagens, desvantagens e principais formas de aplicação
à forma com que é empregado.
utilizadas, geralmente, para cada tipo de classe de material.

2. Especificações Técnicas Os materiais existentes podem ser divididos

em diversas categorias, porém as
Os materiais aplicados na construção civil — ou seja, os materiais que
classes de materiais sólidos mais
compõem os diversos elementos, sejam estruturais ou não, que integram
aplicados na engenharia civil são:
a edificação — possuem propriedades distintas e particularidades
metais, cerâmicos, polímeros
associadas ao seu comportamento físico, mecânico, além da sua e compósitos. Além destes,
composição química. Portanto, para a produção desses elementos, é há os classificados como
importante conhecer as principais particularidades do ou dos materiais semicondutores e biomateriais;
que serão utilizados na sua produção. essa divisão leva em conta,
principalmente, a composição
Além disso, ao longo do tempo, com a evolução tecnológica, além das
química e a estrutura atômica
melhorias ocorridas nos materiais mais tradicionais, novos materiais
dos materiais, por isso cada
foram criados para diferentes finalidades. Isso ocorreu graças a melhorias
um desses seis grupos possui
implementadas na sua fabricação, alteração na sua composição química propriedades distintas.
e até mesmo aplicação de técnicas e tratamentos nesses materiais
originais, para gerar propriedades superiores às de referência.

Materiais de Construção 10
Para todas essas classes, ilustradas na Figura 1, comentaremos as Existem dois tipos de aço principais, os aços-carbono e os aços de baixa
principais propriedades atribuídas a cada grupo de material. liga, sendo estes últimos aços-carbono acrescidos de elementos de liga
que podem gerar um ganho de resistência. Essas duas classes de aço
Metal Cerâmica Polímero
podem ser observadas na Tabela 4 no tópico anterior.

Os aços podem, ainda, ser classificados com base no teor de carbono

Classificação dos materiais em sua composição, formando os chamados aços duros e aços moles.
Atrelado à essa diferença na sua composição química, há uma variação
no comportamento mecânico desses dois tipos de
Biomaterial Semicondutor Compósito materiais.

Figura 1: Classificação dos materiais. Fonte: Adaptada de Pinheiro; Crivelaro (2020, p.16). Uma das principais vantagens do uso
dessa classe de material é a sua elevada
resistência mecânica, possuindo alta
2.1 Metais e Ligas Metálicas
resistência à tração e à compressão,
A composição desses materiais é formada por um ou mais metais além de uma grande ductilidade em
(como alumínio, cobre e ferro), podendo possuir ou não, junto da comparação com outras matérias
sua composição, outros elementos não metálicos (como carbono estruturais como o concreto e
e oxigênio). Quando ocorre a presença desses elementos não a madeira. Essas características
metálicos na composição, é dito que é uma liga metálica, e são favorecem a sua aplicação estrutural
justamente as ligas metálicas — como o aço, principalmente e ligas na construção civil.
de alumínio — que são utilizadas na construção civil; essas ligas
são formadas pela combinação de materiais que permitem melhorar
uma ou mais propriedades. Figura 2: Estrutura de aço.
Fonte: Dreamstime.

Materiais de Construção 11
Sobre as propriedades físicas desses materiais podemos destacar
a sua boa condutividade térmica, o que favorece a sua maior
maleabilidade nos processos de fabricação; outros dois pontos de
destaque são a elevada condutividade elétrica e resistência a choque
mecânicos. Já um aspecto negativo é a baixa resistência à corrosão
de certos metais — como o cobre —, principalmente quando não são
aplicados tratamentos prévios.

É importante ressaltar que todas essas propriedades estão atreladas

à composição do metal ou liga metálica empregada, logo, algumas
variações podem ocorrer de um material para o outro. Porém, de modo
geral, essas são propriedades que se destacam.

2.2 Materiais Cerâmicos

São materiais naturais formados por elementos metálicos e não
metálicos, incluindo os materiais argilosos, cimento, rochas, cerâmicas
e o vidro. Entre as vantagens dos materiais cerâmicos destacam-se a
alta resistência à temperatura (possuindo alta temperatura de fusão),
resistência à abrasão e à corrosão, além de baixa condutividade térmica
e elétrica.
Figura 3: Exemplos de materiais cerâmicos. Fonte: Dreamstime.
Além disso apresentam alta dureza (resistentes e rígidas), porém têm
uma grande facilidade de sofrer fratura. Dessa forma, são materiais que
possuem alta resistência à compressão, mas baixa resistência à tração,
rompendo-se a pequenas deformações, pois não são materiais dúcteis.
Portanto, são materiais utilizados, principalmente, em situações que
requerem alta resistência à temperatura, abrasão e corrosão. Dessa
maneira são aplicados como elementos de vedação (tijolos e blocos

Materiais de Construção 12
cerâmicos ou de concreto), revestimentos de pisos e paredes tanto
internos como externos, e janelas (vidros e portas), ou seja, elementos
que estarão em contato constante com umidade, variação de temperatura
e ações abrasivas.

2.3 Polímeros
Os materiais poliméricos são materiais orgânicos (borracha natural)
ou sintéticos (PVC, PVA e polipropileno). Dentre os principais materiais
dessa classe estão os materiais plásticos, de borracha e adesivos.

Dessa forma, são altamente elásticos e flexíveis, possuindo excelente

ductilidade, e podem ser esticados ou deformados sem quebrar. Além
disso, outras propriedades dos polímeros que cabe destacar são a sua
baixa densidade, baixa condutividade elétrica, e alguns possuem maior
resistência à temperatura (de acordo com a sua classificação), podem ser
Figura 4: Tubulação de PVC. Fonte: Dreamstime.
moldados em diversos formatos e possuem boa resistência à corrosão.
Já em relação ao comportamento mecânico, esse tipo de material
Eles também são, geralmente, mais leves do que outros materiais,
possui baixa resistência em comparação aos outros materiais, porém,
como metais e cerâmicas, o que favorece sua a aplicação em situações
geralmente, são mais resistentes do que materiais frágeis como os
em que o peso próprio do elemento é um fator crítico. Por isso são
cerâmicos.
aplicados cada vez mais na construção civil, em sistemas de tubulação,
revestimentos e como materiais de isolamento. Além disso, são Por fim, a partir da composição química, podem existir vários tipos
materiais, geralmente, de menor custo, o que traz uma vantagem em de polímeros com propriedades distintas, sendo, de forma tradicional,
relação aos metais e cerâmicas. classificados em termoplásticos, termofixos e elastômeros.

Materiais de Construção 13
2.4 Materiais Compósitos do contato com o ambiente externo e funcionando como um suporte
para o reforço; além disso, a matriz desempenha o papel de fornecer
São definidos como materiais compósitos aqueles formados por dois as propriedades mecânicas desejadas e transmitir essas solicitações
ou mais materiais que se enquadram em outras categorias, podendo aos elementos de reforço. Já o reforço é adicionado visando melhorar as
ser metais, cerâmicos e/ou poliméricos. A junção desses materiais e, propriedades mecânicas da matriz e do compósito como um todo.
consequentemente, a combinação de suas propriedades dão origem a
um novo material com características distintas aos materiais individuais. Apesar de, muitas vezes, não associarmos a essa classe de material, o
Portanto, unem as propriedades desejadas de vários materiais em um concreto é um material compósito, sendo formado por uma matriz
único material. cimentícia e os agregados, que representam os reforços. Isto é,
tanto a matriz como o reforço são materiais
Ou seja, os materiais compósitos têm propriedades físicas únicas que classificados como cerâmicos, cuja
dependem da combinação de materiais utilizados e, dessa forma, devem união dá origem a esse material
ser elaborados a partir das qualidades que se desejam atingir, tendo aplicado comumente em nossas
como base as propriedades dos materiais que o compõem. Sendo assim, construções. Avançando um
podem ser criados materiais mais resistentes, mais dúcteis, mais leves, pouco mais, temos o concreto
resistentes a temperaturas mais elevadas, maior resistência à corrosão armado, cuja matriz de
etc. Então, a combinação dos materiais empregados depende da concreto é reforçada pelas
aplicação para a qual ele será utilizado e quais propriedades precisam barras de aço que compõem
ser melhoradas. as armaduras.
Os compósitos são formados por um material que é a matriz e outros que
representam o reforço, sendo que estes podem ser da classe dos metais,
cerâmicas, polímeros ou mesmo materiais naturais. A matriz envolve Figura 5: Concreto armado.
os materiais de reforço, preenchendo os espaços vazios, protegendo Fonte: Dreamstime.

Materiais de Construção 14
Uma forma cada vez comum de aplicação de compósitos é por meio
da inserção de fibras naturais ou sintéticas na matriz. Exemplos são
matrizes de concreto reforçadas por fibras de aço, fibras de carbono,
fibras poliméricas ou mesmo fibras naturais, como o sisal.
Figura 6: Concreto reforçado com fibras. Fonte: Silva (2020).
As grandes vantagens encontradas são o ganho de resistência
mecânica e ductilidade (maior deformação) obtidas. Isso está associado,
principalmente, à forma de aplicação das fibras e se estas estão
orientadas em uma direção específica ou dispersas na matriz.
Além dessas quatro classes de materiais, que são as principais associadas
à Engenharia Civil e construção, podemos comentar sobre os materiais
semicondutores e biomateriais.
Materiais de Construção
Semicondutores são materiais empregados em equipamentos eletrônicos.
A principal propriedade atrelada a eles é a possibilidade de controlar a
condutividade elétrica, permitindo o funcionamento dos aparelhos.
Os biomateriais, conhecidos como materiais avançados, são materiais
obtidos pelo avanço tecnológico e/ou que tiveram suas propriedades
modificadas. São aplicados, principalmente, na área médica, como
dispositivos implantáveis e próteses, cujo objetivo é ser biocompatíveis com
o organismo humano. Porém, Pinheiro e Crivelaro (2020) citam que esses
materiais estão contribuindo para avanços ligados à Engenharia Civil, sendo
utilizados para métodos de reaproveitamento de materiais naturais.
Outra forma de classificar os materiais é com base na sua estrutura de
arranjo de átomos, sendo classificados como materiais cristalinos ou
amorfos.
Materiais cristalinos são aqueles cujos átomos estão ordenados de
forma repetitiva e possuem arranjos regulares. Os metais, grande parte
dos materiais cerâmicos e certos polímeros possuem estrutura cristalina.
Associado à essa estrutura organizada, são materiais mais estáveis que
os materiais amorfos.
Já nos materiais amorfos ou não cristalinos não há uma organização
atômica e simetria. São exemplos desses materiais os plásticos, os
vidros, os gases, líquidos, alguns tipos de polímeros e alguns materiais
cerâmicos.
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Por fim, podemos classificar os materiais de construção civil de acordo
com certas características importantes para a elaboração do projeto,
como sua origem ou processo de obtenção e função desempenhada.
Em relação à origem, podem ser classificados como materiais naturais
— que são presentes na natureza, como a areia, fibras naturais e madeira
— e materiais artificiais ou industriais — aqueles produzidos ou cuja
matéria-prima passa por processos industriais para a sua fabricação.
São exemplos os blocos cerâmicos, o aço, vidros e plásticos. Além disso,
ainda pode ocorrer a combinação desses dois tipos de materiais para a
formação de um novo, ou seja, materiais compósitos como o concreto ou
os reforçados por fibras.

No que diz respeito à função desempenhada, os materiais podem

possuir função não estrutural — sendo aplicados apenas como
elementos de vedação, como paredes de tijolos, divisórias plásticas e Figura 7: Concreto armado como material estrutural e parede de blocos cerâmicos como parede
de vedação (não estrutural). Fonte: Dreamstime.
vidros ou aplicados como revestimento, sendo exemplos comuns disso
alguns materiais cerâmicos — ou como materiais estruturais — que serão
aplicados na confecção de elementos estruturais como vigas, pilares e
lajes, com o objetivo de suportar e transmitir os esforços aplicados na
3. Caderno de Especificações Técnicas
estrutura; os materiais mais empregados para tal são o concreto armado, A partir da classificação dos materiais em grupos distintos, temos
madeira e estruturas de aço. algumas propriedades esperadas e comportamentos que utilizamos
como parâmetro de comparação entre as várias classes. Dessa forma,
podemos analisar, por meio das principais propriedades encontradas

Materiais de Construção 16
nos materiais, quais destes estariam mais alinhados com as exigências
estabelecidas para cada aplicação.

Os gráficos a seguir, presentes nos livros de Askeland e Wright (2019)

e Callister (2021), foram elaborados tendo como base as informações
coletadas das diversas classes de materiais e retratam, respectivamente,
os valores previstos para a resistências mecânica (tensão) e massa
específica dos materiais separados por classes.

Figura 9: Gráfico de barras dos valores da massa específica à temperatura

ambiente para vários materiais metálicos, cerâmicos, polímeros e
compósitos. Fonte: Adaptada de Callister (2021, p.6).

Com as informações principais dos materiais,

é possível elaborar um quadro com as suas
principais informações e propriedades, como
exemplificado a seguir:

Figura 8: Resistências mecânicas representativas de várias categorias de materiais. Para as cerâmicas,

são apresentadas as resistências à compressão. Fonte: Adaptada de Askeland; Wright (2019, p.8).

Materiais de Construção 17
 Contudo, como visto no tópico 1 deste capítulo, é importante ressaltar que,
para o dimensionamento dos elementos, fabricação e correta aplicação
dos materiais, é necessário verificar a conformidade com os procedimentos
e requisitos descritos na norma específica de cada material. A definição
dos materiais a serem empregados passa por esses dois processos. Porém,
uma forma tanto de facilitar esse processo de análise e escolha como ter
definidas as informações dos materiais a serem utilizados é a elaboração
de um caderno de especificações técnicas e memorial descritivo.

Após essa análise inicial, a partir do tipo de construção, local em que será
inserido, intensidade e tipos de solicitações previstas, aspectos estéticos,
custo e demais critérios de escolha, teremos capacidade de definir qual
ou quais materiais seriam mais vantajosos de serem aplicados naquela
função da edificação. Como exemplo podemos citar:

1. A escolha de qual material estrutural empregar para confeccionar

2. Escolha do revestimento de piso: optando pela escolha de um
Figura 10: Resistências mecânicas representativas de várias categorias de materiais. Para as
cerâmicas, são apresentadas as resistências à compressão. Fonte: Askeland; Wright (2019, p.7).
os pilares de um galpão: poderíamos empregar aço, concreto ou
madeira. Supondo a escolha por aço, passamos a definição de qual
aço específico, tendo como base sua resistência, geometria do de
perfil, fornecedores, tempo necessário e custo de compra, transporte
e armazenamento.
cerâmico, podemos pensar na estética, custo, resistência à abrasão
requerida de acordo com o nível de circulação do local, tipo de
argamassa que deve ser empregada, prazo de entrega, garantia da
qualidade do material e demais cuidados da aplicação.

Materiais de Construção 18

É possível perceber, então, que há uma série de informações que precisam
ser coletadas e registradas para controle do material. Dessa forma, é
importante a elaboração de um memorial descritivo e de um caderno de
especificações técnicas.
O Memorial Descritivo é um documento com a listagem de todos os
materiais que serão empregados em cada processo realizado no projeto.
Já o Caderno de Especificações Técnicas descreve, de forma detalhada,
para cada material de construção a ser utilizado, informações sobre
as características e desempenho dos materiais, assim como as normas
que devem ser seguidas, tendo como objetivo garantir que os materiais
sejam adequados para a finalidade prevista e que a obra seja realizada
de forma segura, de um modo mais eficiente e organizado.
As principais informações contidas no Caderno de Especificações
Técnicas serão, portanto:
▪ identificação dos dados, como nome, tipo e onde será aplicado cada
material;
▪ informação do fornecedor/fabricante e o custo do material;
▪ características físicas particulares de cada material/peça, como o seu
tamanho, formato, peso etc.;
Materiais de Construção
▪ características mecânicas do material, como os valores de resistência
e módulo de elasticidade;
▪ especificação das técnicas construtivas a serem empregadas, tendo
como base as normas que deverão ser utilizadas e que preveem os
requisitos para a devida aplicação de cada material.
Sabemos que, para executar um projeto, faz-se necessária a escolha dos
materiais de construção para cada finalidade específica. Dessa forma, a
escolha de cada material está relacionada com o desempenho que se espera
dele, individualmente ou associado a outros, de forma que os projetos sejam
executados de acordo com o previsto, com segurança e qualidade.
A partir do agrupamento dos materiais em classes distintas, temos
ciência das características previstas, permitindo que sejam comparados
e avaliados de forma objetiva. Porém, é necessária a análise das normas,
que, além de informar dados específicos em relação às suas propriedades,
fornece as orientações que devem ser seguidas para verificação e
aplicação dos materiais.
Por fim, podemos concluir que elaborar um memorial descritivo e caderno
de especificações técnicas ajuda na análise e execução do projeto, além
de deixar detalhadas as principais informações e características (físicas,
químicas e/ou estéticas) de cada material.
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 CALLISTER, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 10.
Referências ed. Rio de Janeiro: LTC, 2021.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118, de GOTO, H.; RIBEIRO, J. P. C.; CENTOFANTE, R. Materiais da construção. Porto
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Alegre: SAGAH, 2018.
Rio de Janeiro, 2014.
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ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e engenharia dos materiais. São

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BAUER, L. A. F. Materiais de construção: novos materiais para construção

civil. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019.

Materiais de Construção 20