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Materiais de Construção

Propriedades gerais dos corpos


(Corpos Sólidos)
Sumário
Desenvolvimento do material Propriedades gerais dos corpos (Corpos Sólidos)
Ana Luisa Tavares Torres
Para Início de Conversa .................................................................................... 3
Objetivos ..................................................................................................... 3
1ª Edição 1. Esforços Mecânicos ....................................................................................... 4
Copyright © 2023, Afya.
1.1 Tensão ........................................................................................................ 6
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, 1.2 Deformação .............................................................................................. 8
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya. 1.3 Ductilidade e Fragilidade .................................................................... 13
2. Massa Específica ............................................................................................ 14
2.1 Cálculo do peso próprio de elementos
a partir do valor do peso específico
dos materiais. ........................................................................................... 16
3. Densidade ........................................................................................................ 18
Referências ..................................................................................................... 20
Para Início de Conversa e, consequentemente, permitir a escolha e posterior dimensionamento
dos variados elementos que poderão compor os projetos de engenharia.
As estruturas de modo geral estão sujeitas a carregamentos que, ao
atuarem, provocam variados esforços nas mesmas e, por consequência
disso, irão surgir deformações nos elementos que fazem parte do Objetivos
sistema construtivo. Dependendo do material empregado, a capacidade
▪ Analisar os esforços mecânicos dos corpos, avaliando os esforços
de resistir a esses esforços e as deformações geradas são diferentes,
mecânicos de acordo com suas estruturas.
podendo afetar a execução do projeto. Dessa forma, é necessário um
▪ Medir a massa específica dos corpos, comparando de acordo com suas
conhecimento prévio das características e propriedades dos diferentes
propriedades.
materiais construtivos, principalmente se serão aplicados em elementos
estruturais como pilares, vigas, lajes de concreto, aço e/ou madeira e ▪ Investigar a densidade,
alvenaria estrutural. comparando com as
propriedades dos corpos.
A escolha dos materiais passa por vários critérios de ordem técnica,
econômica ou mesmo estética. Porém, o correto dimensionamento
dos elementos construtivos de forma eficiente e segura está ligada
diretamente ao entendimento das propriedades físicas e mecânicas
dos materiais de construção. A partir de parâmetros como tensão,
deformação, resistência do material a cada tipo de esforço e outros que
veremos ao longo desse material é verificada a capacidade do mesmo
de resistir aos carregamentos que serão aplicados.

Dessa forma, é fundamental compreender que propriedades são estas e


como são obtidas para o entendimento do comportamento dos materiais

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1. Esforços Mecânicos As propriedades mecânicas dos materiais devem ser, portanto, objeto de
atenção do projetista para a escolha dos materiais que se enquadram
Todos os materiais que compõem elementos do projeto, sejam eles não melhor no projeto a ser desenvolvido, uma vez que conhecendo
suas diversas propriedades físicas e mecânicas é possível realizar o
estruturais, como as tubulações plásticas ou de liga metálica, esquadrias
dimensionamento dos elementos de acordo com as características
e materiais de revestimento, ou com função estrutural, como as vigas e
esperadas para certo material.
pilares de concreto, madeira ou aço, devem ter suas propriedades físicas
e mecânicas conhecidas para que possam ser executados seguindo os Dentre as propriedades que se destacam do ponto de vista do cálculo
processos de dimensionamento específicos e desempenharem suas estrutural estão a resistência mecânica e o comportamento do material
funções na construção de forma prevista. Contudo, quando consideramos em relação aos principais esforços atuantes (compressão, tração,
a ação de esforços mecânicos em projetos de Engenharia Civil, nossa cisalhamento e flexão), deformação, além da relação entre a tensão e
atenção se volta para os elementos estruturais, que são os responsáveis deformação observada para os materiais por meio dos ensaios mecânicos.
por suportar os carregamentos atuantes sobre a estrutura e conduzir Dessa forma, podemos descrever de forma simplificada os processos
essas cargas de forma segura mantendo sua própria sustentação e/ou de envolvidos na escolha e verificação dos materiais seguindo os processos
outro componente. abaixo:

Esforços Associação entre Escolha do


propriedades Dimensionamento
solicitantes nos material
mecânicas e dos elementos
Muitos materiais que são aplicados na Engenharia Civil, principalmente elementos aplicação como estrutural a ser
estruturais
estruturais material Estrutural utilizado
originados de ligas metálicas, polímeros e vidros, também são aplicados
em diversas outras áreas como a aeronáutica, naval ou mesmo a área
médica. Portanto, algumas outras propriedades específicas desses Como os diferentes As propriedades dos
materiais suportam os materiais são
materiais também têm que ser estudadas dependendo dos diferentes esforços? semelhantes?

usos.
Figura 1: Os processos envolvidos na escolha e verificação dos materiais. Fonte: elaborado pela
autora.

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Para a obtenção dos esforços mecânicos resistidos pelos materiais
e também analisar o seu comportamento, do momento de início de
aplicação da carga até o seu momento de ruptura, são realizados ensaios
mecânicos de tração e/ou compressão.

Esses dois tipos de ensaios são os mais empregados e permitem uma fácil
análise dos resultados e percepção do comportamento dos materiais.
Porém, também podem ser aplicados outros tipos de ensaio, como de
flexão, torção, de carga de impacto, fadiga etc. Ou seja, dependendo
das propriedades que se deseja realizar devem ser escolhidos ensaios
adequados.

Para nosso estudo vamos nos basear no comportamento dos materiais


sob ação de tração e compressão. Nesses ensaios os corpos de prova de
cada material são submetidos ao respectivo esforço e é medida de forma Figura 2: Gráficos de Tensão vs. Deformação. Fonte: CALLISTER, 2021. p.125
constante a evolução da força aplicada pelo equipamento e, por meio de
extensômetros, é registrada a deformação gerada consequentemente no Esse gráfico, retirado do livro de Callister, representa um gráfico
corpo de prova. Como resultado dos ensaios são traçados gráficos de gerado após um ensaio de tração em um corpo de prova de aço. O eixo
Tensão vs. Deformação em que é plotado uma curva na qual é possível vertical representa os valores de tensão (obtidos a partir do valor de
esboçar todo o comportamento do material até a sua ruptura. força aplicada no momento do ensaio) e o eixo horizontal descreve a
respectiva deformação. A partir disso é possível analisar para cada
material a existência de comportamento elástico, plástico, obter o
módulo de elasticidade, além de verificar a tensão de escoamento
e tensão de ruptura do material. Para melhor entendimento, cada um
desses parâmetros será abordado ao longo desse estudo.

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1.1 Tensão Dessa forma, para um elemento constituído de um determinado material,
quanto maior for a área, ou seja, quanto mais material existir em uma
Tensão pode ser definida como um esforço gerado através da atuação seção deste objeto, mais distribuída estará a força e a tensão que atua
de uma carga ou força sobre uma determinada área. Caso a área de será menor. Cada material possui uma tensão admissível (σadm), que
aplicação seja perpendicular à direção de aplicação da força, essa tensão é a tensão máxima que consideremos que pode atuar no material e o
é chamada de Tensão Normal, como a compressão e tração. Caso essa mesmo resistir em segurança.
força atue paralelamente à área, é chamada de Tensão Tangencial, sendo
um dos principais esforços desse tipo o cisalhamento. Portanto, um elemento de determinado material consequentemente
será mais resistente, suportando maiores cargas ao aumentar sua área
A tensão pode ser descrita portanto pela equação: transversal. Caso fosse a mesma carga atuante, a tensão gerada seria
menor que a anterior, se mantendo mais longe da tensão admissível.
Sendo assim, para atingir ou estar próximo da sua tensão admissível
(se mantém pois é o mesmo material!), maiores cargas poderiam ser
aplicadas.
Em que P representa a força em N ou kN atuante e a área da seção
transversal do elemento é expressa comumente em mm² ou m². Dessa Vamos analisar a seguir os esforços provocados pelas tensões:
forma, é expressa normalmente em N/mm² (MPa) ou em kN/m².
A Tensão Normal de Compressão ocorre quando a força aplicada atua
perpendicularmente à área de interesse comprimindo o elemento e
gerando um encurtamento (redução do comprimento) da peça, ou seja,
Essa equação descreve que uma carga (P) ao ser aplicada no elemento na direção da força aplicada. Já no caso de Tensão Normal de Tração, a
estrutural age sobre a área da seção transversal (A) do elemento, gerando carga aplicada tende a tracionar o corpo, gerando um alongamento da
uma distribuição uniforme da tensão. peça no sentido da aplicação da força.

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A representação de esforço de tração e compressão respectivamente são
observadas na figura a seguir extraída do livro Callister (2021):

A partir disso calculamos a área e, por fim, a tensão normal do pilar:

Fazendo a conversão para MPa obtemos que:

Figura 4: Representação de esforço de tração e compressão respectivamente. Fonte: Callister,


Levando em conta que esse elemento é um pilar que recebe cargas dos
2021. p.127 demais elementos que suporta, recebendo geralmente um carregamento
de cima para baixo, podemos assumir que essa tensão normal é uma
Elementos como pilares, barras de treliças e cabos de aço estão sujeitos
tensão de compressão. Supondo agora que esse concreto armado possui
à ocorrência de tração e/ou compressão direta. Observe o exemplo
uma tensão admissível de 20 MPa, qual seria a carga máxima pontual
abaixo do cálculo de uma tensão normal atuante em um pilar:
que poderia atuar nesse pilar?
Em um pilar de concreto armado de seção retangular (20 cm x 50 cm)
é aplicada uma carga pontual de 800 kN. Determine a tensão normal
atuante.

Sabemos que:

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1.2 Deformação
Quando uma força é aplicada, há a tendência de o corpo mudar sua
forma e tamanho, podendo essa variação ser visível ou praticamente
imperceptível. Desse modo, ao se aplicar os carregamentos, além das
tensões geradas, ocorre também como consequência uma mudança da
Já uma tensão tangencial de cisalhamento ocorre a partir da presença dimensão do elemento na direção de aplicação da carga no decorrer do
de forças que ocorrem no plano da área seccionada do elemento, ou período em que é aplicada.
seja, paralelas à superfície da seção do elemento. As cargas tendem a Essa alteração é denominada deformação. Portanto, podemos definir
provocar o deslizamento entre duas partes do corpo, uma em relação a deformação como sendo a alteração de tamanho por unidade de
outra gerando tensão de cisalhamento, como ilustrado na figura abaixo. comprimento em comparação com o comprimento original do corpo de
prova.

A deformação pode ser descrita dessa forma pela seguinte equação:

Figura 5: Tensão de cisalhamento. Fonte: Adaptado de Hibbeler, 2005, p.25.


Em que: l0 é o comprimento original da peça, antes de qualquer carga
Outro exemplo de tensão cisalhante é o esforço cortante presente nas ser aplicada.
vigas, que ocorre principalmente próximo aos apoios.
ln é o comprimento obtido após a aplicação da carga.

[Equação] representa a variação do comprimento em determinado


instante.

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A atuação de esforços de tração e compressão irão gerar deformações no Caso se deseje a obtenção do percentual (%) de deformação ocorrida,
elemento, provocando o alongamento e encurtamento respectivamente basta multiplicar por 100%. A equação pode ser reescrita como:
do corpo:

Tração → o comprimento final (ln) obtido será


superior ao comprimento inicial (li) da peça, Exemplo: Um material, de comprimento inicial 50 cm foi submetido a
obtendo, portanto, um resultado de deformação um ensaio de tração. Ao final desse ensaio foi observado que o material
positiva que demonstra que houve um sofreu deformação, obtendo-se um comprimento final igual a 50,01 cm.
alongamento no elemento. Calcule a deformação (ɛ) do material.

Compressão → o comprimento final (ln) obtido


será inferior ao comprimento inicial (li) da peça,
obtendo, portanto, um resultado de deformação
negativa que demonstra que o elemento sofreu
um encurtamento.

A deformação do material pode passar por duas etapas: deformação


elástica e deformação plástica.
Figura 6: Deformações no elemento, provocando o alongamento e encurtamento. Fonte: Vejamos:
Elaborado pela autora.

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1. Deformação Elástica → Comportamento Elástico Portanto, essa equação da Lei de Hooke demonstra, de forma simplificada,
que ao se aumentar a tensão aplicada, consequentemente a deformação
O comportamento do material é considerado elástico se após o início
cresce de forma proporcional entre tensão e deformação.
de aplicação da força e começo da deformação a carga for removida
e o corpo de prova volta à sua forma original, ou seja, a deformação Em alguns materiais essa variação ocorre de forma linear, sendo possível
permanecerá enquanto a tensão estiver presente e desaparecerá assim facilmente a definição da inclinação da reta e cálculo do módulo de
que a tensão for removida. elasticidade. Porém outros materiais não possuem essa correlação entre
tensão e deformação ocorrendo de maneira linear, sendo necessária
Na região elástica a deformação ocorre linearmente e é proporcional às
a definição do módulo de elasticidade com base em alguns cálculos
tensões. Dessa forma, quando são aplicados carregamentos mais baixos
específicos (módulo tangente e módulo secante).
e/ou nas etapas iniciais dos ensaios é observado para muitos materiais
essa região elástica em que a tensão e deformação são proporcionais Além disso, o módulo de Elasticidade (E) está associado com a rigidez
entre si. Essa relação é conhecida como lei de Hooke: do material, ou seja, uma resistência a sofrer deformações. Quanto mais
verticalizado (maior é o ângulo) do módulo de elasticidade, maior é a
rigidez do material e menor será a deformação elástica sofrida.

Em decorrência da tensão aplicada no material, além da deformação


Esse coeficiente angular entre o carregamento aplicado e a deformação vertical da peça (alongamento ou encurtamento), ocorre também a
que ocorre no material échamado de Módulo de Elasticidade (E) variação das dimensões laterais (transversal), uma vez que o volume da
ou módulo de Young. Dessa forma, o Módulo de Elasticidade é uma peça não se altera. Ou seja, caso ocorra o alongamento vertical da peça,
propriedade constitutiva do material, ou seja, é um valor considerado é sensato já imaginarmos que sua seção transversal se reduza.
constante do corpo de prova ensaiado (material) e essa relação linear é
O contrário ocorre no caso da compressão. Uma vez aplicada a tensão,
válida apenas para a zona estatística.
haverá uma deformação vertical negativa (encurtamento da peça)
acompanhado de um aumento da sua área de seção transversal. Essa

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correlação entre as deformações verticais (axiais) e laterais é definida vestígios de alongamento ou encurtamento sofridos. Essa deformação é
como coeficiente de Poisson (v). chamada dessa forma de Deformação Plástica.

Dessa forma, esse coeficiente associa a deformação elástica longitudinal À medida em que a força é aplicada e o material é deformado se ultrapassa
produzida por uma tensão de tração ou compressão com a deformação o limite elástico. A partir desse ponto, a tensão não é mais proporcional
transversal que ocorre simultaneamente no elemento. Os diversos à deformação (não é mais válida a lei de Hooke) e a deformação ocorrida
tipos de materiais possuem diferentes propriedades mecânicas e, a partir desse momento não é mais recuperável (deformação plástica).
consequentemente, valores distintos desses coeficientes de Elasticidade Um exemplo clássico para entender esse comportamento é pensar em
e coeficiente de Poisson. uma mola: ao se aplicar uma tração que gere um pequeno alongamento
e soltar a mola, ela irá retornar ao formato original → deformação
Em decorrência do seu amplo uso e inúmeros ensaios já realizados,
elástica. Porém, caso se eleve esse alongamento e estique bastante a
valores para esses coeficientes já são tabelados e conhecidos
mola, essa deformação será cada vez maior; o formato da mola irá sofrer
previamente, e podem ser obtidos diretamente por tabelas. No entanto,
alteração e, ao interromper a tração, haverá deformações permanentes
são valores possíveis de serem calculados a partir dos valores obtidos
na mola → deformação plástica.
por ensaios mecânicos e observação do gráfico de tensão vs. Deformação
obtida a partir da realização dos ensaios. A figura a seguir na esquerda, que ilustra de forma representativa o
comportamento de um corpo de prova de aço submetido a um ensaio
1. Deformação Plástica → Comportamento Plástico
de tração, mostra a deformação elástica e plástica do material além de
Caso a deformação não ocorra mais de forma proporcional em relação tensões características do seu comportamento.
a tensão e se ao retirar a carga deformações permanentes ocorrem no
Na figura da direita é demonstrado como é realizado esse ensaio de
material, é dito que o material está na região de comportamento plástico.
tração.
Ou seja, é uma deformação que ocorre após o regime elástico
(ultrapassou a região de comportamento elástico) e o elemento não
consegue mais retornar totalmente à sua forma original, deixando

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σ’rup
σ tensão de ruptura real Para obtenção desse valor é adotado geralmente a deformação de 0,002
para, a partir deste ponto, traçar uma reta paralela a curva da região
limite de
σr
limite de proporcionalidade
resistência tensão
de ruptura elástica, sendo o ponto de interseção a tensão de escoamento.
σrup
limite de elasticidade
σE limite de escoamento
σlp


região escoamento endurecimento estricção
elástica por deformação
comportamento comportamento plástico
elástico

Figura 7: O comportamento de um corpo de prova de aço submetido a um ensaio de tração.


Fonte: Hibbeler, 2005, p.64

O livro de Askeland traz algumas definições sobre essa região de


mudança de regime elástico para plástico:

▪ Limite de elasticidade ou limite elástico do material: é o valor crítico


de tensão necessário para iniciar a deformação plástica.
▪ Limite de proporcionalidade: é a tensão acima da qual a relação entre
tensão e deformação deixa de ser linear.
Figura 8: A deformação de 0,002 para a partir deste ponto traçar uma reta paralela a curva da
No entanto, a transição do comportamento elástico para o plástico é região elástica, sendo o ponto de interseção a tensão de escoamento. Fonte: Askeland; Wright,
2019, p.146
gradual em vários materiais, não sendo possível definir de forma simples
especificamente onde se dá o início da deformação plástica e definição A tensão máxima atingida pelo material é chamada de limite de
desses valores. É utilizado de modo geral então, principalmente para a resistência e, caso os carregamentos continuem, é observada no diagrama
aplicação em projetos de engenharia, do conceito de Limite de Escoamento. uma redução das tensões aplicadas. Essa diminuição acontece pois a área

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do elemento sofre uma redução (estricção no caso das ligas metálicas ou do início do comportamento plástico ou o material sofrer maiores
fissuras no caso de materiais cimentícios) e, consequentemente, como o deformações antes de colapsar. Assim sendo, dependendo das
cálculo da tensão para engenharia leva em conta a área original, há uma suas características de tensão-deformação, os materiais podem ser
redução no valor da tensão obtida. classificados como dúcteis ou frágeis.

Por fim, o material irá continuar a se deformar até que ocorra a sua
ruptura. Essa tensão associada ao colapso do material e fim do ensaio é
chamada de tensão de ruptura.

É importante deixar claro que nenhum projeto de engenharia


logicamente deve ser realizado se ultrapassando a tensão admissível do
material e, de forma geral, assegurando que ocorra apenas deformação
elástica, ou seja, que a tensão de projeto (calculada como sendo a
prevista de atuar no elemento) seja inferior ao valor do limite de
escoamento (tensão de escoamento).

1.3 Ductilidade e Fragilidade


Materiais distintos apresentam diferentes comportamentos e limites de
resistência. Ou seja, argamassas, o concreto, aço e outras ligas metálicas,
a madeira, polímeros etc. apresentam diferentes comportamentos
Figura 9: Os materiais podem ser classificados como dúcteis ou frágeis. Fonte: Callister, 2021,
mecânicos.
p.139.

Dessa forma, são observadas diferenças neles nas proporções entre a


região elástica e plástica, com a ruptura podendo ocorrer próximo

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porém são menos dúcteis. Já aços com menos carbono são mais dúcteis,
contudo, apresentam uma menor resistência.
Materiais Dúcteis: São materiais que suportam grandes deformações
antes de ocorrer a ruptura.
Materiais Frágeis: Materiais que apresentam nenhum ou pouco
escoamento, ou seja, suportam uma pequena deformação plástica e, em
sequência, sofrem a ruptura.

Ductilidade está associada com a capacidade do material sofrer


deformações plásticas (permanentes) sem sofrer ruptura. Dessa forma,
quanto mais dúctil é um material, maior é a deformação plástica que
Figura 10: Aços com menos carbono são mais dúcteis, contudo apresentam uma menor
ocorre antes do colapso. resistência. Fonte: Adaptada de Hibbeler, 2005, p.69 e 73.

Fragilidade é o conceito oposto, sendo a incapacidade de um material


suportar maiores deformações sem romper. Uma característica dos
materiais frágeis é a baixa resistência à tração em relação à capacidade 2. Massa Específica
de resistência à compressão. No conjunto de cargas resistidas pelas estruturas estão as geradas
O concreto é um material considerado frágil. Observe a diferença de pela própria construção em si. Dentre as quais o peso próprio de cada
comportamento mecânico em relação a esses dois esforços no gráfico elemento estrutural que compõe a edificação (vigas, pilares e lajes),
abaixo na parte esquerda. Já o aço, de modo geral, é um material revestimento (de piso e parede) e elementos construtivos fixos (escadas,
considerado como dúctil. No entanto, dependendo da sua composição, paredes e divisórias).
suas propriedades podem ser distintas, como demonstra o gráfico abaixo
à direita. Aços com maior quantidade de carbono são mais resistentes,

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específica e peso específico são parâmetros que possuem diferenças
entre seus conceitos. No cálculo da massa é verificado puramente o valor
A escolha dos materiais construtivos a serem empregados e, assim, o correspondente para aquele volume de material (carga), sem considerar
peso próprio gerado, afetam diretamente os carregamentos impostos na a influência da ação da gravidade sob aquele material, sendo assim um
edificação e, consequentemente, o processo de dimensionamento.
valor obtido em gramas (g) quilogramas (kg) ou mesmo toneladas (ton.).

Já o peso é obtido a partir da multiplicação do valor da massa específica


Sendo assim, é uma etapa fundamental a compreensão do conceito de pela força da gravidade, podendo ser expresso pela equação:
massa específica e peso específico, além da análise desses valores para
materiais distintos. Peso = massa x gravidade, ou simplesmente P = m x g.

Uma vez que, conhecendo esses valores e tendo as dimensões, ou mesmo Esse resultado é obtido em outra unidade, Newton (N) ou mesmo Kilo-
a estimativa das dimensões, necessárias para cada elemento estrutural, Newton (kN).
é possível conhecer o volume de material necessário e realizar o cálculo Sendo que 1 kN = 1000 N.
do peso próprio esperado, da mesma forma que auxilia na escolha de
materiais não estruturais, como os revestimentos. Dessa forma, como descrito no livro de Bauer, Massa é a quantidade de
matéria e é constante para o mesmo corpo, esteja onde estiver. Já o Peso
Em uma situação hipotética é analisada a possibilidade da troca do piso é a força com que a massa é atraída para o centro da Terra, sofrendo
de um elevador de um prédio residencial. Caso seja selecionado um novo assim variações de local para local.
piso cujo material possui peso específico mais elevado que o anterior,
isso representaria um aumento da carga no elevador e, se esse acréscimo Quando queremos expressar esse parâmetro de massa e peso por
for considerável, poderia até mesmo afetar o correto funcionamento unidade de volume, temos o conceito de massa específica e peso
do elevador caso não fossem realizados os ajustes necessários nos específico, por exemplo kg/m³ e kN/m³ respectivamente.
equipamentos mecânicos responsáveis pela sua operação.

Apesar de muitas vezes considerados sendo a mesma propriedade, massa

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2.1 Cálculo do peso próprio de
elementos a partir do valor do
peso específico dos materiais.
A Norma Técnica NBR 6120
– Ações para o cálculo de
estruturas de edificações
disponibiliza valores padrão de
pesos específicos (kN/m³) para
variados materiais de construção.
Esses valores característicos sugeridos
devem ser aplicados para o cálculo do peso
próprio dos elementos ao se realizar um projeto.

Essa norma passou por uma atualização em 2019 com sugestão de


faixas de valores a serem utilizados para cada material. A tabela abaixo
ilustra alguns materiais e valores que poderiam ser escolhidos:

Tabela 1: A Norma Técnica NBR 6120 com sugestão de faixas de valores a serem utilizados para
cada material. Fonte: Adaptado de Total Construção, 2020.

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Ao analisar esses valores é possível observar que os metais possuem Calculando o volume dos elementos estruturais e aplicando o peso
um peso específico bastante elevado ao se comparar com as madeiras próprio específico tabelado pela NBR 6120 para cada material, podemos
ou mesmo o concreto. Contudo, pelo fato das ligas metálicas serem calcular o peso próprio total de cada alternativa como demonstrado a
um material com maior resistência do que o concreto e madeira, na seguir:
elaboração de elementos estruturais como vigas e pilares as seções
podem ser mais esbeltas. ▪ Aço

São utilizados comumente perfis do tipo I ou H formados por chapas, Área transversal do perfil em cm²: 2x(25 x 0,95) + (23,1 x 0,8)
resultando em uma redução do volume de material e consequentemente Área transversal do perfil igual a 66 cm² → 6,6 x 10-3 m²
do peso próprio da estrutura em comparação à construção em concreto Altura igual a 3 metros
armado e madeira que utilizam seções mais robustas para alcançarem a Volume total do perfil → 6,6 x 10-3 m² x 3 m = 0,0198 m³
mesma resistência.
Peso específico do Aço: 78,5 kN/m³
Observe o exemplo abaixo: Peso próprio do perfil empregado: 0,0198 m³ x 78,5 kN/m³
Para a construção de um pilar de 3 metros de altura, sob ação de Peso próprio do perfil empregado: 1,55 kN
uma carga de valor específico, seria necessário a construção ou um ▪ Concreto Armado
perfil metálico ou um pilar de concreto armado com as dimensões
especificadas, sendo que ambos têm capacidade de resistir aos esforços Área transversal do pilar igual a 900 cm² → 0,09 m²
previstos de forma similar. Altura igual a 3 metros
Volume total do pilar → 0,09 m² x 3 m = 0,27 m³
Peso específico do Concreto Armado: 25 kN/m³
Peso próprio do pilar: 0,27 m³ x 25 kN/m³
Peso próprio do pilar: 6,75 kN

Olhando por esse cenário, o pilar em concreto armado representa uma


Figura 11: Vantagens do aço. Adaptado de CEAM-UFMG, n.p.

Materiais de Construção 17
carga mais de 4 vezes superior ao perfil metálico, contribuindo assim
para a redução do peso total da estrutura e consequentemente dos
esforços gerados. Nesse aspecto o aço possui vantagem sobre o concreto. Quando falamos de massa específica nos referenciamos a uma substância
única, sem levar em conta os espaços existentes que pode haver no corpo.
Mas atenção! Não há uma resposta padrão sobre qual material é mais Já quando falamos da densidade, analisamos o objeto como um todo, que
vantajoso para um projeto, seja ele concreto, aço, madeira ou outra pode possuir pontos com maior volume de material em um ponto do que
técnica construtiva. Essa definição e escolha pelo projetista de qual ou em outro ou mesmo espaços vazios (poros, furos etc.).
quais materiais serão empregados deve passar pela análise completa de
vários critérios, como por exemplo o custo total, tempo de execução e
até mesmo conceitos estéticos desejados para o projeto. A massa específica e a densidade só possuem o mesmo valor quando
o corpo analisado for maciço, por exemplo, um cubo maciço de cobre,
pois nessa configuração não há espaços internos vazios no objeto.
3. Densidade Pense agora em um cubo formado por paredes de cobre com pequena
espessura, sendo oco na parte interna. Suponha que o cubo maciço e o
Complementando sobre massa específica e peso específico, existe oco possuam as mesmas dimensões (lados do mesmo tamanho), logo,
um outro termo muito utilizado na engenharia quando analisamos os eles possuem o mesmo volume especial.
materiais de construção, que é a densidade. A densidade é definida como
Porém o valor da massa deles (gramas ou quilogramas) será distinto,
sendo a relação entre a massa de um determinado corpo e o volume por
sendo o cubo maciço mais pesado que o oco. Vamos supor que o cubo
ele ocupado, sendo empregado geralmente como unidade de medida
maciço seja 5 kg e do cubo oco 1 kg e ambos possuem o volume espacial
kg/m³. Dessa forma, a massa específica e a densidade possuem a mesma
de 1 m³.
unidade, porém o conceito entre elas é diferente.
Vamos refletir? Você acha que a densidade entre eles é a mesma?

Não, a densidade do cubo oco será inferior uma vez que sua massa é
mais baixa que a do cubo maciço e ambos ocupam o mesmo volume. O

Materiais de Construção 18
cubo oco teria densidade de 1 kg/m³ e o maciço de 5 kg/m³. Portanto, quanto mais compactado estiver o material, maior será a
densidade obtida, pois há uma maior concentração de material por
Se fossem realizados ensaios para a definição da massa específica do
volume. Isso significa mais material naquele elemento para resistir aos
material, ambos apresentariam a mesma, pois ao se calcular a massa
esforços e, por consequência, haveria um ganho de resistência.
específica do cubo oco, deveria ser desconsiderado o espaço vazio,
levando em conta apenas o volume ocupado pelo material chumbo. Desta forma, o estudo da densidade dos elementos, como por exemplo,
de uma argamassa, certo traço de concreto ou mesmo de um bloco
de madeira, são fundamentais para determinar características desses
materiais.

Por exemplo, ao analisar a densidade de um corpo de prova de concreto,


é possível verificar a sua porosidade e com isso aferir se a compactação
entre as partículas e a proporção entre agregados graúdos, miúdos e
partículas de material cimentício pode ser melhorada, tendo assim como
resultado um ganho de resistência daquele material.

E assim estudamos sobre as principais propriedades mecânicas que


afetam o comportamento dos materiais e como elas estão ligadas. A
capacidade resistente do material não está associada apenas a maior
Figura 12: O valor da densidade. Fonte: Bauer, 2019. p.124.
carga que pode suportar antes de colapsar, como também é fundamental
Logo, o valor da densidade de um material é afetado diretamente levar em conta a forma com que sofre deformação (limite de escoamento,
pelo volume de vazios existentes no elemento e uma maior ou menor fragilidade e ductilidade).
porosidade do material. Quanto mais próximas as partículas/grãos
Vimos também algumas propriedades físicas essenciais para o estudo
que compõem o corpo, menor será o volume de vazios entre elas e,
dos materiais, como a massa e peso específico e densidade, que são
consequentemente, maior será a densidade.

Materiais de Construção 19
fundamentais para o cálculo de carregamentos gerados pela própria NBR 6120 – Resumo, Atualizada e Comentada. Total Construção, 2020.
estrutura. Disponível em: https://www.totalconstrucao.com.br/nbr-6120/. Acesso
em: 17 jan. 2023.
Afinal, a análise dessas propriedades, tanto mecânicas como físicas, nos
permitem interpretar quais materiais gostaríamos de utilizar seguindo SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciências dos
as características requeridas em projeto. materiais. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.

Referências
ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e engenharia dos materiais. São
Paulo: Cengage Learning, 2019.

BAUER, L. A. F. Materiais de construção: novos materiais para construção


civil. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019.

CALLISTER, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 10.


ed. Rio de Janeiro: LTC, 2021.

CEAM-UFMG. Vantagens do aço. Disponível em: https://www.sites.


google.com/site/acoufmg/home/vantagens-do-aco Acesso em: 16 jan.
2023.

HIBBELER, R.C. Resistência dos Materiais. 5. ed. São Paulo: Pearson, 2005.
Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Loader/314/pdf
Acesso em: 16 jan. 2023.

Materiais de Construção 20

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