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XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas


IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

Aspectos a Serem Considerados na Construção de Cortinas


Atirantadas
Gabriela Ferraz Prinz
Engenheira Civil, FUMEC, Belo Horizonte, Brasil, prinzgabriela@gmail.com

Letícia Silva de Carvalho


Engenheira Civil, FUMEC, Belo Horizonte, Brasil, leticia.scarvalho3@gmail.com

Amanda Fonseca Pires Damázio


Engenheira Civil, FUMEC, Belo Horizonte, Brasil, amandadamaziof@gmail.com

Beatriz Moreira Zoia


Engenheira Civil, FUMEC, Belo Horizonte, Brasil, beatrizzoia17@gmail.com

Flávia Furtado Silva


Engenheira Civil, FUMEC, Belo Horizonte, Brasil, flaviaf_silva@outlook.com

RESUMO: Cortina atirantada é um tipo de contenção que suporta as pressões geradas pelos taludes e pela
água. A eficiência deste sistema se deve ao trabalho associado entre a cortina e os tirantes. Neste sentido, o
presente trabalho tem como objetivo investigar os aspectos que devem ser considerados nas etapas de projeto
e execução da cortina atirantada para que não ocorram patologias nessa estrutura. A metodologia aplicada é
baseada em uma revisão bibliográfica, utilizando-se de Normas Brasileiras aprovadas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas, trabalhos científicos realizados por autores da área de engenharia e livros que
abordam temas relacionados a fundações e contenções. Inicialmente, são descritos os tipos de estabilização de
maciços. Em seguida, é apresentada a cortina atirantada através das considerações de dimensionamento da
estrutura. Com o intuito de evitar as patologias desta estrutura, a próxima etapa descreve os aspectos de projeto
e o método construtivo da mesma, dando ênfase ao método executivo do tirante, pois este componente suporta
os carregamentos adquiridos. O presente trabalho colabora com informações relevantes para projetos de
execução da cortina atirantada e os cuidados que devem ser tomados para garantir sua durabilidade e
estabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Cortina Atirantada, Aspectos de projeto, Método Construtivo, Manifestações


Patológicas.

ABSTRACT: The curtain is a type of containment that withstands the pressures generated by slopes and water.
The efficiency of this system is due to the associated work between the curtain and the risers. In this sense, the
present work aims to investigate the aspects that must be considered in the design and execution stages of the
thrown curtain so that pathologies do not occur in this structure. The applied methodology is based on a
bibliographic review, using Brazilian Norms approved by the Brazilian Association of Technical Norms,
scientific works carried out by engineering authors and books that address themes related to foundations and
containments. Initially, the types of rock stabilization are described. Then, the curtain thrown is presented
through the design considerations of the structure. In order to avoid the pathologies of this structure. So, the
design aspects and the constructive method of it are presented, emphasizing the executive method of the tie,
as this component supports the acquired loads. Finally, a collaboration with relevant information for projects
to execute the curtain and the care that must be taken to guarantee its durability and stability is made.

KEYWORDS: Curtain, Design aspects, Constructive Method, Pathological Manifestations.

https://proceedings.science/p/149523?lang=pt-br
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1 Introdução

A execução de obras na construção civil gera impactos no terreno por meio de modificação no solo e
criação de estruturas, envolvendo, assim, a necessidade das contenções. A contenção é um elemento estrutural
que suporta carregamentos impostos pelo terreno a ser contido.
Cortina atirantada é o tipo de contenção que será abordado com detalhes neste trabalho. Segundo
Ranzini e Negro Júnior (1998), cortinas são contenções ancoradas ou apoiadas em outras estruturas,
caracterizadas pela pequena deslocabilidade. A técnica da cortina atirantada permite a ocupação de
determinadas áreas que antes eram ignoradas pelo alto risco de desabamento, gerando um aproveitamento
maior do terreno.
Conforme Guimarães (2015), catástrofes aconteceram no país nos últimos anos por consequência de
instabilidade nas encostas e ocupações irregulares, sendo cada vez mais comum a execução de cortinas
atirantadas em obras de contenção. De acordo com Silva (2014), a eficiência desse tipo de contenção é devido
ao trabalho conjunto da cortina com os tirantes (um depende do outro). Os tirantes compõem a cortina
atirantada, e são elementos de protensão essenciais para a estabilidade da estrutura.
O objetivo geral desse trabalho é apreender, em termos teóricos, sobre a técnica construtiva e o
comportamento estrutural da cortina atirantada além de apreender e apresentar os principais aspectos que
devem ser considerados nas etapas de projeto e execução da cortina atirantada.
O presente trabalho configura-se numa revisão bibliográfica e documental de natureza básica com
abordagem qualitativa e objetivos descritivos.
Inerente à importância da qualidade na execução desta estrutura, o presente trabalho irá abordar uma
revisão bibliográfica sobre a técnica da cortina atirantada, apresentando os principais aspectos que devem ser
considerados nas etapas de projeto e execução das mesmas, a fim de evitar patologias e possíveis acidentes.

2 Estabilização de Maciços

A estabilização de maciço pode ser definida como uma superfície íngreme que delimita espaços entre
maciços terrosos. Muitos incidentes como rupturas e deslizamentos de terra estão ocorrendo devido à grande
urbanização em locais inadequados e ao alto índice pluviométrico no período das chuvas, exigindo, assim, um
estudo criterioso de um engenheiro especializado com a finalidade de garantir segurança na estabilidade desse
maciço e um serviço de qualidade.
Um grande problema técnico de engenharia civil que afeta grande parte da sociedade é o deslizamento
de maciço que ocorre, principalmente, em épocas de chuva, causando danos sociais, econômicos e materiais.
Uma das causas dos deslizamentos é a ocupação inadequada em terrenos irregulares em áreas urbanas
provocada pela alta crise financeira e necessidade de moradia diante do atual cenário do Brasil.
A instabilidade de maciço de terra é causada por diversos fatores complexos que se associam entre si e
se completam. Dentre eles, os principais são: litologia do solo, resistência ao cisalhamento do solo, presença
de água (falta de drenagem) e solicitações externas (sobrecargas).
O estudo do solo e de suas propriedades é fundamental para obras de construção civil, pois o solo é um
dos principais elementos para a estabilização dos maciços. Com isso, quando há algum risco de deslizamento
de terra, é necessário executar uma obra de contenção para conter os esforços horizontais gerados pelo solo,
garantindo, assim, estabilidade e segurança para a população. A contenção é executada introduzindo um
elemento estrutural diferente do terreno que será contido.
Segundo Ranzini e Negro Júnior (1998, p. 503), “contenção é todo elemento ou estrutura destinada a
contrapor-se a empuxos ou tensões geradas em maciço cuja condição de equilíbrio foi alterada por algum tipo
de escavação, corte ou aterro”.

3 Tipos de Estabilizações

Atualmente, existem vários tipos de contenção, portanto, é preciso analisar detalhadamente qual tipo de
contenção atende à necessidade da situação, devendo também estudar a viabilidade econômica relacionada ao
custo e benefício e prezar pela segurança estrutural.

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Hachich (1998) considera uma estrutura segura quando a mesma pode suportar as forças que vierem a
solicitá-la durante a sua vida útil sem ser bloqueada permanentemente ou temporariamente de exercer as
funções reais, sendo denominado estado-limite qualquer condição que impeça o funcionamento da estrutura.
As contenções podem ser classificadas de acordo com a transitoriedade, funcionamento estrutural e equilíbrio.
Quanto à transitoriedade, a escolha do tipo de contenção é muito importante na visão técnica construtiva.
As contenções provisórias são comumente usadas em abertura de valas ou assentamento de uma tubulação. Já
as contenções definitivas são utilizadas para conter taludes altos, grandes escavações e em outras situações que
necessitam da estabilidade definitiva do maciço.
Em relação ao funcionamento estrutural, as contenções flexíveis possuem alta resistência à flexão e,
como o próprio nome já diz, permite uma movimentação necessária para absorver as deformações do solo,
porém, esse movimento pode deslocar o maciço ficando susceptíveis a trincas e recalques. As contenções
rígidas, de um modo geral, são as contenções definitivas e geralmente são corridas verticais, podendo ser de
alvenaria ou concreto.
A maneira como a contenção é equilibrada difere de acordo com o método construtivo adotado, podendo
ser escorada ou não. Os principais tipos de estabilização de maciços são: muro (muro de arrimo ou gravidade,
muro de flexão, muro de contraforte, muro atirantado e muro de gabião), escoramentos (madeira e metálico-
madeira), reforço em solos (terra armada, solo grampeado, solo cimento) e cortinas.
De acordo com a Norma Brasileira Registrada (NBR) 9061 (ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 1985, p. 1), “cortinas são elementos estruturais destinados a resistir às pressões
laterais devidas à terra e à água; são flexíveis e têm o peso próprio desprezível em face das forças atuantes”.
As cortinas são classificadas quanto à forma de apoio e protensão das escavações. Os principais tipos
são: escoradas, ancoradas ou atirantadas, chumbadas e em balanço. As cortinas escoradas utilizam as escoras
como apoio e são usadas em túneis rodoviários e ferroviários, pisos enterrados de edifícios e outros. Já as
“cortinas chumbadas utilizam como apoio elementos estruturais horizontais ou inclinados, ancorados no
terreno através de injeções, não protendidos, atuando passivamente” (ABNT, 1985, p. 5). A cortina em balanço
não utiliza apoio e, por estar engastada no solo, resiste ao empuxo, devendo existir uma “ficha” mínima
(comprimento mínimo de encravamento da parede no solo) para se obter o equilíbrio (MARZIONNA et al.,
1998).
A cortina ancorada ou atirantada é uma estrutura de contenção que pode ser composta por parede de
concreto armado, projetado, perfis metálicos cravados ou parede diafragma conjuntamente com a injeção de
tirantes protendidos. Esse tipo de contenção é concebido para suportar os esforços horizontais provocados pelo
maciço, impedindo, assim, o seu deslizamento. São utilizadas em obras de ferrovia, rodovias, estradas, taludes,
solo que apresenta risco à estabilidade, contenção de encostas e construções de subsolos.
Neste trabalho, esse último tipo de contenção composta por parede de concreto armado será detalhado nos
próximos itens.

4 Considerações de dimensionamento de Cortina Atirantada

Como afirma Tacitano (2006), cortina é o elemento estrutural da contenção que está diretamente em
contato com o solo a ser contido, sendo ela, na maior parte, vertical e composta por madeira, aço ou concreto,
podendo ser também a junção dos três materiais. No caso da cortina atirantada, são utilizados o aço e o concreto
para o funcionamento da estrutura.
O sistema da cortina atirantada é eficiente apenas com um comportamento conjunto da cortina de
concreto armado e das partes que trabalham sob o efeito da tração, que são os tirantes (GUIMARÃES, 2015).
Esses são os principais elementos da estrutura em questão.
Para Guimarães (2015), os tirantes são elementos lineares resistentes à tração. São introduzidos no solo
e ancorados na parte que é enterrada no solo titulado por trecho ancorado, que também é chamado de bulbo de
ancoragem. Através do bulbo de ancoragem ocorre a transmissão para o solo da carga aplicada na cabeça do
tirante.
Segundo Yassuda e Dias (1998), um elemento eficiente para os esforços à tração é o aço e, por esse
motivo, o tirante, na maioria das vezes, é composto por um ou mais elementos de aço, sendo as barras fios ou
cordoalhas.

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Dentre os componentes do corpo do tirante, aqueles que se destacam são listados abaixo:
a) Cabeça do tirante: “dispositivo que transfere a carga do tirante à estrutura a ser ancorada” (ABNT,
2006). Como esse elemento fica na parte externa do solo, ele é coberto por uma camada de concreto
para evitar a corrosão. Placas de apoio, cones, cunhas e porcas são alguns itens que fazem parte de sua
constituição.
b) Comprimento ancorado ou bulbo de ancoragem: parte do tirante em que acontece a transmissão da
carga aplicada ao solo.
c) Comprimento livre: distância entre a cabeça do tirante e o início do bulbo de ancoragem.
d) Comprimento ancorado efetivo ou bulbo efetivo: local onde ocorre a transferência efetiva de carga para
o local em que está inserido. Ele pode ser maior, menor ou igual ao comprimento ancorado.
e) Comprimento livre efetivo: trecho efetivo de alongamento livre sob o efeito da aplicação de carga
(ABNT, 2006).

Segundo Gerscovich, Danziger e Saramago (2016), as cortinas são estruturas de contenção esbeltas e
seu uso é indicado quando não se tem uma área suficiente para a base de muros de contenção e/ou quando os
desníveis são maiores do que 5 m.
De acordo com Tecnosolo (1978), a protensão exercida pelos tirantes alivia os esforços exercidos na
cortina de concreto armado, possibilitando a execução de uma estrutura esbelta, ou seja, com menos gasto de
material. Essa parede de contenção recebe diferentes classificações em função de fatores como produto de
rigidez, tipo de escoramento, distribuição do escoramento e tipo de solo contido, sendo elas rígidas ou flexíveis
(TACITANO, 2006).
Uma cortina é flexível, segundo Ranzini e Negro Júnior (1998), quando seus deslocamentos influenciam
significativamente a distribuição das tensões aplicadas pelo maciço, de forma que eles ocorrem devido aos
fenômenos de flexão. Em contrapartida, a cortina rígida tem essa classificação devido à menor deslocabilidade
resultante, uma vez que está ancorada a estruturas mais rígidas.

5 Aspectos de Projeto e Métodos Construtivos

A elaboração de um projeto expõe informações para melhor execução da obra, sendo de suma
importância para garantia da segurança e solidez da construção. O projeto possibilita o planejamento e
cronograma da obra, tendo, assim, melhor aproveitamento dos recursos.
O dimensionamento da cortina atirantada envolve os seguintes procedimentos:
 obtenção dos parâmetros geotécnicos: levantamento topográfico e sondagem à percussão;
 definição dos parâmetros do solo: a partir dos resultados dos ensaios de SPT e análise do projeto
topográfico, são identificados os perfis do solo;
 escolha do tipo de contenção: objetivando melhor aproveitamento de área a partir das informações
geométricas e técnicas é definida a possibilidade de escolha da cortina atirantada;
 definição da geometria da cortina: são detalhados os componentes da cortina, um estudo inicial da
estrutura de contenção e o material adotado para reaterro;
 dimensionamento dos tirantes: ocorre a definição da carga de trabalho, modelo dos tirantes e
comprimento de ancoragem;
 dimensionamento da armadura: são determinadas as armaduras que oferecem resistência aos momentos
fletores presentes na estrutura e, por fim, a conferência da resistência do concreto à punção devido aos
esforços dos tirantes;
 dimensionamento da fundação da cortina: executado mediante as cargas a serem suportadas pela
fundação e previsões da resistência do solo.

Segundo Gerscovich, Danziger e Saramago (2016) são destacadas as seguintes recomendações para
elaboração de um projeto de cortina atirantada:
 o bulbo deve estar no mínimo a 3 m da face de início da perfuração;
 o distanciamento entre bulbos deve ser superior a 1 m e superior também a seis vezes o diâmetro do furo
perfurado;

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 o início do bulbo deve estar distante, no mínimo, 0,15H da superfície crítica, sendo H a altura da
contenção;
 o revestimento de terra deve ter, no mínimo, 5 m sobre a centralização do trecho ancorado;
 o posicionamento dos tirantes deve ser feito a uma profundidade onde os tirantes fiquem fora da zona
de movimentação do maciço, a chamada cunha de ruptura;
 o bulbo deve estar, no mínimo, a 3 m de distância em relação à fundação de outras edificações. Por
utilizar o terreno vizinho para o apoio, é fundamental a autorização do proprietário para a execução da
obra. Tanto por questões legais quanto para evitar que os tirantes sejam removidos em caso de obras
futuras.

6 Método Executivo da Cortina Atirantada

A primeira fase consiste no processo de escavar nichos para ser executada a localização dos tirantes
alternados (1ª fileira). A segunda fase baseia-se no processo de furar, posicionamento do tirante, injeção do
furo, posicionamento da placa, protensão com esforço de ensaio, ancoragem da placa com esforço de
incorporação. Já na terceira fase, são repetidos os procedimentos realizados nas fases anteriores, um e dois,
com relação às placas restantes da 1ª fileira. Evoluindo para a quarta fase, procede-se à concretagem da
cortina na faixa relativa a 1ª fileira e repete-se as operações realizadas na fase um e dois com relação às placas
alternadas da 2ª fileira. A quinta fase, por sua vez, consiste na repetição das operações da terceira fase com
relação às placas da 2ª fileira, bem como realiza-se a concretagem da cortina na faixa relativa a 2ª fileira. Por
fim, a sexta fase baseia-se no prosseguimento das operações da mesma maneira até a efetiva conclusão da
cortina.
A cortina de concreto armado é responsável pela contenção do talude. A espessura das paredes de
concreto é definida pelo projeto, sendo, em geral, de 20 cm a 40 cm, variando de acordo com o
dimensionamento da carga de contenção. O concreto deve apresentar uma resistência de, no mínimo, 22 MPa.
Todas as camadas de concreto devem ser vibradas por vibradores de imersão ou de parede, evitando-se a
movimentação da armadura para que não haja formação de vazios ao seu entorno o que causaria falta de
aderência (Figura 1). As fôrmas das cortinas podem ser executadas por perfis metálicos ou de madeira, e são
dimensionadas de forma a evitar deformações prejudiciais (GERSCOVICH, DANZIGER e SARAMAGO,
2016).

Figura 1. Execução das cortinas de concreto com fôrmas de madeira e tirantes já protendidos (Fonte:
YASSUDA e DIAS, 1998.)

7 Método Executivo de um Tirante

7.1 Perfuração e montagem do tirante

Segundo Yassuda e Dias (1998), primeiramente o aço é cortado e, se necessário, emendado no seu
comprimento. Para evitar o processo de corrosão, o aço deve receber tratamentos anticorrosivos, de acordo

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com a NBR 5629 (ABNT, 2006). Essa norma orienta a seleção do cimento injetado e a classe de proteção
anticorrosiva indicada.
O tirante deve ser montado em local adequado que garanta espaço para sua produção. A bancada deve
apresentar resistência ao transporte até o local de aplicação, resguardando o posicionamento das peças. Além
disso, deve-se ter atenção à proteção anticorrosiva durante todo o processo até a instalação dos tirantes.

7.2 Perfuração do maciço

Conforme Yassuda e Dias (1998), a perfuração do maciço deve seguir as indicações do projeto
(inclinação, diâmetro e comprimento).
A inclinação pode ser estabelecida com assistência de um transferidor de pêndulo, fio de prumo ou um
nível de bolha. A locação e alinhamento devem ser indicados para posicionamento da máquina.
Para segurança, a perfuração deve ultrapassar o comprimento definido pelo projeto, para armazenagem
de algum material que possa não ter sido removido durante a perfuração.
Além disso, o diâmetro perfurado deve apresentar uma folga para posicionamento dos espaçadores.
A definição das máquinas e sistema utilizado depende do terreno e especificações do projeto quanto ao
diâmetro e comprimento do furo (Figura 2).
Tirantes que não têm sistema de reinjeção, ou seja, para a grande maioria dos tirantes de barra
é enfaticamente recomendado que o furo seja totalmente revestido, para garantir o
recobrimento do aço e para permitir boa eficiência no processo de injeção única aplicada na
boca do revestimento.Em rocha sã (matacões ou maciço), rocha alterada ou solo seco, pode
ser feita perfuração com equipamento de roto percussão com limpeza do furo com ar
comprimido.Podem ser utilizados lama ou fluido especial para facilitar o processo de
perfuração, desde que inertes ao cimento e aço. A lama pode ser obtida misturando-se argila
gorda e água de circulação ou bentonita industrial (mais eficiente). Neste último caso,
recomenda-se manter o menor tempo possível a mistura no furo e proceder a ampla lavagem
antes da introdução da calda de cimento (YASSUDA e DIAS, 1998, p. 628-629).

Figura 2. Perfuração do maciço (Fonte: INFRAESTRUTURA, 2011.)

7.3 Instalação do Tirante

A instalação do tirante determina a localização do furo. Segundo Yassuda e Dias (1998), os cuidados
necessários são: não ferir a proteção anticorrosiva, não deslocar acessórios (válvulas e espaçadores) e
posicionar a cabeça na altura correta. Antes da instalação do tirante no furo, devem ser executadas algumas
conferências. A NBR 5629 (ABNT, 2006) aconselha que seja verificada a proteção anticorrosiva,
principalmente nas emendas. Outra recomendação é o posicionamento da cabeça do tirante, que deve ser
executado conforme a necessidade estrutural.

7.4 Injeção

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A injeção da peça consiste no preenchimento do furo utilizando calda de cimento ou outro aglutinante.
A execução desta fase é definida pelo projeto em um único estágio ou em múltiplos.

7.5 Potensão

Segundo a NBR 5629 (ABNT, 2006), todos os tirantes presentes na obra devem passar pelo ensaio de
protensão. A protensão do tirante é comumente executada contra a estrutura, por meio de um conjunto
integrado de macaco hidráulico, bomba e manômetro. Este mecanismo deve ser regulado e examinado, no
mínimo, uma vez ao ano, dado que um defeito do equipamento pode comprometer o aço da estrutura.
Deve-se ter atenção à restrição de carga máxima aplicada no ensaio, sendo permitido 90% da carga
teórica de escoamento do material. Para dimensionamento da carga máxima deve ser ponderada a menor seção
do elemento. Para verificação final da qualidade e desempenho da estrutura devem ser realizados os seguintes
ensaios:
a) ensaio de qualificação: conforme a NBR 5629 (ABNT, 2006), este ensaio define a capacidade de carga,
avalia os comprimentos livre e ancorado realizados e o atrito ao longo do trecho livre. Deve ser
executado, no mínimo, dois ensaios por obra;
b) ensaio básico: é executado após o ensaio de qualificação. Por meio de uma escavação verifica-se a
qualidade da injeção, a posição do bulbo do tirante e a determinação do comprimento livre do mesmo,
sendo considerado, assim, o ensaio mais amplo e aprofundado;
c) ensaio de recebimento: seu objetivo é verificar a capacidade de carga e a reação de todos os tirantes
presentes na obra;
d) ensaio de fluência: tem como finalidade verificar o desempenho das ancoragens permanentes sob cargas
de extensa duração.

8 Considerações Finais

Devido ao crescimento urbano e expansão da ocupação para regiões montanhosas e instáveis, exigiu-se
da engenharia um avanço para suprir as novas necessidades. Novas técnicas construtivas foram adotadas e as
contenções de solo mais demandadas.
A contenção é uma das primeiras etapas da obra e de fundamental importância para garantir a integridade
da estrutura ao qual foi projetada. Por se tratar de solo, que é um elemento de difícil análise e com
características heterogêneas, o seu dimensionamento deve seguir as normas vigentes da ABNT e ter frequentes
vistorias e manutenções.
Partindo disso, o engenheiro responsável deverá sempre optar pelo método mais seguro e
economicamente viável, evitar os impactos ambientais e sociais, e supervisionar as etapas construtivas
obedecendo os padrões de segurança com o objetivo de evitar possíveis patologias e ter um resultado de
qualidade. Para isto, o profissional deve ter conhecimento amplo e técnico em geotecnia e execução das
estruturas de concreto entendendo, assim, as causas e soluções das patologias em questão.
Dentre as contenções usuais, a cortina atirantada é um dos tipos mais utilizados. Isto ocorre devido às
vantagens de custo benefício, por ser uma obra de rápida execução e não ter restrição na sua aplicação, podendo
ser executada em locais de difícil acesso. Estruturalmente, as cortinas funcionam contendo os empuxos
horizontais do solo através da cortina (painéis de concreto) e tirantes ancorados no interior do solo impedindo
o deslizamento de terra.
Alguns aspectos de projeto e de execução devem ser conferidos, através de inspeções periódicas com o
intuito de avaliar a cortina (concreto), cabeça dos tirantes e o sistema de drenagem, evitando possíveis
patologias e garantindo maior tempo de duração da vida útil da obra. Pode ser realizado por método visual
através de check-list dos elementos de aferição, obtendo um histórico patológico. Ou também pode ser
realizado por métodos não destrutivos (MND), como, por exemplo: Sonic Echo, Time Domain Reflectometry
(TDR) e Resistência Elétrica.
Através da revisão de literatura, tem-se que a cortina atirantada é utilizada em encostas naturais, obras
de ferrovias, rodovias, subsolos e aterros. Este tipo de contenção pode ser aplicado em alturas elevadas e que

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exigem baixo deslocamento. O presente trabalho colabora com informações relevantes para projetos de
execução da cortina atirantada e os cuidados que devem ser tomados para garantir a durabilidade e segurança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5629: Execução de Tirantes Ancorados no


Terreno. Rio de Janeiro, 2006.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9061: Segurança de escavação a céu aberto.
Rio de Janeiro, 1985.
GERSCOVICH, D.; DANZIGER, B. R.; SARAMAGO, R. Contenções: teoria e aplicações em obra. São
Paulo: Oficina de textos, 2016.
GUIMARÃES, K. P. Cortinas atirantadas: estudo de patologias e suas causas. Trabalho de conclusão de
curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
2015. 78 f.
INFRAESTRUTURA. Infraestrutura Urbana: projetos, custos e construções. Fundações e Contenções. 2011.
Disponível em: <http://infraestruturaurbana17.pini.com.br/solucoes-tecnicas/6/taludes-atirantados-
227250-1.aspx>. Acesso em: 13 fev. 2020.
HACHICH, W. Segurança das fundações e escavações. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.;
FROTA, R. G. Q.; CARVALHO, C. C.; NIYAMA, S. Fundações: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pini,
1998, p. 197-210.
MARZIONNA, J. D.; MAFFEI, C. E. M.; FERREIRA, A. A.; CAPUTO, A. N. Análise, projeto e execução
de escavações e contenções. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. Q.;
CARVALHO, C. C.; NIYAMA, S. Fundações: teoria e prática. 2. Ed. São Paulo: Pini, 1998, p. 537-578.
RANZINI, S. M. T.; NEGRO JÚNIOR, A. Obras de contenção: tipos, métodos construtivos, dificuldades
executivas. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. Q.; CARVALHO, C. C.;
NIYAMA, S. Fundações: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998, p.497-515.
SILVA, A. P. Cortinas atirantadas: verificação da segurança estrutural após o rompimento de tirantes.
Monografia de conclusão de curso apresentada ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 2014. 28 f.
TACITANO, M. Análise de parede de contenção através de método unidimensional e evolutivo. Tese de
doutorado apresentada à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Estadual de Campinas, 2006. 296 f.
TECNOSOLO. Tecnosolo Engenharia e Tecnologia de Solos e Materiais. Estabilização de taludes com
ancoragem: vinte anos de atividades. Rio de Janeiro: Tecnosolo, 1978.
YASSUDA, C. T.; DIAS, P. H. V. Tirantes. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R.
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https://proceedings.science/p/149523?lang=pt-br
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