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(1) Professor Associado, Departamento de Engenharia de Construção Civil. Escola Politécnica da USP
e-mail: antonio.figueiredo@poli.usp.br
(2) Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil. Universidade de Laval, Quebec, Canadá
e-mail: marc.jolin@gci.ulaval.ca
Resumo
A utilização do concreto projetado para revestimento de túneis é bem difundida e pode ser considerada uma
opção tecnológica regular para projetos de infraestrutura. Apesar disso, há uma grande preocupação sobre
a durabilidade do material e como levá-la em consideração nas especificações. Normalmente isto ocorre
devido à observância de influxos de água para dentro do túnel. Parcialmente, esta dificuldade está
correlacionada com as limitações do estado atual do conhecimento sobre a durabilidade do concreto
projetado e, principalmente, pela carência de modelos fundados publicados focando a previsão de vida útil.
Como resultado, muitas das especificações são baseadas em parâmetros empíricos, que são praticamente
restritos à determinação de absorção de água por imersão e fervura do concreto projetado. No entanto,
estes parâmetros precisam de maior embasamento científico o que é endossado pelos resultados de
pesquisa já publicados. Assim, o objetivo principal deste estudo é analisar criticamente a abordagem atual
das especificações de concreto projetado para revestimento do túnel. Como resultado desta análise espera-
se encontrar uma maior garantia futura de atendimento aos requisitos de vida útil estabelecidos para obras
de infraestrutura onde se utiliza o concreto projetado como material estrutural principal.
Palavra-Chave:Concreto projetado, durabilidade, especificações, túneis
Abstract
The use of shotcrete for tunnel linings is overall sprayed and could be considered a regular technological
option for infrastructure projects. Although this, there are a major concern about the durability of the material
and how to take it in consideration in the specifications. Usually this is due to compliance with inflows of
water into the tunnel. Partially, this difficulty is regarded to the limitations of the current state of knowledge
concerning shotcrete durability and, especially, well founded models published focusing the service-life
prediction. As a result, many of the specifications are based on empirical parameters, which are restricted to
the shotcrete boiled water absorption determination. However, these parameters need further scientific basis
which is endorsed by the findings of research results published. Thus, the main objective of this study is to
analyze critically the current approach of the specifications of shotcrete for the tunnel lining. As a result of
this analysis, is expected to find a greater assurance in the futures in order to meet the requirements of
service-life established for infrastructure works using shotcrete as the main structural material.
Keywords: Shotcrete, durability, specifictions, tunnels
Figura 1 – Imagem de um poço de emboque de um túnel com um número elevado de pontos de infiltração
de água.
Figure 2 – Túnel construído pelo método NATM abaixo do nível máximo do lençol freático e apresentado
grande taxa de penetração de água.
Alguns estudos prévios (DANTAS; TANGO, 1990; ARMELIN et al. 1994) desenvolveram
estudos experimentais que analisaram a permeabilidade do concreto projetado. Dantas e
Tango (1990) realizaram um estudo em placas, comparando o concreto projetado e
concreto convencional em termos de volume de vazios permeáveis, o que foi determinado
pela norma ABNT NBR 9778:1987. Também foram realizados ensaios onde testemunhos
extraídos das placas eram submetidos a uma pressão hidrostática de 15 MPa com o
ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 5
objetivo de determinar o coeficiente de permeabilidade do material K da Lei de Darcy. Os
resultados estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1: Resultados obtidos em estudo experimental onde o volume de vazios permeáveis e o coeficiente
de permeabilidade K da Lei de Darcy do concreto projetado foi comparado ao do concreto convencional
(Dantas e Tango, 1990).
Material K from Darcy’s Law Volume de vazios permeáveis
(cm/s) (NBR 9778:87) (%)
Concreto convencional 3,41x10-9 12,9
-11
Concreto projetado via seca <10 15,1
Figura 3 – Penetração de água num revestimento de concreto projetado apresentando uma massa branca
ao centro que corresponde a uma colônia de bactérias sulfurosas (ROMER, 2003).
Tabela 3: Tempos de percolação em anos para a frente crítica de íons cloreto através de um cobrimento de
40 mm de espessura até atingir a armadura provocando sua despassivação em concretos projetados via
úmida (Prudêncio, 1993).
Tempo Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5 Amostra 6
estimado 0% de aditivo 3,5% de aditivo 2,5% de aditivo 4,5% de aditivo 6,5% de aditivo 3% de aditivo
Médio 2,9 2,1 2,0 1,8 2,0 1,5
95% de 2,0 1,8 1,5 1,4 1,5 1,3
confiança
Absorção = 7,5%
Teor total de cloretos (0/00)
Absorção = 4,8%
Absorção =7,2%
Duração (anos)
Figura 4 – Resultados obtidos com o STADIUM® para a penetração total de cloretos até uma profundidade
de 25 mm dentro do concreto convencional ou projetado (JOLIN et al., 2011).
Duas observações importantes podem ser feitas a partir dos gráficos da Figura 4.
Primeiro, pode-se observar que todos os três concretos projetados apresentaram um
desempenho previsto superior, com bom nível de vantagem, em relação ao concreto de
referência. Na verdade, o limiar crítico para a iniciação da corrosão do aço (linha tracejada
horizontal) é atingido mais cedo para a mistura de concreto de referência. Em segundo
lugar, os valores de absorção de água por imersão e fervura apresentados junto às quatro
curvas mostram que a penetração de cloreto não é, obviamente, relacionada com este
valor. Por exemplo, em comparação com a mistura de referência, a argamassa projetada
por via seca oferece uma resistência muito melhor para a penetração de cloreto apesar do
fato de a sua absorção ser quase 35% mais elevada que a do concreto de referência. Isto
pode facilmente ser explicado pelo fato de que, mesmo que a argamassa ofereça um
volume muito maior de pasta e, consequentemente, de absorção de água, é provável que
apresente uma matriz densa com uma fina porosidade dificultando a passagem dos íons
cloreto.
A conclusão mais importante a ser extraída a partir da Figura 4 é a de que o processo de
jateamento por ar comprimido, típico do concreto projetado, desempenha um papel
significativo e positivo sobre a qualidade do material. Mesmo que o teor de pasta total seja
maior para os concretos projetados em relação ao convencional, as simulações de vida
útil de serviço com base nos princípios de transferência de massa estimam tempos mais
longos para a corrosão induzida pelo cloreto para concretos projetados. Ou seja, o valor
do nível de absorção de água por imersão e fervura não pode ser adotado como um
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parâmetro absoluto de qualidade em termos de durabilidade para o concreto projetado.
Algo que chama a atenção nas avaliações realizadas é a não correlação com o nível de
absorção de água. Nitidamente, o nível de penetração dos íons agressivos irá depender
de uma dinâmica específica e a metodologia de avaliação acaba influenciando o resultado
de alguma forma. No entanto, é claro que basear a especificação do concreto, em termos
de durabilidade, na mera fixação de um nível de absorção tolerável não é suficiente para
garantir a vida útil da estrutura.
5 Comentários finais
A grande maioria das especificações de concreto projetado brasileiras baseiam suas
exigências em termos de durabilidade fixando um nível máximo de absorção de água por
imersão e fervura, ou mesmo, um volume de vazios permeáveis máximos. Esta linha de
raciocínio é bem tradicional e bem difundida pelo mundo há bom tempo
(INTERNATIONAL TUNNELLING ASSOCIATION, 1993) que definia 8% e 9% como o
nível tolerável de absorção de água por imersão e fervura para concretos sem e com
aditivos aceleradores, ou 17% e 19% de volume de vazios permeáveis para as
respectivas condições. Estes parâmetros são correlacionados e fornecem o volume de
vazios permeáveis presentes na pasta de cimento em relação ao volume total de
concreto. Isto implica numa grande dependência destes parâmetros em relação ao
volume de pasta de cimento incorporada ao concreto projetado (JOLIN et al. 2011), o que
não quer dizer que há uma correlação direta com o desempenho do material, como foi
aqui demonstrado. Ou seja, não há uma correlação clara entre o nível de absorção e a
permeabilidade de uma estrutura enterrada, a qual pode ser governada pelo nível de fluxo
prioritário que ocorre pelas fissuras. Da mesma maneira, valores de absorção não se
mostraram perfeitamente conectados com o nível de penetração de íons agressivos.
Assim, a especificação de um concreto projetado em termos de durabilidade deve
começar com a caracterização da agressividade ambiental. A partir da classificação de
agressividade ambiental se podem verificar quais devem ser as medidas especificas para
garantia de que o concreto projetado tenha condições de suportar os agentes agressivos
presentes no meio. Assim, por exemplo, são raros os casos de túneis sujeitos à ação de
cloretos. No entanto, o ataque por sulfatos é muito mais frequente. Neste caso, um passo
fundamental é a especificação do cimento com baixo teor de aluminatos e resistente a
sulfatos e a verificação do teor de aluminatos totais quando se adiciona o aditivo. Se há a
possibilidade de ataque ácido, naturalmente deverá haver uma barreira de proteção para
o concreto projetado dado que o mesmo não é estável em meio ácido como qualquer
outro concreto de cimento Portland. A durabilidade do revestimento do túnel será
seriamente comprometida se estas medidas não forem tomadas. Quando a infiltração e
lixiviação ocorrem em conjunto com este tipo de ambiente ácido haverá pontos de
concentração de ataque, mas isto não elimina o ataque químico para outras áreas. Assim,
o tratamento de pontos de lixiviação será eficaz somente quando as outras medidas de
proteção forem observadas.
Outro importante aspecto são os condicionantes de projeto. Se há um risco associado à
6 Referências